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Misereor-Hungertuch aus Indien
von Jyoti Sahi
© MVG Medienproduktion, Aachen, 1984
“A imagem da luz”
A pintura reproduzida neste dossiê é uma obra de Jyothi Sahi, criada em 1984 para uma campanha
da Misereor. É reproduzida aqui com autorização da Misereor, porque as temáticas apresentadas
pelo pintor nos parecem particularmente pertinentes ao dossiê.
Descrição da pintura
1 Lázaro em pé, diante de sua sepultura. A sepultura é representada por um mausoléu indiano muçulmano.
As raízes do fícus religiosa, árvore considerada sagrada na Índia, estão engastadas nas paredes do mausoléu.
2 Maria, a irmã de Lázaro. Ela é apresentada no interior de uma lágrima em forma de amêndoa.
3 O fícus índica. Os hindus consideram-no como árvore sagrada da vida.
4 Grupo de trabalhadores migrantes e de intocáveis. Enquanto procuram trabalho nas cidades, constroem
suas cabanas em cemitérios, terrenos “proibidos”, porque não há outro lugar para morar.
5 O cego de nascença. Ele se ajoelha na ampla margem do curso d’água e estende as mãos adiante,
em sinal de súplica: é cego e, sendo um intocável, está duplamente em desvantagem.
6 Cristo. É o revelador de Deus e o mediador entre Deus e a humanidade, o transfigurado e o servo de Deus.
7 Moisés. Representa, com sua veste cor de açafrão, um hindu sábio (um Sannjasin).
8 O esqueleto. Representa Adão, através do qual o pecado começou a fazer parte do mundo, e os
milhões de pessoas condenadas a morrer de fome e a suportar a “morte” social dos intocáveis.
9 A samaritana junto ao poço de Jacó. A árvore (cássia fístula) representa a santidade do lugar.
1100 As flores de lótus despontam do jarro. O vaso de água está junto ao rio da vida (refere-se à visão dos
ossos, de Ezequiel).
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Significado da pintura
Cristo, água da vida
meditação. Indica o novo Moisés que procla-
O centro da tela é dominado
ma a lei ao seu povo.
pela figura de Cristo, com a face
voltada para o alto e as mãos
A luz como símbolo da vida
dirigidas para baixo, que acolhem
A luz é considerada pelo pintor como outro
as necessidades de quem “vive cansado e so- símbolo da vida. Ela desce sobre o mausoléu e
brecarregado” (Mt 11,28). O símbolo sânscrito sobre a figura de Lázaro; é a luz da ressurreição
Om que indica, no hinduismo, o Poder Supre- e da manhã de Páscoa. A luz dá a vista e uma
mo, está pintado na manga esquerda da veste nova vida ao cego de nascença. Ela ilumina o
de Cristo e indica que Ele é o único escolhido povo que traz os jarros de água, os trabalha-
para revelar a palavra de Deus e difundi-la. “Es- dores migrantes, os intocáveis: também eles
te é o meu filho amado; nele está o meu agra- são chamados a uma nova vida; os que foram
do: escutai-o!” (Mt 17,5). Águas cintilantes des- espezinhados e dobrados, levantarão a cabe-
cem do alto sobre a figura de Cristo, envolven- ça, conscientes da própria dignidade de seres
do-o e banhando seus pés, formando um cur- humanos. A luz mistura-se com a pureza da
so d’água: Cristo é a Água da Vida para todos água que desce sobre a figura de Cristo. Ela
os que têm fome e sede de honestidade.
provém da árvore que ilumina o poço e se
Apresentando a água como símbolo da vida, o detém sobre as flores de lótus que despontam
pintor Jyoti Sahi recorda o mito da Descida do do jarro colocado em primeiro plano na pintura.
Ganges: certo dia, uma grande seca ameaçou
destruir todos os seres vivos da terra, mas um A multiplicidade das fontes da revelação
sábio rei, Bhagirat, através de orações e peni- O pintor leva-nos a apreciar o valor das outras
tências conseguiu chamar a atenção da graça religiões e das diversas visões da vida como
divina e da luz sob a forma de água. Visto que também a perseguir o caminho do diálogo.
o poder da água corria o risco de destruir a te- As quatro fontes de luz são, para o artista, os
rra, Siva fez brotar de sua cabeça o curso d’á- quatro modos com que Deus se revela a si
gua de modo a limitar a sua força e fazê-lo des- mesmo:
cer docemente ao longo das planícies indianas – A luz que ilumina o mausoléu a partir da es-
como o sagrado rio Ganges. Cristo como o querda representa o modo com que o Islã
“Novo Bhagirat” e Senhor da transfiguração se crê firmemente na ressurreição dos mortos.
oferece como sacrifício “assumindo a condição – A segunda fonte de luz recorda o hinduismo
de escravo e tornando-se igual aos homens” e o budismo para os quais “o rio” e “a árvo-
(Fl 2,7), obediente até à morte de cruz. Ele tor- re” são particularmente importantes: o rio ini-
nou-se o servo de Deus, obediente à vontade cia o seu curso a partir da árvore sagrada
do Pai e às regras deste mundo.
(fícus índica) justamente onde o raio de luz
O profeta do seu povo, Moisés, que tocou a toca a terra.
rocha para fazer brotar dela a água é, também, – A terceira fonte de luz desce sobre a figura
a pureza que abre a fonte da graça divina a si de Cristo, que foi glorificado pelo Pai.
mesmo e aos outros através do ascetismo e da – A quarta fonte de luz, à direita do quadro, ilu-
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mina uma mulher junto ao poço e recorda- e está estreitamente ligado à Quaresma sendo
nos a percepção natural de Deus no Homem inspirado pelos textos litúrgicos dedicados às
“que era a verdadeira luz que ilumina todo cinco semanas quaresmais.
homem que vem a este mundo” (Jo 1,9).
O tema da pintura é a Vida – simbolizada pela
A humanidade como recurso da vida
água e pela luz – na qual o pintor quer repre-
O pintor espera vivamente na ressurreição e na sentar plasticamente muitos aspectos distintos
vida. A humanidade poderia participar da res- em três níveis como:
surreição de Cristo. Esta esperança é baseada A realidade concreta
no rico dom da vida humana.
O pintor liga o assunto da Misereor Hunger
O grupo de pessoas de pele escura na par- Colth à realidade social da Índia de hoje. Sua
te esquerda do quadro pertence ao mais pintura refere-se aos pobres e rejeitados, aos
baixo grupo social; elas voltam o próprio olhar intocáveis e àqueles que pertencem às castas
para o rosto escuro de Cristo que, como servo mais baixas da sociedade. Entre eles, em par-
sofredor, esteve sempre ao lado dos humildes, ticular evidência, estão as mulheres que são
dos pobres e rejeitados, levando os últimos as mais descriminadas e exploradas.
da sociedade à sua justa posição, rica de Simbolismos
dignidade humana.
O artista colhe, ao mesmo tempo, a realidade
A mulher samaritana de pele escura, junto da vida, da qual a água e a luz são símbolos
ao poço de Jacó, veste um sari típico dos muito profundos. Elas representam a vida con-
intocáveis, semelhante ao da mulher indiana cedida e a vida que reflete o divino. Jyoti Sahi
harija à qual não é permitido oferecer água às retoma alguns símbolos sagrados das grandes
demais castas, porque se o fizesse as conta- religiões indianas – Hinduísmo, Budismo e Isla-
minaria. Cristo derruba as barreiras sociais mismo – para indicar os múltiplos aspectos da
entre hebreus e samaritanos, entre os que Revelação e despertar a nossa tomada de
pertencem às altas castas hindus e os intocá- consciência “da infinitamente variada sabedoria
veis; Ele recebe a água da mulher, honra-a de Deus” que se encontra também na religião
aceitando a sua oferta e mostra que ela não cristã (Ef 3,10).
pertence a nenhuma casta, e é digna de ofere- Revelação bíblica
cer a água.
O pintor, como cristão, refere-se à revelação
A mulher na Amêndoa é pintada como uma dada por Jesus – revelação que é o momento
lágrima compartilhada com Jesus; é Maria, a culminante da existência humana. Cristo, retra-
irmã de Lázaro, que chora pelo irmão;
tado com a pele escura, é mostrado como
Jesus quer compartilhar todos os sofri-
aquele que pertence a uma casta inferior
mentos da humanidade.
mas é também a figura dominante de
todo o quadro. Ele nos traz a promessa
A composição e o significado
da salvação e da vida eterna, “a água
do Hunger cloth
que eu darei se tornará nele uma fonte
É um dos tantos exemplos de arte cristã
que jorra para a vida eterna” (Jo 4,14).
comissionada ao longo dos séculos.
“Eu sou a luz do mundo” (Jo 8,12), “Eu sou
Este quadro, em particular, vem da Índia,
a ressurreição e a vida” (Jo 11,25).
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2 DMS 2004
Aos Salesianos,
aos Membros da Família Salesiana
e aos “Amigos de Dom Bosco”
Roma, 8 de dezembro de 2003
Solenidade da Imaculada
S aúdo-os cordialmente e evangelização hoje é, mais do educação em favor dos jo-
desejo-lhes uma fecunda que nunca, inseparável da pro- vens, convencidos de que
Jornada Missionária Salesiana moção social, procurando fazê- o melhor presente que lhes
2004. Dirijo-me a vocês numa la passar de situações não ade- podemos oferecer é o de
data muito significativa para quadas à dignidade da pessoa equipá-los para enfrentarem a
toda a humanidade e, de mo- a condições mais humanas. vida, sempre mais competiti-
do particular, para a Igreja e a
va, com garantias de sucesso.
Congregação. A Solenidade A partir deste perfil Arunachal
da Imaculada Conceição de Pradesh, se nos apresenta Hoje, como nunca, existem
Maria nos faz ver qual era o como um grande desafio pe- muitas possibilidades de anun-
plano original de Deus sobre las necessidades às quais ciar Cristo e o seu Evangelho,
o mundo, recorda-nos que queremos ir ao encontro e co- graças aos recursos de que
o “sim” de Maria significou mo uma oportunidade para se dispõe e à comunicação
uma reviravolta na história da rever a nossa fé na caridade social. Maria, a Virgem Mãe,
humanidade e nos convida a ativa e operosa que enche de dinamize o nosso zelo missio-
sermos, também nós, colabo- esperança e de futuro a vida nário para fazer com que
radores de Deus.
desse povo. Estamos cons- todos os povos possam con-
cientes de que eles mesmos hecer o plano maravilhoso de
Para nós salesianos tudo co- devem ser os protagonistas Deus e dele façam parte.
meçou também num 8 de de- do próprio desenvolvimento,
zembro. Hoje, a Congregação também pelo direito que têm Encorajo-os a serem anima-
e a Família Salesiana encon- de preservar a própria cultura. dores entusiastas desta Jor-
tram-se presentes em 129 pa- Nossa missão é ser solidários, nada Missionária Salesiana
íses do mundo como missio- próximos, compassivos.
2004, para que seus frutos
nários dos jovens.
nos permitam promover real-
Como de costume, a nossa mente a dignidade do homem
O tema que escolhemos para opção estratégica de salesia- indo ao encontro de suas ne-
este ano é Arunachal Pradesh, nos encontra-se no campo da cessidades e desejos mais
uma região de grande pobreza
profundos. Em nome do povo
e subdesenvolvimento onde o
de Arunachal Pradesh, que se
Evangelho ainda não é muito
beneficiará da generosidade e
conhecido. Nossos irmãos já
solidariedade de vocês, muito
começaram ali diversas iniciati-
obrigado.
vas no âmbito da promoção
humana sublinhando a educa-
Cordialmente, em Cristo Jesus
ção. Justamente porque a sal-
vação tem a ver com a totali-
dade da pessoa humana, a
P. Pascual Chávez V.
Reitor-Mor
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Caros Irmãos e Membros da Família Salesiana,
A presento-lhes com grande por estas tribos é a clara assi- tribos, exclusivamente faladas.
alegria o Dossiê sobre a milação de novos valores em A familiarização com o povo
Animação Missionária.
harmonia com a sua cultura de Arunachal Pradesh cami-
É muito encorajador saber e a sua história, deixando de nha ao lado do trabalho de
que em muitas Inspetorias o lado as estruturas sociais transformação do Espírito de
dossiê é utilizado com grande opressivas e desumanas e Deus entre as pessoas menos
proveito para a animação mis- os costumes que os mantêm privilegiadas, através de seus
sionária.
isolados do resto da humani- instrumentos humanos, os sa-
Após ter refletido sobre as te- dade e que os
lesianos e seus
máticas missionárias dos dois tornam escravos
colaboradores.
anos anteriores (2002: os Re- de seus próprios
As maravilhas
fugiados; 2003: Desenvolvi- temores.
operadas no dia
mento Humano e Evangeliza- A Igreja Católica,
de Pentecostes
ção), retornamos este ano à particularmente
são uma realida-
apresentação de uma região os salesianos e
de também em
onde os salesianos e outros demais membros
nossos dias. Aru-
membros da Família Salesia- da Família Sale-
nachal Pradesh é
na estão empenhados ativa- siana, são protagonistas e ao testemunha disso.
mente em várias atividades mesmo tempo catalisadores Este dossiê foi preparado gra-
em tudo que se refira ao des- deste processo de transfor- ças à colaboração de diversas
envolvimento do povo mais mação das tribos de Aruna- pessoas: P. George Pallipa-
pobre.
chal Pradesh.
rambil, que providenciou a
Arunachal Pradesh, um esta- Todo visitante nesta difícil con- maior parte do material, e P.
do do Nordeste da Índia, nos dição, fica agradavelmente Walter Schmidt, com a parti-
limites com a China é, ao surpreendido e muito impres- cipação ativa da equipe do
mesmo tempo, terra de mis- sionado com o papel impor- VIS sob a orientação do P.
tério e de promessa.
tante que eles assumiram pe- Ferdinando Colombo que se
São muitos os desafios desta lo desenvolvimento humano, ocupou do trabalho de edição
região da Índia. As várias tri- social e religioso do povo de e organização.
bos que aí viveram esqueci- Arunachal Pradesh. Apesar da A cada um deles, em nome
das por séculos, são agora falta de estradas e de meios de todos nós, exprimo apreço
desafiadas a saírem do isola- velozes de comunicação, che- e sinceros agradecimentos.
mento e da pobreza e viverem gam até o povo espalhado Espero que o dossiê sirva
em conformidade com as va- pelas aldeias mais distantes. para aumentar o espírito mis-
riadas exigências do mundo A educação é o meio usado sionário em cada um de nós e
em rápido desenvolvimento. para levar a população para a levar a ajuda muito neces-
Não ficando fossilizados num fora da escuridão da ignorân- sária ao povo de Arunachal
museu cultural, estão ansio- cia, da superstição e da tira- Pradesh.
sos por preservar a sua rica nia dos costumes sociais pou- Maria, Rainha das Missões, pos-
herança cultural e a própria co saudáveis.
sa interceder por eles e reforçá-
identidade, sem cair, porém, Nossos irmãos estão desen- los na fé.
no moderno caldeirão da glo- volvendo também a obra pio-
balização.
neira de dar uma gramática e
O maior desafio enfrentado uma literatura às línguas das
P. Francis Alencherry
Conselheiro para as Missões
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4 DMS 2004
Uma excursão
pelo Arunachal Pradesh
Deixamos – P. Joseph, o
motorista, um jovem estu-
dante e o abaixo-assinado –
o colégio de Harmutty, onde
tínhamos passado a noite, nas
primeiras horas da manhã, an-
tes da aurora. Havia uma gre-
ve programada e temia-se fi-
car bloqueados na estrada,
comprometendo dessa forma
o sucesso da nossa aventura
no Arunachal Pradesh. En-
quanto desenhavam-se no
céu as primeiras faixas claras
da aurora e a estrada estava
absolutamente solitária, eu
gozava internamente de uma
emoção simples, mas profun-
da, ligada à sensação de
adentrar-me numa terra qua-
se virgem feita de natureza, de
montanhas, de poucas cida-
des e aldeias empoleiradas
pelo dorso da montanha ou
espalhadas na confluência
dos vales. E, depois, ardia da
curiosidade de poder final-
mente encontrar o legendário
“mitun”, o nosso boi, que não
conseguira ver ao longo de to-
da a minha viagem no Naga-
land. E houve o impacto com
uma natureza maravilhosa,
impenetrável e recoberta de
florestas e, sobretudo, com al-
gumas famílias deste podero-
so e dócil bovino, de grandes
olhos doces, destinado a ser
o dote das jovens esposas e
alegrar os banquetes das
grandes circunstâncias.
Com efeito, um primeiro con-
tato com o Arunachal Pra-
desh, uma saída quase clan-
destina por algumas horas, já
tinha sido possível em Rajana-
gar, que alcançáramos alguns
dias antes, de Margherita.
Embora sulcando uma pista
muito freqüentada pelos ele-
fantes, a viagem fora tranqüila
e rápida e tinha-nos permitido
chegar à aldeia, onde fomos
acolhidos pelo ativíssimo P.
Theophilus, pelos estudantes
da escola e, sobretudo, pela
autoridade máxima, o rei da
aldeia em pessoa. Apreciei a
casa paroquial inculturada,
constituída por uma grande
cabana circular, toda em ma-
deira mas, sobretudo, o es-
pírito que anima esta missão.
O salesiano é realmente o
centro propulsor do ponto de
vista cultural, na valorização
da identidade dos diversos
grupos tribais dos Simpho,
Nocté e Adhivasi, do ponto de
vista da evangelização, no cui-
dado dos vários grupos cris-
tãos e na organização das ati-
vidades educativas da escola
da missão. Percebi um grande
sentido de comunidade e,
principalmente, um grande
apreço por aquilo que os sale-
sianos, em nome de Dom
Bosco, fazem naquele peda-
ço do Arunachal Pradesh.
Após este parêntesis, retomo
o fio do discurso... retornando
ao doce e tranqüilo “mitun”,
que continua para mim um
dos símbolos mais intensos
das montanhas do Arunachal
Pradesh. Uma terra, por al-
gum tempo fechada hermeti-
camente à evangelização por
força de uma lei do Estado
P. Giovanni Mazzali,
Ecônomo Geral
dos Salesianos
Arunachal Pradesh.
Aldeia típica empoleirada
6
no dorso de uma montanha

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4 Uma excursão
DMS 2004
pelo Arunachal Pradesh
que impedia o ingresso a
qualquer missionário. E é inte-
ressante sublinhar que nestas
regiões difíceis, os primeiros
missionários foram os jovens
educados e formados, primei-
ramente na Don Bosco Tech-
nical School de Shillong e,
depois, na Biblical School
de Tinsukia. Era uma institui-
ção tipicamente salesiana, pa-
trocinada pelo então diretor
P. Thomas Menamparampil.
Deu-se a diversos jovens, vin-
dos justamente do Arunachal
Pradesh, a possibilidade de se
formarem do ponto de vista
profissional e catequético.
Com esse método, foram
criados grupos de jovens que,
retornando à própria tribo, por
primeiro, pregaram Jesus
Cristo e prepararam crianças
e adultos para o batismo.
Uma igreja que nasceu sobre
a fé e o sentido missionário
de jovens educados no estilo
de Dom Bosco. Foram verda-
deiros pioneiros, limparam
terreno e tornaram possível,
graças às pequenas comuni-
dades cristãs que se constitu-
íram aos poucos, a entrada
dos missionários e a presen-
ça do sacerdote nas comuni-
dades tribais espalhadas pe-
las montanhas.
Primeira etapa em Yachuli.
È ainda cedo, a manhã está
límpida e o ar de montanha,
penetrante. O vale, neste lugar
muito amplo, permitiu nume-
rosos aldeamentos visíveis do
teto da escola salesiana em
que somos acolhidos. Trata-
se de um novíssimo edifício,
administrado pelo bispo de
Tezpur, que acolhe na grande
praça à sua frente, mais de
quinhentos alunos que fre-
qüentam a escola; eles são
alojados no internato dos sa-
lesianos e das irmãs ou em
outros pequenos internatos
espalhados pela pequena ci-
dade. Outros, percorrem to-
das as manhãs vários quilô-
metros, de suas aldeias à es-
cola. É belo constatar a cola-
boração entre os Salesianos e
as Irmãs Missionárias de Ma-
ria Auxiliadora, fundadas pelo
Bispo Dom Ferrando, chama-
das familiarmente de “ferran-
dinas”. Uma irmã é responsá-
vel pela escola no aspecto
didático, enquanto o salesia-
no pensa na organização da
escola e do internato. Os es-
tudantes são disciplinados,
atentos ao toque do sino que
ritma a jornada, e intui-se que
são altivos e orgulhosos em
relação à sua escola, esta
grande família onde colocam
as bases do próprio futuro.
Após um bom café da manhã,
uma rápida visita aos vários
ambientes e uma parada na
igreja, testemunha dos inícios
desta obra corajosa, retoma-
mos o longo caminho que nos
leva a Palin. As longas horas
de viagem e as constantes
sacudidas que me mantêm
acordado permitem-me per-
ceber os numerosos grupa-
mentos humanos que povo-
am estas localidades inaces-
síveis. As construções, rigo-
rosamente em madeira, são
características e revelam, em
suas dimensões e organiza-
ção, que a vida tribal expressa
fortemente a unidade familiar
e a total partilha dos espaços
disponíveis. É uma constata-
ção que fiz também visitando
em Sadiya alguns grupamen-
tos da grande tribo dos Mis-
hing. A cabana, elevada do te-
rreno, é o único grande espa-
ço onde se come, se dorme,
se conversa e, embora com
O povo está habituado a tirar da natureza
os reduzidos meios de subsistência
O “mitun”,
legendário boi sacrifical.
Os alunos enfileirados na grande praça
da escola de Yachuli
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4 Uma excursão
DMS 2004
pelo Arunachal Pradesh
as óbvias dificuldades, se pro-
cura estudar e ler. O tear está
localizado normalmente fora
da cabana e, também do lado
de fora, são realizados todo
os trabalhos necessários para
a vida de família.
Percebo que se trata, em ge-
ral, de tribos pobres, de gen-
te habituada a um clima frio e
a tirar da natureza meios mui-
to reduzidos de subsistência.
Encontro nuvens de crianças,
vestidas sucintamente, que
correm na direção do carro
ou que o olham com olhar
encantado; outros já estão
ocupados no trabalho, no
transporte de lenha, de água,
de frutos do campo; encon-
tram-se, também, grupos de
estudantes que iniciaram a
viagem, às vezes não breve,
para chegar à escola mais
próxima.
Chegamos finalmente em Pa-
lin. Também aqui, o vale se
alarga dando espaços muito
preciosos para o cultivo do
arroz e das hortaliças, neces-
sidade absoluta para a sub-
sistência. A obra salesiana
pode se desenvolver num
espaço muito pequeno, junto
ao declive da montanha.
É impossível encontrar um
espaço amplo para a escola e
os internatos. A impressão é
quase de um acampamento,
de uma situação provisória.
Desço o íngreme declive que
leva ao pequeno pátio da
escola, onde também fica a
residência dos salesianos e
o internato das meninas. Os
meninos são mais afortuna-
dos porque, graças a uma
ajuda financeira, foi possível,
embora em espaço restrito,
construir uma casa de alvena-
ria. Olho para estes meninos,
estes jovens, estas jovens
mulheres que me acolhem
com calor simples, sorrio aos
salesianos que estão no meio
deles e sinto que aqui Dom
Bosco se sentiria realmente
em casa. É a interpretação
indiana do galpão Pinardi, é o
oratório dos inícios. À noite,
na escuridão atravessada por
poucas e fracas luzes, no pe-
queno pátio, envolvido no xa-
le característico, enquanto os
garotos cantam e as meninas
dançam com suas roupas
tradicionais, entendo o gran-
de dom que os missionários,
os salesianos Stephen, Al-
phonse e Francis, são para os
jovens desta terra pobre e or-
gulhosa. Pela manhã, ainda
escura, sou acordado por al-
guns cochichos, alguns leves
rumores. Levanto-me tam-
bém, quase furtivamente, e
saio, enquanto o céu começa
a clarear. O ar é límpido e frio
e me aperto no amplo xale.
Curvadas sob o mísero e pe-
queno pórtico, à leve luz da
manhã, as jovens, as meni-
nas, estão estudando em
silêncio e quase se retraem
tímidas, ao perceberem a
minha presença.
Do carro, já em movimento,
estendo a mão para um últi-
mo intenso cumprimento. Al-
guns rostos ficam-me impres-
sos. Levo, sobretudo na men-
te e no coração, a certeza de
que Dom Bosco está vivo,
que o seu espírito se encar-
nou nos salesianos que en-
contrei, que tantos jovens po-
bres, sem meios, distantes
de casa, podem esperar por
um futuro feliz.
O homem da tribo Mishing
e (à direita) a típica cabana
elevada do terreno
A nova escola
Dom Bosco em Longding
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5 DMS 2004
Arunachal Pradesh
Capital:
Itanagar (distrito de Pampun Pare)
Superfície:
83743 Km2
População:
1.091.117 (homens: 573.951; mulheres: 517.166)
Taxa de Alfabetização: 54,74%
Instituições
educativas:
Universidade: 1
Instituto de Engenharia: 1
Politécnico: 1
Institutos de formação profissional: 5
Escolas de 2° grau: 171
Escolas de 1° grau: 329
Escolas elementares: 1.280
Creches: 137
Principais tribos: Adi, Nyishis, Apatani, Bugun, Galo, Hrusso,
Koro, Meyor, Monpa, Tagin, Sajolang, Sartang,
Tai, Khamti, Tangshang Yobin, Singpho,
Sherdukpen, Khamba, Memba
Recursos naturais: grafite, quartzo, carvão, pedra calcária,
gás natural, ocre, mármore
Fonte: Directorate of Information,
Public Relations and Printing Government
of Arunachal Pradesh, Naharlagun
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5 DMS 2004
Mulheres Tangsa
Homem e mulher Wancho
Homem Nishis
Mulher Apatani
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6 Análise
DMS 2004
geopolítica e social
GEOGRAFIA
DO TERRITORIO
O Arunachal Pradesh, nome
que significa “Terra do sol nas-
cente”, é o mais vasto estado
do nordeste da Índia.
Esta terra, formada por ca-
deias de montanhas nevadas
do Himalaia, florestas fluviais e
extensas planícies por onde
correm diversos rios, é a pá-
tria de 100 tribos, cada qual
com sua língua, cultura, usos
e costumes. Estas tribos pro-
vêm todas da raça mongólica
e diferem do resto da popula-
ção indiana não só pelo seu
aspecto físico, mas também
pelo seu modo de viver.
Vivem em aldeias situadas
em altos cimos montanhosos,
isolados por densas florestas,
e isso sempre representou
um motivo de segurança mas
também de isolamento, tanto
entre as diversas tribos quan-
to particularmente entre estas
e o resto do País. Esse isola-
mento vai-se esvaindo aos
poucos graças à televisão, às
ligações telefônicas e à cons-
trução de estradas; muitos,
porém, apesar do avanço do
progresso, recusam-se a se
afastar de seus antepassados
e das próprias raízes.
As tribos ainda hoje empre-
gam seus maiores recursos na
agricultura; por isso, vastas
áreas florestais são cortadas
todos os anos, e são a princi-
pal causa da recente alteração
climática do território.
SITUAÇÃO POLÍTICA
Todas as tribos do Arunachal
Pradesh, com exceção dos
Nocte e dos Wancho do
distrito de Tirap, adotam em
suas aldeias uma política
extremamente democrática,
organizada segundo uma
hierarquia que tem como per-
sonagens mais autorizados
os homens mais velhos da
aldeia, acompanhados de
um Conselho que os orienta
e ajuda.
Os Nocte e os Wancho, diver-
samente, vivem num rígido
sistema monárquico no qual o
Rei ocupa um lugar relevante
tanto na vida quotidiana quan-
to nos negócios extraordiná-
rios da aldeia. O Rei recebe
o dízimo da população e qual-
quer estrangeiro que entre
na aldeia é a ele apresentado.
Ao soberano é concedido
casar-se com mais de uma
mulher e, de fato, ainda hoje,
há Reis com até cinqüenta
mulheres. O Rei também tem
o poder de demarcar, de acor-
do com rituais precisos, a área
florestal da aldeia, cortada
todos os anos para dar lugar
à agricultura.
Hoje, contudo, as eleições pa-
ra as estruturas democráticas
locais tornaram-se muito co-
muns, e este moderno siste-
ma político teve, sem dúvidas,
um forte impacto no papel
do Rei e em todo o sistema
monárquico dessas tribos.
SITUAÇÃO SOCIAL
Todas as tribos do Arunachal
Pradesh têm uma forte tradi-
11

2.2 Page 12

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6 Análise
DMS 2004
geopolítica e social
ção patriarcal. A figura mas-
culina no interior da família e
da tribo, foi fortemente evi-
denciada até hoje, enquanto o
papel da mulher foi sempre
muito pouco reconhecido e
não aceito no interior da so-
ciedade.
Por isso, a educação e outros
direitos não lhes foram jamais
conferidos, nem jamais al-
guém, homem ou mulher,
sentiu a necessidade e o peso
da privação desses direitos.
A situação nesse sentido
começou a mudar recente-
mente, mas ainda há muito
por fazer nesse campo.
A poligamia e os casamentos
infantis, para algumas tribos,
foram até agora costumes
muito comuns, embora com a
difusão da instrução, da mídia,
e com a mudança econômica,
esta prática esteja desapare-
cendo rapidamente.
O nível de alfabetização e as
condições higiênicas e sanitá-
rias nas aldeias são muito ca-
rentes. Ainda é pouco comum
o uso do banho; porcos e ou-
tros animais vagam livres ao
redor das casas. O hábito
pouco saudável de deixar os
mortos seminus em platafor-
mas colocadas perto das al-
deias faz com que facilmente
se difundam doenças, e mui-
tas pessoas morrem todos
os anos de lepra, disenteria,
tuberculose e outras patolo-
gias. Foram feitos, nos últimos
anos, todos os esforços pos-
síveis para resolver esses pro-
blemas e, de fato, muitas al-
deias recentemente aceitaram
a sepultura como principal
prática sanitária.
Os habitantes do Arunachal
Pradesh eram conhecidos,
até há pouco tempo, como a
“população nua” e só de re-
cente tiveram que se adaptar
ao uso de roupas.
As moradias típicas, construí-
das de bambu, são longas e
resistentes e, erguendo-se
nas frias colinas, desfrutam de
todo tipo de ventilação. A la-
reira é considerada o lugar
central da casa e ao seu redor
são realizadas todas as ativi-
dades principais: cozinhar,
comer e socializar.
ASPECTOS CULTURAIS
Pode-se falar do Arunachal
Pradesh como de uma cultura
isolada, com suas característi-
cas, costumes, heranças so-
ciais de todas as comuni-
dades, significados, valores,
regulamentos, crenças, reli-
giões, danças, festas e ritos
que fazem parte dela. De fato,
o isolamento geográfico e a
inacessibilidade do lugar fize-
ram com que o povo do Aru-
nachal vivesse totalmente
isolado do mundo e do pró-
prio subcontinente indiano.
Além disso, a linha de limites
internos imposta pelo governo
colonial como “Decreto de
regulamentação da Fronteira
Oriental do Bengala” em 1873,
para proteção dos próprios
homens, foi usada como ins-
trumento para manter o povo
deste Estado fechado em
seus territórios.
Embora as numerosas tribos
da região apresentem carac-
terísticas gerais comuns entre
si, como a importância da co-
munidade, a dimensão social
da propriedade privada, o
sentido da igualdade, a ho-
12

2.3 Page 13

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6 Análise
DMS 2004
geopolítica e social
nestidade como valor absolu-
to, a dignidade do trabalho, o
amor filial e o respeito pelos
anciãos, é importantíssimo
sublinhar que cada cultura tri-
bal se diferencia das demais,
assim como acontece para as
civilizações.
Festas e atividades comuns
fazem parte do seu estilo de
vida e as manifestações exte-
riores representam um modo
de aproximação dos habitan-
tes entre si.
Apesar de todas as boas
qualidades que caracteriza-
ram as comunidades tribais
em sua idade de ouro, um
processo rápido de saída da
tribo está corroendo rapida-
mente e ameaçando a mes-
ma sobrevivência da alma tri-
bal. O futuro dirá o que resta-
rá do patrimônio cultural de
milhares de anos. Com a in-
trodução do sistema educati-
vo moderno, as formas tribais
de training passaram de mo-
da. O comércio, os intercâm-
bios, a economia, a industria-
lização, as atividades de des-
envolvimento e os serviços
sanitários estão levando à
ruptura do tecido social que
mantinha unida a comunida-
de tribal. A partir da segunda
metade dos anos setenta, os
jovens do Arunachal começa-
ram a sair da própria aldeia
para ir estudar em outros
Estados, retornando depois
com tudo o que assumiram
do mundo exterior, e repre-
sentando, segundo o povo,
uma ameaça cultural. Hoje,
estes jovens instruídos nas
escolas fora do País estão to-
mando o comando de suas
aldeias de origem e sua in-
fluência já se faz sentir.
IDENTIDADE RELIGIOSA
Toda a população do Aruna-
chal Pradesh refere-se a três
Estudantes do colégio ensinam cantos religiosos na aldeia
principais identidades religio-
sas. O primeiro e maior grupo
religioso é animista, perten-
cente à família dos Tani, des-
cendentes de Abo Tani, o an-
tepassado comum. Perten-
cem a essa religião, a maior
parte da população que habi-
ta nos distritos centrais, em al-
gumas áreas do Assam e em
parte dos vales do Kameng
Oriental e do Dibang Inferior,
os Nishi e vários subgrupos.
O segundo grupo é, também,
de tipo animista, mas leve-
mente influenciado pelo hin-
duísmo. A este tipo de culto
pertencem de modo particu-
lar as pequenas tribos que
habitam os distritos de Tirap,
Chanlang, os vales de Lohit e
do Dibang Superior. Igual-
mente os Nocte, Wancho,
Tangsa e vários grupos Mis-
hmi são prosélitos desta reli-
gião. Diversamente do primei-
ro grupo animista, os segui-
dores deste segundo grupo
fazem menos referência ao
culto do Sol e da Lua nas
próprias práticas religiosas
e falam mais de um Deus
envolvido com suas vidas.
Os espíritos não têm grande
importância no seu mundo,
ao contrário dos Tani. Como
já foi dito, alguns destes gru-
pos foram influenciados pelo
hinduísmo e, por exemplo,
não comem carne nem têm
dificuldades em aceitar o
sistema de castas.
13

2.4 Page 14

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SchedPORT4.qxd 21-01-2004 12:39 Pagina 14
6 Análise
DMS 2004
geopolítica e social
O terceiro grupo é formado
por várias tribos de religião
budista. São as populações
que povoam o Tawang, o Ka-
meng Ocidental e algumas tri-
bos nos limites com o Tibet,
seguidores da tradição Lama-
ística do Mahayana (Grande
Veículo). As tribos dos Kham-
ti no distrito de Lohit e os
Singpho no distrito de Lohi-
tand Changlang, provenientes
da Tailândia e de Mianmar
(Birmânia), praticam o budis-
mo de tipo Hinayana (Peque-
no Veículo), valendo-se ainda
dos antigos textos religiosos
usados naqueles lugares.
Os primeiros contatos com o
cristianismo, de que se tem
memória, aconteceram em
1817, quando o Reverendo
Bronson, Pastor americano da
Igreja Batista, fundou uma
missão em Namsang perto
da tribo dos Nocte. Debilitado
na saúde e desencorajado
pela falta de cooperação
dos moradores do lugar, o
Pastor logo se retirou para
Jaipur no Assam.
Em 1851, os Padres Krick e
Bernard das Missões Estran-
geiras de Paris se aventura-
ram na região dos Adi, acom-
panhando um grupo de sol-
dados ingleses. Os dois, que
estavam ansiosos para pro-
clamar a fé no Tibet, se esta-
beleceram na tribo local e ali
ficaram por alguns anos, en-
sinando e ajudando a popula-
ção com seus cuidados mé-
dicos. A tradição oral dos lu-
gares jamais os esque-
ceu, embora não se re-
corde da existência de
qualquer comunidade cristã
fundada por eles. Em 1854,
os dois Padres decidiram
continuar a missão de evan-
gelização no Tibet, mas foram
capturados e mortos pelo
chefe da tribo dos Mishmi na
aldeia de Somme.
A Igreja Batista começou, no
mesmo período, a ter conta-
tos com a população do Aru-
nachal, a partir da missão Sa-
diya. Fala-se que, em 1900,
conseguiram até mesmo tra-
duzir o Novo Testamento em
alguns dialetos tribais, mas
depois de algum tempo co-
meçaram a desagregar-se em
tantas pequenas comunida-
des que, ainda hoje, têm inú-
meras denominações.
Na segunda metade dos
anos Sessenta, P. Aloysius
Cerato SDB, que se encon-
trava na missão de Lackmpur
A atitude contemplativa
e paciente é uma característica
do povo do Arunachal Pradesh
14

2.5 Page 15

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SchedPORT4.qxd 21-01-2004 12:39 Pagina 15
6 Análise
DMS 2004
geopolítica e social
(Assam), manteve contatos
permanentes com a tribo dos
Apa Tani, alguns dos quais
ainda hoje são fiéis católicos.
Estes e outros contatos atra-
vés das escolas de Lakhim-
pur, Tezpur e Silapathar, são
considerados capítulos de
ouro na história da Igreja no
Arunachal Pradesh.
Os Salesianos de Dom Bosco
representam para o Arunachal
Pradesh uma presença signifi-
cativa e digna de todo respei-
to; os vários membros da Fa-
mília Salesiana, especialmen-
te os ex-alunos, assumiram
atualmente um papel social
que não poderia ser mais
valorizado.
Os contatos com os salesia-
nos, iniciados justamente em
Lakhimpur nos anos sessen-
ta, permaneceram em nível in-
dividual até 1978, data do pri-
meiro encontro entre o P. Tho-
mas Menamparampil SDB, di-
retor da escola Dom Bosco de
Shillong, e um jovem chefe
de aldeia da tribo dos Nocte,
Sr. Menamparampil da aldeia
de Borduria, que se orgulha
do primado de conversão ao
catolicismo entre todas as
aldeias do Arunachal.
P. Menamparampil (atual Ar-
cebispo de Guwahati) facilitou
a admissão dos jovens do
Arunachal Pradesh nas esco-
las salesianas e isso reforçou
ainda mais as relações com
as diversas aldeias. Os estu-
dantes retornavam às próprias
casas para as férias e o povo
começava a ver como os seus
jovens tinham mudado e esta-
vam bem instruídos, conven-
cendo-os sempre mais a fazer
com que as novas gerações
das tribos estudassem nas
escolas católicas. Em 1979, o
Sr. Lowangcha, sua família e
centenas de outras
pessoas das aldeias
próximas se conver-
teram ao catolicismo
e receberam o Batismo.
Em 1992 foi inaugurada na
aldeia de Borduria a primeira
escola Dom Bosco com o
dormitório. Hoje, a fé católica
é parte integrante da vida das
tribos locais.
Os ex-alunos da escola Dom
Bosco ocupam postos de
grande importância no pano-
rama político e administrativo
do País.
Os salesianos estão conven-
cidos de que, apesar da dis-
tância dos lugares, desde
que sejam dadas as justas
oportunidades, a juventude e
as crianças de hoje haverão
de garantir um futuro promis-
sor para a população do
Arunachal, e serão modelo
de sucesso e mudança para
o resto da Índia.
Borduria. A primeira igreja e
a primeira Escola de Dom Bosco
no Arunachal Pradesh
15

2.6 Page 16

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SchedPORT4.qxd 21-01-2004 12:39 Pagina 16
6 Análise
DMS 2004
geopolítica e social
PERSPECTIVAS
PARA O FUTURO
O quadro descrito até aqui
poderia parecer totalmente ró-
seo, mas ainda hoje para o
povo do Arunachal Pradesh e
para os missionários conti-
nuam numerosos os desafios
a enfrentar. A pobreza absolu-
ta nas aldeias é um dado de
fato que não pode ser omitido
e que cria um inevitável ques-
tionamento nos Salesianos
sobre onde começar e onde
terminar a sua obra. Torna-se
sempre mais evidente o pro-
blema da crescente divisão
entre ricos e pobres, sobretu-
do considerando que os ricos
são muitas vezes os jovens
que estudaram em escolas
salesianas e que estão se tor-
nando cada dia mais fecha-
dos e egoístas. Justamente
por essas motivações deve-se
ter presente que os primeiros
valores que se lhes deve
transmitir são, sem dúvida, o
amor e a partilha.
O fenômeno universal da co-
mercialização e do consumis-
mo vai-se insinuando com ve-
locidade também nas aldeias
mais remotas; todos procuram
enriquecer-se com qualquer
meio, afastando-se assim dos
primitivos valores tribais e dei-
xando, como conseqüência,
que o dinheiro prevaleça sobre
o próprio compromisso com
Deus e a religião.
O passado de cortadores de
cabeças e as guerras entre as
aldeias e tribos criaram na po-
pulação uma enraizada falta
de sentimento de culpa, gra-
ve ameaça para a vida cristã
focalizada no perdão absolu-
to, na compaixão e na mansi-
dão. Remédio único para esse
problema é representado por
uma oração sem fim e pela
insistente, infinita paciência
dos missionários.
A poligamia também faz parte
dos principais desafios do
cristianismo: procura-se dar
um remédio para isso com a
instrução, ensinando que ela
não é outra coisa que uma
praga social e que os filhos
não devem ser considerados
como força de trabalho, mas
que devem ser educados e
respeitados, assim como as
mulheres, que devem gozar
dos mesmos direitos dos ho-
mens tanto na família quanto
na sociedade e na Igreja.
As seitas cristãs surgidas nos
últimos anos vão-se insinuan-
do no Arunachal como uma
ameaça veloz, graças à força
persuasiva que têm de captu-
rar a imaginação do povo,
pois não atuam através de
nenhum sistema nem qual-
quer tradição, sem qualquer
background ou referência à
autoridade; os modos comba-
tivos que muitas vezes utilizam
são um verdadeiro escândalo
para toda a população.
Uma vez que cada tribo tem
suas próprias tradições cultu-
rais e a própria unicidade, o
maior desafio para a Igreja
Católica é, e será no futuro,
preservar e proteger estas ri-
quezas, buscando integrar-se
em sua vida sem por isso im-
por valores e novas tradições
que os autóctones não po-
dem nem entender nem sentir
como familiares.
Também a vocação ao sacer-
dócio poderia representar
num futuro próximo um im-
portante objetivo da florescen-
te Igreja do Arunachal Pra-
desh, pois os próprios habi-
tantes poderiam sentir-se no
futuro expectadores passivos
de uma Igreja que cresce em
seus territórios sem que eles
sejam seus co-autores.
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2.7 Page 17

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SchedPORT4.qxd 21-01-2004 12:39 Pagina 17
6 Análise
DMS 2004
geopolítica e social
REFLEXÕES DO ARCEBISPO DE GUWAHATI,
versão” teve uma conotação
DOM THOMAS MENAMPARAMPIL
negativa em muitos Países da
Ásia. Não é raro que o povo
O arcebispo Thomas Me- mentos que fizera seus no associe a palavra à mudança
namparampil fala da sua decurso dos anos.
de religião sob pressão, se-
terra de missão e do quanto Em diversos períodos da dução ou engano. Sabe-se
é difícil evangelizar e levar a história e em várias partes que a conversão espontânea
figura de Cristo a uma terra do mundo, o cristianismo te- é algo de diverso, é tornar
distante e difícil como a Índia, ve imagens diferentes e, em própria a experiência de
num Estado como Arunachal todas as épocas e em qual- Deus. A primeira coisa impor-
Pradesh.
quer lugar existiram homens e tante, portanto, é que haja al-
Em sua diocese de Guwahati, mulheres intuitivos que viram guém que a explique e a se-
no Assam, os habitantes são essa religião como a maior gunda coisa é que a evangeli-
cerca de seis milhões e, des- força espiritual sobre a terra e zação comece aí onde que se
tes, apenas cinqüenta mil são um ponto de encontro entre encontra aquele que busca:
católicos: perfil típico de uma Deus e os homens. Esta a sua passagem da Escritura,
terra de missão na qual as feri- mensagem, porém, não se o seu problema na vida, o seu
das das lembranças coloniais transmite por si. Os evangeli- estado de espírito, o nível
e dos erros históricos ainda zadores têm a missão de fa- de sua aprendizagem, as
não cicatrizaram totalmente. zer com que o cristianismo aspirações do seu coração, a
Ele diz que, apesar disso, não seja mais do que interesse natureza da sua cultura, as
existe aversão por Cristo e coletivo de uma sociedade ou limitações do seu horizonte
por aquilo que ele representa. civilização. Significa o encon- e da sua visão.
O Mahatma Gandhi, em sua tro com Deus. Um evangeli- Muitos missionários sofrem,
primeira leitura do Sermão da zador é realmente eficaz so- hoje, de um forte sentido de
Montanha contido no Evan- mente quando ele próprio se “perda da auto-estima”, que
gelho, viu confirmados todos liberta dos sentimentos ofen- deriva de um sentimento de
os ensinamentos recebidos sivos, tanto pessoais quanto culpa em relação ao passado
quando criança. Não o rece- históricos. Sua tarefa é tam- e de um complexo de incerte-
beu como uma mensagem bém curar as memórias de fe- za quanto ao futuro. O impor-
estrangeira, mas sentiu que a ridas históricas da sociedade tante é lembrar que certos
mensagem do Evangelho lhe em que vive. O único cami- comportamentos não vêm do
era mais íntima e natural do nho para o futuro é o perdão. Evangelho. De fato, somente
que muitos outros ensina- Muitas vezes, a palavra “con- o Evangelho pode soerguer
aqueles que fizeram algum
mal e aqueles que o padece-
ram. É o Evangelho que lhes
permite dar as costas à histó-
ria e ir adiante com confiança
tomando o futuro nas pró-
prias mãos. Hoje, mais do
que nunca, também nos
Países mais distantes, as
pessoas estão à espera desta
ajuda do Evangelho.
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2.8 Page 18

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SchedPORT4.qxd 21-01-2004 12:39 Pagina 18
6 Análise
DMS 2004
geopolítica e social
A PRESENÇA SALESIANA
Os Salesianos de Dom
Bosco formam um
“grupo consistente” na região
de Arunachal. Os vários
membros da Família Salesia-
na, particularmente os ex-alu-
nos, assumiram um papel de
todo respeito. Os contatos
com a Congregação, inicia-
dos justamente em Lakhim-
pur nos anos 60, permanece-
ram num nível pessoal até
1978. Nesse ano deu-se a
primeira ocasião do encontro
entre o P. Thomas Menampa-
rampil SDB (agora arcebispo
de Guwahati) – reitor da Don
Bosco School de Shillong – e
Wanglat Lowangcha, um jo-
vem chefe da tribo Nocte pro-
veniente da “queen village”
de Borduria. Durante o ano,
Wanglat foi a Shillong, ao
centro de aprendizagem no
nordeste da Índia, para pro-
curar escolas que pudessem
admitir jovens de sua etnia.
P. Thomas aceitou imediata-
mente acolher alguns deles e
isso reforçou mais tarde sua
relação de amizade. Robert
Kerketta SDB em Dibrugarth
(agora em Tezpur) e os supe-
riores salesianos encorajaram
esse conhecimento e o P.
Thomas foi visitar Arunachal
em meados de agosto.
A viagem poderia terminar em
tragédia, pois o jipe alugado
em que viajavam acidentou-
se num encontro com um ca-
rro militar na pequena cidade
de Kapu. Foram levados a
Borduria, onde P. Thomas,
por causa dos ferimentos nas
pernas, sofria dores lancinan-
tes. Durante a noite, Wanglat
perguntou-lhe se ele e sua fa-
mília podiam receber o batis-
mo. P. Thomas aceitou e na-
quela mesma noite batizou
toda a família em sua modes-
ta habitação. Aquele dia, 20
de agosto, iniciado tragica-
mente por causa do acidente,
acabou por se tor-
nar um capítulo im-
portante a ser inserido na
história da Igreja. No dia se-
guinte, P. Thomas foi levado a
Dibrugarh onde foi submetido
a uma longa internação.
As escolas salesianas em to-
da a província (agora Dimapur
e Guwahati) mostraram uma
particular atenção na admis-
são dos estudantes do Aru-
nachal e em ajudá-los de
todas as formas. Tudo isso
melhorou a situação também
porque, quando os estudan-
tes retornavam das férias, o
seu povo percebia que eram
bem instruídos. Isso levou os
pais a mandar seus filhos às
escolas católicas e a abraçar
a fé aliviando os ritos des-
umanizadores e dispendiosos
previstos pela tradição.
Wanglat era um líder nato. Em
agosto de 1979, ele conver-
sou com algumas pessoas da
sua aldeia e das aldeias vizi-
nhas: 600 deles decidiram-se
A acolhida
de mulheres Nishis
Igreja típica
de uma aldeia
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2.9 Page 19

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6 Análise
DMS 2004
geopolítica e social
pelo batismo. A autorização Ministro da Instrução, Sanjy cebe-se, ainda, uma contínua
de entrada foi negada, mas o Takam, freqüentou as escolas busca da presença salesiana.
povo corajosamente manteve salesianas desde a escola “Vêm-me lágrimas aos olhos
a própria vontade e fez com elementar.
quando vejo jovens tão capa-
que entrassem o bispo Ro- Em 1992 foi aberta a primeira zes e preparados. Como me
bert, o P. Mathai Kochupa- Dom Bosco School com dor- agradaria se Dom Bosco
rambil, inspetor salesiano mitório em Bordura. P. George viesse à nossa região e pu-
(que se seria depois bispo Pallipparambil SDB transferiu- desse fazer a mesma coisa”,
de Diphu) e outros irmãos e se de Tinsukia para Bordura dizia com desagrado Tasin
irmãs do Assam. As autorida- juntamente com alguns cola- Ngusso, comissário de polícia
des olharam,impotentes,o que boradores leigos, George Jo- da região de Tirap, quando
estava acontecendo. Em 2 de seph e Martha Mao. Em 1993, assistiu em 1995 uma função
agosto de 1979, seiscentas P. José Chemparathy SDB, com os jovens da Don Bosco
pessoas foram batizadas e foi que administrava a missão de School de Borduria (ele per-
consagrada uma pequena Harmutty, abriu uma Don Bos- tencia a uma tribo de outra
igreja com teto de palha. Em co School na capital, Itanagar. região). “Devo dizer que sou
seguida, Wanglat apresentou Tiveram que suportar, nos pri- orgulhoso de ter estudado
Tadar Taniang ao P. Thomas e meiros anos, indizíveis maus na Don Bosco School e ter
ao bispo Robert, que o bati- tratos mas, corajosamente, entendido que somente com
zou mais tarde com seu mes- resolveram a situação. Recen- grupos empenhados como
mo nome: Robert. Vindo da temente, com a aproximação estes o nosso Estado poderá
tribo Nishi, a maior do estado de outras pessoas, abriram se desenvolver”, declarou
de Arunachal, Robert entrou novos centros. O resultado de Mukut Mithi, Primeiro Ministro
em contato com outras pes- tudo isso é que atualmente no de Bordumsa em novembro
soas. A fé iniciou a se difundir Estado de Arunachal a religião de 2002. “Já que sou católi-
na região com uma grande ra- católica é parte integrante da co e ex-aluno da Don Bosco
pidez graças ao P. Kulandai- existência das tribos e o caris- School, ninguém tema ser
samy, um padre muito devoto, ma de Dom Bosco é o aspec- abandonado a si mesmo;
da Diocese de Tezpur, e ao to fundamental da vida de devemos todos saber que
P. Job Kallarackal SDB. Em todos os dias.
também Dom Bosco tem um
1980, Wanglat foi o primeiro Os ex-alunos da Don Bosco lugar em Arunachal” afirmou
católico a participar do Parla- School recobrem encargos Sanjy Takam, Ministro da Ins-
mento. Dez anos depois, Ro- de prestígio no aparato do trução enquanto falava à Don
bert Taniang foi o primeiro ca- Estado tanto em âmbito políti- Bosco School de Palin, sua
tólico a obter um cargo de mi- co quanto administrativo. Per- cidade natal.
nistro no interior do governo.
Atualmente fazem parte do
Parlamento seis ex-alunos da
Don Bosco School. O Primei-
ro Ministro não esconde sua
inclinação pelo ensinamento
de Dom Bosco, enquanto o
19

2.10 Page 20

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SchedPORT4.qxd 21-01-2004 12:40 Pagina 20
7 DMS 2004
Gaudium et Spes - Constituição Pastoral do Concílio Vaticano II
41 A Igreja procura ajudar
os seres humanos
O Evangelho de Cristo, de
fato, anuncia e proclama a
liberdade dos filhos de Deus,
rejeitando toda servidão
decorrente, em última análise,
do pecado, leva ao respeito
sagrado da consciência e
da liberdade, induz a colocar
a serviço de Deus e em favor
dos outros todos os talentos
humanos, recomendando a
todos, acima de tudo, o amor.
[...]
42 A Igreja procura ajudar
a sociedade
[...] De fato, a força que a
Igreja pode dar à sociedade
vem do vigor da fé e do amor.
Resulta da vida, não de qual-
quer domínio externo que
possa exercer, servindo-se de
meios puramente humanos.
Por sua natureza e missão, a
Igreja não está vinculada a
nenhuma forma de cultura
nem a nenhum sistema políti-
co, econômico ou social.
Graças à sua universalidade,
porém, estabelece um laço
estreitíssimo de união entre
as diversas comunidades e
nações humanas, desde que
nela confiem e lhe reconhe-
çam a plena liberdade de
ação. Por isso a Igreja acon-
selha não apenas aos seus
filhos, mas a todos os seres
humanos, que superem as
dissensões entre nações e ra-
ças, passando a viver num
espírito familiar de filhos de
Deus, que consolidará inter-
namente todas as justas as-
sociações entre os homens.
O Concílio considera com to-
do respeito tudo que há de
verdadeiro, de bom e de justo
nas mais diversas instituições
sociais. Declara que a Igreja
quer ajudar e promover todas
essas instituições, no que de-
la dependa e que tenha rela-
ção com a sua missão [...]
Populorum Progressio - Encíclica de Paulo VI, 1967
12 A obra dos missionários
ram, junto com igrejas, centros de
Fiel ao ensinamento e a exemplo do seu divino assistência e hospitais, também
Fundador, que colocava “o anúncio da boa no- escolas e universidades. Ensinando aos indí-
va aos pobres” (cf. Lc 7,22) como sinal da sua genas o modo de tirar o melhor proveito
missão, a Igreja jamais descuidou de promover de seus recursos naturais, protegeram-nos
a elevação humana dos povos aos quais leva- muitas vezes da avidez dos estrangeiros. Sua
va a fé em Cristo. Seus missionários construí- obra, sem dúvida, por aquilo que nela há de
humano, não foi perfeita, e pode acontecer
que alguns misturassem ao anúncio da
autêntica mensagem evangélica, muitos
modos de pensar e de viver, próprios do
seu país de origem. Mas souberam, também,
cultivar as instituições locais e promovê-las.
Em várias regiões, eles foram os pioneiros
do progresso material como do desenvolvi-
mento cultural. Baste recordar o exemplo do
20

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7 DMS 2004
P. Carlos de Foucauld, que foi
julgado digno de ser chamado,
pela sua caridade, “irmão uni-
versal”, e ao qual se deve a
compilação de um precioso dicionário da língua
tuareg. É dever nosso homenagear estes pre-
cursores muitas vezes ignorados, homens leva-
dos pela caridade de Cristo, assim como seus
êmulos e sucessores, que continuam a estar,
ainda hoje, a serviço daqueles que evangelizam.
Redemptor Hominis - Encíclica de João Paolo II, 1979
12 Missão da Igreja e liber-
dade do homem
Jesus Cristo vai ao encontro
do homem de todas as épo-
cas, também da nossa época,
segundo suas próprias pala-
vras: “conhecereis a verdade,
e a verdade vos tornará livres”.
Estas palavras encerram em si
uma exigência fundamental e,
ao mesmo tempo, uma adver-
tência: a exigência de uma
relação honesta para com a
verdade, como condição da
liberdade autêntica; e a adver-
tência, ademais, para
que seja evitada qual-
quer verdade aparente,
qualquer liberdade su-
perficial e unilateral, qual-
quer liberdade que não
compreenda cabalmente
a verdade sobre o homem e
sobre o mundo. Ainda hoje,
depois de dois mil anos, Cris-
to continua a se nos mostrar
como Aquele que traz ao
homem a liberdade baseada
na verdade, Aquele que liberta
o homem daquilo que limita,
diminui e como que
despedaça essa liber-
dade nas próprias
raízes, na alma do
homem, no seu cora-
ção e na sua cons-
ciência. Que estupenda
confirmação deram disto, e
não cessam de dar, aqueles
que, graças a Cristo e em
Cristo, alcançaram a verda-
deira liberdade e a manifesta-
ram até mesmo em condições
de constrangimento exterior!
Ecclesia in Asia - Exortação Apostólica de João Paulo II, 1999
21 [...] No processo de encontro entre as
diversas culturas do mundo, a Igreja não trans-
mite apenas as suas verdades e os seus valo-
res, renovando as culturas a partir do seu inte-
rior, mas também tira delas os elementos posi-
tivos já presentes.
Este é o caminho obrigatório dos evangeliza-
dores ao apresentar a fé cristã e ao fazer
com que faça parte da bagagem cultural de
um povo e, por outro lado, as diversas cultu-
ras, quando são purificadas e renovadas à luz
do Evangelho, podem tornar-se expressões
verdadeiras da única fé cristã [...].
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7 DMS 2004
Catecismo da Igreja Católica
842 A ligação da Igreja com
as religiões não cristãs é, an-
tes de tudo o da comunhão
original e do fim comum do
gênero humano: “De fato, to-
dos os povos formam uma
só comunidade. Eles têm
uma só origem, pois Deus fez
o gênero humano habitar em
toda a face da terra; eles
têm também um só fim últi-
mo, Deus, cuja providência,
testemunho de bondade e
plano de salvação se esten-
dem a todos, até que os
eleitos sejam reunidos na
cidade santa”.
843 A Igreja reconhece nas
outras religiões a busca, ainda
“nas sombras e nas imagens”,
de um Deus desconhecido,
mas próximo, pois é ele que a
todos dá vida, respiro e tudo
o mais, e quer que todos os
homens sejam salvos.
A Igreja considera, portanto,
tudo o que se encontra de
bom e de verdadeiro nas reli-
giões como uma preparação
ao Evangelho, “e como dado
por aquele que ilumina todos
os homens, para que tenham
finalmente a vida”.
e erros que desfiguram a ima-
gem de Deus: “Os homens,
muitas vezes enganados pelo
maligno, deliraram em seus
raciocínios e, com a mentira,
alteraram a verdade divina,
servindo à criatura mais do
que ao Criador, ou vivendo
e morrendo sem Deus neste
mundo, ficam expostos à
condenação eterna”.
845 Justamente para reunir
de novo todos os seus filhos,
dispersos e desviados pelo
pecado, o Pai quis convocar
toda a humanidade para a
Igreja de seu Filho. A Igreja é
o lugar onde a humanidade
deve reencontrar a unidade e
a salvação. É o “mundo re-
conciliado”. É a nave que,
“pleno dominicae crucis velo
Sancti Spiritus flatu in hoc be-
ne navigat mundo – abertas
as velas da cruz do Senhor
ao sopro do Espírito Santo,
navega segura neste mundo”;
segundo uma outra imagem,
cara aos Padres da Igreja, é
a arca de Noé, a única que
salva do dilúvio.
853 Também neste nosso tem-
po, porém, a Igreja bem sabe
“o quão distantes estão entre si
a mensagem que ela traz e a
fraqueza humana daqueles aos
quais é confiado o Evangelho”.
Apenas aplicando-se incessan-
O conjunto dos edifícios da Bosco Nagar, Kheti
844 Ao longo de seu compor-
tamento religioso, porém, os
homens mostram ainda limites
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7 DMS 2004
temente “à penitência e à reno-
vação” e “caminhando pelo es-
treito caminho da cruz”, o povo
de Deus pode dilatar o reino de
Cristo. De fato, “como Cristo
realizou a sua obra de reden-
ção através da pobreza e das
perseguições, assim também
a Igreja é chamada a tomar
o mesmo caminho para co-
municar aos homens os frutos
da salvação”.
854 Através da missão que lhe
é própria, a Igreja “caminha
com toda a humanidade e
experimenta com o mundo a
mesma sorte terrena, e é como
que o fermento e alma da so-
ciedade humana, destinada a
renovar-se em Cristo e a trans-
formar-se em família de Deus”.
O empenho missionário exige,
portanto, paciência.
Tem início com o anúncio do
Evangelho aos povos e aos
grupos que ainda não crêem
em Cristo; continua com a
constituição de comunidades
cristãs, que sejam sinais da
presença de Deus no mundo,
e com a fundação de Igrejas
locais; inicia um processo de
inculturação para encarnar o
Evangelho nas culturas dos
povos; não deixará também
de conhecer insucessos. “No
que diz respeito aos homens,
grupos e povos, apenas gra-
dativamente a Igreja os atinge
e penetra, e os assume assim
na plenitude católica”.
855 A missão da Igreja exige
esforço em vista da unidade
dos cristãos. De fato, “as divi-
sões entre os cristãos impe-
dem que a própria Igreja atue
a plenitude da catolicidade a
si mesma e nos filhos que lhe
estão certamente unidos com
o Batismo, mas separados da
sua plena comunhão. Antes,
torna-se difícil à própria Igreja
expressar em todos os seus
aspectos a plenitude da cato-
licidade justamente na realida-
de da vida”.
856 A atividade missionária
exige um diálogo respeitoso
com aqueles que não aceitam
ainda o Evangelho.
Os crentes podem tirar pro-
veito deste diálogo para si
mesmos, aprendendo a co-
nhecer melhor “tudo o que
de verdade e de graça já
era possível encontrar, pela
presença escondida de Deus
em meio aos povos”.
Se, de fato, eles anunciam
a Boa Nova àqueles que a
ignoram, é para consolidar,
completar e elevar a verdade
e o bem que Deus difundiu
entre os homens e os povos,
e para purificá-los do erro
e do mal “para a glória de
Deus, a confusão do demônio
e a felicidade do homem”.
2044 A fidelidade dos batiza-
dos é uma condição funda-
mental para o anúncio do
Evangelho e para a missão da
Igreja no mundo.
A fim de manifestar diante dos
homens a sua força de verdade
e de irradiação, a mensagem
da salvação deve ser autenti-
cada pelo testemunho de vida
dos cristãos. “O testemunho
da vida cristã e as boas obras
realizadas com espírito sobre-
natural têm a força de atrair os
homens à fé e a Deus”.
2045 Já que são membros do
corpo do qual Cristo é a Ca-
beça, os cristãos contribuem
para a edificação da Igreja
com a solidez de suas convic-
ções e de seus costumes. A
Igreja cresce, desenvolve-se e
expande-se mediante a santi-
dade de seus fiéis, até che-
garmos todos “ao estado de
adultos, à estatura de Cristo
em sua plenitude” (Ef 4,13).
2046 Com sua vida segundo
Cristo, os cristãos apressam a
vinda do reino de Deus, do “rei-
no de justiça, de amor e de paz”.
Nem por isso descuidam
de seus compromissos terre-
nos; fiéis ao seu Mestre, eles
os cumprem com retidão,
paciência e amor.
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8 DMS 2004
Os Padres e as diferentes culturas
de P. Enrico dal Covolo
1. Qual a atitude assumida tuições de Roma.
A outra atitude, porém, foi de
pelos cristãos dos primei- Com afirmações positivas e grande abertura, de diálogo
ros séculos diante da cul- possibilistas, pelo que se fa- crítico e construtivo com a cul-
tura do seu tempo?
lou de Tertuliano como de tura grega. É a atitude inicia-
D esde os primeiros tempos um precursor da aliança da por Justino e desenvolvida
houve duas atitudes di- entre cristianismo e império, pelos Alexandrinos, sobretudo
versas no seio do cristianis- têm-se, também, expressões por Clemente. Aqui, não só a
mo. Uma – de aparente, total semelhantes às citadas – cultura grega não é recusada,
recusa – tem a sua expressão que professam a radical in- mas é vista como propedêuti-
mais evidente em alguns re- compatibilidade entre “Atenas ca à fé.
presentantes do cristianismo e Jerusalém”.
A verdadeira linha de demar-
africano e siríaco, isto
cação entre o “sim” e o
é, nas duas áreas ex-
“não” à cultura é muito
tremas do mundo hele-
íntima e geral, e passa
nizado.
através de cada pensa-
Tomemos em conside-
dor cristão, porque em
ração as célebres ex-
cada autor convivem
clamações de Tertulia-
como que duas almas:
no: “O que há de se-
a cristã, cheia de reser-
melhante”, prorrompe
vas por uma cultura
o africano indignado,
permeada de ideologia
“entre um filósofo e
pagã, e a grega, que é
um cristão, entre um
por ela subjugada.
discípulo da Grécia e
No conjunto, porém, a
um discípulo do céu?”
Igreja pré-nicena move-
(Apologeticum 46,18).
se em direção de um
E ainda Tertuliano se
acordo entre cultura
pergunta: “O que há em
clássica e anúncio
comum entre Atenas e
Jerusalém? O que de comum
Cristo Pantocrator
Mosteiro do Monte Athos
evangélico: “Os cristãos
são os filósofos de hoje e os
entre a Academia e a Igreja?” Em todo caso, a recusa não filósofos eram os cristãos de
(De praescriptione haeretico- se refere apenas à filosofia, outros tempos”, chega a dizer
rum 7,9).
mas também aos clássicos Minucio Felix (Octavius 20,1).
Na realidade, o Apologeticum da literatura, da arte, a maior Justamente por isso era ur-
de Tertuliano, endereçado às das profissões e dos traba- gente fundamentar e justificar
supremas autoridades do lhos, compreendidos os dos o recurso à cultura pagã.
império pelo ano 200, revela mestres de escola: numa pa- Recordemos a teoria do Lo-
uma atitude muito complexa lavra, toda a cultua e civiliza- gos spermatikós de Justino. O
diante da cultura e das insti- ção pagã.
seu significado é bem conhe-
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8 DMS 2004
cido: o Logos, que, na Lei, com confiança, como num Quanto a nós, estamos con-
se manifestou profeticamente bem próprio.
vencidos de que o estudo
(em figura) aos Hebreus, tam- 2. O que a Igreja das ori- dos antigos testemunhos
bém se manifestou aos Gre- gens pode ensinar aos cristãos é fonte de discerni-
gos parcialmente sob a forma cristãos de hoje quanto à mento para a Igreja de todos
de sementes de verdade. sua relação com a cultura? os tempos.
Ora, conclui Justino, já que o A questão é muito complexa Com efeito, o período das ori-
cristianismo é a manifestação e exige uma resposta articu- gens – do que Nicéia repre-
histórica e pessoal do Logos lada.
senta por muitos aspectos
em sua totalidade, se-
um horizonte objetivo
gue-se daí que “tudo o
– conserva o seu pró-
que de belo (kalôs) foi
prio carisma: é o mo-
dito por quem quer
mento em que o de-
que seja, pertence a
pósito da fé apostólica
nós, cristãos” (2 Apo-
se consolida na tradi-
logia 13,4).
ção da Igreja. É preci-
Justino, como se vê,
so reconhecer, além
formula com muita an-
disso, que a imposta-
tecipação a idéia do
ção do encontro entre
“cristianismo anôni-
cristianismo e cultura
mo”, ou implícito, de
nos primeiros três
que se fala em nossos
séculos deu frutos de-
dias. Sem integralis-
cisivos – a ponto de
mos radicais, deixando
jamais se poderem
à cultura grega o seu
esquecer – nos planos
caráter profano e con-
da linguagem, da re-
testando suas insufi-
cuperação das diver-
ciências e contradi-
sas culturas e de toda
ções, ele encontrou a
a história, da indivi-
forma de orientar tudo
para Cristo, fundando racio-
Orante
Catacumbas da Via Latina
dualização de uma
comum “alma cristã” no
nalmente a pretensão de uni- Para acolher a herança e o en- mundo e da formulação de
versalidade da religião cristã. sinamento da Igreja antiga é novas propostas de convi-
Se o antigo testamento tende preciso, de fato, superar dois vência humana.
para Cristo como a figura ten- riscos extremos, opostos entre Por isso, o recurso atento e
de para a própria realização, si. Há, de um lado, o risco de vigilante às origens da Igreja
a verdade grega tende para quem pretende buscar nas ori- continua muito útil, e até
Cristo e para o Evangelho, gens cristãs fórmulas idealiza- mesmo imprescindível, para
como a parte tende a unir-se das ou receitas imediatamente compreender e interpretar es-
ao todo.
utilizáveis no hoje da Igreja. ta fase, tão rica de fermentos
Eis porque ela não pode se O outro risco é o de quem e estímulos sobre as relações
opor à verdade evangélica, e não está disposto a aceitar o entre o evangelho e as cultu-
os cristãos podem beber nela “carisma das origens”.
ras do nosso tempo.
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8 DMS 2004
CARTA A DIOGNETO
V.1 Os cristãos, de fato, não se diferenciam dos
demais homens [...] 2Eles não habitam em ci-
Alguns Documentos dos
Padres da Igreja
dades próprias nem falam uma linguagem i-
nusitada; a vida que levam nada tem de estranho. que viveram e vivem segundo o Logos, são
3Sua doutrina não é fruto de considerações e cristãos, e impávidos e imperturbáveis.
elucubrações de pessoas curiosas, nem se fa-
zem promotores, como alguns, de qualquer te- JUSTINO, II APOLOGIA
oria humana. 4Habitando nas cidades gregas e VIII.1Sabemos que foram odiados e mortos
bárbaras, como coube a cada um, e uniformi- também os seguidores da doutrina estóica –
zando-se aos usos locais no que diz respeito como, de alguma maneira, também os poetas
ao vestuário, à alimentação e ao resto da vida [...] graças à semente do Logos que é inata em
quotidiana, mostram o caráter admirável e ex- toda estirpe humana [...]
traordinário do seu sistema de vida, como to-
dos dizem. 5Habitam na própria pátria, mas X.1A nossa doutrina apresenta-se, portanto, co-
como estrangeiros, participam de tudo como mo a mais esplêndida de qualquer doutrina hu-
cidadãos e tudo suportam como forasteiros; mana, porque para nós se manifestou o Logos
toda terra estrangeira é sua pátria e toda pátria total, Cristo, que para nós apareceu em corpo,
é terra estrangeira. 6Casam-se como todos, mente, alma. 2De fato, tudo o que filósofos e le-
geram filhos, mas não expõem os recém-nas- gisladores retamente enunciaram e encontra-
cidos. 7Têm em comum a mesa, mas não o ram aos poucos, é fruto de pesquisa e especu-
leito. 8Vivem na carne, mas não vivem segundo lação, graças a uma parcela de Logos. 3Mas,
a carne. 9Moram na terra mas são cidadãos uma vez que não conheceram o Logos em sua
do céu. 10Obedecem às leis estabelecidas, integridade, que é Cristo, muitas vezes também
e com sua vida superam as leis.
se contradisseram. 4Os que viveram antes de
Cristo e se esforçaram por investigar e indagar
JUSTINO, I APOLOGIA
sobre as coisas através da razão, segundo as
XLVI.2Foi-nos ensinado que Cristo é o primo- possibilidades humanas, foram arrastados dian-
gênito de Deus, e já demonstramos que Ele é te dos tribunais como ímpios e muito curiosos.
o Logos do qual foi participante todo o gênero Mais do que qualquer outro, Sócrates, foi acu-
humano. 3E aqueles que viveram segundo o sado das mesmas culpas que se nos imputam
Logos são cristãos, mesmo tendo sido julga- [...] 6[...] De fato, em Sócrates ninguém acredi-
dos como ateus, como, entre os gregos, Só- tou [...] Em Cristo, ao contrário, conhecido, ao
crates e Heráclito e outros como eles [...] 4Des- menos em parte, também por Sócrates (Cristo,
sa forma, também aqueles que nasceram antes com efeito, era e é o Logo que está em todas
e viveram não segundo o Logos, foram malva- as coisas [...]) acreditaram [...].
dos e inimigos de Cristo e assassinos de quan-
tos viviam segundo o Logos. Aqueles, porém, XIII.3Cada um, com efeito, percebendo em par-
te o que é congênito ao Logos divino espalha-
do em tudo, formulou teorias corretas 4[...] Por-
tanto, aquilo que de bom foi expresso por
quem quer que seja, pertence a nós cristãos.
[...] 5Todos os escritores, através da semente
inata do Logos, puderam obscuramente ver
a realidade. Mas, uma coisa é a semente e a
imitação, [...] outra é a coisa em si [...].
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9 DMS 2004
Povos, culturas e novos desafios
por Andrea Sartori
É a partir desses valores que, depois, são gera-
dos os direitos, isto é, aquilo que todo grupo tem
como imprescindíveis e irrenunciáveis, e que
influenciam o direito e a legislação decorrente.
Este processo, que parece complicadíssimo,
mas que na realidade é totalmente natural e
espontâneo, está na base daquilo que se chama
“cultura” de um grupo de indivíduos.
A cultura é o conjunto de valores ao redor dos
quais um determinado grupo de pessoas, que
chamamos de “povo”, reconhece e assume
como fundamentais na própria existência.
ALGUNS ACENOS
Daí deriva necessariamente a elaboração de
DE ANTROPOLOGIA CULTURAL
conceitos como “interno” e “externo”, “próxi-
E mbora no terceiro milênio, encontramo-nos mo” e “distante”, “identidade” e “alteridade”.
diante de velhos problemas e novos desafios. O que distingue os povos entre si é a diversa
Aquilo que antes era normal, agora já não o identidade cultural à qual se referem.
é; o que era absoluto agora é considerado
relativo.
O DIVERSO
O mundo que conhecíamos e que nos tinha Ao julgar a realidade e os acontecimentos é es-
plasmado era aquele “pequeno mundo” cons- pontâneo aplicar os nossos valores e catego-
truído pela nossa aldeia, pelo bairro ou pelo rias como se fossem os únicos capazes de ex-
centro habitado em que crescemos.
plicar a vida que corre ao nosso redor. E, quan-
O mundo em que vivíamos, hoje supera e faz do passamos a conhecer que alguém interpre-
esquecer os antigos limites que também tinham ta a mesma realidade segundo filtros culturais
dado uma marca definitiva à nossa identidade diferentes, começamos a classificar a sua in-
pessoal e coletiva na qual bebíamos para deduzir terpretação como “mais” ou “menos” em rela-
nossos valores.
ção à nossa. E dizemos que eles são “mais” ou
Valores. Sim, tudo parte daqui.
“menos” naturais, “mais” ou “menos” livres, etc.
Um grupo de indivíduos reconhece como justa O ponto de referência, porém, permanece sem-
uma determinada ação, um determinado concei- pre a nossa cultura, da qual em todo caso não
to. Ao redor desse reconhecimento coletivo nas- podemos e não devemos prescindir.
ce um consenso; esse consenso, que determina Essa atitude, se por um lado preserva a nossa
um “como nós” e um “diverso de nós”, gera o va- identidade cultural, por outro poderia levar a
lor do mesmo conceito. E assim temos “justiça”, perigosos preconceitos derivantes do fato de
“direito”, “liberdade” vividos como valores funda- ter assumido o nosso esquema como imutável
mentais e não mais como conceitos abstratos. e medida assiomática de comparação.
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9 DMS 2004
O passo seguinte deveria ser o de não mais clas- rar, de modo novo, identidade e alteridade,
sificar tudo o que vemos com as duas catego- especificidade e universalidade.
rias do “mais” e do “menos” mas de educar-nos Também o cristianismo deve inevitavelmente
a utilizar a categoria do “diverso”, antropologi- confrontar-se com um cenário cultural em rápi-
camente muito mais correta.
da evolução. O anúncio de uma Boa Nova,
Alguns povos podem ser mais ricos economi- que é para todos, deve ser capaz de entrar
camente, outros mais desenvolvidos tecnologi- dentro da vida de todos para fazer emergir a
camente, mas culturalmente todos os povos Vida que é para todos. É o que chamamos de
são diversos.
inculturação do Evangelho. É reviver a expe-
O mundo, visto nessa ótica, é um mosaico de riência mesma da Encarnação de Deus que,
identidades culturais.
para encontrar-nos, assumiu todos os nossos
esquemas, biológicos e culturais.
IDENTIDADE PLANETÁRIA
Trata-se, no fundo, de tornar viva a palavra do
DE TODA CULTURA
profeta Isaias: “Sobre o monte Sião, o Senhor
O mundo de hoje, porém, não é o “pequeno do universo vai preparar um banquete, prepa-
mundo” do qual partimos. Os espaços se con- rado com ricas comidas e vinhos preciosos,
traem, as notícias fazem parecer tudo à mão, para todas as nações do mundo. Improvisa-
eventos globais levam a reações às vezes mente, nesta montanha, fará desaparecer o
globalizantes, reações que nos levam a dividir véu que cobria todos os povos”.
o mundo em “quem está conosco” e “quem Podemos pensar que este véu seja a presun-
é contra nós”, sem considerar todas as possí- ção intrínseca a cada cultura pela qual as pró-
veis articulações intermediárias.
prias respostas são mais verdadeiras e mais
As culturas de hoje vêem-se diante da dificul- justas, e o desaparecimento deste véu seja a
dade, e, ao mesmo tempo, do desafio de re- queda das barreiras
formular as categorias de próximo/distante, culturais que ainda
interno/externo, específico/universal, idêntico/ impedem um ver-
outro, sem absolutizar os próprios valores cul- dadeiro crescimen-
turais e sem relativizá-los excessivamente, to na reciprocidade.
evitando centralismos presunçosos, mas con-
servando a identidade.
O desafio, portanto, é elabo-
rar uma nova identidade pla-
netária que possa ser expres-
sa através das várias identi-
dades culturais.
Estaremos, então, não diante
de uma cultura planetária,
mas de muitas culturas que
têm uma identidade planetá-
ria que interagem entre si e
que serão capazes de elabo-
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10 DMS 2004
Cultura e evangelização*
pelo Arcebispo Dom Thomas Menamparampil
Um estudo dos valores tribais
O termo “cultura” pode ter
vários significados. Com-
preende os costumes que ca-
racterizam um grupo social, a
herança de uma determinada
comunidade, significados, va-
lores, regulamentos, ações e
relações, crenças, leis, tradi-
ções e instituições, religiões,
ritos, idiomas, canções, dan-
ças, festas, estilos de vida,
artesanato, apetrechos, etc.
de uma sociedade.
A minha definição do termo
“cultura” colhe um pouco to-
dos os significados menciona-
dos acima, mas preferiria utili-
zar esta palavra, no presente
contexto, primeiramente em
referência aos traços caracte-
rísticos de uma comunidade
ou aos valores e tradições
através dos quais se exprime
a alma e o caráter profundo
de um povo.
em qualquer raça e comuni-
dade; do mesmo modo, po-
rém, que os indivíduos têm
preferências e preconceitos,
as comunidades têm priori-
dades, orientações mentais,
interesses, temores, ambições
e aversões. Possuem portan-
to uma visão própria do
mundo e uma mentalidade
própria.
Trabalhando na região nor-
deste da Índia, desejo apre-
sentar a cultura tribal com
suas características.
Diversidades culturais
Quando nos referimos a cultu-
ras tribais, somos inclinados a
pensar que sejam perfeita-
mente idênticas onde quer
que se encontrem. Não pode-
ria existir erro maior. Uma cul-
A igreja de Rajanagar
tura tribal diferencia-se de
uma outra assim como acon-
tece para uma civilização.
Não podemos negar, contu-
do, que as culturas tribais
tenham muitas características
em comum, algumas das
quais nos preparamos para
examinar em profundidade.
No centro, a comunidade
Na sociedade tribal tudo é fei-
to em comunidade. Os pro-
gramas são desenhados du-
rante os encontros coletivos
da aldeia nos quais tudo se
discute chegando-se às deci-
sões com o consenso geral.
Qualquer indivíduo tem o di-
reito de exprimir a própria opi-
nião sobre qualquer assunto,
quer se trate da derrubada
de arvores, da semeadura
A alma de uma comunidade
Como nos podemos aproxi-
mar da alma de uma comuni-
dade? Como é possível iden-
tificar o seu ser profundo?
A alma de um povo é revelada
antes de tudo pelos valores
nos quais crê. É verdade que
a natureza humana é idêntica
* Trechos tirados de Thomas
Menamparampil, “Thoughts on
Evangelization”, cap. III
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3.10 Page 30

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SchedPORT4.qxd 21-01-2004 12:43 Pagina 30
10 DMS 2004
ou da colheita, da imposição
de multas ou da declaração
de tabu.
tam grandes atrações e são,
portanto, muito populares.
Será, portanto, fácil organizar
passagem, direito de recolher
água, de cortar bambu, de
colher um fruto ou, até mes-
Alguns desses encontros de acampamentos, conferências, mo, direito de utilizá-la parcial-
aldeia são comparáveis a um associações e grupos de mente, se esta estiver inutili-
verdadeiro e próprio parla-
mento. Através do intercâm-
bio recíproco, a comunidade
oração.
Esforço maior será necessá-
rio, porém, para transmitir o
zada.
Frases tipo “Proibido ultrapas-
consegue pensar junto, bus- hábito da oração pessoal e fa- sar”, “Cuidado com o cão” ou
car e encontrar soluções co- miliar, para difundir no indiví- “Proibido o ingresso” não têm
muns. Conseqüentemente, as
decisões tomadas no interior
da comunidade têm uma tal
duo a necessidade de buscar
um guia espiritual e fazer-lhe
entender a importância de
qualquer significado numa so-
ciedade tribal.
A mais bela virtude tribal é o
força e validade que qualquer se construírem convicções desejo de partilha. O que po-
voz dissonante, sobretudo pessoais.
de ser economizado deve ser
quando vinda de fora, não
pode ser aceita.
A orientação comunitária faz
A dimensão social da pro-
priedade privada
compartilhado. Na sociedade
tribal tradicional, a estação da
abundância é a estação da
com que os povos tribais A sociedade tribal reconhece colheita. Não falta generosida-
prefiram rituais religiosos de o direito à propriedade priva- de nesse período. As festas e
tipo coletivo. Um Jingiaseng
ou um Sabha encontrarão
muito mais interesse numa
da, mas não se trata de um di-
reito absoluto. A comunidade
goza, de fato, de alguns direi-
celebrações do período indi-
cam a vontade do indivíduo
de compartilhar com o resto
hora de meditação individual. tos sobre a terra de proprie- da comunidade aquilo que
Encontros, congressos e jubi- dade individual ou familiar; tais tem em excesso ou o que crê
leus, assim como as festivida-
des e solenidades, represen-
direitos variam de tribo para
tribo e podem ser: direito de
que tenha em excesso.
Assim sendo, na sociedade
tribal há o risco de se ter pou-
ca evidência, mas ao mesmo
tempo, não existem mendi-
cantes, indigentes ou pesso-
as abandonadas. O forte de-
sejo de partilha do membro da
sociedade tribal torna-o extre-
mamente hospitaleiro mas,
ao mesmo tempo, faz com
que não tenha sucesso nos
negócios.
Uma lei importante na partilha:
o homem realmente necessi-
tado tem um direito que deve
ser respeitado.
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Como dito anteriormente, a
propriedade individual da terra
nunca é total; do mesmo
modo, não é imediata a sua
separação em relação a ela e,
por isso, os indivíduos têm
pretensões sobre a terra dos
outros.
Na sociedade tribal estas
normas foram desenvolvidas
para proteger os fracos e os
pobres enquanto os ricos e
poderosos jamais poderiam
acumular muita terra nas pró-
prias mãos, como acontece
nas sociedades não-tribais e,
do mesmo modo, os fracos
não haveriam de perder o que
possuíssem.
Sentido de igualdade
Já vimos anteriormente como
as sociedades tribais diferem
umas das outras, algumas ab-
solutamente democráticas e
outras que tendem à monar-
quia; não há dúvidas, porém,
de que os valores democráti-
cos dominam a vida tribal em
seu conjunto. Nas discussões
comunitárias, cada um pode
exprimir a própria opinião, que
é sempre levada em conta; há
o reconhecimento geral da
dignidade de uma pessoa, ri-
ca ou pobre, muito dotada ou
limitada; as mulheres são con-
sideradas com paridade em
relação aos homens; as crian-
ças são tratadas como pe-
quenos adultos e, em vez de
serem repreendidas ou puni-
das, são persuadidas e orien-
tadas.
Ninguém é tratado como uma
“não entidade”, marginalizado
ou ignorado como acontece
com freqüência nas socieda-
des mais sofisticadas. Uma
tribo é como se fosse real-
mente uma família alargada
onde uma pessoa recebe to-
das as atenções e cuidados
que receberia em família. Nes-
sa atmosfera, o indivíduo ad-
quire um sentido de respeito
por si próprio, e até o agricul-
tor analfabeto está conscien-
te da própria dignidade, não
teme aproximar-se dos de-
mais e faz suas afirmações
sem embaraços, movendo-se
entre as pessoas com grande
familiaridade.
A antiga sociedade tribal não
aceitava o acúmulo de riqueza
nas mãos de poucos; se al-
guém se tornasse rico deveria
buscar reconhecimentos es-
peciais através de festas mui-
to custosas (por exemplo, ofe-
recendo arroz a toda a aldeia),
que lhe teria conferido o re-
conhecimento buscado, mas
o teria tornado novamente po-
bre como os demais. A comu-
nidade tribal, em geral, evitava
que surgissem classes domi-
nantes ou classes submissas
e, portanto, os relativos com-
plexos de superioridade/infe-
rioridade. Nos tempos moder-
nos, contudo, a situação foi-
se mudando rapidamente.
Honestidade
A honestidade é um valor ab-
soluto na sociedade tribal. Ne-
la, as portas das habitações
não eram fechadas pois
não se temiam os furtos. Os
celeiros, que com freqüência
estavam fora da aldeia pelo
temor dos incêndios, jamais
eram assaltados. A proprieda-
de alheia era considerada
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sagrada: se alguém tivesse
cortado um bambu, deixan-
do-o pelo caminho para pegá-
lo mais tarde, tê-lo-ia encon-
trado no mesmo lugar.
Este sentido de honestidade
custa caro aos povos tribais
no momento em que entram
em contato com a sociedade
externa. Não conseguem
entender, de fato, como um
indivíduo possa aproveitar-se
do seu próximo.
A dignidade do trabalho
A principal preocupação de
uma comunidade tribal é o
“trabalho”, normalmente nos
campos.
Diversamente das sociedades
de classes, não existe grupo
ou indivíduo que não trabalhe
enquanto não existe trabalho
que fira a dignidade de al-
guém. Ninguém tem medo de
sujar as mãos e o trabalho de
grupo é um prazer.
A vida tribal inteira é construída
ao redor do ritmo do trabalho
de acordo com a estação.
Não existe na aldeia alguém
que seja preguiçoso na esta-
ção da semeadura ou da co-
lheita. Em algumas tribos, até
os estudantes universitários e
os líderes políticos estão pron-
tos para dar a própria contri-
buição nos campos, caso
estejam na aldeia durante
a estação de trabalho.
O amor dos pais pelos filhos
Os pais, nas sociedades tri-
bais, tratam seus filhos como
jovens adultos. Convencem-
nos e os fazem raciocinar sem
jamais forçá-los à sua vonta-
de. Dão motivos para conven-
cer e não impõem castigos
para obrigá-los.
Esse modo de relacionar-se
pode parecer frágil para al-
guém de fora da sociedade
tribal, mas pode ser mais
pedagógico e cristão do que
outros métodos. O poder
persuasivo do amor não deve
ser subestimado. Os pais na
sociedade tribal conseguem
comunicar-se com seus filhos
de modo invejável e obtêm a
maior parte do que querem.
O respeito pelos anciãos
A norma suprema na socieda-
de tribal é a sabedoria dos
anciãos.
As pessoas mais velhas são
respeitadas e suas opiniões le-
vadas em grande consideração.
Se faltarem as persuasões
pessoais, pode-se apelar à
sabedoria dos membros mais
velhos da comunidade e pe-
dir-lhes ajuda, e tudo pode
funcionar como por magia.
Conclusões
Limitei-me ao estudo da res-
ponsabilidade do educador na
execução da própria missão,
de modo que seja coerente
com o ser íntimo da popula-
ção tribal e do seu dever
de preservar e reforçar os ge-
nuínos valores tribais, que
têm validade permanente.
Isso porque quando salvaste
a alma da comunidade, sal-
vaste tudo.
Quando uma tribo é educada
a partir de seu interior, edu-
cam-se todos os níveis e
dimensões da sua cultura.
As canções tornam-se hinos
de louvor ao Senhor; a arte e
as formas artísticas refletem a
alegria de Deus; as estruturas
sociais e as relações em nível
de família e de comunidade
tornam-se dignas da família
de Deus; as leis, as tradições
e as práticas encarnam os
valores éticos.
Esse modo de educar inau-
gura o dia em que se realizará
a profecia de Jeremias: “Esta
será a aliança que concluirei
com a casa de Israel depois
daqueles dias, diz o Senhor:
porei a minha lei no seu espí-
rito, haverei de escrevê-la no
seu coração. Então, eu serei
o seu Deus e ele o meu povo.
Não deverão mais se instruir
uns aos outros, dizendo: re-
conhecei o Senhor, porque
todos me conhecerão, desde
o menor até o maior, diz o
Senhor; pois eu perdoarei a
sua iniqüidade e não me re-
cordarei mais do seu pecado”
(Jeremias 31,33-34).
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