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CARTAS DO REITOR-MOR - ACG 405 - Estreia 2010
LEVAR O EVANGELHO AOS JOVENS
Estreia 2010
Centenário da morte do padre Miguel Rua
PREMISSA: significativos do segundo semestre de 2009
COMENTÁRIO Á ESTREIA 2010.
1. Introdução: a Estreia e suas motivações.
2. Ser discípulos e apóstolos: a nossa vocação.
3.Missão dos discípulos é escutar o "desejo de ver Jesus".
4. Antes discípulos, depois apóstolos.
5. Para fazer "ver Jesus" aos jovens.
5.1. Meta da evangelização: encontrar Cristo na Igreja.
5.2. Método da evangelização: caminhar juntos.
5.3. Motivação da evangelização.
5.4. Repensamento da pastoral.
5.5. Processos que devem ser ativados para a mudança.
6. Padre Miguel Rua, discípulo e missionário.
7. Sugestões para a concretização da Estreia.
8. Conclusão:
Dom Bosco evangelizador, sinal do amor de Deus aos jovens (Meditação sobre o quadro de Dom Bosco de
Sieger Koeder).

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Turim-Valdocco, 18 de dezembro de 2009
150° anniversario della Fondazione della Congregazione Salesiana
Caríssimos irmãos,
Escrevo-lhes de Valdocco, neste dia 18 de dezembro, data em que celebramos o 150º aniversário de
fundação da nossa amada Congregação, data em que elevamos um hino de louvor ao Senhor, que
foi magnânimo conosco. Deus abençoou copiosamente o gesto daquele grupo de jovens do Oratório
de Valdocco que, reunidos ao redor de Dom Bosco "com a finalidade e no espírito de promover e
conservar o espírito de verdadeira caridade que se exigisse na obra dos Oratórios para a juventude
abandonada e periclitante" decidiu "erigir-se em Sociedade ou Congregação" (cf. MB VI, pp. 335-
336). É a celebração conclusiva do jubileu anunciado no ano passado, no qual quisemos renovar a
nossa profissão religiosa e fazer nosso o empenho dos nossos jovens pais fundadores: ficar para
sempre com Dom Bosco, assumir o seu 'sonho', o seu projeto apostólico, garantir, Deo volente, a
continuidade e o desenvolvimento do seu carisma e da sua missão.
A partir dessa perspectiva, 2009 foi muito enriquecedor e fecundo com muitíssimas iniciativas,
ativadas nas Inspetorias, para favorecer a renovação espiritual e pastoral dos irmãos. Um dos
elementos que mais serviu neste trabalho, foi a redescoberta das Constituições, autêntico
"testamento de Dom Bosco, como livro de vida para nós e penhor de esperança para os pequenos e
para os pobres" (Const. art. 196). Permitam-me, caros irmãos, dizer-lhes novamente que elas devem
ser mais conhecidas, amadas, rezadas e vividas.
O ano de 2010 abre-se desde seus inícios com a figura luminosa do padre Rua. Ele soube ser filho,
discípulo e sucessor de Dom Bosco. Compartilhou meio a meio, isto é, em plena comunhão, os seus
trabalhos e sofrimentos. Configurou-se ao nosso Pai dia após dia e fez florescer e estender-se a
Congregação e a Família Salesiana com fidelidade fecunda e dinâmica. Em tudo, ele se pôs diante
dos nossos olhos como modelo! Pensando novamente no padre Rua, queremos fazer nossas mais
uma vez as orientações oferecidas em minha carta circular anterior. São orientações simples e
claras. Verdadeiro programa de vida.
Antes de apresentar-lhes o comentário à Estreia 2010, gostaria de dar-lhes alguma notícia sobre os
principais acontecimentos vividos nos últimos meses: desde julho até hoje. Para o conhecimento
mais detalhado envio-os à leitura da Crônica do Reitor-Mor e dos Conselheiros, incluídas neste
número dos Atos. Ali encontrarão as visitas feitas às diversas Inspetorias e as intervenções
realizadas em numerosos encontros e reuniões. Gostaria de acenar aqui aos acontecimentos que me
parecem mais relevantes.
Primeiramente, desejo acenar à peregrinação nos passos de S. Paulo, que, com todos os membros do
Conselho, fizemos de 27 de junho a 5 de julho. Passamos pelos principais lugares que marcaram a
vida do Apóstolo Paulo em seu caminho de encontro com Cristo e no seu incansável itinerário de
anúncio do Evangelho: de Tarso, lugar do seu nascimento, a Damasco, Antioquia, Éfeso e Atenas.
Foi, conforme nos fora proposto, uma verdadeira experiência espiritual, marcada pela leitura da
Palavra de Deus e pela "lectio divina", animada pelo padre Juan José Bartolomé, e pelas reflexões
sobre Paulo evangelizador. Tema que nos levou ao empenho de evangelização proposto pelo CG26
e que representa o ponto focal da Estreia 2010. A peregrinação também foi ocasião de encontrar as
comunidades salesianas que trabalham nesses lugares: Damasco e Alepo na Síria, Istambul na
Turquia. Em cada comunidade, a visita do Reitor-Mor e do Conselho foi vivida como momento de
fraternidade e festa, também pelos jovens e a Família Salesiana.

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Acontecimento que nos marcou profundamente, verdadeiro golpe no coração, foi a morte do nosso
caríssimo irmão padre Antonio Domenech, em 20 de julho, na Casa de Martí Codolar, Barcelona.
Não posso deixar de fazer-lhe memória, pois o padre Domenech foi membro do Conselho Geral por
12 anos, prestando o seu serviço à Congregação no Dicastério da Pastoral Juvenil. Foram anos de
dedicação total, de trabalho rico de competência e dinamismo. Jamais nos esqueceremos do seu
testemunho: o seu amor à vida, a sua fé intensa e o sentido de esperança que marcaram os anos da
sua enfermidade. Período de sofrimento, de prova e de graça, que o transfiguram até levá-lo ao
encontro definitivo com o Senhor. A ele o nosso reconhecimento e a nossa admiração.
Nos dias 15 de 16 de agosto participei, com a Madre Yvonne Reungoat, do "Confronto Europeu" no
Colle Don Bosco, celebrando também o aniversário do nascimento do nosso Fundador e Pai. O
evento, com a presença de Irmãos, Filhas de Maria Auxiliadora e animadores de todas as
Inspetorias da Europa, foi um encontro no qual pudemos experimentar de novo o quanto o carisma
de Dom Bosco é atual e "próximo" dos jovens. Apenas este dado, já seria suficiente para apreciar o
valor da experiência do Confronto. Acrescente-se ainda que o encontro foi preparado com grande
atenção e competência pelos Dicastérios da Pastoral Juvenil SDB e FMA, fazendo brotar o claro
protagonismo dos jovens, como Dom Bosco queria. São elementos claros que sempre garantem o
sucesso de iniciativas desse tipo.
Nos primeiros dias de setembro, com o P. Adriano Bregolin, e outros amigos, percorremos o
'Caminho de Santiago'. Uma experiência humana e espiritual muito bela. Quero propô-la como
ícone expressivo do caminho da vida e do itinerário da fé que cada um de nós é chamado a trilhar.
Em entrevista concedida ao Noticiário Inspetorial da Inspetoria de León, Espanha (que nos deu
apoio logístico durante o caminho) eu sublinhava que o caminho põe à prova, primeiramente, a
resistência física do peregrino; ensina a regular o ritmo do caminho com o dos companheiros de
viagem; oferece espaços e tempos para contemplar a natureza à medida que se avança no
seguimento da concha (ícone e indicação de marcha para o peregrino), que mostra a estrada a
seguir, ajuda e encontrar a si mesmo no silêncio, convida com muita simplicidade a refletir sobre a
própria vida e a rezar. Todos podem muito bem imaginar a alegria de chegar à meta, com muitos
outros peregrinos, tendo depois a possibilidade de celebrar na tumba do Apóstolo.
Encontrei-me, no último domingo de setembro, com os participantes do Harambée. Depois, na
Basílica de Maria Auxiliadora, tive a graça de enviar a 140ª expedição missionária salesiana. Neste
ano, o número dos missionários, particularmente numerosos, queria representar um novo sinal de
celebração do 150º aniversário de fundação da Congregação. A expedição é sempre uma realidade
muito bela e significativa, na qual realizamos o que o Senhor Jesus pediu: ser testemunhas dele até
os extremos limites do mundo. É também a continuação do que Dom Bosco iniciou no distante
1875, quando enviou seus primeiros Salesianos missionários à Argentina.
Tivemos, de 6 a 14 de outubro, a 'reunião intermédia' do Conselho Geral, na qual, retomando o
estudo das Regiões, examinamos a da Ásia Sul. A reflexão permitiu-nos conhecer melhor o estado
daquela Região, atualmente a mais florescente de vocações na Congregação, individualizando os
desafios que se devem enfrentar, avaliando os recursos disponíveis e propondo as grandes linhas
para o futuro próximo. O tema será retomado com os Inspetores da Região no próximo semestre no
Sri Lanka.
Estive no Peru de 21 a 26 do mesmo mês, para o encontro com os Inspetores da Região
Interamérica. Esses encontros, dos quais também participa o Vigário, são orientados para uma ação
de acompanhamento das Regiões. Sobre este tipo de reuniões eu já me referi em cartas anteriores.
Gostaria de sublinhar que a experiência vivida na reunião e em seguida concretizada revela-se
sempre mais profícua quanto à opção metodológica e enriquecedora para os próprios Inspetores que

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participam. Neste encontro, também presidi ao seminário de atualização com os Inspetores,
Delegados de Formação e de Pastoral Juvenil e alguns animadores, sobre o documento da V
Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano em Aparecida. Encontros assim foram feitos
pelo padre Egídio Viganò depois das Conferências do CELAM em Puebla e Santo Domingo. A
finalidade era colocar a Congregação em sintonia com a Igreja da América Latina.
Em novembro, visitei as Inspetorias de Dimapur e Guwahati, na Índia, que podem ser consideradas,
com toda a razão, como uma das inculturações de maior sucesso do carisma e da missão salesiana.
Está a demonstrá-lo tanto o crescimento da Igreja naquela área do nordeste da Índia, quanto também
o desenvolvimento da nossa Congregação. Não resta dúvida de que o nome de Dom Bosco é como
uma palavra mágica em toda aquela área, fruto do impulso missionário dado desde o início por D.
Louis Mathias e por todos os grandes missionários que fizeram a implantação exemplar e fecunda
da Igreja e a inculturação correta do carisma, comparável àquela efetuada pelos primeiros
missionários na América do Sul. Foram irmãos corajosos, empreendedores, que fizeram um grande
esforço para o conhecimento das línguas e das culturas locais. Empenhados na promoção humana,
sobretudo por meio da educação, foram sempre grandes evangelizadores e cultores de vocações. O
reconhecimento que temos de pessoas que nos são próximas e de estranhos, de cristãos e não
cristãos, de homens de governo e de Igreja, confirma para nós o quanto grande foi a epopeia
missionária naquela parte a Índia. Essa esplêndida realização faz-nos refletir também sobre o
porquê em certos contextos a Congregação tenha se desenvolvido muito bem, também entre os
grupos tribais, enquanto em outros foi muito difícil construir uma Igreja local e ter vocações para a
Igreja e para a Congregação.
Ainda em novembro, de 15 a 22, preguei os Exercícios Espirituais, em Turcifal, Portugal, para os
Inspetores, membros dos Conselhos inspetoriais e outros irmãos convidados, da Região Europa
Oeste. Parece-me ser este um dos serviços de animação específicos do Reitor-Mor que, dessa
maneira, pode comunicar melhor a sua visão da vida consagrada em geral e da salesiana em
particular, e fazer passar o seu magistério e as linhas de governo com que quer iluminar e guiar a
Congregação. Pessoalmente, fiquei muito contente pela atmosfera de oração e reflexão que se criou.
Ao final dos Exercícios quis ir a Fátima para rezar a Nossa Senhora e confiar-lhe todos os caros
irmãos, as nossas obras, com o mundo de pessoas, adultos e jovens, que giram ao redor delas. Não
lhes escondo que sentia necessidade de visitar justamente esse Santuário santificado pela presença
de Maria.
Para concluir, participei no final de novembro da Assembleia Semestral e Geral da USG (União dos
Superiores Gerais), em que se refletiu sobre a vida consagrada na África. Nas próximas
Assembleias refletiremos sobre a vida consagrada na Europa, e posso garantir-lhes que este tema
suscita um interesse imenso: estamos convencidos de que se a vida consagrada nasceu na Europa e
de aqui se desenvolveu e estendeu ao mundo todo, é importante que também aqui renasça. Como
podem ver, tudo isso está em linha com o 'Projeto Europa', que também é assumido sempre mais
por outras Congregações.
E, sem mais, passo a entregar-lhes o meu Comentário à Estreia 2010.
***
"Veramente non c'è niente di più bello
che incontrare e comunicare Cristo a tutti"
(Sacramentum Caritatis, n. 84.).

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Caríssimos Irmãos,
Filhas de Maria Auxiliadora,
Membros todos da Família Salesiana,
Jovens,
aqui estou para o encontro de todos os anos a fim de apresentar o comentário da Estreia de 2010.
Qual verdadeiro programa espiritual e pastoral, ela nos ajudará a fortificar a nossa identidade
salesiana, revigorar a nossa comunhão de mente e coração, inserir-nos na Igreja como "discípulos e
apóstolos" para a construção do Reino e a transformação do mundo. Hoje, mais do que nunca, o
mundo precisa de Cristo e do seu evangelho; por isso são necessárias pessoas que, como fez Jesus,
façam do Reino de Deus a causa pela qual viver; é preciso o testemunho de discípulos, homens e
mulheres novos, nascidos não da 'carne', mas do Espírito; são precisos apóstolos empenhados
seriamente na conservação da criação e da justiça, da solidariedade e da fraternidade entre os povos.
1. Introdução: a Estreia e suas motivações
Após o apelo do ano passado, quando convidei a Família Salesiana a viver e agir como
"movimento" para ser mais visível, mais significativa e mais eficaz no serviço da salvação dos
jovens, em 2010 gostaria de vê-los animados do mesmo espírito e envolvidos num projeto
compartilhado: anunciar o evangelho aos jovens e levá-los assim ao encontro pessoal com o Senhor
Jesus.
Trata-se de uma palavra programática que nos é oferecida pelo próprio Santo Padre na carta que me
enviou por ocasião do 26º Capítulo Geral dos SDB:
"A evangelização seja a fronteira principal e prioritária da sua missão nos dias de hoje. Ela
apresenta compromissos multifacetados, desafios urgentes e campos de ação vastos, mas a sua
tarefa fundamental consiste em propor a todos para que levem uma existência humana como Jesus a
viveu. Nas situações plurirreligiosas e também nas secularizadas é preciso encontrar caminhos
inéditos para fazer conhecer a figura de Jesus, de modo especial aos jovens, a fim de que
compreendam a sua perene fascinação".[1]
Por isso, na ocasião do centenário da morte do padre Miguel Rua, fidelíssimo a Dom Bosco e ao seu
carisma, gostaria de convidar todos os membros da Família Salesiana a serem sempre mais
discípulos enamorados e apóstolos entusiastas de Jesus, e a se empenharem na evangelização dos
jovens. Falemos de Cristo a eles; comentemos o nosso encontro com Ele; narremos a sua história,
sem a qual a sua figura arrisca-se a cair na mitologia ou na ideologia; apresentemos-lhes o programa
de felicidade oferecido por Ele nas Bem-aventuranças; contemos-lhes o quão bela é a vida quando
Ele é encontrado e o quão radiante é ser agarrados por ele e envolvidos na causa do Reino de Deus.
A ação evangelizadora é fruto da identidade do discípulo que, depois de se colocar na sequela do
Senhor Jesus, torna-se seu representante pessoal e missionário ardoroso. Queremos assumir o
desafio de ajudar os jovens a "olharem para os outros, não mais apenas com os próprios olhos e com
os próprios sentimentos, mas segundo a perspectiva de Jesus Cristo".[2] É verdade, nós somos
Salesianos e, como tais, realizamos a nossa missão de evangelizar educando e educar
evangelizando. Não é um slogan nem uma expressão vazia de sentido. Ela exprime a estreita
ligação existente entre evangelização e educação; sem se confundir, e no respeito da própria
autonomia, elas estão a serviço da construção da pessoa humana para levá-la à plenitude de Cristo.

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A educação é autêntica quando respeita todas as dimensões da criança, do adolescente, do jovem e é
claramente orientada para a formação integral da pessoa, abrindo-a à transcendência. A
evangelização por sua vez tem em si mesma um intenso valor educativo, justamente porque busca a
transformação da mente e do coração, a criação de uma pessoa nova, fruto da sua configuração a
Cristo.
A Estreia de 2010 acena ao ano paulino, há pouco concluído e ao Sínodo sobre a Palavra de Deus,
ainda à espera da Exortação Apostólica pós-sinodal do Papa, que nos ajudará a anunciar e
testemunhar a beleza do encontro com Cristo, Palavra de Deus, que vive entre nós. Durante o
Sínodo, do qual tive a graça de participar, fiz uma intervenção sobre o trecho lucano dos discípulos
de Emaús, visto como modelo de evangelização dos jovens tanto pelos conteúdos quanto pelos
métodos; poderá ser útil tomá-lo novamente nas mãos e meditá-lo.
Eis, então, o programa espiritual e pastoral para 2010:
"Senhor, queremos ver Jesus"
À imitação do Padre Rua,
como discípulos autênticos e apóstolos apaixonados,
levemos o Evangelho aos jovens
Numerosos grupos da Família Salesiana já estão em sintonia com essa tarefa. Como exemplo,
assinalo duas passagens dos Capítulos Gerais do SDB e das FMA.
O Capítulo Geral 26 dos Salesianos tem consciência da urgência de evangelizar e da centralidade da
proposta de Jesus Cristo: "Percebemos a evangelização como a principal urgência da nossa missão,
conscientes de que os jovens têm o direito de ouvir o anúncio da pessoa de Jesus como fonte de
vida e promessa de felicidadeno tempo e na eternidade".[3] Nossa "tarefa fundamental consiste em
propor a todos para que levem uma existência humana como Jesus a viveu". [...] "o anúncio de
Jesus Cristo e do seu evangelho deve ser fulcral, juntamente com o apelo à conversão, ao
acolhimento da fé e à inserção na Igreja; além disso, nascem aqui os caminhos de fé e de catequese,
a vida litúrgica e o testemunho da caridade diligente".[4]
O Capítulo Geral 22 das Filhas de Maria Auxiliadora reconhece, depois, que é o amor de Deus que
nos impele: "O Cenáculo, o lugar onde os apóstolos se encontram todos juntos, não é uma morada
estável, mas uma base de lançamento. O Espírito os transforma de homens medrosos em ardorosos
missionários que, repletos de coragem, levam pelas estradas do mundo, o alegre anúncio de Jesus
Ressuscitado. O amor impele ao êxodo e a sair de si em direção das novas fronteiras, para se fazer
dom: "o amor cresce mediante o amor".[5] "Maria, que no Cenáculo ensina a escancarar as portas,
foi a primeira a viver a experiência do êxodo e começar a viagem. A primeira evangelizada se
tornou a primeira evangelizadora. Levando Jesus aos outros ela oferece seu serviço, leva alegria, faz
experimentar o amor".[6]
2. Ser discípulos e apóstolos: a nossa vocação
A vocação de todo cristão é ser discípulo que acolhe cordialmente a Palavra de Deus e apóstolo que
a transmite com alegria. A vida e a missão da Igreja consistem justamente nisso. Jesus começou a

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anunciar pessoalmente o evangelho do Reino de Deus e a chamar discípulos para enviá-los a pregar.
Todos os batizados, não só os Doze, são chamados a serem discípulos que se familiarizam com a
Palavra; se identificam com o Senhor a ponto de adquirirem os seus sentimentos; terem a mente de
Cristo; viverem em intimidade com Ele, até serem apóstolos convictos e zelosos, enviados a todos
os ambientes de vida para dar testemunho da fé, dar razão da esperança, colaborar na transformação
da cultura e da sociedade, construir um mundo onde reinem a justiça e a paz; a ser consciência de
solidariedade entre os povos e os grupos sociais, e de fraternidade entre todas as pessoas.
Nenhum cristão pode subtrair-se a essa vocação e missão. Todos não só os sacerdotes,
missionários ou religiosos , movidos pelo amor que o Senhor tem por nós e em virtude do
Batismo, somos chamados a ser evangelizadores. Podemos responder à ordem do Senhor na família,
no trabalho, em nossas comunidades, com as ações e as palavras, isto é, com o amor que colocamos
nas ações e nas palavras, preocupando-nos que sejam segundo o evangelho. Evangelizar significa
lançar o fermento com uma energia capaz de mudar a mentalidade e o coração das pessoas e, por
meio delas, as estruturas sociais, de modo que estejam mais de acordo com o plano de Deus. Não se
trata de uma atividade intimista: evangelizar é desencadear a verdadeira revolução social, a mais
profunda, a única eficaz. Isso explica porque ela encontra tantas resistências e oposições, claras ou
ocultas.
Antes de pensar nos meios e modos de evangelizar, é preciso ter um motivo, ser "enamorado" de
Deus, ter feito experiência da sua amizade e da sua intimidade: "Já não vos chamo servos, porque o
servo não sabe o que faz o seu Senhor; mas vos chamo amigos, porque vos dei a conhecer tudo o
que ouvi de meu Pai" (Jo 15,15). Entre os momentos do chamado e do envio fica o tempo em que
os discípulos "estão" com o Senhor para aprender o seu estilo de vida, aprender a ler a história
pessoal e universal como história de salvação, experimentar na própria vida a verdade, a bondade e
a beleza da mensagem que lhes é confiada e que são chamados a proclamar.
Sobre isso, eu dizia na saudação de abertura da Assembleia semestral da União dos Superiores
Gerais em preparação ao Sínodo sobre a "Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja": "só o
ministro do evangelho consagrado ou leigo que tenha em seu coração o evangelho feito objeto
de contemplação e motivo de oração, conseguirá mantê-lo nos lábios como tesouro sobre o qual
falar e o terá nas mãos como dever ineludível a comunicar".[7]
Na bela missão de acolher, encarnar e comunicar a Palavra de Deus, Maria é nossa mãe e mestra,
porque como diz S. Agostinho Ela concebeu o Filho no espírito antes que na carne. De fato, no
evangelho de Lucas, Maria é apresentada como aquela que, ao anúncio do Anjo, responde com
abertura extraordinária: "Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra" (Lc
1,38). Maria é modelo do discípulo que, diante dos acontecimentos que vê e não consegue entender,
conserva todas aquelas coisas e as medita em seu coração (cf. Lc 2, 19). No início do ministério do
seu Filho, nas bodas de Caná, Ela convida os servos a "fazer tudo o que ele disser" (Jo 2,5), e
durante o ministério está entre os discípulos que "ouvem a Palavra de Deus e a observam" (Lc
11,27-28). Chegado o momento da paixão, Maria está aos pés da cruz, compartilhando até o fim o
abandono, a recusa e o sofrimento do Filho, e recolhendo cuidadosamente o seu testamento:
"Mulher, eis o teu filho" (Jo 19,25-27). Enfim, depois da ressurreição, persevera em oração com os
discípulos à espera do Espírito Santo prometido (cf. At 1,14). Eis o nosso modelo de discípulo e
apóstolo da Palavra.
3. Missão dos discípulos é escutar o "desejo de ver Jesus"

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A evangelização não é apenas mensagem a proclamar, mas a revelação de Deus em Jesus; por isso,
ela é autêntica quando leva ao encontro com a pessoa de Jesus e é eficaz quando comunica a
salvação que, no Filho, Deus nos quis dar. A evangelização comporta, portanto, uma dinâmica
interna, que parte do sentimento religioso expresso no desejo humano de ver Deus, anunciado pelo
salmista: "Meu coração se lembra de ti: Buscai minha face; tua face, Senhor, eu busco" (Sl 26,8). E
um dos discípulos ousará pedir a Jesus: "Senhor, mostra-nos o Pai, isso nos basta" (Jo 14,8). Isso
está a nos dizer que evangelizar é um encontro pessoal, e alguém é evangelizado justamente quando
encontra e acolhe a pessoa de Jesus.
O evangelista João recorda que alguns gregos, enquanto subiam a Jerusalém para a Páscoa,
aproximaram-se de Filipe com o pedido de "ver Jesus" (Jo 12,21). Sem saber o que fazer diante de
pedido tão inesperado, Filipe conversou com André e, juntos, "foram falar com Jesus". Então, Jesus
tomou consciência de que chegara a hora, muitas vezes adiada, de ser glorificado. No momento em
que os distantes sentiram o desejo de vê-lo, Jesus reconheceu que chegara o tempo de anunciar a
própria entrega à morte, a hora da glorificação, o momento decisivo da salvação de todos.
Jesus chegou ao conhecimento da sua hora ao saber que havia alguns gregos querendo vê-lo. Ele
tomou consciência disso porque dois discípulos lho comunicaram. Sem perceber, Filipe e André
ajudaram Jesus a reconhecer o momento crucial da sua vida. Sem os dois discípulos, os gregos não
teriam podido manifestar o desejo de ver o Senhor; sem eles Jesus não ficaria sabendo que chegara
o momento da sua glorificação. Jesus precisou dos discípulos para reconhecer, no desejo de ser
visto pelos distantes, que chegara a hora da sua glória.
Ainda hoje Jesus precisa de discípulos que consigam perceber no coração do povo, em suas alegrias
e em seus temores, a vontade nem sempre expressa de aproximar-se dele e encontrá-lo. O que leva
Jesus a atuar novamente a salvação é saber-se desejado. Só o discípulo que lhe está próximo pode
perceber, entre muitos que o rodeiam, quem deseja realmente encontrá-lo. O discípulo acompanha
Jesus para facilitar o encontro com Ele daqueles que o querem ver. É assim que o discípulo de Jesus
se faz também apóstolo: Jesus precisa de discípulos, companheiros de vida e de missão, para
reconhecer a chegada da sua hora. Ao levar até Ele aqueles que o querem ver, o discípulo de Jesus
converte-se em apóstolo dele.
Discernir o verdadeiro desejo de "ver Jesus" entre tantas aspirações da juventude de hoje é, para
nós, membros da Família Salesiana, o motivo senão o único ao menos o fundamental para ser
verdadeiros apóstolos de Cristo. Se nós não o fizermos, quem apresentará a Jesus os sonhos e as
carências dos jovens? Quem fará ver Jesus aos jovens? Os membros da Família Salesiana são
chamados a escutar o anseio dos jovens de encontrar Jesus e, ao mesmo tempo, ler a situação
juvenil de modo a evidenciar o desejo de os jovens se aproximarem de Jesus. Esse é o nosso modo
de ajudar Jesus a salvar os jovens hoje. E é assim que nós nos fazemos seus verdadeiros
companheiros e apóstolos.
Isso significa que a evangelização dos jovens deve partir das situações concretas vividas por eles
com atenção particular à sua cultura intensamente marcada pelo valor da subjetividade e da
autorreferência, que os leva a agrupar-se entre coetâneos e afastar-se do mundo dos adultos. São
iluminadoras a este propósito as palavras ditas pelo Santo Padre Bento 16, na catequese de 5 de
agosto de 2009, ao falar do santo Cura d'Ars: "Se então havia a 'ditadura do racionalismo', na época
atual registra-se em muitos ambientes uma espécie de 'ditadura do relativismo'. Ambas parecem ser
respostas inadequadas à maior exigência do homem, de usar plenamente a sua razão como elemento
distintivo e constitutivo da própria identidade. O racionalismo foi inadequado porque não teve em
consideração os limites humanos e pretendeu elevar só a razão como medida de todas as coisas,
transformando-a numa deusa; o relativismo contemporâneo mortifica a razão, porque de fato chega

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a afirmar que o ser humano nada pode conhecer com certeza, para além do campo científico
positivo. Porém, tanto hoje como ontem, o homem 'mendicante de significado e realização', vai à
procura contínua de respostas exaustivas às interrogações fundamentais que não cessa de
levantar".[8] Eis porque os jovens sobretudo eles têm a necessidade, nem sempre sentida ou
expressa, de guias pacientes e compreensivos.
Quanto à referência religiosa em geral, e à referência cristã em particular, os dados sobre os jovens
não deixam espaço a dúvidas. Distanciamento, abandono prematuro e irrelevância marcam a relação
de muitos jovens com instituições, temas e pessoas religiosas. Hoje é sempre mais comum
encontrar-se com jovens que jamais tiveram contato com o fato religioso ou o tiveram de maneira
insuficiente para entender a questão de Deus ou se afastaram depois de uma experiência inicial
cheia de promessas.
Ouvir o grito, explícito ou implícito, dos jovens que querem ver Jesus comporta na situação atual ir
àqueles espaços e temas de vida onde os jovens se encontram como em sua casa, para deixar-lhes
claro que entre os desejos mais autênticos de vida e felicidade esconde-se a questão de sentido e da
busca de Deus.
O meu caro predecessor P. Juan Edmundo Vecchi havia tratado dessa situação de modo muito
preciso. "O mundo juvenil é terra de missão pelo número de sujeitos que devem ouvir novamente o
primeiro anúncio, pelas formas de vida e pelos modelos culturais aos quais ainda não chegou a luz
do evangelho, pela linguagem verbal, mental e existencial que não coincide com a da tradição".[9]
"Tenha-se consciência de que Deus interessa aos jovens. Confirmam-no todas as pesquisas. Um
elevado percentual de jovens declara sentir de algum modo necessidade de Deus e estar convencido
da sua existência. Disso, porém, não deriva a obrigação do culto e de uma moral coerente, e nem
mesmo se relaciona com a 'verdade' proposta sobre Deus por alguma Igreja.
A imagem que os jovens têm de Deus é diversificada, como um caleidoscópio. Mas seria apressado
timbrá-la como falsa. Ela é mais facilmente incompleta e desfocada, às vezes muito. Tendo-se
afirmado certa desconfiança em relação às instituições e à imagem de Deus apresentadas por elas e
dados como certos alguns princípios típicos de controle do pensamento atual, não restam critérios
para avaliar objetivamente a validade das diversas representações de Deus.
Ao assumir alguma delas, prevalece a opção subjetiva. Não é totalmente ruim: a fé é um ato livre da
vontade movida pela graça e iluminada pela razão. Mas resultam certamente imagens
desequilibradas. Deus resulta então um objeto, uma imagem, um interlocutor, uma relação e uma
descoberta na medida do indivíduo. Daí deriva uma concepção notavelmente vaga do próprio Deus
[...].
Há jovens nos quais quase desapareceu a imagem de um Deus pessoal. E da mesma forma também
qualquer questionamento sobre Deus. Imagens e questionamentos permanecem nas dobras da
consciência, como num ângulo não mais visitado.
Nesse contexto, mais comparável a uma praça do que a uma igreja, coloca-se a questão sobre
quando e como falar de Deus, para qual imagem dele orientar experiências e mensagens. É claro
que como Deus se revelou por meio de fatos e palavras, também o nosso falar acontece mediante
fatos e palavras, acontecimentos e iluminações".[10]
4. Antes discípulos, depois apóstolos

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Para fazer os jovens verem Jesus, é preciso conhecê-lo, viver com ele, ser um dos seus. Ou, com
outras palavras, não se pode ser testemunha e apóstolo de Jesus, se não se for antes discípulo.
Apóstolo, de fato, não é quem o quer, mas quem é chamado. Filipe, André e os demais membros do
primeiro grupo foram chamados por Jesus, individualmente, pelo nome, escolhidos entre uma
multidão: "chamou os que ele quis", doze, "para que ficassem com ele e os enviasse a anunciar a
Boa-Nova" (Mc 3,13-14). Para ir a Jesus, porém, tiveram que se afastar do povo que o seguia, e
acompanhá-lo. Quem foi convidado a ficar com Jesus e pregar em seu nome, não pertence ao grupo
dos que o buscam; faz parte daqueles que já o encontraram e decidiram ficar com Ele.
O primeiro mandato que o apóstolo recebe, o convite inicial de quem o chamou, é "ficar" com o seu
Senhor. No apostolado, a convivência precede o envio; a companhia vem antes da pregação; a
fidelidade pessoal é premissa para a missão. De fato, serão enviados por Jesus aqueles que viverem
com Ele, compartilhando o caminho e o repouso, o pão e os sonhos, os sucessos e as desilusões, a
vida e os projetos. Antes de o evangelho ocupar a sua mente e ser causa de seus cansaços, deverá ter
sido acolhido em seu coração e ser causa da sua alegria. Jesus não confia o evangelho a quem não
lhe entregou a própria vida (cf. At 1,21-22). Os primeiros enviados por Jesus foram os seus
primeiros companheiros.
Por ficarem com Ele, os que desejavam conhecer Jesus aproximavam-se dos discípulos; o desejo de
encontrar Jesus levava a multidão a buscar quem o seguia. Só o discípulo, que vive com Jesus, pode
facilitar o acesso a Ele de quem o deseja. De aqui a necessidade premente que os jovens sentem de
encontrar discípulos de Cristo que os levem a Ele, justamente porque estão sempre com Ele. Só os
discípulos autênticos podem ser apóstolos críveis.
No ano a pouco transcorrido, a figura de Paulo ajudou-nos a compreender que antes do "evangelho
da graça" anunciado a todos, houve a experiência do encontro com o Ressuscitado; Paulo obteve
sucesso na pregação do evangelho de Deus, e de modo todo novo, porque o Ressuscitado lhe fora
revelado (cf. Gl 1,15-16) na estrada de Damasco. Desta experiência nasceu o programa de vida de
Paulo: "Para mim, viver é Cristo" e o seu projeto pastoral: "Ai de mim se não evangelizar" (1Cor
9,16). Se "Cristo é tudo para nós" e se "nada antepomos ao amor de Cristo", a nossa vida torna-se,
então, testemunho alegre e proposta a todos do encontro com Ele.
5. Para fazer "ver Jesus" aos jovens
Deparar-se com Jesus não significa, imediatamente, encontrá-lo. Ter-se 'deparado' com Jesus, numa
experiência religiosa densa que suscita grande alegria e entusiasmo, nem sempre leva à fé, ao
encontro autêntico com o Senhor porque, como na parábola da semente (cf. Mc 4), o terreno no qual
ela cai não está preparado.
No encontro, a iniciativa é de Jesus. "Ele se faz adiante e busca o encontro. Entra numa casa,
aproxima-se do poço no qual uma mulher vai à busca de água, detém-se diante de um coletor de
impostos, dirige o olhar a quem subiu numa árvore, associa-se a quem percorre uma estrada. Das
suas palavras, dos seus gestos e da sua pessoa desprende um fascínio que envolve o interlocutor. É
admiração, amor, confiança e atração.
Para muitos, o primeiro encontro se transformará no desejo de ainda escutá-lo, de estabelecer
amizade com ele, de segui-lo. Sentar-se-ão ao seu redor para interrogá-lo, ajudá-lo-ão na sua
missão, haverão de pedir-lhe que os ensine a rezar, serão testemunhas das suas horas felizes e

2 Pages 11-20

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2.1 Page 11

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dolorosas. Em outros casos, o encontro acaba com um convite à mudança de vida".[11] Esse é o
testemunho unânime dos quatro evangelhos.
A experiência não é diversa quando se pensa no encontro de Jesus com os jovens. A cada um deles,
o evento mais explosivo acontece no momento em que Jesus aparece como aquele no qual buscar
um sentido para a vida, ao qual dirigir-se em busca da verdade, através do qual entender a relação
com Deus e com quem interpretar a condição humana. A coisa mais importante é passar da
admiração ao conhecimento e do conhecimento, à intimidade, ao enamoramento, à sequela, à
imitação.
O fato é que não se pode "ver Jesus", se Ele não se "deixar ver". Só vem a mim, disse Ele, quem
me foi dado pelo meu Pai (cf. Jo 6,44). Não basta, portanto, o desejo de encontrá-lo para chegar à
alegria do reconhecimento; nem basta encontrar os seus discípulos para encontrar Jesus e
reconhecê-lo como Senhor.
A narração de Emaús, modelo exemplar de encontro do crente com a mesma Palavra encarnada (cf.
Lc 24,13-15), identifica o horizonte ao qual o crente deve chegar e desenha o caminho para alcançá-
lo. O episódio ilustra o caminho da fé e descreve as suas etapas sempre atuais. A narração lucana
oferece-nos um itinerário preciso de evangelização, no qual se descreve quem evangeliza e como
se evangeliza: é Jesus que evangeliza por meio da sua Palavra e do dom eucarístico de si, enquanto
caminha com os discípulos.
5.1. Meta da evangelização: encontrar Cristo na Igreja
A narração abre-se falando do distanciamento de Jerusalém de dois discípulos de Jesus. Desolados
pelo que acontecera há três dias, abandonam a comunidade na qual, porém, há alguns que
começaram a dizer que o Senhor foi visto vivo; os dois discípulos não podem crer em boatos de
mulheres (cf. Lc 24,22-23; Mc 16,11). Somente ao final da viagem, quando virem Jesus repetir o
gesto de partir o pão, eles o reconhecerão, para logo em seguida perdê-lo de vista e retornarem à
comunidade. A conclusão inesperada da viagem a Emaús foi o reencontro com a comunidade em
Jerusalém. O ressuscitado não ficou com eles, e eles não puderam ficar sozinhos: retornaram à
comunidade, onde reencontraram o Cristo no testemunho dos Apóstolos: "Realmente, o Senhor
ressuscitou e apareceu a Simão" (Lc 24,34). É esse o critério de controle do encontro autêntico com
Cristo: o dom da comunidade, redescoberta como a própria casa, habitada pelo Senhor, lar ao qual
pertencem todos os que viram o Senhor.
A consequência lógica do encontro pessoal com o Ressuscitado é redescobrir a comunidade e
reencontrar-se na Igreja, lugar para viver a fé comum. Fora da comunidade, o anúncio do evangelho
parece rumor no qual não crer (cf. Lc 24,22-23). Hoje como ontem ou mais do que ontem devemos
confrontar-nos com os obstáculos encontrados para a evangelização. O primeiro é a desinformação,
porque não só se fala pouco de Jesus, como também se procura fazê-lo desaparecer da cultura atual,
da organização social, da consciência pessoal. A sua presença é sentida como irrelevante na
sociedade e a sua ausência é vista como um ganho. O segundo obstáculo é a visão subjetivista de
Jesus que, privado da sua historicidade real, torna-se sempre um Cristo segundo a nossa medida,
imaginado segundo os próprios desejos ou necessidades. O terceiro obstáculo é mais refinado: num
pretenso diálogo inter-religioso gostar-se-ia de reduzir Cristo a um entre outros mestres de espírito
ou fundadores de religiões, a ponto de não mais reconhecê-lo como o único Salvador de todos.
Enfim, há o risco não imaginário antes, muito comum entre os próprios cristãos, de considerar
Cristo de tal modo que não há mais nada de novo a dizer-nos; ficando insignificante, não vale mais
a pena tê-lo como guia e Senhor.

2.2 Page 12

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A narração lucana dos discípulos de Emaús diz-nos que se o Ressuscitado não tivesse feito
comunidade com eles durante a viagem e à mesa, os dois discípulos não teriam chegado a descobri-
lo vivo, nem teriam recuperado a vontade de viver em comum. Notemo-lo bem: não importa se
quem retorna à comunidade a tinha abandonado anteriormente; é decisivo, porém, que se retorne o
quanto antes, logo depois de ter visto o Senhor. Só quem recupera a vida comum sabe que o
Ressuscitado esteve com ele e encontra a alegria de tê-lo sentido ao seu lado (cf. Lc 24,35.32).
Deve-se temer uma evangelização que, além dos métodos e das intenções, não parta de uma vida
em comum dos evangelizadores e não nasça da sua alegria de ter encontrado Cristo na comunidade.
Se assim fosse, a evangelização não teria brotado do encontro com o Ressuscitado, nem levaria a
encontrar-se com Ele. Aqueles que viram o Ressuscitado e comeram com Ele não puderam retê-lo
consigo, mas tiveram vontade de falar da experiência vivida, retornando à comunidade. Isso não é
casual, mas comprova uma lei da existência cristã: quem sabe e proclama que Jesus ressuscitou,
vive a sua experiência em comunhão.
Mesmo sendo verdade que Jesus pode ser encontrado em todos os lugares, a sua casa, o lugar onde
ele mora, é a Igreja, a comunidade dos crentes, daqueles que o confessam como seu Senhor, a
família dos seus discípulos, daqueles que compartilham a vida e a missão com Ele.
Não resta dúvida de que devemos trabalhar para corrigir a imagem deformada da Igreja que possa
existir em muitos jovens. Alguns "falam dela com afeto, como se fosse a própria família antes, a
própria mãe. Sabem que nela e dela receberam a vida espiritual. Mesmo reconhecendo os seus
limites, as suas rugas e até mesmo os seus escândalos, isso, todavia parece secundário diante dos
bens que ela traz à pessoa e à humanidade enquanto morada de Cristo e ponto de irradiação da sua
luz: as energias de bem manifestadas em obras e pessoas, a experiência de Deus movida pelo
Espírito que aparece na santidade, a sabedoria vinda da Palavra de Deus, o amor que une e cria
solidariedade além dos limites nacionais e continentais, a perspectiva da vida eterna.
Outros a tratam com desinteresse, como se fosse uma realidade que não lhes pertence e da qual não
se sentem parte. Julgam-na de fora. Quando dizem 'a Igreja', parecem referir-se somente a algumas
de suas instituições, a alguma formulação da fé ou a normas de moral que não são do próprio gosto.
É a impressão que se tem na leitura de alguns jornais. [...] Erram justamente sobre o que constitui a
Igreja: a sua relação, ou melhor, a sua identificação com Cristo. Para muitos, trata-se de uma
verdade desconhecida ou praticamente esquecida. Não falta quem a interprete como uma pretensão
da Igreja de monopolizar a figura de Cristo, controlar as suas interpretações e gerir o patrimônio de
imagem, de verdade, de fascínio representado por Cristo.
Para o crente, porém, esse é o ponto fundamental: a Igreja é continuação, morada, presença atual
de Cristo, lugar onde ele dispensa a graça, a verdade e a vida no Espírito. [...] É exatamente assim.
A Igreja vive da memória de Jesus, reexamina e estuda com todos os meios a sua palavra tirando
dela significados novos, atualiza a sua presença nas celebrações, procura projetar a luz que se
desprende do seu mistério sobre os acontecimentos e as concepções de vida atuais e assume e leva
adiante a missão de Cristo na sua totalidade: anúncio do Reino e transformação das condições de
vida menos humanas. Sobretudo, Jesus é a sua cabeça e atrai os indivíduos, une-os num corpo
visível e infunde energias nas comunidades".[12]
Sendo essa a verdadeira realidade da Igreja, temos a missão de fazer com que os jovens a amem
como mãe da própria fé, que os educa como filhos de Deus, os faz encontrar a vocação e a missão,
os acompanha ao longo do caminho da vida e os espera para introduzi-los na casa do Pai. É o que
Dom Bosco soube fazer de modo incomparável na educação e evangelização dos seus meninos em
Valdocco. Vejamos o que podemos fazer hoje em relação aos jovens que querem ver Jesus.

2.3 Page 13

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5.2. Método da evangelização: caminhar juntos
A razão pela qual provavelmente o episódio de Emaús seja tão atual está na sua contemporaneidade
com a nossa situação espiritual. É fácil sentir-se identificado com estes discípulos que voltam para
casa, antes do pôr do sol, cheios de conhecimentos e de tristeza. Encontramos na aventura dos dois
discípulos de Emaús as etapas decisivas a percorrer para refazer, na educação dos jovens à fé, a
experiência pascal que acompanha o surgimento da vida em comunidade e do testemunho
apostólico.
Ponto de partida: ir até Jesus com as próprias desilusões
Ponto de partida da viagem para Emaús não foi o que acontecera em Jerusalém "naqueles dias",
mas a íntima frustração pessoal. Tinham vivido com Jesus, e a convivência despertara neles as
melhores esperanças: parecia ser "ele que libertaria Israel" (Lc 24,19-21). Sua morte na cruz, porém,
sepultara todas as expectativas e a fé que tinham. Era mais do que lógico provarem a falência,
sentirem, desiludidos, que foram enganados. Hoje, os jovens compartilham poucas coisas com estes
discípulos; talvez, porém, não tenham tanto em comum quanto a frustração dos seus sonhos, o
cansaço na vida e o desencanto no discipulado. Seguir Jesus não é digno, pensam com frequência,
não vale à pena: um ausente não tem valor para suas vidas.
É a hora de partir para Emaús. Ao longo do caminho, com suas angústias, há também a
oportunidade de um encontro com Jesus. Não se deve pensar, porém, em caminhar sozinhos. Os
jovens precisam de uma Igreja que representando Jesus se aproxime dos seus problemas e do seu
desalento, que não só compartilhe com eles o caminho e o cansaço, mas saiba também conversar
com eles, colocando-se no seu nível, interessando-se por aquilo que os preocupa, assumindo suas
incertezas. Como poderá a Família Salesiana representar o Senhor ressuscitado, se não se ocupar
deles, ou não se interrogar sobre as suas "alegrias e esperanças", sobre as suas "tristezas e
angústias", enfim, se não se mostrar preocupada pelas suas coisas e pela sua vida?
Durante o caminho: do saber muitas coisas sobre Jesus ao deixá-lo falar
Pela estrada, só o desconhecido parecia não ter qualquer ideia do que acontecera em Jerusalém (cf.
Lc 24,17-24). Conhecer muitas coisas sobre Jesus não levou os discípulos a reconhecê-lo;
conheciam o kerygma, mas não tinham chegado à fé; sabiam muito sobre ele, mas não eram capazes
de vê-lo; tinham muitas notícias sobre um morto, a ponto de não conseguirem reconhecê-lo vivo. O
desconhecido precisou empenhar-se intensamente para fazê-los compreender o acontecido sob a luz
de Deus. Jesus pôs-se a reler a sua vida com eles apresentando-a como realização das promessas.
Para poder reconhecê-lo, tiveram que deixá-lo falar.
Como Cristo, a Família Salesiana precisa renunciar a alimentar nos jovens esperanças
inconsistentes, expectativas falsas; deve ensinar a suportar o que acontece neles e ao redor deles,
ajudando-os a reler os acontecimentos à luz de Deus, segundo a sua Palavra. Como os jovens
conseguirão sentir-se amados por Deus se não os levarmos à convicção de que tudo o que acontece
faz parte de um projeto divino, fruto e prova de um amor colossal? Para chegar a isso, devemos ser
seus companheiros na busca do sentido da vida e na busca de Deus. Eis aqui um percurso, ainda
pouco utilizado na Igreja, muito urgente para os jovens: sem conhecer as Escrituras, não se conhece
Cristo.[13]
Etapa decisiva: acolher Jesus na própria casa

2.4 Page 14

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Chegados a Emaús, os discípulos ainda não tinham chegado ao conhecimento pessoal de Jesus, não
tinham identificado o Ressuscitado no companheiro desconhecido. Emaús não foi, na verdade, a
meta da viagem, mas a etapa decisiva. Convidado a ficar, ainda desconhecido, Jesus repete o seu
gesto sem dizer palavra. A práxis eucarística entre os crentes é sinal da sua presença real. Os dois de
Emaús não reconheceram o Senhor quando caminhavam com ele e dele aprendiam a entender o
sentido dos acontecimentos. O que Jesus não conseguira fazer com o acompanhamento, com a
conversação, com a interpretação da Palavra de Deus, realizou-se com o gesto eucarístico.
Os olhos para contemplar o Ressuscitado abrem-se quando Ele repete o gesto que melhor o
identifica (cf. Lc 24,30-31). Quando se parte o pão em comunidade, Jesus sai do anonimato.
"Nenhuma comunidade cristã se edifica sem ter a sua raiz e o seu centro na celebração da
Eucaristia".[14] Uma educação à fé que se esqueça ou adie o encontro sacramental dos jovens com
Cristo não é caminho para encontrá-lo. A Eucaristia é e deve permanecer "fonte e cume da
evangelização";[15] ela é "a fonte e o cume da vida cristã".[16]
"Os jovens, como nós, encontram Jesus na comunidade eclesial. Em vista dela, porém, há
momentos nos quais Jesus se revela e se comunica de modo singular: são os sacramentos, em
particular a Reconciliação e a Eucaristia. Sem a experiência que se faz neles, o conhecimento de
Jesus resulta inadequado e escasso, a ponto de não permitir distingui-lo como o ressuscitado
Salvador.
Há, na verdade, quem, mesmo compartilhando a vida social e os ideais da Igreja, coloque Jesus
apenas entre os grandes sábios, entre os gênios religiosos; talvez o considere como a realização
mais elevada da humanidade, que influi em nós pela profundidade da sua doutrina e pelo exemplo
da sua vida. Falta, porém, a experiência pessoal do Ressuscitado, do seu poder de dar a vida, da
comunhão nele com o Pai.
Diz-se acertadamente que os sacramentos são memória real de Jesus: daquilo que ele realizou e
ainda realiza hoje para nós, daquilo que significa para a nossa vida: reacendem, portanto, a nossa fé
nele, pelo que o vemos melhor em nossa existência e nos acontecimentos.
São também revelação daquilo que parece escondido nas dobras da nossa existência, através dos
quais tomamos consciência disso: na Reconciliação, descobrimos a bondade de Deus na origem e
como tecido da nossa vida; à sua luz avaliamos o seu decorrer e procuramos construí-la de modo
novo. Eles são energia, graça transformadora porque comunicam a vida de Cristo ressuscitado e nos
inserem nela; dão-nos consciência não teórica, mas vivida do seu valor, dimensões e possibilidades.
São profecia, garantia de uma promessa de comunhão e felicidade, que nos foi feita e à qual nos
entregamos. Na Reconciliação, abrem-se nossos olhos e vemos aquilo que podemos ser segundo o
projeto e o desejo de Deus; é-nos dado novamente o Espírito que nos purifica e renova. Foi dito que
é o sacramento do nosso futuro de filhos, e não do nosso passado de pecadores. Na Eucaristia,
Cristo nos incorpora à sua oferta ao Pai e reforça a nossa entrega aos homens. Inspira-nos o desejo e
dá-nos a esperança de que ambos, amor ao Pai e aos irmãos, sejam uma graça para todos e para
tudo: anunciamos a sua morte, proclamamos a sua ressurreição, vem Senhor Jesus".[17]
5.3. Motivação da evangelização
A urgência de evangelizar não é proselitismo; ela exprime paixão pela salvação dos outros, alegria
de compartilhar a experiência da plenitude de vida em Jesus. Quem encontrou o Senhor, não pode
ficar em silêncio. Deve proclamá-lo. Ficar calado seria dá-lo novamente por morto; e Ele vive! O

2.5 Page 15

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sentido missionário encarna a ordem dada por Jesus aos discípulos: "sereis minhas testemunhas até
os extremos limites da terra" (At 1,8).
Ao levar o evangelho aos jovens mais pobres, Dom Bosco apropriou-se desse apelo de Jesus desde
o início da sua obra. Ao falar da Congregação ele diz: "esta Sociedade em seu princípio era um
simples catecismo".[18] E logo depois da aprovação das Constituições (1874) enviou a primeira
expedição missionária à América Latina, em 11 de novembro de 1875. Somos convidados como
Família Salesiana a nos colocarmos em sintonia com aquela que foi a inspiração originária de Dom
Bosco: a dimensão evangelizadora e missionária da sua vida, mas também do seu carisma. Isso tudo
representa um ponto fundamental do testamento espiritual que ele nos deixou.
Hoje, a missionariedade está particularmente viva, porque o mundo voltou a ser "terra de missão".
Por outro lado, há também hoje uma maneira diversa de conceber a missionariedade, de realizar a
"missio ad gentes". Ela é atuada no respeito dos diversos ambientes culturais, em diálogo com as
outras confissões cristãs e as diversas religiões, e empenha-nos na promoção humana e na
fermentação da cultura.[19] O que não nos exime, porém, de ser missionários, antes nos
compromete de modo ainda mais intenso.
5.4. Repensamento da pastoral
Se quisermos evangelizar hoje, além de dar prioridade às urgências da evangelização, devemos
renovar a pastoral. Eis, portanto, algumas considerações sobre isso.
Centralidade da pessoa de Jesus Cristo
A evangelização tem o Senhor Jesus não só como seu conteúdo, mas como seu sujeito fundamental.
Jesus Cristo, com efeito, não propõe uma mensagem que possa ser separada da sua pessoa, de modo
que as suas palavras, as suas ações, a sua vicissitude terrena possam ser reduzidas a simples
instrumentos de comunicação. Ele é o próprio conteúdo do seu anúncio, porque Ele é a Palavra viva
e eficaz com que Deus se comunica aos homens. A fonte de toda a ação evangelizadora está no
encontro pessoal com Cristo. Não se trata, obviamente, de simples exortação parenética, mas de
indicação clara da verdade, que tem consequências muito relevantes. Entre elas, assinalo
primeiramente a exigência de superar a ruptura entre o conteúdo e o método da evangelização, e,
ainda, a urgência de manter o equilíbrio entre o partir dos questionamentos dos destinatários e o
apresentar-lhes somente Cristo e o Cristo por inteiro. Isso está a nos pedir para verificar se os
nossos métodos pastorais são coerentes com a centralidade da proposta de Jesus Cristo. Uma
metodologia que coloque no centro exclusivamente o ouvinte da Palavra torna inútil a eficácia da
mesma Palavra.
Testemunho da comunidade evangelizada e evangelizadora
O testemunho é elemento fundamental da ação pastoral. A prioridade do testemunho deriva
coerentemente da centralidade da pessoa de Jesus Cristo na ação evangelizadora. Essa ação não
nasce primariamente de necessidades humanas às quais se deva dar uma resposta, mas do encontro
com um mistério pessoal de graça do qual é preciso dar testemunho; por isso, ela não se desdobra a
partir do nada ou de uma carência, mas a partir da plenitude de amor que se irradia e do qual se
participa. Por isso, no centro da ação evangelizadora está a presença testemunhal de uma
comunidade que interpela as consciências com o próprio modo de viver e ali está não só um projeto
pastoral ao redor do qual reunir forças mais ou menos homogêneas. Assume, então, um relevo
particular a figura do evangelizador que é, antes de tudo, um discípulo crente e, depois, um apóstolo
crível antes, um apóstolo crível justamente por já ser discípulo crente.

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Evangelização e educação
Sente-se, na Família Salesiana, a exigência de repensar a relação entre evangelização e educação,
superando a inércia repetitiva de fórmulas genéricas. O Capitulo Geral 26 dos Salesianos afirma:
"Na tradição salesiana, exprimimos essa relação de diversos modos: por exemplo, 'honestos
cidadãos e bons cristãos' ou 'evangelizar educando e educar evangelizando'. Advertimos a exigência
de continuar a reflexão sobre essa relação delicada. Entretanto estamos convencidos que a
evangelização propõe à educação um modelo de humanidade plenamente realizada e que a
educação, quando chega a tocar o coração dos jovens e desenvolve o sentido religioso da vida,
favorece e acompanha o processo de evangelização".[20] O desenvolvimento deste trabalho
encontra seu ponto de referência na clara afirmação do texto capitular, segundo o qual é preciso
"salvaguardar ao mesmo tempo a integridade do anúncio e a gradualidade da proposta",[21] sem
ceder à tentação de transformar a gradualidade dos caminhos pedagógicos em parcialidade seletiva
da proposta ou na lentidão do anúncio explícito de Jesus Cristo, impossibilitando assim o encontro
pessoal com o Senhor.
Evangelização nos diversos contextos
A evangelização também exige que se dê atenção aos diversos contextos. A urgência de levar o
anúncio do Senhor Ressuscitado induz-nos ao confronto com situações que ressoam em nós como
apelo e preocupação: os povos ainda não evangelizados, o secularismo que ameaça terras de antiga
tradição cristã, o fenômeno das migrações, as novas formas dramáticas de pobreza e violência, a
difusão de movimentos e seitas. Cada contexto apresenta seus próprios desafios ao anúncio do
evangelho. Sentimo-nos questionados também por algumas oportunidades como o diálogo
ecumênico, inter-religioso e intercultural, a nova sensibilidade pela paz, pela tutela dos direitos
humanos e pela conservação da criação, as muitas expressões de solidariedade e de voluntariado.
Esses elementos, reconhecidos pelas Exortações Apostólicas dos pós-Sínodos continentais,
comprometem-nos a encontrar novos caminhos de comunicação do evangelho de Jesus Cristo no
respeito e na valorização das culturas locais.
Atenção à família
Deve-se reservar uma atenção particular à família, sujeito originário da educação e primeiro espaço
da evangelização. A Igreja tomou consciência das graves dificuldades nas quais a família se
encontra e adverte a necessidade de oferecer ajudas extraordinárias para sua formação, seu
crescimento e o exercício responsável da sua missão educativa. Por isso, também nós somos
chamados a fazer com que a pastoral juvenil seja sempre mais aberta à pastoral familiar. Assim
dizia o Papa Bento a nós Salesianos durante o Capítulo Geral 26: "É extremamente importante na
educação dos jovens que a família seja sujeito ativo. Ela encontra-se muitas vezes em dificuldade ao
enfrentar os desafios da educação; outras vezes é incapaz de dar a sua contribuição específica, ou
então fica ausente. A predileção e o compromisso a favor dos jovens, que são características do
carisma de Dom Bosco, devem traduzir-se num igual compromisso pelo envolvimento e formação
das famílias. Portanto, a vossa pastoral juvenil deve abrir-se decididamente à pastoral familiar.
Ocupar-se das famílias não é subtrair forças ao trabalho pelos jovens, aliás, é torná-lo mais
duradouro e eficaz".[22]
5.5. Processos que devem ser ativados para a mudança
A fim de enfrentar as exigências da evangelização e realizar o repensamento da pastoral juvenil, é
necessário converter mentalidades, modificar estruturas e ativar alguns processos de mudança. É
preciso passar:

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de uma mentalidade que privilegia os papéis de gestão direta à que privilegia a presença
evangelizadora entre os jovens;
de uma evangelização feita de eventos sem continuidade a um itinerário sistemático e integral;
de uma mentalidade individualista a um estilo comunitário que envolve jovens, famílias e leigos no
anúncio de Jesus Cristo;
de uma atitude de autossuficiência pastoral à participação nos projetos das igrejas locais;
de uma consideração da eficácia da nossa presença em termos de estima dos outros à sua
avaliação em termos de fidelidade ao evangelho;
de uma atitude de superioridade cultural à acolhida positiva de culturas diferentes da nossa;
de uma consideração da Família Salesiana apenas como oportunidade de encontro, conhecimento
e troca de experiências, ao empenho para fazer dela um verdadeiro movimento apostólico em
favor dos jovens.
Estou convencido de que, "para responder como discípulos do Senhor Jesus não temos alternativa
senão a vida teologal, uma intensa vida permeada de fé, esperança e caridade, vivida em
profundidade, e a radicalidade da vida evangélica, uma vida luminosa marcada pela obediência,
pela pobreza e pela castidade. Eis a nossa profecia! Jesus nos instruiu e nos comunicou o seu
Espírito para que pudéssemos ser sal da terra, luz do mundo, fermento na sociedade, chamados a
iluminar e irradiar, a preservar e dar sabor, a desenvolver e transformar.
Isso tudo implica:
assumir com criatividade e entusiasmo a nova evangelização, até chegar à alma da cultura,
especialmente dos jovens, nossos destinatários;
recuperar a centralidade de Deus na vida pessoal e comunitária, garantindo uma elevada medida
de vida espiritual na comunidade e tornando legível o testemunho comunitário da sequela de
Cristo;
apostar na criação de comunidades com genuíno espírito de família, ricas de valores humanos e
entregues plenamente ao serviço dos jovens, sobretudo os mais pobres, carentes, marginalizados,
até fazer delas casa e escola de comunhão;
dar novo significado à presença salesiana entre os jovens, fazendo opções carismáticas que nos
permitam compartilhar a vida com os jovens, criando uma nova modalidade de presença mais
decididamente evangelizadora, estando onde pudermos ser mais fecundos em nível pastoral,
espiritual e vocacional".[23]
6. Como o padre Miguel Rua, discípulo e missionário
Quem relê a história da Congregação salesiana, a 150 anos da sua fundação e a 100 anos da morte
do padre Rua, primeiro sucessor de Dom Bosco, não pode deixar de reconhecer que o nosso carisma
nasceu da mesma missão da Igreja; o que nos impele é a paixão pastoral que Dom Bosco aprendeu à
escola de Cafasso; numa palavra, somos enviados por Jesus a realizar o seu mesmo ministério e a
sua mesma obra, mas com o rosto sorridente de Dom Bosco e a determinação do padre Rua.
6.1. "Fidelíssimo"
Por isso, a esta altura não posso deixar de fazer um aceno ao padre Miguel Rua, modelo para nós do
que, como Salesianos, significa ser discípulos e apóstolos de Jesus nos passos de Dom Bosco, do
qual ele foi o primeiro sucessor.

2.8 Page 18

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Ele "foi o fidelíssimo, por isso o mais humilde e, ao mesmo tempo, o mais valoroso filho de Dom
Bosco". Com estas palavras Paulo 6º, esculpiu para sempre a figura humana e espiritual do padre
Rua, em 19 de outubro de 1972, dia da beatificação. O Papa, também naquela homilia[24]
cadenciada sob a cúpula de São Pedro, delineou o novo Beato com palavras que definiram a sua
característica fundamental: "Sucessor de Dom Bosco, isto é, continuador: filho, discípulo,
imitador... Fez do exemplo do Santo uma escola, da sua vida uma história, da sua regra um espírito,
da sua santidade um tipo, um modelo; fez da fonte, uma corrente, um rio". As palavras de Paulo 6º
elevavam este "frágil e consumido perfil de padre" a uma altura superior à vicissitude terrena;
descobriam o diamante que brilhara na trama doce e humilde dos seus dias.
Começara num dia distante, com um gesto estranho. Oito anos, órfão de pai, com uma faixa preta
na jaqueta, Miguel estendera a mão a Dom Bosco para receber uma medalhinha. Em vez da
medalha, Dom Bosco oferecera-lhe a mão esquerda, enquanto com a direita fazia o gesto de cortá-la
ao meio. E dizia: "Toma-a, Miguelzinho, toma-a". E diante daqueles olhos atônitos, disse as
palavras que seriam o segredo da sua vida: "Nós dois faremos tudo meio a meio". Começou assim
aquele formidável trabalho conjunto entre o Mestre santo e o discípulo que fazia meio a meio com
ele, tudo e sempre. Miguel começava a assimilar a maneira de pensar e comportar-se de Dom
Bosco. "Impressionava-me mais dirá mais tarde observar Dom Bosco em suas ações, mesmo
pequenas, do que ler e meditar qualquer livro devoto".[25]
6.2. Fidelidade fecunda
Mais de um cardeal em Roma, à morte de Dom Bosco estava persuadido de que a Congregação
Salesiana se dissolveria rapidamente; o padre Rua tinha 50 anos. Seria melhor enviar a Turim um
Comissário pontifício que preparasse a união dos Salesianos com outra Congregação de tradição
comprovada. "Com grande pressa testemunhou sob juramento o padre Barberis Dom Cagliero
reuniu o Capítulo com alguns dos mais velhos e escreveu-se uma carta ao Santo Padre na qual todos
os Superiores e os mais velhos declararam que todos, concordes, aceitariam o padre Rua como
Superior, e não só se teriam submetido, mas o aceitariam com grande alegria... Em 11 de fevereiro o
Santo Padre confirmava e declarava o padre Rua no cargo por doze anos segundo as
Constituições".[26]
O Papa Leão 13 conhecera o padre Rua e sabia que os Salesianos sob a sua direção haveriam de
continuar a própria missão. E assim se deu. Os Salesianos e as obras salesianas multiplicaram-se
como os pães e os peixes nas mãos de Jesus. Dom Bosco fundara 64 obras; o padre Rua elevou-as a
341. Os Salesianos, à morte de Dom Bosco, eram 700; com o padre Rua, em 22 anos de direção
geral, chegaram a 4.000. As missões salesianas, que Dom Bosco começara com tenacidade,
estenderam-se durante a sua vida à Patagônia e Terra do Fogo, ao Uruguai e Brasil; o padre Rua
multiplicou o ardor missionário e os Salesianos missionários chegaram à Colômbia, ao Equador, ao
México, à China, à Índia, ao Egito e a Moçambique.
Para que não diminuísse a fidelidade a Dom Bosco, o padre Rua não teve receio de viajar em todas
as direções. A sua vida inteira foi constelada de viagens. Ele alcançava os seus Salesianos onde quer
que estivessem, falava-lhes de Dom Bosco, reavivava neles o seu espírito, informava-se paterna,
mas cuidadosamente, da vida dos irmãos e das obras, e deixava diretrizes e conselhos para que
florescesse a fidelidade a Dom Bosco.
6.3. Fidelidade dinâmica
Na mesma homilia da beatificação, Paulo 6º afirmou: "Meditemos um instante sobre o aspecto
característico do padre Rua, aspecto que no-lo faz entender... A prodigiosa fecundidade da Família
Salesiana teve sua origem em Dom Bosco; no padre Rua, a continuidade. O seu seguidor serviu a

2.9 Page 19

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Obra salesiana na sua virtualidade expansiva, desenvolveu-a com coerência fiel, mas sempre com
novidade genial".
Continua Paulo 6º: "O que nos ensina o padre Rua? A sermos continuadores... A imitação do
discípulo não é passividade, nem servidão... A educação é arte que orienta a expansão lógica, mas
livre e original, das qualidades virtuais do discípulo... O padre Rua qualifica-se como o primeiro
continuador do exemplo e da obra de Dom Bosco... Percebemos ter diante de nós um atleta da
atividade apostólica que age sempre nas pegadas de Dom Bosco, mas com dimensões próprias e
crescentes... Nós damos glória ao Senhor, que quis... oferecer ao seu esforço apostólico novos
campos de trabalho pastoral que o impetuoso e desordenado desenvolvimento social abriu diante da
civilização cristã".
A ler, embora apenas rapidamente a quantidade impressionante das cartas do padre Rua, das suas
circulares, dos volumes que resumem a sua obra de Sucessor de Dom Bosco por 22 anos descobre-
se de maneira imponente ser verdade o que foi afirmado pelo Papa: a sua fidelidade a Dom Bosco
não é estática, mas dinâmica. Ele percebe realmente o fluir do tempo e das necessidades da
juventude e, sem temor, expande a obra salesiana a novos campos.
7. Sugestões para a concretização da Estreia
Depois deste aceno à figura do padre Rua, que tanto desenvolveu a Família Salesiana, eis agora
alguns passos úteis a dar de modo que os grupos da Família Salesiana se empenhem em levar o
Evangelho aos jovens. Isto é proposto a cada grupo da Família Salesiana, mas também aos
Conselhos locais e inspetoriais da Família Salesiana.
7.1. Refletir nos Conselhos locais e inspetoriais da Família Salesiana sobre o modo de assumir o
indicado na seção 5.4, ou seja, o modo de realizar o repensamento da pastoral de modo que se
tornem operativas as opções quanto à centralidade da proposta de Jesus Cristo; o testemunho
pessoal e comunitário; a contribuição recíproca de educação e evangelização; a atenção à
diversidade dos contextos; o envolvimento das famílias.
7.2. Individualizar nos Conselhos locais e inspetoriais, a partir da "Carta da Missão da Família
Salesiana", as modalidades para fazer juntos algumas experiências de evangelização dos jovens,
promovendo a "leitura espiritual e orante da Sagrada Escritura", também entre eles e fazendo deles
sempre mais evangelizadores de seus companheiros.
7.3. Suscitar a colaboração da Família Salesiana, em nível inspetorial e local, para realizar as
missões juvenis, como forma atualizada de anúncio e catequese aos jovens, envolvendo os próprios
jovens como evangelizadores dos jovens.
7.4. Valorizar as Exortações Apostólicas à conclusão dos Sínodos continentais, para individualizar
as prioridades e as formas específicas do próprio contexto para a evangelização dos jovens. No caso
da América Latina, aderir à "Missão continental" programada pela Assembleia dos Bispos realizada
em Aparecida; no caso da Região África e Madagascar, seguir as orientações do Sínodo dos Bispos
de outubro de 2009.
8. Conclusão

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Como de costume, concluo a apresentação da Estreia com uma narração, que desta vez nos é
oferecida pelo comentário feito pelo padre Joseph Grünner, Inspetor da Alemanha, ao quadro de
"Dom Bosco manejador de marionetes", pintado por Sieger Koeder, pároco emérito da Diocese de
Rottenburg - Stuttgart e amigo dos Salesianos. Logo que vi o quadro, fiquei fascinado pela
representação tão poderosa e densa do nosso querido fundador e pai.
Trata-se de um verdadeiro ícone de "Dom Bosco evangelizador, sinal do amor de Deus aos
homens". Como todos os ícones, a obra deve ser estudada e apreciada no conjunto, mas também nos
detalhes. Espero que a sua contemplação estimule cada um de nós a ser evangelizador ardoroso dos
jovens, convictos de que no evangelho nós lhes damos o presente mais precioso: Cristo, o único
capaz de fazê-los entender o sentido da sua existência, de provocá-los a fazerem opções
empenhativas de vida e serem eles mesmos apóstolos dos jovens.
Dom Bosco evangelizador, sinal do amor de Deus aos jovens
Meditação sobre o quadro de Dom Bosco de Sieger Koeder
"Sede misericordiosos, como é misericordioso o vosso Pai" (Lc 6,36)
Poderia surpreender o modo de representar Dom Bosco como idealizado pelo artista-sacerdote
Sieger Koeder. Não o representa segundo uma das muitas fotografias existentes, por exemplo, entre
seus meninos, ou como "santo típico", mas o quadro mostra Dom Bosco realmente como era e
continua a ser, revela-nos o seu ser mais profundo. Assim, o quadro torna-se também uma
belíssima ilustração do que o nosso Pai descreveu, na carta de Roma de 1884, como centro do seu
sistema preventivo.
Dom Bosco: manejador de marionetes que entusiasma
Ao lado direito, vemos Dom Bosco vestido com a batina, atrás de um véu escuro que lhe serve de
cenário. Aos olhos dos expectadores, a sua figura fica escondida, mas eles podem ver as duas
marionetes que ele segura erguidas. Sua face faz-nos perceber a concentração unida ao
entusiasmo: ele sorri e, obviamente, está totalmente envolvido em sua ação. Parece agradar-lhe o
entusiasmo dos expectadores.
Dom Bosco: educador rico de ideias
Ele sabe fascinar meninos, jovens, adultos, para conquistá-los com jogos e diversões, com métodos
e meios simplicíssimos, servindo-se da palavra ou da imprensa, trabalhando por eles com
criatividade e grande sensibilidade. Serve-se de tudo para conquistá-los àquela que considera a
missão confiada a ele pela Providência. Ele o faz ao colocar no centro "a mensagem" da qual é
apenas mediador e não protagonista.
Dom Bosco: catequista apaixonado
As duas marionetes nas mãos erguidas de Dom Bosco a primeira a representar o pai, a outra, o
filho nos braços do pai são um símbolo do seu projeto de vida: fazer entender e experimentar aos
jovens pobres e abandonados e às camadas populares o mistério do imenso amor de Deus e da Sua
infinita misericórdia para com todos. A narração bíblica do pai misericordioso, que em seu
coração jamais se esqueceu do filho pródigo, mas sempre esperou e desejou o seu retorno (cf. Lc
15,11-32), não é apenas o argumento da representação realizada com as marionetes, mas é um
tema dominante de toda a vida de Dom Bosco. O quadro mostra o ponto culminante da narração

3 Pages 21-30

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bíblica: o pai misericordioso, vestido festivamente, abraça o filho pródigo que agora retornou,
restituindo-lhe a dignidade e todos os direitos que tinha anteriormente, e abrindo perspectivas
novas para sua vida.
Dom Bosco: pai misericordioso
Dom Bosco não "atua" como pai, como o ator de um espetáculo, mas se torna tal e o é na
realidade, tomando como modelo o pai da narração bíblica. Na parte inferior do quadro, ao lado
direito da tela, Dom Bosco é representado no ato de proteger um dos seus meninos, que olha
atentamente para Dom Bosco. O menino está pintado com a mesma cor azul da marionete que
representa o filho pródigo; talvez simbolize o irmão mais velho da parábola, ainda não pronto e
disposto a aceitar a misericórdia do pai. Pode ser, ainda, que represente os muitos jovens para os
quais Dom Bosco ofereceu um espaço de proteção, no qual podiam experimentar segurança,
caridade, amor afetivo e efetivo, em contraste com tudo o que deviam experimentar pelas ruas e
prisões.
Dom Bosco com os seus jovens
Os destinatários de Dom Bosco são crianças e jovens, seguidores atentos daquilo que ele faz. Dom
Bosco foi representado uma segunda vez ao lado esquerdo do quadro: entre eles e abraçando-os
afetuosamente, como faz o pai misericordioso do espetáculo. Os jovens estão totalmente presos por
aquilo que acontece no palco, escutando a mensagem e, ao mesmo tempo, experimentando o afeto:
com Dom Bosco podem sentir-se à vontade, aceitos como são. A caridade de Dom Bosco é sensível
e torna-se experiência convincente. É um amor de "pai, irmão e amigo".
Dom Bosco: anunciador no mundo
O pintor localizou o evento a céu aberto, fora dos muros da cidade que se vê nos bastidores. Em
seus tempos Dom Bosco foi ao centro da cidade de Turim, girando de um lado para o outro pelas
ruas e praças, para buscar e encontrar meninos e jovens. Ele entrou no mundo deles, ia-lhes ao
encontro colocando-se em certo sentido no nível deles, como descrito na carta de Roma. Lá era o
lugar preferido para realizar a sua missão de pastor e evangelizador: acolher os jovens onde eles
estão, mas abrindo os seus sentidos para "o alto" e encaminhando-os para "o céu". Dom Bosco é
representado, por assim dizer, com os pés na terra, no mundo real, e com o olhar e as mãos para o
céu; e ele jamais se esqueceu nem de uma nem do outro.
Dom Bosco: testemunha que convida
Na liturgia da ordenação sacerdotal, o Bispo convida o ordenando: "Vivas agora aquilo que
anuncias!". É o que Dom Bosco fez em toda a sua vida sacerdotal. Ele estava convencido do amor
infinito e inabalável de Deus pelos homens, do amor de Deus que está mais pronto a perdoar e
reconstruir quem é frágil do que punir. Dom Bosco era uma testemunha convincente com todo o
seu ser e agir, no pátio e na oficina, na escola como na igreja: testemunho da misericórdia paterna
do "bom Deus", que jamais desespera do homem, mas o leva da separação e do isolamento ao
retorno "à sua casa".
O quadro de Koeder mostra-nos um homem a ser admirado, mas é, sobretudo, um convite que Dom
Bosco nos faz: "Sede misericordiosos, como é misericordioso o vosso Pai".

3.2 Page 22

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Caros irmãos, membros da Família Salesiana, amigos todos, como discípulos enamorados de Jesus
e testemunhas e apóstolos convictos e alegres, levemos os jovens a Cristo e levemos o evangelho
aos jovens.
P. Pascual Chávez Villanueva
Reitor-Mor
[1] Bento XVI, Carta ao P. Pascual Chávez Villanueva, Reitor-Mor dos Salesianos, por ocasião do
Capítulo Geral 26, 1º de março de 2008, n. 4;cf. CG26 dos SDB, p. 109.
[2] Bento XVI, cf. Deus caritas est, n. 18
[3] CG26 SDB, n. 24.
[4] Bento XVI, Carta ao P. Pascual Chávez Villanueva, Reitor-Mor dos Salesianos, por ocasião do
Capítulo Geral 26, 1º de março de 2008, n. 4;cf. CG26 dos SDB, p. 109.
[5] Cf. Bento XVI, Deus caritas est, n. 18.
[6] CG 22 FMA, Acima de tudo o amor, n. 33.
[7] P. CHAVEZ, Non è giusto che noi trascuriamo la Parola di Dio, Saudação de abertura da
Assembleia da USG, Roma 21 de novembro de 2007.
[8] L'Osservatore Romano, sexta-feira, 6 de agosto de 2009, p. 8
[9] J. E. Vecchi, “L’areopago giovanile”, Note di Pastorale Giovanile (NPG) 1997, n. 4 (maio), p.
3.
[10] J. E. Vecchi, “Parlare di Dio ai giovani”, NPG 1997, n. 5 (junho), pp. 3-4.
[11] J. E. Vecchi, “Educare alla fede: l’incontro con Cristo”, NPG 1997, n. 3 (aprile), p. 3
[12] J. E. Vecchi, “Maestro, dove abiti?”, NPG 1997, n. 7 (outubro), p. 3
[13] Cf. DV 25.
[14] PO 6.
[15] PO 5.
[16] LG 11
[17] J. E. Vecchi, "Lo riconobbero nello spezzare il pane", NPG 1997, n. 8 (novembro), pp. 3-4
[18] MB IX, p. 61.
[19] Cf. EN 19

3.3 Page 23

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[20] CG26 SDB n. 25
[21] Ibidem
[22] Bento XVI, Discurso de Sua Santidade na Audiência aos Capitulares, 31 de março de 2008;
cf. CG26, p. 145.
[23] Pascual Chávez Villanueva, Sotto il soffio dello Spirito. Identità carismatica e passione
apostolica. Corso di esercizi spirituali alle Capitolari FMA, LDC Turim 2009, p. 17.
[24] Cf. AAS an. e vol. LXIV, 1972 N. 11, pp. 713-718
[25] A. Amadei, Il Servo di Dio Michele Rua, vol. I, SEI Turim 1933, p. 30.
[26] Positio 54-55.