Sociedade de São Francisco de Sales
Capítulo Geral, 2025
APAIXONADOS POR JESUS CRISTO, CONSAGRADOS AOS JOVENS
Mensagem aos Capitulares
Os discípulos de Emaús: Lc 24, 13-35
13 Eis que no mesmo dia iam dois deles para uma aldeia, que distava cerda de onze quilômetros de Jerusalém, cujo nome era Emaús. 14 E iam conversando de tudo aquilo que havia sucedido. 15 Aconteceu, então, que, caminhando conversando entre si, fazendo perguntas um ao outro, o mesmo Jesus se aproximou, e caminhava com eles. 16 Mas os olhos deles estavam como que fechados, e por isso não o reconheceram. 17 Disse-lhes ele: Que palavras são essas que, caminhando, trocais entre vós, e por que estais tristes? 18 Respondendo um deles, cujo nome era Cleofas, disse-lhe: És tu peregrino em Jerusalém, e não sabes as coisas que ali aconteceram nestes dias? 19 E ele perguntou: Quais? Eles, então, lhe disseram: aquelas que se referem a Jesus de Nazaré, que foi um profeta, poderoso em obras e palavras diante de Deus e de todo o povo; 20 e como os sumos sacerdotes e os nossos chefes o condenaram à morte, e o crucificaram. 21 Nós esperávamos que fosse ele quem libertaria Israel... mas agora, sobre tudo isso, é já hoje o terceiro dia desde que essas coisas aconteceram. 22 É verdade que também algumas mulheres dentre nós nos maravilharam, elas que de madrugada foram ao sepulcro; 23 E, não achando o seu corpo, voltaram, dizendo que também tinham tido uma visão de anjos, dizendo que ele vive. 24 E alguns dos que estavam conosco foram ao sepulcro, e acharam como as mulheres haviam dito; porém, a ele não o viram. 25 E ele lhes disse: Ó néscios e tardos de coração para crer em tudo o que os profetas disseram! 26 Porventura não convinha que o Cristo padecesse estas coisas e entrasse na sua glória? 27 E, começando por Moisés, e por todos os profetas, explicava-lhes o que dele se achava em todas as Escrituras. 28 E chegaram à aldeia para onde iam, e ele fez como quem ia mais adiante. 29 Eles, contudo, o constrangeram, dizendo: Fica conosco, porque já é tarde, e o dia declina. E entrou para ficar com eles. 30 Aconteceu, então, que, estando com eles à mesa, tomando o pão, abençoou-o e partiu-o, e o entregou. 31 Os seus olhos, então, se abriram, e o reconheceram; ele então desapareceu de diante deles. 32 E disseram um para o outro: Porventura não ardia em nós o nosso coração quando, pelo caminho, nos falava, e quando nos explicava as Escrituras? 33 E na mesma hora, levantando-se, voltaram para Jerusalém, e acharam reunidos os onze, e os que estavam com eles; 34 Eles diziam: o Senhor ressuscitou verdadeiramente, e apareceu a Simão. 35 Eles, então, contaram o que lhes acontecera no caminho, e como o reconheceram no partir do pão.
Caros Irmãos, caras Irmãs,
Gostaria de propor, na abertura do 29º Capítulo Geral dos Salesianos de Dom Bosco, que nos deixemos iluminar pelo ícone bíblico dos Discípulos de Emaús (Lc 24,13-35), e que ele nos introduza na arte do discernimento, que pode transformar o nosso modo de vida num sentido sempre mais evangélico, e que é mais evidente e importante em momentos e caminhos de particular relevância para uma família de consagrados, como o de um Capítulo Geral.
Antes de ser indicado como paradigma do processo de Diálogo no Espírito, um fecundo instrumento metodológico utilizado pelo Sínodo sobre a "Sinodalidade", 2021-2024,1 para o discernimento comum, a passagem do Evangelho de Lucas foi uma fonte de inspiração e iluminação para o Sínodo sobre "Os Jovens, a Fé e o Discernimento Vocacional", celebrado em 2018. O exemplo dos Discípulos de Emaús, segundo Christus vivit, também pode ser um modelo para o que acontece na pastoral da juventude, como «processo lento, respeitoso, paciente, confiante, incansável e compassivo».2
A cena apresenta-nos um caminhar juntos. Na verdade, dois tipos de caminhar juntos, naquele primeiro dia após o sábado. Há um caminhar juntos no caminho que leva para longe de Jerusalém, para longe da comunidade, para longe da experiência dolorosa e árdua da sexta-feira e do sábado, para longe da cruz. É um caminho de descida geográfica e interior, com as pernas e o coração pesados pela decepção, pelo luto, pela amargura, pela derrota, no ritmo de uma conversa míope que deixa o semblante triste: «Nós esperávamos que fosse ele quem libertaria Israel...».
E há outro caminhar juntos, o do retorno, já tarde da noite, para Jerusalém, para a comunidade, para a vida. Escuridão por todos os lados, estrada íngreme, mas pernas que voam, olhos que brilham de alegria e corações inflamados por um encontro que libera os sentidos interiores, abre-os para a Luz e desperta um desejo irrefreável de comunicá-la aos outros.
Entre os dois caminhos, de fato, um encontro. Os dois peregrinos tornam-se três. O terceiro aproxima-se dos dois no avançar diurno pelo caminho que leva para longe da vida. Ele não impõe uma mudança de rota, mas aproxima-se, desce com eles e neles; ouve, até que o espaço relacional se abre para uma pergunta: «Que palavras são essas que, a caminhar, trocais entre vós?».
É a possibilidade de libertar o coração da dor que o torna pesado, que impede a visão, mesmo sendo dia. A estrada agora corre velozmente sob os pés, o caminho para longe de Jerusalém chega ao seu destino, mas os corações, agora inflamados, derretem o seu anseio em um convite caloroso e insistente: «Fica conosco, porque já é tarde, e o dia declina». Deus entra e permanece. Fica ali mesmo, com eles, longe de Jerusalém. E ali mesmo, distante, os dois discípulos se descobrem alcançados, procurados, aquecidos, nutridos, curados por Jesus, que desceu com eles em sua angústia, em sua aflição, em sua fuga. Restaurados pelo Pão partido, libertados da escuridão de seus corações, eles não têm mais medo da noite exterior: Jesus agora está neles, uma presença interior, e a missão é urgente! É urgente retornar imediatamente a Jerusalém, à comunidade dos discípulos. Há uma necessidade urgente de comunhão, há uma necessidade urgente de reunir-se, de reencontrar-se, de caminhar juntos e dizer a todos que a noite agora é luminosa.
Há um caminhar juntos longe de Deus, introvertido, autorreferencial, fechado à luz, remoendo juntos os nossos fardos, os nossos trabalhos e as nossas doenças, prisioneiros da desolação. É um caminhar juntos que apaga os sentidos interiores, que torna o coração incapaz de reconhecer o bem, oprimido por uma dor que se degenera em maldade, uma maldade que contagia, infecta. Sim, há um caminhar juntos, uma aliança, uma solidariedade no mal, uma "sinodalidade doente", dobrada sobre si mesma, que produz um movimento regressivo, longe da vida, do Amor, de Deus.
E há um caminhar juntos na direção de Deus, um caminhar missionário, extrovertido, «Corações ardentes, pés no caminho»,3 que pode ser cansativo, noturno, mas animado pela alegria de um encontro que dá asas aos pés e ao coração, que liberta, cura, excita, acende o nosso desejo de estar com Jesus, de acolhê-lo em nós, de sermos dele, de nos tornarmos também pão partido, de comunicá-lo aos outros, a todos. Essa é a sinodalidade cristã, que é missionária.
«Jesus caminha com os dois discípulos que, incapazes de entender o sentido do que lhe acontecera, se retiram de Jerusalém e da comunidade. Para estar na sua companhia, percorre a estrada com eles. Interroga-os e escuta pacientemente a sua versão dos fatos, para ajudá-los a reconhecer o que estão a viver. Depois, com afeto e energia, anuncia-lhes a Palavra, levando-os a interpretar à luz das Escrituras os fatos que viveram. Aceita o convite para ficar com eles ao cair da tarde: entra na sua noite. Enquanto O escutam, abrasa-se o coração deles e ilumina-se a mente; na fração do pão, os seus olhos abrem-se. E são eles mesmos a decidir pôr-se de novo a caminho, sem demora, mas em sentido inverso, para regressar à comunidade e compartilhar a experiência do encontro com Jesus Ressuscitado».4
Os verbos evidenciados pelo Papa Francisco identificam as principais etapas em um processo de discernimento. «O discernimento envolve todos, tanto os que participam a nível pessoal como comunitário, exigindo cultivar disposições de liberdade interior, abertura à novidade e abandono confiante à vontade de Deus, e permanecer à escuta uns dos outros, a fim de escutar "o que o Espírito diz às Igrejas" (Ap 2,7)».5
À luz do ícone de Emaús, peço convosco em oração a graça de uma escuta verdadeira, profunda e ativa que vos leve a reconhecer o movimento do Espírito em vosso coração, nos Irmãos, na Assembleia. Que a chama do carisma seja liberada no Capítulo, viva, brilhante e ardente! Que essa chama aqueça os vossos corações para poderdes revisitar a vossa vivência vocacional, em fidelidade criativa ao dom recebido através de São João Bosco, e vos torne sempre mais apaixonados por Jesus Cristo, consagrados aos jovens.
Ir. Simona Brambilla, MC
Turim, 16 de fevereiro de 2025.
1 Cf. XVI Assembleia geral ordinária do Sínodo dos Bispos, Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação, missão. Instrumentum Laboris para a Primeira Sessão, Roma, outubro de 2023, n. 36.
2 Francisco, Exortação apostólica pós-sinodal Christus vivit, Loreto 25 de março de 2019, n. 237.
3Cf. Francisco, Corações ardentes, pés no caminho, Mensagem para o 97º Dia Missionário Mundial 2023, Roma 6 de janeiro de 2023.
4 Francisco, Exortação apostólica pós-sinodal Christus vivit, Loreto, 25 de março de 2019, n. 237.
5 XVI Assembleia geral ordinária do Sínodo dos Bispos, Como ser Igreja sinodal missionária. Instrumentum Laboris para a segunda sessão (outubro 2024), 59.