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DISCURSO DO REITOR-MOR

Padre Ángel Fernández Artime

NA ABERTURA DO CG28




SAUDAÇÃO AOS CONVIDADOS


Eminência Reverendíssima,

Card. João Braz de Aviz

Prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica


Eminências Reverendíssimas

Card. Tarcisio Bertone

Card. Riccardo Ezzati

Card. Raffaele Farina

Card. Óscar Andrés Rodríguez Maradiaga


Excelentíssimos Arcebispos e Bispos salesianos


Caríssima Madre Yvonne Reungoat, Superiora Geral das Filhas de Maria Auxiliadora

Gentilíssimos Responsáveis dos vários Grupos da Família Salesiana


Estimadíssimas Autoridades civis da Cidade de Turim e da Região Piemonte,


em nome de todos os membros do Capítulo Geral agradeço-vos pela vossa presença e disponibilidade com que quisestes acompanhar significativamente o dia do início oficial do Capítulo Geral 28 da Sociedade de São Francisco de Sales (Salesianos de Dom Bosco).

Sentir-nos acompanhados pela presença de cada um de vós nos honra e nos fala, ao mesmo tempo, da responsabilidade que temos diante da Igreja e de toda a Família Salesiana de Dom Bosco, e, de modo particular, diante da Congregação Salesiana. Isso tudo nos encoraja a iniciar este trabalho com um olhar profético e cheio de esperança.


Ao mesmo tempo estendo as boas-vindas, de modo oficial, a todos os irmãos salesianos aqui presentes, provenientes das noventa circunscrições jurídicas da Congregação: inspetores e superiores canônicos de Visitadorias, delegados inspetoriais, salesianos observadores e convidados. A presença de vós todos é importante. Realmente, conhecemos e estamos cientes de um fato, à luz da visão de fé que cada um de nós tem no profundo do próprio coração: foi o Senhor que nos reuniu aqui através dos “misteriosos” caminhos da sua Providência.

Durante o primeiro Capítulo Geral da nossa Congregação, ao qual farei referência no ponto sucessivo, Dom Bosco começa dizendo: «Nós iniciamos algo da máxima importância para a nossa Congregação»...1 Pois bem, também nós somos chamados a uma tarefa muito especial e importante para a nossa Congregação. Hoje, como ontem, o que resultar como fruto do nosso CG28 será de grande importância. Sem dúvida, a boa disposição de cada um será decisiva para os frutos desta Assembleia capitular.





1. O CG28 DA SOCIEDADE DE SÃO FRANCISCO DE SALES


O nosso pai Dom Bosco convocou o primeiro Capítulo Geral em 5 de setembro de 1877 em Lanzo Torinese. Os participantes eram vinte e três e o Capítulo durou três dias inteiros. Seguiram-se outros Capítulos Gerais, como bem sabemos. Alguns aqui em Valdocco. Hoje, sessenta e dois anos depois do último Capítulo Geral celebrado em Valdocco, berço do nosso carisma, retornamos, com grande fé no Senhor e no seu Santo Espírito que continua a assistir a nossa Congregação e a Família Salesiana. Tomados pela mão pela nossa Mãe Auxiliadora, que «continua a fazer tudo», Dom Bosco nos dirige um apelo que aqui, neste santo lugar salesiano, ressoa de modo significativo e com um forte conteúdo emotivo.

Na abertura daquele primeiro Capítulo Geral Dom Bosco disse aos nossos irmãos: «O Divino Salvador diz no santo Evangelho que onde estão dois ou três reunidos em seu nome, Ele mesmo está ali entre eles. Nós não temos outra finalidade nestas reuniões a não ser a maior glória de Deus e a salvação das almas redimidas pelo precioso Sangue de Jesus Cristo. Podemos, portanto, estar certos de que o Senhor se encontrará entre nós e Ele conduzirá as coisas de modo que todas redundem para a sua maior glória».2


Com a mesma convicção e a mesma visão de fé com que quis evidenciar a última expressão de Dom Bosco, escrevendo-a em cursivo, queremos e devemos enfrentar a importante tarefa que a Congregação inteira nos confia neste CG28.

Lemos nas nossas Constituições: «O Capítulo-Geral é o sinal principal da unidade na diversidade da Congregação. É o encontro fraterno no qual os salesianos fazem uma reflexão comunitária, para se manterem fiéis ao Evangelho e ao carisma do Fundador, e sensíveis às necessidades dos tempos e lugares. Mediante o Capítulo-Geral, toda a Sociedade, deixando-se guiar pelo Espírito do Senhor, procura conhecer, em determinado momento da história, a vontade de Deus para melhor servir à Igreja».3

Estou profundamente convencido de que será um tempo em que o Espírito do Senhor nos guiará e fará sentir a Sua presença, como só Deus sabe fazer, para sustentar-nos neste nosso desejo de ser sempre mais fiéis a Jesus Cristo no caminho traçado por Dom Bosco.


1.1. Com a responsabilidade de guiar e animar um carisma da Igreja, para a Igreja e para o mundo, suscitado pelo Espírito.


Antes de fazer referência ao Capítulo Geral, permito-me indicar alguns elementos que poderiam ser aceitos como óbvios, mas que, sem dúvida, são essenciais e de grande importância. O primeiro deles foi há pouco enunciado.

Temos uma grande responsabilidade: o carisma de assumirmos a atenção aos jovens com todos os meios a nossa disposição, não é nossa propriedade exclusiva, não nos pertence, porque é dom do Espírito Santo para a Igreja e para o mundo. Entretanto, como Salesianos de Dom Bosco, nos é pedida a máxima atenção e a máxima fidelidade. Recordei há pouco o artigo das nossas Constituições em que se diz que o Capítulo Geral deve levar-nos a descobrir e reconhecer a vontade de Deus neste momento histórico e, assim, servir melhor a Igreja. O nosso trabalho de reflexão, estudo e diálogo, em clima de busca e discernimento, não tem outra finalidade que tentar discernir a vontade de Deus para nós hoje, diante da grande pergunta sobre como podemos ser autênticos consagrados hoje e sobre como podemos ser os Salesianos que o próprio Dom Bosco gostaria que fôssemos para os jovens de hoje e aqueles que virão amanhã.

Não há dúvidas sobre o fato de trazermos em nossos corações o profundo desejo de continuar a dar os passos necessários para que o carisma salesiano seja rico da força do Evangelho. Não tenho dúvidas de que temos no coração o desejo de ser corajosos e muito livres para buscar o que nos conduz através do caminho da fidelidade. Não tenho nenhuma dúvida de que a prudência com que assim enfrentamos tantas coisas esteja muito longe – e deve continuar a estar – dos temores que paralisam e das amarras que nada têm a ver com o anúncio do Evangelho e a educação à fé dos jovens, nem com a sua preparação para a vida e a sua felicidade. Não esqueçamos que os temores e as amarras pessoais e institucionais matam a fidelidade e impedem que o carisma seja sempre o mesmo e sempre vivo, mesmo com o passar dos decênios e dos séculos.


1.2. Com a responsabilidade de guiar a comunhão e a unidade de vida em nossa Congregação


Uma das graças que o Senhor nos concedeu abundantemente neste sexênio foi – como veremos na relação sobre o estado da Congregação – a de uma grande comunhão e unidade, para além das naturais dificuldades características de cada grupo humano, e mais ainda para uma Congregação numerosa como a nossa. Estamos crescendo na unidade – não na uniformidade – e na comunhão. E este é um dom e um grande valor que devem ser conservados hoje e sempre.

Por essa razão, o Capítulo Geral deve ser o testemunho dessa plena comunhão de espírito e de missão. A diversidade de culturas e contextos, de nacionalidades e linguagens são uma riqueza e uma oportunidade para o carisma que, hoje, estende suas raízes a cento e trinta e quatro nações.

É realmente iluminador ver como o nosso Pai quisesse que esta unidade fosse solidíssima. Celebrando o primeiro Capítulo Geral, Dom Bosco disse aos capitulares: «Ainda estamos em nossos inícios; o nosso número ainda não é extraordinariamente grande e até agora o Oratório foi o centro para todos [...], mas indo adiante, se não se estudarem todos os modos de reencontrar essa união, em breve entrará algum estudo heterogêneo e não haverá mais uma unidade absoluta entre nós».4

Felizmente e por graça de Deus isso não aconteceu, mas o contrário. A busca de unidade e comunhão continua a crescer e consolidar-se, pois um só é o carisma, um só o nosso santo Fundador e um só o nosso estado de vida, uma só a nossa regra de vida: as Constituições e os Regulamentos dos Salesianos de Dom Bosco.


1.3. Para ocupar-se dos interesses de Deus


Permito-me tomar literalmente a expressão do P. Luís Ricceri, Reitor-Mor, no discurso de abertura do Capítulo Geral especial 20, porque reflete de modo esplêndido a clara e profunda consciência que devemos ter da natureza do nosso trabalho. Todos os Capítulos Gerais são importantes. Todos ajudam a percorrer o caminho de fidelidade ao longo do tempo. Todos nos impulsionam com coragem. Todos abrem um caminho ou consolidam o já existente. E, ao mesmo empo, em todos eles o olhar de fé deve ser o mais importante.

Proponho e peço isso de modo todo especial para o nosso CG28, especialmente pela temática que nos ocupará e pelo fruto das nossas decisões. Estou convencido de que o trabalho que nos é confiado como homens de fé que amam a Igreja e a Congregação nos ajudará a concentrar-nos ao redor do perfil do salesiano do qual, na fidelidade às Constituições, o mundo de hoje e os jovens de hoje continuam a ter necessidade. E estou convencido de que isso será de grande importância na formação permanente de todos os salesianos e em especial na formação inicial dos jovens salesianos que hoje querem ser como Dom Bosco.

Por isso, devemos ser muito livres, corajosos, ter uma visão de fé e um coração atento para perceber com a máxima delicadeza a voz do Espírito Santo.

«A nossa não é uma assembleia de acionistas de uma indústria, não é uma assembleia política com facções de interesses econômicos contrastantes, de prestígio e ambições. Aqui, somos Igreja, melhor, assembleia de homens consagrados, reunidos em nome do Senhor, totalmente devotados a um ideal sobrenatural: sentimos que somos homens de fé, cujas preocupações têm suas raízes na fé e cuja atividade, também a que estamos vivendo, é toda iluminada, reavivada e motivada pela fé. De fato, não estamos aqui por interesses humanos, mas pelos interesses de Deus, de seu Reino, de sua Igreja».5


Pensando no fruto do nosso Capítulo Geral, o que citei é decisivo: o que não leva ao encontro com Deus na pessoa do seu Filho Jesus Cristo não vem de Deus e de nada nos servirá. O que não nos torna fiéis ao carisma e ao próprio Dom Bosco, nosso Fundador, está destinado ao fracasso mesmo se as miragens do momento pareçam anunciar alguma outra coisa. Não somos uma Congregação com muitos séculos de vida, mas também não somo os últimos a chegar, e os 160 anos de história nos ensinaram muito. A Congregação só encontra uma maneira de dar uma melhor resposta aqui e agora deixando-se guiar pelo Espírito de Deus. Só um olhar livre e lúcido diante de mentalidades fortemente secularizadas e hedonistas permite um caminho seguro. Outras tentativas, antes ou depois, fracassam, desgastam-se e fazem definhar aquele ideal de vida que levou à decisão fundamental do jovem Cagliero: «Frade ou não frade, eu fico com Dom Bosco».



2. TEMA E OBJETIVO DO CG28


Todos os presentes, inclusive os nossos convidados que muito nos honram com a sua presença, conhecem o tema do Capítulo Geral que hoje declaramos oficialmente aberto: «Quais Salesianos para os jovens de hoje?»

O tema responde à urgência que temos neste momento da nossa história de concentrar a nossa atenção na pessoa do Salesiano que, como homem de Deus, consagrado e apóstolo, deve ser capaz de sintonizar-se o mais possível com os adolescentes e jovens de hoje e o seu mundo com a finalidade de caminhar com eles, na educação e formação à fé, ajudando-os a serem bons crentes – considerando que muitas vezes professam outras religiões – e preparando-os para a vida, acompanhando-os na busca de sentido e para encontro com Deus.

Estamos cientes de que não somos somente nós, Salesianos de Dom Bosco, a termos a responsabilidade dessa missão. De fato, nós a realizamos contando com outras numerosas forças de educadores e educadoras, dos muitos leigos de todas as presenças do mundo salesiano.


O tema que nos ocupará nestas sete semanas é único e articulado em três núcleos:

-A prioridade da missão salesiana entre os jovens de hoje

-O perfil do Salesiano para os jovens de hoje

-Com os leigos na missão e na formação


O mundo em que vivemos neste século XXI, caracterizado pela diversidade das culturas e dos contextos, precisa – e podemos dizer que espera – encontrar Salesianos consagrados-apóstolos preparados e dispostos a viver a própria vida com a mente e o coração de Dom Bosco. Salesianos capazes de continuar a dar a vida pelos jovens do mundo de hoje, com a linguagem deles, com o modo de ver deles e os interesses deles. Sem dúvida, muitos desses adolescentes e jovens vivem nas casas salesianas, enquanto muito outros frequentem “outros pátios”: somos salesianos também para eles.


Acredito que continua a ressoar com grande força, e é um apelo muito atual, aquilo que o Papa Francisco no disse em 21 de junho de 2015, ano do bicentenário do nascimento de Dom Bosco, neste mesmo santo lugar salesiano que é Valdocco. Pediu-nos para não frustrar as profundas aspirações dos jovens, não frustrar as profundas aspirações dos jovens: a necessidade de vida, abertura, alegria, liberdade, futuro; o desejo de colaborar na construção de um mundo mais justo e fraterno, no desenvolvimento de todos os povos, na tutela da natureza e dos ambientes de vida... O Papa pede-nos para ajudar os jovens a experimentarem que só na vida da graça, isto é, na amizade com Cristo, os ideais mais autênticos são realizados plenamente.6


Esperamos realizar o que é proposto ao Capítulo Geral como desafio para toda a Congregação da única maneira possível e válida, como já disse e evidencio novamente: no caminho de fidelidade ao Senhor e a Dom Bosco e de fidelidade aos jovens. Muitos desses jovens, com maior ou menor consciência, pedem para não serem abandonados ao próprio destino, um destino incerto, como náufragos, pela nossa incapacidade de ser educadores, amigos, irmãos e pais – como Dom Bosco foi para os jovens do seu tempo –, capazes de perceber as suas necessidades ou escutar ao seu chamado.


Por essa razão, a reflexão capitular deve concentrar-se nos seguintes elementos.


2.1. Dar o primado absoluto à missão salesiana com os jovens de hoje, e, entre, eles dando prioridade aos mais necessitados, aos mais pobres e abandonados. Com predileção pelos adolescentes e os jovens de hoje que, em certo sentido são, sem dúvida, diferentes daqueles de dez anos atrás; como diferentes são os contextos sociais e educativos nos quais vivem e que, por isso, condicionam objetivamente a nossa missão. Bem sabemos que ao falar dessa predileção pelos jovens estamos nos referindo a algo de essencial e constitutivo da nossa identidade carismática.

Citando o texto da carta de convocação ao CG28 recordo à Assembleia capitular esta prioridade: «O novo Capítulo geral será uma oportunidade para discernir atentamente e com coragem para examinar se as nossas presenças, as nossas obras e as nossas atividades estão a serviço dos jovens mais pobres; se eles ocupam o nosso coração e estão no centro das nossas preocupações e dos nossos interesses; se concentramos as nossas energias e esforços por eles».7


2.2. Atentos com a mesma prioridade ao perfil do salesiano de hoje


O que nos é pedido e que se espera de nós Salesianos só será possível se formos capazes, como disse no meu comentário à Estreia que ofereci à Família Salesiana, de ser “como Dom Bosco, com os jovens e para os jovens”. Por isso, uma parte decisiva da nossa reflexão e das nossas deliberações capitulares deverá dar atenção especial à pessoa do Salesiano e à nossa formação, tanto inicial como permanente. Com Dom Bosco como modelo,

  • dizer Salesiano hoje deveria ser o mesmo que dizer homem consagrado de fé profunda,

  • dizer Salesiano hoje deveria ser o mesmo que dizer paixão apostólica pelos jovens,

  • dizer Salesiano hoje deveria ser o mesmo que dizer filho de Deus que sabe ser e se sente pai dos jovens,

  • dizer Salesiano hoje deveria ser o mesmo que dizer identidade carismática de cada um que enriquece a Igreja do carisma de Dom Bosco e cria a comunhão eclesial,

  • dizer Salesiano hoje deveria ser o mesmo que dizer apóstolo dos jovens sempre fiel, sempre flexível e criativo,

  • dizer Salesiano hoje deveria ser o mesmo que dizer sempre educador, sempre amigo dos jovens.


2.2.1. Um perfil de salesiano que não se improvisa, mas que se forma


Este é um dos motivos que nos levou a ver a importância deste tema capitular. A vocação de cada um de nós é resposta a um chamado. Chamado de amor e de graça que recebemos com gratidão e admiração, não como direito ou merecimento. Chamado pessoal num momento concreto da história de cada um, na trama do tempo e frequentemente com múltiplas mediações, ou mesmo com apenas uma. Chamado num determinado contexto familiar, social, religioso, cultural. Chamado que chega ao mundo de cada um, com a sua diversidade e, talvez, a sua complexidade.

E, em contextos e condições muito diversos, cada um de nós deve trilhar um caminho que nos levará na sequela do Senhor Jesus, a plasmar o nosso coração e a nossa personalidade de tal modo que possamos ter em nós mesmos o mesmo coração pastoral de Dom Bosco, à imitação de Jesus Bom Pastor, e com o desejo de entregar-nos generosamente aos outros, em especial aos jovens. Sem viver num genericismo, que seria preocupante e perigoso, mas como consagrados, Salesianos de Dom Bosco na Igreja para os jovens.


Eis porque afirmo com profunda convicção que o perfil do Salesiano não pode ser fruto de improvisação, mas deve passar através das mediações das diversas etapas formativas, com suas experiências, seus tempos e pessoas


2.2.2. Com a ajuda de equipes formativas de qualidade e processos personalizados


Bem sabemos que esse caminho não pode ser percorrido sem a ajuda de mediações. Frequentemente as mediações são muitas e diversificadas. Imagino que a nossa reflexão capitular tomará consciência do modo com que, tendo presente o perfil do Salesiano de hoje, torna-se mais importante do que nunca contar com um autêntico discernimento e acompanhamento. E, por isso, serão de importância fundamental o papel da comunidade ou das comunidades salesianas locais, o papel dos leigos das comunidades educativo-pastorais e o dos irmãos da Inspetoria.


A reflexão e a compreensão da nossa realidade formativa no mundo atual nos levarão, durante os trabalhos do nosso Capítulo, a perguntar-nos sobre qual renovação formativa precisamos, desde que os jovens salesianos de hoje são todos “nativos digitais”, provindo de contextos culturais talvez muito diferentes do contexto formativo em que viveu quem vos está falando. Professamos as mesmas Constituições Salesianas, mas em nações, culturas, linguagens e contextos muito diferentes. Isso tudo deve levar-nos a pensar em processos formativos personalizados que, talvez, sejam a única garantia de um bom itinerário vocacional com perspectiva de futuro.


A isso se liga, evidentemente, a necessidade de continuar a ter as melhores equipes formativas; equipes consolidadas e estáveis, não improvisadas, mas formadas por pessoas preparadas para esse serviço específico.


2.3. Com os leigos na missão e na formação


Todos nós temos presente o tema do CG24, de 1996: «Salesianos e Leigos. Comunhão e participação do espírito e da missão de Dom Bosco». Depois de muitos anos desse caminho na missão compartilhada nas comunidades educativo-pastorais sentimos, como Congregação, a necessidade de fazer um exame do caminho percorrido, dos resultados e das resistências encontrados.

Acreditamos certamente que a missão compartilhada com os leigos é um caminho para a descoberta da identidade carismática, particularmente esclarecida pelo CG24, e que hoje se manifesta como único modo possível de conduzir a missão salesiana na complexidade do nosso mundo, na diversidade e complexidade de tantas situações nacionais e culturais, e na multiplicidade dos contextos.

Intuo que sobre esta parte tão importante da reflexão que nos espera, e que vai pari passo com a reflexão sobre o perfil do salesiano necessário hoje e que os jovens esperam – com os leigos que participam da missão conosco – o Capítulo levará possivelmente em consideração alguns destes pontos aos quais dirigir o nosso discernimento:

  1. realizações e resistências na missão compartilhada com os leigos;

  2. reciprocidade necessária nas relações entre salesianos e leigos;

  3. formação conjunta de salesianos e leigos;

  4. as novas situações nas realidades atuais, vinte e quatro anos depois do CG24, e as orientações e os critérios que devemos considerar.






3. A “HORA” DO CAPÍTULO GERAL 28


Irmãos Capitulares, nestes meses não escondi a esperança com que espero a celebração deste nosso Capítulo Geral, pois creio que será muito significativo e de grande relevância. Todos os anteriores também o foram. Penso o mesmo para o CG28. Como afirmei também na carta de convocação: «seremos chamados a discernir com realismo, coragem e determinação a orientação do caminho a percorrer no século XXI, num momento eclesial muito especial de renovação e purificação».8


  • Somos chamados a dar o primado e a centralidade nas nossas decisões e deliberações ao que se refere à missão salesiana em favor dos meninos, adolescentes e jovens mais pobres e necessitados, os últimos, aqueles que frequentemente são ignorados ou descartados.


  • Somos chamados a viver numa atitude permanente de formação, de abertura às realidades que sempre se alteram, e fazer todo o possível, em qualquer idade que seja, para não deixar de viver para e com os jovens.


  • Somos chamados a acompanhar a formação dos jovens salesianos de hoje e de amanhã para serem autênticos consagrados, apaixonados por Cristo e por esta humanidade que sofre com muita frequência, desejando ser hoje “outros Dom Bosco” com a simplicidade e a generosidade da sua entrega.


  • Somos chamados a ter uma visão e um coração grande para valorizar todo o potencial apostólico que temos, como Salesianos e leigos juntos. Somos chamados a analisar e diagnosticar e ser corajosos nas decisões que devemos tomar para desenvolver plenamente a visão profética que a Congregação teve por anos, chamando-os a percorrer junto conosco um caminho em favor da missão, do serviço voltado àqueles para quem nascemos carismaticamente.


CONCLUSÃO


Concluo a apresentação destes desafios que nos ocuparão com uma última referência a Dom Bosco e a nossa Mãe Auxiliadora.


O nosso Fundador, ciente do fato de que nem tudo acabaria com ele, mas que certamente seria apenas o início de um longo caminho a percorrer, disse certo dia de 1875 ao Padre Júlio Barberis, um dos seus estreitos colaboradores: «Vós completareis a obra que eu estou iniciando; eu faço o esboço, vós poreis as cores [...]. Eu faço o rascunho da Congregação e deixarei àqueles que virão depois de mim fazerem a cópia definitiva».9


Penso que com o CG28 que hoje iniciamos melhoraremos outras partes do esboço que Dom Bosco nos deixou, porque o Espírito Santo continua a iluminar-nos ainda hoje para sermos fiéis ao Senhor Jesus na fidelidade ao carisma das origens, com as fisionomias, a melodia e as cores de hoje.


Não estamos sozinhos nesta missão e sabemos e sentimos que Maria, a Mãe Auxiliadora, a “Auxiliadora de Dom Bosco”, nos guia. No dia da solenidade da Imaculada de 1877, dois meses antes de morrer, voltando-se para contemplar o longo e não fácil caminho da própria vida, dizia aos salesianos que, comovidos, o rodeavam: «Até agora caminhamos pela estrada certa. Não podemos errar; é Maria quem nos guia».10


Ela é a Mãe de todos nós, a Mãe dos jovens e de suas famílias (se as têm!). É a mais sensível para com os pobres e necessitados. É Ela que nos diz, também nesta hora do CG28: «Fazei tudo o que Ele vos disser»,11 como aconteceu em Caná da Galileia.


Que nossa Mãe Auxiliadora nos ilumine e guie como fez com Dom Bosco para sermos fiéis ao Senhor e jamais frustrarmos os jovens, sobretudo os mais necessitados.


P. Ángel Fernández Artime

Reitor-Mor

1 MB XIII, 250.

2 MB XIII, 251.

3 Cost. 146.

4 MB XIII, 286.

5 CGS20, Discorso del Rettor Maggiore in apertura del Capitolo Generale Speciale, Roma 1971, 554.

6 Cf. Francesco, Come Don Bosco con i giovani e per i giovani. Lettera di Papa Francesco al Rettor Maggiore dei Salesiani, LEV, Città del Vaticano, 2015, 9.

7 ACG 427 (2018), 12.

8 ACG 427 (2018), 31.

9 MB XI, 309.

10 MB XVIII, 439.

11 Jo 2,5.

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