Parte I: Vida de São João Bosco


Parte I: Vida de São João Bosco

C aminhando com Dom Bosco

Subsídio de preparação para a peregrinação da Urna de Dom Bosco

Subsídio prático de oração na frente da urna





Parte I

Vida de São João Bosco


  1. Introdução à primeira parte

  2. Perfil biográfico de são João Bosco

    • Joãozinho Bosco (1815-1830)

Ficha para crianças e pré-adolescentes

    • O jovem João Bosco (1830-1841)

Ficha para adolescentes e jovens

    • Dom Bosco e o início do Oratório (1841-1846)

Ficha para jovens-adultos e animadores

    • Dom Bosco fundador consolida a sua obra (1846-1869)

Ficha de reflexão para educadores e adultos

    • Dom Bosco idoso conclui a sua obra (1869-1888)
























1 Introdução

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A finalidade principal do Sistema Preventivo ideado e vivido por Dom Bosco é sem dúvida a santidade. Dom Bosco desejava que os seus salesianos fossem santos e educadores de santos. Domingos Sávio, depois de ouvir uma prática, ou palestra, de Dom Bosco sobre a santidade, escreveu-lhe um bilhete com uma frase muito séria: «Ajude-me a fazer-me santo». A famosa prática era dividida em três pontos:

  1. Deus quer que todos nos façamos santos.

  2. É muito fácil chegar a isso.

  3. Para quem se faz santo está reservado um grande prêmio no Céu.

Se este era o principal desejo de Dom Bosco, devemos empenhar-nos por realizá-lo. A peregrinação da urna de Dom Bosco quer exatamente encorajar-nos a seguir o exemplo do santo. Foi por isso que pensamos em preparar este subsídio.

A primeira parte deste trabalho reconta os episódios salientes da vida de são João Bosco. E está dividida em cinco partes, segundo as fases significativas do seu crescimento. Haverá assim a história do Joãozinho Bosco, do jovem João Bosco, do Dom (=Padre) Bosco apenas entrado na idade adulta, do Dom Bosco já homem maduro e, enfim, do Dom Bosco sacerdote idoso que se prepara para ir ao Céu.

No final de cada narração, exceto da última, são inseridas fichas de trabalho que ajudam o leitor a pôr em evidência algumas das virtudes que o santo viveu de modo heróico naquela fase específica da sua vida.

Assim o salesiano ou o educador atento poderá oferecer a crianças, adolescentes ou jovens, e aos mesmos pais, tópicos concretos de reflexão que talvez os possam ajudar a viver mais frutuosamente a passagem da urna pela própria comunidade. As virtudes estão pensadas a partir da experiência que vive a faixa de idade focalizada: para a criança, falar-se-á, p. ex., da importância da obediência e da oração; para o adolescente, do cumprimento do próprio dever e do primado do ser perante o ter; para o adulto, da união com Deus.

As fichas devem ser lidas junto com os parágrafos do texto e podem ser entregues diretamente às mãos dos adolescentes e jovens, porque a linguagem tentou adaptar-se a eles. Para os pequenos e adolescentes estão assim organizadas:

  1. Apresentação da virtude.

  2. Atualização.

  3. Proposta de empenhos concretos, ou propósito.


As reflexões para animadores, jovens e educadores partem do texto e aprofundam algumas temáticas úteis para se chegar à vida dos leitores: antes propõem o assunto e, a seguir, lançam perguntas de avaliação, sugerindo, de maneira explícita ou implícita, algumas linhas de ação.


Sua leitura e uso podem ser úteis. São sugestões.

Um texto breve mas completo da vida de são João Bosco, além disso, nos parece já de per si um instrumento válido para o leitor. Todavia, a fantasia e a criatividade dos educadores saberão com certeza colher e adaptar o material de que precisam nas suas situações concretas. Esta a finalidade de um subsídio.

O nosso São Francisco de Sales, por seu lado, com uma analogia que lhe era mui cara, nos recomenda:

Façamos como as abelhas que para fazer um bom mel tomam o melhor de cada flor.


2 Joãozinho Bosco (1815-1830)

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2.1 Órfão de pai

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João Bosco nasceu nos Becchi em 16 de agosto de 1815 de uma família de camponeses. Os Becchi eram realmente um punhadinho de casas a meio caminho entre Capriglio e Castelnuovo d’Asti. O pai chamava-se Francisco Bosco. A mãe, Margarida Occhiena. Francisco desposou Margarida depois que ficara viúvo e com uma criança, o pequeno Antônio. A casal teve dois filhos: José e João. Joãozinho tinha apenas dois anos quando perdeu o pai, atingido por uma pneumonia. Dom Bosco dirá mais tarde que a primeira lembrança da sua vida estava ligada exatamente à morte do seu papai: todos deixavam o quarto onde Francisco acabava de morrer, mas ele não queria sair. Então a mãe lhe disse:

  • Vem comigo, João –. Mas ele respondeu:

  • Se papai não vier, eu também não vou –. E Margarida:

  • Vem, filhinho, vem! Já não tens pai!

E juntos choraram. Longamente.

Com 29 anos, Mamãe Margarida viu-se só, à frente da família: devia acudir à idosa mãe de Francisco, ao Antônio, e aos dois pequenos José e João. Mas ela não se deu por vencida: arregaçou as mangas e começou a trabalhar.


2.2 Tantas coisas para fazer

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A vida nos Becchi era bem puxada: logo cedo precisava ir à roça, cortar trato, arar a terra, semear e fazer a colheita, segundo as estações do ano. A uva, então, exigia muito cuidado, sobretudo na hora de colher, ou fazer a vindima. Mas não havia só isso: era preciso pensar na casa, na cozinha; lavar, passar, buscar água; e, entre as tantas outras coisas, cuidar dos animais e do estábulo. É nesse ambiente que Joãozinho cresce e onde ajuda a mãe como pode: busca lenha e água, descasca legumes, ajuda a pôr ordem no estábulo… E enquanto não tem as forças necessárias para trabalhar a terra, como já fazia Antônio, ia com José a pastorear os animais e, entre um passeio e outro, brincava pelos prados. E se dedicava a outros seus interesses.

Quando ia só, embrulhava e levava consigo uma gostosa e macia fatia de pão de trigo: era a sua merenda. Na pastagem esperava-o já um seu amigo: esse entretanto levava para a merenda uma fatia de pão escuro, misto de farinha de polenta e centeio, não certamente tão gostoso como o seu...

Um dia, João deu ao colega o seu pão macio e branco, e disse:

Tome! É seu!

  • E você?!

  • Prefiro o seu pão escuro.


Com freqüência encontrava-se com os amigos das casas vizinhas. Nem todos gente... fina: havia dos que diziam palavras indecentes e bancavam os prepotentes! Juntos jogavam «lippa», algo parecido com o beisebol de hoje. Depois de uma dessas partidas, o Joãozinho voltou para a casa com o rosto todo sangrando: o projétil de madeira o tinha atingido no rosto. Enquanto o ‘medicava’, Mamãe Margarida bem preocupada lhe disse:

Vejo que algum dia desses V. ainda me voltará para casa sem um olho! Por que anda com essa gentinha? Já sabe que alguns não são nada bons.

Está bem, Mamãe, se for para lhe agradar, não irei mais. Mas veja: quan­do eu estou com eles, eles se comportam muito melhor.

Margarida suspirava. E o deixava ir.

2.3 Não podemos esquecer de rezar a Deus

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Quando em noites de verão, Margarida e os filhos se reuniam na frente da casa para contar alguma história, aquela santa mãe concluía:

Foi Deus quem criou o mundo e botou lá em cima tanta estrelinha. Se é tão belo o céu estrelado, como não será o Paraíso!

Quando pelo caminho deparavam com um prado florido:

– Quantas coisas lindas Deus fez para nós!

Quando ao contrário se armava e desabava o temporal, com relâmpagos e trovões que estemeciam a todos de medo, Margarida os tranquilizava, dizendo:

Como Deus é poderoso! Quem poderia lutar contra ele? Não cometamos pecados!

Joãozinho ouvia. E aprendia dos lábios da Mãe a respeitar a Deus. Naquela casa, ao meio-dia se paravam todos os trabalhos e se rezava o Ângelus: com a mãe saudavam três vezes ao dia a santa Mãe de Deus. De manhã e à noite, e antes das refeições, se rezava sempre. Quando os filhos iam brincar nos prados próximos, a mãe lhes recomendava sempre:

Não se esqueçam de que Deus nos vê e que lê também os nossos pensamentos!

Joãozinho lembrava... E embora algumas vezes aprontasse das suas, não esquecia de agradecer a Deus. Já como padre, contará: « Quando eu era ainda muito pequeno, minha Mãe me ensinou as primeiras orações. Logo que pude juntar-me aos irmãos, me fazia ajoelhar com eles, de manhã e de noite. Lembro que foi ela quem me preparou para a primeira Confissão».

2.4 Um sonho que muda a vida

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A vida do pequeno João continua tranquila entre trabalhinhos, um pouco de escola e oração. Uma noite, diferente de todas as outras, teve um sonho muito estranho. Contou-o ele mesmo alguns anos mais tarde:

«Aos nove anos tive um sonho, que me ficou impresso profon­damente na mente por toda a vida. Durante o sono pareceu-me estar perto de casa num pátio muito amplo, onde havia um grande número de meninos que brincavam. Alguns riam. Não poucos blasfemvam. Ao ouvir aquelas blasfêmias atirei-me logo para meio deles, com socos e gritos para fazê-los calar.

Naquele momento apareceu um Homem encantador, trajando nobremente. Seu rosto era tão luminoso que não o podia fixar. Chamou-me pelo nome e me disse:

  • Não com pancadas, mas com a paciência e a bondade deverá conquistar estes seus amigos. Explique logo a eles quão feio é viver no pecado e quão precioso é, ao invés, viver na amizade de Deus.

Confuso e espantado respondi que eu era um pobre menino e por cima ainda ignorante. Naquele momento os meninos, deixando as brigas e a gritaria, se juntaram ao redor daquele Homem que me falava. Quase sem dar-me conta do que dizia, perguntei:

– Quem é o senhor que me manda fazer coisas impossíveis?

Eu sou o Filho daquela Senhora que sua mãe lhe ensinou a saudar três vezes por dia. O meu nome pergunte-o à minha Mãe.

Naquele momento apareceu perto dele uma Senhora: seu aspecto era maje­stoso. Seus trajes e manto brilhavam como o so­l. Vendo-me confuso, chamou-me para perto de si e tomando-me com bondade pela mão me disse:

– Olhe!

Olhando vi que todos aqueles meninos haviam fugido; em seu lugar apareceu um grande número de cabritos, cães e gatos, ursos e outros animais.

Eis o seu campo, eis onde deverá trabalhar. Torne-se humilde, forte e robusto: E aquilo que neste momento você vê acontecer a estes animais, você o fará com os meus filhos.

Virei então o olhar e eis que ao invés de animais ferozes apareceram outros tantos dóceis cordeirinhos, que saltitando e balindo, corriam para o redor daquele Homem e daquela Mulher.

Nessa hora, sempre em sonho, desatei a chorar. E pedi Àquela Senhora que me falasse claramente, porque eu não entendia nada daquilo que me estava dizendo. Então, pondo-me a mão sobre a cabeça, me disse:

–A seu tempo tudo compreenderá.

Tinha apenas dito essas palavras que um barulho me acordou. E tudo desapareceu. Fiquei apreensivo. Parecia que as mãos me doessem pelas pancadas que havia dado e que o rosto me ardesse pelos tapas que havia recebido daqueles rapazolas».

Quando amanheceu, Joãozinho pulou da cama, fez uma rápida oração e desceu correndo para a cozinha, onde se encontravam a mãe, a avó, e os dois irmãos José e Antônio. Não aguentou por muito tempo: acabou contando todo o sonho que tivera. De fio a pavio. Os irmãos, naturalmente, desandaram a rir:

Será um pastor de ovelhas! – disse o José.

Ou um chefe de bandidos! – acrescentou o Antônio, para provocar.

Margarida, ao invés, ficou muito séria. Olhou para o filho inteligente e generoso, e disse:

Quem sabe se você algum dia não será sacerdote!

Mas a Vó, batendo com impaciência a bengala no chão, resmungou estas palavras:

Os sonhos são sonhos. Não precisa acreditar. Vamos tomar café.


2.5 Quero estudar!

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João teria querido não ligar para o sonho. Mas não era tão fácil assim. As palavras da mãe lhe voltavam sempre à cabeça. De um jeito ou de outro, as coisas que lhe tinha dito eram verdadeiras. E depois, já fazia tempo que se perguntava, encabulado, por que, quando via um sacerdote, esse nunca se aproximava dele rapazinho para trocar algumas palavras.

Não é certo – pensava –. Eu, se fosse padre, o faria.

Depois de pensar um bocado toma uma decisão:

–Quero estudar para ser padre!

João, entre um trabalho e outro, começa a ler algum livro. Tinha feito somente o segundo primário como era tradição pelos seus lados, porque Antônio não queria que continuasse a estudar. Dizia:

–Não é necessário. Basta que saiba ler e contar.

Várias vezes o irmão maior, vendo-o na pausa do trabalho com um livro na mão, lhe chamava a atenção. Severamente! Algumas vezes chegou até a bater. Algumas vezes João respondia, outras, engolia. Mas ia em frente, às escondidas. Margarida tentava mediar para convencer Antônio a que o deixasse estudar. Mas não era nada fácil, porque também Antônio trazia um dinheirinho para casa.


2.6 O pequeno saltimbanco de Deus

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Por entre todas essas dificuldades, Joãozinho não deiava de pensar no seu sonho: e este o impelia a ir para a frente e dar duro. Já conhecia outros rapazes em situação semelhante: vi­viam com famílias vizinhas ou espalhadas pelo campos. Muitos eram bons. Mas havia-os também prepotentes, ignorantes. Blasfemadores, até. Colhera já os frutos no jogo da «lippa»… Alguns já eram seus amigos, mas Joãozinho queria fazer algo mais. Devia fazer! Teve essa idéia durante uma festa de Padroeiro. Decidiu ‘estudar’ os truques dos mágicos e os segredos dos equili­bristas. Pagou duas moedinhas para ficar bem na primeira fila nas barracas. Tinha pedido aquele dinheiro à mãe. Ela entretanto lhe disse:

Vire-se como quiser, mas não me peça mais dinheiro, porque já está curto!

E como sempre obedeceu. Mas pegou passarinhos e vendeu. Fez cestos e gaiolas e os passou adiante. Coletou ervas medicinais e as levou ao boticário de Castelnuovo... Finalmente havia juntado a soma desejada.




Voltou para casa. Tentou caminhar na corda, tirar frango vivo da panela... Foram necessários meses e meses de exercício, constância, tombos. E de risadas dos irmãos. Finalmente conseguiu. O espetáculo estava pronto!

Convidou os amigos. Todos! Não cobrou entrada para ver a exibição: queria só que, no intervalo, rezassem com ele e escutassem o sermão do domingo que ele tinha gravado na memória ouvindo com atenção o sacerdote na igreja. Com frequência ele contava também fatos edificantes que tinha lido em algum dos seus livros. Nem sempre o espetáculo acabava bem…: um dia Antônio chegou do campo exatamente no meio da exibição... Atirou por terra a enxada e ficou furiosíssimo:

Eis aí o palhaço! O vadio! Eu a me arrebentar na roça e ele aí a bancar o charlatão!

João engoliu em seco... e deslocou a sua platéia para uns duzentos metros mais longe.


2.7 Longe de casa

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As coisas com Antônio começaram a piorar de vez. Por ter carregado um livro à mesa, Joãozinho acabou levando a maior surra do mundo! Nunca apanhou tanto! E aí a vida ficou impossível. Certa manhã de fevereiro (em pleno inverno no hemisfério norte) Mamãe Margarida tomou uma decisão muito dura. Para ela e para o filho:

João, é melhor que v. saia de casa. Antônio algum dia poderia fazer-lhe mal.

Deu-lhe o nome de algumas famílias de agricultores onde poderia achar um empreguinho e, pondo-lhe no ombro uma trouxinha, beijou-o com suma tristeza. Chegou na casa dos Moglia (pron. mólha). Depois de um silêncio, criou coragem e entrou pelo portão adentro: a família estava reunida no pátio, ou eira, e preparava os vimes com que amarrar as videiras. Inicialmente o Sr. Moglia não o quis assumir. Mas depois a Senhora Dorotéia, sua mulher, se enterneceu:

Aceite-o, Luís. Por alguns dias ao menos!

João se empenhou a fundo, também para não ser despedido: trabalhava da manhã à noite. Depois que os outros iam dor­mir, acendia uma vela e continuava a ler os livros que lhe tinha emprestado o seu professor de primário, P. Lac­qua. Lia até mesmo enquanto guiava os bois para arar. Luís tinha um tio: era o velho José. Certo dia, ao voltar do campo todo molhado de suor, viu João que ao meio-dia se ajoelhou para rezar o Ângelus:

  • Oh bravo! Vejam só! Nós, patrões, trabalhamos e suamos, enquanto que o empregadinho se fica aí a rezar em santa paz!

  • Quando é preciso trabalhar, o senhor sabe que eu faço tudo o que posso. Mas minha mãe me ensinou que, quando se reza, de dois grãos nascem quatro espigas; mas, se não se reza, de quatro grãos nascem apenas duas espigas. Por isso – acrescentou sorrindo mas respeitoso – é melhor que reze um pouquinho também o senhor!

Em novembro de 1829 foi visitá-lo o tio Miguel, irmão da mãe:

Então, João, como vai? Está contente?

Olhe tio, aqui me tratam até bem demais! Mas não estou contente: o senhor sabe que eu quero estudar e o tempo passa: já fiz 14 anos!

O tio Miguel levou-o para casa. Antônio ficou irritado com aquela decisão. Mas, depois de uma discussão muito acesa, aceitou que João estudasse, contanto que ele não tivesse nada a pagar por isso.

2.8 O P. Calosso, um pai espiritual

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Entretanto em setembro de 1829 viera a Morialdo um capelão chamado João Calosso, um idoso sacerdote de 70 anos. Era muito amável e paterno. Logo depois João voltou para casa, naquele mesmo mês de novembro, foram organizadas em Buttigliera, não muito longe dos Becchi, algumas pregações pelos padres missionários. João – também para aprender alguma novidade que contar aos seus amigos reencontrados – foi àquelas pregações. E ao voltar para a casa, viu com sua sua grande surpresa que aquele sacerdote idoso e de boa cara se aproximava dele e lhe dizia:

De onde é você, meu filho?

Dos Becchi. Fui ouvir a pregação dos missionários.

Que será que você entendeu com todas aquelas citações em latim! Quem sabe se sua mãe não lhe poderia fazer uma boa prédica, melhor!?

De fato, minha mãe faz sim! E com freqüência! E são prédicas muito boas! Mas parece-me que entendi também os missionários.

Oh bravo! Então, vamos lá: se me disser quatro palavras da pregação de hoje, lhe dou quatro moedas.

João começou a racontar ao capelão todo o sermão. Tintim por tintim! Como se estivesse lendo num livro! O P. Calosso ficou ma-ra-vi-lha-do!

–Como se chama?

–João Bosco. Meu pai morreu quando eu tinha dois anos.

E que escola já fez?

–Aprendi a ler e escrever com o P. Lacqua, em Capri­glio. Gostaria muito de continuar a estudar, mas o meu irmão mais velho não quer saber, e os párocos de Castelnuovo e de Buttigliera não têm tempo para me ajudar.

–E para que você gostaria de estudar?

Para ser padre! Ser sacerdote!

Diga a sua mãe que venha ver-me em Morialdo. Quem sabe se, embora velho, eu não o posso ajudar?

Margarida não perdeu tempo. Foi falar com o P. Calosso. Decidiram mandar João ficar na casa paroquial durante o dia, onde poderia seguir mais facilmente as aulas, fazer as tarefas e estudar. Dom Bosco mesmo racontará um dia: «Coloquei-me logo nas mãos do P. Calosso. Manifestei-lhe toda palavra, cada pensamento. Aprendi então o que era ter um guia estável, um fiel amigo da alma, que até aquele tempo eu não tivera. Animou-me a freqüentar a confissão e a comunhão, e me ensinou a fazer cada dia uma pequena meditação. Ninguém pode imaginar a minha alegria. Amava o P. Calosso como a um pai. Servia-o de boa vontade em todas as coisas. Aquele homem de Deus me queria realmente bem».


2.9 O P. Calosso morre

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Joãozinho era feliz. Podia finalmente fazer o que sempre queria fazer. Tinha além disso encontrado o pai que nunca tivera, embora Margarida nunca lhe tivesse deixado faltar nada. Mas um dia, o idoso sacerdote tinha mandado João a dar uns recados a alguns dos seus parentes. Mal pusera um pé em casa viu chegar uma pessoa que lhe disse todo aflita:

Logo, João! Volte logo para o P. Calosso! Está muito mal e quer vê-lo imediatamente.

Joãozinho voou para junto daquele seu pai que encontrou agonizando. Ainda pôde sorrir-lhe uma última vez, porque depois de algumas horas de agonia morreu.

Para João a morte do P. Calosso foi um golpe realmente duro: chorava. Ninguém conseguia consolar. Tudo lhe falava dele. Mesmo de noite o acompanhava uma profunda tristeza. Mamãe Margarida decidiu mandá-lo para um pouco de férias junto dos avós. Mas depois disso deveria voltar ao trabalho do campo: Antônio tinha sido claro a respeito. Nesse tempo João contou ter tido um outro sonho: «Vi uma pessoa que repreendia seriamente porque desanimar daquele jeito significava ter tido mais confiança numa pessoa do que em Deus»

2.10 Finalmente livre!

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Quando voltou, Margarida mais uma vez intuiu o que fazer de melhor. Decidiu dividir os bens entre Antônio e o resto da família. Para fazer isso era preciso um longo processo. Mas valeria a pena. De fato, João sentiu-se finalmente livre de continuar os seus estudos. No Natal do 1830 entrou para a escola pública de Castelnuovo. Não era mais o Joãozinho: tinha 15 anos! Tinha trabalhado e sofrido. E se preparava para empenhar-se ainda mais nos anos da sua juventude.




FICHA DE REFLEXÃO

PARA CRIANÇAS E ADOLESCENTES


2.11 Que é uma virtude?

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Aposto que já ouviu falar muitas vezes de virtude! E aposto também que não está muito certo de saber exatamente do que se trata. Vamos ver?!

Quando se diz que um menino é virtuoso com frequência se quereria dizer que ele é um sujeitinho às direitas e que tem muitas qualidades... E de fato as virtudes podem ser entendidas como boas qualidades. Mas na realidade são algo mais. Provavelmente na escola que frequenta, lhe terão falado de uma nota especial que os seus professores lhe darão no fim do ano, nota que servirá para avaliar quanto se comportou bem e como cumpriu bem o seu dever: a nota de conduta.

Por que se chama nota de conduta e não nota de comportamento? Porque se dá no fim do ano?

Bem, a diferença entre conduta e comportamento não é lá tão grande assim. Digamos que comportamento é um ação isolada, que v. faz uma só vez. Se por uma só vez o seu professor lhe chama a atenção, não lhe darão só por isso uma nota ruim de conduta: para dar a nota de conduta, avaliarão os seus comportamentos durante todo o ano. A conduta é ao invés o conjunto, digamos, de uma série de comportamentos que se acostumou a ter. Se v. se acostumou a ouvir quando lhe fala um adulto, a sua conduta será educada. Esse hábito educado que v. possui o ajudará a comportar-se bem e de modo educado todas as vezes que adulto lhe falar, também fora da escola.

Eis o que são as virtudes!


As virtudes são hábitos bons que v. se esforça por adquirir

a fim de comportar-se de modo certo em todas as situações em que se encontrar.


Demos alguns exemplos.

Se v. se esforça para habituar-se, porque sabe que é belo, a agradecer a Deus de manhã e de noite, v. consolidará a virtude da , e quando for grande a poderá aprofundar; se se esforça por habituar-se a fazer o que os seus pais e os seus educadores lhe aconselham porque sabe que aquilo que lhe dizem lhe serve a melhorar-se, conquistará`aos poucos a virtude da obediência, e quando for grande lhe será muito útil; enfim, se v. se esforça por não possuir todas as coisas que tem só para si e ao contrário procura partilhá-las com os seus amigos porque sabe que diversamente se tornaria um egoísta, aos poucos conquistará a virtude da generosidade, e quando for grande será uma pessoa generosa.

Para ser grande é preciso possuir muitas virtudes. Joãozinho Bosco tinha entendido isso muito bem: eis por que se tornou o grande Dom Bosco que todos admiramos. Se desde pequeno não se tivesse empenhado por conquistar tantas virtudes, talvez não teria conseguido tornar-se santo.

Então, o que estamos esperando? Também nós o podemos imitar. Depois de ter lido ou ouvido a sua vida, experimentemos refletir sobre algumas das virtudes mais belas que ele conquistou. E depois esforcemo-nos pelo imitá-lo.

Escolhemos cinco: obediência, generosidade, fé/oração, confiança e desejo de cumprir bem o próprio dever. Para cada uma delas achará a apresentação da virtude que lhe explica como e quando Joãozinho Bosco a viveu; a atualização que lhe sugere como vivê-la hoje; a realização que lhe propõe alguns empenhos concretos para a realizar e lhe fará algumas perguntas para verificar se até agora se empenhou realmente por conquistá-la.






O bediência

Apresentação

Leia os parágrafos: «Tantas coisas para fazer» e «Longe de casa».

A vida nos Becchi era certamente dura. Mas Joãozinho não se negava a nada. Quando a mãe lhe pedia para ir buscar água na bica ou levar os animais a pastar nunca se queixava. Obedecia porque sabia que era importante ouvir a mãe. Se não buscasse água não teriam de que beber na janta e se não tivesse levado os animais a pastar, eles não teriam comido.

Quando Joãozinho trabalhava na casa dos Moglia (pron. mólha) fazia como tinha aprendido em casa: obedecia sempre aos patrões e fazia bem todas as coisas que lhe pediam, mesmo que custasse. Por isso eles confiavam cegamente nele.

Atualização

Também hoje os seus pais lhe pedem a sua colaboração na família: há sempre tantas pequenas coisas por fazer. Atendendo aos seus pedidos, v. se acostuma a cumprir bem o seu dever; e eles ficarão mais contentes: confiarão em você.

Realização

Quando os pais ou os seus educadores lhe pedem para fazer alguma coisa, v. faz logo ou sempre se recusa?

Já se perguntou alguma vez por que lhe pedem para fazer alguma coisa?

Propósito:

Escolha uma coisa que normalmente lhe pedem, mas que não agrada a você: e esforce-se por fazê-la sem se queixar.


G enerosi-dade

Apresentação

Leia os parágrafos: «Tantas coisas para fazer» e «O pequeno saltimbanco de Deus».

Joãozinho trocava o seu pão branco pelo pão escuro do amigo. A ele não agradava absolutamente aquele pão negro, mas o amigo nunca percebeu. Viu que o seu amigo precisava mais do que ele e queria fazer alguma coisa para torná-lo mais feliz. Não guardava para si o que tinha de bom.

Quando Joãozinho viu que muitos dos seus amiguinhos não eram bons, decidiu fazer alguma coisa por eles: empenhou-se por aprender os truques dos mágicos e prestidigitadores, e se exercitou nisso duramente. Dedicou muito tempo a preparar-se bem, para que as coisas lindas que tinha aprendido com a mãe e na igreja, pudessem ser passadas adiante, para eles.

Atualização

Também hoje os seus amigos precisam de você. Talvez você tenha alguma coisa que eles não têm e que lhes faria bem. Podem ser os seus jogos ou brinquedos mais belos; o seu tempo para ajudá-los no estudo; a sua amizade…

Realização

Quando alguém lhe pede emprestado alguma coisa que lhe é muito querida, como reage? Está disposto a ajudar a quem está em dificuldade ou se lixa fazendo de conta que não vê?

Propósito – Pense num ato concreto de generosidade que poderia fazer e que normalmente nunca faz; e esforce-se por fazê-lo ao menos... uma vez.





F é

Apresentação

Leia os parágrafos: «Não podemos esquecer de rezar a Deus» e «Longe de casa».

Joãozinho tinha aprendido da mãe a rezar a Deus todos os dias e a lembrar-se d’Ele em todos os momentos. Também quando a mãe não estava, lembrava-se sempre de rezar, porque compreendia quanto isso lhe era importante.

Assim, quando esteve fora de casa teve a coragem de testemunhar a sua fé também com o velho tio de Luís Moglia, que... fingia troçar dele.

Atualização

Também hoje os seus pais e os seus catequistas lhe ensinam a rezar. Deus lhe deu a vida: é justo achar pelo menos uns 5 minutinhos para lhe agradecer.

Realização

Você se lembra de cumprimentar Deus, pela manhã quando acorda, e à noite antes de dormir?

Tem a bravura de rezar também diante dos seus amigos?

Propósito - Todas as noites, antes de dormir, examine o seu dia: peça perdão a Deus pelo mal cometido e agradeça-lhe pelas tantas coisas bonitas que Ele lhe concedeu.



Confian-ça

Apresentação

Leia os parágrafos: «Quero estudar» e «O P. Calosso, um pai espiritual».

Joãozinho não esquece os conselhos da mãe porque confia nela. Sabe que todas as vezes que lhe sugere alguma coisa o faz porque lhe quer bem e porque tem muitíssimo mais experiência do que ele.

Joãozinho confia no P. Calosso. Ele lhe ensina a estudar e a rezar com maior profundidade. Não age de própria cabeça: antes de fazer alguma coisa ouve sempre o seu parecer.

Atualização

Também hoje os seus pais, o seu confessor e os seus professores lhe sugerem muitas coisas. Eles são muito mais experientes do que você. E quando lhe dizem alguma coisa, o fazem para o seu próprio bem.

Realização

Põe você em prática os conselhos dos que têm mais idade e que lhe querem bem? Ou faz sempre tudo de própria cabeça?

Propósito - Experimente pôr em prática aquele conselho que sempre lhe repetem e que v. nunca deseja seguir.


Dever

Cumprir bem o próprio dever


Apresentação

Leia os parágrafos: «Quero estudar» e «Longe de casa».

Joãozinho dedica-se de corpo e alma a cumprir bem o seu dever. Compreende que se quer ser padre seu dever é estudar.

Quando está longe de casa cumpre bem o seu dever sem que os outros lho peçam: ele entende que é importante.

Atualização

Também hoje v. è convidado a cumprir bem o seu dever: antes de tudo o estudo e a obediência aos pais; depois, ajudar na família, e ser honesto e sincero com todos.

Realização

Procura você mil escusas para não fazer suas obrigações?

Propósito - Escolha-o você este propósito. E cumpra-o! Mais concretamente: em que você poderia melhorar? Escreva isso e assim não o esquecerá.







3 O jovem João Bosco (1830-1841)

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3.1 O esforço no próprio dever

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Para João o estudo não foi uma coisa prevista, um percurso já definido que o teria facilmente levado à meta. Teve de suar. E suar muito. Antes com o irmão. Mas não só.

Depois da divisão dos bens familiares, João decidiu com a mãe freqüentar as escolas públicas mais próximas: aquelas de Castelnuovo, a cinco quilômetros de casa. Naquele tempo não havia ônibus. Só diligência. E não passava todas as manhãs. Por isso todos os dias precisava fazer – a pé! – 10 quilômetros. Esses 10 quilômetros com freqüência viravam 20, devido às idas e vindas para almoçar. João tinha sido o ídolo dos meninos de Morialdo e Moncucco. De repente se achava numa sala de aula, única e com único professor, junto com menininhos de dez e onze anos, que naturalmente se riam dele pelo seu modo pobre de vestir e pela sua idade. Por sorte terá como professor o P. Virano, que depois de ter lido um seu tema assim sentenciou:

Quem ecreve tão bem assim pode também dar-se ao luxo de usar as botas dos vaqueiros. Porque o que conta na vida não é o sapato – ou a sua marca, diríamos hoje! – , mas a cuca, ouviram!

Mas é claro que durante o inverno, devido à neve e ao frio da campanha, não podia ir e vir como sempre! Portanto Margarida pediu a um tal de Sr. João Roberto, alfaiate, que recebesse o filho em casa com pensão total: um prato de sopa – um só! – e um... desvão debaixo da escada para dormir!

Naquele primeiro ano de estudos teve também João de haver-se com alguns colegas pouco recomendáveis: queriam levá-lo a jogar jogos de azar durante as aulas. Respondia que não tinha dinheiro. Mas um deles – bem atrevido – disse:

– Ora ora ora! Está na hora de acordar! É preciso aprender a viver neste mundo! Se quiser dinheiro, pegue-o do alfaiate. Ou da sua mãe!

Mas João não era por certo um sujeito que se deixava confundir as idéias quando havia de permeio o seu dever. Sobretudo não permetia – nunca – que fossem os maus colegas a decidir por ele! Era perseverante – turrão mesmo! – quando se tratava de fazer o bem. A atitude de João Bosco foi de exemplo para todos: e também ali começaram a estimá-lo.

3.2 Mais dificuldades

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Em pouco tempo se fez querer bem por aquilo que era e não por aquilo que vestia. O sr. João Roberto era um dos alfaiates de Castelnuovo. Era também um bom cantor de música sacra e profana. Tinha em casa uma espineta - um velho instrumento - uma espécie de cravo ou clavicímbalo, que João, sob sua guia, começou a tocar. No tempo livre se exercitava com linhas e botões, conseguindo nisso ótimos resultados. Para pagar livros e estudos, foi aprender a trabalhar com ferro, lima e forja, no ferreiro Evásio Sávio. 15 anos depois, já padre, fará frutificar os talentos que o Senhor lhe tinha dado e que ele sem o saber estava desenvolvendo: ensinará a ler e escrever aos meninos pobres. Cantará com eles música sacra. E abrirá oficinas onde será o primeiro mestre.

Mas as coisas nem sempre vão à frente de modo certo. O bom P. Virano foi nomeado pároco de Mondônio: em abril deixou a escola. O seu sucessor, P. Moglia, já com 75 anos, o fará sofrer muito: sem querer, não compreenderá o engenho de João. E, não conseguindo manter a disciplina da classe, chegará também a culpá-lo por todas aquelas balbúrdias:

– Que pensa você de entender de latim? Nos Becchi só dá burro! E dos grandes!

Ouvindo isso, o respeito que se havia conquistado perante os colegas começou a evaporar. Virão assim dias de sofrimento que o mesmo Dom Bosco, ao escrever as suas memórias, relembrará apenas por alto, para não culpabilizar o idoso P. Moglia. Mas o tempo passava e infelizmente não se notavam sinais de melhora: João e Margarida decidiram tentar matrícula na escola mais complicada de Chieri.

Preparou-se estudando intensamente durante o verão. Margarida e o filho José se haviam transferido a uma propriedade rural no Sussambrino. E trabalhavam para o Sr. Febraro. João também devia contribuir! E, como nos velhos tempos, enquanto levava os animais ao pasto repassava o seu latim.

Para ir a Chieri era preciso renovar o enxoval e comprar livros. Como bom atleta conseguiu ganhar 20 liras no pau de sebo, durante a anual festa do padroeiro: também ali, os treinos feitos na corda para divertir e fazer rezar os seus coleguinhas, lhe haviam servido! Mesmo assim, é claro que não podiam bastar. Enfrentou a humilhação de pedir esmola, passando de casa em casa:

Sou o filho de Margarida Bosco. Vou a Chieri para estudar: quero ser padre. Quem puder me ajude!

Margarida tinha sempre um pouco de polenta ou minestra para todos os pobres da redondeza: todos sabiam que podiam contar com ela, mesmo que devesse privar os filhos do prato principal. Entretanto agora era ela que precisava de ajuda. E a ajuda chegou. Também do pároco de Castelnuovo, P. Dassano. Sabendo da necessidade, recolheu uma pequena soma e a mandou a Margarida. Além disso, a pôs em contacto com a Sra. Lúcia Matta que se estava trasferindo a Chieri para dar assistência ao filho estudante: esta concordou em receber João Bosco por 21 liras por mês. Não podiam pagar tudo. Então o João se ofereceu para ajudar em casa, nos trabalhos domésticos. Depois de algum tempo, a Sra. Lúcia acreditará tanto naquele rapaz que lhe confiará o estudo do filho, vadio, o qual em seis meses, ajudado por ele, voltará aos sacramentos e a satisfazer as exigências dos professores. Lúcia ficou de tal modo feliz que lhe perdoou toda a pensão.

3.3 Três num

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Em Chieri foi matriculado no sexto ano (mais ou menos o 5º no Brasil). Já tinha 16 anos. Ali se sentiu tão bem que em dois meses, vistos os ótimos resultados, foi admitido aos exames para passar à classe seguinte. Saiu-se brilhanemente e iniciou a freqüentar o 5º ano (então a ordem era decrescente: do 6º passava-se ao 5º, do 5º ao 4º...). Encontrou como professor o P. Valimberti que já se havia tornado seu amigo e conselheiro. Depois de apenas dois meses foi admitido novamente a exames para passar ao quarto ano. Aí também recebeu supernotas. Nessa classe era professor Vicente Cima, pessoa severa e competente que, em vendo o novo aluno chegar no meio do ano, comentou:

Se tiver boa vontade, estará em boas mãos. Não o deixarei perder tempo. Se tiver alguma dificuldade, pergunte: ajudarei.

E assim foi. João não perdeu tempo. Naquele ano recuperou grande parte dos estudos atrasados.

3.4 A sociedade da alegria

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Durante o ano escolar João se deparou com vários tipos de rapazes. Havia como sempre os pouco recomendáveis, os indiferentes e os muito bons. Pasava o seu tempo com os melhores. Recusava as propostas dos maus. Mas os maus normalmente são também aqueles que estudam menos. E, pouco a pouco, também eles começaram a se aproximar do Bosco para que lhes fizesse as tarefas de aula. Ele inicialmente aceitou. Mas depois, aconselhado pelo professor, deu um jeito para que pudessem compreender o que copiavam e que aprendessem por si sós a estudar e a resolver os problemas. Sua reputação melhorou notavelmente: os jovens que antes pareciam maus, na realidade, quando estavam com ele, não o eram mais. Começaram asim a reunir-se não só para estudar, também para divertir-se e ouvir as suas histórias. Fundaram uma sociedade que chamaram «Sociedade da Alegria». Seu regulamento era partilhado por todos. Ei-lo:

1. Nenhuma ação indigna de cristão.

2. Cumprir com precisão os próprios deveres escolares e religiosos.

Entrementes João encontra um excelente sacerdote, cônego Meloria, que o convida – coisa extraordinária para o tempo – a frequentar os sacramentos. João aceita o convite. Mais tarde escreverá:

Se tive a força de não me deixar arrastar pelos maus colegas, devo-o aos meus frequentes encontros com... Deus.

Em pouco tempo se tornou o chefe de um pequeno exército. Certo domingo apareceu um prestidigitador, na época chamado saltimbanco, com a intenção de exibir-se logo antes da Missa e exatamente ali perto da igreja. Os colegas naturalmente estavam mais interessados nele do que nas funções sagradas. João então desafiou-o em diversas modalidades nas quais o saltimbanco estava certo de vencer de ‘goleada’. Mas o mágico aceitara sem conhecer a altivez do adversário, o qual além de derrotá-lo sonoramente lhe devolveu o dinheiro em troca do seu afastamento do local: – seus colegas agora podiam cumprir tranquilamente os deveres religiosos.

3.5 Um amigo verdadeiro

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João foi admitido ao segundo ano, chamada ano de humanidades. O filho da Sra. Lúcia terminara os estudos. João teve de procurar uma outra pensão. Um amigo de família, um certo João Pianta, tinha apenas aberto um café em Chieri e o convidou a ficar com ele. Naturalmente devia em troca trabalhar duro: acabou aprendendo a ser balconista. Depois do ano de humanidades iniciou o ano de retórica. Nesse ano encontrou-se com Luís Comollo, sobrinho do pároco de Cinzano. Luís era um rapaz muito bom: em mais de uma ocasião, tinha demonstrado, perante às prepotências de alguns colegas mais taludos, que sabia ficar firme no bem. E sem vingar-se. Ou sem reagir. Não era o ‘caxias’ da classe. Era um daqueles rapazes que, ao vê-lo pela primeira vez, v. acaba por dizer:

É mesmo um sujeito excelente!

Naturalmente, a má educação e a maldade não têm limites. Por isso João Bosco, em mais de uma vez, sentiu-se no dever de difendê-lo. Não só com palavras: com fatos! Sansonicamente! Foi exatamente depois de um desses episódios que nasceu entre os dois uma amizade muito mais profunda:

João – lhe disse Luís –, a sua força me espanta! Mas Deus não lha deu para machucar os seus colegas: Ele quer que nos perdoemos. E que respondamos ao mal com o bem.

João acabou por se render às suas palavras. Seguiu os seus conselhos. E os anos seguintes, no seminário, teriam aumentado ainda mais aquela extraordinária amizade.

3.6 Palavras pesadas como chumbo

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No fim do ano de retórica, João devia decidir-se. E decidir-se seriamente. Que fazer de sua vida? Continuar o estudo? E que estudo? Pensar num trabalho? Em que trabalho?

João queria ser padre, mas estava indeciso. Naquele tempo nem todos os sacerdotes viviam evangelicamente: alguns deles de tal forma se imiscuiam na vida ordinária que se esqueciam da espiritual, do cuidado dos jovens e das almas. E – importante – para estudar precisava ter dinheiro. Dinheiro que ele não tinha. Pensou então em resolver o problema indo para um convento. Para longe do mundo. Os franciscanos já lhe tinham respondido afirmativamente. O pároco, P. Dassano, vindo a saber disso, desencorajou-o da idéia. E apenas pôde, falou com Margarida, dizendo-lhe entre outras coisas que se ele se fizesse frade, não teria no futuro dinheiro para sustentá-la. Margarida, embora não fosse tão jovem, botou o xale aos ombros e foi decidida a Chieri para falar com o filho. Se João, pelos 70, ainda se lembrava daquelas palavras, quer dizer que o tinham impressionado. Impressionado profundamente! Ei-las:

Escute cá, meu filho. Quero que pense bem no que vai fazer. E com calma. E uma vez que tenha decidido, siga o seu caminho, sem se preocupar com ninguém. O mais importante é fazer a vontade de Deus. O pároco gostaria que eu o fizesse mudar de idéia porque no fututo eu poderia precisar de você. Entretanto, lembre-se bem de que para essas coisas a sua mãe não existe. Antes de tudo – também antes de mim – Deus! De você não quero nada e não espero nada! Nasci pobre e pobre quero morrer. Antes, digo-lhe mais: se você ficar padre e por desgraça se tornasse rico, eu jamais poria os pés na sua casa. Lembre-se bem disso!

João continuava incerto. Um sonho, talvez profético como o feito aos nove anos, lhe fez compreender que no convento não teria tido paz. Mas para não dar ouvidos somente a um sonho, pediu conselho ao amigo Luís Comollo, o qual lhe aconselhou a escrever ao tio padre. E este lhe sugeriu que fosse tranquilamente para o seminário. Evasio Sávio recomendou a João que fosse falar com o P. Cafasso, um jovem sacerdote de 23 anos, que estava aperfeiçoando os seus estudos no chamado «Colégio Eclesiástico», em Turim. Esses estudos podem ser comparados a uma especialização nas matérias que se estudam para tornar-se excelentes sacerdotes. Depois da ordenação também Dom Bosco frequentará esse curso. João ficou muito impressionado com a calma e a profundidade daquele jovem sacerdote. Tanto que mais adiante o escolherá como deretor espiritual. O P. Cafasso equilibrava o temperamento fogoso de Dom Bosco e o guiava no fazer as escolhas certas. Mas a mais bela das qualidades de João foi a sua capacidade de pedir conselho, de deixar-se guiar, de não querer fazer as coisas sozinho. Uma qualidade que sempre lhe possibilitou colher ótimos resultados.


3.7 Uma incongruência providencial

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Tomada a decisão, João vestiu a batina, naquele tempo o hábito do sacerdote. Recebeu-a das mãos do pároco de Castelnuovo, P. Cinzano, durante a missa paroquial. Desde aquele momento, tudo teria mudado. Vestir aquele hábito significava também mudar vida. Significava despojar-se dos trajes e dos costumes do jovem que tinha sido até aquele momento. E ao mesmo tempo revestir-se do hábito e dos costumes de um homem novo.

João preparou-se bem. Levou a coisa muito a sério. Mas logo depois da vestidura, o pároco o convidou a acompanhá-lo a uma festa de Padroeiro de outro povoado, também com a desculpa de festejar este seu passo. Assim, depois de semanas de recolhimento para preparar-se para a recepção do hábito religioso, João achou-se – de repente – no meio de uma festa em que se bebia e não se falava de outra coisa senão de jogo, de baile, de diversão... Sentia-se como peixe fora d’água; como boneco de roupa nova, presente apenas para fazer-se admirar e aplaudir.

Que poderia haver ali de comum com alguém que poucas horas antes se tinha revestido do hábito de santidade, a fim de doar-se totalmente a Deus?

Enquanto voltavam para casa, falou daquilo com o pároco, o qual lhe respondeu que devia ir-se acostumando, porque:

– O mundo é assim. É preciso tomá-lo como é. É preciso ver o mal para depois evitá-lo.

Tecnicamente o P. Cinzano não estava errado; mas tampouco estava certo: o mal, não se precisa ir procurá-lo!

Desgostoso daquela experiência dissonante, João decidiu traçar um regulamento. Não muitas regras, que depois não cumpriria. Mas poucas! Claras! Adaptadas à sua situação! Assim, ser-lhe-ia mais fácil continuar fiel à sua opção. Pensou escrever uma espécie de projeto de si mesmo; simplificamo-lo desta maneira:

  1. Não irei a refeições ou a banquetes inconvenientes.

  2. Deixarei de me exibir de saltimbanco na frente de todos (estava de batina).

  3. Esforçar-me-ei por achar um tempo para a reflexão. Serei sóbrio no comer e no beber. Também no dormir.

  4. Começarei a ler livros religiosos, para conhecer melhor a Deus.

  5. Esforçar-me-ei por combater pensamentos, conversas e imagens contrários à castidade pela qual optei.

  6. Acharei todos os dias algum tempo para dedicá-lo à oração.

  7. Contarei a quem encontrar fatos e pensamentos que façam bem à alma.

Esse projeto de vida foi muito útil a João nos anos de seminário, porque todas as vezes que lhe parecia ter errado, podia ir verificar os propósitos e renová-los. Nem sempre, é claro, o seguiu com perfeição, sem nunca errar. Mas foi fiel. Quando ele for o Padre Bosco, proporá o mesmo sistema ao jovem Domingos Sávio. O resultado? A santidade!

3.8 Insistências da Mãe

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Quando João, antes de entrar no seminário, voltou para casa, Mamãe Margarida parecia pensativa: olhava-o com freqüência como se estivesse esperando o momento oportuno para dizer-lhe alguma coisa. Na noite antes da sua ida ao seminário, chamou-o à parte e, olhando-o direto nos olhos, lhe disse estas palavras:

João, v. vestiu este hábito de sacerdote. Sinto toda a consolação que u’a mãe possa sentir pela realização de um seu filho. Entretanto, lembre-se bem que não é o hábito que o dignifica, mas a seriedade com que viverá o compromisso assumido. Se algum dia v. vier a duvidar da sua vocação, rogo-lhe: não desonre este hábito; deixe-o imediatamente. Prefiro ter como filho um pobre camponês que um sacerdote que descuide dos seus deveres. Quando nasceu o confiei a Nossa Senhora: ame aqueles companheiros que querem bem à Virgem Maria. E quando for sacerdote, divulgue em seu derredor o amor para com Ela.

Quando terminou essas palavras, estava comovida. Ele chorava e respondeu:

– Mamãe, agradeço tudo o que a senhora fez por mim. Jamais esquecerei dessas suas palavras. Me lembrarei delas por toda a vida.

Quando a Sagrada Escritura diz «Honre seu pai e sua mãe», ela se refere também a isto. Honrar os pais por tudo aquilo que fizeram significa: ouvir os seus conselhos e tornar-se pessoas honestas. João Bosco o conseguiu.

3.9 Os anos de seminário

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Os dias no seminário eram todos mais ou menos iguais. Os superiores o tratavam com muita gentileza. Mas João não estava totalmente satisfeito. Gostaria de vê-los e senti-los mais próximos, ter a possibilidade de falar com eles, pedir explicações. Mas naquele tempo a mentalidade era essa. E não se podia fazer muita coisa. Ele, um dia, iria mudar essa tradição. Também no seminário frequentava os sacramentos, que o energizavam para cumprir adequadamente o seu dever. Seja como for, estava muito contente com os estudos e os colegas. No seu segundo ano de frequência lá chegou também o seu amigo Luís Comollo. Luís era um exemplo contínuo: animava-o a rezar e a fazer tudo bem feito.

Durante as férias, já estudante de teologia, João era convidado nos povoados vizinhos a pregar. Um dia recebeu uma autêntica lição. Em Alfiano, fez uma linda e douta prgação sobre a Natividade de Maria SS. Fê-la tão bem que só ele e o pároco a haviam compreendido. Quis saber o parecer do pároco:

Muito bonita! Ordenada. Mas a compreendemos somente eu e você! É preciso deixar de lado a linguagem elevada e usar o dialeto. Ou, se quiser, também o italiano, mas de maneira simples! Em vez de arrazoados seria melhor contar exemplos, usar comparações: tudo simples e pratico. Senão o povo não acompanha.

Aquele conselho lhe deu o tom certo para toda a vida.

Em outras duas ocasiões foi convidado a participar de refeições e tocar violino perante os comensais. Entretanto, apesar de se lembrar dos propósitos feitos e cuidasse do seu comportamento, as coisas tomaram um rumo bem diverso do que ele intencionava. Decidiu assim mais uma vez nunca mais aceitar. Luís Comollo morreu nesses anos, provocando em João uma grande tristeza. Escreverá a vida desse seu amigo e a fará ler aos seus meninos, proporcionando-lhes um grande bem.

Para pagar as mensalidades e as despesas estudava com afinco para ganhar cada ano o prêmio de 60 liras – metade da pensão. Arrebatou-as seis anos a fio. Aceitando ser sacristão, ganhará mais 60! O restante pagava-o o bom P. Cafasso.

João como de costume fazia inúmeras coisas: arranjava tempo também para aprofundar outras matérias úteis a um bom sacerdote: história da Igreja, espiritualidade, grego, hebraico, francês...

Nesses anos, entre outros excelentes formadores, conheceu também um certo P. Borel, que se tornará um dos seus mais estreitos colaboradores.


3.10 Para sempre

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No penúltimo ano de estudos no seminário obteve permissão de frequentar também o último ano, contanto que prestasse os exames até o mês de novembro (o ano acadêmico iniciava em outubro e terminava no mês de junho do ano seguinte. NdT.). Encorajado pelo P. Cafasso, topa a parada e também dessa vez consegue.

João trepidava ao pensar que devia dizer ‘sim’ por toda a vida. Mas o P. Cafasso aconselhava-o a ir para a frente sem medo e que fizesse o que lhe dizia. Fechou-se por dez dias no silêncio dos Exercícios Espirituais. Recebeu antes o subdiaconato. Depois o diaconato. E no dia 5 de junho de 1841, na vigília da Festa da SS. Trindade, o Sacerdócio.

Nos dias seguintes celebrou em Chieri e Castelnuovo, agradecendo às pessoas que o haviam ajudado. Quando chegou em casa e reviu os lugares em que tinha sofrido e em que tivera o sonho dos nove anos, comoveu-se e pensou:

Quão grandes são os vossos desígnios, Senhor. Erguestes do pó um pobre menino e lhe confiastes uma enorme missão!







































ficha de reflexão

para adolescentes e jovens


3.11 O valor do sacrifício

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Se passar os olhos por sobre os três primeiros títulos da biografia do Jovem João Bosco dar-se-á conta de que para alcançar seus objetivos ele teve de suar. E suar muito. Quando depois tiver lido também o seu conteúdo, concordará conosco sobre quanto estamos a lhe dizer. E convém dar um nome a quanto João suportou naqueles anos. E o nome é sacrifícios. Hoje não se fala mais deles: faz-se de tudo para evitá-los. Mas se se deseja alcançar alguma coisa, não se podem absolutamente dispensar. Também no esporte.

Todo atleta que se respeite, se quiser vencer uma partida ou ganhar uma medalha, deve treinar. O treino implica... sacrifícios. Não se educa a respiração com uma só corrida. É preciso correr com costância. E ir aumentando as doses de trabalho. Parte-se das coisas mais fáceis. Passa-se depois gradualmente às mais difíceis. É com tenacidade e perseverança que se melhora, se progride e se adquire caráter.

No campeonato de um time de futebol, p. ex., há períodos de treino e de ação. E como se pode ver que um time tem caráter? Pode-se ver isso se ele consegue superar os períodos difíceis; se não se entrega depois de duas derrotas consecutivas; se, quando no primeiro tempo levar dois gols, no segundo reagir e virar o jogo.

Pode-se ver isso quando um time de basquete, que está perdendo de seis cestas, não se entrega: vai e acerta três lances de três pontos, que o libertam. Um time de voleibol tem caráter quando está perdendo de dois sets a zero e consegue reagir vencendo no desempate. Um tenista está em forma quando consegue fazer três aces seguidos: e reabre o game.

Mas quanto treino atrás desses dois ou três gols recuperados! Quantas tardes passadas treinando as cestas de três! Quantas cortadas e defesas simuladas pelos atletas do voleibol! Quanto teve de suar o tenista no tentar e retentar um saque que lhe saia bem!

A resposta? Você já conhece!

Uma coisa é certa: esses atletas não têm medo de fazer sacrifícios, porque eles sabem claramente aonde querem chegar, qual seja a sua meta, o sonho que desejam realizar. Também São Paulo pensava assim. Ele mesmo diz que os atletas, para alcançar uma coroa de louro dos Jogos Olímpicos, se adestram sem parar. O mesmo deve fazer o cristão: treinar e fazer algum sacrifício. Nós, cristãos, entretanto, levamos vantagem porque nos afadigamos por uma medalha que nos trará uma felicidade eterna, não passageira como a olímpica. Os cristãos se afadigam pela santidade. E João Bosco era um desses. Na vida espiritual é preciso fazer SACRIFÍCIOS. Como no esporte.


Vejamos alguns sacrifícios que teve de fazer João Bosco e que mais ou menos se apresentam também hoje de modo muito semelhante. Escolhemos três virtudes e três atitudes virtuosas sobre as quais podemos refletir e que com um pouco de sacrifício podemos também – por que não? – imitar.


Eis as três virtudes: fortaleza, humildade e . As três atitudes virtuosas ao invés são: o primado do ser sobre o ter; cuidar dos mais fracos; projetar a própria vida.


Para cada virtude (e para cada atitude) achará a apresentação, que lembra como e quando João Bosco a viveu; a atualização, que lhe sugere como vivê-la hoje; a realização, que lhe propõe alguns propósitos concretos para a realizar e lhe fará algumas perguntas para verificar se até agora você já se empenhou realmente pela conquistar.





Fortaleza

é aquela virtude que o ajuda a fazer de tudo para alcançar o bem que se propôs



O jovem forte:


Sabe enfrentar os perigos.

Sabe reagir perante as falhas.

Toma posição contra o mal


Tem um sosia:


A força ou prepotência

No parágrafo: «Um amigo verdadeiro» Luís faz ver a João a diferença.

Apresentação


Leia os primeiros quatro parágrafos.

João sofreu muitíssimo para estudar: suportou o irmão, percorreu quilômetros a pé, sofreu as troças dos colegas, teve de aprender a trabalhar, pediu esmola.

Não desanimou perante as deficuldade-s, soube reagir diante das situações desfavoráveis. Nunca renegou os seus princípios para fazer-se amigo dos maus companheiros; antes, teve a paciência de convertê-los.

Atualização

Hoje é fácil para muitos ter a possibilidade de estudar. Mas nem todos aproveitam. Todos podem errar, mas devem levantar-se e empenhar-se com coragem: os resultados aparecerão. Quantas vezes somos tentados de mudar de bandeira e renunciar àquilo em que nós acreditamos para satisfazer aos nossos amigos.

Realização

Aproveita você da oportunidade de estudo que se lhe oferece ou vive de renda?

Tem a coragem de dizer não ao mal? Ou acha que é mais importante aquilo que os colegas vão dizer de você?


Propósito:

Estude com maior empenho aquela matéria que, com freqüência, você descuida.

Experimente dizer não a quem o quer levar para o mal, mesmo à custa de perder um pouco de popularidade.




H umildade


é aquela virtude que o ajuda a fazer uma justa avaliação de si mesmo e das suas capacidades.



O rapaz humilde:

Reconhece que as suas qualidades são dons.

- Põe-se à disposição dos outros.

É capaz de pedir conselho


Tem um sósia:

A falsa humildade.

Aquele que se mostra humilde para que os outros o louvem.

Apresentação


Leia «Palavras pesadas como chumbo», «Três em um», «Os anos de seminário».

João tinha tantos dons e tantas qualidades: se os tivesse usado mal ter-se-ia tornado quiçá um grande criminoso. Mas foi humilde. Teve a coragem de pedir conselho a pessoas iluminadas, também à mãe, coisa nada fácil para um adolescente. Aprendeu a não gabar-se da sua cultura perante o pároco de Alfiano. Pôs-se sempre à disposição de todos, sem fazer pesar a sua superioridade.

Atualização

Hoje a humildade é uma qualidade pouco popular. Pouco conhecida. Entretanto, pensando bem, ver-se-á que se preferem as pessoas humildes às fanfarronas. Humildade não é sinônimo de inferioridade. É sinonimo de equilíbrio e de sinceridade. Na escola, por exemplo, é uma virtude muito difícil de se praticar. Mas é necessária. Nas escolhas importantes da vida é preferível pedir a quem do assunto entende mais do que nós. Mesmo que isso nos custe.

Realização

Deseja você ser sempre o melhor em tudo o que faz?

Tem a coragem de aconselhar-se com os mais velhos?

Propósito:

Experimente combater os pensamentos de soberba com uma invocação simples a Deus, p. ex.: «Senhor, ajudai-me a ser mais humilde!







é aquela virtude que o ajuda a estar atento ao chamado de Deus, a responder com coragem, a orientar a sua vida para Ele.


O jovem que tem fé

Reconhece que o centro da sua vida não está nele.

Aprofunda o conhecimento de Jesus.

Deseja aquilo que deseja Jesus Cristo.


Tem um sósia:

A minha fé.

Aquele que se constrói um seu deus adaptado a si.

Apresentação


Leia «A Sociedade da alegria» e «Palavras pesadas como chumbo».

João encontrava a força para vencer as dificuldades no encontro com Deus através dos Sacramentos. Não os subestimava. Procurava com sinceridade a vontade de Deus a seu respeito. Nada fazia sozinho. Percebe-se que antes de tomar alguma decisão importante ele sempre reza.

Atualização

Hoje é difícil orientar para Deus a própria vida. Somos distraídos por mil coisas. Nunca temos tempo para Ele. Julgamos suficientes, quem sabe, as poucas noções que aprendemos no catecismo e provavelmente não nos empenhamos em descobrir o tesouro que existe em nosso campo. É preciso escavar. Se não sabemos onde, devemos comprar-nos um bom mapa e procurar um bom guia: com eles tudo será mais fácil.









Realização

Contento-me apenas com as noções aprendidas na catequese?

Quanto tempo dedico à oração?

Li alguma vez um (1) Evangelho do princípio ao fim?

Propósito:

Procurar com cuidado um bom confessor. Fazer-se conhecer por ele, de modo a chegar sempre preparados para o encontro com Deus.

Dedicar dez minutos por dia à leitura de um Evangelho.

Cuidar dos mais

Fracos








Apresentação


Leia «A sociedade da alegria» e «Um amigo verdadeiro».

João Bosco defende os mais fracos. Não só os mais visados: também os indisciplinados que, embora pensem ser os tais, na realidade não o são. A sua vida se orientará a ajudar os últimos. E nunca se arrependerá de o ter feito.

Atualização

Hoje também existem muitos jovens fracos, necessitados. Alguns são humilhados por todos e, quem sabe, possuem tantas qualidades que poderiam ser de proveito para todos. Talvez tenham apenas necessidade de alguém que tome uma atitude e os defenda, para poderem ao depois levantar voo sozinhos.

Realização

Tenho o hábito de humilhar e ridicularizar os meus colegas?

Tive alguma vez a coragem de defender um companheiro meu, feito alvo e vítima de todos, injustamente?

Propósito:

Esforce-se por deixar de ridicularizar aquele colega que todos humilham.





Primado do

SER

sobre o

TER







Apresentação


Leia «A esforço no próprio dever» .

A João não interessava ser apreciado pelas coisas que tinha,mas pelo que era. Não lhe interessava aparecer perante os outros. Mesmo que o seu calçado não fosse de marca, ele ia à escola assim mesmo. Não aceitou ‘roubar’ dinheiro da mãe ou do alfaiate, para ir fazer jogatina.

Atualização

Também hoje podemos ter a tentação de dar mais importância às coisas que temos do que aos valores que orientam a nossa vida. Sobretudo no Ocidente, é um grande risco. Entretanto, a tentação de querer ter tantas coisas é um perigo universal: é conveniente corrigir-se disso quanto antes.

Realização

Julgo as pessoas por aquilo que têm ou por aquilo que são?

Caçoo e desprezo os meus colegas mais pobres?

Propósito:

Esforce-se por encontrar algumas boas qualidades num colega que muitos humilham.





P rojetar

a vida


Todo edifício para ter estabilidade e ser perfeito deve ser projetado com cuidado.


Também a pessoa para ser santa deve projetar com cuidado a própria vida.

Apresentação


Leia «Um inconveniente provvidencial» e «Os anos de seminário».

João decide impor-se algumas regras concretas que o possam ajudar a ser fiel às suas opções. Escreveu o seu projeto de vida. Foi-lhe muito útil para verificar os seus progressos e elevar cada vez mais o nível dos seus objetivos. Quando ele se adentrar nos anos, o irá melhorando e adaptando às novas situações de vida. Opta pelo concreto e pela simplicidade. Melhor poucos propósitos precisos e profundos do que muitos e gerais, que depois não pode praticar.

Atualização

Hoje também é importante projetar a própria vida. Prefixar-se metas, avaliá-las periodicamente e pô-las nas mãos de Deus Nosso Senhor. Ajuda a ser pessoas que não renunciam aos próprios valores.

Realização

Fiz, alguma vez na vida, propósitos para melhorar o meu caráter?

Vivo por viver, casualmente, ou já projetei o meu futuro?

Propósito:

Experimente escrever o seu projeto de vida. Poderia dividi-lo em três partes: Deveres para com Deus; deveres para com os outros; e deveres para com o melhoramento de mim mesmo.














4 Dom Bosco e o início do Oratório (1841–1846)

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4.1 Primeira escolha

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Ao terminar o verão de 1841 Dom Bosco devia decidir o que fazer. Ofereceram-lhe três possibilidades. Uma família de Gênova precisa de um professor particular. Pagamento: 1000 liras anuais. Os conterrâneos de Morialdo, a ele muito afeiçoados, lhe oferecem o cargo de capelão, prometendo-lhe duplicar o salário. É-lhe enfim proposta a incumbência de vice-pároco em Castelnuovo. É claro que mil liras por ano não eram poucas e além disso poderia dispor de muito tempo livre; mas também estar perto de casa seria muito agradável. Descartou logo as motivações ligadas ao dinheiro: nem ele nem a mãe ficariam satisfeitos. Que escolher? A melhor solução parecia ser a de pedir conselho ao sábio P. Cafasso. Este, depois de ouvi-lo com atenção, lhe disse sem hesitar:

– Não aceite nada. Venha para o Colégio Eclesiástico. Você precisa completar a sua formação, estudando moral e pregação.

Dom Bosco aceitou. E com muito prazer. No dia 3 de novembro entrou para o Colégio Eclesiático. Efetivamente precisava aprimorar o estudo dessas duas matérias tão importantes. A moral tê-lo-ia ajudado a guiar os jovens a reconciliar-se com Deus. E a pregação, a inflamá-los no no amor a Deus.

Nesse ‘Colégio’, aprendia-se a ser padre. Os estudos de moral seguiam ali a linha de S. Afonso Maria de Ligório. O santo, em síntese, propunha ser mais elásticos e benévolos no julgar os problemas ligados à consciência. Na prática, não é preciso ser rigorista, mas objetivar o amor a Deus: a freqüência assídua aos sacramentos teria ajudado os fiéis a viverem no amor de Deus.

O horário da dia programava pela manhã meditação, oração e aulas. De tarde, apostolados práticos em ambientes da cidade: hospitais, prisões, institutos de beneficência, pregações em igrejas, catecismos, assistência a doentes e idosos. Para Dom Bosco, uma dessas experiências foi acachapante. Acachapante, mas iluminadora.


4.2 Às prisões para visitar os jovens

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O P. Cafasso começa levar Dom Bosco a visitar os presos. Nessas visitas dramáticas, percebeu que muitíssimos eram rapazes entre 12 e 18 anos. Como era possível que adolescentes sadios e inteligentes lá estivessem sem fazer nada, a se encher de piolho e doença? Quem se interessava por eles? Quem os esperava fora? Muitos deles, apenas livres e decididos a mudar de vida, não tinham para onde ir. E viam-se obrigados a roubar, retornando em seguida à prisão. Vendo aqueles olhos espantados e irados contra o mundo, Dom Bosco pensou:

Esses rapazes deveriam encontrar lá fora un amigo que os cuidasse, assistisse, instruísse e levasse à igreja nos dias santos. Então, quem sabe, não voltariam a corromper-se... Certamente seriam bem poucos os que voltariam à prisão.

No mercado geral da cidade descobriu mais uma coisa horripilante: um autêntico «mercado de braços juvenis». Perto da Porta Palazzo havia muitos pequenos ambulantes, engraxates, limpachaminés, passadores de propaganda, serviçais de comerciantes. Rapazes todos que vinham dos campos em busca de um serviço qualquer para sobreviver. Subiam andaimes de pedreiros...: se caíssem, ninguém se importaria com eles: haveria mais dez na fila para ocupar-lhe a vaga... Girovagavam como lobos pelas ruas, jogavam de azar, roubavam nos mercados. Se alguém tentasse aproximar-se, tornavam-se desconfiados, altivos e cheios de desprezo. Nos seus olhos entretanto Dom Bosco não lia ferocidade. Lia... medo. Devia fazer alguma coisa. E logo Deus lho haveria de ‘dizer’.






4.3 Um acontecimento estranho

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No primeiro mês passado no Colégio Eclesiástico, Dom Bosco começou a fazer amizade com alguns meninos, que começaram a segui-lo por todos os lados. Mas não tinha uma sala em que reuni-los e não tinha bem claro o que deveria fazer. Como de costume, Deus age nas coincidências. Quis a Providência que exatamente naquele mês de dezembro, um fato estranho ajudasse o nosso padre a ver o que deveria fazer.

No dia 8 de dezembro de 1841, Solenidade da Imaculada Conceição de Maria, Dom Bosco estava colocando os paramentos para celebrar a santa Missa. O sacristão, vendo a um canto um rapaz, convidou-o a fazer de coroinha. Como ele insistisse em recusar, dizendo que não sabia, o sacristão se enfureceu:

Se não sabe ajudar à missa, por que então vem aqui!?

Agarrou o acendedor de velas e começou a ‘bastonar’ o pobre do rapaz, que logo se arrancou fugindo daquele lugar. Vendo a cena, Dom Bosco interveio:

Que está fazendo? Por que bate nesse rapaz? Que fez de mal?

Vem à sacristia e não sabe ajudar à Missa!

  • E por isso precisa bater? Deixe-o em paz! É um meu amigo! Antes, vá buscá-lo imediatamente! Preciso falar com ele!

O sacristão correndo e chamando conseguiu alcançá-lo! Tranquilizou-o e o levou a Dom Bosco, que lhe disse com gentileza:

Ôi! Vem cá! V. já assistiu Missa?

Não.

Aproveite e venha ouvir. Depois preciso falar-lhe de uma coisa de que certamente vai gostar, ok?

Terminada a Missa, Dom Bosco levou-o a uma capelinha: queria tranquilizá-lo e desfazer a péssima impressão que iria levar para toda a vida.

Então, meu amigo, como se chama?

Bartolomeu Garelli.

De onde vem?

De Ásti.

Seus pais estão bem?

Não! Já morreram.

Quantos anos tem?

16.

Bartolomeu não sabia nem ler, nem escrever. Nem fizera a primeira Comunhão. Não ia ao catecismo porque temia que os mais pequenos caçoassem dele que já era bem grandinho... Dom Bosco instintivamente lhe propôs:

Se eu preparasse um catecismo especial, v. viria também?

De muito boa vontade.

Poderia ser aqui mesmo?

Basta que não me batam!

Dom Bosco garantiu que não: ninguém mais tocaria nele! Começou por ensinar-lhe a fazer o sinal de cruz, coisa que Bartolomeu já não lembrava. Falou-lhe do amor de Deus e por que nos criou. Agora que tinha feito a experiência de un amigo que se interessava por ele, podia explicar-lhe melhor quanto a sua amizade interessava a Jesus Cristo. Rezaram juntos uma Ave-Maria: Dom Bosco fez sempre coincidir o início do Oratório com aquela oração.


4.4 O primeiríssimo oratório

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Na semana seguinte Bartolomeu não estava só. Seguira o conselho de Dom Bosco: «Na próxima vez traga ao menos mais um amigo». Todos os salesianos o dizem! E assim continuou o catecismo, que aos poucos se transformou em Oratório. Inicialmente Dom Bosco convidava aqueles rapazes que deixavam a prisão e que lhe pareciam ser mais periclitantes. Mas para fazer-se ajudar a manter a ordem e para propor objetivos mais altos, convidou também rapazes instruídos e de boa conduta. Esse grupo, embora por entre dificuldades, foi-se amalgamendo de tal forma que logo puderam inserir cantos e leituras recreativas que animavam os encontros. Em março de 1842 já eram trinta! Entre outras coisas, podiam também animar a missa da Anunciação com algum belo canto. Naquela primavera, um dos primeiros meninos do Oratório, Carlos Buzzetti, trouxe consigo também o seu irmãozinho José, de 10 anos. José afeiçoou-se a Dom Bosco como a um pai. E o acompanhará através de todas as suas aventuras.

Muita daquela gentinha eram pedreiros, canteiros, estucadores, calceteiros – trabalhos ligados à construção de casas ou ao calçamento de ruas – que vinham de povoados distantes. O número crescia e a capelinha diminuía. O P. Guala, diretor do Colégio Eclesiástico, e o P. Cafasso deram licença de reunir-se no pátio vizinho. Interessaram-se por conseguir santinhos. Sobretudo pão com que matar a fome daqueles pobrezinhos que ali ficavam para brincar depois da missa de Dom Bosco. Quando havia confissões, também os dois excelentes sacerdotes continuavam no pátio para assistir os meninos entretendo-os com histórias alegres. A licença foi concedida por três anos e nunca foi retirada! Os número dos meninos subiu para oitenta: quantos podia conter o pequeno pátio. Mas havia outros que queriam vir. Por três anos, até 1844, o Oratório funcionou naquele pátio do Colégio.


4.5 Em busca da vontde de Deus

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O P. José Comollo, tio de Luís, já bem idoso, precisava de alguém que o ajudasse a levar avante a Paróquia de Cinzano. Pensou em pedir ao Arcebispo que lhe destinasse o P. João Bosco, isto é, Dom Bosco. O P. Cafasso chamou-o no escritório e lhe disse:

– Os seus estudos acabaram. Agora é preciso trabalhar. Há tantas possibilidades na vinha do Senhor! Que se sente de fazer?

Dom Bosco respondeu:

– Farei o que senhor me disser.

O P. Cafasso lhe disse que, além de Cinzano, havia outras três possibilidades: vice-pároco em Buttigliera d’Asti, professor de moral no Colégio Eclesiástico e diretor do Pequeno Hospital de Santa Filomena para meninas doentes, fundado pela Marquesa de Barolo.

Visto que Dom Bosco confiava cegamente no que lhe dizia o seu diretor espiritual, este lhe disse que fosse tirar algumas semanas de férias. Quando voltou, chamou-o:

Pegue as malas e vá trabalhar na obra do «Rifugio» com o P. Borel. Trabalhará aí! Será também o diretor do Pequeno Hospital.

A Marquesa de Barolo tinha fundado o «Rifugio», na região de Valdocco, perto da obra do Cottolengo. A obra acolhia mulheres que desejavam deixar a rua e refazer a vida. Perto ficava o Pequeno Hospital para meninas doentes, que Dom Bosco deveria dirigir. Nos três anos que tinha passado no Colégio, sempre convidado pelo P. Borel – com quem havia tempo mantinha excelente relacionamento –, pregara ali exercícios espirituais: ele admirava esse excelente sacerdote P. Borel, que se dedicava totalmente a salvar o maior número possível de almas. Logo que chegou, assegurou-lhe que teria podido continuar com o seu Oratório festivo, na saleta que lhe fora destinada. Quando ficassem prontos os ambientes para os sacerdotes, poderia usar aqueles.


4.6 Sonhos ou visões?

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No dia 13 de outubro de 1844 Dom Bosco deveria comunicar aos seus meninos a transferência do Oratório: do Colégio ao Pequeno Hospital de S. Filomena. Estava muito ansioso: que pensariam os oratorianos? Viriam eles igualmente? Perderia talvez o trabalho de três anos? Foi dormir com esses pensamentos no coração. Mas naquela noite ele teve mais um sonho.

Desta vez não tinha mais nove anos. Mas a situação era muito parecida. Uma alcatéia de lobos ferozes erguiam sua uivada pavorosa. Dom Bosco, apavorado, queria fugir, mas apareceu uma pastora que o convidou a conduzir o rebanho atrás dela. O estranho grupo parou três vezes. Em cada parada, muitas daquelas feras se transformavam em mansos cordeirinhos. No fim da caminhada chegaram a um prado: ali todos os cordeiros saltitavam e comiam tranquilamente. A pastora convidou Dom Bosco a não parar. Juntos chegaram a um pátio muito amplo. Vários cordeiros se haviam transformado em pastores, permitindo que o rebanho aumentasse desmedidamente. Dom Bosco olhou com cuidado: viu surgir uma Basílica majestosa, com uma orquestra pronta para tocar e um coro que se aprestava a animar a Missa. No interior da igreja havia uma grande faixa branca sobre a qual se escrevia com caracteres cubitais: «Aqui está a minha casa. Daqui sairá a minha glória». O sonho terminou com uma última afirmação da pastora:

Compreenderá tudo quando contemplar com os seus próprios olhos tudo quanto você acaba de ver hoje em sonho.

Trata-se da descrição exata de tudo quanto efetivamente acontecerá e que racontaremos nas próximas linhas. Talvez por este motivo Dom Bosco, quando já parecia devesse deixar a sua aventura com os jovens, e quando também os seus mais próximos colaboradores o consideravam louco, insistia, contra tudo e contra todos, dizendo:

Não pode acabar assim! Eu vejo uma grandíssima Igreja, um Oratório cheio de meninos. Vejo colaboradores que me ajudam! Estou certo! Certíssimo!


4.7 O Oratório deixa a casa da Marquesa

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No domingo Dom Bosco deu a notícia aos seus meninos. E o fez com o seu costumeiro entusiasmo. Para tranquilizá-los prometeu locais e pátios amplos e espaçosos!

Na semana seguinte os meninos se abalaram em busca do seu amigo pelas estradas de Valdocco:

– Onde é que fica o oratório? Onde está Dom Bosco?

Naturalmente ninguém sabia de nada. O P. Borel e Dom Bosco ouviram o barulho e acorreram para receber os meninos. Naquelas duas semanas, perto de 200 moleques se reuniam naqueles quartinhos, pelas escadas e pequeno pátio dos dois admiráveis sacerdotes! Acho que todos podem imaginar o que significa controlar tantos adolescentes em ambientes tão pequenos. Dom Bosco não desanimou: preparou uma capelinha, começou a ensinar a ler e a escrever aos mais grandinhos. Precisava-se entretanto de dinheiro para livros, para roupas para os mais pobres, para comprar algum brinquedo com que os entreter, e para as merendas. Mais uma vez o seu caráter altivo se teve de humilhar e pedir esmola: desta vez na casa dos ricos. Uma das coisas que mais lhe custou! Mas era necessário. Fez um grande esforço e se humilhou.

Tudo parecia prosseguir cem por cento. Improvisamente irrompe um conflito entre dois... santos. A Marquesa julgava passageiro o empenho de Dom Bosco pelos meninos, esperando poder dispor dele para as suas obras. Dom Bosco, por seu lado, pensava exatamente o contrário. Não se podia ir para a frente assim. Juntos decidiram separar os caminhos. A Marquesa continuará como quer que seja a ajudar Dom Bosco, entretanto lhe pediu que buscasse outros ambientes: depois de sete meses de paraíso, viu-se obrigado a levantar acampamento.

Nesse período Dom Bosco se deu conta de quão grande paciência se devia alguém armar para lidar com os miúdos: decidiu colocar-se sob a proteção do santo da doçura e da paciência: desse momento em diante o Oratorio chamar-se-ia «Oratório de São Francisco de Sales».


4.8 Primeiras duas etapas São Pedro ‘in Víncoli’ e São Martinho

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O Oratório de Dom Bosco estava na... rua. Mas encontrou alojamento na Igreja de São Pedro ‘in víncoli’, dedicada ao Crucifixo. Na quaresma começou a levar os maiorzinhos ao catecismo. O capelão, P. Tésio, ficou bem impressionado com ‘aqueles’ rapazes e aceitou a proposta de transplantar todo o Oratorio para o pátio da sua igreja. O pobrezinho não podia imaginar que chegaria um exército de adolescentes que corriam e gritavam como loucos. A «perpétua», ou criada do capelão, espantada, estrilou: insultou pesadamente Dom Bosco. E o P. Tésio convidou Dom Bosco a não mais voltar.

Estava para vencer o prazo do ultimátum da Marquesa e a inauguração do seu Pequeno Hospital. Dom Bosco teve de pedir ajuda na Prefeitura. O Arcebispo apoiava o pedido e, por sorte, foi permitido ao Oratorio transferir-se para a igreja de São Martinho.

E assim, num domingo de julho do 1845, um grupo de rapazes, desfilaram suados pelas ruas de Turim, levando bancos, cadeiras, brinquedos e objetos de igreja, rumo aos moinhos da cidade.

A licença só era válida para o horário do meio dia até às três da tarde: o resto do tempo seria usado em passeios. Os meninos começavam a ressentir-se pelos muitos despejos. Mas o admirável P. Borel inventou um sermão formidável, que fez todo o mundo voltar ao bom humor: foi o semão dos repolhos. Dom Bosco o relata mais ou menos assim:

Os repolhos, meus caros meninos, para crescer e fazer uma grande cabeça, devem ser transplantados. O mesmo se deve dizer do nosso Oratório. Foi transplantado de cá para lá. A cada transplante, cresceu. Os meninos que o frequentam são cada vez mais numerosos e felizes. No primeiro pátio fizemos uma parada como aqueles que viajam de trem. Naquelas semanas todos puderam receber algum auxílio: brinquedo, catecismo, explicação do Evangelho. E nos prados pudemos brincar alegremente. Quanto tempo ficaremos aqui? Não o sabemos. Seja como for, nós cremos que se dará com o nosso Oratório aquilo que acontece com os repolhos transplantados: crescerá em número de meninos que querem tornar-se bons; e crescerá a nossa vontade de cantar e tocar. Se nós hoje, frequentando o Oratório, melhorarmos a nossa conduta, Deus nos ajudará a crescer no bem por toda a vida».

O sermão funcionou maravilhosamente e no fim todos ergueram um grande hino de louvor a Deus.

Num daqueles domingos, Dom Bosco distribuiu medalhinhas de N. Senhora. Os meninos se apinhavam e em poucos instantes terminaram todas. Enquanto as distribuía, Dom Bosco observava o pequeno Miguel que se ficava de lado: tinha pouca vontade de se amontoar. Estava triste, porque dois meses antes havia perdido o pai. O bom padre se aproximou e com um grande sorriso fez de conta que partia alguma coisa e lhe entregava um pedaço:

  • Pegue, Miguelzinho, pegue!

  • Que devo pegar?

  • Não vê nada? Nós dois dividiremos tudo!

Aquele rapazinho era Miguel Rua, primeiro salesiano e primeiro sucessor de Dom Bosco.

4.9 Terceira etapa: casa Moretta

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Infelizmente também nos Moinhos chegou o despejo: barulho demais! Os inquilinos do bairro não aguentavam mais. Não se podia mais descansar. Nem no domingo de tarde! Escreveram à Prefeitura e o Prefeito, com muito pesar, teve de pedir ao Oratório que mais uma vez se deslocasse.

Nos domingos seguintes Dom Bosco mostrava-se sempre alegre: não deixava transparecer aos meninos a sua preocupação. Podemos imaginar quanto lhe custasse dissimular a sua tristeza.

–Caros meninos, quero dar-lhes uma boa notícia! Hoje iremos juntos até a Igreja de Superga! Quem acha que não conseguirá chegar até lá, levante a mão!

Naturalmente todos achavam que conseguiriam: teriam escalado até montanhas para o seguir! E assim, levando-os num domingo a Superga, noutro à «Madonna del Pilone» e noutro ainda ao «Monte dos Capuchinos», Dom Bosco ia ganhando tempo e esperando que a Providência lhe indicasse o que fazer. Em novembro (de 1845), entretanto, fazia frio e junto com o P. Borel tomou a decisão de alugar três quartos na casa do P. Moretta. Ali poderiam juntar os meninos, dar catecismo e oferecer a todos a possibilidade de confessar-se. Naquele inverno nasceram as primeiras escolas ‘noturnas’, uma novidade incrível para aquele tempo! Dom Bosco pensava:

– Não posso deixar os meus rapazes na ignorância. Alguns deles são verdadeiramente brilhantes. Quem sabe um dia não possam tornar-se bravos sacerdotes!

Falou-se muito daquela opção: alguns eram contra, outros a favor. Começaram a circular vozes estranhas acerca de Dom Bosco. Mais ou menos isto:

–Não lhe parece que o P. Bosco esteja exagerando com essa mania de meninos pobres?

Sim, diz que conseguirá ajudar a todos! Está convencido de ver igrejas e edifícios em que lhes dará alojamento.

A meu ver está é lelé da cuca

Também acho! Deveria internar-se... ou ao menos conceder-se um respiro!

Dom Bosco sabia de tudo. E sofria. Mas fazia de conta de não saber. Ia para a frente. Se não pensasse ele nos seus rapazes, quem o faria? Talvez nos momentos de maior desconforto não lhe vinham à mente as palavras da mãe:

João, lembre-se de que começar a dizer missa significa começar a sofrer.

Entretanto os párocos de Turim, não podendo fazê-lo pessoalmente, deram-lhe licença de continuar o trabalho com esses meninos sem paróquia. Era finalmente uma boa notícia!

Mas a alegria durou pouco, porque na primavera do 1846, mais uma vez os inquilinos obrigaram o bom P. Moretta a afastar o Oratorio.

4.10 Prado Filippi

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Dom Bosco alugou um prado dos Irmãos Filippi. Agora o Oratorio estava sem casa. Mas por sorte já era primavera. E saberia como fazer! Para confessar não tinha mais genuflexório nem a cômoda cadeira da Casa Moretta. Então sentava à margem de um fosso! Rezava-se missa numa das igrejas vizinhas. Em seguida podia-se correr e brincar todo o tempo. Apesar das dificuldades, foi um tempo belíssimo que os participantes lembraram e contaram por muitos anos.

Entretanto os problemas não tinham acabado. O Marquês Miguel de Cavour, chefe de polícia, tentou convencer Dom Bosco a desfazer o Oratório: de fato as famosas vozes de corredor o haviam convencido da... periculosidade social de centenas de rapazes que obedeciam cegamente àquele padre. Dom Bosco não cedeu! Mas, voltando para casa, encontrou a carta de despejo dos Irmãos Filippi. A Marquesa de Barolo insistia para que escolhesse: ou as suas meninas ou o Oratorio. O P. Borel aconselhava ficar apenas com poucas crianças para não ter mais problemas com a polícia. O P. Cafasso aconselhava a esperar. Chegou assim pela última vez ao prado Filippi. Não sabia o que fazer: afastou-se um tanto dos meninos e começou a chorar. Um choro silencioso. E naquele momento chegou-se a ele un certo Pancrazio Soave que, com voz hesitante, lhe disse:

– É verdade que o senhor procura un lugar para fazer um laboratório?

Dom Bosco quase não podia crer. Tratava-se de um pequeno telheiro, ou alpendre, atrás da casa do Sr. Pinardi, mas muito baixo para as suas exigências! O bom do homem comprometeu-se a modificá-lo para as necessidades do Oratorio e aceitou alugar também o prado circunstante: estava superfeliz por dispor de uma capela para a família.

– De acordo! Contrato fechado! Domingo pode vir: tudo estará pronto.


4.11 Finalmente a casa!

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Dom Bosco não cabia em si! Correu para os seus meninos, reuniu-os e com todo o entusiasmo de que era capaz lhes disse:

Uma linda novidade, meus filhos! Achamos o Oratorio, do qual ninguém mais nos mandará embora. Teremos igreja e pátio para brincar. Domingo que vem, iremos todos para lá.

Os meninos pareciam fora de si, tanta era a felicidade do momento: corriam, pulavam, ninguém mais conseguia contê-los. Puseram-se a rezar o terço para agradecer a N. Senhora. Ela tinha guiado e sustentado Dom Bosco nesses anos de sofrimento e nomadismo. E, finalmente, lhe havia encontrado uma casa.


f icha de reflexão

para jovens e animadores


4.12 A vida de são João Bosco oferece muitos tópicos para reflexão, u’a mina a ser valorizada. Nesse sentido foram escritos muitos subsídios úteis para aprofundar e imitar as virtudes naturais e sobrenaturais deste Santo.1 Nesta ficha nos limitamos a pôr em evidência alguns aspectos que emergem da leitura e da meditação dos anos da primeira maturidade de Dom Bosco (dos 26 aos 31). Depois de ter lido as poucas páginas precedentes, podemos focalizar a nossa atenção nessas temáticas: a vida como missão, a presença de Jesus na vida do cristão, a necessidade de um guia espiritual.

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4.13 A vida como missão

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Lendo o parágrafo «a primeira escolha» vemos o jovem Dom Bosco atravessar uma fase importante da vida. Está perante um bívio.

Agora sou padre. Que devo fazer? Que proposta devo aceitar? E todos os meus projetos de antigamente? Tenho o desejo de ajudar os jovens pelos quais ninguém se interessa, mas como fazê-lo?

Para fazer a escolha certa é obrigado a pensar em critérios que o ajudem no discernimento. Antes de tudo descarta imediatamente:

  • As motivações ligadas ao dinheiro.

  • As motivações ligadas ao seu status (professor, vice-pároco).

  • As motivações ligadas à estima dos outros.

Decide pedir conselho e colocar-se nas mãos do diretor espiritual, P. José Cafasso, que lhe sugere continuar a estudar tendo em vista a missão.

Realmente a vida de todos os cristãos é missão e todos os jovens antes ou depois se devem fazer algumas perguntas. A questão é a seguinte: qualquer coisa que me sinta de fazer, deverei fazê-la pensando em irradiar o bem e a mensagem do Evangelho em torno de mim. Não posso basear as minhas escolhas em critérios apenas ligados ao consumismo, i. é, ter mais dinheiro, ser alguém, ser apreciado; embora seja verdade que deverei sustentar a família e portanto o dinheiro em todo o caso me servirá; mas não ele será tudo.

Todo trabalho que o cristão realiza, desde vender frutas até ensinar na universidade, deve ser feito como cristão, de modo honesto e generoso. É no lugar de trabalho que Deus nos chama a evangelizar; não fazendo conferências sobre a Trindade, mas muito mais simplesmente: cumprindo com alegria e devotamento o próprio dever. Qualquer coisa que você escolha fazer, recorde-se de que é ali que Deus o manda a transformar o mundo. Ser cristão é uma coisa muito séria.

Algumas perguntas para a reflexão pessoal.


  • Que lugar ocupa Deus nos meus projetos para o futuro?

  • Que espaço Lhe posso reservar?

  • Quais são os critérios que orientam as minhas opções?



Dom Bosco empenhou-se a fundo nos três anos de estudo no Colégio Eclesiástico: sabia que tudo aquilo que estava aprendendo estaria em função dos meninos que iria encontrar. Não estudava para aumentar a sua cultura e quiçá para aparecer. Era para poder servir melhor aos seus destinatários.

Estudou moral e se tornou um dos maiores confessores do seu século; estudou pregação e foi um grandíssimo pregador.

Também os estudos universitários que o jovem cristão empreende podem ser vistos em função da missão: se não totalmente, ao menos de modo significativo. Quanto v. aprender hoje, pô-lo-á amanhã a serviço dos irmãos.

  • Que finalidade têm os meus estudos?

  • Já pensei alguma vez no bem que poderei fazer amanhã?

4.14 Que espaço tem Jesus Cristo na vida do cristão?

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Na vida de Dom Bosco o principal protagonista é Jesus Cristo.

Dom Bosco vence o oscar de melhor ator não-protagonista. O melhor ator é Jesus. O Espírito Santo è o diretor que orienta os acontecimentos. Deus Pai, o produtor.

A grandeza de Dom Bosco está no ter compreendido o seu papel. «Torne-se humilde, forte e robusto» – havia aprendido no sonho dos nove anos. Ser humilde significa entender que os dons que temos nos são dados de empréstimo para levar a termo a missão de Jesus e não para aumentar a nossa popularidade. Significa abrir espaço a Deus e deixar que seja Ele a agir em nós.

Jesus era o centro da vida de Dom Bosco. Falava dEle em tudo o que fazia.

Jesus perdoava, Dom Bosco confessava. Jesus se fez pão partido, Dom Bosco levou os jovens à Eucaristia. Ensinou-lhes a amá-Lo e a encontrá-Lo nos Sacramentos. E o fazia com simplicidade e alegria. Não tornava pesado o encontro com o Senhor, porque sabia que se tratava de um encontro determinante para a vida dos seus jovens.

Ele mesmo, desde a adolescência, frequentava com assiduidade a Confissão e a Comunhão, consciente de que, sem Sacramentos, não teria feito nem a metade de quanto fez.

Lendo o fato do encontro com Bartolomeu Garelli, no parágrafo «um estranho acidente», constatamos que Dom Bosco falava sempre de Jesus. De fato lhe pergunta imediatamente:

  • Você já ouviu Missa?

Após tê-lo acolhido paternamente, demonstrando-lhe um afeto total, a primeira coisa que faz é falar-lhe de Jesus, é dar-lhe um pouco de catecismo. Depois, no domingo seguinte, irá brincar com ele no pátio do Colégio Eclesiástico. Às vezes parece que se faça o contrário... e se pense: «Estará esse menino preparado para ouvir falar de Jesus Crsito?». Nasce o desejo de perguntar mui espontaneamente: «Quão presente estará Jesus na vida desse animador que diz tais coisas?». Mas é claro que nem todos somos ainda (!) Dom Bosco, portanto a única coisa que devemos fazer é seguir o seu exemplo e ouvir os seus conselhos. Comecemos por fazer-nos alguma pergunta.

  • Conheço Jesus só por ter ouvido falar ou posso mesmo dizer que me encontrei com Ele realmente?

  • Li alguma vez um dos evangelhos, do início até ao fim? Ou apenas me contentei com o evangelho ouvido na Santa Missa?

  • Falo de Deus aos adolescentes que me foram confiados?

4.15 Em busca da vontade de Deus

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A vida de Dom Bosco parece repleta de coincidências. Um sábio antigo dizia: «As coincidências são milagres nos quais Deus mantém o anonimato». Quando para o seu Oratório tudo parecia acabado, eis que chega um homem... balbuciante e que o leva ao telheiro Pinardi. Quando não sabia como ajudar os meninos que o rodeavam, eis que chega Bartolomeu Garelli. Quando precisava de 30.000 liras para comprar a casa Pinardi, eis que o dinheiro lhe chega e... muito. Isso porque Dom Bosco se dava conta de que era Deus quem estava guiando a história. Confiava em seu diretor espiritual, P. Cafasso, e tudo aquilo que lhe acontecia era ocasião para oração pessoal. Lia os acontecimentos à luz do Senhor e se deixava guiar pela Providência, mas – como me parece bastante claro – Dom Bosco nunca sonhou de ficar-se de braços cruzados e esperar que tudo caísse do céu...

Deus guia também a sua história de você. E você também pode empenhar-se em procurar a Sua vontade dEle. Para consegui-lo, pode v. também procurar um seu P. Cafasso ou, se preferir, um seu P. Calosso. Afinal: um seu guia espiritual.


4.16 Um guia espiritual

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Como podemos ler na primeira parte da vida de João Bosco, desde pequeno tinha encontrado no P. Calosso um excelente guia espiritual:



«Coloquei-me logo nas mãos do P. Calosso. Manifestei-lhe toda palavra, cada pensamento. Aprendi então o que era ter um guia estável, um fiel amigo da alma, que até aquele tempo não tivera. Animou-me a freqüentar a confissão e a comunhão, e me ensinou a fazer cada dia uma pequena meditação. Ninguém pode imaginar a minha alegria. Amava o P. Calosso como um pai. Servia-o de boa vontade em todas as coisas. Aquele homem de Deus me queria realmente bem».


Nos anos da adolescência João deixou-se guiar por algum excelente sacerdote. Quando teve de decidir se entrava ou não para o seminário, sugeriram-lhe aconselhar-se com santo P. Cafasso. Ficou tão impressionado que, desde aquele momento, se deixou guiar sempre por ele. Abriu-se completamente e muitíssimas vezes. Também quando Dom Bosco teve de atravessar sérios momentos de dificuldade. Os conselhos do diretor espiritual sempre se mostraram exatos. É claro que o P. Cafasso não era um sacerdote comum. Pio XI – que o proclamou Bem-aventurado – difiniu-o «a pérola do clero italiano». Pio XII – que o proclamou Santo – reconheceu-o «um modelo de vida sacerdotal». Mas se é verdade que o Espírito Santo é o diretor de tudo, podemos confiar e ir em busca de um guia espiritual que nos auxilie a tornar-nos santos.

Experimentemos refletir sobre este aspecto da nossa vida.


  • Já pensei alguma vez que, se não percorrer eu mesmo um caminho espiritual sério, não poderei dar o que não tenho aos jovens que Deus me confiar?

  • Já procurei ter um guia, ou diretor, espiritual?

  • Confesso-me regularmente?

  • Abro-me completamente como Dom Bosco ao P. Cafasso? Ou retenho alguma coisa para mim?

4.17 Conclusão

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Ler a vida de Dom Bosco e refletir sobre estes aspectos pode ser uma boa preparação para o nosso encontro com ele quando estivermos perante a sua Urna. Podemos chegar com alguma oração concreta. Partindo da sua vida, podemos chegar à nossa. Podemos pedir-lhe que nos ajude a pôr Jesus Cristo no centro da nossa vida, a purificar as nossas intenções e os critérios das nossas opções. Podemos rezar a ele para que ilumine o nosso guia espiritual ou para que nos ajude a achar um, como o dele. Podemos pedir-lhe que nos ajude a descobrir a vontade de Deus a nosso respeito.

Podemos dizer-lhe tantas coisas... Não acha que seria interessante chegar à sua presença bem preparados?!






5 Dom Bosco fundador consolida a sua obra (1846–1869)

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Um dia no Oratório

O Arcebispo renovou com prazer todas as permissões concedidas ao Oratório. Na capela Pinardi podiam-se administrar os sacramentos e celebrar a Eucaristia. Devido a essa benevolência e à sede estável, os colaboradores que haviam abandonado Dom Bosco começaram a voltar.

Dom Bosco abria bem cedinho a igrejinha e começava a confessar até à hora da Missa. Durante a função, na hora da homilia, começou a racontar a História Sagrada. Em capítulos. De maneira simples e popular, racontava usos, costumes e fatos da Bíblia. Os meninos esperavam com avidez aquelas ‘histórias’ que agradavam também aos adultos e aos mesmos sacerdotes. Depois da pregação, iniciavam as aulas. Até ao meio dia. À uma, se fazia um pouco de recreação. E, às duas e meia, catecismo. Terminava-se tudo com as vésperas e uma breve estória. Esta era para convidar os meninos a praticar uma virtude durante a semana. Nessa hora começava o tempo livre, em que todos podiam brincar no pátio ou, à escolha, continuar a aprender canto ou leitura. Dom Bosco se servia daquelas recreações longuíssimas para aproximar-se dos meninos, saber da sua vidinha e lhes dizer uma boa palavra.

O Marquês de Cavour, mais uma vez, preocupou-se com aquelas reuniões e tentou pôr um fim. Mas interveio o mesmo Rei, Carlos Alberto em pessoa, através de um seu delegado, dizendo:

O Rei quer que essas reuniões festivas sejam ajudadas e protegidas. Se é que há perigo de alguma desordem, procure-se o modo de a prevenir e impedir.

Desde aquele dia, também os guardas do Rei estavam aos domingos na capela Pinardi... Resultado? Também eles se punham em fila para confessar-se com Dom Bosco!

Uma aula por semana aos rapazes analfabetos é claro que não podia bastar. Mas já fazia tempo que Dom Bosco a dava também de noite, todos os dias. O problema porém estava nos livros de texto: exceto o catecismo, nada havia de acessível para aqueles rapazes simples. As homilias do domingo se tornaram em pouco tempo o livro História Sagrada para uso das escolas: un livro de texto, popular, rico de episódios úteis para os alunos e capaz de apresentar claramente os elementos fundamentais da fé cristã. Nasceram assim mais dois livros: O sistema métrico decimal simplificado e O Jovem Instruído. O estudo, a que, com empenho e suor, Joãozinho Bosco se havia dedicado, começava a dar os primeiros frutos.

5.1 Dom Bosco está mal

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A semana de Dom Bosco era muito pesada. Além de trabalhar no Hospital do Cottolengo e no ‘Rifugio’ da Marquesa, trabalhava até tarde da noite para escrever os livros para os seus meninos. Apenas podia ia visitá-los nas prisões e no lugar de trabalho: a eles dedicava todo o tempo livre. O muito trabalho ameaçava minar seriamente a sua saúde. O P. Borel mandou-o descansar junto a um seu amigo pároco, perto de Superga. Mas também alì os meninos foram assediá-lo.

Depois da volta dos Sassi – raconta Dom Bosco – acabei vitimado por um grande esgotamento. Tiveram de levar-me para a cama. Em oito dias cheguei à beira da sepultura.

Apenas se soube da notícia, centenas de meninos acorreram à sua cabeceira para pedir informações sobre a sua saúde. Choravam e não queriam ir embora. Muitos deles fizeram sacrifícios, jejuns e promessas a Nossa Senhora. E Ela os ouviu.

A doença foi em julho do 1846, quando ainda morava no Refugio. Em breve ter-se-ia transferido a Valdocco, mas antes foi passar alguns meses de convalescença com a família nos Becchi.


Mamãe Margarida e a nova família

Em pouco tempo Mamãe Margarida o botou de pé. Os jovens iam visitá-lo também nos Becchi. E agora estava melhor e deveria voltar. Tinham sido liberados dois quartos na casa Pinardi: queria alugá-los. Juntando toda a coragem que podia, perguntou à mãe:

–Mamãe, precisaria ir morar em Valdocco. E precisaria também de uma doméstica. Mas naquela casa mora gente em quem um padre não pode confiar. Gostaria de vir comigo?

Se acha que esta é a vontade de Deus, irei.

Margarida fazia um enorme sacrifício. Ali elea era a rainha: os netos a cobriam de afeto. Sua decisão foi heróica. Juntaram as coisas num cesto e rumaram para Valdocco. Ali Margarida sacrificou o seu enxoval de noiva para fazer toalhas para a capelinha e vestes litúrgicas. Começou com o filho a remendar a roupinha dos humildes pedreirinhos que pediam auxílio a Dom Bosco e a cuidar deles. O domingo agora para os meninos ficara mais bonito: todos tinham u’a mãe!

Numa noite chuvosa de maio, bateu à porta um rapaz de 15 anos:

–São um pobre órfão. Venho de Valsésia e procuro emprego. Mas não tenho mais nada.

–E agora aonde quer ir? – lhe pergunta Dom Bosco.

–Não sei. Por favor, me deixem passar a noite num canto.

O pobrezinho desatou a chorar. Sua mãe também se comoveu. Dom Bosco, após certificar-se de que não roubaria nada, como lhe haviam já feito outros, disse:

–Mamãe, se concorda, o deixamos dormir aqui.

–Aqui onde?

–Na cozinha.

–E se levar embora as panelas?

–Darei um jeito para que isso não aconteça!

–Então de acordo!

Margarida, com um pouco de palha, preparou uma ‘cama’ e, antes de esticar as cobertas, lhe ensinou a rezar alguma oração. Nascia naquele momento uma família que se haveria de estender desmedidamente. Família que hoje se chama Família Salesiana.

Como com Bartolomeu, Dom Bosco não se contentou com um só. Com o tempo os internos teriam aumentado: a caridade do povo o teria ajudado a alugar e a construir novos ambientes; e os rapazes teriam sido acolhidos na nova família.

O Oratório cresce

O oratório cresce grandemente. E, como acontece numa colmeia, enxameará. De acordo com o P. Borel, Dom Bosco alugou uma pequena casa perto de Porta Nova e ali fundou o oratório de São Luís, que adotou o mesmo sistema e regulamento do de Valdocco. O P. Jacinto Carpano assumiu a direção.

Graças a Deus também os colaboradores começaram a aumentar. Insignes músicos, como o P. Nasi e o P. Chiatellino, se uniram ao Oratório. E iniciaram um apreciadíssimo coro de vozes brancas, que se exibia nas paróquias de Turim. A Prefeitura de Turim e vários benfeitores começaram a destinar prêmios em dinheiro a esses meninos: assim também os órfãos internos podiam ter casa e comida.

Mais de uma vez houve quem quisesse convencer Dom Bosco a se meter em política, a levar os meninos a comícios civis. Ele sempre se recusou e sempre dirá:

– A nossa política é a política do Pai-nosso!

Havia alguns rapazes, como Miguel Rua e José Buzetti, que lhe estavam sempre ao lado e o ajudavam como podiam.

5.2 Contemplativo na ação

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Muitos com frequência se perguntavam:

– no meio de tantos empenhos, quando é que Dom Bosco acha tempo para cuidar da sua vida espiritual? Quando é que pode rezar?

6 A resposta, dada a seu tempo também pelo Papa Pio XI, foi esta: «Quando não rezava Dom Bosco?». Dom Bosco rezava sempre. Estava unido a Deus em tudo o que fazia: ensinava aos seus meninos mais grandinhos a rezar antes, durante e depois de cada ação importante do dia.

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Estar no inverno, no verão, descansados ou cansados, num pátio cheio de meninos – estas eram as mortificações que tanto recomendava aos seus colaboradores:

– Não façam grandes mortificações! Cumprir bem o próprio dever cotidiano é já um grande sacrifício. É ali que Deus os espera todos os dias.

De tarde dedicava ao menos uma hora de adoração a Deus: nesse momento não existia para ninguém! Quando caminhava, ou viajava, rezava a Nossa Senhora. De noite, depois de ter dado a ‘boa noite’ (pequena fala) aos seus meninos, guardava silêncio até depois da Missa da manhã, no dia seguinte: era o tempo de falar com Deus e por isso Dom Bosco não estava nunca só!

Foi por isso que lhe foram concedidas centenas de graças extraordinárias. Numerosas testemunhas, entre as quais os seus meninos e colaboradores, o viram multiplicar castanhas e pãezinhos, além de obter curas miraculosas por intercessão de Maria Auxiliadora.

Um homem que não reza não pode fazer dessas coisas. Dom Bosco era um contemplativo no trabalho e assim queria que fossem também os seus salesianos.


Novos locais

Já agora os órfãos aumentavam e os ambientes pareciam cada vez mais apertados. Num dia festivo, enquanto o P. Borel pregava, Dom Bosco encontrou-se como de costume com o Sr. Pinardi:

–Escute cá, Dom Bosco, me deve comprar toda a casa!

–O dinheiro que me pede é demais.

–Então me faça uma oferta.

–Mandei avaliá-la por uma pessoa de bem. E me diz que vale entre 26 e 28 mil liras. Dou-lhe 30!

–Se for à vista, negócio fechado.

–À vista!

–Dentro de 15 dias firmaremos o contrato. 100 mil de multa para quem voltar atrás.

–Está bem!

Trinta mil liras naquele tempo era muito dinheiro! Mas a Providência lhas fez chegar em poucos dias. Como sabia? Não sabia: confiava em Deus.

Precisava ainda de mais espaço. A igrejinha era pequena demais. Dom Bosco organizou uma grande rifa. Mobilizou os nobres de Turim. Pediu auxílio aos bispos das dioceses de origem dos meninos que acolhia e em 1851 foi lançada a primeira pedra da igrejinha de São Francisco de Sales. Em onze meses estava pronta. A inauguração foi uma festa incrível. Os jornais falaram por dias seguidos. O oratório era uma realidade e os benfeitores continuavam a apoiá-lo.

Os adolescentes acolhidos aumentavam e Dom Bosco cuidava deles. Muitos deles iam trabalhar fora de casa como apprendizes junto a artesãos profissionais. Foi um dos primeiros na Itália a se preocupar com ir falar com os patrões, a fim de que tratassem bem os rapazes, garantissem segurança, horas de trabalho adaptadas a eles e um justo descanso. Assinava pessoalmente os contratos. E, se não fossem respeitados, retirava os aprendizes. Bem cedo percebeu que os meninos, quando iam trabalhar fora de casa, corriam muitos perigos morais: perdia-se todo o fruto do trabalho que fazia com tanta paciência quando estavam no oratório. Como fazer? Desde menino também ele havia trabalhado: chegara o momento de... recomeçar.

Oficinas

Outros locais, outros benfeitores, outras humilhações, mas todas para o bem dos seus jovenzinhos. No outono do 1853 Dom Bosco iniciou as oficinas de sapataria e alfaiataria. Ele mesmo foi o primeiro mestre: sentou no banquinho e martelou uma sola na frente de quatro rapazinhos maravilhados. Poucos dias depois cedeu o lugar de mestre a um dos seus colaboradores. O primeiros mestre de alfaiataria foi outra vez Dom Bosco e, desta vez, também Mamãe Margarida. Em 1854 iniciou a oficina de encadernação. Em 1856, a de marcenaria. Mais tarde, a de tipografia. Com o tempo chegaram também verdadeiros mestres: produziam e ensinavam o ofício aos meninos.

Os internos já eram 65: redigiu um regulamento em que se dizia que só se acolhiam órfãos e os mais necessitados. O oratório com efeito não queria ser uma «casa de operários», mas uma verdadeira casa de educação. Junto com os aprendizes havia os estudantes, que não mais teriam aula de tarde, mas de manhã. Muitos deles acabaram salesianos.


Leituras católicas

Naqueles anos fora concedida paridade de direitos civis a judeus e a protestantes. Estes, sobretudo os da seita dos valdenses, se tornaram extremamente proselitistas: foi necessário pôr nas mãos do povo, especuialmente dos jovens, alguns subsídios de defesa. Os protestantes publicavam três jornais e confundiam as idéias da gente humilde. Tinham à disposição muito dinheiro e davam ajuda a quem frequentasse as suas escolas e o seu templo. Impelido pela necessidade, Dom Bosco iniciou naqueles meses a escrever algumas páginas esquemáticas sobre a Igreja Católica e alguns folhetos, impressos também nas suas oficinas, intitulados «Lembretes para os Católicos». Após o sucesso dos primeiros fascículos, Dom Bosco iniciou o projeto das Leituras Católicas, que tanto bem teriam feito ao povo.

Os protestantes tentaram várias vezes matar – isso mesmo: matar – Dom Bosco. Todas as vezes que foi agredido na rua conseguiu se salvar. Quando de noitinha era chamado para confessar algum doente grave fazia-se sempre acompanhar por José Buzzetti e por outros rapazes dos mais taludos: e freqüentemente era necessário que eles interviessem para difendê-lo dos atentados.

Apareceu até um cão misterioso, chamado por Dom Bosco «Grígio» (isto é, «cinzento»). Era um cão enooorme!!! Foram muitas as vezes que ele o salvou dos mal-intencionados. O cão aparecia e desaparecia à vontade. E ninguém sabia de onde viesse. Un dia Dom Bosco dirá sorrindo:

Dizer que seja um anjo faria rir; mas tampouco se pode dizer que seja um cão... ordinário.


Nascem os salesianos

Em 1852, Dom Bosco começa a fazer uma série de conferências ‘secretas’ aos melhores dos seus rapazes. O ‘Michelino’ (Miguelzinho) Rua tinha apenas 15 anos. Deversamente de outros não se espanta com aquilo que afirma Dom Bosco. Dizia, p. ex., que o oratório, nos próximos anos abrigaria centenas de adolescentes, que se haveria de transplantar por toda a Itália. Também para além dos Alpes. E mesmo para além dos oceanos. No outono de 1853, Dom Bosco confia a Miguel:

Eu preciso que V. me dê u’a mão. Pela festa de Nossa S. do Rosário virá comigo até a capelinha dos Becchi. Para ali virá também o pároco de Castelnuovo e lhe dará a batina, a veste que usam os clérigos e padres. Assim, quando iniciarmos o ano de 1853-54, v. será assistente e professor dos seus colegas. De acordo?

De acordo!

Numa dessas tardes Miguel, pensativo, perguntou a Dom Bosco:

O senhor se lembra do nosso primeiro encontro? O sr. acabava de distribuir medalhinhas, mas para mim não sobrara nada. Então me fez um gesto estranho, como se quisesse cortar e dar-me a metade da sua mão. O que queria dizer?

–Mas como? Ainda não compreendeu? Queria dizer que nós teríamos dividido tudo: todas as responsabilidades e também as dívidas! Mas também o Céu!

No dia 26 de janeiro de 1854 nos humildes aposentos de Dom Bosco quatro rapagotes que haviam participado daquelas palestras ‘secretas’ se reuniram para assumir mais seriamente o empenho de servir melhor os próprios colegas. No seu caderninho naquela noite, Miguel Rua anotou: «Reunimo-nos no aposento de Dom Bosco, Rocchetti, Artiglia, Cagliero e Rua. Foi-nos pro­posto fazer, com o auxílio de Deus e de são Francisco de Sales, uma experiência de exercício prático de caridade para com o próximo. A seguir faremos uma promessa. Depois, se for possível, um voto a Deus. Aos que fazem esta prova, e aos que a fizerem depois, se deu o nome de ‘Salesianos’».

No dia 25 de março de 1855 Miguel Rua fez voto a Deus de pobreza, castidade e obediência nas mãos de Dom Bosco: era o primeiro salesiano.

Dom Bosco começou a escrever as Constituições da nova congregação e em fevereiro do 1858, a conselho do Arcebispo de Turim, foi a Roma onde foi recebido pelo Papa Pio IX. Ele abençoou as iniciativas e lhe deu muitos e preciosos conselhos. No dia 18 de dezembro de 1859 no mesmo aposento de Dom Bosco reuniram-se 17 dos seus mais estreitos colaboradores. Havia-os preparado perfeitamente com conferências sobre os votos de pobreza, castidade e obediência. Naquela noite fizeram os votos diante do Crucifixo: começava – há 150 anos – a Congregação Salesiana.


Os diamantes de Nossa Senhora

Maria Auxiliadora começou a abençoar mais intensamente o trabalho de Dom Bosco. Deu-lhe alguns presentes especiais que podemos chamar de autênticas pedras preciosas. Entre todos os meninos acolhidos no oratório e educados pelo Sistema, que Dom Bosco chamava preventivo, alguns se distinguiram não só pela sua incomum bondade mas também pela extraordinária santidade. Primeiro entre todos foi Domingos Sávio: entregou-se nas mãos de Dom Bosco como se fosse um pedaço de fazenda nas mãos de um alfaiate. O resultado foi um lindíssimo traje que dar de presente a Deus. Dom Bosco mesmo escreveu-lhe a vida e, todas as vezes que a relia, comovia-se: lágrimas lhe desciam pelo rosto.

Depois dele veio Miguel Magone, um terremoto, que havia encontrado na estação de Carmagnola. Era o «general» do bando da «Mão Negra», que entretanto não era o general da sua própria vida. Dom Bosco o acolheu no oratório e lhe acompanhou a surpreendente conversão. A 150 anos da sua morte ainda se fala dele. É muito querido porque muitos moleques se reconhecem na sua história e vêem que ambém eles, se seguirem os esnsinamentos de Dom Bosco, podem fazer grandes coisas.

Outros jovens realmente bons passaram pelo oratório. Vários deles tornaram-se autênticos santos. Santos de altar!


Mesma vida em Mornese

Dom Bosco não pensava só nos meninos. Nas Obras da Marquesa de Barolo havia trabalhado também pelas meninas abandonadas e queria cuidar delas. Além disso, Pio IX o tinha convidado a pensar nisso explícitamente. Esperava achar excelentes colaboradoras que pudessem encaminhar um projeto semelhante ao seu no setor feminino.

Às vezes a Providência nos deixa desconcertados.

Racontemos brevemente por que, simplificando os acontecimentos.

Naqueles mesmos anos em Mornese, povoado nas colinas do Monferrato, Maria Mazzarello e a amiga Petronila, estavam vivendo uma experiência não diferente daquela de Dom Bosco. Haviam aberto uma oficina de costura para meninas pobres. E aos domingos reuniam muitas delas para brincar e aprender catecismo. Um dia um papai levou duas irmãzinhas à Maria e à Petronila: ficara só e não podia cuidar delas. As duas moças ficaram com as meninas. Já havia tempo que, acompanhadas pelo pároco – P. Pestarino –, se dedicavam a um empenhativo caminho espiritual que, junto com outras jovens, as levara a fazer escolhas radicais: haviam fundado um grupo chamado Filhas da Imaculada.

Quando Dom Bosco as viu, compreendeu que tinha encontrado aquilo que estava procurando. E de acordo com o P. Pestarino, que depois se fará salesiano, fundou em 1872 junto com Maria Mazzarello a congregação das Filhas de Maria Auxiliadora. Maria será a primeira superiora do Instituto. Morrerá em 1881. Também as suas irmãs passarão os confins da Itália, dos Alpes e da Europa.


Realizam-se os sonhos

Em 1863 Dom Bosco abriu a primeira casa salesiana fora Turim. Foi-lhe confiado o pequeno seminário de Mirabello Monferrato. Não podendo ir pessoalmente, mandou como diretor o P. Rua, para uso do qual escreverá algumas páginas confidenciais que o ajudarão a fazer um bom trabalho. Entrementes os meninos aumentam e a igrejinha de São Francisco de Sales se torna pequena. Dom Bosco deve mobilizar mais uma vez os benfeitores, organizar rifas e pedir esmolas aos ricos: agora não só aos de Turim. Também aos de outras localidades, que já conhecem e apreciam a sua obra. Em março de 1864 lança-se a primeira pedra do santuário de Maria Auxiliadora, em Valdocco: será consagrado no dia 9 de junho do 1868. No dia 1° de março de 1869 a «Pia Sociedade Salesiana» foi aprovada pela Santa Sé. Os misteriosos sonhos começam finalmente a tornar-se realidade.



ficha de reflexão

para educadores2



6.1 A oração do cristão

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Sobre oração escreveram-se nestes últimos anos tantos livros que daria para encher estantes inteiras das livrarias religiosas. Não nos parece possível, nem mesmo necessário, dizer alguma coisa a mais nestas linhas. Mas podemos deter-nos no modo de rezar de Dom Bosco. Esse, se o examinarmos bem, poderia ser outrossim um sistema útil a quem cultiva a sua espiritualidade.

Podemos começar apresentando um critério geral para a oração cristã seguindo a reflexão de um grande teólogo salesiano, P. Giorgio Gozzellino: «A qualidade principal da oração cristã consiste em ser ela trinitária e eclesial, porque é cristológica». Isto é, todas as vezes que o cristão reza como ensina a Igreja, o faz segundo o modo que ensina a doxologia proclamada pelo presidente da celebração durante a Missa no fim da Oração Eucaristica e ratificata pela Assembleia com a resposta «Amém»:

«Por Cristo, com Cristo e em Cristo, a Vós, Deus Pai Todo-poderoso, na unidade do Espírito Santo, toda a honra e toda a glória, agora e para sempre».

É o momento em que o pão e o vinho, que são o Corpo e o Sangue de Cristo, são elevados pelo sacerdote em nome da assembleia, como se quisesse que a terra tocasse o céu, a fim de significar que, com aquela oração, a Igreja celeste louva a Trindade junto com a Igreja terrestre.

Na prática, quanto mais a nossa oração se dirigir ao Pai através de Jesus Cristo sob a ação do Espírito Santo, tanto mais estaremos próximos da oração da Igreja. Dom Bosco rezava assim: tinha sempre Jesus Cristo nos lábios, falava aos jovens da Eucaristia e os reconciliava com Deus mediante a Confissão. A sua oração era cristocêntrica. Confirma-se isso pelo fato que foi um insuperável divulgador da devoção a Maria Auxiliadora. Maria que segura nos braços o Menino é a Mãe de Deus: Ela mais de que todos nos conduz ao Pai através do Filho.

Dom Bosco inaugurou, ou talvez consolidou, um aspecto novo, fascinante e peculiar, da oração cristã: foi, é claro, cristocêntrico e trinitário, mas dentro de uma nova modalidade: foi contemplativo na ação.

Concretamente, reuniu no mesmo ato o amor a Deus na prática do amor ao próximo, através da graça da unidade entre interioridade e operosidade.

6.2 Mas quando podia rezar Dom Bosco?

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No seu tempo (século XIX ou ’800), muitos consideravam o trabalho um tempo subtraído à oração. A causa de beatificação de Dom Bosco teve de... se arrastar, porque os adversários sustentavam que na sua vida a presença da «oração explícita» era por demais exígua. Seja qual for o modo de a entender, a oração explícita reclama a interrupção de toda a atividade externa, para dedicar-lhe tempo de concentração, recolhimento e lugar, adaptados. Os adversários sustentavam:

«Para alcançar os seus objetivos, Dom Bosco confiava muito na própria sagácia, iniciativa e atividade; e usava copiosamente de todos os meios humanos. Mais que o auxílio divino procurava o apoio humano, e isto ele o fazia com inexplicável solicitude, dia e noite, até ao esgotamento das forças, até ao ponto de não ser mais capaz de atender aos seus empenhos da piedade».



Dom Bosco diferia decididamente do modelo tradicional dos outros santos (referimo-nos aqui somente aos turineses), como, p. ex., o P. Cafasso, seu mestre, e o P. Murialdo, o qual dedicava até quatro horas entre preparar-se para a Missa, celebrá-la e fazer ação de graças.

Mas ter um seu modo de rezar não é a mesma coisa que não rezar ou rezar pouco demais. O testemunho do III Sucessor de Dom Bosco, Beato Filipe Rinaldi, foi uma contribuição determinante para resolver tal problema. O P. Rinaldi afirmava:


«O Venerável foi mesmo um homem de Deus, continuamente unido a Deus em oração. Todos os dias costumava ficar-se no quarto das 14 às 15 horas, e os Superiores não permitiam que ninguém o perturbasse. […] Não só no Oratório – também em Lanzo, em San Benigno, aonde ia com frequência; idem em Mathi e na Casa S. João Evangelista, em Turim – muitas vezes tive de ir até ele para falar-lhe. Naquela hora, em todos os lugares e sempre, o surpreendia, todas as vezes, com as mãos juntas, em meditação».


Pode-se dizer, diz um outro estreito colaborador, «que rezava sempre; eu o vi, pode-se dizer, centenas de vezes subindo e descendo as escadas sempre em oração. Também pela rua rezava. Nas viagens, quando não corrigia provas tipográficas, via-o sempre em oração». «No trem – dizia Dom Bosco aos salesianos – nunca fiqueis no ócio; rezai o breviário, dizei o terço ou lede algum bom livro». Em qualquer momento que se lhe pedisse conselhos espirituais, tinha-os prontos, como se naquele momento ele estivesse saindo de uma conversa com Deus.

Dom Bosco dava à oração uma precedência absoluta: «A oração, eis a primeira coisa». «Não se começa bem – dizia – se não se começa pelo céu». Aconselhava a rezar também de noite, caso alguém se despertasse de improviso.

Para os meninos ao contrário propunha uma oração simples e linear, popular nos seus conteúdos, alegre e festiva nas suas expressões: uma oração ao alcance de todos – das crianças e dos humildes.

Então à pergunta “Mas quando podia Dom Bosco rezar?” podemos responder sem medo: «E quando Dom Bosco não rezava?».


6.3 Contemplativo na ação

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A vida de Dom Bosco esteve sempre impregnada da oração nas suas diversas expressões. Soube viver cada sua atividade, desde a mais sagrada até à mais cotidiana e ferial, como lugar do seu habitual encontro com Deus. Vivia de tal forma unido a Deus que conseguiu superar a separação entre vida espiritual de um lado e vida ativa de outro. Nunca sentiu enquanto estava no meio dos meninos saudade dos tempos destinados à oração. Esse dom especial é chamado graça de unidade.

Quando de noite com Mamãe Margarida reparava os rasgões na roupa feitos pelos meninos durante o dia, não chorava por outros trabalhos sacerdotais: não lhe parecia estar dividido entre oração e ação. Não sentia saudades de outros lugares. Aceitava o cotidiano e o transfigurava, unificava-o exatamente com a graça da unidade entre interioridade e operosidade, que é um único movimento de amor para Deus e para o próximo.

Dom Bosco pois estava de tal modo unido a Deus na ação que não se lamentava de não estar em oração; ele estava de tal modo unido a Deus na oração que jamais ansiava por estar na ação.


6.4 Alguns conselhos práticos

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Dom Bosco sempre recomentou o uso de pequeninas preces para manter a graça da unidade. É a oração pura e breve da tradição monástica que prolonga no dia a oração do coro, ou das Matinas, se quisermos. Os antigos a consideravam o fruto mais belo da meditação da Palavra, ou da escuta daquela Palavra proclamada na Missa da manhã, em nosso caso. Santo Agostinho fala dessas setas, ou dardos, como de «rápidas mensagens enviadas a Deus». São Francisco de Sales define-as «breves, mas ardentes anseios do coração». Dom Bosco similarmente as considerava uma síntese da oração mental e vocal feita pela manhã: «partem do coração e vão diretas a Deus. São dardos ardentes que levam a Deus os afetos do coração e ferem os inimigos da alma, que são as tentações e os vícios».


Hoje poderíamos também considerá-las «SMS» que se mandam a Deus ou, como é costume entre os jovens, que freqüentemente não têm crédito no celular, toques que dizem: «Ajude-me nesta tentação», «Perdoe-me por esta ação», «Lembro-me de Você», «Fique comigo». Em tantas ocasiões podemos rezar com simplicidade:

«Senhor, dai-me sabedoria».

«Ajudai-me a dizer uma boa palavra a esta pessoa».

Quando fazemos a genuflexão perante ao Santíssimo, podemos dizer: «Meu Senhor e meu Deus» ou «Eu vos adoro, meu Deus, e vos amo de todo o coração». Disso, os salmos são u’a mina.

Outro método frutuoso pode ser: arranjar um messalzinho com a Palavra de Deus do dia, lê-la antes de dormir, de modo que o último pensamento do dia seja para Deus e a Palavra trabalhe em nós durante a noite. Ler pela manhã, antes de sair do quarto, o Evangelho e torná-lo vivo e operante durante o dia mediante breves e frequentes orações significa: imitar Nossa Senhora que «meditava todas essas coisas no seu coração».

São conselhos simples: muitíssimos de nós já os praticamos; mas que tematizados e evidenciados talvez possam ajudar a reforçar em nós a união com Deus e a graça de unidade, coisas que Dom Bosco tanto recomendava.


Alguns tópicos de reflexão:


  • Que lugar ocupa Deus na minha vida? É Ele a minha primeira ocupação?

  • Rezo durante o dia?

  • Faço o exame de consciência à noite antes de dormir?

  • Que lugar ocupa a Palavra de Deus no meu coração?

  • Medito-A fora da Missa?

  • Busco meios adaptados para A aprofundar ou continuo vivendo de ‘juros’?

  • Conheço verdadeiramente a vida de Dom Bosco ou li apenas um livrinho de 32 páginas?

  • Aprofundo a espiritualidade salesiana?

  • Sou capaz de transfigurar a minha vida?















7 Dom Bosco idoso conclui a sua obra (1869–1888)

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7.1 Dom Bosco no mundo

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Desde os anos de seminário em Chieri, Dom Bosco era atraído pelas missões. Desejava levar o Evangelho e o seu sistema educativo até aos confins do mundo. Preso por tantos empenhos e pela fundação do Oratório, deixou de lado por um tempo o seu projeto. Entre 1871 e 1872 teve mais um sonho importantíssimo. Um sonho missionário. Via tanta gente buscando ajuda e que vivia numa imensa planura inculta: muitos missionários tentavam ajudar aqueles indígenas, mas eram todos ferozmente sacrificados. Os salesianos, no sonho, foram os únicos que conseguiram instruir aquela gente e seus filhos.

Dom Bosco começou a receber muitíssimos pedidos de auxílio dos bispos, presentes nos outros continentes. Aceitou apenas ir à Patagonia, reconhecendo ser aquela a região sonhada, após estudar os mapas de geografia.

No dia 11 de novembro de 1875 nascem as Mis­sões Salesianas, que se hão de extender depois a todo o Mundo. No Santuário de Maria Auxiliadora tomado por uma grande multidão, Dom Bosco entregou os crucifixos aos primeiros dez missionários salesianos que iriam partir para A­mérica do Sul. Guiava-os o então P. João Cagliero, ele também um dos primeiros meninos do Oratório.


7.2 Os Salesianos Cooperadores

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Dom Bosco queria que o seu sistema educativo fosse levado também à sociedade leiga. Desejava que os seus salesianos pudessem entrar nas escolas estatais e aonde quer que houvesse jovens fora das suas obras. Inicialmente imaginava neste sentido a figura do salesiano irmão ou salesiano coadjutor. Mas num segundo momento compreendeu que tinha necessidade de dar vida a uma outra vocação: à vocação dos salesianos cooperadores, que ele mesmo chamará salesianos «externos», isto é, de pessoas que escolhem seguir um regulamento de vida apostólica proposto pelo fundador, sem professar os votos, tornando-se assim autênticos salesianos empenhados, no meio da sociedade, ou ‘no século’.

No dia 9 de maio de 1876, o Papa Pio IX aprovou os «Salesianos Cooperadores (ou, como se dizia então, os «cooperadores salesianos»). São os amigos das suas obras, que trabalham pela salvação da juventude e que também o ajudam com meios financeiros. Antes de morrer, Dom Bosco lhes dirá: «Sem a vossa caridade eu teria feito muito pouco, ou mesmo nada».

Em 1877 para manter-se unido aos seus cooperadores que se haviam tornado centenas de milhares, Dom Bosco fundou o «Bol­etim Salesiano». É um mensário ilustrado que leva a todos as notícias da Congregação, as cartas dos missionários que trabalham nos extremos do mundo, que leva também a palavra de Dom Bosco. Havia de ter um enorme desenvolvimento.

7.3 Viajando pela Europa

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Quanto mais as obras salesianas se difundem no mundo tanto mais requerem ingentes somas de dinheiro. Era preciso dar apoio às missões da América e manter a milhares de jovens abandonados. Dom Bosco era já conhecido e amado em muitos lugares da Europa. A sua fama de santidade continuava a se estender. Eram de fato numerosíssimas as pessoas que recorriam a ele pedindo graças e favores! Ele confiava tudo a Maria Auxiliadora: muitíssimas delas eram ouvidas.

Nos últimos anos de vida foi obrigado a peregrinar pela Itália, França e Espanha, em busca de esmolas. Um esforço extenuante. Nossa Senhora abençoou também essas viagens: as mãos de Dom Bosco davam vista a cegos, ouvidos a surdos, saúde a enfermos. Em toda a Europa era já conhecido como «o padre que fazia milagres».

Em maio de 1887 Dom Bosco fez uma última viagem à Espanha pedindo esmola. Ali foi por encargo do Papa que lhe havia confiado a conclusão do Templo ao Sagrado Coração, em Roma. Mas estava cansado e o seu fisico, desfeito.



7.4 A seu tempo tudo comprenderá

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Em maio de 1887 ter-se-ia finalmente consagrado o Templo do Coração de Jesus, em Roma. Dom Bosco enfrentou mais aquela fadiga. Foi recebido pelo Papa Leão XIII que lhe agradeceu pelos sacrifícios que havia feito para realizar quanto lhe pedira.

No dia 14 houve a grande consagração. No dia seguinte Dom Bosco foi ao templo para rezar a santa Mes­sa. Apenas começada a Missa, o P. Viglietti, que o assistia, o viu debulhar-se em lágrimas. Era um pranto longo, irrefreável, que o acompnhou, a intervalos, durante praticamente toda a Missa. No fim quase tiveram de carregá-lo à sacristia. O P. Viglietti preocupado perguntou-lhe:

O que está havendo, Dom Bosco: sente-se mal?

Dom Bosco com um aceno de cabeça disse que não. E respondeu:

–Tinha diante dos olhos, viva, a cena do meu pri­meiro sonho, aos nove anos. Eu via e ouvia minha mãe e os irmãos que comentavam o que eu havia sonhado...

Naquele sonho distante N. Senhora lhe havia dito: «A seu tempo tudo compreenderá». Agora, olhando para trás na vida, parecia-lhe estar compreendendo. Compreendento tudo!

Pelo fim do ano Dom Bosco se sentia cada vez mais exausto. O P. Rua preocupado com a situação, mandou um telegrama a João Cagliero, já bispo e missionário na Patagônia, que logo voltou correndo a Turim.

O Padre João Bosco, ou Dom Bosco, morreu no amanhecer do dia 31 de janeiro de 1888. Aos salesianos que o rodeavam, entre as poucas palavras que ainda pôde murmurar, disse:

Digam aos meus meninos que os espero a todos no Céu!



Fim da I Parte.












1 Sugere-se especialmente a jovens e animadores o breve texto (em italiano) de A. Giraudo, Scrivo a voi giovani, appunti di spiritualità salesiana, Pastorale Giovanile ICP, Torino. Pode-se utilizar como validíssimo aprofundamento junto com este subsídio nesta seção. Para obtê-lo basta pedir ao salesiano P. Gianni Ghiglione: «gianni.uni@libero.it».

2 Tomamos essas reflexões sobre a oração – reelaborando-as – do famoso livro do P. Brocardo, Dom Bosco, profundamente homem profundamente santo, Salesiana, São Paulo. É um texto muito útil para aprofundar a espiritualidade de Dom Bosco e o carisma salesiano. O nível se adapta não só a formadores e a educadores, mas também a animadores bem preparados.

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