PDO2005-por


PDO2005-por



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Salesianum-Roma, 30 de março à 02 de abril de 2005
Inspetoria Salesiana Missionária da Amazônia - ISMA
Rua Visconde de Porto Alegre, 806 - Centro • Fone/Fax (92) 633-4414
• E-mail: pastoral@isma.org.br • Inspetor: Pe. Damásio Medeiros
• Coordenador da CIP: Pe. José Raimundo Néri
24

1.2 Page 2

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DESENVOLVIMENTO, DO PONTO DE VISTA DA
EVANGELIZAÇÃO E DO CARISMA SALESIANO1
(D. F. Alencherry)
1. Introdução
Estamos reunidos neste seminário como discípulos de Cristo e como Salesianos. A maior
parte de nós somos salesianos por causa da profissão religiosa, enquanto outros também o
são pela partilha ativa da missão salesiana. Por isso, para começar a nossa reflexão sobre o
tema dos Departamentos de Planejamento e Desenvolvimento, é bom que comecemos
pelas raízes cristãs e salesianas desta atividade.
Por esta razão pretendo lembrar brevemente os princípios de onde deveriam partir
todos os nossos programas e projetos e que sempre deveriam acompanhar o funcionamento
dos nossos Departamentos de Planejamento e Desenvolvimento.
Em vários e importantes documentos, o magistério da Igreja trata de questões que se
referem à promoção humana e ao desenvolvimento integral. Não é necessário que agora
lembremos todos eles, pois se encontram numa linha de crescimento permanente, e cada
um deles confirma, reforça e desenvolve aquilo que foi dito nos precedentes.
Como salesianos devemos ler os ensinamentos da Igreja sobre a natureza da evangelização
e do desenvolvimento a partir do ponto de vista do carisma salesiano. O nosso modo de
pregar o evangelho tem características e qualidades específicas que devemos conservar, se
quisermos ser fiéis à nossa vocação e missão.
No começo desta sintética apresentação, considero útil lembrar um princípio fundamental
que o atual Reitor Mor, Pe. Pascual Chavez, nunca se cansa de repetir: não somos simples
trabalhadores sociais nem meros filantropos: somos, antes de qualquer coisa, “sinais e
portadores do amor de Deus aos jovens, especialmente aos mais pobres”. Somos
evangelizadores e pastores que querem introduzir o Reino de Deus, os novos céus e a nova
terra. O nosso é um compromisso apostólico voltado a realizar o Evangelho no nosso
tempo. Desta forma, todas as nossas atividades são guiadas por este princípio fundamental.2
2. Os Documentos da Igreja
Como já foi acenado, não pretendemos retomar em detalhes todos os documentos da
Igreja que se referem a temas de desenvolvimento e de promoção humana; vou limitar-me
a algumas idéias essenciais, que acho que são mais estreitamentente inerentes ao argumento
deste seminário. Vou referir-me de modo particular às Encíclicas Evangelii Nuntiandi (=EN),
de 1975, e Redemptoris Missio (=RM), de 1990. As suas idéias fundamentais se encontram
de novo em vários outros documentos.
_______________________________________
1 A tradução do italiano para o português das três palestras a seguir foi feita pelo P.João Sucarrats
(jsucarrats@isma.org.br), ao qual agradecemos o serviço.
2 Nesta relação o sublinhado foi acrescentado por motivos de ênfase.
2
Conclusão
Num encontro recente com alguns funcionários da Comunidade Européia, na sede da
OLAF em Bruxelas, pude apreciar como trabalham em sinergia os vários departamentos,
trocando informações, organizando encontros, atualizando-se reciprocamente sobre o
desenvolvimento das várias questões. A decisão que é proposta aos departamentos
competentes sempre é fruto de um atento trabalho de coordenação, de confronto e de
informação pontual.
O bom funcionamento de uma organização está ligado à integração e à interação entre
as partes que a compõem com vistas ao objetivo que se pretende.
Gosto de sonhar que isto também seja possível nas nossas inspetorias, que têm uma
grande missão a cumprir, nas pegadas do nosso Pai e Fundador.
Roma, 31 de março de 2005.
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1.3 Page 3

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ECONOMATO INSPETORIAL
ECÔNOMO INSPETORIAL
EQUIPE ADMINISTRATIVA
Departamento de
Contabilidade
Departamento de
Projetos e
Desenvolvimento
Departamento
de planejamento
Departamento de
Propaganda
CONSULTORES E TÉCNICOS
Um bom número de inspetorias apresenta uma organização semelhante a esta que
estou apresentando, embora cada uma delas tenha características e peculiaridades. Por
exemplo, o departamento de projetos aparece mais nas inspetorias que não alcançaram
autonomia econômica ou que, de qualquer forma, não têm meios, ou não os recebem das
estruturas públicas para realizar novos projetos e presenças.
A equipe administrativa coordena o trabalho de todos os departamentos e, portanto,
cuida de orientar a sinergia, unificando e racionalizando serviços internos e procedimentos.
A nível contábil basta um único centro, que depois realizará todas as diferenciações
necessárias por causa da natureza dos diversos serviços. A gestão financeira dos meios que
derivam das várias vozes também deverá ser otimizada tanto nos recursos humanos
empregados quanto na modalidade da própria gestão. Poderia continuar a exemplificação.
Vocês entenderam que o critério inspirador é a convergência para oferecer um serviço
melhor à missão.
Evidentemente que cada departamento funciona com objetivos precisos e delimitados
e mantém relacionamento com os próprios interlocutores dentro de um plano geral
estabelecido pelo conselho inspetorial e especificado do ponto de vista técnico e de
procedimentos pela equipe administrativa. As consultorias técnicas são usadas conforme a
profissionalidade que se faz necessária.
É importante ter em vista que o tamanho dos departamentos deve ser proporcional às
tarefas que têm que desenvolver. A tentação sempre é de organizar o departamento com o
desejo de uma grande eficiência e empregando muito pessoal. Daí a importância de uma
visão de conjunto, que não pode depender unicamente da visão do responsável, mas que
só pode depender do quadro de referência apresentado acima. Numa visita recente a uma
inspetoria relativamente pequena pude constatar que o novo departamento de projetos
funcionava com cinco empregados a tempo pleno!
Os diversos departamentos não são pequenas fortalezas inexpugnáveis, mas canais
intercomunicados do grande rio. As sinergias se referem tanto ao pessoal quanto aos
procedimentos, aos dados disponíveis, às consultorias, etc.
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2.1 Evangelii Nuntiandi
Na EN, enquanto trata da importância do tema da evangelização, Paulo VI explica a
sua íntima ligação com a promoção e libertação humana. A Igreja, afirma, “tem a obrigação
de anunciar a libertação de milhões de seres humanos, muitos dos quais são seus filhos;
tem o dever de ajudar no surgimento desta libertação, de testemunhá-la, de fazer que seja
total. Tudo isso não é estranho à evangelização” (EN 30). “Entre evangelização e promoção
humana – desenvolvimento, libertação – de fato, existem profundos laços de união” (EN,
31). Precisamente por isso, os problemas de justiça, desenvolvimento e paz adquirem
grande importância no discurso sobre a evangelização.
Logo depois de uma afirmação tão importante, Paulo VI fala da tentação de muitas
pessoas, até de cristãos generosos, de reduzir a missão da Igreja a dimensões de ordem
meramente temporal, e põe em evidência aquilo que a privaria do seu elemento mais
importante: a finalidade religiosa e espiritual da evangelização. O seu pensamento e este
respeito está sintetizado, sobretudo em dois artigos do documento:
“A respeito da libertação, que a evangelização anuncia e se esforça por realizar, ainda é
necessário dizer que:
- não pode limitar-se à simples e restrita dimensão econômica, política, social ou cultural,
mas deve visar o homem por completo, em todas as suas dimensões, compreendida a sua
abertura ao absoluto, inclusive ao Absoluto de Deus;
- portanto, está fundamentada numa determinada compreensão da pessoa humana,
numa antropologia, que nunca pode ser sacrificada às exigências de uma estratégia qualquer,
de uma práxis ou de uma eficácia de curta duração” (EN 33).
“Por isso, ao pregar a libertação e ao associar-se com aqueles que trabalham e sofrem
por ela, a Igreja – sem aceitar de circunscrever a sua missão unicamente ao campo religioso,
desinteressando-se dos problemas temporais do ser humano – reafirma o primado da sua
vocação espiritual, rejeita substituir o anúncio do Reino pela proclamação das libertações
humanas e afirma que a sua contribuição para a libertação também será incompleta se
deixar de anunciar a salvação em Jesus Cristo” (EN 34).
Apesar disso, não há dúvida sobre o compromisso da Igreja de construir uma sociedade
melhor, trabalhando pelo desenvolvimento de todos os povos:
“A Igreja considera que é realmente importante e urgente construir estruturas mais
humanas, mais justas, que respeitem mais os direitos da pessoa, menos opressivas e menos
coercitivas, mas também está consciente de que as melhores estruturas, os sistemas mais
bem idealizados logo se transformam em desumanos se as inclinações desumanas do coração
do homem não forem saneadas, se não houver uma conversão do coração e da mente
daqueles que vivem nestas estruturas ou as dominam” (EN 36).
2.2 Redemptoris Missio
Neste documento fundamental, publicado 15 anos depois da EN, nos números 58-59,
João Paulo II trata do tema do desenvolvimento: “Hoje mais que no passado, os missionários
são reconhecidos também como promotores de desenvolvimento por parte dos governos e
de expertos internacionais, que ficam admirados do fato que se obtenham resultados notáveis
com escassos recursos” (RM 58). Desta forma, trabalhar pelo desenvolvimento integral das
pessoas, se transformou, por assim dizer, em parte integrante de toda ação missionária.
3

1.4 Page 4

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Ainda é esclarecido o conceito de desenvolvimento: antes de tudo é através da
proclamação do Evangelho que a Igreja se compromete com o desenvolvimento dos povos.
De fato, a missão da Igreja “consiste essencialmente em oferecer aos povos não um “ter
mais”, mas um “ser mais”, despertando as consciências através do Evangelho. “O autëntico
desenvolvimento humano deve afundar as suas raízes numa evangelização cada vez mais
profunda” (RM 58).
A Igreja também se compromete com o desenvolvimento ao cuidar da educação, da saúde
e de iniciativas análogas, pois ela acredita que “o desenvolvimento de um povo não deriva em
primeiro lugar nem do dinheiro, nem das ajudas materiais, nem das estruturas técnicas, mas da
formação das consciências, do amadurecimento das mentalidades e dos costumes. É o homem
que é o protagonista do desenvolvimento, e não o dinheiro e a técnica” (RM 58).
A formação das consciências é feita essencialmente através da proclamação do Evangelho.
“Com a mensagem do Evangelho a Igreja oferece uma força libertadora e geradora de
desenvolvimento precisamente porque leva à conversão do coração e da mentalidade, faz
reconhecer a dignidade de cada pessoa, dispõe à solidariedade, ao compromisso, ao serviço
dos irmãos, insere o homem no projeto de Deus, que é a construção do Reino de paz, de
justiça, a partir já desta vida. É a perspectiva bíblica dos ”novos céus e nova terra” (cf. Is
65,17; 2Pd 3,13; Ap 21,1), que inseriu na história o estímulo e a meta para o progresso da
humanidade. O desenvolvimento do homem vem de Deus, do modelo de Jesus homem-
Deus, e tem que levar a Deus. Eis porque entre o anúncio evangélico e a promoção do
homem existe uma estreita ligação” (RM 59).
O compromisso da Igreja com o desenvolvimento abraça não só quem vive em áreas
pobres e subdesenvolvidas, mas também a quem está “exposto à miséria moral e espiritual
causada pelo superdesenvolvimento” (RM 59). Nesses ambientes a Igreja tenta dar uma
alma ao desenvolvimento através da proclamação do Evangelho. Daqui procede o tema
da “Nova Evangelização”.
O documento resume assim este duplo aspecto do desenvolvimento:
“A atividade missionária leva aos pobres a luz e o estímulo para o desenvolvimento,
enquanto a nova evangelização, entre outras coisas, tem que criar nos ricos a consciência
de que chegou o momento de fazer-se realmente irmãos dos pobres através de uma
conversão comum ao desenvolvimento integral, aberto ao Absoluto” (RM 59).
3. Os documentos salesianos
Os documentos da Congregação se inspiram nos documentos da Igreja, desenvolvendo
seus temas e tirando conseqüências práticas dos princípios gerais.
3.1 As Constituições
O artigo 31 das Constituições SDB é o primeiro do capítulo sobre “o nosso serviço
educativo pastoral”; por isso, indica os princípios fundamentais para regular e avaliar os
serviços prestados pelos salesianos. Pode-se dizer que este artigo resume todos os seguintes;
de forma que é útil transcrevê-lo por inteiro:
“A nossa missão participa da missão da Igreja que realiza o desígnio salvífico de Deus,
a vinda do seu Reino, levando aos homens a mensagem do Evangelho intimamente unido
ao desenvolvimento da ordem temporal.
4
3.4 Administração eficiente e transparente
Aproveito a ocasião para dizer uma palavra sobre um critério que, embora não seja
específico do tema que tratamos, tem uma importância muito grande.
O adjetivo “fiduciária”, aplicado à nossa tipologia de administração, às vezes, nos tem
induzido ao erro. “Homo sum nihil humani a me alienum puto”, já diziam os latinos.
O departamento de que estamos falando, formado por salesianos e leigos, tem que
distinguir-se por uma prestação de contas eficiente e transparente. A eficiência se refere ao
melhor uso dos recursos disponíveis. Refere-se, por exemplo, a um valor já registrado, mas
que ainda não pode ser gasto. Como administrá-lo? Pode ser feito de modo eficiente e
podem ser desperdiçadas possibilidades reais. As entradas ligadas à gestão dos projetos
também representam disponibilidades financeiras que tem que ser otimizadas.
A transparência se refere, sobretudo, ainda que não exclusivamente, ao rigor com relação
à destinação dos meios financeiros de que dispomos ou possamos dispor.
Nestes dias, estou dialogando com a magistratura da Comunidade Européia para tentar
evitar danos irreparáveis, causados precisamente pela falta de rigor. É uma questão de
bom senso, de ética, de disciplina religiosa, de sabedoria humana... O acesso direto a
Deus..., pelo menos poderíamos presumir algumas vezes..., não nos dispensa das regras.
De fato, parece que nos condicionam mais os possíveis procedimentos penais ou civis que
as Constituições da Sociedade Salesiana.
4. O serviço do economato inspetorial
Dou uns traços de como vejo pessoalmente a organização da coordenação do centro
inspetorial.
4.1 O papel institucional do ecônomo inspetorial
Sem delongas vou direto ao miolo. Na nossa tradição salesiana o papel do ecônomo
inspetorial, em primeiro lugar é um papel institucional. Ele é membro de direito do conselho
inspetorial e, da mesma forma que para ou outros conselheiros, a sua nomeação depende
de uma consulta aos irmãos, além de ser competência do Reitor Mor e seu Conselho.
O seu papel em primeiro lugar é de governo e de animação no âmbito do organismo
competente. E este papel orientador se refere naturalmente e de modo específico ao campo
da economia e da administração. Deste ponto de vista o ecônomo confere aos vários
aspectos da gestão, das finanças e da economia, o seu caráter institucional. Daí a necessidade
de uma coordenação, uma centralização, uma fusão de sinergias no âmbito do economato
inspetorial, que responde diretamente a quem governa a inspetoria.
4.2
A estrutura do economato inspetorial
Depois de dizer estas coisas sobre o ecônomo, como responsável pessoal diante da
Congregação, pelo papel que lhe foi confiado, apresento esquematicamente a estrutura
possível para o economato inspetorial. Percebo perfeitamente que as nossas inspetorias
apresentam características e peculiaridades pelo que o modelo não pode ser simplesmente
assumido e adaptado, mas tem que ser interpretado de acordo com as dimensões da
circunscrição, a disponibilidade de pessoal e de meios, a história e a experiência precedentes.
Aquilo que é importante é colher a inspiração que este modelo pretende transmitir.
21

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experiência vivida, e ainda é uma exigência sentida muito fortemente, especialmente onde
a gestão econômica e financeira de uma inspetoria se revelam fracas e precárias.
O respeito aos papéis e competências é uma premissa importante para chegar a uma
visão sinérgica e coordenada de tantas componentes diferentes, no tecido muitas vezes
complexo da inspetoria. Na instituição, entendida corretamente, pode-se fundir em
harmonia a iniciativa e a responsabilidade pessoais e a consciência de que tal iniciativa e
responsabilidade se inserem num projeto inspetorial, ao qual todos concorrem para que se
concretize.
3.2 O Projeto Orgânico Inspetorial
Este critério é conseqüência de quanto foi dito antes. Mas vale a pena dizer alguma
palavra. Nestes últimos anos com freqüência falamos e insistimos sobre a necessidade de
adquirir uma mentalidade projetual em todos os aspectos da missão salesiana. O CG 24
tinha dado esta orientação com relação ao papel de co-responsabilidade e de partilha dos
leigos na missão salesiana. O CG 25 fez disso uma orientação para as inspetorias, pedindo
aos capitulos inspetoriais que estudassem e fizessem um projeto orgânico.
O adjetivo orgânico diz expressamente que cada aspecto, tanto a nível de objetivos
quanto de instrumentos, tem que ser regulado pelo mesmo projeto. Isto quer dizer que a
gestão, a administração e as finanças de uma inspetoria entram diretamente na visão
projetual de conjunto. E não poderia ser de outra forma.
A seleção e a gestão dos projetos financiados, a busca de meios financeiros e o seu uso
não devem condicionar o POI, mas, pelo contrário, tirar dele as indicações programáticas,
as orientações concretas para que contribuam para uma realização eficaz e fiel.
3.3 A economia de escala
Numa visão institucional e projetual correta se insere o critério, sobretudo técnico, da
economia de escala, ou seja, da otimização dos recursos humanos e financeiros. Onde não
existe coordenação é fácil que se verifiquem desperdícios e dispersão de recursos. Constato
isso com freqüência nas visitas e nos contatos com as inspetorias. As comunidades que não
estão dispostas à solidariedade, com freqüência dispõem de notáveis recursos tanto humanos
quanto financeiros. Às vezes se gasta mal e sem verdadeira necessidade, para não pôr os
recursos financeiros a disposição da inspetoria. Duplicam-se, sem necessidade, despesas
para consultorias, se faz uma política festiva do pessoal, talvez empregado com critérios
clientelísticos (na linguagem eclesiástica fala-se de “nepotismo”, embora em sentido amplo),
gastam-se grandes somas, que numa economia mais racional poderiam ser economizadas.
Ainda é desagradável constatar que, em alguns casos, a congregação tem que por a
disposição recursos enormes (canalizados através de benfeitores) para ir ao encontro de
situações de fracasso financeiro, provocadas por uma impostação econômica e de gestão
que se inspira mais no critério “da selva”.
Muitas organizações leigas (empresas, administrações civis, etc.) nos podem oferecer
estímulo e inspiração para realizar uma mudança de mentalidade e de práxis neste sentido.
Não deveria ser necessário para instituições como a nossa que tem a “comunhão” como
um dos seus critérios inspiradores. Aqui está em parte o paradoxo.
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Educamos e evangelizamos de acordo com um projeto de promoção integral do homem,
orientado a Cristo, homem perfeito. Fiéis à intenção do nosso Fundador, visamos formar
honestos cidadãos e bons cristãos”.
O artigo 33 explicita as conseqüências deste compromisso carismático. A atividade
educativa tem necessariamente implicações sociais, sobretudo porque, fiéis ao nosso carisma,
“trabalhamos em ambientes populares e para jovens pobres, (...) e colaboramos para a
promoção do grupo e do ambiente e na educação dos jovens “às responsabilidades morais,
profissionais e sociais”. Este artigo afirma ainda: “Permanecendo independentes de toda
ideologia e política partidária, rejeitamos tudo aquilo que favorece a miséria, a injustiça, a
violência, e cooperamos com todos aqueles que constroem uma sociedade mais digna do
homem”; e encerra lembrando a finalidade última das nossas atividades educativas e de
desenvolvimento: “A promoção a que nos dedicamos com espírito evangélico, realiza o
amor libertador de Cristo e constitui um sinal da presença do Reino de Deus”.
3.2 O Pe. Luís Ricceri
Aquilo que é dito nas constituições pode ser considerado a síntese das reflexões do
Capítulo Geral Especial (=CGE) e dos anos imediatamente precedentes e seguintes. De
fato, já em 1970 o Reitor Mor, Pe. Luís Ricceri tratou do tema do subdesenvolvimento (Cfr.
ACS 261). Escrevendo a partir das reflexões provenientes da Assembléia dos bispos latino-
americanos em Medellín, declarou enfaticamente: “A luta contra o subdesenvolvimento
pertence à mesma natureza da Congregação salesiana. Por isso, ela se sente empenhada a
fundo nesta luta. Mas tem que fazê-lo de acordo com seu carisma, isto é, na linha, com o
estilo, com o espírito de Dom Bosco, por tanto, com coragem, com inteligência, com
realismo, e sempre com caridade” (ACS 261, pp 22-23). E prosseguia, analisando as várias
conseqüências que derivam deste dever para todos os salesianos, evidenciando que a
“educação libertadora”, que forma “libertadores”, é a resposta mais adequada aos
problemas ligados ao subdesenvolvimento (cf. ACS 261, p 38).
3.3 O Capítulo Geral Especial (CGE)
O CGE desenvolveu e alargou ainda mais as idéias apresentadas pelo Pe. Ricceri na sua
carta sobre o subdesenvolvimento, dotando-as da ulterior autoridade capitular. Afirmou:
“Um dos problemas mais sentidos pelo nosso mundo tanto por seus aspectos quantitativos
e qualitativos, quanto pelas gravíssimas tensões sociais que dele emergem, é o do
subdesenvolvimento e da desigualdade entre as pessoas” (CGE 32). E continuava observando
que esta situação é “fruto de estruturas econômicas, sociais e políticas de dominação” e
que “a opressão e a exploração dos pobres são o resultado de decisões tomadas por grupos
que detêm a riqueza e o poder”(CGE 32). O Capítulo observou que para pôr remédio a
esta situação a Igreja e, portanto a Congregação, precisa de “uma atitude evangélica mais
decidida em favor dos pobres: a rejeição de tudo aquilo que seria um compromisso com
qualquer forma de injustiça social; o dever positivo de abrir a consciência diante do drama
da miséria e das exigências de justiça social do Evangelho e da Igreja; um amor concreto e
privilegiado pelos mesmos pobres, com a ajuda direta e sobretudo com uma educação em
favor do sentido da própria dignidade; finalmente o testemunho do próprio desapego dos
bens terrenos.
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Tudo isso tem que fazer vibrar intensamente uma Congregação que se dirige com
prioridade aos jovens mais pobres (e aos adultos das classes populares) com vistas a uma
ajuda espiritual e corporal, e cujos membros, consagrados a Deus com a pobreza evangélica,
são convidados a sentir o grito dos pobres como um apelo urgente à ação” (CGE 32).
O CGE observou que para educar os jovens pobres é essencial trabalhar o ambiente de
onde provêm: “Em muitos casos a educação dos jovens está tão ligada às condições concretas
do ambiente familiar, social e também político, que não se pode fazer nada de útil por eles
sem trabalhar também para o progresso coletivo deste ambiente e, portanto, também
pelos adultos” (CGE 53). Tem que ser envolvido o maior número possível de pessoas neste
esforço para alcançar os jovens. Com freqüência é preciso trabalhar com adultos e com
organizações que têm interesse no bem da juventude. Assim, o CGE respondeu de forma
enfâtica: “Sim” à pergunta sobre se era preciso trabalhar junto com os adultos para o
serviço aos jovens (cfr. CGE 55). É evidente que isto tem conseqüências importantes no
nosso modo de falar do desenvolvimento integral dos jovens, e influencia direta e
indiretamente a ação missionária da Congregação, sendo esse um dos aspectos essenciais
desde o tempo de Dom Bosco (Cfr CGE 56, Const. 30).
O CGE retoma o Proêmio de Gravissimum Educationis, e afirma: “A Igreja tem a obrigação
de ocupar-se pela vida humana como um todo, também pela vida terrena enquanto que
está intimamente unida à vocação celeste”(CGE 60) para observar que devemos empenhar-
nos na salvação integral dos jovens e dos pobres. Para expressar esta idéia usa duas expressões
complementares: “Promoção integral cristã”, que se refere tanto à ordem temporal quanto
à ordem espiritual, e “educação libertadora cristã”, que é o meio imprescindível para levar
adiante o desenvolvimento total (CGE 61).
Este compromisso está intimamente unido ao nosso dever de promover a justiça no
mundo, e também está ligado aos nossos métodos de desenvolvimento. Por isso ainda
convém citar por extenso o que o Capítulo nos diz a este respeito:
“O subdesenvolvimento, o analfabetismo, a miséria e a fome no mundo, hoje são de
tal magnitude e gravidade que não basta uma ajuda imediata, mas é preciso agir nas
causas profundas dessas situações. De fato, trata-se de estruturas que muitas vezes dificultam
gravemente, ou até impedem a pregação ou a vivência da essência do Evangelho: não
permitem aos pobres e oprimidos descubrir em si mesmos a imagem de Deus, nem acreditar
que o Reino tenha chegado a este mundo, nem de estar caminhando para a salvação
integral. Portanto, são estruturas de pecado”.
Por outro lado, a promoção humana dos pobres, para que seja tal, exige que sejam eles
mesmos que tomem consciência da situação, e que as mudanças sejam feitas por eles
mesmos, unidos coletivamente. Aqui se espera um papel de primeira importância para as
comunidades cristãs. (...)
A nossa resposta hoje, na linha do compromisso com a justiça no mundo se coloca num
contexto cultural novo; não é pedida por motivações contingentes de facções políticas e de
ideologias do momento, mas das exigências que a formação integral do perfeito cristão e
honesto cidadão põe ao educador cristão: são a Igreja e o mundo que nos pedem que
formemos homens capazes de levar a justiça ao nosso mundo, tão cheio de grandes
problemas” (CGE 67).
O CGE acrescenta que na luta contra o subdesenvolvimento a Congregação tem que agir
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inspetorial, mas de consentir ao inspetor e ao conselho inspetorial que exerçam a função
de animação e de governo de modo eficaz e coordenado em todos os âmbitos da vida da
inspetoria.
§ Outra realização interessante que acontece em algumas inspetorias é a organização
da beneficência a nível inspetorial. Esta função é cumprida pelo departamento de
propaganda, que coordena e mantém o relacionamento com todos os tipos de benfeitores.
Isto foi possível graças à colaboração de cada um dos irmãos, com freqüência missionários,
que durante tantos anos, com o seu empreendedorismo conseguiram construir verdadeiras
correntes de benfeitores em diversas partes do mundo. É bom lembrar que isto tem
acontecido só nos casos em que o missionário transferiu a sua “propaganda pessoal” (leia-
se o seu próprio endereço), ao centro inspetorial. Desta forma, a preciosa herança não só
não ficou dispersa, mas foi possível relacionar-se com os vários benfeitores, através de
outros irmãos. Acho que um exemplo significativo desta prática foi realizado com a
extraordinária rede construída durante tantos anos por Dom Maschio, na Índia. Uma herança
preciosíssima que ainda é uma realidade muito significativa, depois de vários anos da
morte do irmão que foi seu iniciador e o agente inteligente durante tantos anos. O atual
bispo diocesano de Tura hoje se serve de notável ajuda econômica oferecida pela rede de
benfeitores construída com sabedoria pelo seu predecessor salesiano, Mons. Marengo.
§ Também a nível da Direção Geral, tem se trabalhado muito para orientar cada um
dos missionários nesta direção. Do ponto de vista contábil, fizemos todos os esforços
necessários para colocar tudo isso na única contabilidade da inspetoria, embora mantendo
a referência aos missionários em particular, todas as ofertas na medida que vão chegando.
Nem sempre foi fácil e, às vezes, houve insatisfações, mas, gradualmente se conseguiu a
visibilidade dos fundos disponíveis, uma maior transparência, e se colocaram as premissas
para um uso mais institucional dos recursos.
Nos casos em que a passagem da pessoa à instituição não aconteceu, se perderam os
contatos com os benfeitores e, portanto, a possibilidade de ajudar financeiramente as
iniciativas em andamento.
3. Alguns critérios norteadores
A referência ao projeto da Congregação e o aceno a algumas experiências nos permitem
agora pôr em evidência alguns critérios-guias que podem orientar a organização ou
reorganização dos departamentos de desenvolvimento e os outros serviços inspetoriais,
com maior unidade de intenções e com a conseqüente possibilidade de um confronto mais
eficaz e cheio de experiências a respeito.
3.1 O sentido institucional
Com base na minha experiência como ecônomo geral, considero este o critério
fundamental. Já acenei anteriormente a alguns aspectos. O sentido da instituição, sentido
e valorizado corretamente, permite que os agentes situem a própria ação no lugar certo
tanto na hora de projetar, na coordenação burocrática, de propaganda ou coleta de fundos.
Sinto que posso afirmar, com um grande respeito pelo trabalho empreendedor e a
fantasia dos agentes, que o sentido da instituição é um critério no qual todos precisamos
crescer, talvez realizando uma verdadeira conversão. Não se trata de teoria, mas de
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1.7 Page 7

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do ponto de vista logístico, era tal que o Departamento de projetos era uma entidade
independente, gerenciado de forma muito eficiente por um irmão, que agia com autonomia
com relação à administração inspetorial. Em inspetorias com meios financeiros limitados,
isto significa que, na prática, o Departamento de Projetos, que administra consideráveis
meios econômicos, pode chegar a ser até um elemento antagônico ao economato inspetorial.
A “divisão” que existe nessa inspetoria espelha uma situação que se verifica também
em outras inspetorias na relação entre economato inspetorial, departamento de projetos,
departamento de desenvolvimento, procuradoria missionária, etc... A falta de uma
coordenação e de uma visão de conjunto, naturalmente, dá origem a um grande mal estar
e a disfunções. Indico algumas:
1. Uma visão e administração excessivamente ‘personalizada” dos projetos, das
ofertas e de todas as iniciativas ligadas a eles, com prejuízo de uma interpretação mais
corretamente institucional. O benfeitor oferece à instituição, aos salesianos, às missões, ao
trabalho para rapazes em situação de risco, se compromete com bolsas de estudo, com
adoções a distância. Se aquele que é responsável administra tudo isso de forma
excessivamente autônoma e personalizada, por falta de uma coordenação inspetorial, podem
criar-se tensões, demoras, favoritismos e, sobretudo, uma referência à pessoa em detrimento
da instituição. A excessiva liberdade de movimento, a falta de controle e de avaliação, às
vezes até com o aval do superior, nestes últimos anos tem causado graves problemas não
só à pessoa de alguns salesianos, mas sobretudo à instituição salesiana.
2. Outro elemento crítico é que, sem uma coordenação centralizada, com normas e
procedimentos codificados, numa mesma inspetoria convivem vários “centros de poder”
financeiro e, por tanto, referenciais cruzados para os irmãos. Uma análise atenta dos fatos
acontecidos na Polônia e no Paraguai nos permite detectar numerosas anomalias e
incongruências que, talvez de forma menos gritante, também estão presentes em outras
inspetorias.
3. Indico ainda outro elemento de preocupação. Sem uma visão de conjunto partilhada
e uma coordenação eficaz dos meios financeiros e dos projetos, o corpo da inspetoria
apresenta-se dividido e transtornado passando-se de uma escolha à outra...; quase que
perseguindo obsessivamente as oportunidades que se apresentam, por causa de iniciativas
que são boas, mas sem coordenação dos responsáveis dos vários departamentos. Desta
forma, corre-se o risco de não realizar um “projeto” mas de correr atrás de “projetos”.
Além desses aspectos preocupantes, ainda tenho o prazer de partilhar com vocês, algumas
experiências interessantes e positivas:
§ Em algumas inspetorias, com uma inteligente política de dar passos gradualmente,
se chegou a uma organização unitária de todas as funções projetuais, financeiras e
administrativas que competem ao nível inspetorial. E este procedimento foi
oportunamente codificado na parte econômica do Diretório Inspetorial. Os vários
departamentos representam aspectos e atividades diferenciadas que se referem a um único
centro direcional, representado pelo ecônomo inspetorial. Desta forma se tem a grande
vantagem de que a coordenação do ecônomo inspetorial garante a referência direta ao
inspetor e ao seu conselho. Portanto, não se trata de enfatizar o poder do ecônomo
18
coerentemente com o próprio carisma: “A luta contra o subdesenvolvimento pertence à mesma
essência da Congregação salesiana. Por isso, ela se sente comprometida a fundo nesta luta. Mas
deve fazê-lo de acordo com seu carisma, isto é, na linha, no estilo, no espírito de Dom Bosco e,
portanto, com coragem, com inteligência, com realismo e sempre com caridade” (CGE 72).
Apesar de ter já 33 anos, as observações do Capítulo sobre as condições do subdesenvolvimento
e da pobreza no mundo não são hoje menos atuais que então. Sob muitos aspectos a situação
dos pobres só tem piorado; o fenômeno da pobreza e do subdesenvolvimento cresceu
proporcionalmente ao incremento demográfico nos países em vias de desenvolvimento e aos
efeitos negativos da globalização econômica. Nem seria necessário dizer, por isso, que o
compromisso dos salesianos com o desenvolvimento integral dos pobres, especialmente dos
jovens, é necessário hoje como 33 anos atrás e como no tempo de Dom Bosco.
Demoramos longamente nos ensinamentos do CGE a propósito do nosso tema porque
os documentos sucessivos (tanto dos CG quanto dos Reitores Mores) a eles se referem
continuamente e com eles estão relacionados. Apesar disso, ainda convém lembrar
brevemente o que eles disseram.
3.4 O Capítulo Geral XXI (CG 21)
O CG 21 se refere aos documentos da Igreja e de modo especial à EN ao afirmar: “Uma
autêntica evangelização se realiza dentro de um projeto que visa a promoção total do
homem, ao desenvolvimento integral de cada um e dos grupos” (CG 21, 81). Além disso,
observa que as duas idéias de “promoção integral cristã” e “educação libertadora cristã”,
de que se fala acima, corroboram o desejo de Dom Bosco de formar “bons cristãos e
honestos cidadãos”. De fato, não pode existir separação entre evangelização e promoção
humana, porque no pensamento e na atuação da Congregação, a partir do mesmo Dom
Bosco, ambas formam um único movimento de caridade” (CG 21, 140,b).
A respeito do estilo salesiano de ação missionária, o CG 21 sublinha, entre outras coisas, “a
ligação profunda entre o compromisso de evangelização e de promoção humana (e) a
atenção preferencial aos jovens pobres e às classes populares” (CG 21, 146, 4.2.3).
3.5 O capítulo Geral XXIII (CG 23)
O CG 23 tratou amplamente dos temas da pobreza e do desenvolvimento: observando
que a “tragédia dos pobres” constitui um “desafio permanente”, o Capítulo tomou
consciência de que “parece que a pobreza material está se alastrando sem medida em
muitos países” e que parece que já existem explosões de “novas e trágicas formas de
pobreza: desvios de comportamento, marginalização, exploração de pessoas e droga” (CG
23, 203). Ainda mostra que o problema ultrapassa a pobreza meramente material e por
isso é preciso “preparar uma geração capaz de construir uma ordem social mais humana
para todos” (CG 23, 204); “a dimensão social da caridade se apresenta, então, como a
manifestação de uma fé convincente” (ibid.).
Por isso, o desafio aos educadores passa a ser “educar ao valor da solidariedade contra
a práxis da concorrência exasperada e do proveito individual” (CG 23, 205). É importante
que as pessoas não se rendam à mentalidade do “cuidar só de si” descuidando o tomar
conta do resto da humanidade, especialmente dos pobres e dos que estão em piores
condições.
7

1.8 Page 8

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Este desafio, sublinha o Capítulo, toca de modo especial aos educadores daqueles que
vivem “em situação de pobreza e subdesenvolvimento. Aqui a esperança é desiludida
cada dia mais pela consciência de que existem mecanismos perversos de exploração. A
corrupção a todos os níveis, gera novas e trágicas situações de pobreza” (CG 23, 206). A
resposta a esta situação que se deteriora cada vez mais não se encontra na “violência,
utopismo, ou em formas de religiosidade intimista, que as seitas oferecem com abundância
e a bom preço” (ibid.). Ao mesmo tempo, também é necessário proteger os jovens do risco
de ceder “às tentações do consumismo e à exploração dos seus irmãos” (ibid.).
O CG 23 observa que, seguindo o exemplo de Dom Bosco, a comunidade salesiana está
consciente de que “a luta contra a pobreza, a injustiça e subdesenvolvimento faz parte da
sua missão” (CG 23, 208). Realizar esta missão traz consigo, antes de tudo, o testemunho
da justiça e da paz como meios de comunicação da fé. De modo especial, onde trabalham
em contexto de pobreza, os salesianos ainda dedicam todo esforço para “motivar, através
da educação, os jovens e as pessoas do povo, para que sejam protagonistas da própria
libertação” (ibid.). Trabalham para que “os jovens e o povo se tornem responsáveis pelo
próprio desenvolvimento, superando a resignação com a consciência viva da própria
dignidade e tomando consciência não só da própria miséria, mas também da miséria
daqueles que estão ao seu redor.
Por outro lado, para as comunidades que estão em contexto de bem-estar será preciso introduzir
fisicamente os jovens no mundo dos homens e mulheres que pedem solidariedade e ajuda” (CG
23, 211), e isso tem que ser feito com atitudes genuínas de partilha na luta em favor dos pobres,
não só por mera curiosidade, ou conhecimento, ou experiência (cfr. Ibid.). Quando isto acontece,
se realiza a educação à solidariedade em sentido cristão (cf. CG 23, 213).
3.6 O Pe. Juan E. Vecchi
Em março de 1997, o então Reitor Mor, Pe. Juan Vecchi, escreveu uma carta titulada
Teve compaixão deles (Mt 6,34). Novas pobrezas, missão salesiana e significatividade
(ACG 359). Nela tomou em consideração alguns dos argumentos tocados acima, e uma vez
mais colocou em evidência a necessidade de tratar dos problemas da pobreza e da
marginalização de uma maneira mais orgânica.
Depois de passar revista os desafios das pobrezas que existem no mundo de hoje, D.
Vecchi afirma: “o coração da nova evangelização é o Evangelho da caridade que assume os
problemas e as situações humanas que têm necessidade da força transformadora do amor.
É uma caridade que se expressa no imediato, mas, sobretudo se compromete com um
projeto social e cultural de vasto e longo alcance, onde a pessoa sempre é considerada de
acordo com a sua vocação e dignidade, à luz daquilo que nos foi revelado em Cristo’ (ACG
359, p.11)”.
Para a educação, afirma o Pe. Vecchi, é necessário tomar consciência do mundo em
que vivemos. Um pensamento que nos perturba e que nos chama a uma séria reflexão é o
fato de que “já faz alguns anos que se repete que nos encontramos diante de um fenômeno
de empobrecimento mais que de simples pobreza. Não se trata de uma etapa transitória,
um incidente de percurso, conseqüência do passado; mas do resultado das estruturas
econômicas, sociais e políticas atuais, embora tenhamos que reconhecer que outras causas
também influem na expansão da pobreza” (ACG 359, p. 21).
8
O DEPARTAMENTO DE PLANEJAMENTO E
DESENVOLVIMENTO NA GESTÃO ECONÔMICA
DA INSPETORIA
(P. Giovanni Mazalli)
1. No Projeto do sexênio 2002-2008
Tenho o prazer de participar da interessante reflexão que é objeto deste seminário,
sublinhando, em primeiro lugar, um ponto de referência institucional importante e
amplamente programático. Estou me referindo a uma das quatro áreas do projeto do
Reitor Mor e seu Conselho para o sexênio 2002-2008, no setor da economia. Trata-se da
solidariedade-centralização. Naturalmente não pretendo fazer uma pesquisa aprofundada
sobre este aspecto a respeito do qual já me dediquei mais amplamente em outras
circunstâncias.
Aquilo que pretendo sublinhar é a visão de conjunto e o quadro de referência que
norteia os elementos que pretendo propor. Neste sentido, na Congregação estamos propondo
e realizando uma importante mudança de mentalidade e de práxis. No campo estritamente
econômico e de gerenciamento, trata-se efetivamente de uma forma diferente de enfocar
a economia e o a administração a nível inspetorial. Acho que posso dizer que estamos
passando de uma visão em que se sublinhava sobretudo a autonomia e, por tanto, o
fracionamento econômico das comunidades entre si e no seu relacionamento com a
inspetoria, para um conceito mais solidário, mais centralizado. As constituições, por
um lado reconhecem às comunidades uma relativa autonomia financeira e administrativa,
mas também apresentam algumas indicações normativas para chegar a uma visão mais
coordenada e orientada pelo centro inspetorial.
A situação das inspetorias a este respeito, naturalmente é muito variada: em algumas,
uma centralização inteligente e racional, além de não sacrificar a autonomia das
comunidades, produziu efeitos benéficos, fornecendo ao centro inspetorial os meios
financeiros necessários para ir ao encontro das necessidades especialmente das comunidades
mais necessitadas. Em outras, a discrepância entre as comunidades “abastadas” e as
comunidades “pobres” é um fato contraditório e preocupante, que gera desconforto entre
os irmãos e ineficiência no gerenciamento. Com certeza existem reservas e resistências e,
em alguns casos, até clara oposição. Porém, é confortante ver que, na maior parte dos
casos, se colocou as bases para construir uma nova mentalidade de partilha e solidariedade,
seguindo as orientações normativas da congregação.
Este é o quadro de referência em que adquirem maior significado e relevo as sucessivas
reflexões que pretendo partilhar com todos vocês.
2. Lendo sinteticamente a experiência
Lembro que, por ocasião de uma visita a uma inspetoria, ao buscar algumas informações
prévias no Departamento de Projetos, o ecônomo inspetorial me falava da sua própria
incapacidade com relação a esse departamento. A organização daquela inspetoria, também
17

1.9 Page 9

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um plano estratégico de desenvolvimento da vida e da missão da inspetoria no seu conjunto,
plano este que foi chamado “Projeto Orgânico Inspetorial” (POI).
O POI tem que definir as linhas estratégicas e as opções fundamentais de governo para
poder orientar:
- O crescimento realista da inspetoria, de acordo com os recursos humanos disponíveis
SDB, colaboradores leigos...) e previstos, e as necessidades dos jovens e do território;
- O desenvolvimento vocacional dos SDB e das comunidades SDB, para que possam
realizar sua função de animadores carismáticos das comunidades educativo-pastorais.
- A significatividade e organicidade das obras e dos serviços educativo-pastorais da inspetoria.
Esses três aspectos formam um todo inseparável e portanto tem que ser pensados no
seu conjunto, com capacidade de inter-relacionar-se e enriquecer-se mutuamente.
O departamento de planejamento e de desenvolvimento pode aconselhar e ajudar a
inspetoria neste processo de elaboração e de avaliação do POI, com a metodologia do
planejamento estratégico-participativo; e, ao mesmo tempo, deverá elaborar todos os seus
planos, programas e projetos em sintonia com este plano geral de desenvolvimento da inspetoria.
Já existem alguns exemplos desta colaboração, que podem inspirar e orientar outras
experiências futuras.
4.3 Algumas condições para poder garantir um relacionamento positivo e fecundo
entre o Departamento de planejamento e de desenvolvimento e a Delegação
Inspetorial de Pastoral Juvenil.
Sugiro algumas como estímulo para a vossa reflexão e aprofundamento.
Conhecimento e formação:
- O Delegado, e se for possível, os membros da equipe inspetorial de pastoral (de
modo particular aqueles que estão mais envolvidos no campo do desenvolvimento humano:
escolas e formação profissional, marginalização e obras sociais, Oratórios e centros juvenis...),
devem conhecer suficientemente e partilhar as linhas do planejamento estratégico.
- Os membros do Departamento de Planejamento e de Desenvolvimento, por sua parte,
devem ter um conhecimento adequado das linhas da pastoral juvenil salesiana e do PEPS
inspetorial e do seu desenvolvimento.
Informação e diálogo:
- Deve haver uma vasta, freqüente e adequada informação e diálogo entre a equipe
inspetorial de pastoral (suas orientações e propostas) e o Departamento de planejamento
e desenvolvimento (seus projetos e realizações).
- No planejamento e realização dos projetos de desenvolvimento humano (educativo e
sócio-econômico) o Delegado e sua equipe (os responsáveis pelos diversos setores da Pastoral
Juvenil inspetorial, de modo particular o encarregado das escolas ou da formação profissional,
da marginalidade e das obras sociais, dos oratórios e centros juvenis) sempre deverá contar
com o Departamento de Planejamento e de desenvolvimento e vice-versa, de modo que não
precise criar duplicatas ou, pior ainda, linhas de ação paralelas ou divergentes na inspetoria.
Roma, março 2005.
16
É importante lembrar que as diversas formas de pobreza “nascem e se difundem num
mundo intercomunicante e interdependente” (ACG 359, p. 31), neste mundo em que até
a pobreza é globalizada,
“o esforço contra a marginalização é tanto mais eficaz, quanto mais se penetra e
transforma o conjunto de percepções e sentimentos que configuram o pensamento e o
comportamento de uma sociedade ou de grupos ativos dentro dela. Portanto, não basta
um empenho de ajuda e assistência em favor dos indivíduos, embora isto seja importante.
É preciso um trabalho de animação social que suscite mudanças de critérios e de visão
através de gestos e ações. Esses gestos e ações criam novas formas de relacionamento e
modelos de comportamento que encarnam valores diferentes daqueles que regem grande
parte dos nossos costumes, como o individualismo possessivo, a satisfação dos interesses
pessoais, a condenação de quem sofre dependências, o abandono dos mais fracos.
Trata-se de promover uma cultura do outro, (...) da justiça, entendida como atenção ao
direito de todos à dignidade da vida e, mais diretamente, de envolver pessoas e instituições
numa obra de ampla prevenção, de acolhida e de suporte a quem tem necessidade.
Os nossos ambientes educativos podem ser centros de elaboração e pontos de irradiação
desta cultura em favor da família, dos grupos, do bairro, dos círculos e das instituições
relacionadas e, através da comunicação social, da sociedade em geral” (ACG 359, p.32).
O Pe. Vecchi se refere ao grande potencial da Congregação salesiana para contribuir na
criação de uma nova mentalidade no campo do desenvolvimento, quando afirma:
“Este é um campo em que nós, salesianos, enquanto organização internacional com
múltiplos recursos e com um rico patrimônio espiritual, temos grandes possibilidades e ao
mesmo tempo uma grande responsabilidade. Temos que fazer um esforço de pedagogia
coletiva para oferecer caminhos e projetos concretos, para envolver muita gente disposta a
assumir, como humilde vanguarda evangélica, um estilo de vida solidário e generoso”
(ACG 359, p.32)
No pensamento do Pe. Vecchi é evidente que é indispensável envolver um vasto
movimento de pessoas para enfrentar o problema da pobreza. Os salesianos não podem
mais pensar em trabalhar como pessoas individuais ou como comunidades, mas tem que
tornar-se promotores de movimentos mais amplos de solidariedade e de ajuda mútua que
possam favorecer uma genuína transformação da realidade.
4. Conclusões e conseqüências
Desta rápida resenha dos ensinamentos da Igreja e da Congregação, podemos tirar
algumas conclusões que têm muita importância para orientar o trabalho dos nossos
Departamentos de Planejamento e Desenvolvimento.
1. A evangelização e a promoção humana estão intimamente unidas e são inseparáveis:
juntas formam aquilo que podemos chamar desenvolvimento integral das pessoas para e
com as quais trabalhamos. De fato, o desenvolvimento econômico e social pode ser
considerado como o substrato e o aspecto concreto da evangelização, que não será completa
enquanto não der uma adequada atenção à libertação do homem do jugo de toda forma
de escravidão e opressão. O Evangelho é guia e luz para este complexo esforço.
2. Para os Salesianos trabalhar em favor do desenvolvimento, com certeza não é um mero
trabalho social: tem que haver uma alma que carregue a ativa e corajosa proclamação do
9

1.10 Page 10

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Evangelho. Não se pode negar que existe o constante risco de transformar as nossas atividades
em ativismo ou simples ações sociais com prejuízo dos conteúdos religiosos e espirituais; numa
intervenção de 1998, o Pe. Odorico Luciano comentou: “Na práxis missionária, às vezes, nota-
se um desequilíbrio nos serviços de intervenção pastoral: de um lado, um exagerado
assistencialismo, uma administração excessivamente complexa, e do outro, pouca atenção à
evangelização explícita e à urgência da ação itinerante nos povoados” (ACG 362, p 41).
3. O carisma salesiano tem que ser compreendido no contexto da complexa atividade de
evangelização que abrange a realidade humana toda inteira. Os jovens são os nossos principais
destinatários; eles são o objeto da nossa predileção. Mas, na realidade, os jovens não vivem
fora da sociedade em que nasceram e cresceram. Se quisermos levar adiante o
desenvolvimento da juventude, precisamos interessar-nos da mesma forma pelo
desenvolvimento integral das suas famílias e contextos sociais. Por isso, cuidamos dos adultos
tanto por causa dos jovens, quanto através deles, de modo que nos tornamos transformadores
da sociedade inteira. Sem esta abordagem educativa holística, todos os anos de cuidados e
as atenções que dirigimos aos jovens nos nossos ambientes educativos dirigidos a eles, correm
o risco de não ter o impacto desejado para o crescimento da sociedade.
4. Com certeza, a Congregação está comprometida com atividades de desenvolvimento,
mas a partir da perspectiva particular do nosso carisma: a educação é o principal meio a
nossa disposição; os meios de comunicação também favorecem muito o desenvolvimento.
Em todo caso, o nosso sistema educativo se volta sobretudo aos jovens, empenhados na
causa da justiça, da paz e da criação de uma sociedade fraternalmente igualitária; isso não
só liberta as pessoas mas faz crescer “libertadores”, empenhados em lutar contra a injustiça
e em favor de um ambiente mais humano e de uma ordem social mais eqüitativa.
5. Não pode existir dicotomia entre a organização para o desenvolvimento e a pastoral
juvenil de uma inspetoria, nem podem ser trabalhos sobre trilhos paralelos, pois na visão
salesiana todas as atividades missionárias e pastorais têm os jovens como centro unificador.
6. O assistencialismo não é expressão do empenho salesiano em favor do
desenvolvimento integral daqueles em favor dos quais trabalhamos: buscamos planos,
programas e projetos com efeitos globais e de longo alcance; a coordenação dos esforços a
este respeito e o trabalho em rede com quem tem os mesmos objetivos, é uma coisa
indispensável para tender a esses objetivos.
7. Comprometemos e animamos as pessoas para o seu próprio desenvolvimento: eles são
os protagonistas principais, não nós. Os nossos centros precisam transformar-se em centros
de animação e coordenação dos quais partam os mais variados programas. Ao realizar este
projeto devemos suscitar um vasto movimento de pessoas que trabalhem conscientemente
junto conosco em favor da transformação da sociedade, a erradicação das causas da pobreza,
da injustiça e da desigualdade. O nosso papel é essencialmente de acompanhar novas
mentalidades nos nossos jovens, nos pobres e na sociedade em geral, para que o processo de
transformação encontre o próprio caminho de expressão. Desta forma, nos nossos planos de
desenvolvimento também somos antes de mais nada educadores.
Pisana, Roma
30 de março de 2005
10
- Prestando atenção à possibilidade de realização e à diversidade de rendimento dos
serviços e das iniciativas propostas.
Este estilo de trabalho é importante não só nos campos da ação educativa e promocional,
mas também nos outros campos da pastoral juvenil (como a evangelização e a catequese, a
promoção vocacional, o desenvolvimento de comunidades cristãs ou de grupos de jovens,
etc.). De outra forma, corre-se o perigo de agir com profissionalismo e rigor nos aspectos
educativos e da promoção humana, enquanto nas atividades e projetos religiosos de
evangelização e de educação à fé se procede com um estilo pouco sistemático, excessivamente
individualista, por intuição e respondendo às urgências imediatas. Desta forma se transmitiria
uma imagem desses campos como se fossem pouco importantes e de mera complementaridade.
Por tanto, uma estreita relação e um trabalho sistemático em conjunto entre os
departamentos de planejamento e de desenvolvimento e a delegação inspetorial de pastoral
juvenil, sem dúvida, será muito positiva e fecunda para ambas partes.
4. ALGUMAS CONSEQUÊNCIAS OPERATIVAS
4.1 Um estreito relacionamento entre o Departamento de Planejamento e de
desenvolvimento e o Delegado e a Equipe inspetorial de pastoral Juvenil.
- Inserir os Planos e Projetos de desenvolvimento no quadro do Projeto Educativo-
pastoral Salesiano (PEPS) inspetorial, para garantir:
- Por um lado, que os planos de desenvolvimento sejam completos e em estreita relação
com os processos de educação à FÉ que se levam adiante na Inspetoria e nas obras;
- De outro lado, a atenção aos aspectos do desenvolvimento e da promoção humana,
tanto individual quanto social, em toda a ação de evangelização e de educação à fé.
- Qualificar o PEPS inspetorial e local com uma orientação e uma metodologia precisa e profissional
(o planejamento estratégico participativo) para que possa ser mais realista, eficaz e atuável, e para
garantir a continuidade dos processos começados e o uso mais racional e eficaz dos recursos.
- Colaborar na formação dos animadores e dirigentes da educação-pastoral: uma
formação que compreenda motivações, experiências, reflexões, conhecimento e prática de
metodologias adequadas.
4.2 O Departamento de planejamento e desenvolvimento pode colaborar com a
Inspetoria (praticamente: com o Inspetor e seu conselho) na elaboração e revisão
do POI; e ao mesmo tempo iluminar planejamentos e programas dentro do mesmo,
observando as prioridades.
A Inspetoria Salesiana:
- Orienta o desenvolvimento dos valores e as linhas fundamentais do carisma e da
missão salesiana no próprio contexto social, cultural e eclesial;
- Programa e acompanha um crescimento realista e a continuidade da missão;
- Favorece a colaboração e o trabalho em rede entre as diversas comunidades SDB, os
grupos da FS e os colaboradores leigos;
- Promove a colaboração com outras instituições sociais e eclesiais a serviço da missão
salesiana (cfr. Const. 58).
Para promover e orientar estas funções, o CG 25 pediu a cada inspetoria que elaborasse
15

2 Pages 11-20

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2.1 Page 11

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3. OS PROJETOS DE DESENVOLVIMENTO HUMANO E A PASTORAL JUVENIL
SALESIANA
Os projetos de desenvolvimento são as intervenções concretas que se colocam num
campo específico da pastoral salesiana, isto é, o âmbito educativo promocional, sobretudo
no aspecto sócio-cultural, mas que não podem ser pensados, planejados e realizados sem
uma estreita união com os outros âmbitos da mesma (a evangelização, a orientação
vocacional, o associacionismo juvenil, etc.)
3.1 Os projetos de desenvolvimento humano e a pastoral juvenil salesiana são
complementares e se enriquecem mutuamente.
- A atenção ao desenvolvimento humano enriquece a pastoral juvenil com:
- Uma sensibilidade especial diante de algumas situações que hoje têm grande incidência
na ação educativo-pastoral, por exemplo: as condições sócio-políticas e econômicas com
que se deparam as pessoas, a situação familiar, as possibilidades de educação, o modo de
trabalhar e as possibilidades de acesso ao trabalho, etc.; muitas vezes não damos suficiente
importância a esses elementos na programação e na ação educativo-pastoral;
- A vontade e a capacidade de promover uma transformação da mentalidade e das
formas de comportamento até chegar a uma mudança das estruturas e das condições de
vida;
- Uma visão global e não setorial do processo educativo-pastoral, bem como uma
metodologia de trabalho comunitária e projetual;
- A pastoral juvenil salesiana garante que os projetos de desenvolvimento humano
sejam seguros:
- A atenção à integralidade do desenvolvimento das pessoas de acordo com a proposta
educativo-pastoral salesiana;
- Uma sensibilidade especial para o desenvolvimento da dimensão religiosa da pessoa, e pelo
anúncio de Jesus Cristo, como elementos importantes para o próprio desenvolvimento humano;
- Uma visão vocacional da vida que deve nortear o protagonismo suscitado nas pessoas.
3.2 É facilitada uma nova visão e um modelo de trabalho pastoral
Os departamentos de planejamento e de desenvolvimento não se limitam a oferecer
uma ajuda técnica e uma assistência para a preparação e apresentação dos projetos de
educação e promoção, mas, com seu trabalho de guia e de acompanhamento do
planejamento, promovem uma nova visão e um modelo de trabalho educativo-pastoral:
- Precisamente começando pelo conhecimento profundo e global da realidade, para
poder determinar com clareza os seus desafios fundamentais;
- É concebido como um processo contínuo, gradual e de conjunto, superando a tendência
ao setorialismo, à improvisação a ao idealismo;
- Com uma metodologia precisa, que orienta para opções estratégicas, objetivos concretos
e sujeitos a avaliação, através de passos gradativos, por meio de uma convergência de
intervenções, etc.
- Trabalhando sempre em equipe (em comunidade) e em rede (onde os diversos projetos
se apóiam e se complementam mutuamente);
14
SINERGIA ENTRE A DELEGAÇÃO INSPETORIAL DE PASTORAL
JUVENIL E O DEPARTAMENTO DE PLANEJAMENTO E
DESENVOLVIMENTO
(P. Antonio Domenech)
1. CARATERÍSTICAS FUNDAMENTAIS DA PASTORAL JUVENIL
(Modelo pastoral juvenil)
O livro “A Pastoral Juvenil Salesiana – Quadro Fundamental de Referência” oferece os
elementos mais importantes para unificar as mentalidades e orientar a práxis pastoral
salesiana. Eis alguns elementos relevantes que precisamos lembrar neste momento.
A “raiz” da pastoral salesiana
Viver uma pastoral enraizada numa profunda vida espiritual partilhada em comunidade:
a pastoral não é unicamente atividade, mas sobretudo “viver, ser”: “ser sinais e portadores
do amor de Deus aos jovens, especialmente aos mais pobres” (Const. 2)
- Unidade orgânica da Pastoral Juvenil Salesiana, superando o setorialismo e o
individualismo pastoral.
Na atividade pastoral intervêm uma grande variedade de pessoas e grupos, uma
multiplicidade de pessoas e de processos, diversas instituições e estruturas, mas tudo isso
deve orientar-se para a mesma e única finalidade: a promoção integral dos jovens e do seu
ambiente. Por isso, todo este conjunto de meios e de intervenções tem que chegar a
constituir um único processo, tem que movimentar um único dinamismo que dê a todos
eles a mesma direção. Este processo se configura da seguinte forma:
- O ponto de partida é o encontro do educador com os jovens, a escuta atenta das suas
exigências e aspirações, a oferta de um ambiente educativo cheio de vida e rico de propostas.
A partir desse encontro, o educador salesiano:
- Suscita nos jovens, tanto como indivíduos, quanto como grupo, o desejo e a vontade
de desenvolver as próprias capacidades e possibilidades humanas, até chegar a abrir-
se ao sentido da própria vida e à ânsia de Deus (dimensão educativa);
- Orienta-os ao encontro com Jesus Cristo, aceito como o homem perfeito, o único que
pode levar à perfeição todas as aspirações do coração humano (dimensão de evangelização);
- Desenvolve neles o desejo de amizade e de relacionamento até amadurecer uma
experiência positiva e responsável de inserção e compromisso na sociedade e na
Igreja (dimensão associativa);
- Ajuda-os a assumir a vida como um dom e como um serviço e os orienta a descobrir
a própria vocação no mundo e na Igreja (dimensão vocacional).
Esses elementos, que chamamos “dimensões”, são inseparáveis e devem agir em contínua
referência e enriquecimento mútuos.
- Um novo estilo operativo
- Em comunidade, a partir da continuidade e construindo comunidade (comunidade educativa):
11

2.2 Page 12

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- Centralidade das pessoas e qualidade das relações humanas,
- Forte sentido de pertença baseado na participação, na co-responsabilidade, no trabalho
em equipe,
- Desenvolvimento da própria identidade, partilhando valores, critérios e objetivos ao
redor de um projeto comum.
- A comunidade salesiana como ponto de referência carismático de toda a comunidade
educativa e como centro de comunhão.
- Com o estilo da animação: uma nova forma de presença e de ação entre os jovens.
- Atenção às pessoas mais que à organização e à gestão.
- Motivar: desenvolver a comunidade a partir dos valores, critérios e objetivos da proposta
pastoral salesiana
- Promover a unidade do projeto pastoral: uma unidade orgânica que guie e oriente as
diversas opções, os projetos e atividades
- Criar comunidade educativa: convocar, favorecer a informação e a comunicação
- Promover a colaboração, a complementaridade e a coordenação de todos.
- Com mentalidade projetual
Pensar e viver a atividade educativo-pastoral
- Como uma unidade orgânica: um conjunto de elementos coordenados entre si e
orientados a uma finalidade comum.
- Como um caminho, que através de um conjunto gradual e inter-relacionado de
elementos (pessoas, atividades, meios, estruturas), transforma a realidade de acordo com
os objetivos previstos.
Um instrumento e a expressão desta mentalidade projetual é o planejamento pastoral:
um processo mental e comunitário de convocação, esclarecimento e identificação que
quer chegar a:
- Promover, na comunidade educativa, a consciência de uma missão comum e de uma
mentalidade partilhada;
- Criar nela uma convergência operativa ao redor de critérios, objetivos e linhas de ação
comuns, evitando a dispersão do trabalho;
- Ser o ponto de referência comum, pela qualidade educativo-pastoral, que tem que
ser avaliada continuamente.
2. O DESENVOLVIMENTO HUMANO
2.1 O desenvolvimento humano segundo a Doutrina Social da Igreja
O desenvolvimento humano, como “processo de desenvolvimento das capacidades das
pessoas, que multiplicam as suas opções e oportunidades” para chegar a um nível de vida
mais digno, constitui uma das respostas mais importantes ao problema da pobreza e do
subdesenvolvimento que atingem milhões de pessoas, especialmente jovens.
O perigo que se apresenta hoje é o de pensar no desenvolvimento humano em escala
12
restrita, limitando-o quase unicamente ao aspecto econômico, à saúde corporal e psicológica,
à instrução e preparação para o trabalho, etc., esquecendo outros aspectos fundamentais
para que uma vida humana seja plenamente digna deste nome (a educação moral e do
sentido da vida, uma vida familiar serena e completa, a participação responsável e livre na
vida social e política, a salvaguarda do ambiente natural e humano, a liberdade religiosa e
de consciência, etc.).
Quando a Igreja fala de desenvolvimento humano, o faz do ponto de vista de uma
visão cristã da pessoa humana (antropologia cristã) que:
- Está fundamentada da dignidade inviolável de toda a pessoa e promove a sua
participação ativa e responsável no próprio desenvolvimento e no desenvolvimento do
seu grupo humano;
- Promove seu desenvolvimento integral (no sentido humanista e moral do
desenvolvimento, e não só econômico)
- Considera a pessoa na sua realidade tanto individual, quanto social e universal,
procurando evitar as causas do subdesenvolvimento, da pobreza e das situações de
marginalização;
- Coloca como elemento fundamental do desenvolvimento da pessoa o respeito e o
crescimento da sua capacidade de abertura a Deus (dimensão religiosa);
- É realizada num clima de liberdade e solidariedade.
2.2 O desenvolvimento humano e a missão salesiana
Este conceito de desenvolvimento humano coincide praticamente com o conceito de
“promoção humana”, que as nossas Constituições usam para definir o serviço educativo-
pastoral salesiano: “Educamos e evangelizamos seguindo um projeto de promoção integral
da pessoa humana, orientado a Cristo, o homem perfeito”(Const. 31).
Uma promoção integral com as seguintes características:
- Unida de forma indissolúvel à evangelização: para nós o anúncio do Evangelho,
ao mesmo tempo tem que iluminar, infundir coragem e esperança, e inspirar
soluções adequadas aos problemas da vida; mas ao mesmo tempo, a promoção
humana que levamos adiante tem que abri-lo a Deus e anunciar-lhe Jesus Cristo
(cfr. CGE 77).
- Centrada na educação: a nossa colaboração para o desenvolvimento humano consiste,
sobretudo na educação, a qualificação e a formação das pessoas, para que possam ser
protagonistas responsáveis pela própria vida (Cfr. CGE 68).
- Promove o desenvolvimento não só da pessoa individualmente, mas também do
grupo humano e do ambiente em que se vive, até chegar à transformação das estruturas
sociais, culturais e políticas que geram e mantém o subdesenvolvimento e a injustiça (cfr.
Const. 33)
Por isso, podemos concluir dizendo que o desenvolvimento humano, entendido
desta forma, representa um conteúdo fundamental da nossa missão e que, por
conseqüência, não pode ser considerado somente como um setor independente ou
separado, mas deve caracterizar como finalidade todos os projetos e atividades
educativo-pastorais salesianos.
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