Parte II: O significado da peregrinação da urna


Parte II: O significado da peregrinação da urna

C aminhando com Dom Bosco

Subsídio para a preparação da peregrinação da urna de Dom Bosco

Subsídio prático de oração diante da urna




Parte II

O significado da peregrinação da urna



  1. O culto das relíquias na Igreja

    • A morte segundo os cristãos do primeiro século

    • Comunidade na vida e depois da morte

    • A lembrança dos cristãos defuntos

    • Catacumbas: os primeiros cemitérios cristãos

    • As perseguições e o culto dos mártires

    • O culto das relíquias dos mártires: S. Pedro e S. Policarpo

  1. O sentido da santidade

  • Deus fonte da santidade

  • Cristo chama a Igreja à santidade por meio do caminho do amor

  • Todos os batizados são convidados a ser santos

  • Os santos canonizados pela Igreja, “testemunhas da fé”

  • Intercessores junto ao Pai

  • A experiência da peregrinação da urna de S. Domingos Sávio

  • O significado da peregrinação da urna de Dom Bosco





















1 O culto das relíquias na Igreja

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1.1 A morte segundo os cristãos do primeiro século

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O evento mais importante da história da humanidade é a ressurreição de Jesus. Os apóstolos e os primeiros discípulos, depois das aparições do Ressuscitado e a descida do Espírito Santo, começaram a entender aquilo que o Filho lhes revelara. Os Evangelhos afirmam que em várias ocasiões Jesus anunciara aos discípulos a sua morte e ressurreição. No episódio da ressurreição de Lázaro, Jesus oferece um sinal do seu poder salvífico, indicando à primeira comunidade cristã que quem tivesse crido nele – ressurreição e vida – receberia a vida eterna:

«20Mal soube Marta da vinda de Jesus, saiu-lhe ao encontro. Maria, porém, estava sentada em casa. 21Marta disse a Jesus: Senhor, se tivesses estado aqui, meu irmão não teria morrido! 22Mas sei também, agora, que tudo o que pedires a Deus, Deus to concederá. 23Disse-lhe Jesus: Teu irmão ressurgirá. 24Respondeu-lhe Marta: Sei que há de ressurgir na ressurreição no último dia. 25Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em mim, ainda que esteja morto, viverá. 26E todo aquele que vive e crê em mim, jamais morrerá. Crês nisto? 27Respondeu ela: Sim, Senhor. Eu creio que tu és o Cristo, o Filho de Deus, aquele que devia vir ao mundo» (Jo 11, 20–27).

As religiões pagãs praticadas no império romano tinham uma ideia diferente da morte. A maior parte dessas religiões imaginava um além onde as almas dos mortos, como sombras, continuavam a existir, os "bons" com os "maus".

Os cristãos pensavam que para merecerem o paraíso deveriam crer em Jesus e seguir os seus ensinamentos. Era essencial fazer parte de uma comunidade cristã; não era possível salvar-se sozinho! Desde os inícios Jesus reuniu os discípulos ao seu redor e, mesmo depois da sua ascensão, os fieis continuaram a reunir-se e a partir o pão em comum, como o Mestre lhes ensinara.



1.2 Comunidade na vida e depois da morte

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Para os cristãos, a fé num só Deus e o seu culto exclusivo não era algo privado, mas influía igualmente em sua conduta pessoal e social. Jesus revelara que Deus é Pai: «Considerai com que amor nos amou o Pai, para que sejamos chamados filhos de Deus. E nós o somos de fato!» (1Jo 3,1). Esta consciência criava nos crentes uma relação totalmente especial entre si como filhos de Deus; eram, enfim, irmãos e irmãs. São Paulo, em algumas de suas cartas, compara a comunidade cristã a um corpo formado com muitos membros – que chama de corpo místico – dizendo que Jesus mesmo é a sua cabeça: «Ele é a Cabeça do corpo, da Igreja. Ele é o Princípio, o primogênito dentre os mortos e por isso tem o primeiro lugar em todas as coisas» (Cl 1,18).

Jesus está presente de modo misterioso, mas muito real, na comunidade dos crentes: «Porque onde dois ou três estão reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles» (Mt 18, 20).

Os Atos dos Apóstolos testemunham também que havia nas primeiras comunidades uma verdadeira e própria partilha de bens: ajudavam-se os pobres, socorriam-se as viúvas, assistiam-se os doentes. A Igreja, portanto, enquanto seus componentes estavam vivos, permanecia unida, mas, graças às promessas de Jesus, a união continuava também após a morte.

Refletindo sobre as palavras de Jesus, a Igreja das origens entendeu sempre mais que a pertença ao corpo místico referia-se também aos defuntos; portanto, a ligação de comunhão não era rompida pela morte. A morte não significava o fim, mas a passagem para uma vida nova que, depois do juízo final, diria respeito também ao corpo.

Por esse motivo, recusava-se o uso pagão da cremação e desejava-se inumar (sepultar) os entes queridos seguindo também nisso o exemplo do Senhor sepultado e ressuscitado.

Enquanto os pagãos falavam de "necrópole", isto é, cidade dos mortos, os cristãos consideravam seus cemitérios como dormitório (coemeterium), lugar de repouso onde se dormia até a ressurreição. Tomando à letra a fé na ressurreição, as tumbas eram geralmente utilizadas uma só vez.

Na Roma antiga, porém, havia o costume de jogar os defuntos em grandes fossas comuns, onde eram jogados também os recém-nascidos abandonados e os escravos que já não serviam para nada.



1.3 A lembrança dos cristãos defuntos

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A responsabilidade recíproca e a solidariedade que caracterizavam as primeiras comunidades cristãs não terminavam com a morte, mas compreendiam também os defuntos queridos; se, de fato, o defunto não podia permitir-se uma sepultura digna, a comunidade garantia a sua deposição numa tumba decorosa. Este profundo respeito pelos defuntos como irmãos de fé era totalmente novo na Roma antiga.

O luto pela morte de parentes amados ou de amigos queridos, como também a gratidão pelo tempo em que viveram juntos, impelia os cristãos a visitar continuamente as suas tumbas. Também os pagãos visitavam os defuntos, mas os cristãos tinham uma motivação mais profunda: a sua fé. Estavam profundamente certos de que viveriam juntos também no futuro, quando se teriam reconciliado para sempre. Sabendo que eram filhos do único Pai, irmãs e irmãos de fé, pensavam: Aqui onde os nossos caros dormem também nós dormiremos até o dia da ressurreição, no lugar comunitário de repouso; sepultados juntos, sem ligar para reputação, cargo, riqueza ou pobreza. Sabiam que um dia haveriam de ser incluídos na oração pela paz dos defuntos.



1.4 Catacumbas: os primeiros cemitérios cristãos

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Os cristãos de Roma, no primeiro século não tinham cemitérios próprios. Quando possuíam algum terreno, ali sepultavam os seus mortos; caso contrário, recorriam aos cemitérios comuns usados também pelos pagãos. Por isso, S. Pedro foi sepultado na necrópole da colina do Vaticano, aberta a todos; como também S. Paulo foi sepultado numa necrópole da via Ostiense.

Sobretudo a partir do século segundo o cristianismo começou a expandir-se e a converter pagãos que pertenciam a famílias ricas e prósperas. Esses crentes possuíam terrenos ou cemitérios de famílias, que colocavam à disposição dos irmãos de fé. Como se sabe, o cristianismo teve que atravessar grandes dificuldades, sobretudo devido ao paganismo e a alguns imperadores romanos. Sendo monoteístas, os cristãos recusavam-se a considerar o imperador dominus et deus, senhor e deus, desencadeando preconceitos e a ira das autoridades. Outras maledicências e falsidades deram origem a verdadeira e própria hostilidade que se transformou em perseguição, às vezes, até mesmo programada. Podia acontecer que os cristãos, a visitar seus defuntos e rezar junto a suas tumbas, fossem perturbados e ultrajados pela plebe ou encontrassem as tumbas sujas e profanadas.

Crescia, então, o desejo de um lugar sepulcral reservado à comunidade, onde se pudessem recordar os defuntos sem correr o risco de serem perturbados. Aumentando os cristãos, aumentava também a necessidade de novas sepulturas. Uma lei romana garantia o direito de servir-se da propriedade de terra que se estendesse também à parte subterrânea; bastava apenas cavar aquilo de que se precisava para usufruir dela respeitando seus limites.

Tiveram início então as catacumbas. Muitas delas surgiram e se desenvolveram ao redor de sepulturas de família. Com o passar do tempo, as áreas funerárias cresceram, às vezes por iniciativa da própria Igreja. O caso mais famoso é o das catacumbas de S. Calisto: a Igreja assume diretamente a sua organização e administração.

1.5 As perseguições e o culto dos mártires

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Como acenamos acima, nos primeiros séculos depois de Cristo, os cristãos foram acusados de deslealdade para com a pátria, de ateísmo, de impiedade e de ódio ao gênero humano. Entre outras coisas, eram suspeitos de delitos ocultos, como o incesto – pois se consideravam todos irmãos e irmãs –, de infanticídio e canibalismo ritual – diziam que comiam o corpo de Cristo –. Pelas suas culpas, eram considerados também a causa de calamidades naturais, como a peste, as inundações e as carestias.

Por isso, a religião cristã foi posta fora da lei e perseguida: era considerada como o inimigo mais perigoso do poder de Roma, que tinha por base a antiga religião olímpica e o culto do imperador, instrumento e símbolo da força e unidade do Império. Muitos cristãos foram mortos, muitos deram a vida por não renegar a fé em Cristo. As palavras de Jesus sobre o martírio começavam tragicamente a realizar-se:

«Mas, antes de tudo isso, vos lançarão as mãos e vos perseguirão, entregando-vos às sinagogas e aos cárceres, levando-vos à presença dos reis e dos governadores, por causa de mim» (Lc 21,12).

«Lembrai-vos da palavra que vos disse: O servo não é maior do que o seu senhor. Se me perseguiram, também vos hão de perseguir. Se guardaram a minha palavra, hão de guardar também a vossa» (Jo 15,20).



Os três primeiros séculos constituíram a era dos mártires.

Em 313, com o assim chamado "Edito de Milão", os imperadores Constantino e Licínio concederam liberdade de culto à Igreja. Entretanto, antes de Constantino, a perseguição nem sempre foi contínua e geral, estendida a todo o império, nem foi sempre igualmente cruel e cruenta. Períodos de relativa tranquilidade seguiam-se a períodos de perseguição.

Os mártires tornaram-se as Testemunhas da fé por excelência. O grande escritor cristão Tertuliano afirma que «o sangue deles foi semente de novos cristãos». Gradualmente, a lembrança dos defuntos tornava-se mais intensa quando se tratava de fazer memória de irmãos que tinham colocado em prática as palavras de Jesus até sacrificar a vida, o bem maior:

«Bem-aventurados sereis quando vos caluniarem, quando vos perseguirem e disserem falsamente todo o mal contra vós por causa de mim…» (Mt 5,11).


Os mártires começaram a ser venerados e invocados pelas Igrejas particulares em geral no dies natalis, isto é, no dia do seu nascimento para o céu. Praxe constante da Igreja foi reunir-se em assembleia litúrgica no lugar onde os mártires tinham dado testemunho de fé a Deus ou junto aos seus gloriosos sepulcros. Muitos fieis começaram até mesmo a fazer-se sepultar próximo de suas tumbas. Ao visitar as catacumbas de S. Calisto, pode-se notar que, junto à sepultura de S. Cecília, se encontram numerosos lóculos de devotos defuntos.

A oração sobre as tumbas dos mártires une em comunhão de louvor e súplica os membros da Igreja na terra àqueles que já contemplam a face de Deus. Esta comunhão tem seu momento mais forte na Eucaristia, quando o céu e a terra, os anjos, os santos e todos os fiéis em caminho se associam ao mesmo louvor por meio de Cristo Senhor, na unidade do Espírito Santo, para glória de Deus Pai.

1.6 O culto das relíquias dos mártires: S. Pietro e S. Policarpo

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Sobressai entre os primeiros mártires que deram a vida para defender o Evangelho o testemunho de S. Pedro. Já explicamos que ele foi sepultado na necrópole da colina do Vaticano, aberta a todos.

Em 1952 foram retomadas as escavações sob o atual altar papal da Basílica de S. Pedro, com resultados que nos ajudam a entender o quanto fosse importante para os primeiros cristãos venerar as tumbas dos mártires, nas quais estavam depostas suas relíquias. Encontrou-se um nicho funerário apoiado num muro contemporâneo chamado de "vermelho" pela sua cor e particularmente precioso por numerosos grafites sobrepostos. Estes foram decifrados por estudiosos muito preparados. Todos eles contêm invocações a Pedro. Ao seu nome uniram-se às vezes os nomes de Cristo e de Maria; encontram-se votos de vida "em Cristo" e "em Pedro", cujo nome é expresso pela sua chave simbólica. Na mesma necrópole vaticana, sobre a tumba dos Valérios, foi encontrada esta escrita:

«Petrus, roga pro sanctis hominibus chrestianis ad corpus tuum sepultis»:

Pedro, ora pelos santos homens cristãos sepultados junto ao teu corpo.


Trata-se, evidentemente de uma oração pelos cristãos tumulados perto do corpo do Apóstolo, sinal de que o próprio Pedro fora ali sepultado e ali era invocado. Parece que já pelo ano 150 d.C. este lugar de Roma na colina do Vaticano fosse meta de peregrinos.

S. Policarpo nasceu em Esmirna, na atual Turquia, no ano 69. Irineu, seu discípulo e bispo de Lion na Gália escreveu que ele «foi colocado pelos próprios Apóstolos como bispo para a Ásia na Igreja de Esmirna», pelo ano 100. É venerado como discípulo do apóstolo João e última testemunha dos Apóstolos. Por volta de 158 estoura uma perseguição em Esmirna. O velho bispo (com 86 anos) é levado ao estádio, para ser condenado por Quadrato, governador romano. Policarpo recusa-se a defender-se diante do governador, que deseja poupá-lo, e da multidão, declarando-se cristão. Foi morto enquanto rendia graças a Deus Pai por tê-lo achado digno de ser enumerado entre os mártires e participar do cálice de Cristo.

A Igreja de Esmirna, depois do martírio do seu bispo Policarpo e de onze fieis, escreveu às Igrejas próximas e a todas as comunidades da Igreja falando do seu fim glorioso. Acrescentava estas palavras que atestam a importância do culto das relíquias dos mártires:


«Nós veneramos dignamente os Mártires enquanto discípulos e imitadores do Senhor e pela sua suprema fidelidade ao próprio Rei e Mestre, e seja-nos concedido também ser seus companheiros e discípulos! [...]

Depois de ter recolhido os ossos de Policarpo, mais preciosos do que gemas raras e mais também do que ouro fino, nós as recolocamos lá onde era de rito. Neste lugar nós nos reuniremos exultantes e alegres sempre que nos for possível, e o Senhor nos permitir, para festejar a ocorrência do seu martírio, em memória de todos os que já enfrentaram a mesma luta e como exercício e preparação dos que a enfrentarão no futuro». (Martyrium Polycarpi: XVII, 3; XVIII, 2-3).



Com os mesmos sentimentos desses nossos irmãos de Esmirna queremos rezar junto às tumbas dos gloriosos mártires e celebrar na alegria o seu dies natalis. Graças à sua intercessão a nossa fé será mais sólida para poder enfrentar serenamente as provações da vida.






As relíquias dos márties e de seus restos mortais são lembranças preciosas a conservar com cuidado. Elas não são dotadas de poderes misteriosos capazes de produzir milagres! Essas relíquias e como veremos também a dos santos, colocam-nos em contato com o testemunho heróico de uma vida entregue inteiramente pelo Evangelho e suscitam e reforçam e nós a fé em Cristo.

A fé em Cristo é a única capaz de mover as montanhas.

Eis porque, rezando junto aos seus gloriosos sepulcros se obtêm tantas graças.


Na história da Igreja, nem todos os cristãos foram chamados ao martírio, mas todos são convidados a serem testemunhas da fé. Os cristãos que, mais do que todos, realizaram essa vocação são os santos. Eles gastaram a vida pelo reino de Deus, precederam-nos na vida empenhada na fé cristã e, com o seu exemplo, traçaram o caminho que conduz à casa do Pai. São dignos de serem lembrados e venerados, ajudam-nos a tornar mais sólida a nossa fé.

No próximo capítulo falaremos deles.


2 O sentido da santidade

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2.1 Deus fonte da santidade

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A palavra “santo” pode ser entendida de diversos modos.

No Antigo Testamento a santidade é atributo exclusivo de Deus. Só Deus è santo. «Só vós sois o Santo», proclamamos no Glória da Missa, e o repetimos três vezes no cântico do Sanctus e nas várias orações eucarísticas. As palavras da liturgia proveem do livro do profeta Isaias, onde é descrita a revelação, na qual o profeta é admitido a contemplar, para anunciá-lo ao povo, a majestade da glória de Deus:


«... vi o Senhor sentado num trono muito elevado... Os serafins se mantinham junto dele... Suas vozes se revezavam e diziam: Santo, santo, santo é o Senhor Deus do universo! A terra inteira proclama a sua glória» (Is 6,1-3).


Enquanto no Antigo Testamento a santidade era uma qualidade exclusiva de Deus, que o separava do povo, graças a Jesus a santidade de Deus difunde-se sobre todos os que creem nele. Não faz mais referência à ideia de separação, mas à de comunhão. A Igreja inteira é chamada então à comunhão com Deus e ao amor, a Igreja inteira é chamada à santidade.


2.2 Cristo chama a Igreja à santidade através do caminho do amor

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Em toda a sua pregação, Jesus ensinou o caminho do amor. Interrogado sobre qual era o mais importante dos mandamentos, respondeu sem hesitar:


«29Jesus respondeu-lhe: O primeiro de todos os mandamentos é este: Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor; 30amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu espírito e de todas as tuas forças. 31Eis aqui o segundo: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Outro mandamento maior do que estes não existe». (Mc 12,29-31).


Para explicar mais concretamente aos discípulos como fazer para amar a Deus e aos irmãos na vida de cada dia, Jesus ensinou a eles e à multidão presente, as Bem-aventuranças do Reino (Mt 5,1-11).

È, portanto, mediante a prática do amor que podemos chegar à meta da nossa vida, a santidade, Deus mesmo! Quanto mais amarmos, mais imitaremos a Deus que é todo amor:


«7Caríssimos, amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus, e todo o que ama é nascido de Deus e conhece a Deus. 8Aquele que não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor» (1 Jo 4,7-8).


Adquirindo o estilo de vida evangélico teremos a alegria de pôr em prática e exortação de Jesus: «Vos, portanto, sede perfeitos, assim como vosso Pai celeste é perfeito» (Mt 5,48).

Jesus deixou a toda a Igreja a missão ser santa. Por isso, ele deu a própria vida para santificá-la, isto é, para que todos aqueles que creem nele sejam alcançados pelo amor de Deus e repletos desse amor. Desta maneira, os fieis são acolhidos na casa da Trindade, onde o Pai, o Filho e o Espírito Santo se amam desde sempre e onde agora, com Eles, moramos também nós.

A igreja é, portanto, santa! São Paulo refletindo sobre esse mistério, como dissemos, compara a comunhão dos fieis a um corpo: o corpo místico. Significa que Cristo, escolhendo morrer na cruz, uniu a Igreja ao seu corpo formando um novo ser vivo que encheu de Espírito Santo, isto é, de amor.

2.3 Todos os batizados são convidados a ser santos

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Nas antigas comunidades cristãs, pelos motivos acima enunciados, o atributo de "santo" não era reservado só a alguns eleitos, mas era o modo comum com que todos os cristãos eram chamados. Eis como S. Paulo cumprimenta a comunidade de Corinto em sua primeira carta:

«1Paulo, apóstolo de Jesus Cristo por chamamento e vontade de Deus, e o irmão Sóstenes, 2à igreja de Deus que está em Corinto, aos fiéis santificados em Jesus Cristo, chamados santos, juntamente com todos os que, em qualquer lugar que estejam, invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso; 3a vós, graça e paz da parte de Deus, nosso Pai, e da parte do Senhor Jesus Cristo» (1Cor 1,1-3).


Paulo chama de santos todos os fieis cheios do amor de Deus graças ao sacrifício de Jesus, mas ao mesmo tempo convida-os a continuar a caminhar no amor:


«1Rogamo-vos, pois, e vos exortamos no Senhor Jesus a que progridais sempre mais. 2Pois conheceis que preceitos vos demos da parte do Senhor Jesus. 3. Esta é a vontade de Deus: a vossa santificação» (1Ts 4,2-3).


Como se pode realizar o projeto de amor que Deus tem em relação a nós? Como fazer para caminhar no caminho dos santos? Poder-se-ia dar muitas respostas, mas fundamentalmente se trata de pôr em prática novamente as palavras de Paulo: «Tende em vós os mesmos sentimentos que foram de Cristo Jesus» (Fl 2,5).

2.4 Os santos canonizados pela Igreja, “testemunhas da fé”

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A mãe Igreja, em sua sabedoria, pensou desde seus inícios que para ajudar os fieis a caminharem pelo caminho do amor não era necessário escrever tratados teológicos, quem sabe complexos e pouco acessíveis aos simples. Entendeu, porém, que a scientia amoris – a ciência do amor – não se aprende nos livros, mas seguindo o exemplo dos fieis que mais do que todos souberam ter os mesmos sentimentos de Jesus. Eles são as testemunhas da fé de que falamos.

De início, escreviam-se os testemunhos sobre o martírio dos fieis chamados de Atos ou de Paixões dos mártires. Depois do século terceiro, foram escritas também as vidas de santos monges, de santos bispos e de outros santos fieis que eram propostos como modelos acabados de santidade. A Igreja começou a se pronunciar oficialmente e indicar os exemplos de vida cristã dos que eram chamados santos. Eram, muitas vezes, os próprios cristãos que, admirados pelo testemunho desses grandes cristãos, insistiam para que fossem logo reconhecidos como santos pela Igreja.

Os santos eram imitados por todos. Havia a convicção, e ainda há, de que eles, após a morte, já tivessem entrado na casa da Trindade, que já tivessem sido admitidos à presença do Pai, do Filho e do Espírito Santo.



2.5 Intercessores junto do Pai

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Justamente por estarem convencidos da sua proximidade com o Pai, os santos foram considerados como intercessores poderosos. Reza-se a Deus por intercessão dos santos porque a eles, que por toda a vida amaram a Jesus com afinco, o Pai por meio do Filho (no Espírito Santo) não recusará certamente o favor de que o fiel tem necessidade. Eles, que estão tão próximos de Deus poderão falar mais facilmente das ansiedades e dos problemas que afligem os fieis na terra. Reforça-se, assim, a união entre a Igreja peregrina na terra e a Igreja celeste que já contempla a face de Deus.

Os santos não eram, então, defuntos 'quaisquer'. A oração pelos defuntos, sobre o falamos anteriormente, tinha um significado diverso. Em muitas inscrições nas catacumbas encontrava-se escrito: «O pensamento de rezar pelos defuntos é santo e salutar, para que sejam absolvidos dos pecados», justamente porque rezando por eles queria-se acelerar em certo sentido, o seu encontro com o Pai. A oração dirigida aos santos é uma oração de intercessão, diferente, porém – é sempre bom esclarecê-lo – da oração de adoração que só pode e deve ser dirigida à Santíssima Trindade.



Por este motivo os santos começaram a ser venerados como os mártires.

Seus restos mortais e suas relíquias foram venerados com a mesma devoção



O Concílio Vaticano II, na Constituição Dogmática "Lumen Gentium", que trata da Igreja, sintetiza com estas palavras aquilo que procuramos explicar agora.

«A Igreja sempre acreditou que os apóstolos e mártires de Cristo que, derramando o próprio sangue, deram o supremo testemunho de fé e de caridade, estão mais ligados conosco em Cristo, os venerou com particular afeto, juntamente com a Bem-aventurada Virgem Maria e os santos Anjos e implorou o auxílio da sua intercessão. Aos quais bem depressa foram associados outros, que mais de perto imitaram a virgindade e pobreza de Cristo e, finalmente, outros, cuja perfeição nas virtudes cristãs e os carismas divinos recomendavam à piedosa devoção dos fiéis.

Com efeito, a vida daqueles que fielmente seguiram a Cristo, é um novo motivo que nos entusiasma a buscar a cidade futura (cf. Hb 14,14; 11,10) e, ao mesmo tempo, nos ensina um caminho seguro, pelo qual, por entre as efêmeras realidades deste mundo e segundo o estado e condição próprios de cada um, podemos chegar à união perfeita com Cristo, na qual consiste a santidade. É, sobretudo na vida daqueles que, participando conosco da natureza humana, se transformam, porém, mais perfeitamente à imagem de Cristo, (cf. 2Cor 3,18) que Deus revela aos homens, de maneira mais viva, a sua presença e a sua face. Neles nos fala, e nos dá um sinal do seu reino, para o qual, rodeados de tão grande nuvem de testemunhas (cf. Hb 12,1) e tendo tal afirmação da verdade do Evangelho, somos fortemente atraídos.

Porém, não é só por causa de seu exemplo que veneramos a memória dos bem-aventurados, mas ainda mais para que a união de toda a Igreja aumente com o exercício da caridade fraterna (cf. Ef 4, 1-6). Pois, assim como a comunhão cristã entre os peregrinos nos aproxima mais de Cristo, assim a comunhão com os santos nos une a Cristo, de quem procedem, como de fonte e cabeça, toda a graça e a própria vida do Povo de Deus.

É, portanto, muito justo que amemos estes amigos e co-herdeiros de Jesus Cristo, nossos irmãos e grandes benfeitores, que demos a Deus, por eles, as devidas graças, "lhes dirijamos as nossas súplicas e recorramos às suas orações, ajuda e patrocínio, para obter de Deus os benefícios, por Seu Filho Jesus Cristo, Nosso Senhor e Redentor e Salvador único". Porque todo o genuíno testemunho de veneração que prestamos aos santos, tende e leva, por sua mesma natureza, a Cristo, que é a "coroa de todos os santos" e, por Ele, a Deus, que é admirável nos seus santos e neles é glorificado» (LG 50).



2.6 A experiência da peregrinação da urna de S. Domingos Sávio

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A Congregação salesiana, na Itália e em algumas outras Inspetorias, já viveu a experiência da peregrinação da urna de S. Domingos Sávio. Em 2004, o Reitor-Mor aproveitou a ocasião dos 150 anos da morte de Domingos Sávio para relançar a santidade juvenil, a partir do exemplo da vida do jovem santo. A estreia de 2004 assim se expressava:



«Relancemos a todos os jovens com convicção
a alegria e o empenho da Santidade

como medida alta de vida cristão ordinária»



Naqueles anos, o Papa João Paulo II propunha à Igreja, e de modo especial aos jovens, a perspectiva da santidade, como fundamento e ponto central do programa pastoral para o novo milênio:

«Jovens de todos os continentes, não tenham medo de serem os santos do novo milênio! Sejam contemplativos e amantes da oração; coerentes com a própria fé e generosos no serviço aos irmãos, membros ativos da Igreja e artífices de paz» (Mensagem para a XV Jornada Mundial da Juventude 2000).

A peregrinação da urna foi uma ocasião extraordinária para redescobrir o testemunho e o exemplo de Domingos. Rezando junto à urna, pequenos e grandes colocaram em suas mãos muitas orações e intenções para que ele, que amara tanto o Senhor, pudesse interceder por todos. Muitas mães gestantes rezavam pelos filhos seguras de que Domingos, protetor delas, se interessaria para que Jesus ouvisse os pedidos que estivessem em sintonia com a vontade do Pai. Muitos jovens retomaram a vida de Domingos Sávio, escrita pelo mesmo Dom Bosco, que já fizera tanto bem a gerações de jovens cristãos, bispos e papas inclusive.

Fé, oração, desejo de santidade e graças especiais são os frutos mais belos que o Pai, através da intercessão de Domingos, quis dar aos fieis que acorreram para visitar a urna peregrina.



2.7 O significado da peregrinação da urna de Dom Bosco

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Ao final deste nosso pequeno itinerário, tiremos as conclusões que já são em grande parte claras para o leitor.

Também neste caso, a ocasião é extraordinária. A estreia de 2008 convidou-nos a «educar os jovens segundo o coração de Dom Bosco»; o Capítulo Geral 26, na mesma linha, pediu-nos para retornar às fontes do nosso carisma a partir do lema do Fundador: «Da mihi animas, cetera tolle». O Reitor-Mor deseja que a Família Salesiana inteira continue a evangelizar os jovens que o Senhor lhe confia, com estes mesmos sentimentos. Para isso, é preciso que ela reflita sobre a própria identidade. È fundamental, portanto, continuar a amar e aprofundar Dom Bosco. A estreia de 2009 é assim formulada:



«Empenhemo-nos por fazer da Família Salesiana

um vasto movimento de pessoas para a salvação dos jovens ».



Dois grandes acontecimentos justificam e enriquecem a escolha da Estreia para 2009:

  • os 150 anos de fundação da Congregação Salesiana;

  • a preparação do bicentenário do nascimento de Dom Bosco (1815-2015).

Com a lembrança dos 150 anos da Congregação Salesiana dá-se início à preparação para o bicentenário do nascimento de Dom Bosco. Esta celebração quer significar fidelidade renovada a Dom Bosco, à sua espiritualidade, à sua missão; será um Ano santo "salesiano".





A peregrinação da urna será uma ocasião de retomar nas mãos a vida de Dom Bosco como deseja o Reitor-Mor. O testemunho da sua vida haverá de nos ajudar a imitar a sua fé, o seu amor pelo Senhor e o seu zelo pelos irmãos, sobretudo os jovens mais pobres. Toda a Família Salesiana do mundo reunir-se-á para rezar junto à urna, formando uma comunidade de fieis chamada por Cristo à santidade, que deseja santificar-se seguindo o exemplo de Dom Bosco. Rezando junto à urna, pequenos e grandes colocarão em suas mãos tantas orações e intenções para que ele, que tanto amou o Senhor, possa interceder por eles.









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