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Queridos irmãos,
tenho o prazer de apresentar-vos os Atos do Capítulo Geral 26 que foi felizmente encerrado no sábado 12 de abril de 2008. A data de conclusão assume para nós um significado simbólico: recorda-nos a entrada de Dom Bosco em Valdocco no dia de Páscoa de 1846. Se, para ele, aquele dia significou o início de uma nova etapa da sua missão, para nós este 12 de abril de 2008 representa o início do sexênio que nos levará à celebração do bicentenário de nascimento do nosso amado Fundador e Pai.
Durante a realização do Capítulo todos tiveram a oportunidade de serem informados tempestivamente sobre a intensa experiência salesiana vivida, a metodologia de trabalho seguida, os diversos conteúdos aprofundados. Certamente, ouviram também a comunicação deste grande acontecimento vivido pelos participantes do Capítulo: inspetores, delegados e convidados. Agora a promulgação das deliberações capitulares chama-nos à sua aplicação (cf. C 148).
A publicação dos Atos, com os documentos que dele fazem parte, torna oficiais as orientações assumidas e marca o ponto de partida do sexênio 2008-2014. Espero que a leitura pessoal, o estudo comunitário e a colocação em prática das linhas de ação tragam como fruto precioso o acender-se do coração de cada um com a mesma paixão espiritual e apostólica de Dom Bosco. O Senhor Jesus, através do seu Espírito, possa "abrir o coração de todos" (cf. At 16,14).
Desejo ilustrar-lhes, nesta minha apresentação, o tema, o método de discernimento, os sujeitos envolvidos, o espírito do Capítulo e as deliberações tomadas. Este conjunto de elementos servirá de guia na leitura do documento e, sobretudo, na sua aplicação
O tema do CG26 é unitário, embora articulado em núcleos temáticos. À primeira vista pode parecer que o CG26 tratou de cinco assuntos diversos; trata-se, entretanto, de um único tema: o programa de vida espiritual e apostólico de Dom Bosco.
O lema "Da mihi animas, cetera tolle" pode ser compreendido plenamente ao conhecer a vida e a obra do nosso amado Pai e Fundador Dom Bosco. Trata-se, com efeito, do seu projeto pessoal de vida, expresso em forma de oração pessoal. Ele deve ser interpretado à luz da dedicação apostólica, da criatividade pastoral, do trabalho incansável, numa palavra, da mística apostólica de Dom Bosco, mas também das renúncias enfrentadas, das numerosas dificuldades superadas, dos empenhos sustentados por Dom Bosco, da sua ascética. O sujeito implícito deste lema é Dom Bosco; o primeiro núcleo, "partir de Dom Bosco", torna-o manifesto e coloca-o como fundamento de tudo o mais.
O "da mihi animas" traduz-se no empenho de evangelizar os jovens, especialmente os mais pobres. De fato, a paixão apostólica de Dom Bosco e do salesiano exprime-se imediatamente na capacidade de perceber as urgências da evangelização e de trabalhar para que a todos seja concedido o dom de Jesus Cristo e do seu evangelho. Transmitimos na ação evangelizadora a paixão apostólica também aos leigos, às famílias e, sobretudo aos jovens; a estes, de modo especial, temos a coragem de propor a vida consagrada salesiana no seguimento de Jesus, nos passos de Dom Bosco, não como uma possibilidade de realização pessoal entre outras, mas como um chamado de Deus.
O "cetera tolle" faz-nos disponíveis a deixar tudo que nos impeça de ir até onde estão as mais graves necessidades dos jovens: as novas fronteiras da missão salesiana. O evangelho é boa-nova para os pobres e é proclamado por pobres. As necessidades mais imperiosas dos jovens são as suas pobrezas materiais, mas também as afetivas, culturais, espirituais; elas chamam-nos à disponibilidade radical e a deixar de lado tudo o mais. As pobrezas dos jovens pedem-nos também que sejamos solidários com eles, compartilhemos com eles uma vida simples e pobre, coloquemos à disposição deles os recursos que possuímos.
Os desafios da pós-modernidade chamam-nos a superar a fragmentação da nossa vida e da nossa cultura. Por isso, o tema do CG26 deve ajudar-nos a viver a "graça de unidade", ou seja, acolher o dom da unificação da nossa vida, assumir o programa de vida espiritual e pastoral de Dom Bosco como critério de unidade, traduzi-lo operativamente em nossas opções pessoais e comunitárias, de inspetoria, de região e de congregação.
Como o CG25, também o CG26 adotou, o método do discernimento para o estudo dos núcleos temáticos. A acolhida de um método já experimentado, utilizado também para o projeto de vida pessoal e o projeto de vida comunitária, facilitou o trabalho, mas, sobretudo ajudou a valorizar mais as potencialidades do discernimento. Isto nos permitiu caminhar por uma estrada segura e oferecer um desenvolvimento projetual e não só doutrinal do tema capitular.
No chamado de Deus, individuou-se em cada núcleo, através do discernimento, os apelos urgentes e as prioridades. O chamado, então, não descreve de modo exaustivo todas as exigências relacionadas ao núcleo temático, mas só as prioritárias. O discernimento levou-nos a fazer algumas opções. Discernir é, justamente, distinguir o que é fundamental do que é secundário em determinado momento, e agir em conseqüência das opções.
Por exemplo, para partir de Dom Bosco, o CG26 individuou e propôs três caminhos principais: retornar a ele, retornar aos jovens, reforçar a identidade carismática e reavivar a paixão apostólica. Analogamente, para responder à urgência da evangelização, o Capítulo escolheu as seguintes prioridades: cuidar da comunidade salesiana de modo que seja evangelizada e evangelizadora, dar centralidade à proposta de Jesus Cristo, aprofundar a contribuição da educação para a evangelização, dar atenção aos contextos regionais. O mesmo método foi depois seguido, também para os demais núcleos.
Na análise da situação, o discernimento levou-nos a perceber os aspectos positivos, os sinais de esperança, os recursos, mas também as dificuldades, os atrasos, os desafios em relação às opções fundamentais individuadas no chamado. Brotou daí uma visão dos temas centrada na leitura das prioridades; evidencia-se assim um quadro de luzes e sombras, que logo nos orienta a buscar os caminhos mais oportunos de ação.
Nas linhas de ação de cada núcleo, encontramos uma novidade: indicam-se no início os processos a ativar para a mudança. Ou seja, identificam-se as situações a superar e projeta-se o horizonte ao qual as linhas de ação devem encaminhar; trata-se de passar de um estado de fragilidade a uma nova configuração da vida. São processos de conversão de mentalidade e de mudança de estruturas; eles indicam o nosso êxodo e a nossa páscoa.
As linhas de ação apresentadas são dezessete; contudo, trata-se, na realidade, de cinco grandes linhas operativas, especificadas em suas modalidades concretas de realização. Com efeito, trata-se fundamentalmente de realizar as seguintes tarefas: partir de Dom Bosco, responder às urgências da evangelização, ter a coragem de propor aos jovens a vocação consagrada salesiana, dar um testemunho crível de pobreza evangélica e de vida simples, lançar-se em novas fronteiras da missão salesiana.
As linhas de ação são especificadas através de intervenções pontuais, atribuídas a sujeitos variados. É preciso notar que nem todos devem fazer tudo, mas pede-se uma contribuição específica dos vários sujeitos. As linhas de ação podem ser concretizadas com a contribuição de todos: cada um é convidado a fazer a própria parte. Eis, então, a importância dos sujeitos que devem ser envolvidos.
O CG26 só poderá realizar a mudança desejada na vida da Congregação e, portanto, tornar-se realidade, se houver sujeitos que generosa e responsavelmente assumam a sua mentalidade e as suas orientações. A pluralidade dos sujeitos envolvidos é garantia de uma ação eficaz.
O CG26 dirige-se em primeiro lugar ao salesiano. Depois dos Capítulos gerais 23, 24 e 25 que deram realce à comunidade salesiana local, o CG26 entende colocar cada irmão no centro de suas atenções. Foi ele quem recebeu de Deus o dom da vocação salesiana; é ele, portanto, a ser chamado a responder a esse dom com fidelidade criativa e a assumir o programa espiritual e pastoral de Dom Bosco: "da mihi animas, cetera tolle".
O CG26 entende reavivar no coração de cada irmão a paixão apostólica e propõe-lhe um perfil caracterizado pela identidade carismática; dessa forma, ele pode ser Dom Bosco para os jovens de hoje. Ele é chamado a ter uma intensa e profunda vida espiritual; a viver a vida fraterna em familiaridade e alegria; a estar com os jovens; a ser audacioso na ação evangelizadora; a ir aos lugares de fronteira da nossa missão; a viver pobremente; a envolver leigos, famílias e os próprios jovens no ardor pastoral; a propor aos jovens a vida consagrada salesiana; a amar a Dom Bosco e torná-lo conhecido.
O CG26 interpela diretamente cada comunidade. De fato, nas linhas de ação há quase sempre algumas intervenções propostas à comunidade, para que ela as assuma em sua caminhada. A comunidade, de modo particular, toma a iniciativa da ação evangelizadora, cuida das vocações para a vida consagrada salesiana e dá o seu testemunho de pobreza evangélica. A comunidade evangelizada é chamada a ser evangelizadora; o seu testemunho é a primeira proposta vocacional; a sua vida vivida na simplicidade e na austeridade manifesta o seu amor à pobreza; ela lança-se com audácia entre os jovens pobres; onde está situada, ela volta a propor com os jovens a experiência de Valdocco.
Dessa forma, o CG26 pede à comunidade salesiana que continue os processos ativados pelo CG25, solicitando ainda a sua consistência quantitativa e qualitativa. O irmão cresce na seqüela de Cristo e concretiza o dom de si a Deus pelos jovens na comunidade. Ele é chamado a assumir pessoalmente as novas exigências da sua vocação; ao mesmo tempo, a comunidade que vive a plenitude das suas dinâmicas, favorece a sua formação continuada.
O CG26 indica ainda outros sujeitos: a inspetoria, a região, o Reitor-Mor com o Conselho Geral. Valorizando a subsidiariedade, cada um realiza as suas tarefas e todos cooperaram na realização do mesmo chamado e das mesmas linhas de ação. É fora de dúvida que a ação não pode ser limitada a estes sujeitos. Entra logo em jogo o envolvimento e o protagonismo de jovens, leigos e famílias e, portanto, da comunidade educativo-pastoral. Como também é impensável viver e agir sem a Família Salesiana e sem a ligação com o território e a Igreja local.
O Capítulo Geral foi um acontecimento inesquecível, que será bem logo uma crônica a narrar, sobretudo por aqueles que o viveram. Ele traduziu-se também num belo documento que, porém, correria o risco de ficar "letra morta" sem um espírito que o anime. O CG26 é, portanto, também um espírito; devemos reconhecer então qual é o espírito do CG26.
Como está vivo e ativo o "espírito do Concílio Vaticano II", o mesmo podemos dizer que há um "espírito do CG26" que deve ser acolhido. Ele é constituído pela mesma paixão que ardia no coração de Dom Bosco e o levava a buscar a glória de Deus e a salvação das almas. Ele guiou a Assembléia no discernimento e na redação do documento e faz com que o texto capitular se transforme em vida, vitalidade e vivacidade para cada irmão, para as comunidades, para inspetorias, para as regiões e para toda a Congregação. É o Espírito de Cristo que anima e vivifica. O espírito do CG26 é um dom do Espírito do Ressuscitado para a nossa Congregação. Ele infundiu a abundância de seus dons sobre todos nós com um renovado Pentecostes. Ele abre a mente de todos os irmãos e aquece o seu coração; inflama-os assim de uma paixão renovada que dará frutos abundantes. Deste modo, o CG26 não é apenas uma crônica ou só um documento, mas torna-se história para cada um de nós e para a Congregação.
O Capítulo Geral produziu também algumas deliberações relativas às Constituições e aos Regulamentos gerais e ao governo da Congregação. Algumas delas referem-se ao governo central e às regiões, outras à relação entre comunidade salesiana e obra, e ao ecônomo local, outra ainda às nossas instituições de educação superior.
Evidencio, de modo particular, a orientação expressa sobre os assim chamados "dicastérios da missão salesiana". O Capítulo expressou a exigência de maior colaboração e unidade na organização e realização da missão salesiana. Encoraja as inspetorias a terem presente essa sensibilidade e nela buscar inspiração na animação inspetorial.
Parece-me importante apresentar também a orientação a respeito das três regiões da Europa. Ao levar em consideração os processos culturais de unificação da Europa, as experiências de colaboração em ato e as reestruturações das inspetorias, é preciso intensificar as formas de coordenação, favorecer as sinergias, superar a visão restrita de cada região e ter um horizonte europeu. Creio interessante, também, a orientação expressa sobre a relação entre comunidade salesiana e obra. A orientação oferecida ajudará a aprofundar também do ponto de vista institucional e jurídico, o que fora a ação do CG25 que pedia para considerar a comunidade salesiana e a comunidade educativo-pastoral como dois autênticos sujeitos.
O Capítulo Geral é entregue agora a toda a Congregação. As inspetorias e visitadorias, por meio dos Capítulos inspetoriais, já tinham produzido suas linhas de ação, individualizando seus objetivos, processo e intervenções. Agora, com as orientações do CG26 elas são chamadas a integrar o trabalho já feito, em relação a cada salesiano, às comunidades locais e à comunidade inspetorial.
Entregamo-nos a Maria Auxiliadora. O Espírito Santo suscitou Dom Bosco com a sua maternal intervenção, para colaborar na salvação da juventude (cf. C 1). Ela o guiou na realização da missão juvenil. "Foi Ela quem tudo fez". Ela é nossa Mãe e Mestra. Dela aprendemos a docilidade ao Espírito Santo e a profundidade da vida espiritual, que é a raiz da fecundidade da nossa missão. A Ela recomendamos os desafios da evangelização, as vocações para a vida consagrada salesiana, os jovens pobres. Maria, nosso Auxílio, interceda por nós.
P. Pascual Chávez Villanueva
Reitor-Mor
Roma, 11 de maio de 2008
Solenidade de Pentecostes
"Prometi a Deus que até meu último alento seria para meus pobres jovens" (Memórias Biográficas XVIII, 258)
A paixão de Dom Bosco pela salvação da juventude é a nossa herança mais preciosa. O Capítulo Geral 26 propôs-se a reavivá-la em cada salesiano colocando no centro da reflexão das comunidades e Inspetorias o célebre lema do nosso Pai e Fundador Da mihi animas cetera tolle. Iniciou-se assim um processo de renovação interior e de reflexão, que confluiu nas contribuições que chegaram à assembléia capitular como ponto de partida para os seus trabalhos.
Peregrinos pelos lugares de Dom Bosco, percebemos desde o início que o Da mihi animas cetera tolle recolhe a experiência carismática das origens e o testemunho de muitos irmãos de ontem e de hoje. Ele interroga-nos sobre a nossa capacidade de ser Dom Bosco em nosso tempo e convida-nos a ser entusiastas do seu projeto de santidade, testemunhas alegres e críveis do espírito salesiano, enamorados de Deus e entregues aos jovens "até o último alento". Vemo-nos, assim, nas fontes da vida consagrada e no coração da missão, pois neste lema concentram-se a mística e a ascética que caracterizam a vocação salesiana. Tudo isso significa para nós retornar a Dom Bosco e partir com ele para caminhar ao encontro dos jovens de hoje.
Nós os tivemos presentes como principais interlocutores durante todo o tempo do Capítulo, com o desejo vivo de revelar-lhes o amor de Deus. A fronteira juvenil está hoje, mais do que nunca, cheia de desafios e de recursos; ela apresenta-se atraente e difícil. É indispensável para nós entender as expectativas e as carências dos jovens, apreciar os valores aos quais são mais sensíveis e reconhecer as potencialidades que lhes são próprias. Precisamos tomar consciência das ameaças e dos obstáculos que os jovens devem enfrentar e superar em busca de vida, a caminho da liberdade, na experiência do amor. É nossa responsabilidade vocacional aceitar os desafios dessa emergência, não desertar dessa fronteira que nos pertence. Educação e evangelização constituem a maior contribuição que podemos oferecer aos jovens, à Igreja e à sociedade de hoje no espírito, com os métodos e os conteúdos do Sistema Preventivo.
Ao acolher o convite do Reitor-Mor na carta de convocação, explicitamos o "partir de Dom Bosco" seguindo quatro temas: urgência de evangelizar, necessidade de convocar, pobreza evangélica e novas fronteiras. Não são temas separados, mas aspectos constitutivos do programa de vida espiritual e apostólica do nosso Pai e Fundador. São elementos de grande atualidade, dos quais derivam empenhos concretos e exigentes de renovação. São as nossas prioridades para este momento.
Nós as individuamos ao colocar-nos em sintonia com a Igreja e à escuta da Congregação, ao dar atenção aos diversos contextos regionais, ao recolher os testemunhos mais vivos e proféticos, ao confrontar-nos com as novas pobrezas e os desafios postos pela evangelização a toda a Igreja, quer nos países de antiga tradição cristã quer naqueles de missão. Foi-nos de muita serventia o confronto recíproco, tanto nos debates no plenário quanto nos trabalhos das comissões; mais ainda o clima de oração e fraternidade que caracterizou a nossa convivência e, sobretudo, a palavra autorizada do Santo Padre Bento XVI.
Chegamos, assim, à redação do texto que agora apresentamos como memória da nossa experiência e partilha do esforço que fizemos para decifrar e interpretar os sinais dos tempos. Nele, os núcleos estão articulados em:
chamado de Deus: com o olhar voltado, ao mesmo tempo, a Dom Bosco e aos jovens, fizemos um trabalho de discernimento para perceber o que Deus quer de nós hoje;
situação: recolhemos tudo aquilo que os irmãos nos ofereceram como fruto da sua busca e da narração da própria experiência, e individualizamos tanto os aspectos positivos quanto os problemáticos, conscientes de que Deus nos fala através da história;
linhas de ação: introduzidas por alguns aspectos que podem favorecer a mudança de mentalidade e de estruturas, individualizam sinteticamente as principais prioridades que a Congregação entende enfrentar no próximo sexênio; elas articulam-se em intervenções que tocam cada salesiano, comunidade, inspetoria, região e o governo central, com a apresentação de indicações a serem assumidas e concretizadas nos diversos contextos.
O fruto do nosso trabalho chega, então, às mãos dos irmãos e torna-se um convite à renovação e à fidelidade a Dom Bosco e, por meio dele, a Deus e aos jovens. Há como estímulo e encorajamento os irmãos, os jovens, os leigos e os demais membros da Família Salesiana, que, com a santidade, testemunharam a beleza do nosso projeto de vida, a fecundidade do espírito salesiano e a força espiritual do Da mihi animas cetera tolle.
Os próximos anos apresentam-se para nós salesianos, como tempo de graça. O 150º aniversário da fundação da Congregação em 2009, o centenário da morte do beato Miguel Rua em 2010 e o bicentenário do nascimento de Dom Bosco em 2015 fazem do próximo período um tempo extraordinário. Temos a possibilidade de fazer memória e aprofundar a história da nossa experiência carismática, para identificar-nos com ela e vivê-la com a paixão e a radicalidade do Da mihi animas cetera tolle, para propô-la e compartilhá-la com alegria e capacidade profética. Temos diante de nós um tempo favorável para retornar a Dom Bosco e partir com ele e como ele, apaixonados por Deus e pelos jovens, atentos e dóceis ao Espírito, confiantes na presença da Auxiliadora. É um caminho e uma graça que desejamos compartilhar com todos os membros da Família Salesiana.
Os Irmãos
do Capítulo Geral 26
"Praticai o que de mim aprendestes e recebestes e ouvistes, ou em mim observastes" (Fl 4,9)
"O Senhor nos deu Dom Bosco como pai e mestre. Nós o estudamos e imitamos, admirando nele a esplêndida harmonia de natureza e graça. Profundamente homem, rico das virtudes do seu povo, era aberto às realidades terrenas; profundamente homem de Deus, cheio dos dons do Espírito Santo, vivia como se visse o invisível. Esses dois aspectos fundiram-se num projeto de vida fortemente unitário: o serviço dos jovens. Realizou-o com firmeza e constância, por entre obstáculos e canseiras, com a sensibilidade de um coração generoso. Não deu passo, não pronunciou palavra, nada empreendeu que não visasse à salvação da juventude… Realmente tinha a peito tão somente as almas" (C 21).
À escuta do Espírito, sentimo-nos chamados a retornar a Dom Bosco como guia seguro para caminhar na seqüela de Cristo com uma paixão ardente por Deus e pelos jovens, sobretudo os mais pobres.
Retornar a Dom Bosco significa amá-lo, estudá-lo, imitá-lo, invocá-lo e torná-lo conhecido, aplicando-se ao conhecimento da sua história e ao estudo das origens da Congregação, em constante escuta das expectativas dos jovens e das provocações da cultura atual. A riqueza das fontes e dos estudos salesianos atualmente disponíveis permite-nos aprofundar as motivações que o levaram a determinadas opções, metas e projetos que se foram esclarecendo aos poucos em sua ação, a síntese original de pedagogia e pastoral que ele alcançou inspirando-se em S. Francisco de Sales. Essas oportunidades interpelam-nos de modo particular para descobrir a rica humanidade, que o tornava imediatamente amigo dos jovens, e a profunda espiritualidade, que o levava dia após dia a dedicar a sua vida à maior glória de Deus e à salvação das almas.
Retornar a Dom Bosco significa, também, aprofundar as múltiplas expressões da transmissão do carisma nos contextos culturais dos diversos países e valorizar a contribuição da experiência vital de tantas gerações de salesianos, entre os quais sobressaem algumas figuras luminosas de santidade. Aos irmãos, isso permite redescobrir em cada Região a riqueza da tradição recebida e tirar dela inspiração para a inculturação autêntica do carisma.
Retornar a Dom Bosco significa "estar no pátio", ou seja, estar com os jovens, especialmente os mais pobres, para descobrir neles a presença de Deus e convidá-los a abrir-se a seu mistério de amor. Dom Bosco retorna entre os jovens de hoje pelo testemunho e pela ação de uma comunidade que vive o seu espírito, animada pela mesma paixão apostólica. Ele recomenda a cada salesiano que encontre os jovens com alegria em sua vivência cotidiana esforçando-se por escutar os seus apelos, conhecer o seu mundo, encorajar o seu protagonismo, despertar neles o sentido de Deus e propor-lhes itinerários de santidade segundo a espiritualidade salesiana. É sempre Dom Bosco quem nos pede que enfrentemos com audácia os desafios juvenis e demos respostas corajosas à crise de educação do nosso tempo envolvendo um vasto movimento de forças em benefício da juventude.
Dom Bosco, no sonho dos nove anos, recebeu Maria como mãe e mestra e deixou-se guiar por ela na missão juvenil. Por isso, também nós a sentimos presente em nossas casas e a propomos aos jovens como modelo espiritual e auxílio do seu crescimento.
Ao aprofundar o itinerário de Dom Bosco e reviver hoje a sua paixão apostólica, sentimo-nos chamados a fazer resplandecer o fascínio do seu carisma, mostrar a sua beleza e comunicar a sua força de atração. Isso nos leva a desenvolver um testemunho visível e crível da nossa vocação, uma radical seqüela de Cristo, um forte sentido de pertença à Igreja, à Congregação e à Família Salesiana, uma percepção clara da nossa identidade espiritual e pastoral. Sem uma proposta carismática, cativante e envolvente é, de fato, difícil o processo de identificação vocacional.
O salesiano é chamado a olhar para o coração de Cristo, bom pastor e apóstolo do Pai, e colocar-se no seu seguimento, a exemplo de Dom Bosco, com um estilo de vida obediente, pobre e casto. Dessa forma, dedica-se aos jovens com generosidade, vive com alegria a própria vocação na comunidade e encontra assim o caminho da santidade.
Dom Bosco, que entrega as Constituições ao padre João Cagliero antes de partir para a Patagônia, indica-nos como construir hoje a "verdadeira imagem" da Congregação: ser fiéis a ele através da observância convicta da nossa Regra de vida. A cruz que nos é entregue na profissão perpétua, com as imagens que traz impressa, convida-nos a gastar a vida com os jovens e pelos jovens até o último alento, assumindo o convite de Dom Bosco: procura fazer-te amar.
A pessoa de Dom Bosco é sempre atraente e atual. Muitos irmãos têm o desejo de melhor conhecê-lo e imitá-lo na própria vida. Sinal disso é a crescente disponibilidade para participar de momentos formativos que se referem às origens do carisma. Também jovens e leigos sentem-se envolvidos nesse interesse renovado.
Apoio no caminho de aprofundamento da nossa experiência espiritual e apostólica foi oferecido pela publicação de novos estudos salesianos e pela edição crítica das fontes históricas. A fim de evitar um conhecimento meramente afetivo ou nostálgico, percebemos a exigência de ressaltar a experiência mística de Dom Bosco e aprofundar a riqueza espiritual e pedagógica da nossa tradição, com atenção particular à atualização e inculturação do Sistema Preventivo.
As demonstrações de estima e reconhecimento pelo serviço educativo que prestamos em contextos difíceis e com jovens em situação de risco são numerosas e qualificadas. Os pedidos imperiosos de vida que nos chegam de tantos jovens suscitam em nós a necessidade de encontrar respostas adequadas e convencem-nos da eficácia e atualidade do carisma salesiano no mundo de hoje.
Irmãos e comunidades entregam-se generosamente ao serviço educativo e pastoral. Realizam um intenso trabalho pelos jovens desfavorecidos, os pobres, as camadas populares, por meio de uma pluralidade de obras e iniciativas. Diante de situações de urgência educativa, deixamo-nos interpelar e sabemos muitas vezes encontrar recursos e modalidades para uma resposta adequada.
A paixão de alguns irmãos contagia e entusiasma muitos adultos que, de colaboradores, tornam-se co-responsáveis, tornando possível a vida e a ação das comunidades educativas pastorais. Apreciamos também a disponibilidade de muitos jovens a serem protagonistas, a se tornarem apóstolos de seus companheiros até amadurecerem opções vocacionais de especial consagração. Às vezes, porém, o modelo gerencial da obra cria obstáculos à presença mais direta dos irmãos entre os jovens e os leigos, absorvendo suas energias em tarefas que poderiam ser confiadas a outros.
Deve-se constatar que, para não poucos irmãos, o mundo dos jovens apresenta-se difícil e distante, com o temor e a sensação de não estarem adequadamente preparados. A dificuldade para entender suas linguagens acentua as diferenças culturais, que podem traduzir-se em distância física e afetiva.
Muitos irmãos empenharam-se na renovação da vida espiritual. Isso se manifesta no clima alegre de muitas comunidades, no dinamismo pastoral que as anima e na profundidade da sua vida de oração. Muitos encontraram ajuda para o próprio crescimento no projeto de vida pessoal e comunitário. Não podemos esquecer, além disso, os muitos irmãos idosos e enfermos que vivem com serenidade e espírito de fé, oferecem a doença pela salvação dos jovens, sustentam a comunidade com a oração. Lá, onde isso se deu, constatou-se um envolvimento feliz de adultos e jovens numa única missão, sobretudo quando lhes foi oferecido um caminho formativo. Com sofrimento, porém, reconhecemos que entraram nas comunidades modelos de vida marcados pelo individualismo, pelas comodidades, pelo aburguesamento, pelo imobilismo, pela rejeição dos sinais visíveis da vida consagrada. São perigos sobre os quais Dom Bosco já alertara os primeiros salesianos.
O ativismo e o eficientismo, a falta de um projeto comunitário, o individualismo e uma insuficiente ou desordenada distribuição de tarefas, criam obstáculo à oração, tornam frágil a vida interior, esfriam as relações fraternas, diminuem as atenções em relação a cada irmão. Enfraquecer a ascética do cetera tolle prejudica a paixão apostólica, que encontra inspiração e expressão no da mihi animas.
Estas luzes e sombras das comunidades estão demonstram com clareza as dificuldades da nossa vida consagrada a realizar a síntese pedida pelo Concílio Vaticano II entre sequela Christi, carisma do Fundador e adaptação às condições mutáveis dos tempos (PC 2).
A fim de enfrentar as exigências do chamado e os desafios advindos da situação e realizar as conseqüentes linhas de ação, é preciso converter mentalidades e modificar estruturas, passando:
Retornar a Dom Bosco
8 Esforçar-se por amar, estudar, imitar, invocar e tornar Dom Bosco conhecido, para partir dele.
12 O Reitor-Mor com o seu Conselho
Retornar aos jovens
13 Retornar aos jovens, especialmente os mais pobres, com o coração de Dom Bosco.
aprenda a encontrar a Deus através dos jovens aos quais é enviado (cf. C 95); encontre tempo para estar no meio dos jovens como amigo, educador e testemunha de Deus, qualquer que seja o seu papel na comunidade; * coopere na missão juvenil com a oração, o interesse, a oferta da própria vida quando a idade, a saúde ou outros motivos impeçam sua presença física entre os jovens.
18 O Reitor-Mor com o seu Conselho
Identidade carismática e paixão apostólica
19 Redescobrir o significado do Da mihi animas cetera tolle como programa de vida espiritual e pastoral.
"Anunciar o evangelho não é para mim motivo de glória: ai de mim, se eu não anunciar o evangelho" (1Cor 9,16)
“Esta Sociedade, em seu início, era um simples catecismo. Também para nós a evangelização e a catequese são a dimensão fundamental da nossa missão. Como Dom Bosco, somos chamados todos e em qualquer ocasião, a ser educadores da fé. Nossa ciência mais eminente é, pois, conhecer Jesus Cristo; e a alegria mais profunda, revelar a todos as insondáveis riquezas do seu ministério. Caminhamos com os jovens para conduzi-los à pessoa do Senhor ressuscitado, a fim de que, descobrindo nEle e em seu evangelho o sentido supremo da própria existência, cresçam como homens novos” (C 34).
"O termo evangelização tem um significado muito rico. Em sentido amplo, ele resume toda a missão da Igreja, porque toda a sua vida consiste em realizar […] o anúncio e a transmissão do Evangelho, «força salvadora de Deus para todo aquele que crê» (Rm 1,16) e que, em última essência, se identifica com Jesus Cristo (cf. 1Cor 1, 24). […] Em todo caso, evangelizar significa não só ensinar uma doutrina, mas também anunciar o Senhor Jesus com palavras e ações, isto é, fazer-se instrumento da sua presença e ação no mundo" (Congregação para a Doutrina da Fé, Nota doutrinal sobre alguns aspectos da evangelização, n. 2). Inseridos na Igreja e guiados pelo Espírito, trabalhamos para o advento do Reino de Deus, "levando aos homens a mensagem do Evangelho, intimamente unida ao desenvolvimento da ordem temporal" (C 31).
A fonte de toda a obra evangelizadora está no encontro pessoal com Cristo. Essa experiência é, para nós, um evento cotidiano, que se renova na escuta da Palavra de Deus, na participação do mistério pascal pela liturgia e pelos sacramentos, na partilha fraterna e no serviço aos jovens.
Maria, que por primeiro acolheu e levou o anúncio de salvação, ensina-nos a criar comunidades evangelizadas e evangelizadoras. Com Ela aprendemos que a profundidade da experiência de Deus é a raiz da missão, e que a primeira e principal via de evangelização é o testemunho da fé. Esse testemunho torna-se mais convincente quando nos aproximamos dos jovens como amigos e os acompanhamos como pais e mestres, irradiando alegria e esperança. Transmitimos, assim, aquilo em que cremos e demonstramos com a vida aquilo que anunciamos.
Percebemos a evangelização como a principal urgência da nossa missão, conscientes de que os jovens têm o direito de ouvir o anúncio da pessoa de Jesus como fonte de vida e promessa de felicidade no tempo e na eternidade. Nossa "tarefa fundamental consiste em propor a todos que levem uma existência humana como Jesus a viveu. […] na sua ação apostólica deve ser fulcral o anúncio de Jesus Cristo e do seu Evangelho, juntamente com o apelo à conversão, ao acolhimento da fé e à inserção na Igreja; além disso, daqui nascem os caminhos de fé e de catequese, a vida litúrgica e o testemunho da caridade diligente" (Bento XVI, Carta ao Reitor-Mor, n.4).
Por intermédio da Igreja, o Senhor Jesus chama-nos a fazer uma nova evangelização: "nova em seu ardor, em seus métodos e em suas expressões" (João Paulo II, Discurso à assembléia da CELAM, 9 de março de 1983). Isso nos compele a preparar, com criatividade e audácia, itinerários diversificados para levar os jovens ao encontro pessoal com Cristo, de modo que amadureçam a vontade de segui-lo e se tornem apóstolos do Evangelho, construtores de um mundo novo. Essa tensão é a alma de todas as nossas intervenções educativas; devemos comunicá-la também aos leigos, envolvendo-os sempre mais em tarefas pastorais.
A evangelização exige salvaguardar ao mesmo tempo a integridade do anúncio e a gradualidade da proposta. Dom Bosco assumiu essa dupla atenção a fim de propor a todos os jovens uma experiência profunda de Deus, levando em consideração a sua situação concreta.
Na tradição salesiana, exprimimos essa relação de diversos modos: por exemplo, "honestos cidadãos e bons cristãos" ou "evangelizar educando e educar evangelizando". Advertimos sobre a exigência de continuar a reflexão sobre essa delicada relação. Entretanto estamos convencidos que a evangelização propõe à educação um modelo de humanidade plenamente realizada e que a educação, quando chega a tocar o coração dos jovens e desenvolve o sentido religioso da vida, favorece e acompanha o processo de evangelização: "sem educação não há, de fato, evangelização duradoura e profunda, não há crescimento e amadurecimento, não acontece a mudança da mentalidade e da cultura" (Bento XVI, Benedetto XVI, Carta ao Padre Pascual Chávez Villanueva, Reitor-Mor dos Salesianos, por ocasião do Capítulo Geral XXVI, 1º de março de 2008, n. 4).
Por isso, desde o primeiro momento, a educação deve buscar inspiração no Evangelho e a evangelização deve adaptar-se à condição evolutiva do jovem. Só assim ele poderá descobrir em Cristo a sua verdadeira identidade e crescer até a plena maturidade; só assim o Evangelho poderá tocar em profundidade o seu coração, curá-lo do mal e abri-lo a uma fé livre e pessoal. Conscientes de que somos chamados a educar e evangelizar também mentalidades, linguagens, costumes e instituições, nós nos empenhamos na promoção do diálogo entre fé, cultura e religiões; isso ajudará a iluminar com o Evangelho os grandes desafios colocados à pessoa humana e à sociedade pelas mudanças de época, e transformar o mundo com o fermento do Reino.
A urgência de levar o anúncio do Senhor Ressuscitado impele-nos ao confronto com situações que ressoam em nós como apelo e preocupação: os povos ainda não evangelizados, o secularismo que ameaça terras de antiga tradição cristã, o fenômeno das migrações, as novas formas dramáticas de pobreza e de violência, a difusão de movimentos e seitas. Sentimo-nos interpelados também por algumas oportunidades como o diálogo ecumênico, inter-religioso e intercultural; a nova sensibilidade pela paz, pela tutela dos direitos humanos e pela salvaguarda da criação; as muitas expressões de solidariedade e de voluntariado que se difundem sempre mais no mundo.
Esses elementos, reconhecidos pelas Exortações Apostólicas pós-sinodais continentais, são desafios para toda a Igreja e obrigam-nos a encontrar caminhos novos de comunicação do evangelho de Jesus Cristo no respeito e na valorização das culturas locais. Por isso a exigência para que as Regiões e Inspetorias se esforcem por individualizar as formas mais idôneas de realizar a missão comum na especificidade dos contextos.
Muitos irmãos vivem com intensidade a paixão por Deus e pelos jovens. Esta se manifesta no desejo de uma vida consagrada mais profética, que se caracterize pela profundidade espiritual, pela fraternidade sincera e pela coragem apostólica. Dessa forma, ao viver e trabalhar em comum, sentem que podem dar um testemunho autêntico e alegre do carisma e atrair os jovens ao confronto sério com a proposta cristã e com a mesma vida consagrada.
Encontram-se, porém, superficialidade espiritual, ativismo frenético, estilo de vida burguesa, testemunho evangélico frágil, dedicação parcial à missão. Tudo isso é traduzido não só na dificuldade de fazer emergir a própria identidade de consagrados como também na timidez apostólica. A complexidade de certas obras, às vezes, leva ao risco de absorver as energias dos irmãos em tarefas de gestão, enfraquecendo o compromisso primário de educadores e evangelizadores.
A educação dos jovens à fé, relançada pelo CG 23, reconhece o trabalho generoso de muitos irmãos a propor experiências e percursos diversificados por idade, adaptados às diversas condições juvenis e realidades culturais. Apesar disso, constata-se que não foi plenamente acolhido o convite para criar itinerários que levem os jovens ao encontro do Senhor Jesus. Nossas iniciativas nem sempre estão claramente orientadas para a educação à fé. Os processos de catequese são frágeis e, em muitos casos, não suscitam nos jovens uma vida sacramental convicta e regular, uma verdadeira pertença eclesial e um compromisso apostólico corajoso. A falta de organicidade e continuidade, fruto também de insuficiente reflexão e estudo, levou, às vezes, a atuar mais uma pastoral de iniciativas e eventos que de processos. Em outros casos, as propostas não foram suficientemente inseridas na caminhada das Igrejas locais.
Experimenta-se em muitos contextos algum desânimo devido ao afastamento dos jovens em relação à fé, às resistências provocadas pela mentalidade secularista difusa também entre as famílias, à incompreensão em relação às tradições religiosas não-cristãs, à falta de coragem por parte dos educadores.
Percebemos que o carisma salesiano é parte viva das Igrejas locais e é estimado por elas. O Sistema Preventivo de Dom Bosco é mais atual do que nunca e goza, em todos os lugares, de grande força de atração. Muitos jovens estão abertos à busca do sentido da vida e disponíveis à proposta educativa e cristã séria e corajosa. Não faltam jovens dispostos, em primeira pessoa, ao empenho na evangelização dos coetâneos, particularmente no âmbito do associacionismo. Outros, porém, vítimas da desatenção educativa da sociedade hodierna, precisam da nossa ajuda para chegar ao conhecimento das profundas questões que também trazem dentro de si.
Constatamos o crescimento numérico de leigos e de membros da Família Salesiana que são co-responsáveis não só nos aspectos organizativos, como também na aceitação de tarefas pastorais em nossas obras e no próprio ambiente de vida. Freqüentemente, porém, não nos preocupamos adequadamente em lhes oferecer uma formação sistemática.
Somos herdeiros de uma forte tradição no campo da pesquisa e das publicações no setor da catequese e da pastoral juvenil. Percebemos, contudo, o perigo do enfraquecimento desse empenho, dada a dificuldade de encontrar e preparar pessoal especializado e coordenar as iniciativas. Percebemos, ainda, a nossa dificuldade de estarmos presentes de modo significativo no diálogo entre fé, cultura e religiões que constitui, hoje, um desafio fundamental para a nossa missão.
Foram potencializadas as instituições de educação superior a fim de responder às exigências de preparação acadêmica e profissional dos jovens. Esses centros são freqüentados por estudantes de diversas nacionalidades, culturas e religiões. Isso comporta o esforço de garantir não só a qualidade do ensino e da pesquisa, como também a identidade salesiana e a proposta de evangelização.
Encontramos, nas Regiõesde recente evangelização, ambientes disponíveis ao anúncio. A localização popular das nossas presenças permite o contato com muita gente e oferece a possibilidade de atuar de variadas maneiras a serviço da fé. A missio ad gentes, parte essencial do nosso carisma, continua a suscitar entusiasmo em irmãos, que se oferecem para a missão, e a envolver muitos jovens em projetos de voluntariado. Esforçamo-nos por conhecer e compreender as culturas, línguas, religiões e tradições locais para inculturar o Evangelho. Em alguns países em vias de desenvolvimento existem comunidades que exercem um papel profético no campo da justiça social. Percebem-se, nos países de antiga tradição cristã, expressões de religiosidade popular que são uma grande riqueza para a transmissão da fé e que merecem ser mais bem conservadas, promovidas e, onde necessário, purificadas. Percebe-se, entretanto, no mundo ocidental, uma crise difusa da cultura inspirada nos valores cristãos, de modo que a Igreja não é mais um referencial autorizado para muitas pessoas e instituições. Aqui reside a especial dificuldade de se propor o Evangelho e educar à fé.
Muitas de nossas obras estão em contexto multi-religioso, multiétnico e multicultural que apresenta novos desafios e oportunidades à evangelização. Entre estas, sobressai-se de modo particular a relação com o Islã, que exige a definição de estratégias adequadas de diálogo e anúncio. Onde não for possível o anúncio explícito ou imediato de Jesus Cristo, a nossa presença de educadores cristãos constitui um sinal profético e lança uma semente preciosa de evangelização.
31 Processos a ativar em vista da mudança
A fim de enfrentar as exigências do chamado e os desafios advindos da situação e realizar as conseqüentes linhas de ação, é preciso converter mentalidades e modificar estruturas, passando de:
Comunidade evangelizada e evangelizadora
32 Colocar o encontro com Cristo na Palavra e na Eucaristia como centro de nossas comunidades, para sermos discípulos autênticos e apóstolos críveis.
Centralidade da proposta de Jesus Cristo
36 Propor aos jovens, com alegria e coragem, a vivência da existência humana como foi vivida por Jesus Cristo.
40 O Reitor-Mor com o seu Conselho
Evangelização e educação
41 Cuidar, em todos os ambientes, da integração mais eficaz entre educação e evangelização, na lógica do Sistema Preventivo.
45 O Reitor-Mor com o seu Conselho
Evangelização nos diversos contextos
46 Inculturar o processo de evangelização para responder aos desafios dos contextos regionais
51 O Reitor-Mor com o seu Conselho
"Levantai os olhos e vede os campos como estão dourados, prontos para a colheita" (Jo 4,35)
“Respondendo às necessidades de seu povo, o Senhor continuamente e com variedade de dons chama a segui-lo para o serviço do Reino. Estamos convencidos de que muitos jovens são ricos de recursos espirituais e apresentam germes de vocação apostólica. Ajudamo-los a descobrir, acolher e amadurecer o dom da vocação laical, consagrada, sacerdotal, em benefício de toda a Igreja e da Família Salesiana. Com igual solicitude cuidamos das vocações adultas" (C 28).
Reconhecemos, com gratidão, que a vocação salesiana é uma graça que recebemos de Deus. Ele nos chamou a viver na seqüela de Cristo obediente, pobre e casto, no interior de uma comunidade fraterna, com uma missão juvenil, a exemplo de Dom Bosco. A primeira e mais bela proposta vocacional que podemos oferecer aos jovens é a generosidade de irmãos e o exemplo de comunidades que vivem o primado de Deus, o espírito de família e a dedicação à missão.
Estamos conscientes de que o jovem descobre o chamado à vida consagrada salesiana quando encontra uma comunidade significativa, um modelo com o qual identificar-se, uma profunda experiência de vida espiritual e de trabalho pastoral, a ajuda de um guia que o acompanhe na opção por Cristo e no dom de si.
A carência de vocações vivida por algumas Inspetorias, ao mesmo tempo em nos leva a uma revisão obrigatória, interpela-nos a crescer na autenticidade de vida e na capacidade de proposta. Estamos, de fato, convencidos de que Deus continua a chamar muitos jovens a serviço do Reino e que são vários os fatores que podem favorecer a sua resposta.
Sentimos hoje, mais forte do que nunca, o desafio de criar uma cultura vocacional em todos os ambientes, de modo que os jovens descubram a vida como chamado e toda pastoral juvenil seja realmente vocacional. Isso exige ajudar os jovens a superar a mentalidade individualista e a cultura da auto-realização, que os leva a projetar o futuro sem colocar-se à escuta de Deus; isso também exige envolver e formar famílias e leigos.
Deve-se colocar um empenho especial em suscitar entre os jovens a paixão apostólica. Como Dom Bosco, somos chamados a encorajá-los a serem apóstolos dos seus companheiros, a assumirem várias formas de serviço eclesial e social, a se empenharem em projetos missionários. A fim de favorecer a opção vocacional de trabalho apostólico, dever-se-á propor a esses jovens uma vida espiritual mais intensa e um acompanhamento pessoal sistemático.
Esse é o terreno no qual florescerão famílias capazes de testemunho autêntico, leigos empenhados em todos os níveis na Igreja e na sociedade e também vocações para a vida consagrada e para o ministério.
Dom Bosco, embora trabalhando com incansável generosidade na promoção de várias formas de vocações na Igreja, chamava alguns jovens a ficarem para sempre com ele. Também para nós a proposta da vocação consagrada salesiana dirigida aos jovens faz parte da fidelidade a Deus pelo dom recebido. O desejo de compartilhar a alegria de seguir o Senhor Jesus, ficando com Dom Bosco, para dar esperança a tantos outros jovens do mundo inteiro impele-nos a isso.
A promoção das vocações consagradas exige algumas opções fundamentais: oração constante, anúncio explícito, proposta corajosa, discernimento cuidadoso, acompanhamento personalizado. A oração deve ser empenho cotidiano das comunidades e deve envolver jovens, famílias, leigos, grupos da Família Salesiana. O anúncio pede a valorização das múltiplas ocasiões vocacionais que se apresentam durante o ano litúrgico. A proposta e o discernimento exigem aquela proximidade cordial que suscita confiança e permite intuir os sinais de vocação manifestados pelo jovem. O acompanhamento requer ajudar os jovens a intensificarem a vida espiritual, experimentarem formas adaptadas de apostolado, viverem a experiência de comunidade, conhecerem a Congregação, examinarem as motivações e ativarem as dinâmicas que levam à decisão.
Reconhecemos a exigência de cada Inspetoria ter comunidades vocacionais ou aspirantados que acolham e acompanhem os jovens interessados em confrontar-se com a vida consagrada salesiana. Nessa animação vocacional deve-se, pois, valorizar a contribuição indispensável das famílias, com modalidades diversificadas.
Dom Bosco quis que a Congregação fosse caracterizada pela presença complementar de salesianos leigos e salesianos ministros ordenados. Somos chamados, por isso, a dar prioridade e visibilidade à unidade da consagração apostólica, embora as realizando em suas duas diversas formas. Podemos fazê-lo ao reforçar o primado de Deus e a seqüela radical de Cristo como fundamento da nossa vida.
A consagração apostólica salesiana dá uma particular conotação educativa ao modo de ser ministro ordenado, ao colocar o anúncio da Palavra, a celebração litúrgica e a guia da comunidade a serviço do crescimento dos jovens; é essa a contribuição específica que ele deve oferecer às comunidades educativo-pastorais e às Igrejas locais.
A mesma consagração caracteriza o salesiano coadjutor ao fazer dele educador e evangelizador com dedicação exclusiva, capaz de levar a todos os campos educativos e pastorais o valor da sua laicidade e estar próximo dos jovens e das realidades do trabalho (cf. C 45).
Conscientes de que a Congregação poria sua identidade em risco, se não conservasse esta complementaridade, somos chamados a aprofundar a originalidade salesiana do ministério ordenado e promover mais intensamente a vocação do salesiano coadjutor.
Numerosos irmãos vivem alegremente e empenham-se em criar um ambiente familiar favorável ao surgimento das vocações. A atitude de muitos salesianos que acolhem os jovens com gestos simples, mas significativos, como o cumprimento cordial, o entretenimento amigável, a presença animadora, torna-se testemunho vocacional. O exemplo da velhice serena e ativa e a oferta paciente dos irmãos enfermos, que sabem dar à própria vida "um novo significado apostólico" (C 53), podem comunicar aos jovens a beleza da existência doada e ainda fecunda.
A carência de vocações sensibilizou comunidades e irmãos a refletirem sobre o modo de fazer hoje a animação vocacional. Muitas comunidades rezam pelas vocações convidando os jovens, os leigos e as famílias, com diversas modalidades de oração e celebração.
A nossa vida, porém, nem sempre manifesta a centralidade de Deus e o estilo de vida inspirado nas bem-aventuranças. Nem sempre estamos disponíveis a acolher os jovens em comunidade. Ainda encontramos dificuldade para garantir o acompanhamento educativo e espiritual. O individualismo pastoral enfraquece o valor do viver e trabalhar juntos e torna pouco crível o convite a participar da nossa vida fraterna. Os comportamentos incoerentes com a vida consagrada, particularmente com o voto de castidade, e as evasões da Congregação influem negativamente sobre as opções dos jovens. Igualmente, a difundida cultura das mídias, que freqüentemente banalizam a afetividade e oferecem uma imagem distorcida do consagrado, constitui um obstáculo para o jovem identificar-se com essa vocação.
Numerosas comunidades estão empenhadas em valorizar à dimensão vocacional da pastoral juvenil. Apesar disso, constata-se o risco da improvisação e da ocasionalidade; propõem-se freqüentemente experiências significativas, mas isoladas, fruto de atividades não coordenadas entre pastoral juvenil e animação vocacional.
A crise da família, a difusa mentalidade relativista e consumista, o influxo negativo das mídias sobre a consciência e o comportamento são um grande obstáculo à cultura vocacional. Nem sempre sensibilizamos oportunamente as comunidades educativo-pastorais para a dimensão apostólica e vocacional e nem sempre valorizamos a co-responsabilidade dos leigos e a colaboração com os grupos da Família Salesiana.
A presença de muitos jovens em nossos ambientes é ocasião para cultivar o diálogo educativo, entrar em confidência, ajudá-los a descobrirem o desígnio que Deus tem sobre suas vidas, convidá-los ao dom de si. Nem sempre, contudo, sabemos suscitar neles o desejo de serem apóstolos entre os companheiros, propondo-lhes caminhos espirituais e empenhos de serviços diversificados. Corremos, assim, o risco de rebaixar o nível da proposta e não saber suscitar vocações apostólicas, privando-nos do contexto natural em que podem amadurecer vocações de especial consagração.
Há algumas Inspetorias que têm um trabalho vocacional bem estruturado e compartilhado. Elas ativaram grupos vocacionais, retiros espirituais com caráter vocacional, experiências de voluntariado, comunidades-proposta e novas formas de aspirantado. Elas servem-se, também, dos meios de comunicação social para favorecer o conhecimento do carisma de Dom Bosco.
Difunde-se bastante a prática de fazer os jovens irmãos em formação inicial encontrar-se com os jovens em busca vocacional; isso resulta particularmente útil, pois através desse testemunho os jovens podem descobrir a vida consagrada como uma modalidade atraente de vida cristã.
Os adolescentes e os jovens são generosos, mas sentem dificuldade de assumir um compromisso prolongado. A mentalidade do recrutamento leva, às vezes, a encontrar candidatos à vida consagrada com fragilidade de motivações. Infelizmente, alguns jovens são introduzidos nas fases formativas sem a suficiente idoneidade. Outros provêm de uma situação familiar difícil, que é preciso conhecer e integrar de modo que não comprometa o seu amadurecimento. A animação vocacional é orientada quase exclusivamente aos estudantes, enquanto descuidamos dos jovens trabalhadores.
Encontra-se, às vezes, no acompanhamento espiritual, uma falta de preparação nos salesianos. Além disso, ainda se notam fragilidades, quer em nível inspetorial quer local, na organização das iniciativas e propostas vocacionais. Quando não há continuidade de projeto, a mudança de encargo dos irmãos que trabalham na animação vocacional torna-se particularmente delicada. Em algumas Inspetorias não há comunidades de acompanhamento vocacional.
Muitos salesianos presbíteros vivem o seu ministério a serviço dos jovens, com estilo educativo fiel às intuições de Dom Bosco. Em alguns casos percebe-se, porém, genericismo pastoral e acolhida parcial da identidade carismática. Isso exige que se caracterizem sempre mais os itinerários da formação específica.
A vocação do salesiano coadjutor nem sempre é conhecida, por ter pouca visibilidade ou ser escassamente apresentada. Isso acontece porque o coadjutor tem prevalência em papéis de gestão e não diretamente na atividade juvenil. Sua figura nem sempre é apresentada com adequado relevo nos aspirantados, pré-noviciados e noviciados. Em alguns contextos, permanece o preconceito de que a vocação do salesiano sacerdote é mais importante do que a do coadjutor. A redução da nossa presença entre os jovens trabalhadores também incidiu negativamente sobre a proposta dessa vocação.
Quando, ao contrário, um significativo número de salesianos coadjutores cultural e profissionalmente qualificados é colocado em papéis de responsabilidade, favorece-se, então, a visibilidade dessa vocação e suscita-se nos jovens o desejo de segui-la. O surgimento, em todas as Regiões, da fase da formação específica do salesiano coadjutor foi positivo.
60 Processos a ativar em vista da mudança
A fim de enfrentar as exigências do chamado e os desafios advindos da situação e realizar as conseqüentes linhas de ação, é preciso converter mentalidades e modificar estruturas, passando:
Testemunho como primeira proposta vocacional
61 Testemunhar com coragem e alegria o fascínio de uma vida consagrada entregue totalmente a Deus na missão juvenil.
Vocações para o empenho apostólico
65 Suscitar nos jovens o empenho apostólico pelo Reino de Deus com a paixão do da mihi animas cetera tolle e favorecer a sua formação.
Acompanhamento dos candidatos à vocação consagrada salesiana
69 Fazer a proposta explícita da vida consagrada salesiana e promover novas formas de acompanhamento vocacional e de aspirantado.
70 O Salesiano aprenda a reconhecer os sinais de vocação manifestados pelos jovens e preocupe-se em propor-lhes a vida consagrada salesiana; esteja disponível para o acompanhamento espiritual, e preocupe-se com a preparação pessoal.
73 O Reitor-Mor com o seu Conselho
As duas formas da vocação consagrada salesiana
74 Promover a complementaridade e a especificidade das duas formas da única vocação salesiana e assumir um empenho renov_ado pela vocação do salesiano coadjutor.
78 O Reitor-Mor com o seu Conselho
"Se queres ser perfeito, vai, vende os teus bens, dá o dinheiro aos pobres, e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me" (Mt 19,21)
“Dom Bosco viveu a pobreza como desapego do coração e generoso serviço aos irmãos, com um estilo austero, industrioso e rico de iniciativas. A seu exemplo, também nós vivemos no desapego de qualquer bem terreno e participamos com espírito empreendedor na missão da Igreja no seu empenho pela justiça e pela paz, de modo especial mediante a educação dos necessitados. O testemunho da nossa pobreza, vivida na comunhão de bens, ajuda os jovens a superar o instinto de posse egoísta e os abre ao sentido cristão da partilha" (C 73).
Ao assumir a condição humana, o Senhor Jesus optou por nascer e viver pobremente, entregou-se totalmente a Deus, compartilhou a condição de vida dos pobres e proclamou-os bem-aventurados enquanto destinatários da boa-nova e herdeiros do Reino. Pediu a alguns que deixassem tudo para segui-lo mais de perto, a anunciar com a vida que Deus é a verdadeira riqueza. Desse chamado nasce a pobreza do salesiano que exprime o abandono confiante ao Pai, a proximidade e o serviço aos pobres, a bem-aventurança de uma existência preenchida pelo amor a Deus e aos irmãos.
Dom Bosco, homem de origens humildes, experimentou desde pequeno os incômodos e os valores de uma existência pobre. À escola de mamãe Margarida aprendeu o gosto pelo trabalho e a sobriedade, a serenidade nas provações e a solidariedade com os necessitados. Ao colocar total confiança na Providência, decidiu viver pobremente e gastar todas as suas energias pelos jovens aos quais Deus o enviara: "Por vós estudo, por vós trabalho, por vós eu vivo, por vós estou disposto até a dar a vida" (Const 14). O significado profundo do cetera tolle está no desapego de tudo que torne insensível a Deus e crie obstáculos à missão, e constitui o critério para rever o nosso modo de viver a pobreza.
A primeira manifestação da pobreza é a entrega total de si a Deus, na disponibilidade às exigências dos jovens; isso comporta renunciar a si mesmo e aos projetos individuais para compartilhar os da comunidade. Conscientes da admoestação de Dom Bosco sobre as comodidades e as riquezas, somos chamados a viver um estilo de vida austero, a assumir o trabalho incansável sem ceder ao ativismo, a manter livre o coração do apego a bens e instrumentos. A comunidade, de modo particular, sente-se chamada a buscar formas institucionais de testemunho que manifestem uma pobreza crível e profética.
Em força da nossa vocação, somos chamados a cultivar a escuta atenta e participante do clamor dos pobres e propor-lhes o anúncio do Reino como fundamento da verdadeira esperança e fermento de um mundo novo. Isso comporta opção preferencial pelos jovens mais carentes, atenção às suas necessidades, participação na sua situação, superação da mentalidade assistencialista e paternalista, empenho por torná-los protagonistas do próprio desenvolvimento.
Fiéis ao nosso carisma, não nos contentamos com oferecer ajudas imediatas, mas queremos denunciar e contrastar as causas da injustiça; contribuir para criar uma cultura de solidariedade; educar a consciência moral, a cidadania ativa, a participação política, o respeito pelo ambiente; propor iniciativas e projetos de intervenção; colaborar com organismos e instituições que promovam a vida. Tal empenho exige que se renove na comunidade e nos ambientes educativos a sensibilidade a estas temáticas e se supere o aburguesamento que provoca indiferença ao drama mundial da pobreza.
Dom Bosco recorda-nos que "tudo o que temos não é nosso, mas dos pobres; ai de nós se não fizermos bom uso disso" (C 79). A prática da pobreza requer, portanto, a gestão dos recursos que nos são confiados, coerente com as finalidades da missão, responsável, transparente e solidária. Isso significa, entre outras coisas, prestação de contas clara e completa, uso racional e otimizado dos imóveis, audácia na busca de recursos necessários para garantir a sustentabilidade das obras, respeito às normas dos contratos de trabalho, atenção às condições do ambiente social em que vivemos, redescoberta do valor da gratuidade na hospitalidade e na prestação de alguns serviços, solidariedade com as comunidades, as Inspetorias e a Congregação.
Os desafios da ilegalidade difusa, da injustiça planetária e do monopólio dos bens por parte de poucos conclamam-nos a denunciar esses escândalos e a elaborar a cultura da essencialidade, da distribuição justa dos recursos, do desenvolvimento sustentável. A pobreza assume, assim, um forte valor educativo: afirma o primado do ser sobre o ter, cria a autêntica solidariedade cristã com os pobres, contesta estilos de vida consumistas.
Os irmãos, em geral, dão testemunho de trabalho generoso e dedicação gratuita até a idade avançada, colocando a serviço dos pobres aquilo que são e têm; apesar da queda numérica dos irmãos, as comunidades levam adiante muitas obras em frentes diversificadas.
Às vezes corremos o risco de reduzir o exercício da pobreza à dependência do superior; constata-se também uma gestão irregular do dinheiro e a existência de contas pessoais. Nem sempre a sobriedade é vivida na alimentação, no alojamento, nas viagens, nos instrumentos de comunicação, na organização dos tempos de repouso, no cuidado com a saúde. Verifica-se, em alguns contextos, o apego exagerado à família de origem e ao seu sustento, incoerentes com o voto de pobreza.
Em numerosas comunidades, vive-se a partilha dos bens e ajudam-se as famílias pobres. Há irmãos que se prestam para o cuidado e a manutenção da casa, mas o aumento de funcionários traz o risco de enfraquecer a co-responsabilidade nos serviços comuns. A falta de envolvimento na gestão econômica da comunidade e a informação insuficiente levam alguns a não tomarem consciência das dificuldades da casa, do custo de vida, dos problemas cotidianos enfrentados pelos pobres. Nem sempre o scrutinium paupertatis consegue modificar as práticas incorretas.
Às vezes, na formação inicial, a atenção à pobreza evangélica vivida concretamente no cotidiano parece falha: conhecem-se as exigências do voto de pobreza, mas, na prática, não se aprende a pensar e a viver como pobres.
São numerosas as intervenções para contrastar as formas mais graves de pobreza, como a acolhida dos imigrantes, os projetos de apoio ao desenvolvimento, a ajuda aos povos provados pela guerra e pelas calamidades naturais, a promoção humana nos territórios de missão. É importante o trabalho que realizamos nas instituições escolares a educar para as exigências da justiça e a causa da paz; nelas propomos a cultura da solidariedade com iniciativas em favor dos mais carentes e dos excluídos. Trabalhamos pelos pobres, mas, às vezes, não ao lado deles e com eles; de fato, nem sempre estamos atentos para favorecer o seu protagonismo nos projetos de desenvolvimento. Nota-se resistência em alguns irmãos para caminhar em direção aos jovens mais carentes e oferecer-se para novas presenças nas fronteiras das pobrezas juvenis.
As estruturas imponentes, às vezes não mais significativas em relação ao contexto social, os meios freqüentemente custosos e vistosos, o uso incorreto do dinheiro, correm o risco de não dar testemunho de pobreza comunitária e institucional. Até mesmo algumas obras iniciadas em favor dos mais pobres foram-se dirigindo gradualmente às classes médias.
Muitos esforços foram feitos para conseguir-se uma maior transparência na administração, particularmente com uma apresentação mais cuidadosa do balanço, a melhor utilização dos edifícios, a maior sensibilidade com relação às normas vigentes, uma concreta solidariedade em âmbito inspetorial. Encoraja-nos o fato de que benfeitores privados, instituições eclesiásticas e públicas continuem a ter confiança em nosso trabalho e a conceder recursos para o sustento de nossas obras.
Nem sempre temos a competência necessária para a gestão dos recursos econômicos; apesar do esforço em qualificar os ecônomos, nem todos gozam de preparação adequada. É pouco difundida a prática do balanço preventivo. Nota-se, às vezes, na relação com os funcionários, um estilo patronal, pouco respeitoso da sua dignidade; é preciso referir-se sempre à prática de uma justiça social mais atenta a eles. Tem-se dificuldade também de co-responsabilizar os leigos nas opções de gestão.
As urgências e a complexidade crescentes de certas atividades correm o risco de transformar a obra salesiana em empresa, com o perigo de um excessivo funcionalismo e eficientismo, sobretudo quando se enfraquecem as finalidades pastorais. Na condução de projetos de grandes dimensões, relativos a novas estruturas e reestruturações, corre-se freqüentemente o risco de perder energias, tempo e dinheiro.
85 Processos a ativar em vista da mudança
A fim de enfrentar as exigências do chamado e os desafios advindos da situação e realizar as conseqüentes linhas de ação, é preciso converter mentalidades e modificar estruturas, passando:
Testemunho pessoal e comunitário
86 Dar testemunho crível e corajoso de pobreza evangélica, vivida pessoal e comunitariamente no espírito do da mihi animas, cetera tolle.
Solidariedade com os pobres
90 Desenvolver a cultura da solidariedade com os pobres no contexto local.
93 O Reitor-Mor com o seu Conselho
Gestão responsável e solidária dos recursos
94 Gerir os recursos de modo responsável, transparente, coerente com os fins da missão, ativando as necessárias formas de controle em nível local, inspetorial e mundial.
97 O Reitor-Mor com o seu Conselho
"O Espírito está sobre mim; pois ele me consagrou com a unção para anunciar a Boa-Nova aos pobres" (Lc 4,18)
“Nossa ação apostólica realiza-se em pluralidade de formas, determinadas em primeiro lugar pelas exigências daqueles a quem nos dedicamos. Realizamos a caridade salvífica de Cristo, organizando atividades e obras de escopo educativo-pastoral, atentos às necessidades do ambiente e da Igreja. Sensíveis aos sinais dos tempos, com espírito de iniciativa e constante flexibilidade, nós as avaliamos e renovamos, e criamos outras novas. A educação e a evangelização de muitos jovens, sobretudo entre os mais pobres, movem-nos a procurá-los no ambiente em que vivem e encontrá-los em seu estilo de vida com formas adequadas de serviço" (C 41).
Dom Bosco, ao caminhar pelas ruas de Turim, constatou as carências da "juventude periclitante" e respondeu prontamente às suas necessidades ao abrir novas frentes de trabalho e agir também com "temeridade" desde que "ganhasse almas para Deus". Ao percorrer as ruas do mundo também nos defrontamos com o rosto de jovens imigrantes, jovens explorados pelo turismo sexual e pelo trabalho infantil; rostos dos dependentes de drogas, portadores de HIV e doentes de AIDS; rostos dos excluídos sociais, sem trabalho, vítimas da violência, da guerra e dos fanatismos religiosos, das crianças-soldado, dos meninos de rua, deficientes físicos e psíquicos, jovens em situação de risco. Causa-nos profunda impressão alguns lugares de marginalização em que os jovens vivem, como as periferias das cidades e as favelas, e algumas situações de marginalização como as dos refugiados, indígenas, ciganos e outras minorias étnicas. Reconhecemos, também, as expectativas dos jovens espiritual e culturalmente pobres, que solicitam o nosso empenho: jovens que perderam o sentido da vida, carentes de afeto pela instabilidade da família, desiludidos e esvaziados pela mentalidade consumista, indiferentes quanto à religião, desmotivados pelo permissivismo, pelo relativismo ético, pela difusa cultura de morte.
Dom Bosco sentiu-se enviado por Deus para responder ao clamor dos jovens pobres e intuiu que, se era importante dar respostas imediatas ao seu sofrimento, era ainda mais importante prevenir suas causas. A seu exemplo, queremos ir ao encontro deles, convencidos de que a ação preventiva é justamente o modo mais eficaz de responder às suas pobrezas. Percebemos, por isso, a necessidade de aprofundar o seu sistema educativo para explicitar as suas tarefas em vista da superação do sofrimento e da marginalização juvenis: educação ética, promoção da dignidade da pessoa, empenho sociopolítico, exercício da cidadania ativa, defesa dos direitos dos menores, luta contra a injustiça e construção da paz. Ao reconhecer que se encontram nos jovens pobres abertura e disponibilidade ao Evangelho, a eles, com coragem, anunciamos Jesus Cristo e propomos caminhos de fé.
Atenção particular deve-se reservar à atual situação da família, sujeito originário da educação e primeiro lugar da evangelização. A Igreja inteira tomou consciência das graves dificuldades nas quais a família se encontra e percebe a necessidade de oferecer ajudas extraordinárias para sua formação, seu desenvolvimento e o exercício responsável da sua missão educativa. Por isso, também nós somos chamados a fazer com que a pastoral juvenil esteja sempre mais aberta à pastoral familiar.
Sentimo-nos interpelados, ainda, pelas novas tecnologias da comunicação social e pelos desafios educativos impostos por elas. As atuais oportunidades de comunicação tornam-se para os jovens um modo habitual de encontrar-se, trocar mensagens, participar com rapidez e mobilidade, mas também de modo impessoal e virtual. A cultura da personal media pode comprometer o amadurecimento da capacidade de relação e expor, sobretudo os jovens, ao perigo de encontros e dependências fortemente negativas; é nesse "pátio" que devemos estar presentes para escutar, iluminar, orientar.
Compartilhamos a preocupação da Igreja pelo futuro do Evangelho no mundo ocidental e, de modo particular, na Europa. Vai-se enfraquecendo sempre mais, de fato, a referência às raízes cristãs que contribuíram para a identidade do continente, inspiraram o pensamento, o costume e a arte, orientaram a história dos povos, enriqueceram a Igreja de figuras esplêndidas de santidade, nutriram por séculos o entusiasmo missionário no mundo todo. Devido à interdependência entre os povos, o destino da Europa envolve o mundo inteiro e torna-se preocupação da Igreja universal. Abre-se assim uma nova fronteira em relação ao passado; para nós Salesianos é um convite a "dirigir uma crescente atenção à educação dos jovens à fé" ( Ecclesia in Europa n. 61).
A atenção às novas fronteiras empenha-nos a renovar a nossa mentalidade cultivando a co-responsabilidade nos projetos, que jamais são do indivíduo, mas da comunidade salesiana e da comunidade educativo-pastoral. As novas carências dos jovens requerem o desapego pessoal de papéis, situações e ligações que ameacem a real disponibilidade à mudança, como também a coragem apostólica que se dispõe a repensar iniciativas e obras para melhor responder às suas exigências.
O novo modelo de gestão das obras exige que seja garantida a consistência quantitativa e qualitativa da comunidade; a co-responsabilidade real dos irmãos e dos leigos; a disponibilidade do diretor para a sua missão primária; a promoção de novas formas de presença mais flexíveis; o planejamento comum com a Família Salesiana e o trabalho em rede com outras organizações e agências educativas, em sinergia com a Igreja local e a sociedade.
Isso permitirá dar vida a "novas presenças", ou seja, a projetos inéditos em resposta às necessidades emergentes, ou renovar as obras e as propostas já existentes para torná-las "presenças novas", ou seja, mais eficazmente orientadas à missão.
É difusa a atenção às muitas formas de pobreza presentes no mundo de hoje e, em particular, aquelas que ameaçam o presente e o futuro dos jovens. É intenso o trabalho da Congregação em favor do desenvolvimento humano e da promoção social nas áreas onde a pobreza é mais evidente. Em nossas casas, os jovens são acolhidos sem discriminação e o nosso serviço educativo-pastoral é oferecido a todos. Resultam particularmente eficazes as obras que preparam os jovens para o mundo do trabalho ao oferecer-lhes profissionalização e acompanhamento.
Surgiram, nas Inspetorias, experiências positivas para responder às pobrezas emergentes. Desenvolve-se o trabalho em rede, em colaboração com a Família Salesiana, com educadores e voluntários das comunidades educativo-pastorais, com pessoas do mundo eclesial, social e associativo, com organizações não governamentais. Os aspectos positivos que favorecem a abertura às novas fronteiras são constituídos pela aumentada capacidade de pensar e agir por meio de projetos, pela confiança e disponibilidade das instituições privadas e públicas, pelo esforço de investir na formação para habilitar salesianos e leigos a respostas adequadas. Há, porém, certa resistência a renovar, requalificar, converter a nossa mentalidade. É ainda frágil a formação de salesianos e leigos para saber ler os sinais dos tempos e esconjurar o perigo do distanciamento dos jovens. Às vezes, o nosso trabalho educativo não consegue alcançar quem está fora do nosso ambiente. A fim de responder às novas pobrezas, as Inspetorias entregaram-se ao espírito empreendedor de algum irmão sensível e deixaram de colocar em ação iniciativas programadas em comum.
A situação da família suscita, em quase todos os contextos, uma preocupação especial. Ela está ameaçada não só pelo difuso relativismo ético, como também por processos de deslegitimação institucional. Chega-se até a desagregação e o reconhecimento de outras formas de uniões, com conseqüências graves no plano educativo como o abandono dos menores, as convivências impostas, a doméstica. Por isso, cresceu nas Inspetorias a atenção à família, referência essencial para a educação, mas os esforços feitos até agora ainda são insuficientes.
Cresceram a sensibilidade e o esforço da Congregação na fronteira da comunicação social. Sinais disso são, por exemplo, a instituição da Faculdade de Ciências da Comunicação Social na UPS; a ativação de diversos projetos para a educação ao uso crítico das mídias; a crescente presença de sítios institucionais na Internet; a maior familiaridade com a rede informática, quer para intercâmbios pessoais quer para formação à distância; a nova organização do Dicastério para a comunicação social. Temos consciência, contudo, de que os mundos virtuais habitados pelos jovens são múltiplos, e nem sempre somos capazes de compartilhá-los e animá-los por falta de formação, tempo e sensibilidade.
Assistimos nos últimos decênios ao progressivo enfraquecimento da presença salesiana em algumas nações da Europa. A preocupante redução das vocações levou os irmãos a manterem o mais possível as presenças e atividades, a envolver os leigos, a redefinir os limites das Inspetorias, a construir projetos comuns para corresponder melhor aos desafios da educação e da evangelização. Percebe-se a insustentabilidade desse esforço sem um projeto corajoso por parte de toda a Congregação.
Em algumas Inspetorias, obtiveram-se, no trabalho em favor dos pobres, bons resultados ao formar, envolver e co-responsabilizar os leigos. Trata-se de uma atenção sempre mais difundida, mas ainda não adequadamente assumida em todas as nossas presenças. Verifica-se, às vezes, um modelo organizativo que não soube renovar-se segundo a exigência dos tempos: permanece a mentalidade herdada do estilo tradicional de condução das casas. Isso se manifesta, por exemplo, na organização rígida das atividades, na atenção insuficiente aos ritmos de vida dos jovens, na lentidão para realocar ou requalificar presenças e obras, na dificuldade de co-responsabilizar os leigos nos papéis de decisão.
A fim de nos adequarmos às alteradas condições dos tempos, adotamos freqüentemente a estratégia da ampliação das obras levando-as a dimensões difíceis de gerir e não mais capazes de responder às novas pobrezas com a agilidade e urgência que elas requerem.
104 Processos a ativar em vista da mudança
A fim de enfrentar as exigências do chamado e os desafios sdvindos da situação e realizar as conseqüentes linhas de ação, é preciso converter mentalidades e modificar estruturas, passando:
Principal prioridade: os jovens pobres
105 Fazer opções corajosas em favor dos jovens pobres e em situação de risco.
Outras prioridades: família, comunicação social, Europa
108 Assumir uma atenção privilegiada pela família na pastoral juvenil; potencializar a presença educativa no mundo das mídias; relançar o carisma salesiano na Europa.
111 O Reitor-Mor com o seu Conselho
Novos modelos na gestão das obras
112 Rever o modelo de gestão das obras para uma presença educativa e evangelizadora mais eficaz.
Tendo por base as propostas provindas dos Capítulos inspetoriais, de Irmãos individualmente, como também do Conselho Geral e da mesma Assembléia capitular, depois do exame feito pela Comissão jurídica e pela Assembléia, o Capítulo Geral aprovou as seguintes deliberações. Algumas delas referem-se a artigos das Constituições e dos Regulamentos gerais; outras são orientações operativas para o governo da Congregação.
delibera que a Visitadoria "Maria Auxiliadora" de Mianmar seja transferida dA Região Ásia Sul à Região Ásia Leste – Oceania, de acordo com o art. 154 das Constituições.
delibera manter a atual configuração das três Regiões da Europa e pede ao Reitor-Mor com o seu Conselho que consolide a coordenação dos Conselheiros Regionais entre si e com os Conselheiros de setor interessados, e que ative o escritório previsto pelo CG25, 129, para a promoção de projetos e a consecução dos objetivos comuns.
116 O Capítulo Geral, consideradas
confirmando a entrega da tarefa de animação da Família Salesiana ao Vigário do Reitor-Mor, pede que a equipe de animação da Família Salesiana (CG25, 133) seja consolidada e tenha um Coordenador. Ao final do sexênio será atuada uma avaliação.
pede que o Reitor-Mor com o seu Conselho promova equipes de animação interdicasterial para esses setores e confie a sua coordenação a um ou outro Conselheiro, salvaguardando em todo caso a unicidade e a organização da pastoral salesiana.
pede ao Reitor-Mor com o seu Conselho que promova em vista do próximo Capítulo Geral uma avaliação das estruturas de animação e governo central da Congregação, envolvendo as Inspetorias.
delibera que o art. 128 dos Regulamentos gerais seja modificado com a expressão "escrevendo apenas um nome na ficha".
120 O Capítulo Geral 26 reconhece que há atualmente na Congregação uma pluralidade de modelos de gestão das obras: obras geridas por uma comunidade salesiana, núcleo animador de uma comunidade educativo-pastoral mais ampla;
Portanto:
delibera que é dada faculdade ao Inspetor, obtido o consenso do seu Conselho, e no interior do Projeto orgânico inspetorial,
delibera que é reconhecida às Inspetorias a faculdade de inserir no Diretório Inspetorial uma norma que preveja a possibilidade, em determinadas circunstâncias, de entregar a um leigo, nomeado pelo Inspetor, ouvido o Diretor, as funções de ecônomo da comunidade local. Convidado pelo Diretor, ele poderá participar, sem direito de voto, do Conselho da comunidade sempre que for exigida a sua presença.
Tal faculdade reconhecida às Inspetorias exige o respeito das seguintes condições:
delibera que seja modificado o artigo 13 dos Regulamentos Gerais, com a seguinte formulação:
A escola, os centros profissionais e as instituições de educação superior
O processo educativo, conduzido com estilo salesiano e com reconhecida profissionalidade técnica e pedagógica, fundamente-se em sólidos valores culturais e responda às exigências dos jovens. O programa harmonize as atividades de formação intelectual e profissional com as do tempo livre.
Verifique-se periodicamente a validade dos conteúdos e das metodologias pedagógicas e didáticas em relação também com o contexto social, o mundo do trabalho e a pastoral da Igreja.
Carta de Sua Santidade BENTO XVI ao P. Pascual Chávez Villanueva, Reitor-Mor S.D.B., por ocasião do Capítulo Geral XXVI
Ao Reverendíssimo Senhor
Padre Pascual Chávez Villanueva, SDB
Reitor-Mor dos Salesianos de Dom Bosco
Intervenção do Card. Franc Rode C.M., Prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica
Da mihi animas, cetera tolle
É o lema que Dom Bosco escolheu como jovem sacerdote e acompanhou-o por toda a vida. É o programa de vida de Dom Bosco e de todo Salesiano,[Cf. C n. 4.] lema que escolhestes para a celebração do 26º Capítulo Geral da Sociedade Salesiana de São João Bosco. Neste encontro capitular, que vos vê reunidos, vindos de países e culturas diversas, manifesta-se a abundância e a beleza dos dons do Senhor. Por todos e cada um de vós e pelos vossos irmãos Salesianos espalhados pelo mundo, dou graças ao Doador de todo bem, que, em sua infinita bondade fez à Igreja o dom da grande Família de S. João Bosco.
Minha saudação e meu agradecimento pelo empenho vivo de todos os Salesianos na Igreja e no mundo não pode deixar de ir ao Reitor-Mor, sucessor de Dom Bosco, padre Pascual Chávez Villanueva, pelo seu empenho não só em favor da numerosa Família Salesiana, como também de toda a vida consagrada.
A fé cristã, diante de um mundo complexo e de suas crises, está exposta a todas as questões e desafios sobre Deus, sobre a sua entrada na história na pessoa de Jesus, sobre a natureza do homem e o sentido da sua vida e da sua morte. Também a Igreja é colocada em questão: seu papel e sua incidência no mundo são banalizados e contestados em determinados ambientes. A vida consagrada está marcada pela crise, sobretudo na América do Norte e na Europa; diminuição numérica, incertezas sobre a identidade, tentações de resignação e desalento.
Retornar às origens, à centralidade de Jesus Cristo, ao espírito dos Fundadores, pode-nos ajudar a responder com confiança, criatividade e coragem a esses múltiplos desafios.
Cada um de vós é chamado a renovar, nestes dias, a opção fundamental por Cristo, repensada com consciência esclarecida e definida comunitariamente segundo o projeto evangélico das Constituições: a aliança especial com o Senhor; o encontro de amor que marca e orienta a vida inteira; o dom total de vós mesmos a Deus e aos jovens; o sentido da vossa existência consagrada pelo poder do Espírito.
Depois de vos deterdes nos anos passados sobre a identidade salesiana,[CG 22.] a missionariedade,[CG 23.] a partilha com os leigos [CG 24.] e a comunidade,[CG 25.] a vossa atenção nesta assembléia capitular será focada na identidade carismática e na paixão apostólica. Trata-se de um retorno ao coração da vossa vocação na Igreja, ao mais puro espírito do Fundador.
Dom Bosco retorna, repetireis nestes dias, ao recordar as palavras que vos escrevia o Santo Padre João Paulo II na Carta Iuvenum Patris: "Dom Bosco retorna é um canto tradicional da Família Salesiana: exprime o ardente desejo de um retorno de Dom Bosco e um retorno a Dom Bosco, para serdes educadores capazes de uma fidelidade antiga, e também atentos como ele às mil necessidades dos jovens de hoje, para reencontrar as premissas em sua herança, a fim de responder também hoje às suas dificuldades e expectativas".[João Paulo II, Carta Iuvenum Patris no centenário da morte de São João Bosco, Roma 31 de janeiro de 1988, n. 13.]
Retornar a Dom Bosco e partir de Dom Bosco para despertar o coração.
Preparai-vos, pois, para retornar às fontes da espiritualidade salesiana, do carisma salesiano, ao coração do vosso chamado, que encontra sua origem no próprio coração de Cristo com "a atitude do bom Pastor que conquista com a mansidão e o dom de si".[Cf. C Art. 11]
Há diversas modalidades de falar de espiritualidade. Deve-se evitar, certamente, aquela que leva ao espiritualismo, como refúgio num mundo do espírito no qual tudo é perfeito e rarefeito; é preciso, ao contrário, conservar o seu caráter original de vida segundo o Espírito e o enraizamento na existência cotidiana, com suas fadigas e tensões, seus arroubos e rigores, refletindo assim a consistência de caminhos espirituais – pessoais e eclesiais – densos de vida e de mistério.
Só assim será possível evitar o enfraquecimento das linguagens da vida cristã que hoje resultam quase consumidas pelo uso muito genérico ou muito retórico. A exuberância do léxico diz o quanto é difícil pronunciar hoje palavras verdadeiramente espirituais, que não receiem as incertezas da vida ou a referência ao mistério. O pudor e a sobriedade da palavra poderão restituir às nossas linguagens a possibilidade de comunicar a intensa beleza de uma vida vivida na perspectiva do Evangelho.
Desde o início de sua existência, Dom Bosco deixou-se guiar por um único desejo: consagrar toda a vida ao bem dos jovens. A sua obra não é expressão de ativismo, o caráter alegre e aberto do saltimbanco dos Becchi é verdadeira e própria consagração consciente e voluntária, missão para a salvação integral dos jovens. Da mihi animas, cetera tolle. O fim da educação preventiva de Dom Bosco – uma existência humana individual, social e religiosa completa – evidencia-se na expressão "salvação da alma": o anseio de santidade. Uma santidade "ferial", aquela que Dom Bosco indica aos seus jovens e aos primeiros colaboradores.
Santidade que não é objetivo proposto apenas a algum jovem "bom", a alguma elite aristocrática, mas a todos os jovens de Valdocco: "É vontade de Deus que sejamos todos santos; é muito fácil consegui-lo; é um grande prêmio preparado no céu para quem se faz santo".[Bosco G., Vita del giovanetto Savio Domenico scritta dal Sacerdote Giovanni Bosco, p. 50, OE XI p. 200.]
No clima de santidade de Valdocco, suas propostas fortes e generosas tornam-se críveis. Ele "sabe propor a santidade como meta concreta da sua pedagogia – recordava o Servo de Deus João Paulo II – ao proclamá-lo Pai e Mestre da juventude".[IP, n. 5.] "Apraz-me considerar, a respeito de Dom Bosco, sobretudo o fato que ele realiza a sua santidade pessoal mediante o empenho educativo, vivido com zelo e coração apostólico, e que sabe propor, ao mesmo tempo, a santidade como meta concreta da sua pedagogia".[Ivi.] É aqui que se deve buscar "a mensagem profética que ele deixou aos seus e a toda a Igreja".[Ib. n. 8]
"Precisamente tal intercâmbio entre educação e santidade é o aspecto característico da sua figura; ele é um educador santo, inspira-se num modelo santo – Francisco de Sales –, é discípulo de um mestre espiritual santo – José Cafasso –, e sabe formar entre os seus jovens um educando santo – Domingos Sávio".[Ib. n. 5.] E podemos continuar o elenco com os beatos Laura Vicuña e Zeferino Namuncurà, último em ordem de tempo a ser indicado na Família Salesiana como exemplo de santidade em 11 de novembro passado.
Esta mensagem profética que o Fundador vos deixou apresenta o rosto original da vossa identidade carismática, da vossa consagração apostólica, do vosso método educativo baseado na razão, na religião, na bondade.[Cf. "Il Sistema Preventivo", in "Regolamento per le case della Società di S. Francesco di Sales", in Giovanni Bosco "Scritti pedagogici e spirituali", 166.]
É urgente recuperar o verdadeiro rosto da santidade. Para cada Salesiano, para cada jovem que se aproxima de vós, a fim de continuardes a ser, como Dom Bosco, mestres santos de jovens santos, mestres de espiritualidade juvenil.[P, n. 16] Para realizar o projeto de vida que o Fundador vos deixou: "ser na Igreja sinais e portadores do amor de Deus aos jovens, especialmente aos mais pobres".[Cf. C art. 2.]
O artigo 3º de vossas Constituições diz que a vossa é uma "vida de discípulos do Senhor", e que vos oferecestes totalmente a Deus "para caminhar no seguimento de Cristo e trabalhar com ele na construção do Reino".[C art. 3.]
Em vista desta oferta, o Pai vos consagra com o dom do seu Espírito e vos envia para serdes apóstolos dos jovens.[Ivi.] O dom do Espírito deve invadir o vosso coração com a suave potência para fazer-vos capazes de plena fidelidade à vossa vida de discípulos. O segredo do sucesso está em saber consolidar constantemente os vínculos da aliança com Deus.
Como consagrados ao Pai sois chamados a reproduzir na Igreja e no mundo, através dos conselhos evangélicos, "os traços característicos de Jesus virgem, pobre e obediente",[VC, n. 1.] cuidando da vossa fé, da vossa seqüela Christi, da vossa conformação amorosa ao Senhor Jesus, para serdes capazes de comunicar essa vivência numa relação educativa. Tudo o mais pode servir de apoio, modalidade, instrumento para a sempre difícil tarefa de comunicar a fé, sobretudo aos jovens, mas são bem pouco diante do requisito irrenunciável para que tenha início essa empresa: possuir uma fé e um amor vivo, encarnado, sustentado por uma sólida formação.
Essa é a vossa natureza profunda, a vossa vocação, a vossa realização definitiva. Os conselhos evangélicos são esta tensão relacional, a atitude permanente diante do Tu. "Não há outro modo digno de viver do homem fora da perspectiva do dom de si".[João Paulo ii, Mensagem para a jornada das vocações 2003.]
Dom Bosco nasce quando ainda não se passaram trinta anos da Revolução francesa. Já em todo o século anterior (o "século das luzes") a fé sofrera ataques em nome de uma razão divinizada que pretende lutar contra tudo o que chama de "superstição". No século XIX o ataque mistura-se, de modo freqüentemente muito intrincado, com as questões sociais e nacionais.
O tempo de Dom Bosco é o tempo de primeira industrialização, dos movimentos ressurgimentais, das restaurações e revoluções. A Turim do ressurgimento é uma cidade em forte expansão devido à maciça imigração dos campos piemonteses, e o mundo juvenil é presa de problemáticas gravíssimas: analfabetismo, falta de emprego, degrado moral e falta de assistência religiosa. "Tenho dezesseis anos… e não sei nada": assim se apresentou Bartolomeu Garelli, o primeiro dos jovens de Dom Bosco. "A Bartolomeu acrescentaram-se outros jovens – contou o próprio Dom Bosco –. Durante aquele inverno reuni também alguns adultos que precisavam de lições de catecismo adaptadas a eles".[Bosco G., Memórias do Oratório, adaptado por Bosco T., 1985]
Assim teve início o Oratório: com os jovens em busca de trabalho. Dom Bosco deu-lhes uma casa, um coração amigo, instrução e proteção, garantindo-lhes contratos honestos de trabalho. Criou escolas profissionais, oficinas. Ofereceu assistência igual aos estudantes. Encaminhou os jovens à conquista de um lugar no mundo, ajudando-os a conseguir competência e habilidades profissionais; orientou-os à vida cristã, cuidando da sua formação religiosa, da freqüência aos sacramentos e do amor filial a Maria.
Esse trabalho é atual ainda hoje. Se antigamente só havia o pátio, a igreja, a oficina, a escola, hoje estamos na presença de diversos tipos de instituições educativas, escolas, centros de alfabetização, comunidades de acolhida para meninos e jovens em dificuldade, centros de prevenção contra a dependência das drogas, consultorias, intervenções humanitárias para os jovens que vivem nas ruas, campos de refugiados com grande número de meninos e jovens, centros de acolhida de imigrantes… Sempre com o olhar e o coração atentos aos lugares e às situações onde a pobreza e a insatisfação precisam de um surplus de compaixão, proximidade, amor e proteção.
Em nosso tempo, a globalização do mundo da comunicação e da economia faz-se acompanhar do alargar-se de pobrezas e de marginalizações que alcançam especialmente as jovens gerações; por isso, a Igreja percebe com preocupação a urgente necessidade de superar especialmente no âmbito educativo, o drama de uma ruptura profunda entre Evangelho e cultura que leva a desvalorizar e marginalizar a mensagem salvífica de Cristo.
Hoje, mais do que no passado, precisamos de um olhar profético sobre os novos tempos, tão complexos e difíceis, e, sobretudo da audácia dos santos, com coração grande e generoso.
"Tenho dezesseis anos… e não sei nada". É o clamor que ouvimos repetir por tantos jovens que encontramos pelo caminho, que parecem viver, particularmente nestes anos, com apatia e indiferença não só em relação à fé, mas, sobretudo em relação ao amor do qual se busca o sentido profundo ou a nostalgia por tê-lo perdido; ao mesmo tempo, porém, de maneira contraditória ele é reduzido a um fragmento do sentimento e da emotividade.
Estamos diante da era do vazio [G.Lipovetsky, L’era del vuoto. Saggi sull’individualismo contemporaneo, 1995.] devido ao individualismo contemporâneo. "Parece-me – dizia o Santo Padre ao responder às perguntas dos jovens da Diocese de Roma – que o grande desafio do nosso tempo seja o secularismo, isto é, um modo de viver e de apresentar o mundo como si Deus non daretur, isto é, como se Deus não existisse. […] Parece-me esta a primeira necessidade: que Deus esteja novamente presente em nossa vida, que não vivamos como se fôssemos autônomos, autorizados a inventar o que sejam a liberdade e a vida. Devemos tomar consciência de ser criaturas, constatar que há um Deus que nos criou e que estar na sua vontade não é dependência, mas um dom do amor que nos faz viver".[Bento XVI, Colóquio com os jovens, durante o Encontro com os jovens da Diocese de Roma, em preparação à XXI Jornada Mundial da Juventude, Roma, quinta-feira 6 de abril de 2006.]
É preciso ser capaz de falar da verdade, sem ter medo dela, mesmo quando nos parece incômoda. Como o faz, continuamente, o Santo Padre.
Sobre este tema, escrevia Romano Guardini: "Quem fala diga aquilo que é, e como o vê e o entende. Que exprima, portanto, também com a palavra o que traz em seu íntimo. Pode ser difícil em algumas circunstâncias, pode provocar insatisfação, danos e perigos; mas a consciência recorda-nos que a verdade obriga; que ela tem algo de incondicionado, que possui grandeza. Dela não se diz: Podes dizê-la quando te agradar, ou quando deves alcançar uma finalidade; mas: Quando falas, deves dizer a verdade; não a deves nem diminuir nem alterar. Deves dizê-la sempre, simplesmente; mesmo quando a situação te levaria a calar-te, ou quando podes subtrair-te com desenvoltura a uma questão".[R. Guardini, Le virtù, Brescia, 1972, p. 21] Há, portanto, um imperativo ao qual não se pode nem se deve fugir: atestar que a verdade deve retomar o seu lugar e a sua colocação coerente não só em nossa pregação e catequese, mas, sobretudo na vida das pessoas para que possam chegar a uma existência cheia de sentido.
O ministério que realizais coloca-vos, em primeiro lugar, diante da transmissão da fé. Sabemos que ela não é primariamente um conteúdo abstrato, mas estilo de vida que brota da opção de colocar-se na seqüela de Cristo e assumir em nós a sua palavra como promessa e realização de si.
"Os presbíteros… não poderiam ser ministros de Cristo se não fossem testemunhas e dispensadores duma vida diferente da terrena, e nem poderiam servir aos homens se permanecessem alheios à sua vida e às suas situações. O seu próprio ministério exige, por título especial, que não se conformem a este mundo; mas exige também que vivam neste mundo entre os homens e, como bons pastores, conheçam as suas ovelhas… apliquem-se (portanto) a examinar os problemas do seu tempo à luz de Cristo".[PO, nn. 3. 4.]
Além disso, os nossos jovens vivem em profunda solidão. A solidão surge freqüentemente do fato de não se sentirem acolhidos, aceitos pelo que são, ou serem rejeitados; as diversas formas de traição que a vida impõe, da amizade ao amor, em família ou com os coetâneos, fazem emergir de maneira evidente o profundo sentimento de solidão em que muitos estão imersos.
Estou convencido de que os nossos jovens desejam de nós um testemunho de gratuidade plena e de perdão sincero. Querem ser amados pelo que são, mas nem por isso devemos esquecer que para nós amar é buscar o bem deles, sem parar e com extrema paciência. O Concílio escrevia na Gaudium et spes: "O homem vale mais pelo que é do que pelo que tem".[GS, n. 35.] O contexto cultural em que vivemos vive indubitavelmente o equívoco primado do fazer e do ter sobre o ser. A resposta às questões dos jovens não é aquela de encontrar técnicas ou iniciativas concretas: iríamos de encontro à falência. Se desejarmos fazer alguma coisa pelos jovens, é preciso antes de tudo ser pessoas de coração grande, porque como dizia ainda Dom Bosco, a educação é coisa do coração. A educação, em todo caso, exige de nossa parte o empenho de saber recuperar com força o encontro interpessoal e a guia dos nossos jovens, verdadeiro instrumento para a transmissão viva da fé. Se não houver um encontro face a face, a fé não se transmite. Podemos chamá-la de direção espiritual ou de outras maneiras, mas a tradição da Igreja ensina-nos que a transmissão da fé só acontece através da relação interpessoal, que envolve o homem como pessoa. Justamente por isso é indispensável repensar o vosso ser, com estilo salesiano, "sinais e portadores do amor de Deus aos jovens, especialmente aos mais pobres".[C art. 2]
"Não basta amar". O ideal de santidade salesiana é "fazer-se amar".[MB XVII, 107-114]
"Procura fazer-te amar" é o que Dom Bosco aconselhava ao padre Rua quando foi a Mirabello em 1863. "Como não posso estar sempre ao teu lado… falo-te com a voz de um terno pai que abre o coração a um dos mais queridos de seus filhos"; dá-lhe vários conselhos, entre os quais emerge o de fazer-se amar.[MB VII, 524] Dom Bosco insiste: "não basta amar", é preciso saber "fazer-se amar".
"A arte das artes é a arte do amor – ensinava Guilherme de Saint Thierry –. A mesma natureza e Deus artífice da natureza reservaram para si o ensinamento sobre ele. Porque o amor, que é suscitado pelo Criador da natureza, se a sua pureza natural não for poluída por afetos estranhos, ensina-se a si mesmo: mas somente aos que se deixam ensinar por ele, ensinar por Deus. O amor, de fato, é força da alma, que a conduz como que naturalmente ao lugar e ao fim que lhe é próprio".[Guilherme de Saint Thierry, Natura e grandezza dell’amore, 1,1-2, Magnano 1990.]
A arte do amor, o amor pela verdade, aprende-se no estilo de vida de Cristo casto, pobre e obediente, humilde e sóbrio, que tende à caridade. A vida consagrada torna-se assim confessio Trinitatis, signum fraternitatis, servitium caritatis,[Cf. Vita consecrata ] luminoso testemunho profético, epifania da forma de vida de Jesus, presença incisiva no interior da Igreja e profecia paradoxal e fascinante num mundo desorientado e confuso.
"A consciência eclesial do nosso Fundador – escrevia em 1985 o Reitor-Mor da Sociedade, padre Egídio Viganò – concretiza-se pedagogicamente em alguns comportamentos de fé, robustos e práticos. Ele os exprimia com simplicidade em três grandes atitudes que foram chamadas devoções: por Jesus Cristo Salvador e Redentor, presente na Eucaristia, ação central da Igreja; por Maria, Modelo e Mãe da Igreja, contemplada na história como Auxiliadora; e pelo Papa, sucessor de Pedro, posto como cabeça do Colégio episcopal para o serviço pastoral de toda a Igreja".[Carta do Reitor-Mor, in ACG n. 315]
"Todo sacrifício é pouco – escrevia Dom Bosco – quando se trata da Igreja e do Papado".[Cf. C art. 13.] Amor a Cristo, a Maria, à Igreja e ao Papa. O vosso sentire cum Ecclesia seja não só empenho concreto da vida de todo salesiano e dos Responsáveis da Sociedade, como também testemunho da dimensão eclesial da vossa fé e empenho na educação dos jovens a ele.
Ao invocar a bênção do Senhor sobre vós e sobre o vosso Capítulo Geral e sobre os trabalhos dos próximos dias, retomo as palavras de Bento XVI na carta encíclica Spe salvi: "A vida é como uma viagem no mar da história, com freqüência enevoada e tempestuosa, uma viagem na qual perscrutamos os astros que nos indicam a rota. As verdadeiras estrelas da nossa vida são as pessoas que souberam viver com retidão. Elas são luzes de esperança. Certamente, Jesus Cristo é a luz por antonomásia, o sol elevado sobre todas as trevas da história. Mas, para chegar até Ele precisamos também de luzes próximas, de pessoas que dão luz recebida da Sua luz e dão, assim, orientação para a nossa travessia".[SpS, n. 49.]
Maria, Mãe da Igreja e Auxiliadora dos Cristãos,[C art. 8.] Dom Bosco, todos os numerosos santos e beatos salesianos sejam as vossas estrelas e vos tornem faróis de esperança para toda a humanidade, sobretudo para os jovens.
Roma, 3 de março de 2008
Discurso do Reitor-Mor P. Pascual Chávez Villanueva na abertura do CG26
"Desejo vivamente estar convosco, para vos mediar alguma dádiva espiritual, fim de serdes confirmados, ou melhor, a fim de que todos nós sejamos reconfortados, eu por vós e vós por mim, graças à fé que nos é comum" (Rm 1,11-12)
Em.ª Rev.ma, Card. Franc Rodè, Prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica,
Em.ª Rev.ma, Card. Raffaele Farina, Bibliotecário e Arquivista da Santa Igreja Romana,
Ex.mo D. Gianfranco Gardin, Secretário da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica,
Ex.mo D. Gino Reali, Bispo de Porto e Santa Rufina,
Ex.mos Bispos Salesianos,
Rev.ma Ir. Enrica Rosanna, Subsecretária da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica,
Gent.ma Madre Antonia Colombo, Superiora Geral do Instituto das Filhas de Maria Auxiliadora,
Caríssimos Responsáveis dos vários Grupos da Família Salesiana,
Rev.mo P. Pietro Trabucco, Secretário Geral da União dos Superiores Gerais,
Em nome de toda a Assembléia capitular, agradeço-lhes de coração pela presença neste momento tão significativo para a Sociedade de São Francisco de Sales e lhes expresso o quanto é agradável para todos nós a participação dos senhores, que vêm honrar o início do nosso Capítulo Geral 26 e encorajar o nosso trabalho.
Queridos Irmãos Capitulares, Inspetores e Superiores de Visitadorias, Delegados inspetoriais, Observadores convidados, vindos do mundo inteiro para participar desta importante assembléia da nossa amada Congregação.
A todos, desejo dar as boas-vindas com o coração de Dom Bosco. Sintam-se em casa e à vontade! A casa de Dom Bosco é a sua casa. Também a Casa Geral é a casa de Dom Bosco, como o foi a de Valdocco, onde quisemos, em espírito de oração e contemplação, dar início aos primeiros momentos desta Assembléia, como o foi a casucha dos Becchi, na qual está a inscrição com as palavras de Dom Bosco: "Esta é a minha casa".
O tema central do Capítulo, "partir de Dom Bosco", é um convite dirigido à Congregação inteira. Ele levou-nos aos lugares onde o nosso amado pai e fundador, dócil à voz e à ação do Espírito Santo, deu início e desenvolvimento ao carisma do qual somos herdeiros, fiadores, testemunhas e comunicadores. Os Becchi e Valdocco são o berço da nossa experiência carismática. Lá está a nossa identidade, porque lá todos nós nascemos como canta o salmista cheio de alegria pensando na cidade de Deus: "lá todos nós nascemos; em ti estão as minhas fontes todas" (Sl 86).
Nosso DNA é o mesmo do nosso pai Dom Bosco, cujos genes são a paixão pela salvação dos jovens, a confiança no valor de uma educação de qualidade, a capacidade de envolver muita gente, a ponto de criar um vasto movimento de pessoas capazes de compartilhar, na missão juvenil, a mística do da mihi animas e a ascese do cetera tolle. Ao mesmo tempo, expresso os meus mais vivos votos para que o nosso Capítulo seja o ponto inicial para partir de Dom Bosco e chegar a 2015 quando, alegres e reconhecidos, celebraremos o segundo centenário do seu nascimento.
Desejei colocar a citação de São Paulo aos Romanos no início deste discurso de abertura, porque me parece expressar o que trago no coração e o que espero desta assembléia. Sendo verdade que todo Capítulo Geral é um acontecimento que supera na substância a só realização formal do que é prescrito pelas Constituições, com maior razão, acredito que deva sê-lo o CG26. Este será um evento pentecostal, que terá o Espírito Santo como principal protagonista; e será realizado entre memória e profecia, entre reconhecimento fiel às origens e abertura incondicionada à novidade de Deus. E todos nós seremos sujeitos ativos, com as nossas responsabilidades e expectativas, ricos de experiência, disponíveis à escuta, ao discernimento, à acolhida da vontade de Deus sobre a Congregação.
Quem nos convoca é o próprio Deus, que continuamente e em todos os tempos chama e envia os seus profetas, para que haja vida em abundância para todos. Os apelos de Deus exigem generosidade, dedicação plena e disponibilidade também ao sofrimento para "dar a vida"; e a vida não surge sem "as dores do parto". Deus não convida a consolidar situações de estagnação ou até mesmo de morte, mas envia o seu Espírito para dar novamente vida e vitalidade, transformar as pessoas e, através delas, renovar a face da terra.
A esta altura, não posso deixar de recordar a penetrante visão de Ezequiel sobre o povo de Deus exilado sem Rei, sem Templo e sem a Lei. Sobre os ossos ressequidos, sobre o povo morto, Deus envia o Espírito, e eis que reaparecem os nervos e cresce a carne. Ele recobre esses corpos de pele e sopra o seu hálito de vida (cf. Ez 37,8ss.). A novidade que Deus quer oferecer ao mundo pode chocar-se, certamente, com a resistência psicológica e espiritual a "renascer do alto" (Jo 3,3), como aconteceu com Nicodemos. O que se nos pede, porém, é a disponibilidade exemplar de Abraão, que se deixa guiar pelo Deus da promessa (cf. Gn 12,1-3); ele não se apega nem mesmo ao filho tão desejado e chega a renunciar a Isaac, e não hesita em sacrificá-lo desde que não perca o seu Deus. A Virgem Maria, disposta a deixar o próprio projeto para assumir o de Deus, nesta lógica de disponibilidade, é sempre modelo perfeito de abertura iluminada (cf. Lc 1,35ss.)
O CG26 visa algo de novo e de inédito. Impele-nos a urgência de retornar às origens. Somos chamados a haurir inspiração na mesma paixão apostólica de Dom Bosco. Somos convidados a beber nas fontes de onde brotou o carisma e, ao mesmo tempo, abrir-nos com audácia e criatividade a modalidades novas para podermos expressá-lo hoje. Para nós, é como descobrir novas facetas de um único diamante, o nosso carisma, que nos permitem responder melhor às situações dos jovens, compreender e servir as suas novas pobrezas, oferecer novas oportunidades ao seu desenvolvimento humano e à sua educação, ao seu caminho de fé e à sua plenitude de vida.
Queridos Capitulares, é importante que cada um de nós entre em sintonia profunda com Deus, que nos chama "hoje", para que a inspiração e a força do seu Espírito não sejam contristadas no coração, emudecidas nos lábios e deformadas em sua lógica (cf. Ef 4,30). Tudo isso significa que o esforço a que somos chamados é o de abrir o mais possível o arco da nossa receptividade "espiritual", para descobrir no profundo de nós mesmos a vontade de Deus em relação à Congregação e conformar sempre mais o nosso pensar e o nosso falar à Palavra de Deus. As palavras, que cada um de nós sentir-se chamado a manifestar, carreguem o menos possível o peso da carne, porque "da carne nasce carne e do Espírito nasce Espírito" (cf. Jo 3,16).[Cf. V. Bosco, Il Capitolo: momento di profezia per tenere il passo di Dio, Elle Di Ci, Turim 1980, p 8.]
Como viver então a experiência capitular de forma construtiva? Que tipo de esforço cada Capitular deverá fazer? Com quais atitudes se deve participar do Capítulo Geral?
Cultivando o espírito profético
A consciência de sermos convocados por Deus desperta em nós o sentido de dependência em relação a Ele e a intensa aceitação da missão que Ele nos confia. Isso exige de nós uma escuta contínua, humilde, obediente. Diversamente de um congresso ou encontro, quando a dialética prevalece com freqüência, estamos aqui a viver um momento de discernimento e confronto sobre a vida da Congregação e o nosso carisma, um grande dom de Deus para a Igreja e para os jovens.
Não podemos assumir o papel de expectadores. Isso transformaria o evento em simples cronologia; dele não ficaria senão alguma vaga lembrança, incapaz de criar autênticos dinamismos transformadores da história. É justamente essa a missão do profeta: movido pelo Espírito de Cristo e portador da Palavra de Deus, ele é capaz de transformar a história. A fim de que tudo isso se realize em nossa experiência, o CG26 propõe-nos o envolvimento pleno de nossas pessoas. Todos nós somos chamados a viver este acontecimento com responsabilidade, perceber a sua importância vital e reavivar todos os dias o interesse e a disponibilidade para o caminho que o Espírito nos leva a trilhar.
O Capítulo será significativo se deixar de ser um puro "fato" acontecido no tempo e no espaço, para ser uma "experiência" profunda que toca antes de tudo a nossa mesma pessoa. E a tocará se, na realização do Capítulo, formos capazes de encontrar a Deus. A partir desse momento começará a regeneração e o renascimento; poderemos, então, comunicar a todos os irmãos da Congregação "o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que contemplamos e o que as nossas mãos apalparam" (1Jo 1,1).
O crescimento pessoal e o serviço à Congregação, postos em jogo na experiência capitular, caminham juntos. Ouve-se dizer, muitas vezes, que a participação num Capítulo Geral é uma experiência intensa de formação permanente, e é verdade. Entretanto, pessoalmente preferiria falar de uma experiência carismática no sentido mais profundo do termo, ou seja, de uma experiência do Espírito e, em se tratando de uma assembléia, de um verdadeiro Pentecostes comunitário. Não se trata apenas de não decepcionar os irmãos, mas de não malbaratar o "tempo propício", o kairós, de não decepcionar, portanto, a Deus e aos jovens, os dois pólos que configuram a nossa identidade, ao redor dos quais gira a nossa vida e a cujo serviço se justifica o nosso ser.
Atuando o discernimento
Justamente porque o Capítulo não é um congresso, mas tempo de discernimento, deve-se vivê-lo com essa atitude, que exige preparação, reflexão séria, oração serena e profunda, contribuição pessoal, consciência da própria adesão, escuta de Deus e de si mesmo.
A partir desta perspectiva, contribuíram para criar este clima espiritual tanto as jornadas de espiritualidade salesiana vividas nos Becchi e em Turim, quanto os Exercícios espirituais, como também os dois dias de apresentação da Congregação através dos Setores e das Regiões. A atmosfera ideal em que Deus realiza maravilhas e conduz a história, também a da nossa Congregação, é a caridade: Ubi caritas et amor, Deus ibi est.
O Espírito atua, sopra o seu hálito de vida e espalha suas chamas de fogo aonde haja uma comunidade reunida em nome de Cristo e unida pelo amor. É a comunhão dos corações que nos convoca ao redor do mesmo projeto apostólico, aquele de Dom Bosco, e torna possível a unidade na diversidade dos contextos, das culturas, das línguas.
Caminhando com o Deus da história
A situação do mundo e da Igreja pede-nos, hoje, que caminhemos com o Deus da história. Não podemos renunciar à nossa vocação de, como consagrados, ser a ponta de diamante do Reino de Deus, as sentinelas do mundo e os sensores da história. A nossa vocação de "sinais e portadores do amor de Deus" (C 2) impele-nos a ser aquilo que o Senhor espera de todos os seus discípulos: "sal da terra e luz do mundo" (cf. Mt 5,14). Eis as duas imagens utilizadas por Jesus para definir e caracterizar os seus discípulos. Ambas são muito eloqüentes e nos dizem que caminhar na seqüela de Cristo não é determinado tanto pelo "fazer", quanto pelo "ser", ou seja, é mais uma questão de identidade do que de eficácia, uma questão mais de presença significativa do que de atuações grandiosas.
Também aqui, o que importa não é tanto a renovação da Congregação e o seu futuro, quanto a paixão por Jesus e o Reino de Deus. Esta é a nossa esperança. É aqui que se encontra a vitalidade, a credibilidade e a fecundidade do nosso Instituto. Com efeito, a abertura aos questionamentos, às provocações, aos estímulos e desafios do homem moderno, dos jovens em nosso caso, liberta-nos de qualquer esclerose, atonia, redução de velocidade, aburguesamento e coloca-nos a caminho "no passo de Deus". Evitaremos, então, olhar para trás, tornando-nos estátuas de sal, ou nos iludirmos em fugas estéreis para frente, não conformes à vontade de Deus.
A sensibilidade histórica foi sempre um elemento típico de Dom Bosco e da Congregação e hoje, mais do que nunca, não podemos transcurá-las. Ela nos tornará atentos diante das urgências da Igreja e do mundo. E nos fará "caminhar" e "sair" em busca dos jovens. Isso deverá traduzir-se num documento capitular capaz de encher de fogo o coração dos irmãos. Esse texto será uma verdadeira carta de navegação para os anos venturos. Eis porque é importante a leitura dos "sinais dos tempos", alguns dos quais eu quis indicar na carta de convocação do CG26 nos ACG 394.
Construindo sobre a rocha
Em minha carta circular "És tu o meu Deus, fora de ti não tenho bem algum" (Sl 16,2), publicada nos ACG 382, eu falava de uma vida consagrada de tipo liberal que já esgotou as suas possibilidades e não tem mais futuro. Fizeram-se esforços de renovação e tentou-se crescer, mas não exatamente segundo a lógica de uma vida que, antes de tudo, é consagrada a Deus. Muitas experiências convalidam a suspeita de que se quis construir a casa sobre a areia, e não sobre a rocha. Qualquer tentativa de refundar a vida consagrada que não tenha Jesus Cristo como referência, fundamento da nossa vida (cf. 1Cor 3,11), e não nos faça mais fiéis a Dom Bosco, nosso fundador, está destinada à falência.
Não resta dúvida que a vida consagrada vive um momento ainda mais delicado daquele do imediato pós-concílio, malgrado todos os esforços de renovação que se fizeram. Diante desse panorama pode surgir a tentação de um simples retorno ao passado para recuperar segurança e tranqüilidade, ao preço do fechamento aos novos sinais dos tempos, que nos levem a responder com maior identidade, visibilidade e credibilidade.
A solução não está em opções restauradoras: não se pode, com efeito, subtrair à vida consagrada a força profética que sempre a distinguiu e que a torna dinâmica e contracultural. Como já disse muitas vezes, o que está em jogo no próximo sexênio não é a sobrevivência, mas a profecia da nossa Congregação. Não devemos cultivar, portanto, uma "obstinação institucional", a procurar o prolongamento da vida a qualquer custo; antes, com humildade, constância e alegria devemos ser sinais da presença de Deus e do seu amor pelo homem. Só assim podemos ser uma força que arrasta e fascina.
Pois bem, para ser presença profética na Igreja e no mundo, a vida consagrada deve evitar a tentação de conformar-se com a mentalidade secularizada, hedonista e consumista deste mundo e deixar-se guiar pelo Espírito, que a faz surgir como forma privilegiada de seqüela e imitação de Cristo. Podemos então conhecer e assumir a vontade de Deus sobre nós nesta fase da história e levá-la para dentro da nossa vida com alegria, convicção e entusiasmo. "Não vos conformeis com a mentalidade deste século, mas transformai-vos renovando a vossa mente para poder discernir a vontade de Deus, isto é, o que é bom, a ele agradável e perfeito" (Rm 12,3). Não podemos esquecer que a vida cristã, e com maior razão a vida consagrada, não tem outra vocação e missão senão a de ser "sal da terra" e "luz do mundo".
Somos sal da terra quando vivemos o espírito das bem-aventuranças, quando construímos a nossa vida a partir do sermão da montanha, quando vivemos uma existência alternativa. Trata-se de sermos pessoas que, diante de uma sociedade que privilegia o sucesso, o efêmero, o provisório, o dinheiro, o prazer, o poder, a vingança, o conflito, a guerra, escolhe a paz, o perdão, a misericórdia, a gratuidade, o espírito de sacrifício, a começar do círculo restrito da família ou da comunidade para alargar-se depois à sociedade.
Jesus adverte-nos, porém, quanto à possibilidade de o sal perder o sabor, de os seus discípulos não serem autênticos. Ele assinala os efeitos desastrosos disso: "Para nada mais serve senão para ser lançado fora e pisado pelos homens". Ou somos discípulos com clara identidade evangélica, portanto significativos e úteis para o mundo, ou somos de jogar fora e desprezar, somos infelizes, não somos nada. O cristianismo, a fé, o evangelho, a vida consagrada têm um valor social e uma responsabilidade pública, porque são vocação e missão, e não podem ser entendidos e vividos "para uso privado".
É este o sentido da exortação com que Jesus conclui as suas palavras: Assim resplenda a vossa luz diante dos homens. Jesus quer que seus discípulos façam do sermão da montanha um programa de vida. Mansidão, pobreza, gratuidade, misericórdia, perdão, abandono em Deus, confiança, amor aos outros são, portanto, as obras evangélicas que é preciso fazer resplender; elas fazem de nós "sal" e "luz", e nos ajudam a criar a sociedade alternativa que não permite que a humanidade se corrompa totalmente.
Queridos irmãos, nós somos chamados a ser esperança, a ser luz e sal; somos chamados a uma missão para a sociedade e o mundo, missão que se pode resumir numa palavra: santidade! Ser luz e sal quer dizer ser santos. O art. 25 das Constituições apresenta a Profissão como fonte de santificação. Após falar dos irmãos que, vivendo em plenitude o projeto de vida evangélica, tornam-se estímulo do nosso caminho de santificação, assim conclui: "O testemunho desta santidade, que se realiza na missão salesiana, revela o valor único das bem-aventuranças e é o dom mais precioso que podemos oferecer aos jovens".
Dizia-nos João Paulo II: "Seria um contra-senso contentar-nos com uma vida medíocre, vivida segundo uma ética minimalista e uma religiosidade superficial… É o momento de propor a todos com convicção esta elevada medida da vida cristã ordinária", que é justamente a santidade.[João Paulo II, Novo Millennio Ineunte, n. 31. Cf. também Partir de Cristo, n. 46.] Parafraseando Dom Bosco, diria que é fascinante ser santo, porque a santidade é luminosidade, tensão espiritual, esplendor, luz, alegria interior, equilíbrio, limpidez, amor levado ao extremo.
Sendo verdade que a vida consagrada é "dom divino, recebido pela Igreja do seu Senhor", "árvore plantada por Deus na Igreja", "dom especial que ajuda a Igreja na missão salvífica" e que ela "pertence firmemente à vida e santidade da Igreja" (LG 43 e 44), decorre que a celebração capitular é um evento eclesial no sentido autêntico da palavra. Trata-se de um verdadeiro kairós, no qual Deus atua para levar a Igreja a ser sempre mais esposa de Cristo, toda irradiante, sem mancha e sem rugas.
Em um estudo lingüístico feito depois da definição do tema do CG26, o padre Julian Fox escrevia que a palavra que mais retornava nas intervenções do Reitor-Mor, desde a apresentação dos documentos do CG25,[The reference is essentially to a sentence in n. 20 of GC25: «Toda comunidade é formada por homens, imersos na sociedade, que exprimem a paixão evangélica do “da mihi animas, cetera tolle” com o otimismo da fé, a dinamicidade e a criatividade da esperança e a bondade e doação total da caridade». Each community expresses the Gospel-based passion of the ‘da mihi animas’. So while the RM doesn’t actually mention the term ‘passion’ as the very first thing he wrote to the whole Congregation by way of the introduction to the GC25 documents, he is introducing a document that does, and he soon takes up the twin terms ‘passion’ and ‘da mihi animas’ in subsequent letters anyway. We can say that they were there from the beginning of his consciousness as Rector Major. (J. Fox, 06.04.2006).] era "paixão", unida ordinariamente ao "da mihi animas". Sua conclusão é que o da mihi animas de Dom Bosco dá conteúdo e sentido à palavra "paixão", usada freqüentemente em meus escritos; dito de outra forma, o termo "paixão" descreve muito bem o significado do "da mihi animas".
Esta linguagem fez-se mais intensa a partir do Congresso internacional da vida consagrada, realizado em Roma em fins de novembro de 2004, que teve justamente como tema programático "Paixão por Cristo, paixão pela Humanidade". Como membro do Conselho executivo e da Comissão teológica da USG, tive a possibilidade de contribuir para a escolha do tema, que entendia insistir sobre a centralidade da "paixão" no testemunho atual da vida consagrada.
No interior da tradição salesiana e no contexto mais amplo da vida consagrada, esta opção quer-nos levar novamente, a nós consagrados, a cultivar uma poderosa força estimulante, uma imensa energia que é justamente a do desejo. A união profunda entre "paixão" e "Da mihi animas" pertence à nossa estrutura genética, não em nível formal, mas essencial. Nesse modo de sentir, que é dom carismático do nosso fundador, a "paixão" liga-nos profundamente a Deus e aos jovens. A escolha do tema Da mihi animas, cetera tolle, por isso, quis ir à raiz do nosso carisma, à "fundação" da opção espiritual e apostólica de Dom Bosco, que ele mesmo deixou como programa de vida aos Salesianos (cf. C 4). O lema, de fato, sintetiza a nossa identidade carismática e a nossa missão.
O da mihi animas exprime a missão desejada, pedida, aceita. A missão é dom de Deus; é Ele que deseja estar no meio dos jovens através de nós, porque Ele mesmo quer salvá-los, dar-lhes a sua plenitude de vida; por isso, a missão deve ser desejada, pois nasce do coração de Deus salvador e não da nossa vontade. A missão é, além disso, dom a ser pedido; o missionário dos jovens não é dono nem da própria vocação nem dos seus destinatários; a missão realiza-se, em primeiro lugar, em colóquio com o Senhor da messe; isso implica uma profunda relação com Deus, verdadeiro pré-requisito de qualquer missão. A missão é, pois, um dom que se aceita; e isso solicita a identificação com o carisma e o preocupação com a fidelidade vocacional através da formação inicial e da formação permanente; será esta fidelidade a proteger-nos da desafeição a Deus e aos jovens.
O cetera tolle representa a disposição interior e o esforço ascético de acolher a missão. É uma opção de desapego de tudo que nos afaste de Deus e dos jovens. Tal opção pede-nos uma vida pessoal e comunitária mais simples e mais pobre, com a conseqüente reorganização institucional do trabalho, que nos ajude a superar o risco de ser gestores de obras, mais do que evangelizadores dos jovens; atenção às novas pobrezas dos jovens e dos destinatários em geral; abertura às novas fronteiras da evangelização num empenho apostólico profundamente renovado.
O objetivo do CG26 é tocar o coração do Salesiano a fim de fazer com que cada irmão seja "um novo Dom Bosco", seu intérprete hoje! Expressamos este horizonte, ao dizer que o CG26 quer "despertar o coração do Salesiano com a paixão do Da mihi animas". Estaremos certos de alcançar o objetivo, se cada salesiano se identificar com Dom Bosco, ao acolhê-lo na própria vida como "pai e modelo" (C 21). Devemos, por isso, renovar a nossa atenção e o nosso amor às Constituições, acolhendo toda a sua força carismática.
A esse respeito, gostaria de indicar-lhes de modo particular o capítulo segundo das Constituições que nos apresenta o "espírito salesiano". Recordemos o que Dom Bosco nos deixou escrito em seu Testamento espiritual: "Se me amastes no passado, continuai a amar-me no futuro, mediante a exata observância das nossas Constituições".[Cf. "Do testamento espiritual de São João Bosco", Escritos de Dom Bosco, in "Constituições e Regulamentos", ed. 2003, p. 292.] E o padre Rua repete-nos: "Quando o Venerável Dom Bosco enviou seus filhos para a América, quis que a fotografia o representasse no meio deles no ato de entregar ao padre João Cagliero, chefe da expedição, o livro das Constituições. Quanta coisa dizia Dom Bosco com aquele gesto… Quereria eu mesmo acompanhar-vos, confortar-vos, consolar-vos, proteger-vos; mas o que não posso fazer pessoalmente, este livrinho o fará. Guardai-o como tesouro preciosíssimo".[Carta circular de 1º de dezembro de 1909, in Lettere circolari di Don Michele Rua ai Salesiani, Direzione Generale delle Opere Salesiane, Torino 1965, p. 498.] E, enfim, o padre Rinaldi afirmava: "Dom Bosco está nelas por inteiro".
O tema do CG26 – Da mihi animas, cetera tolle – tem como subtítulo a expressão "identidade carismática e paixão apostólica". Afinal de contas, a profunda renovação que a Congregação precisa neste momento histórico e para a qual tende este Capítulo Geral, depende da união inseparável dos dois elementos. Segundo meu modo de ver, deve-se superar desde o início o dilema clássico entre "identidade carismática e relevância social". De fato, este é um falso problema: não se trata de dois fatores independentes, e a sua contraposição pode traduzir-se em tendências ideológicas que desnaturam a vida consagrada, são causa de tensões inúteis e de esforços estéreis, provocando um sentimento de falência. Pergunto-me, pois: onde encontrar a identidade salesiana, aquela que garantiu a relevância social da Congregação, que se manifesta no "fenômeno salesiano" como foi chamado por Paulo VI, fruto do seu incrível crescimento vocacional e da sua expansão mundial?
Acontece conosco aquilo que é vivido hoje pela Igreja. Ela "está sempre diante de dois imperativos sagrados, que a mantêm numa tensão insuperável. Por um lado, está ligada à memória viva, à assimilação teórica e à resposta histórica à revelação de Deus em Cristo, que é origem e fundamento da sua existência. Por outro lado, está ligada e é dirigida à comunicação generosa da salvação oferecida por Deus a todos os homens, alcançados por ela através da evangelização, da celebração sacramental, do testemunho vivo e da colaboração generosa de cada um de seus membros. O cuidado com a identidade e o exercício da missão são igualmente sagrados. Quando a fidelidade às origens e a preocupação pela identidade são desproporcionadas ou excessivas, a Igreja converte-se numa seita e sucumbe ao fundamentalismo. Quando a preocupação com a sua relevância diante da sociedade e das causas comuns da humanidade é levada ao extremo, no qual se esquecem as próprias fontes originais, então a Igreja chega à beira da dissolução e finalmente da insignificância".[O. González de Cardenal, Ratzinger y Juan Pablo II. La Iglesia entre dos milenios, Ed. Sígueme, Salamanca 2005, pp. 224 ss.]
Eis os dois elementos constitutivos da Igreja e, portanto, da Congregação: sua identidade, que consiste em ser discípula de Jesus Cristo, e sua missão, centrada no trabalho pela salvação dos homens, dos jovens em nosso caso. A preocupação obsessiva pela identidade acaba no fundamentalismo, e perde-se assim a relevância. A angústia pela relevância social na realização da missão a qualquer preço e à custa da perda da identidade, leva à dissolução do próprio "ser Igreja".
Isso significa que a fidelidade da Igreja, e a fortiori a da Congregação, depende da união inseparável destes dois fatores: identidade carismática e relevância social. Ao organizar freqüentemente estes elementos como antagônicos ou simplesmente separáveis, "ou identidade ou relevância", podemos cair numa concepção errada de vida consagrada, pensando que se há muita identidade de fé e de carisma, o seu empenho social possa vir a sofrer com isso, e conseqüentemente possa existir pouca significatividade da nossa vida. Esquecemos que "a fé sem as obras é estéril" (Tg 2,20). Não se trata de alternativa, mas de integração!
Ao falar da renovação da vida consagrada, no n. 2 do Decreto Perfectae Caritatis, o Concílio Vaticano II propunha esta orientação de base: "A adequada renovação da vida religiosa compreende, ao mesmo tempo, um retorno incessante às fontes de toda vida cristã, à inspiração originária dos institutos e à sua adaptação às condições mutáveis dos tempos".
São três as referências desse programa de renovação: 1) retorno contínuo às fontes de toda vida cristã; 2) retorno contínuo à inspiração originária dos institutos; 3) adaptação dos institutos às alteradas condições dos tempos. Há, porém, primeiramente um critério que se torna normativo, ou seja, as três exigências da reforma caminham juntas: simul. Não pode existir qualquer renovação adequada com apenas uma dessas perspectivas. Talvez tenha sido esse o erro de certas tentativas falidas de reforma da vida consagrada. No imediato período pós-conciliar, enquanto alguns sublinhavam a inspiração originária do instituto através de uma forte identidade, outros optavam pela adequação à nova situação do mundo contemporâneo com um empenho social mais intenso. Assim, ambas as polarizações ficavam infecundas e sem uma efetiva força de convicção.
Compartilhei muitas vezes a profunda impressão que me causou a visita à Casa Mãe das Irmãs da Caridade em Calcutá, justamente pela particular convicção que Madre Teresa soube transmitir às suas Irmãs: quanto mais te ocupas com aqueles aos quais ninguém dá atenção, os mais pobres e carentes, tanto mais deves exprimir a diferença, a razão fundamental dessa preocupação, que é Cristo Crucificado. A única forma em que se torna claro o testemunho da vida consagrada é encontrada quando ela é capaz de revelar que Deus caritas est. Madre Teresa escrevia: "A oração mais profunda leva-te à fé mais vibrante, a fé mais vibrante, ao amor mais expansivo, o amor mais expansivo, à entrega mais altruísta, a entrega mais altruísta, à paz duradoura".
A identificação com a sociedade contemporânea, sem uma profunda identificação com Jesus Cristo, perde a sua capacidade simbólica e a sua força inspiradora. Apenas esta inspiração torna possível a diferença de que a sociedade carece. Só a identificação com um grupo social ou com um determinado programa político embora carregado de impacto social, não é mais eloqüente nem crível. Para essa finalidade existem outras instituições e organizações no mundo de hoje.
Foi o que Dom Bosco soube fazer de modo extraordinário. O nosso texto constitucional no-lo apresenta de modo magistral no artigo 21 ao falar de Dom Bosco como Pai e Mestre e ao no-lo oferecer como modelo. São três as razões apresentadas:
a) Ele conseguiu realizar na própria vida uma esplêndida harmonia de natureza e graça profundamente homem - profundamente homem de Deus rico das virtudes do seu povo - cheio dos dons do Espírito Santo * era aberto às realidades terrenas - vivia como se visse o invisível
Eis aí a sua identidade.
b) Estes dois aspectos fundiram-se num projeto de vida fortemente unitário: o serviço dos jovens com firmeza e constância por entre obstáculos e fadigas com a sensibilidade de um coração generoso não deu passo, não pronunciou palavra, nada empreendeu que não visasse à salvação da juventude.
Eis aí a sua relevância.
c) Realmente tinha a peito tão somente as almas. totalmente consagrado a Deus e plenamente devotado aos jovens educava evangelizando e evangelizava educando
Eis a graça da unidade.
Hoje a Congregação precisa dessa conversão que nos faça recuperar, ao mesmo tempo, a identidade carismática e a paixão apostólica. O nosso empenho pela salvação dos jovens, especialmente os mais pobres, passa necessariamente através da identificação carismática.
É verdade que em Dom Bosco, a santidade refulge a partir das suas obras; mas as obras são apenas a expressão da sua vida de fé. União com Deus é viver em Deus a própria vida, é estar na Sua presença, é participar da vida divina que está em nós. Dom Bosco fez da revelação de Deus e do seu Amor, a razão da própria vida, segundo a lógica das virtudes teologais: com uma fé que se tornava sinal fascinante para os jovens, uma esperança que era palavra luminosa para eles, uma caridade que se fazia gesto de amor para com eles.
Queridos irmãos Capitulares, em 3 de abril de 2002 eu fui eleito Reitor-Mor pelo CG25 e nos dias sucessivos foram eleitos o Vigário e os demais Conselheiros de Setor e de Região, com a tarefa de animar e governar a Congregação no sexênio 2002-2008. Nestes seis anos procuramos viver essa missão com intensidade, investindo as nossas melhores energias.
O P. Van Looy, pouco mais de um ano depois, foi chamado pelo Santo Padre ao ministério episcopal como Bispo da Diocese de Gent na Bélgica. Isso nos obrigou a nomear um novo Vigário, P. Adriano Bregolin e, conseqüentemente, um novo Regional para a Itália e Oriente Médio na pessoa do P. Pier Fausto Frisoli. Um de nós, o P. Valentín De Pablo, veio a falecer enquanto realizava a Visita extraordinária à Visitadoria AFO. Dois Conselheiros, P. Antonio Domenech e P. Helvécio Baruffi, foram duramente provados pela doença. Enfim, em 23 de janeiro passado, o Santo Padre nomeou Bispo o P. Tarcisio Scaramussa, Conselheiro para a Comunicação Social, confiando-lhe a trabalhosa missão de Auxiliar na Arquidiocese de São Paulo.
Enquanto agradeço a cada um dos Conselheiros pela proximidade e colaboração leal, generosa e qualificada nos diversos papéis que lhes foram confiados, hoje é o momento de dar voz novamente à Assembléia Capitular, que representa a expressão máxima de autoridade na vida da Congregação. A todos, portanto, queridos irmãos, a palavra, mas também o convite a abrir o coração ao Espírito, o grande Mestre interior que nos guia sempre à verdade e à plenitude de vida.
Concluo entregando este acontecimento pentecostal da nossa Congregação a Nossa Senhora, a Maria Auxiliadora. Ela sempre esteve presente em nossa história e não nos fará faltar a sua presença e ajuda nesta hora. Como no Cenáculo, Maria, a especialista do Espírito, haverá de nos ensinar a nos deixarmos guiar por Ele "para poder discernir a vontade de Deus, isto é, o que é bom, a ele agradável e prefeito" (Rm 12,2b).
Roma, 3 de março de 2008
Saudação do Reitor-Mor em homenagem ao Santo Padre por ocasião da Audiência Pontifícia
Beatíssimo Padre,
estamos a sentir uma grande alegria e a considerar como dom admirável de Deus poder encontrar Vossa Santidade por ocasião do XXVI Capítulo Geral. Sinto-me feliz por poder apresentar-lhe os membros do novo Conselho Geral, eleitos na semana passada, e todos os outros Inspetores-Provinciais, com seus respectivos delegados, das 96 Circunscrições nas quais está subdividida a nossa Sociedade Salesiana. Estão também presentes alguns convidados na qualidade de observadores. Ao todo, 233 membros, que representam os quase 16 mil Salesianos presentes em 129 países do mundo.
A alegria que este encontro com o Santo Padre produz em nós é fruto e expressão do nosso Carisma. De fato, o nosso Pai Dom Bosco costumava dizer: "Todo esforço é pouco quando se trata da Igreja e do Papado" (MB V, 577). Ele tinha uma visão enraizada na certeza da presença viva do Espírito Santo na Igreja, na convicção de que o Papa é o Vigário de Cristo na terra e na consciência de que Nossa Senhora é a Auxiliadora dos Cristãos. Em coerência com esses princípios, promoveu e realizou iniciativas, tomou decisões e aceitou tarefas difíceis, a fazer sempre da vontade do Santo Padre um ponto de referência fundamental da sua ação e da sua espiritualidade. Este modo de sentir está vivo em nós, Beatíssimo Padre, e, com ele, além de exprimir a nossa proximidade e adesão à pessoa do Papa entendemos exprimir o nosso Amor e a nossa entrega total a serviço da Igreja.
O Capítulo que estamos a celebrar focalizou a atenção sobre um importante núcleo carismático da nossa Congregação Salesiana: Da mihi animas, cetera tolle. Esta breve oração foi o lema escolhido por Dom Bosco, desde os inícios, para o seu apostolado entre os jovens. Ele queria exprimir assim, ao mesmo tempo, a sua total entrega a Deus, uma grande paixão apostólica e a disponibilidade total a qualquer renúncia, desde que pudesse concretizar a sua missão.
Pudemos confrontar-nos, durante o Capítulo Geral, com essa dedicação total do nosso Santo Fundador a Deus nos jovens. Tivemos como propósito retornar a Dom Bosco e dele partir, com a vontade de estudá-lo, amá-lo e invocá-lo aplicando-nos ao conhecimento da sua história e das origens da Congregação; tudo isso para "retornar aos jovens", estar à escuta de suas invocações e assumir suas inquietações e expectativas, à luz da cultura atual.
Sentimos toda a atualidade do Carisma educativo do qual somos portadores, Beatíssimo Padre, e pretendemos vivê-lo intensamente pelo bem da juventude como contribuição original àquela que é a missão evangelizadora da Igreja.
A celebração de um Capítulo Geral é sempre também um momento de revisão, e estamos felizes de poder constatar que nossos Irmãos estão a trabalhar com fidelidade e eficácia em tantas partes do mundo. Trinta anos atrás, o Reitor-Mor, P. Egídio Viganò, dera origem ao Projeto África. Uma vasta iniciativa de gemellaggi missionários fez com que a nossa presença pudesse multiplicar-se, alargando-se até chegar a 42 países do Continente. Hoje, os irmãos na África são mais de 1.200 e a maioria deles é autóctone. Continuamos a trabalhar na América Latina com grande empenho no campo da educação. É sempre grande a atenção aos jovens mais pobres das periferias urbanas, da rua e também das regiões menos progredidas do continente. Na Ásia e Oceania, onde a religião católica é percentualmente pouco difundida, temos um grande florescimento vocacional, e a evangelização é levada adiante com entusiasmo e fruto, sobretudo entre as populações de origem tribal. Isso acontece na Índia, na Indonésia, no Vietnã, em Timor, até as Ilhas Figi e Samoa. Um sonho ainda continua no coração, o de nos dedicarmos à juventude da grande China e assim levar à plena realização o sonho missionário de Dom Bosco. Será uma grande alegria para toda a Igreja e também para a nossa Congregação quando agradar ao Senhor abrir também essa porta.
Estamos cientes, Santidade, de que a missio ad gentes é uma vocação que nos chama com renovado empenho pelo continente europeu, como também pelas regiões menos progredidas do continente norte-americano e da Austrália. Dom Bosco impele-nos a buscar caminhos novos para encontrar também esses jovens; eles, muitas vezes, não apresentam sinais de pobreza material, mas possuem certamente uma grande pobreza do ponto de vista espiritual; estão a buscar respostas e não têm amigos do coração; têm fome de vida e perderam o sentido da vida. Por tudo isso, o Capítulo Geral orientou-se na formulação de um Projeto Europa, que visa redesenhar a presença salesiana com maior incisividade e eficácia neste continente. Ou seja, buscar uma nova proposta de evangelização para responder às necessidades espirituais e morais desses jovens, que se nos apresentam um pouco como peregrinos sem guias e sem meta.
Beatíssimo Padre, enquanto renovamos os sentimentos do nosso reconhecimento filial, asseguramos-Lhe a oração constante pelas suas intenções, pela Igreja e pelo mundo e com alegria acolhemos do senhor as orientações que mais claramente poderão marcar a caminhada da nossa Congregação nos próximos seis anos, que nos prepararão de maneira imediata à celebração do bicentenário do nascimento de Dom Bosco (1815-2015). Sinta-nos sempre seus devotíssimos filhos e abençoe-nos. Roma, 31 de março de 2008
Discurso de Sua Santidade Bento XVI na Audiência aos Capitulares em 31 de março de 2008
Queridos Membros do Capítulo Geral
da Congregação Salesiana
É-me grato encontrar-me convosco hoje enquanto os vossos trabalhos capitulares já estão a chegar à sua fase conclusiva. Agradeço antes de tudo ao Reitor-Mor, padre Pascual Chávez Villanueva, pelos sentimentos que expressou em nome de todos vós, confirmando a vontade da Congregação de trabalhar sempre com a Igreja e pela Igreja, em plena sintonia com o Sucessor de Pedro. Agradeço-lhe também o serviço generoso desempenhado no sexênio passado e apresento-lhe os meus bons votos pelo encargo que acabou de ser-lhe renovado. Saúdo também os membros do novo Conselho Geral, que ajudarão o Reitor-Mor em sua tarefa de animação e de governo de toda a vossa Congregação.
Na mensagem dirigida ao Reitor-Mor no início dos vossos trabalhos, e por intermédio dele a vós Capitulares, eu expressara algumas expectativas que a Igreja tem em relação aos Salesianos e oferecera algumas considerações para a caminhada da vossa Congregação. Hoje pretendo retomar e aprofundar algumas destas indicações, também à luz do trabalho que estais a realizar. O vosso XXVI Capítulo Geral situa-se num período de grandes transformações sociais, econômicas, políticas; de acentuados problemas éticos, culturais e ambientais; de conflitos ainda sem solução entre etnias e nações. Por outro lado, há em nosso tempo, comunicações mais intensas entre os povos, possibilidades novas de conhecimento e de diálogo, um confronto mais vivo sobre os valores espirituais que dão sentido à existência. Em particular, os apelos que os jovens nos fazem, sobretudo os seus questionamentos sobre os problemas fundamentais, fazem referência aos intensos desejos sentidos por eles de vida plena, de amor autêntico, de liberdade construtiva. São situações que interpelam profundamente a Igreja e a sua capacidade de anunciar hoje o Evangelho de Cristo com toda a sua carga de esperança. Por isso, faço vivos votos para que toda a Congregação Salesiana, graças também aos resultados do vosso Capítulo Geral, possa viver com renovado impulso e fervor a missão para a qual o Espírito Santo a suscitou na Igreja, pela intervenção materna de Maria Auxiliadora. Hoje desejo encorajar-vos, e a todos os Salesianos, a continuarem pelo caminho dessa missão, em plena fidelidade ao vosso carisma originário, no contexto do já iminente bicentenário do nascimento de Dom Bosco.
Com o tema Da mihi animas, cetera tolle o vosso Capítulo Geral propôs-se a reavivar a paixão apostólica em cada Salesiano e em toda a Congregação. Isso ajudará a caracterizar melhor o perfil do Salesiano, de modo que ele se torne cada vez mais consciente da sua identidade de pessoa consagrada "para a glória de Deus" e seja cada vez mais inflamado pelo impulso pastoral "para a salvação das almas". Dom Bosco quis que a continuidade do seu carisma na Igreja fosse garantida pela opção da vida consagrada. Também hoje o movimento salesiano só poderá crescer em fidelidade carismática se, no seu interior, continuar a permanecer um núcleo forte e vital de pessoas consagradas. Por isso, a fim de robustecer a identidade de toda a Congregação, o vosso primeiro compromisso consiste em fortalecer a vocação de cada Salesiano para viver em plenitude a fidelidade ao seu chamado à vida consagrada. A Congregação inteira deve tender a ser continuamente "memória viva do modo de ser e de agir de Jesus como verbo encarnado face ao Pai e aos irmãos" (Vita consecrata, 22). Cristo seja o centro da vossa vida! É preciso deixar-se alcançar por Ele e é preciso tornar a partir sempre d'Ele. Tudo o mais seja considerado "prejuízo diante deste bem supremo que é o conhecimento de Jesus" e tudo seja considerado "lixo, a fim de ganhar Cristo" (Fl 3, 8). De aqui nasce o amor fervoroso ao Senhor Jesus, a aspiração de se identificar com Ele assumindo os seus sentimentos e a sua forma de vida, o abandono confiante ao Pai, a dedicação à missão evangelizadora, que devem caracterizar todos os salesianos: estes devem sentir-se escolhidos para se colocarem no seguimento de Cristo obediente, pobre e casto, segundo os ensinamentos e os exemplos de Dom Bosco.
O processo de secularização, que cresce nas culturas contemporâneas, infelizmente não poupa nem sequer as comunidades de vida consagrada. É preciso vigiar por isso sobre formas e estilos de vida que correm o risco de tornar frágil o testemunho evangélico, ineficiente a ação pastoral e precária a resposta vocacional. Por isso, peço-vos que ajudeis os vossos Irmãos a conservarem e reavivarem a fidelidade ao chamado. A oração dirigida por Jesus ao Pai antes da sua Paixão, para que conservasse no seu nome todos os discípulos que lhe dera e para que nenhum deles se perdesse (cf. Jo 17,11-12), é válida em particular para as vocações de especial consagração. Por isso "a vida espiritual deve ocupar o primeiro lugar no programa" da vossa Congregação (Vita consecrata, 93). A Palavra de Deus e a Liturgia sejam as fontes da espiritualidade salesiana! Em particular a lectio divina, praticada cotidianamente por todos os Salesianos, e a Eucaristia celebrada todos os dias na comunidade, sejam o seu alimento e apoio. Disso brotará a espiritualidade autêntica da dedicação apostólica e da comunhão eclesial. A fidelidade ao Evangelho, vivido sine glossa, e à vossa Regra de vida, em particular um teor de vida austero e a pobreza evangélica praticada de modo coerente, o amor fiel à Igreja e a doação generosa de vós mesmos aos jovens, especialmente aos mais carentes e desfavorecidos, serão garantia do florescimento da vossa Congregação.
Dom Bosco é exemplo resplandecente de uma vida marcada pela paixão apostólica, vivida a serviço da Igreja no interior da Congregação e da Família salesiana. Na escola de S. José Cafasso, o vosso Fundador aprendeu a assumir o lema Da mihi animas, cetera tolle como síntese de um modelo de ação pastoral inspirado na figura e na espiritualidade de São Francisco de Sales. O horizonte no qual se coloca este modelo é o da primazia absoluta do amor de Deus, um amor que chega a plasmar personalidades fervorosas, desejosas de contribuir para a missão de Cristo, a fim de acender toda a terra com o fogo do seu amor (cf. Lc 12,49). Ao lado do fervor do amor de Deus, outra característica do modelo salesiano é a consciência do valor inestimável das "almas". Essa percepção gera, por contraste, um sentido agudo do pecado e das suas conseqüências devastadoras no tempo e na eternidade. O apóstolo é chamado a colaborar na ação redentora do Salvador, para que ninguém se perca. "Salvar as almas" foi, portanto a única razão de vida de Dom Bosco. O B. Miguel Rua, seu primeiro sucessor, sintetizou assim toda a vida do vosso amado Pai e Fundador: "Não deu passo, não pronunciou palavra, nada empreendeu que não visasse à salvação da juventude… Realmente tinha a peito tão somente as almas". Assim o B. Miguel Rua falou de Dom Bosco.
Também hoje é urgente alimentar essa paixão no coração de cada Salesiano. Ele então não terá receio de se mover com audácia nos ambientes mais difíceis da ação evangelizadora a favor dos jovens, especialmente dos mais pobres material e espiritualmente. Terá a paciência e a coragem de propor aos jovens para que vivam a mesma totalidade de dedicação na vida consagrada. Terá o coração aberto para descobrir as novas necessidades dos jovens e ouvir o seu pedido de ajuda, deixando eventualmente a outros os campos já consolidados de intervenção pastoral. O Salesiano enfrentará, por isso, as exigências totalizantes da missão com uma vida simples, pobre e austera, na partilha das mesmas condições dos pobres e terá a alegria de dar mais a quem na vida teve de menos. A paixão apostólica far-se-á contagiosa e também atrairá a outros. O Salesiano torna-se, portanto, promotor do sentido apostólico, a ajudar, antes de tudo, os jovens a conhecerem e amarem o Senhor Jesus; a se deixarem fascinar por Ele; a cultivarem o compromisso evangelizador; a desejarem fazer o bem aos próprios coetâneos e a serem apóstolos de outros jovens, como S. Domingos Sávio, a B. Laura Vicuña, o B. Zeferino Namuncurá e os cinco jovens B. Mártires do oratório de Poznań. Queridos Salesianos, seja vosso compromisso formar leigos com coração apostólico, convidando a todos para caminharem na santidade de vida que faz amadurecer discípulos corajosos e apóstolos autênticos.
Na mensagem que dirigi ao Reitor-Mor no início do vosso Capítulo Geral, eu quis entregar idealmente a todos os Salesianos a carta enviada recentemente por mim aos fiéis de Roma, sobre a preocupação daquela que chamei de grande emergência educativa. "Educar nunca foi fácil e hoje parece ser sempre mais difícil: por isso não poucos pais e professores se sentem tentados a renunciar à sua tarefa, e não conseguem nem sequer compreender qual seja verdadeiramente a missão que lhes é confiada. De fato, circulam em nossa sociedade e cultura demasiadas incertezas e dúvidas, demasiadas imagens deturpadas são veiculadas pelos meios de comunicação social. Assim, torna-se difícil propor às novas gerações algo de válido e de certo, regras de comportamento e objetivos pelos quais valha à pena gastar a própria vida" (Discurso na entrega à Diocese de Roma da Carta sobre a tarefa urgente da educação, 23 de Fevereiro de 2008). Na realidade, o aspecto mais grave da emergência educativa é o sentido de desânimo que invade muitos educadores, em particular pais e professores, face às dificuldades que a sua tarefa apresenta hoje. De fato, assim escrevi na citada carta: "Alma da educação só pode ser uma esperança confiável. Hoje a nossa esperança é insidiada de muitas partes, e arriscamos a sermos também, como os antigos pagãos, homens sem esperança e sem Deus neste mundo, como escrevia o apóstolo Paulo aos cristãos de Éfeso (2,12). Nasce daí precisamente a dificuldade, talvez mais profunda, para uma verdadeira obra educativa: à raiz da crise da educação há de fato uma crise de confiança na vida", que, no fundo, não é mais do que desconfiança naquele Deus que nos chamou à vida. É extremamente importante na educação dos jovens que a família seja sujeito ativo. Ela encontra-se muitas vezes em dificuldade ao enfrentar os desafios da educação; outras vezes é incapaz de dar a sua contribuição específica, ou então fica ausente. A predileção e o compromisso a favor dos jovens, que são características do carisma de Dom Bosco, devem traduzir-se num igual compromisso pelo envolvimento e formação das famílias. Portanto, a vossa pastoral juvenil deve abrir-se decididamente à pastoral familiar. Ocupar-se das famílias não é subtrair forças ao trabalho pelos jovens, aliás, é torná-lo mais duradouro e eficaz. Encorajo-vos, então, a aprofundar as formas deste compromisso, sobre o qual já vos encaminhastes; isso será também um benefício para a educação e evangelização dos jovens.
Diante dessas múltiplas tarefas, é preciso que a vossa Congregação garanta uma formação sólida, especialmente aos seus membros. A Igreja tem necessidade urgente de pessoas de fé sólida e profunda, de preparação cultural atualizada, de genuína sensibilidade humana e de grande sentido pastoral. Ela precisa de pessoas consagradas, que dediquem a própria vida permanecendo nessas fronteiras. Só assim será possível evangelizar eficazmente. A vossa Congregação deve dedicar-se, portanto, a este serviço formativo como sua prioridade. Ela deve continuar a formar com grande cuidado os seus membros sem se contentar com a mediocridade, superando as dificuldades da fragilidade vocacional, favorecendo um sólido acompanhamento espiritual e garantindo na formação permanente a qualificação educativa e pastoral.
Concluo dando graças a Deus pela presença do vosso carisma a serviço da Igreja. Encorajo-vos na realização das metas que o vosso Capítulo Geral proporá a toda a Congregação. Garanto-vos a minha oração para a concretização do que o Espírito vos sugerir pelo bem dos jovens, das famílias e de todos os leigos comprometidos no espírito e na missão de Dom Bosco. Com estes sentimentos concedo agora a todos vós, em penhor de abundantes dons celestes, a Bênção Apostólica.
Cidade do Vaticano, Sala Clementina, 31 de março de 2008
Discurso do Reitor-Mor Padre Pascual Chávez Villanueva no encerramento do CG26
O CG 26: Uma carta de navegação a caminho do Jubileu de 2015 na marca do “Da mihi animas, cetera tolle”
Queridos irmãos,
concluímos hoje este Pentecostes salesiano. Sim! O Capitulo Geral 26 quis ser isto: um Pentecostes, um momento de particular abertura ao Espírito do Senhor. Ainda ressoam em nossos corações as palavras que o Papa Bento XVI nos transmitiu na mensagem enviada para a abertura da nossa reunião: "O carisma de Dom Bosco constitui uma dádiva do Espírito para todo o Povo de Deus, mas somente na escuta dócil e na disponibilidade à ação divina é possível interpretá-lo e torná-lo, inclusive neste nosso tempo, atual e fecundo…. Derramando sobre os Capitulares a abundância dos seus dons, Ele chegará ao coração dos irmãos de hábito, fazendo-os arder com o seu amor, inflamando-os com o desejo de santidade, impelindo-os a abrir-se à conversão e revigorando-os na sua audácia apostólica."[Ao Reverendíssimo padre Pascual Chávez Villanueva, Reitor-Mor dos Salesianos de Dom Bosco. Vaticano, 1º de março de 2008, n.1. ]
Quisemos, de fato, viver o Capítulo justamente assim: sob a orientação do Espírito Santo, para que fosse Ele a ajudar-nos a entender melhor, atualizar e tornar fecundo o carisma do nosso Fundador e Pai. Durante estes dias, experimentamos a ação do Espírito, que inflamará o nosso coração para sermos testemunhas eloqüentes e corajosas do Senhor Jesus, para levar aos jovens a boa nova da sua ressurreição e propor-lhes a experiência alegre do encontro com Ele.
As jornadas vividas nos lugares salesianos (S. Francisco de Assis, Valdocco, Colle Don Bosco, Basílica de Maria Auxiliadora e Santuário da Consolata) foram esplêndidas, apreciadas por todos pela oportunidade de estar em contato imediato com o berço – carismático, espiritual e apostólico – da nossa Congregação. Para alguns era a primeira vez que tinham a alegria de visitar "os nossos lugares santos", para outros era a primeira vez que escutavam uma apresentação de Dom Bosco feita, não tanto de historietas de família para contar ou curiosidades históricas para esclarecer, mas como experiência espiritual e carismática para reviver. Aqueles dias foram para todos, afinal, um modo concreto – e espero – o primeiro passo para "partir de Dom Bosco".
Os frutos deverão ser copiosos: um desejo maior de aprofundamento da herança espiritual que nos foi transmitida, o esforço por tornar mais conhecidos Dom Bosco e a nossa história salesiana, a vontade de preparar formadores de salesianidade e, enfim, o desejo de valorizar mais esses lugares ligados ao nosso carisma.
A apresentação do estado da Congregação, através da relação audiovisual dos Dicastérios e das Regiões, com a relação do Reitor-Mor, quis exprimir o propósito de ir além da entrega de um livro. O objetivo específico era informar pontualmente aos Capitulares sobre o estado da Congregação para favorecer a sua visão global e o sentido de responsabilidade comum. A Congregação é de todos e todos nós somos co-responsáveis pelo seu crescimento, pelos seus recursos, pelos seus desafios.
Os Exercícios Espirituais foram vividos como verdadeiro exercício do Espírito para superar a tentação de reduzir a proposta espiritual a um conjunto de temas de estudo ou atualização teológico-pastoral. Os dias de retiro serviram para criar a atmosfera de fé, absolutamente indispensável para fazer do Capítulo uma experiência de escuta de Deus, de docilidade ao Espírito, de fidelidade a Cristo. Pareceram-me exemplares – mesmo porque não é comum encontrar este ambiente em outras experiências de Exercícios Espirituais – o silêncio, a oração pessoal prolongada na adoração eucarística, a celebração da Reconciliação. Sublinhe-se também que os Exercícios deram-nos alguns elementos importantes de iluminação no que se refere à maior compreensão teológica do carisma, da missão e da espiritualidade salesiana.
Em sua realização concreta, os temas deram-nos chaves significativas de leitura para aprendermos a ser homens de esperança, envolvidos no plano maravilhoso de Deus de salvar a humanidade com a mística do Da mihi animas, que faz do amor de Deus uma força que arrasta, e com a ascética do cetera tolle, que nos leva a entregar a nossa vida até o último alento. Elemento importante a partir dessa perspectiva foi o esclarecimento sobre a missão, que não consiste tanto em fazer coisas quanto em ser sinal do amor de Deus. Esse Amor é, de fato, a única energia capaz de libertar as melhores potencialidades em cada um de nós. Sabemos que é preciso viver tudo isso segundo a marca da gratuidade e da graça. Só assim se alcança aquele dom especial de Deus, a "graça de unidade", pela qual tudo é consagração e tudo é missão. Em relação aos destinatários, ouvimos como Dom Bosco se sentiu carismaticamente "tocado" pelo perigo que podia pôr em risco a felicidade temporal e eterna, (a "salvação") dos jovens: o abandono no qual se podiam encontrar diante de Deus e dos outros, abandono provocado pela própria pobreza, às vezes dramática. Por tudo isso Dom Bosco é para nós pai, mestre e modelo. Ele, à escola de Maria Imaculada e Auxiliadora, quis caracterizar a sua identidade religiosa ao colocar como pontos básicos da sua vida o primado absoluto de Deus, o desejo de uma união contínua com Ele, para corresponder plenamente à sua vontade (obediência), como expressão do amor total (castidade), no despojamento e na renúncia a tudo que pudesse impedir a sua mais completa entrega à missão (pobreza).
Agora, eu gostaria de repercorrer as etapas desse caminho de Graça que foi o nosso Capítulo Geral.
A primeira semana do Capítulo (3-8 de março) foi dedicada aos procedimentos jurídicos ordinários (apresentação e aprovação do Regulamento do CG26, eleição dos Moderadores) e, sobretudo, ao estudo da Relação do Reitor-Mor pelas diversas Regiões. Estas, ao refletirem sobre a Relação, individualizaram os grandes desafios que emergem do estado da Congregação e, conseqüentemente, as linhas de futuro a apresentar ao Reitor-Mor e ao seu Conselho em vista da programação de animação e governo para o sexênio 2008-2014.
O estudo da Relação foi elemento fundamental no aprofundamento do tema capitular, ao levar em consideração que, mais do que nunca, este Capítulo se propunha não tanto a elaborar um documento, quanto a renovar a vida da Congregação com o crucial apelo de "partir de Dom Bosco". Tomar consciência de onde estamos permite-nos descobrir melhor o caminho de "retorno a Dom Bosco", os elementos a recuperar para partir dele com renovado impulso.
A segunda semana (10-15 de março) foi toda empenhada no estudo dos três primeiros núcleos temáticos. Apresentaram-se também as questões enfrentadas pela Comissão Jurídica, especialmente aquelas que tinham a ver com a configuração do Conselho Geral. Era preciso, de fato, chegar às eleições tendo respondido aos questionamentos das Inspetorias ou de irmãos individualmente. Quanto ao estudo dos núcleos temáticos, valorizou-se de modo especial o "Instrumento de trabalho" como ponto de partida da reflexão capitular. De um lado, isso representava a prova evidente do bom trabalho realizado pela Comissão Pré-capitular, e de outro, sublinhava também a validade da contribuição oferecida ao CG26 pelos vários Capítulos Inspetoriais. Estou feliz porque, como escrevera na carta de convocação, o CG26, como processo de reflexão, teve seu início justamente nas Inspetorias, com o estudo dos temas propostos e a ativação do caminho de renovação. As Comissões trabalharam depois sobre um texto que era capitular e não mais pré-capitular, um verdadeiro documento de partida e não apenas um subsídio. As contribuições oferecidas pelas Comissões enriqueceram-no e aperfeiçoaram-no. Foram pontuações e alterações não só lingüísticas, mas que tendiam, sobretudo, a responder de maneira adequada à situação segundo a variedade dos contextos sociais, culturais, políticos e religiosos nos quais a Congregação está a trabalhar. Foi essa a tarefa da Assembléia que, com razão, se tornou então o verdadeiro autor do documento capitular.
A terceira semana (17-20 de março) esteve centrada mais claramente no trabalho em Assembléia, para a partilha do que fora feito nas Comissões. Foi o momento em que pôde ter espaço também o pensamento e a preocupação de cada capitular que desejava ajudar a iluminar o tema, dar voz a sensibilidades e visões diversas, favorecer, sobre os vários aspectos, uma votação do documento que fosse mais consciente, mais pessoal, mais responsável. Deve-se realçar o fato de ter brotado freqüentemente das intervenções aquilo que mais nos preocupa. Como, por exemplo, ao falar da urgência de evangelizar, evidenciou-se que ela deve ser entendida e vivida na maneira como nós salesianos evangelizamos; tanto em relação aos nossos destinatários prioritários (os jovens), quanto em relação às modalidades da evangelização. Ao falar da necessidade de convocar, isso deve ser feito com a mesma convicção de Dom Bosco, para ajudar os jovens a descobrirem o sonho de Deus em relação à sua vida e encorajá-los a dar ao menos uma oportunidade a Deus. As vocações – eu mesmo o dizia no discurso de abertura – não são uma missão, mas o fruto da missão, quando ela é bem feita. Se acrescentarmos a isso a constatação das imensas multidões de jovens que vivem em situações de extrema precariedade e luta pela própria sobrevivência, ou de outros que, embora sem problemas de pobreza material, levam a vida "sem bússola" ou até mesmo esbanjam esse dom precioso com opções insatisfatórias ou se tornam caminho de autodestruição, não podemos deixar de trabalhar para o amadurecimento das vocações. Ao falar da pobreza evangélica, vemos nela um convite do Senhor a tornar nossa a sua bem-aventurança, a viver livres da preocupação dos bens terrenos, a superar a tentação do enriquecimento, a assumir um estilo de vida austero, simples, que liberte o nosso coração e a nossa mente de tantas coisas que criam obstáculo à nossa entrega total à missão; e que nos tornam menos críveis. A riqueza é um verdadeiro perigo: ela torna os homens míopes diante dos valores duradouros (cf. o rico estulto, Lc 12,13-21), duros de coração diante dos pobres (cf. a parábola do pobre Lázaro e o rico epulão, Lc 16,19-31), idólatras a serviço de Mamon (cf. as palavras de Jesus sobre o uso do dinheiro, Lc 16,19-13). Trata-se de um dos temas mais candentes, mas também de uma opção que tem grande força libertadora para nós e para os outros. E ainda: quando se fala de novas fronteiras devemos fazê-lo não à moda de ativistas de direitos humanos, nem como bem intencionados colaboradores de ONGs, mas como educadores consagrados, que procuram responder às carências dos jovens sem prejudicar as nossas obras, que prestam um serviço significativo. Insisto aqui, por isso, no que disse na "Síntese Global e Visão Profética" da minha relação inicial: é importante que as obras correspondam às necessidades dos jovens, com novas presenças onde são necessárias, ou com uma presença nova onde já estamos, mas precisamos renovar-nos.[Cf. La Società di San Francesco di Sales nel sessennio 2002-2008. Relazione del Rettor Maggiore don Pascual Chávez Villanueva, pag. 290.]
A quarta semana (24-29 de março) foi vivida em clima de discernimento para a eleição do Reitor-Mor, do seu Vigário e dos Conselheiros. Era um dos objetivos principais e, ao mesmo tempo, uma das tarefas mais delicadas do Capítulo Geral. Guiados pelo padre José Maria Arnaiz, conseguimos, como capitulares, entrar naquela atmosfera espiritual que nos tornou conscientes, livres e responsáveis para expressar o nosso parecer através do voto pessoal. Em geral, todas as eleições foram vividas com tranqüilidade, embora, na avaliação feita no final, tenha sido salientada a necessidade de favorecer um maior conhecimento das expectativas sobre cada Dicastério ou Região e definir melhor o perfil do Conselheiro a ser eleito, com informações melhor cuidadas sobre os nomes dos possíveis candidatos. Não resta dúvida de que na composição do Conselho Geral intervêm muitos fatores: antes de tudo, os sentimentos daqueles cujos nomes são apresentados como candidatos, depois a sensibilidade cultural no desenvolvimento do processo, além do desejo legítimo de buscar a representatividade de toda a Congregação. Entretanto, a elevada convergência alcançada na eleição do Reitor-Mor e de todos os Conselheiros foi sinal de unidade da Congregação na diversidade das realidades que a constituem.
Esta unidade na diversidade teve a sua expressão particular na noite de festa e fraternidade após a eleição do Reitor-Mor. O longo aplauso dado aos Conselheiros que terminaram o seu serviço (P. Antonio Domenech, P. Gianni Mazzali, P. Francis Alencherry, Mons. Tarcisio Scaramussa, P. Albert Van Hecke, P. Filiberto Rodríguez, P. Joaquim D’Souza, compreendidos os Conselheiros falecidos no exercício do próprio serviço, P. Valentín de Pablo e P. Helvécio Baruffi) foi a expressão de reconhecimento pelo serviço realizado em favor da Congregação na animação de um Setor ou de uma Região. Ainda a respeito das eleições não se pode deixar de sublinhar uma novidade muito significativa como a nomeação do primeiro Salesiano Coadjutor membro do Conselho Geral.
A quinta semana (31 de março – 5 de abril) teve início com a visita ao Vaticano e a Audiência com o Santo Padre. A visita à Basílica de São Pedro, onde fomos acolhidos pelo Card. Angelo Comastri, Arcipreste da Basílica, deu-nos a graça de renovar a nossa profissão de fé diante da urna das relíquias do Apóstolo Pedro e rezar diante da estátua de Dom Bosco, para pedir a coragem de poder gritar como ele: Da mihi animas, cetera tolle. O encontro com o Papa Bento XVI foi, depois, um dos eventos culminantes do CG26, em sintonia com a visão eclesial e espiritual de Dom Bosco. As palavras do Santo Padre aos Capitulares foram acolhidas como linhas iluminadoras e programáticas. Nos dias seguintes, as Comissões e a Assembléia retomaram o estudo da primeira redação do Grupo de redação. Continuou-se assim o trabalho feito durante a Semana Santa, antes da semana das eleições, ao retomar o estudo dos cinco núcleos em comissão e assembléia. Fez-se ainda uma votação quanto ao mérito para os diversos temas apresentados pela Comissão Jurídica. A semana terminou com a visita às Catacumbas de São Calisto, onde quisemos ir para fazer reconhecida memória, especialmente dos Reitores-Mores P. Luís Ricceri, P. Egídio Viganò e P. João Edmundo Vecchi, detendo-nos em oração no hipogeu onde estão sepultados, após a celebração eucarística e o almoço. Em minha oração pessoal quis agradecer ao Senhor pelo dom que fez à Congregação através de cada um deles. Ao pedir a ajuda e a intercessão dos meus predecessores, pedi também para todos os Irmãos a graça de saber caminhar até as fontes da nossa própria identidade ("retornar a Dom Bosco") para encontrar um caminho de futuro ("partir de Dom Bosco"). O nosso futuro caminho de fidelidade nasce da fidelidade que nos precedeu.
Não lhes escondo que me perguntei com freqüência: "Mas será esta realmente uma experiência pentecostal? E o Espírito Santo age de fato através de nós para renovar a Congregação aquecendo o coração dos irmãos?" Creio que sim. O Espírito Santo não muda as situações exteriores da vida, mas as interiores; Ele tem o poder de renovar as pessoas e transformar a terra. Ele agiu antes de tudo em cada um de nós, ao reunir-nos, envolver-nos num projeto comum, fazer-nos responsáveis pela elaboração de tudo aquilo que possa tornar possível uma retomada da identidade, visibilidade, credibilidade da nossa vida e da nossa missão.
Em relação ao trabalho da Comissão Jurídica, foram examinadas todas as propostas vindas dos Capítulos Inspetoriais, de cada irmão, do Conselho Geral, dos Capitulares. Tudo em vista de uma apresentação clara à Assembléia que, depois, haveria de exprimir o próprio parecer. Ao ler a história da Congregação, percebemos o peso que vários Capítulos Gerais tiveram na configuração das estruturas de animação e de governo nos diversos níveis (local, inspetorial e mundial). Foram necessários certamente vários Capítulos Gerais para se chegar a algumas mudanças nas estruturas; não devido à lentidão ou falta de coragem de introduzir modificações significativas, mas, sobretudo porque nem sempre se podia ter uma visão completa do que entrava em jogo com essas opções. O retorno à reflexão, também neste Capítulo Geral, sobre alguns aspectos da configuração atual do Conselho Geral significa que é preciso um estudo sério, com soluções alternativas, que apresente uma proposta realmente inovadora e válida em sua integridade. Disso tudo nasceu a primeira orientação aprovada pela Assembléia Capitular: fazer ao longo do sexênio, uma revisão do Governo central da Congregação (composição e funcionamento), de tal modo que o seu serviço seja mais eficaz e próximo dos irmãos.
O Capítulo produziu um documento, com cinco fichas de trabalho, interdependentes entre si, sobre os grandes temas já indicados na carta de convocação: "Retorno a Dom Bosco para partir dele"; "Urgência de evangelizar"; "Necessidade de convocar", "Pobreza evangélica" e "Novas fronteiras". As fichas de trabalho quiseram dar consistência ao lema Da mihi animas, cetera tolle, com a aplicação do esquema já conhecido do CG25 (Chamado de Deus, Situação, Linhas de ação) e enriquecido com alguns critérios de revisão, que acrescentam os horizontes a alcançar: mentalidade a amadurecer e estruturas a mudar.
Acredito que o documento final é realmente bom e construtivo, pois leva em conta a variedade de contextos e situações em que a Congregação vive a encarnar o carisma de Dom Bosco. Cabe agora a cada Região e Inspetoria o trabalho de contextualizar as grandes linhas de ação, com as intervenções decorrentes, a fim de torná-las mais correspondentes às situações e aos desafios concretos.
Estou certo de que todos os Irmãos encontrarão páginas estimuladoras que ajudem a dinamizar a própria vida e qualificar a missão salesiana. O conjunto, talvez, possa parecer não tão radical, mas estou convencido de que, se levado a sério, suscitará entusiasmo e, sobretudo, permitirá a todos renovar-se espiritualmente e recuperar a ousadia apostólica.
O documento pressupõe um bom conhecimento da realidade social e também da Congregação e exprime o desejo de realizar a sua transformação. Isso nos foi recordado pelo Santo Padre no Discurso ao CG26, em 31 de março: "O vosso XXVI Capítulo Geral situa-se num período de grandes transformações sociais, econômicas, políticas; de acentuados problemas éticos, culturais e ambientais; de conflitos ainda sem solução entre etnias e nações. Por outro lado, há em nosso tempo, comunicações mais intensas entre os povos, possibilidades novas de conhecimento e de diálogo, um confronto mais vivo sobre os valores espirituais que dão sentido à existência. Em particular, os apelos que os jovens nos fazem, sobretudo os seus questionamentos sobre os problemas fundamentais, fazem referência aos intensos desejos sentidos por eles de vida plena, de amor autêntico, de liberdade construtiva. São situações que interpelam profundamente a Igreja e a sua capacidade de anunciar hoje o Evangelho de Cristo com toda a sua carga de esperança".[ L’Osservatore Romano. Lunedì-martedì 31 marzo-1 aprile 2008, pag. 8]
De fato, não se pode falar de evangelização ou vocação, de simplicidade de vida e novas fronteiras sem ter em mente o cenário no qual trabalhamos e vivemos e os desafios que a vida salesiana e a missão estão a encontrar.
Tivemos em mente os rostos e as urgências dos jovens mais carentes, destinatários da nossa missão. Escolhemo-los como "prediletos" por nós, justamente porque a predileção pelos pobres "é implícita à fé cristológica naquele Deus que se fez pobre por nós, para enriquecer-nos com a sua pobreza".[Bento XVI, Discurso de Inauguração da Vª Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe, n. 3. Aparecida – Brasil. 13 de maio de 2007.] Essa fé foi assumida por Dom Bosco e passada à tradição salesiana (cf. C 11).
Quais são, portanto, as chaves de leitura do documento?
Vem-me à mente a história, segundo as narrações dos Padres do deserto, daquele monge "bom e conformista", que vai ter com o seu Abade para pedir um conselho a fim de melhorar a própria vida:
Aconteceu certa vez – conta-se – que Abbà Lot foi encontrar Abbà José, e lhe disse:
Abbà, sigo o quanto posso uma pequena regra, pratico todos os pequenos jejuns, faço um pouco de oração e meditação, mantenho-me sereno e, naquilo que me é possível, conservo puros os meus pensamentos. O que mais devo fazer?
Então, o velho monge pôs-se em pé, elevou as mãos ao céu e seus dedos converteram-se em dez tochas de fogo. E disse:
Por que não te transformas em fogo? [Citado por José María Arnaiz, ¡Que ardan nuestros corazones! Devolver el encanto a la vida consagrada. Publicaciones Claretianas. Madri, 2007, p. 34]
Eis o objetivo a alcançar com este Capítulo: transformar-nos em fogo! A história remete-nos diretamente à eloqüente e expressiva cena de Pentecostes: "Apareceram-lhes como que línguas de fogo que se dividiam e pousaram sobre eles; e eles ficaram todos cheios de Espírito Santo" (At 2,3-4a). "Aquecer o coração" não significa outra coisa que transformar-se em fogo, ter os pulmões cheios de Espírito Santo.
Tudo isso está em sintonia com aquele que foi o lema do Congresso sobre a Vida Consagrada (novembro de 2004), no qual quisemos interpretar e viver a nossa vida religiosa a partir de uma grande paixão por Cristo e uma grande paixão pela Humanidade. À luz destas duas grandes paixões, as principais prioridades são:
A espiritualidade, que comporta um esforço todo particular para que a Palavra de Deus e a Eucaristia sejam verdadeiramente o centro da vida do consagrado e da sua comunidade. Estamos convencidos de que a pessoa consagrada deve ser sinal e memória viva da dimensão transcendente que existe no coração de cada ser humano.
A comunidade. Estamos cientes de que o testemunho da comunhão, aberta a todos os que dela precisam, é fundamental em nosso mundo e torna-se não só sustento para a fidelidade dos religiosos, como também testemunho de uma forma alternativa de vida ao modelo imperante, que nos faz refluir com freqüência a formas de individualismo.
A missão a realizar e viver, sobretudo nas fronteiras missionárias como a exclusão, a pobreza, a secularização, a reflexão, a formação e a educação em todos os níveis.
Parecem-nos estes os "lugares" nos quais os consagrados devem estar presentes para exprimir a dimensão missionária da Igreja. A missão, porém, compreende também a "paixão" – entendida como sofrimento ou enfermidade – de tantos que continuam a rezar pela Igreja e pelos operários da messe, e a "paixão" como martírio de tantos religiosos encarcerados ou trucidados por causa do Reino. Eles representam a melhor expressão do Evangelho.
Se quisermos sentir arder o nosso coração e inflamar de paixão o dos irmãos, precisamos percorrer a mesma estrada dos discípulos de Emaús. "Trata-se – dizia na homilia do dia seguinte à minha reeleição – mais do que de uma estrada material, de um percurso mistagógico, de um autêntico itinerário espiritual, válido hoje, antes de tudo, porque evidencia aquela que é a nossa situação: pessoas desencantadas, que têm um conhecimento de Jesus sem, porém, uma verdadeira experiência de fé; conhecem as Escrituras, mas não encontraram a Palavra. Por isso, abandona-se Jerusalém e a comunidade apostólica e retorna-se ao que se vivia anteriormente. A estrada de Emaús é um caminho que nos leva da Escritura à Palavra, da Palavra à Pessoa de Cristo na Eucaristia, e dela nos leva de volta à comunidade, para ali permanecer. Ali, ao encontrar os irmãos, podemos ver confirmada a nossa fé: De fato, o Senhor ressuscitou e apareceu a Simão!"
Durante o Capítulo, um dos núcleos e ao mesmo tempo também um tema transversal, foi precisamente a urgência de evangelizar. O Apóstolo Paulo exprimia-o com uma espécie de imperativo existencial: "Ai de mim se eu não anunciar o Evangelho!" (1Cor 9,16b). Este intenso sentido missionário encarna perfeitamente a ordem dada por Jesus aos seus discípulos: Sejam minhas "testemunhas até os extremos limites da terra" (At 1,8). Dom Bosco fez seu esse apelo premente de Jesus e, logo depois da aprovação das Constituição (1874), em 11 de novembro de 1875, enviou a primeira expedição missionária à América Latina.
O CG26 convida-nos a estar em sintonia com aquela que foi a inspiração originária de Dom Bosco, a dimensão missionária da sua vida, mas também do seu carisma. Tudo isso representa um ponto fundamental do testamento espiritual que ele nos deixou. O Capítulo há pouco concluído dá-nos a oportunidade de entender melhor qual a resposta que hoje somos chamados a dar. A urgência da missionariedade é particularmente viva hoje porque, em primeiro lugar o mundo todo voltou a ser "terra de missão"; em segundo lugar porque há, hoje, uma maneira diversa de conceber a missionariedade, de realizar a missio ad gentes. Ela, de fato, é atuada no respeito aos variados ambientes culturais, em diálogo com as demais confissões cristãs e as diversas religiões, e empenha-nos na promoção humana e na fermentação da cultura (cf. EN 19).
Mas, de onde brotava a missionariedade de Dom Bosco? Quais as razões do seu imenso zelo missionário?
Segundo meu modo de ver há três grandes elementos, que devem ser pontos referenciais para todos nós.
O primeiro é ser obediente à ordem do Senhor Jesus, que no momento da Ascensão, antes de deixar este mundo para subir ao Pai, disse-nos: "sereis minhas testemunhas até os extremos limites da terra" (At 1,8). Deu-nos assim o mundo todo como campo de evangelização, e isso até o fim da história. Para nós Salesianos, como em geral para todos os crentes, a primeira razão de ser evangelizador é, portanto, a obediência ao mandato do Senhor Jesus.
O segundo elemento da dimensão missionária de Dom Bosco é a convicção do valor fermentador e da função transformadora próprios do Evangelho, a sua capacidade de fermentar todas as culturas. Paulo VI escreveu na carta magna da evangelização, a Exortação Apostólica Evangelii nuntiandi de 1975, que o Evangelho pode ser inculturado em todas as culturas, ou seja, pode ser expresso de maneiras diversas segundo as culturas, sem identificar-se com nenhuma delas. Nem mesmo com a cultura judaica em que Jesus nasceu no sentido que nenhuma cultura concorda plenamente com a novidade do Evangelho. Por isso, todas as culturas são chamadas a deixar-se purificar e elevar. Não há evangelização autêntica sem tocar a alma da cultura, aquele conjunto de valores aos quais os centros de decisão da pessoa fazem referência. Qualquer cultura é importante porque representa o espaço no qual as pessoas nascem, crescem, desenvolvem-se, aprendem a relacionar-se, a enfrentar a vida, mas deve-se reconhecer também que toda cultura tem seus limites e precisa da luz do Evangelho. Hoje, pois, quando falamos da urgência de evangelizar, não estamos a pensar apenas na Oceania, Ásia, África, América Latina, mas também na Europa, que, mais do que nunca, precisa do Evangelho e do carisma salesiano.
O terceiro elemento, muito específico do carisma de Dom Bosco, é a sua predileção pelos jovens, ciente de que nas políticas dos governos e no tecido social dos povos, malgrado todas as declarações, eles não contam e parecem ter que se resignar a serem apenas consumidores de produtos, experiências e sensações. Isso, porém, não corresponde ao Evangelho, à praxe e à lógica de Jesus que, ao lhe perguntarem: "Quem é o mais importante?", chamou uma criança que estava por perto e colocou-a no centro. Pôr os jovens no centro da nossa atenção missionária! Esse é um dos elementos mais específicos do rico patrimônio espiritual que Dom Bosco nos deixou. E a tarefa que nos é confiada é levá-lo a todas as culturas aonde nós vamos e trabalhamos e, aonde, com freqüência, os jovens não contam. A grandeza de Dom Bosco foi justamente esta: ter feito dos jovens protagonistas, não só da própria educação, como também da sua experiência pedagógica e espiritual. Dom Bosco, ao inaugurar caminhos novos como sacerdote, acreditou nos jovens e gastou-se inteiramente com o seu gênio apostólico, para garantir-lhes oportunidades de desenvolver todas as suas dimensões e energias de bem, fazer valer os seus direitos, torná-los responsáveis (sobretudo os melhores) da continuação da sua obra na história.
No Capítulo, depois da insistência sobre a urgência de evangelizar, recordamos que nós Salesianos realizamos essa missão segundo o carisma pedagógico que nos é próprio. "A pastoral de Dom Bosco jamais se reduz apenas à catequese ou tão somente à liturgia, mas abraça todos os concretos empenhos pedagógico-culturais da condição juvenil. (…) Trata-se da caridade evangélica que se concretiza (…) na libertação e na promoção do jovem abandonado e desviado".[Cf. ACS 290, 4.2 ]
Se não é salesiana a educação que não abre o jovem a Deus e ao destino eterno do homem, não o é também a evangelização que não mira à formação de pessoas maduras em todos os sentidos e que não sabe adaptar-se à condição evolutiva do menino, do adolescente, do jovem, ou não a respeita.
É verdade que em alguns contextos secularizados a Igreja encontra dificuldades particulares de evangelizar as novas gerações. Embora, evidentemente, as sondagens e estatísticas não sejam a última palavra e devam-se considerar diversas tipologias de vivência religiosa, que compreendem também formas de intensa espiritualidade, não se pode negar que em vários países também existem sinais de uma progressiva cristianização. Nota-se que tanto a prática religiosa quanto as convicções profundas são mais frágeis entre os jovens. "Trata-se do estrato da população mais sensível às modas culturais e, certamente, mais atingido pela secularização ambiental".[Lluis Oviedo Torrò, “La religiosidad de los jóvenes”, Razón y Fe, junho de 2004, p. 447 ] Parece existir um divórcio entre as novas gerações de jovens e a Igreja. A ignorância religiosa e os preconceitos assumidos acriticamente todos os dias por certos meios de comunicação alimentaram neles a imagem de uma Igreja instituição conservadora, que vai contra a cultura moderna, sobretudo no campo da moral sexual. Torna-se normal, por isso, para muitos deles, desvalorizar ou relativizar todas as ofertas religiosas que lhes são propostas.
Outro drama particularmente grave é a ruptura criada na cadeia de transmissão da fé de uma geração a outra. Os espaços naturais e tradicionais (família, escola, paróquia) revelam-se ineficazes para a transmissão da fé. Cresce, então, a ignorância religiosa nas novas gerações e assim continua entre os jovens a "emigração silenciosa extramuros da Igreja". "As crenças religiosas tingem-se de pluralismo e seguem sempre menos o cânon eclesial; rebaixam-se lentamente, então, os níveis da prática religiosa: sacramentos e oração".[Lluis Oviedo Torrò, o.c., p. 449. ]
Não é fácil definir a imagem que os jovens têm de Deus, mas certamente o Deus cristão perdeu a centralidade diante de um Deus midiático que leva à divinização das figuras do mundo do esporte, da música, do cinema. O jovem sente paixão pela liberdade e não se detém diante da porta das igrejas. São muitos os jovens que pensam ser a Igreja um obstáculo à sua liberdade pessoal.
Face a essa situação podemos perguntar-nos: qual é a educação oferecida pelas instituições escolares e eclesiais? Por que a questão religiosa foi cancelada do horizonte vital dos jovens? O menino, o adolescente, o jovem são generosos por natureza e entusiasmam-se pelas causas que valham realmente à pena. Por que, então, Cristo deixou de ser significativo para eles?
Se a Igreja quiser permanecer fiel à sua missão de sacramento universal de salvação, deve aprender as linguagens dos homens e das mulheres de cada tempo, etnia e lugar. E nós Salesianos, de modo particular, devemos aprender e utilizar a linguagem dos jovens. Não há dúvida de que na Igreja de hoje, mas também no interior das nossas instituições, existe um "sério problema de linguagem". Trata-se, no fundo, de um problema de comunicação, de inculturação do Evangelho nas realidades sociais e culturais; um problema de educação à fé para as novas gerações. Eis, portanto, o desafio e a tarefa para nós hoje: ser educadores capazes de nos comunicarmos com os jovens e transmitir-lhes o grande tesouro da fé em Jesus Cristo.
A educação salesiana, na transmissão da fé e dos valores, parte sempre da situação concreta de cada pessoa, da sua experiência humana e religiosa, das suas angústias e ansiedades, das suas alegrias e esperanças, privilegiando sempre mais a experiência e o testemunho. Cuida da pedagogia da iniciação cristã, de tal modo que Cristo seja aceito mais como amigo que nos salva e nos faz filhos de Deus, do que como legislador que nos sobrecarrega de dogmas, preceitos ou ritos. Evidenciam-se os aspectos positivos e festivos de toda experiência religiosa, fiéis a Dom Bosco no sonho dos nove anos: "Põe-te imediatamente a instruí-los sobre a fealdade do pecado e a preciosidade da virtude".[J. Bosco, Memórias do Oratório, aos cuidados de Ferreira A., Editora Salesiana, São Paulo 2005, pag. 29]
"Evangelizar educando" quer dizer para nós saber propor a melhor das notícias (a pessoa de Jesus) adaptando-nos à condição evolutiva do menino, do adolescente, do jovem, e respeitando-a. O jovem busca a felicidade, a alegria da vida e, sendo generoso, é capaz de sacrificar-se para alcançá-las, se realmente lhe mostrarmos um caminho convincente e se nos oferecermos como companheiros competentes de viagem. Os jovens estavam convencidos de que Dom Bosco os amava, queria a felicidade deles aqui na terra e na eternidade. Por isso, aceitavam o caminho que ele lhes propunha: a amizade com Jesus Caminho, Verdade e Vida.
Dom Bosco ensina-nos a ser ao mesmo tempo educadores e evangelizadores ("graça de unidade"). Como evangelizadores conhecemos e buscamos a meta: levar os jovens a Cristo. Como educadores precisamos saber partir da situação concreta do jovem e conseguir encontrar o método adequado de acompanhá-los em seu processo de amadurecimento. Se como pastores seria uma vergonha renunciar à meta, como educadores seria uma falência não conseguir encontrar o método adequado a fim de motivá-los para iniciarem o caminho e acompanhá-los com credibilidade.
Conscientes que a missão é a razão do nosso ser salesianos e que as carências e expectativas dos jovens determinam nossas obras, um dos temas mais debatidos no Capítulo Geral foi justamente o das "novas fronteiras", lá onde os jovens nos esperam. São fronteiras não só geográficas, mas econômicas, sociais, culturais e religiosas. Aqui devemos agir com o critério que orientou as opções de Dom Bosco, ou seja, "dar mais a quem teve de menos".
Fico feliz porque, há anos, está crescendo na Congregação a sensibilidade e a preocupação, a reflexão e o trabalho pelo mundo da marginalização e da insatisfação dos jovens. Essa realidade já não representa um setor particular, identificado com alguma obra especial ou animado apenas por algum irmão particularmente motivado. A atenção aos últimos, aos mais pobres, aos mais insatisfeitos vai-se tornando uma "sensibilidade institucional" que envolve, aos poucos, muitas obras das Inspetorias. Multiplicaram-se as plataformas sociais, deu-se lugar ao trabalho em rede e trabalha-se em sinergia com outras agências que atuam no mesmo campo. É como se tivesse começado a "sair para fora dos muros", a girar pela cidade e escutar o clamor e o pedido de ajuda dos jovens. Tudo isso, para nós, significa renovar a predileção pelos mais pobres, pelos mais abandonados e por aqueles que estão em situação de risco psicossocial: jovens arruinados, maltratados, vítimas de abusos e opressões. Com o mesmo coração de Dom Bosco, sentimos o dever de encontrar novas formas de oposição ao mal que angustia tantos jovens. Sentimos também o dever de inverter a tendência cultural e social, sobretudo através daquilo que é a nossa riqueza específica: sermos portadores de um sistema educativo capaz de mudar o coração dos jovens e transformar a sociedade. Não podemos dar como caridade aquilo que lhes cabe por justiça. Neste ano, em que se celebra o 60º aniversário da Declaração dos Direitos Humanos, devemos dar um passo adiante e organizar todo o nosso projeto educativo na órbita dos direitos dos menores, como eu indicava na Estréia 2008.
Recordando a experiência de Dom Bosco
Estando ao que o próprio Dom Bosco escreveu nas "Memórias do Oratório", a experiência que o perturbou e solicitou a uma nova maneira de ser padre foi o seu contato com os jovens da prisão de Turim. Ele o narra com estas palavras: "Ver turmas de jovens, de 12 a 18 anos, todos eles sãos, robustos, e de vivo engenho, mas sem nada fazer, picados pelos insetos, à míngua de pão espiritual e temporal, foi algo que me horrorizou".[G. Bosco, Memórias do Oratório, aos cuidados de Ferreira A., Editora Salesiana, São Paulo 2005, p. 104]
Eis o primeiro elemento a registrar: Dom Bosco viu, escutou, soube perceber a realidade social, ler o seu significado e tirar as conseqüências. Dessa experiência nasceu em Dom Bosco uma imensa compaixão por aqueles garotos. No contato com eles, sentiu a urgência de oferecer-lhes um ambiente de acolhida e uma proposta educativa segundo suas necessidades: "Nessas ocasiões descobri que muitos voltavam àquele lugar porque abandonados a si próprios. Quem sabe – dizia de mim para mim –, se tivesse lá fora um amigo que tomasse conta deles, os assistisse e instruísse na religião nos dias festivos, quem sabe não se poderiam manter afastados da ruína ou pelo menos não diminuiria o número dos que retornam ao cárcere? Comuniquei esse pensamento ao padre Cafasso, e com o seu conselho e com suas luzes pus-me a estudar a maneira de levá-lo a efeito".[Ibidem]
O segundo elemento a reconhecer na experiência do nosso Pai Dom Bosco é a fantasia pastoral, que o levou a criar com imaginação e generosidade respostas adequadas aos novos desafios. Tudo isso implicava assumir a responsabilidade pessoalmente e criar estruturas que pudessem tornar possível um mundo melhor e alternativo para aqueles meninos.
É assim que Dom Bosco pensa antes de tudo em prevenir as experiências negativas, acolhendo os jovens que chegam à cidade de Turim em busca de trabalho, os órfãos ou aqueles dos quais os pais não podem ou não querem cuidar, aqueles que vagam pela cidade sem um ponto de referência afetiva e a possibilidade material de uma vida digna. Oferece-lhes uma proposta educativa, centrada na preparação para o trabalho, que os ajude a recuperar a confiança em si mesmos e o sentido da própria dignidade. Oferece um ambiente positivo de alegria e amizade, no qual assumam os valores morais e religiosos como por contágio. Oferece uma proposta religiosa simples, adequada à idade deles e, sobretudo, alimentada num clima positivo de alegria e orientada pelo grande ideal da santidade.
Consciente da importância da educação da juventude e do povo para a transformação da sociedade, Dom Bosco faz-se promotor de novos projetos sociais de prevenção e assistência. Baste pensar na relação com o mundo do trabalho, nos contratos com os patrões, no tempo livre, na promoção da instrução e cultura popular. Embora Dom Bosco não tenha falado explicitamente de direitos dos menores – não estava na cultura do tempo – ele agiu para dar-lhes dignidade e inseri-los na sociedade em condições tais que pudessem enfrentar a vida com sucesso (empowerment).
Enfim, o terceiro elemento, muito significativo no meu modo de ver, que caracterizou a experiência de Dom Bosco. Ele percebeu que não era suficiente aliviar a situação de insatisfação e abandono em que os seus jovens viviam (ação paliativa). Sentiu-se levado, sempre mais claramente, a fazer uma mudança cultural (ação transformadora), através de um ambiente e de uma proposta educativa que pudessem envolver muitas pessoas identificadas com ele e com a sua missão. Tudo isso representou não só o início de uma instituição (o Oratório de Valdocco), como também o primeiro desenvolvimento daquela intuição particular que levou Dom Bosco a dar início a um vasto movimento para a salvação da juventude: a Família Salesiana (cf. C 5). As carências eram muitas. Procurou então, antes de tudo, a colaboração de sua mãe, depois a de alguns sacerdotes diocesanos. Com seus melhores jovens deu início à Sociedade de São Francisco de Sales, depois fundou o Instituto das Filhas de Maria Auxiliadora e pôs em ação a Associação dos Cooperadores. Sua mente era um contínuo "sonho pelo bem dos jovens". O seu coração era uma contínua "expressão do amor de Deus pelos jovens".
Nós, como Salesianos, continuamos a cultivar no coração esta paixão pelos mais pobres, os abandonados, os últimos. Quanto mais conheço a Congregação, expandida aos cinco continentes, mais reconheço que como Salesianos procuramos ser fiéis a esse critério fundamental de estar próximos dos mais carentes e ser solidários com eles, tomando a peito aquelas realidades juvenis que a sociedade não quer ver: meninos de rua, adolescentes-soldado, trabalho infantil, jovens desfrutados pelo maldito turismo sexual, dispersos pela guerra, imigrantes, vítimas do álcool e da droga, doentes de HIV/AIDS, jovens sem sentido religioso… Como dizia acima, constatamos que essa sensibilidade cresceu hoje entre nós e, graças a Deus, continua a crescer. Hoje, o trabalho dos pioneiros foi assumido pela Instituição e, sobretudo, vai-se adquirindo uma mentalidade que nos permite estar em todos os lugares com essa chave de leitura, ao fazer a opção em favor dos mais excluídos e marginalizados. É uma graça ouvir que está a crescer na Congregação esta mentalidade: "dar mais a quem teve de menos".
Enquanto nos países em vias de desenvolvimento predominam rostos de jovens marcados pela pobreza material, nos países desenvolvidos a marca que os caracteriza é a perda do sentido da vida, a capitulação ao consumismo, ao hedonismo, ao indiferentismo, à dependência das drogas. As respostas devem ser necessariamente diferenciadas.
À luz destas grandes dimensões que podem e devem mudar a nossa vida e atividade apostólica torna-se mais evidente e imperiosa a necessidade de conversão à essencialidade, à vida pobre, austera e simples, que seja expressão do desapego total de tudo que nos possa impedir de nos entregarmos até o fim àqueles que o Senhor nos confiou.
As dimensões mencionadas acima tiveram sua primeira tradução nas várias fichas do documento. Com efeito, as grandes opções do CG26 em vista do renascimento espiritual e da ousadia apostólica foram expressas nas "Linhas de ação" de cada tema. Elas nos dão algumas orientações a assumir, a fazer passar do papel à vida. Elas não podem, realmente, ser simples declarações de intenção, mas um verdadeiro programa de vida, de animação e governo, de proposta educativo-pastoral.
Para o tema "Partir de Dom Bosco", deliberamos:
Retornar a Dom Bosco
Linha de ação 1
Esforçar-se por amar, estudar, imitar, invocar e tornar Dom Bosco conhecido, para partir dele.
Retornar aos jovens
Linha de ação 2
Retornar aos jovens, especialmente os mais pobres, com o coração de Dom Bosco.
Identidade carismática e paixão apostólica
Linha de ação 3
Redescobrir o significado do Da mihi animas cetera tolle como programa de vida espiritual e pastoral.
Para o tema "Urgência de evangelização", deliberamos:
Comunidade evangelizada e evangelizadora
Linha de ação 4
Colocar o encontro com Cristo na Palavra e na Eucaristia como centro de nossas comunidades, para sermos discípulos autênticos e apóstolos críveis.
Centralidade da proposta de Jesus Cristo
Linha de ação 5
Propor aos jovens, com alegria e coragem, a vivência da existência humana como ela foi vivida por Jesus Cristo.
Educação e evangelização
Linha de ação 6
Cuidar, em todos os ambientes, da integração mais eficaz entre educação e evangelização, na lógica do Sistema Preventivo.
Evangelização nos diversos contextos
Linha de ação 7
Inculturar o processo de evangelização para responder aos desafios dos contextos regionais.
Para o tema "Necessidade de convocar", deliberamos:
Testemunho como primeira proposta vocacional
Linha de ação 8
Testemunhar com coragem e alegria o fascínio de uma vida consagrada entregue totalmente a Deus na missão juvenil.
Vocações ao empenho apostólico
Linha de ação 9
Suscitar nos jovens o empenho apostólico pelo Reino de Deus com a paixão do _da mihi animas cetera tolle e favorecer a sua formação._
Acompanhamento dos candidatos à vocação consagrada salesiana
Linha de ação 10
Fazer a proposta explícita da vida consagrada salesiana e promover novas formas de acompanhamento vocacional e de aspirantado.
As duas formas da vocação consagrada salesiana
Linha de ação 11
Promover a complementaridade e a especificidade das duas formas da única vocação salesiana e assumir um empenho renovado pela vocação do salesiano coadjutor.
Para o tema "Pobreza evangélica", deliberamos:
Testemunho pessoal e comunitário
Linha de ação 12
Dar testemunho crível e corajoso de pobreza evangélica, vivida pessoal e comunitariamente no espírito do da mihi animas, cetera tolle.
Linha de ação 13
Solidariedade com os pobres
Desenvolver a cultura da solidariedade com os pobres no contexto local.
Linha de ação 14
Gestão responsável e solidária dos recursos
Gerir os recursos de modo responsável, transparente, coerente com os fins da missão, ativando as necessárias formas de controle em nível local, inspetorial e mundial.
Para o tema "Novas fronteiras", deliberamos:
Principal prioridade: os jovens pobres
Linha de ação (cf. linha de ação 13)
Fazer opções corajosas em favor dos jovens pobres e em situação de risco.
Outras prioridades: família, comunicação social, Europa
Linha de ação 16
Assumir uma atenção privilegiada pela família na pastoral juvenil; potenciar a presença educativa no mundo das mídias; relançar o carisma salesiano na Europa.
Novos modelos na gestão das obras
Linha de ação 17
Rever o modelo de gestão das obras para uma presença educativa e evangelizadora mais eficaz.
A referência às linhas de ação do CG26 neste discurso conclusivo tem a finalidade de reforçar a importância da sua acolhida e "inculturação" pelas Regiões e Inspetorias. Elas serão a "mensagem concreta" do CG26, que deverá ser estudada e traduzida em nível pastoral nos diversos contextos, individualizando também critérios de verificação e elementos de avaliação.
Detenho-me sobre o "Projeto Europa".
Hoje, mais do que nunca, percebemos que deve ser repensada a nossa presença na Europa. O objetivo – como já dizia no discurso ao Santo Padre por ocasião da Audiência concedida aos membros do CG26 – "visa redesenhar a presença salesiana com maior incisividade e eficácia neste continente. Ou seja, buscar uma nova proposta de evangelização para responder às necessidades espirituais e morais desses jovens, que se nos apresentam um pouco como peregrinos sem guias e sem meta".
Trata-se, então, de rejuvenescer com pessoal salesiano as Inspetorias mais carentes para tornar mais significativo e fecundo o carisma salesiano na Europa de hoje. Entendo esclarecer, portanto, que:
O projeto exigirá, obviamente, uma mudança estrutural nas comunidades do Velho Continente. "Vinho novo em odres novos". Não, portanto, uma simples obra de "manutenção de estruturas", mas um projeto novo para exprimir uma presença nova, ao lado dos jovens de hoje. Caminhamos com o coração de Dom Bosco, ricos da sua paixão por Deus e pelos jovens, colaborando na construção social de uma Nova Europa, para que tenha realmente "uma alma", reencontre suas robustas raízes espirituais e culturais e dê, em nível social, espaço e paridade de oportunidades a propostas de educação e cultura, sem discriminações ou opções de exclusão social. Entre as prioridades assinalo as mais importantes:
Tudo isso deveria ajudar os Salesianos que trabalham neste contexto a alcançar uma mentalidade sempre mais européia, avigorar a sinergia entre as Inspetorias nos diversos setores e reforçar a colaboração em nível Regional.
O que Dom Bosco faria hoje? Não o sabemos! Mas sabemos o que fez ontem e, portanto, podemos saber o que fazer hoje para agir como ele. É uma questão de conhecimento e imitação.
Confirmamos neste Capítulo que é absolutamente indispensável contemplar a Dom Bosco, amá-lo, conhecê-lo e imitá-lo, para descobrir as suas motivações mais profundas e estimulantes, aquelas nas quais buscava a energia que o fazia trabalhar incansavelmente pelos jovens; as suas convicções mais sólidas e pessoais, que o levavam a não voltar atrás; que, antes, o tornavam fascinante e convincente; os seus objetivos definidos e claros, que o faziam ir adiante com uma só causa pela qual viver: ver os jovens felizes aqui e na eternidade.
Dom Bosco sentiu o drama de um povo que se afastava da fé e, sobretudo, sentiu o drama da juventude, predileta de Jesus, abandonada e traída em seus ideais e em suas aspirações pelos homens da política, da economia, quiçá até mesmo da Igreja. Pergunto-me se não será esta situação, por tantos versos, semelhante àquela que identificamos em nosso Capítulo Geral.
Pois bem, diante dessa situação Dom Bosco reagiu energicamente, encontrando formas novas de opor-se ao mal. Resistiu às forças negativas da sociedade ao denunciar a ambigüidade e a periculosidade da situação, ao "contestar" – a seu modo, entende-se – os grandes poderes do seu tempo. Eis o que significa ter uma mente e um coração pastorais.
Sintonizado nessas carências, ele procurou dar uma resposta, com as possibilidades que lhe eram oferecidas pelas condições histórico-culturais e pelas conjunturas econômicas do momento histórico, e isso apesar de oposições parciais do mundo eclesiástico, de autoridades e fiéis. Fundou, então, oratórios, escolas de vários tipos, oficinas para aprendizes, jornais e revistas, tipografias e editoras, associações juvenis religiosas, culturais, recreativas, sociais; construiu igrejas, promoveu missões ad gentes, atividades de assistência aos imigrantes; fundou duas congregações religiosas e uma associação laical que continuaram a sua obra.
Obteve sucesso, graças também, aos elevados dotes de comunicador nato, apesar da falta de recursos econômicos (sempre inadequados às suas realizações); da sua modesta bagagem cultural e intelectual (num momento em que havia necessidade de respostas de perfil elevado); do fato de ser filho de uma teologia e de uma concepção social com fortíssimos limites (e, portanto, inadequada para responder à secularização e às profundas revoluções sociais em ato). Impelido sempre por uma intrepidez superior de fé, em circunstâncias difíceis, pediu e obteve ajuda de todos, católicos e anticlericais, ricos e pobres, homens e mulheres do dinheiro e do poder, e expoentes da nobreza, da burguesia, do baixo e alto clero.
Entretanto, a importância histórica de Dom Bosco, antes que nas muitíssimas "obras" e em certos elementos metodológicos relativamente originais – o famoso "Sistema Preventivo de Dom Bosco" – deve ser descoberta
Nem político, nem sociólogo, nem sindicalista "ante litteram", simplesmente padre-educador, Dom Bosco partiu da idéia de que a educação podia fazer muito, em qualquer situação, se realizada com o máximo de boa vontade, trabalho e capacidade de adaptação. Trabalhou para mudar as consciências, para formá-las à honestidade humana, à lealdade cívica e política e, nessa perspectiva, procurou "mudar" a sociedade, através da educação.
Transformou os fortes valores nos quais acreditava – e que defendeu contra todos – em fatos sociais, em gestos concretos, sem dobrar-se ao espiritual e ao eclesiástico entendido como espaço ou experiência desinteressados dos problemas do mundo e da vida. Antes, forte da sua vocação de sacerdote educador, cultivou um trabalho cotidiano que não era ausência de horizontes, mas dimensão encarnada do valor e do ideal; não era concha de proteção e recusa do confronto aberto, mas sincero medir-se com uma realidade muito ampla e diversificada; não era um mundo restrito a algumas poucas carências a satisfazer e lugar de repetição, quase mecânica, de atitudes tradicionais; não era recusa de alguma tensão, do sacrifício exigente, do risco, da luta. Manteve para si e para os salesianos a liberdade e a altivez da autonomia. E não quis nem sequer ligar a sorte da sua obra à imprevisível alternância dos regimes políticos.
O conhecido teólogo francês Marie-Dominique Chenu, O.P., ao responder nos anos oitenta do século passado à pergunta de um jornalista que lhe pedia a indicação de nomes de alguns santos portadores de uma mensagem de atualidade para os novos tempos, afirmou sem hesitar: "Agrada-me recordar, antes de tudo, aquele que antecedeu o Concílio de um século: Dom Bosco. Ele já é, profeticamente, um homem modelo de santidade pela sua obra, que é ruptura com o modo de pensar e crer de seus contemporâneos". Foi modelo para muitos; não poucos imitaram seus exemplos e se tornaram, por sua vez, o "Dom Bosco de Bérgamo, de Bolonha, de Messina e assim por diante".
Obviamente cada um pode encontrar o "segredo" do seu "sucesso" numa das diversas facetas da sua complexa personalidade: empreendedor capacitadíssimo de obras educativas, organizador clarividente de empreendimentos nacionais e internacionais, educador finíssimo, grande mestre, etc. Este o modelo que temos e somos chamados a reproduzir o mais fielmente possível!
Queridos irmãos, vivemos o CG26 na estação litúrgica da Quaresma e do tempo da Páscoa. O Senhor convidou-nos assim a acolher a indicação da necessidade que temos de fazer experiência pascal, se quisermos chegar ao tão desejado renascimento espiritual e à renovação da nossa ousadia apostólica. Não há vida sem morte. Não há a mística do Da mihi animas sem a ascética do cetera tolle.
Gostaria de concluir referindo-me, também, a uma experiência particular de Dom Bosco. No verão de 1846 ele adoece e vê-se em perigo de morte. Supera a doença após algumas semanas e, convalescente, só pode retornar ao Oratório apoiando-se num bastão. Os jovens ao percebê-lo obrigam-no a sentar-se numa poltrona, levantam-no e levam-no em triunfo até o pátio. Na capela, depois das orações de agradecimento, Dom Bosco profere as palavras mais solenes e custosas da sua existência: "Queridos filhos, devo a vós a minha vida. Ficai certos disto, porém: de agora em diante eu a gastarei toda por vós".[Cf. MB II, 497-498] Dom Bosco, inspirado pelo Espírito Santo, emitiu, em certo sentido, um voto inédito: o voto de amor apostólico, de entrega da própria vida pelos jovens, que observou em cada instante da sua existência. Eis o que significa o Da mihi animas, cetera tolle, que foi lema inspirador do nosso Capítulo Geral. Eis o programa de futuro para o renascimento espiritual e para a audácia apostólica com que queremos chegar à celebração do bicentenário do seu nascimento.
Faço votos para que nós e, conosco, todas as pessoas identificadas com os valores da Espiritualidade e do Sistema Educativo Salesiano, possamos amar os jovens e trabalhar como Dom Bosco na realização da missão salesiana. Espero que os jovens possam encontrar em cada um de nós (como os meninos do Oratório encontraram no Dom Bosco de Valdocco) pessoas disponíveis a caminhar com eles, a construir com eles e para eles uma presença educativa fascinante e significativa, capaz de proposta e de envolvimento, propositiva a ponto de produzir uma mudança cultural.
Um ícone que pode ilustrar perfeitamente este momento histórico da Congregação é o episódio da passagem do "manto e do espírito" de Elias a Eliseu, seu discípulo (2Re 2,1-15). Elias procura afastar Eliseu várias vezes, antes em Gálgala e, depois, em Betel e em Jericó, talvez pelo desejo de ficar sozinho no momento do seu desaparecimento. Mas Eliseu quer ser o seu principal herdeiro espiritual e fica ao seu lado. Como desejaria que cada um dos irmãos, diante de Dom Bosco, fizesse seu o desejo de Eliseu de receber dois terços do espírito de Elias. Ao tornar-se herdeiro espiritual de Elias, Eliseu recolhe o seu manto e com ele pousa sobre si também o espírito do mestre. Eliseu repete literalmente o último milagre de Elias e isso certifica os discípulos dos profetas que realmente "o espírito de Elias" pousou sobre Eliseu.
A esse propósito, vêm-me à mente as palavras de Paulo VI na beatificação do padre Rua, quando disse que aquela beatificação representava uma confirmação da sua qualidade de sucessor de Dom Bosco, de discípulo seu, da sua capacidade de ter acolhido e transmitido o espírito do Pai. Como o padre Rua, a fim de recolher a herança de Dom Bosco, permitamos que Deus, com a nossa total disponibilidade, aja em nós como agiu nele.
Eis-me aqui, queridos Irmãos, a entregar-lhes o fruto do CG26, do qual foram protagonistas. Entrego-lhes um documento, sim, que será como a nossa carta de navegação para o sexênio 2008-2014, mas entrego-lhes, sobretudo o espírito do CG26. Ele quis ser uma intensa experiência pentecostal para uma profunda renovação da nossa vida e missão. Ele representa, pois, para todos os Salesianos, a plataforma de lançamento da Congregação a caminho do grande jubileu salesiano de 2015.
Que o Espírito possa soprar com força sobre a Congregação para ter a coragem de pedir ainda e sempre, com Dom Bosco: Da mihi animas, cetera tolle,
Roma, 12 de abril de 2008
Conselho Geral
1 P CHÁVEZ VILLANUEVA Pascual Reitor-Mor, Presidente
2 P BREGOLIN Adriano Vigário do Reitor-Mor
3 P CEREDA Francesco Conselheiro para a Formação, Regulador
4 P DOMENECH Antoni Conselheiro para a Pastoral Juvenil
5 P ALENCHERRY Francis Conselheiro para as Missões
6 P MAZZALI Giovanni Ecônomo Geral
7 P BARUFFI Helvécio Conselheiro Geral
8 P D'SOUZA Joaquim Conselheiro Geral
9 P FRISOLI Pier Fausto Conselheiro Geral
10 P KLEMENT Václav Conselheiro Geral
11 P ORTIZ G. Esteban Conselheiro Geral
12 P RODRÍGUEZ M. Filiberto Conselheiro Geral
13 P VAN HECKE Albert Conselheiro Geral
14 P STEMPEL Marian Secretário Geral
15 P MARACCANI Francesco Procurador Geral
Região Salesiana: ÁFRICA - MADAGASCAR
16 P GEGNTONI Genaro Sup. Visit. África Etiópia – Eritréia
17 P Gebremeskel Estifanos Delegado África Etiópia – Eritréia
18 P TSHIBANGU Joachim Inspetor África Central
19 P NGOY Jean-Claude Delegado África Central
20 P PULIKKAL Joseph Inspetor África Leste
21 P SAHAYA Gnanasevam A. Delegado África Leste
22 P DUFOUR François Sup. Visit. África Meridional
23 P JOHNSON Jeffrey Delegado África Meridional
24 P JIMÉNEZ Manuel Sup. Visit. África Ocidental Francófona
25 P AKPOUÉ Adolphe-Marie Delegado África Ocidental Francófona
26 P CASTELLINO Riccardo Sup. Visit. África Ocidental Anglófona
27 L JOB Samuel Delegado África Ocidental Anglófona
28 P NGENDAKURIYO Gabriel Sup. Visit. África Grandes Lagos
29 P GATETE Innocent Delegado África Grandes Lagos
30 P BASAÑES Guilherme Sup. Visit. Angola
31 P LASARTE Martín Delegado Angola
32 P VEJA DIEZ José Antonio Sup. Visit. África Tropical Equatorial
33 P KIFUAYI Grégoire Delegado África Tropical Equatorial
34 P DE SANTIS Erminio Sup. Visit. Madagascar
35 P SALERNO Rosário Delegado Madagascar
36 P LEAL GOMES Manuel Sup. Visit. Moçambique
37 P CHAQUISSE Américo Delegado Moçambique
38 P CZERWINSKI Joseph Sup. Visit. Zâmbia-Malauí-Namíbia-Zimbábue
39 L MAKUMBA Sylvester Delegado Zâmbia-Malauí-Namíbia-Zimbábue
Região salesiana: AMÉRICA LATINA – CONE SUL
40 P GARCÍA Fabian Inspetor Argentina – Buenos Aires
41 L CEJAS Guillermo Delegado Argentina – Buenos Aires
42 P TIRABASSO Vicente Inspetor Argentina – Bahía Blanca
43 P CAUCAMÁN Fidel Delegado Argentina – Bahía Blanca
44 P PALAZZO Leonardo Inspetor Argentina – Córdoba
45 P YAMANOUCHI Fidel Delegado Argentina – Córdoba
46 P LÓPEZ A. Horacio Inspetor Argentina – La Plata
47 P HAAG Miguel Delegado Argentina – La Plata
48 P LÓPEZ Joaquín Andrés Inspetor Argentina – Rosário
49 P AGUIRRE Adolfo Delegado Argentina – Rosário
50 P ZANCANELLA Ovídio Geraldo Inspetor Brasil – Belo Horizonte
51 P FARIA Nilson Delegado Brasil – Belo Horizonte
52 P DE CASTRO Afonso Inspetor Brasil – Campo Grande
53 P SHINOHARA Lauro Delegado Brasil – Campo Grande
54 P MEDEIROS Damásio Raimundo Inspetor Brasil – Manaus
55 P ALVES Francisco Delegado Brasil - Manaus
56 P TEIXEIRA José Valmor Cesar Inspetor Brasil – Porto Alegre
57 P FISTAROL Delegado Brasil – Porto Alegre
58 P RODRIGUES João Carlos Inspetor Brasil – Recife
59 P MENEZES A. Alencar Delegado Brasil – Recife
60 P BIAGGI Marco Inspetor Brasil – São Paulo
61 P ZACHARIAS Ronaldo Delegado Brasil – São Paulo
62 P VITALI Natale Inspetor Chile
63 P ZURA Juan Carlos Delegado Chile
64 P JARA Walter Luis Inspetor Paraguai
65 P GONZÁLEZ José Pablino Delegado Paraguai
66 P ALGORTA Juan M. Inspetor Uruguai
67 P STURLA Daniel Delegado Uruguai
Região salesiana: ÁSIA LESTE – OCEANIA
68 P MOLONEY Francis J. Inspetor Austrália
69 P CAPRA Elio Delegado Austrália
70 P LAM Simon Inspetor China
71 P FUNG Andrew Delegado China
72 P WONG Andrew Inspetor Filipinas Norte
73 P MACASAET Martin Delegado Filipinas Norte
74 P SANCHEZ Arthur (Jr) Inspetor Filipinas Sul
75 P VILBAR Roneldo Delegado Filipinas Sul
76 P PUPPO Orlando Inspetor Japão
77 P CIPRIANI Aldo Delegado Japão
78 P CALLEJA Andrés Sup. Visit Indonésia – Timor Leste
79 P DELIMARTA Andre Delegado Indonésia – Timor Leste
80 P HWANG Paul (Myeong Deok) Inspetor Coréia
81 P KIM Francisco (Ok Chu) Delegado Coréia
82 P THEPHARAT John Bosco Inspetor Tailândia
83 P ALCOSEBA Aaron Emnace Delegado Tailândia
84 P NGUYEN Van Them G. Battista Inspetor Vietnam
85 P NGUYEN Thinh Joseph Delegado Vietnam
86 L TRAN HOANG Francesco S. Delegado Vietnam
Região Salesiana: ÁSIA SUL
87 P FERNANDES Michael Inspetor Índia – Bombay
88 P COELHO Ivo Delegado Índia – Bombay
89 P BERGER John Inspetor Índia – Calcuta
90 P CHUNKAPURA Jose Delegado Índia – Calcuta
91 P POONTHURUTHIL James Inspetor Índia – Dimapur
92 P KURUVACHIRA Jose Delegado Índia – Dimapur
93 P ALMEIDA Joseph Inspetor Índia – Guwahati
94 P MAWRIE Barnes Lister Delegado Índia – Guwahati
95 L VALERI Nello Delegado Índia – Guwahati
96 P MADDHICHETTY Noel Inspetor Índia – Hyderabad
97 P RAMINEDI Balaraju Delegado Índia – Hyderabad
98 P KUTTIANIMATTATHIL Jose Inspetor Índia – Bangalore
99 P ANCHUKANDAM Thomas Delegado Índia – Bangalore
100 P PALLIPURAM Varghese Delegado Índia – Bangalore
101 P STANISLAUS Swamikannu Inspetor Índia – Madras
102 P JOSEPH Andrews Delegado Índia – Madras
103 P KANAGA Maria Arokian Delegado Índia – Madras
104 P LOBO Charles Inspetor Índia – Nova Délhi
105 P PEEDIKAYIL Michael Delegado Índia – Nova Délhi
106 P PIRES Loddy Inspetor Índia – Panjin
107 P NORONHA Romulo Delegado Índia – Panjin
108 P SUSAI Amalraj Inspetor Índia – Tiruchy
109 P JOHNSON Albert Delegado Índia – Tiruchy
110 P PINTO Anthony Humer Sup. Visit. Sri Lanka
111 P FERNANDO Anthony Delegado Sri Lanka
112 P YE MAUNG Joachim Sup. Visit. Mianmar
113 P SEIN MYINT Edward Delegado Mianmar
Região Salesiana: EUROPA NORTE
114 P WÖβ Franz Inspetor Áustria
115 P OBERMÜLLER Petrus Delegado Áustria
116 P CLAES Jozef Inspetor Bélgica Norte
117 P SPRONCK Herman Delegado Bélgica Norte
118 P BLAHA František Inspetor República Checa
119 P KOMÁREK Jan Delegado República Checa
120 P MARIJANOVIC Ivan Inspetor Croácia
121 P ORKIC Pejo Delegado Croácia
122 P PELLIZZARI Giuseppe Sup. Circ. Europa do Leste
123 P PISTELLATO Onorino Delegado Europa do Leste
124 P WINSTALEY Michael Inspetor Grã Bretanha
125 P GALLANGHER James Delegado Grã Bretanha
126 P GRÜNNER Josef Inspetor Alemanha
127 P MENZ Heinz Delegado Alemanha
128 L MULLER Jean-Paul Delegado Alemanha
129 P HORAN John Inspetor Irlanda
130 P ATTARD Fabio Delegado Irlanda
131 P ŁUBIAN Sławomir Inspetor Polônia – Varsóvia
132 P KUŁAK Wojciech Delegado Polônia – Varsóvia
133 P WUJEK Andrzej Delegado Polônia – Varsóvia
134 P ŁEPKO Zbigniew Inspetor Polônia – Piła
135 P CHMIELEWSKI Marek Delegado Polônia – Piła
136 P KLAWIKOWSKI Zenon Delegado Polônia – Piła
137 P KAŹMIERCZAK Bolesław Inspetor Polônia – Wrocław
138 P DRUSZCZ Paweł Delegado Polônia – Wrocław
139 P CHRZAN Marek Inspetor Polônia – Cracóvia
140 P GOCKO Jerzy Delegado Polônia – Cracóvia
141 P TURANSKÝ Štefan Inspetor Eslováquia
142 P IŽOLD Jozef Delegado Eslováquia
143 P SNOJ Alojzij Slavko Inspetor Eslovênia
144 L SUHOVERŠNIK Marko Delegado Eslovênia
145 P HAVASI József Inspetor Hungria
146 P ANDRÁSFALVY János Delegado Hungria
Região Salesiana: EUROPA OESTE
147P VAN DER SLOOT André Inspetor Bélgica Sul
148 P BELBOOM Paul Delegado Bélgica Sul
149 P ENGER Joseph Inspetor França
150 P. FEDERSPIEL Daniel Delegado França
151 P CARVALHO João de Brito Inspetor Portugal
152 P PEREIRA Artur Delegado Portugal
153 P CODINA Joan Inspetor Espanha – Barcelona
154 P ASURMENDI Angel Delegado Espanha – Barcelona
155 P URRA MENDÍA Félix Inspetor Espanha – Bilbao
156 P VILLOTA José Luis Delegado Espanha – Bilbao
157 P RODRÍGUEZ PACHECO José Inspetor Espanha – León
158 P BLANCO José María Delegado Espanha – León
159 P MORAL LAMELA Luis Manuel Inspetor Espanha – Madri
160 P GARCÍA Miguel Ángel Delegado Espanha – Madri
161 P GUIJARRO Luis Alberto Delegado Espanha – Madri
162 P NÚÑEZ MORENA José Miguel Inspetor Espanha – Sevilha
163 P FERNÁNDEZ M. Francisco José Delegado Espanha – Sevilha
164 P SANCHO Juan Bosco Inspetor Espanha – Valência
165 P ECHETO Antonio Delegado Espanha – Valência
Região Salesiana: INTERAMÉRICA
166 P RAMÍREZ José Pastor Inspetor Antilhas
167 P LINARES Juan Delegado Antilhas
168 P ZABALA Juan Pablo Inspetor Bolívia
169 P ORTIZ Javier Delegado Bolívia
170 P CORRAL Luis Inspetor América Central
171 P GUZMÁN René Delegado América Central
172 P AUTHIER Richard Inspetor Canadá
173 P PACE Michael Delegado Canadá
174 P PERESSÓN Mario Inspetor Colômbia – Bogotá
175 P ROJAS José Raúl Delegado Colômbia – Bogotá
176 P NIEBLES Vidal Inspetor Colômbia – Medellín
177 P GÓMEZ John Jairo Delegado Colômbia – Medellín
178 P SÁNCHEZ Francisco Inspetor Equador
179 P ESPINOZA Alfredo Delegado Equador
180 P CHARLES Jacques Inspetor Haiti
181 P MÉSIDOR Jean-Paul Delegado Haiti
182 P GONZÁLEZ PLASENCIA Filiberto Inspetor México – Guadalajara
183 P DELGADILLO Cornejo Salvador Delegado México – Guadalajara
184 P AGUILAR Miguel Inspetor México – México
185 P HERNÁNDEZ V. José Antonio Delegado México – México
186 P SANTILLI Vicente Inspetor Peru
187 P ATARAMA Jorge Delegado Peru
188 P HEUSER James Inspetor Estados Unidos Leste
189 L DION Thomas Delegado Estados Unidos Leste
190 P PURDY David Inspetor Estados Unidos Oeste
191 P TRINIDAD Mechior Delegado Estados Unidos Oeste
192 P REYES Jonny Inspetor Venezuela
193 P BIORD Raúl Delegado Venezuela
Região Salesiana: ITÁLIA – ORIENTE MÉDIO
194 P MOLINARI Giovanni Inspetor Itália – Adriática
195 P LABARILE Francesco Delegado Itália – Adriática
196 P MIGLIASSO Pietro Inspetor Itália – Piemonte e Valle d'Aosta
197 L BERTAZZI Delegado Itália – Piemonte e Valle d'Aosta
198 P BOZZOLO Andrea Delegado Itália – Piemonte e Valle d'Aosta
199 P MARTELLI Alberti Delegado Itália – Piemonte e Valle d'Aosta
200 P SOSIO Agostino Inspetor Itália – Lombardo-Emiliana
201 P CAMERONI Pier Luig Delegado Itália – Lombardo-Emiliana
202 P SALA Rossano Delegado Itália – Lombardo-Emiliana
203 P LORENZELLI Alberto Inspetor Itália – Lígure-Toscana
204 P MADJIDI Karin Delegado Itália – Lígure-Toscana
205 P MARTINO Pasquale Inspetor Itália – Meridional
206 P CELLA Luigi Delegado Itália – Meridional
207 P CRISTIANI Pasquale Delegado Itália – Meridional
208 P RIVA Eugenio Inspetor Itália – Nordeste
209 P BARDUCA Renzo Delegado Itália – Nordeste
210 P BONATO Giannantonio Delegado Itália – Nordeste
211 P PUSSINO Gian Luigi Inspetor Itália – Romana
212 P MANCINI Leonardo Delegado Itália – Romana
213 P COSSU Giovanni Sup. Visit. Itália – Sardenha
214 P MORFINO Mauro Delegado Itália – Sardenha
215 P PERRELLI Vito Luigi Inspetor Itália – Sicília
216 P FICHERA Paolo Delegado Itália – Sicília
217 P MONTANTI Calogero Delegado Itália – Sicília
218 P GIANAZZA Gianmaria Inspetor Oriente Médio
219 P SOUCCAR Bashir Delegado Oriente Médio
Universidade Pontifícia Salesiana
220 P NICOLUSSI Giuseppe Sup. Visit. UPS
221 P TONELLI Riccardo Delegado UPS
Casa Geral e Comunidade do Vaticano
222 P BOLKOVAC Stejpan Delegado RMG
Observadores convidados
223 P THELEKKADAN Jacob Convidado África Leste
224P OSANGER Rudolf Convidado Áustria
225 L SILVA Altair Convidado Brasil – Campo Grande
226 P LOOTS Carlo Convidado Bélgica Norte
227 L JIMÉNEZ José Luis Convidado Colômbia – Medellín
228 P Galve Rafael Convidado Filipinas Norte
229 L MARANGIO Claudio Convidado Itália – Piemonte e Valle d'Aosta
230 L THAIPARAMBIL Mathew Convidcado Índia – Calcuta
231 P ELLICHERAIL Thomas Convidado Índia – Calcata
232 L BLANCO Antonio Convidado Espanha – Madri
233 P ONRUBIA Luis J. Convidado Espanha - Madri
Acompanhamento vocacional e espiritual
Administração (economia)
Ver: Gestão dos recursos
Carisma
Comunicação social
Comunidade educativo-pastoral
Constituições
Da mihi animas cetera tolle
Deliberações do CG26
Diretor
Dom Bosco
Educação
Espiritualidade salesiana
Estruturas de animação e governo da Congregação
Eucaristia
Europa
Evangelização
Família
Família Salesiana
Formação
Gestão das obras
Gestão dos recursos (administração, economia)
Igreja
Inculturação
Jesus Cristo
Jovens
Jovens pobres
Leigos
Maria Santíssima
Missão salesiana (juvenil)
Missões "ad gentes"
Novas Fronteiras
Oração
Palavra de Deus
Paixão apostólica
Pastoral
Pobreza evangélica
Presenças e obras salesianas
Projeto educativo-pastoral
Reconciliação (sacramento)
Salesiano coadjutor e salesiano clérigo
*Ver: Vocação consagrada salesiana, duas formas complementares
Sistema Preventivo
Solidariedade
Testemunho
Vocação/ões
Vocação consagrada salesiana: duas formas complementares