Salesianos 2015 %28pt%29


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Salesianos 2015
Editorial team Salesian 2015
Don Filiberto Gonzàlez Plasencia sdb
Consigliere per la Comunicazione Sociale
Membri del Dicastero della CS
Sig Ephrem Santos sdb - coordinatore
e Don Giuseppe Pelizza sdb
Traduttori
Sig.ra. Deborah Contratto (Italiano)
Don Franco Pirisi sdb (Italiano)
Don Julian Fox sdb (Inglese)
Don Jacob Iruppakkaattu sdb (Inglese)
Don Arcadio Cuadrado sdb (Spagnolo)
Don Placide Carava sdb (Francese)
Don José Antenor Velho sdb (Portoghese)
Sig. Zdzislaw Brnk sdb (Polacco)
Si ringraziano
Tutti gli autori di articoli e i fotografi:
Andrea Cherchi, i collaboratori di ANS
per la riscrittura, il personale
di CCS - Madrid e il personale
della Elledici – Torino.
Impaginazione
Maison adv snc (Torino)
Stampa
micrograf, Mappano (TO), Italia
EGL, Belo Horizonte, Brazil
Poligrafia Salezjanska, Krakow, Polonia
SIGA (Salesian Institute of Graphic Arts), Chennai, India
Sociedad Salesiana Editorial Don Bosco, La Paz, Bolivia
GRAFISUR, S.L., Madrid, Spagna
Editrice SDB
Edizione extra commerciale
Direzione Generale Opere Don Bosco,
Via della Pisana 1111,
Casella Postale 18333,
00163 Roma-Bravetta, Italia
Per ulteriori informazioni:
redazionerivistesdb@sdb.org
www.sdb.org

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8 Espiritualidade
empenhada
22 Espiritualidade
alegre
52 Espiritualidade
celebrada
72 Espiritualidade
missionária
84 Espiritualidade
eclesial

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E

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E
editorial
Queridos amigos e amigas,
É com grande alegria que lhes apresento a revista SALESIANOS
2015 relativa ao terceiro ano de preparação ao Bicentenário
de Dom Bosco.
O primeiro ano de preparação foi dedicado à história
de Dom Bosco, o segundo ano à sua pedagogia, e este à sua
espiritualidade. Uma espiritualidade que transcende o tempo
e o espaço e chega até nós como um dom e uma proposta
de felicidade. Encerramos, agora, a preparação
e o aprofundamento destes três importantes e inseparáveis
elementos da vida de Dom Bosco.
Ao longo da revista encontram-se expressões concretas da
espiritualidade que Dom Bosco deixou como herança à sua
Família Salesiana. Existem modos específicos de relacionarse
com Deus, com os outros, com o ambiente social e com a
natureza, sempre sob o impulso do Espírito Santo. Por isso,
chama-se espiritualidade. Estas expressões são como as cores,
que unidas à forma, conseguem criar uma obra de arte, um
rosto, uma personalidade com identidade própria. Os mesmos
elementos de santidade vividos por outros santos foram
sistematizados por Dom Bosco de maneira muito especial,
dando lugar à espiritualidade salesiana de Dom Bosco.
O elemento central desta espiritualidade é a caridade pastoral,
e ao seu redor gravitam todos os outros: a graça de unidade
como um movimento único de caridade para com Deus e para
com o próximo; a oração motivada pela glória de Deus e pela
salvação das almas, feita de modo simples, juvenil, popular,
alegre e relacionado com o estilo de vida; a missão juvenil e
popular como lugar de encontro com Deus; a vida ordinária
vivida com otimismo, alegria e esperança; a bondade educativa
que abre as portas do coração a Deus e ao próximo; o trabalho
constante e a temperança alegre; o amor ao Papa e à Igreja,
e a confiança filial em Maria.
Os artigos que vão ler a seguir são apenas um pequeno
exemplo do rico patrimônio humano e espiritual transmitido
em herança por Dm Bosco a um vasto movimento de pessoas
que desejam fazer o bem aos jovens, sobretudo aos mais
carentes. Sintam-se cordialmente convidados a participar
e a construir para eles e com eles um futuro melhor.
Cordialmente,
P. Filiberto González Plasencia

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Salesiani 2015

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Reitor-Mor
DOM BOSCO... um Santo mais atual do que nunca!
Já se passaram 200 anos desde o nascimento daquele garotinho, filho de agricultores, que seria
conhecido, mais tarde, como o nosso Dom Bosco; e a sua compreensão da educação, a sua es-
piritualidade e sua aventura humana continuam a fascinar muitas pessoas, entre as quais aquelas
que foram a Família Salesiana e aqueles que, na Igreja e na sociedade, se aproximam da sua figura.
Foi o Papa Paulo VI quem, por ocasião dos 150 anos do seu nascimento disse que «para dar um
Pai e um Mestre à juventude operária e estudiosa dos novos tempos, iniciados na elevação das ca-
madas populares, nos desígnios arcanos da sua Providência, Deus escolheu um filho dos campos,
descendente de uma família humilíssima que – a olhar as coisas com olhar superficial – não tinha,
certamente, perspectivas fáceis na vida. Dá-lhe uma mãe muito virtuosa, enriquece-o de grande
inteligência, de indômita vontade, de robustez física, desejo de saber, amor inato aos coetâneos,
ânsia de apostolado, fortaleza nas adversidades e nas provações. Por caminhos difíceis, depois,
orienta-o para o Sacerdócio, comunicando-lhe a paixão das almas, especialmente, juvenis: “Da
mihi animas, cetera tolle”» (Bênção do Santo Padre pelo 150º aniversário do nascimento de São
João Bosco, 30 de junho de 1965).
Este foi Dom Bosco, para nós que celebramos neste ano de 2015 o Bicentenário do seu nasci-
mento. Esta revista, que chega agora às mãos dos leitores, foi pensada para ser apresentada por
ocasião do Bicentenário, no qual se aprofundou o conhecimento histórico de Dom Bosco, a sua
pedagogia e a sua espiritualidade. A esta, seguirá logo outra publicação, que deseja ser uma mo-
desta exposição do que se viveu neste ano jubilar salesiano.
Isso porque este ano que vivemos manifestou que Dom Bosco continua a ser, apesar dos 200 anos
passados desde o seu nascimento, um sacerdote educador sem tempo, ‘atemporal!’, sempre atual,
‘mais atual do que nunca’, e porque encontrou nos jovens a essência dos seus sonhos, da sua vida
R e do seu trabalho. Ele soube ler os sinais dos tempos que lhe coube viver, em particular, a mensa-
gem de Deus aos mais pobres, àqueles que, com as palavras do Papa Francisco, chamaríamos hoje
de os “descartáveis”.
Aquele que é hoje para a Igreja Universal o “Pai e Mestre da Juventude” mirava sempre o coração
dos jovens, procurando ajudá-los a encontrar o próprio lugar no mundo e aproximar o coração
deles a Deus.
Uma vez que os jovens foram o motivo de suas inquietudes, de suas preocupações, de todos os
seus pensamentos, os próprios jovens de hoje, no mundo todo, sentem que Dom Bosco é deles.
O amor pelos seus rapazes era cheio de gestos concretos e oportunos. Interessava-lhe a vida deles,
a vida de todos e de cada um, e se entregara totalmente a eles, à busca do seu bem espiritual e
material, com todas as suas forças, ‘até o último respiro’!. Bem sabemos que em Dom Bosco este
serviço aos jovens foi a resposta generosa e completa ao chamado recebido de Deus.
Hoje, somos muitos, religiosos, religiosas e leigos, que somos e nos sentimos chamados a encarnar
Dom Bosco, transmitindo o seu espírito, e chamados a educar com o seu mesmo coração. E é por
isso que, com olhar de fé e com esperança, nos arriscamos a dizer que Dom Bosco continua vivo
e, muitos de nós, amigos e amigas de Dom Bosco nos empenhamos em manter viva a missão
histórica que ele nos deixou.
Desejo de todo o coração que este homem de Deus, santo na Igreja, que ainda hoje faz enamorar
de Jesus e de Maria Auxiliadora, como também dos jovens, continue a sustentar-nos na existência
e na ação educativa que ele viveu.
Muito cordialmente,
Ángel Fernandez Artime, SDB
Reitor-Mor

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8

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Espiritualidade
9
empenhada

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CHINA
10

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Mediante este musical, a Palavra de Deus
abriu caminho em muitos corações
11
A relação de amizade
amadurecida no grupo
é um grande tesouro
dado pela graça de Deus.

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CINA
A herança de Dom Bosco - um musical de jovens
Amor pelo Rosário II” é uma obra teatral original, inteiramente diri-
gida e atuada pelos jovens do Vineyard Youth Theatre da igreja
de Santo Antônio. Trata-se da segunda parte de outro musical,
“Amor pelo Rosário I”, realizado em 2011. O título do musical
recorda que o amor de Deus é como as contas de um rosário
com a sua corrente. É a história da batalha entre o bem e o
mal de uma doente de câncer terminal. A mulher vive com
fé, mesmo nos momentos difíceis. E o seu modo de viver in-
fluencia quem está ao seu lado.
Os jovens do grupo teatral trabalharam em sistema de
multitarefas. Graças a diversas atividades, juntaram o
dinheiro para financiar o musical. Escreveram o texto,
compraram as contas para os rosários e indicaram
alguns membros para a coleta de fundos (com estande
12
em várias paróquias), pensaram na logística, na con-
fecção dos cenários e dos objetos de cena. O jovem
salesiano John Baptist Lou, membro do grupo ainda
antes de entrar na Congregação Salesiana, escreveu
os textos das canções e deu aos atores uma diretriz
espiritual. O musical foi encenado com grande suces-
so no Sheung Wan Civic Centre e, graças às músicas,
às canções, às récitas, a Palavra de Deus pôde entrar
em centenas de almas. A vida de quem participou mu-
dou, graças à elevada componente evangelizadora do
musical.
Ho Man Ho, vice-diretor e ator do grupo, afir-
ma: “Desde 2007, eu sonhava com este musical. Como
eu, acredito que quem estava no palco tinha o coração
cheio de alegria. Durante a preparação e organização
foram muitos os obstáculos que precisamos superar.
Parecia também que a minha presença não era im-
portante. Naquele momento fui eu mesmo que me dei
um significado. A partilha espiritual fez-me refletir
sobre por que eu queria produzir este musical e so-
bre a minha relação com Deus. Havia um diálogo no
texto que dizia: ‘Se Deus chama alguém, nada pode ser
de obstáculo. Ao mesmo tempo, se alguém responde
ao apelo de Deus, nada pode ser de obstáculo’. Como
Deus me pedira para participar na realização deste
musical, eu devia empenhar-me ao máximo”.
Kwok Ming Ho, ator protagonista do musical,
diz: “Todos nós trabalhamos em sistema de multita-
refas. Além de atuar, também ajudei na redação do
texto, na confecção dos rosários a serem vendidos,
na logística, na criação dos cenários e dos objetos de
cena. O processo de produção foi difícil. Devo dizer
que no início o processo não foi sistemático e que a
organização melhorou com o tempo. Estas experiên-
cias ensinaram-me a ser mais flexível, mais rápido nas
respostas, a usar melhor o tempo à minha disposição e
a administrar as minhas capacidades. Apesar das mui-
tas dificuldades, não deixamos de rezar, pedindo para
jamais perdermos a paixão pelo nosso trabalho, para
estarmos sempre convictos daquilo que estávamos
fazendo e termos uma atitude positiva na resolução

2.4 Page 14

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CHINA
A herança de Dom Bosco - um musical de jovens
dos problemas. Em minha vida espiritual, aprendi que
devo entregar-me mais ao Espírito Santo, em qual-
quer situação”.
Fong Chun Ho frequentava a quinta série
quando, pela primeira vez, começou a participar do
musical. Agora que está no primeiro ano do ensino
médio, foi batizado. Disse-nos: “Foi uma bela expe-
riência ter papéis totalmente diferentes entre si como,
por exemplo, o anjo, o diabo, o gângster. Foi tocante
também em nível espiritual. Agora, posso dizer que
aprendi muito sobre a minha fé, graças aos rapazes e
moças mais velhos do que eu, por ter aprendido a as-
sumir a responsabilidade dos membros mais jovens,
a ter uma vontade maior de ajudar o próximo e de
rezar”.
Lee Cheuk Lung, que teve um papel de apoio
no musical, disse: “Não sendo um dos protagonistas,
dediquei grande parte do tempo a outras atividades.
Fomos capazes de cobrir sozinhos todas as despesas;
não queríamos gastar dinheiro inutilmente. Além dis-
so, muitas vezes, nos reunimos para confeccionar os
rosários, mas, enquanto os fazíamos, também rezáva-
mos. Isso nos ajudou a nos sentirmos realmente parti-
cipantes de um grupo. O musical tinha como centro o
nosso sentimento de perda, de dor e sofrimento, sobre
a vida e a morte, temas muito importantes para nós.
O musical ajudou-me realmente a refletir sobre estes
temas em nível pessoal”.
Tsang Long Ting, pianista, afirma: “Comecei
a participar do grupo desde criança, no início apenas
ocasionalmente. Alguém soube que eu tocava piano e
me pediu para participar do musical. Admito ter ficado
muito ansioso. Se houvesse erros, todos perceberiam,
porque a atuação era sempre ao vivo. Não podia fazer
outra coisa senão limitar a ansiedade entregando-me
a Deus e pedindo-lhe que eu pudesse fazer bem a min-
ha tarefa, pois o que estávamos fazendo era justamen-
te para a sua maior glória”.
As palavras de Ng Chau Yin, atriz protagonista:
“Amo este grupo. Fizemos muitas experiências juntos,
e todas elas reforçaram as ligações entre nós. Esta
ligação jamais se alterou apesar dos compromissos
de cada um, no trabalho ou na escola. Considero esta
relação de grupo um grande tesouro. Não só, apren-
di que com a graça de Deus e confiando n’Ele, posso
superar todas as dificuldades e resolver os meus pro-
blemas”.
13
Cheung King Yip, diretor da coreografia e
protestante, disse “Creio sem dúvida que Deus estava
dando uma mão ao nosso grupo. Durante o segundo
espetáculo houve um problema e o equipamento de
áudio improvisamente parou de funcionar. Eu era
o chefe naquele momento e quem melhor conhecia
a ordem dos passos, mas, naquele instante, não me
lembrava de mais nada. Um dos bailarinos começou,
então, a bater as mãos no tempo da música, fazendo
com que todos recomeçassem a dançar. E, depois de
alguns momentos, também os músicos com seus in-
strumentos, começaram a seguir-nos. Foi então que vi
realmente a presença de Deus em nosso musical, que
levava realmente a sério, não só o espetáculo como
todo o nosso grupo. Deus nos ama, e nós vemos os
frutos disso”.

2.5 Page 15

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Áustria
A cura di Leo Dhanraj
14
Udme Paleengtercoiastes
«Sede alegres: a vossa alegria seja genuína
e venha de uma consciência livre do pecado».
Dom Bosco

2.6 Page 16

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ÁUSTRIA
Jovens de todas as presenças salesianas da Áustria
reuniram-se em Unterwaltersdorf (Viena), para ce-
lebrar os 100 anos da presença salesiana, aprovei-
tando também para celebrar nessa ocasião o ano
Bicentenário do Nascimento de Dom Bosco. Par-
ticiparam cerca de 220 jovens, vindos de todos os
nossos centros juvenis, paróquias, oratórios, escolas
e pensionatos para estudantes e operários. Um dia
abençoado duas vezes para a alegria dos salesianos
austríacos e dos jovens reunidos. A equipe de Pasto-
ral Juvenil organizou o evento, para encontrar-se,
estar juntos, jogar, trabalhar, conhecer-se e reza-
rem uns pelos outros. O evento Pfingst – ou seja,
Pentecostes – foi coordenado pelo padre Herbert e
sua equipe, coadjuvados pelos padres Rudolf Osan-
ger e Petrus Obermüller, ambos salesianos, com
os demais salesianos, rodeados por numerosos jo-
vens. Este evento de alegria especial durou 2 dias.
Dois dias totalmente cheios de atividades como
esportes, futebol e o estupendo logo do evento
Pfingst para preencher, atividades de Mehndi, músi-
ca, dança e canto, um concerto ao vivo, atividades
espirituais, sem esquecer a envolvente noite do fogo.
Foi organizado também um torneio de futebol entre
as diversas equipes, vindas de todas as presenças sa-
lesianas da Áustria. No final do segundo dia, o padre
Rudolf Osanger entregou os certificados de mérito
aos vencedores dos vários esportes e jogos. “Foi um
verdadeiro festival dos jovens, especialmente para os
jovens”, como afirmou ao final do encontro.
Com a bênção de Dom Bosco, seguindo o seu exemplo
15
e as suas palavras, servimos realmente o Senhor em
santa alegria. E vimos esta santa alegria também no
rosto de cada jovem.

2.7 Page 17

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FILIPINas
Texto: Bernard P. Nolasco
16 Espiritualidade salesiana
e acampamentos de férias
Os acampamentos de férias ajudam os jovens a passa-
rem o tempo livre de modo inteligente, desenvolven-
do-se na mente e no espírito. Enquanto se divertem
ao ar livre, os jovens podem aprimorar os talentos e
capacidades que Deus lhes deu para o bem comum.
Os acampamentos salesianos de jovens continuam a
oferecer a oportunidade de se enriquecerem compre-
endendo que cada um deles é capaz de enfrentar as
dificuldades que a vida lhes oferece.
Mantendo a sua tradição formativa, em todas as suas
realidades, como escolas, oratórios e paróquias, os Sa-
lesianos de Dom Bosco da Inspetoria Filipinas Norte
(FIN) continuam a organizar todos os anos os acam-
pamentos de férias nos quais os jovens expressam a
própria alegria e o seu otimismo de estarem com Dom
Bosco. Com a ajuda dos jovens mais velhos, os salesia-
nos desenvolvem metodologias que ajudam os jovens
a apreciarem a própria idade, guiam-nos no uso de
suas energias de adolescentes de modo positivo e, ao
mesmo tempo, preparam-nos para uma vida cristã
significativa e responsável.
Em preparação ao Bicentenário do Nascimento de
Dom Bosco em 2015, a Inspetoria FIN pensou em
realizar para o verão de 2014 um grande acampa-
mento em nível inspetorial. Na fase de idealização e
programação, o padre Guanencio Carandang, coor-
denador da Comissão de Jovens Ministrantes (CYM),

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filipinas
tomou como inspiração o “Código dos Campeões” re-
digido pelo padre Armand Robleza e usou-o como es-
quema básico do acampamento. Seguindo o exemplo
de São João Bosco, campeão da juventude, o acam-
pamento tinha como finalidade que cada jovem se
inspirasse no pai, mestre e amigo da juventude, com
a esperança de ser campeão para as pessoas que en-
contra todos os dias, em particular os seus coetâneos.
Champoree (nome do acampamento, entre Campeão
e Jamboree) foi capaz de oferecer aos mais de 400 jo-
vens uma vasta gama de atividades recreativas e espi-
rituais, que fez deles campeões uns para os outros. As
equipes nas quais os jovens estavam divididos toma-
ram os nomes de jovens bem-aventurados da Igreja
(Sávio, Tarcísio, Namuncurá, Vicuña, Calungsod, Go-
retti, Kesy e Luwanga); em cada equipe havia jovens
das diversas casas salesianas. O objetivo das ativida-
des não era desenvolver a competição, mas aumentar
em todos o desejo de bondade para serem campeões
de santidade. Nos momentos de reflexão orientada,
pessoal e de grupo, deram-se várias discussões e vá-
rios momentos de partilha para favorecer a assimila-
ção e integração de cada atividade na vida pessoal e
cotidiana.
Os jovens do DBTI de Tarlac, DBA de Pampanga, DBTC
de Mandaluyong, DBC de Canlubang, Caritas DB Scho-
ol de Santa Rosa, das paróquias Domingos Sávio, Il-
defonso, Maria Auxiliadora de Mayapa, Dom Bosco
de Santa Rosa, Dom Bosco de Batualo, Dom Bosco de
Calauan, gozaram da companhia de jovens da própria
idade por quatro dias, rezando, cantando, dançando e
apresentando peças teatrais, mas, sobretudo, criando
novas amizades. Procuraram decodificar o “Código
dos Campeões” em qualquer condição meteorológica,
17
entre muitíssimas atividades que exigiam total coope-
ração e dedicação de cada participante. Em todas as
atividades do acampamento, os jovens deram o me-
lhor de si para serem verdadeiros campeões: cultivar
o próprio caráter, ter um coração de ouro, ter uma
missão a cumprir, manter o equilíbrio, dar prioridade
ao Espírito.
Champoree aconteceu de 1º a 4 de maio, dois dias
antes da festa de São Domingos Sávio (6 de maio),
verdadeiro campeão para todos os jovens. E quando
a cada participante foi pedido para compartilhar com
os outros as belas coisas aprendidas nos quatro dias
de acampamento, cada um sabia que podia citar como
exemplo este jovem de 15 anos que bem exprimia
como viver e pôr em prática o código dos campeões
aprendido naqueles dias.

2.9 Page 19

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méxico
Movimento Dom Bosco
Movido a Rodas
18
O Movimento Dom Bosco Movido a Rodas vive o
Sistema Preventivo salesiano ajudando os jovens
menos afortunados a recuperaram a alegria e a
esperança na vida.
Texto: Hugo Orozco

2.10 Page 20

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méxico
D epois do acidente era quase como se tivesse deixado de viver,
meus amigos estavam cansados de visitar-me, minha família
estava cansada de fazer tudo por mim, e eu estava numa
cama, incapaz de mover-me. Tinha raiva da vida, de Deus,
de mim mesmo. Pensava estar morto mesmo ainda estando
vivo. Até quando, certo dia, um padre veio visitarme
e perguntoume por que estava deitado se estava vivo.
A verdade é que tinha raiva por dentro. Mas Dom Bosco
surgiu na minha vida movido a rodas, fez-me levantar, deu-
me novamente a vida, deu-me forças para ser independente.”
19
A experiência de ter sido vítima de um acidente é
sempre algo que marca a vida: de quem sofre e de
quem está bem. Ainda mais se há consequências irre-
versíveis como danos à coluna vertebral. Ajudas, rea-
bilitação e apoio adequados às pessoas que não são
mais capazes de caminhar ou de permanecer em pé
de modo autônomo, às vezes não são nem adequados
nem apropriados. A situação torna-se ainda mais dra-
mática quando não há um suficiente apoio econômico
ou de reabilitação. Há jovens de 10 a 30 anos que
jazem “escondidos”, “reclusos” nos próprios leitos, em
suas casas, com nenhuma alternativa à deficiência de
que são escravos.
Sahuayo é uma cidade de média dimensão, na região
de Michoacán, no México. Por mais de 50 anos, os
Salesianos de Dom Bosco estão presentes com a sua
obra social e educativa. Após o Capítulo Geral 26, no
qual se pedia para encontrar novas fronteiras para
o carisma de Dom Bosco, o padre Jaime Reyes Reta-
na, SDB, membro da comunidade local, iniciou aquele
que, anos depois, seria chamado de Movimento Dom
Bosco Movido a Rodas. Algo totalmente novo e do
qual havia urgente necessidade. Durante os últimos
dez anos foram muitas as circunstâncias que leva-
ram o padre Jaime Reyes a estudar o assunto, entrar
em contato com muitas pessoas e envolvê-las sem-
pre mais. Hoje, o Movimento Dom Bosco Movido a
Rodas é uma associação para todos os efeitos; conta
com mais de 800 simpatizantes em diversas cidades
e também é dotado de uma oficina para a construção
de cadeiras de rodas. Sua missão principal é cuidar de
crianças e jovens em condições extremas de pobreza
que têm deficiências motoras, convidá-los a partilha-
rem seus problemas com outras pessoas a fim de se
poder encontrar para eles os meios necessários de
desenvolvimento e integração na sociedade.

3 Pages 21-30

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3.1 Page 21

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méxico
A experiência da recuperação de suas vidas é logo vis-
ta pelos seus olhares. São todos jovens com os mes-
mos desejos, a necessidade de ter amigos, de sentir-se
parte de um grupo, participar de esportes, trabalhar,
socializar-se, tocar algum instrumento, dançar. Para
eles, reaver a independência social e viver em socieda-
de também significa voltar a dar um verdadeiro senti-
do às suas existências. Se a tristeza e o choque de ter
perdido as habilidades motoras os tinham imergido
numa escura e profunda depressão, que envolvia a
própria vida interior, eis que chega agora a felicidade
de poder encontrar novas oportunidades de vida. O
esforço que envolve a luta e a constância envolve bem
mais o seu otimismo, a sua vontade de viver, a alegria
de encontrar outras pessoas e, portanto, a possibilida-
de de “fazer paz com Deus”.
20
É Dom Bosco quem inspira a busca de jovens que
estão um pouco escondidos e, obviamente, ficamos
felizes de poder recuperar a vida de cada um deles,
ainda mais quando se sentisse totalmente perdido.
Estamos também convencidos de que ninguém está
ao seguro quando se vê sozinho; sempre precisamos
dos outros. Por isso, acreditamos na responsabilidade
e no envolvimento de todos os cidadãos na vida social
de todos os dias.
No Movimento Dom Bosco Movido a Rodas, comparti-
lhamos os valores de uma espiritualidade que nos foi
inspirada pela ação de Dom Bosco e dos salesianos:
espírito de família, comunhão, trabalho, caridade, res-
ponsabilidade, solidariedade e liberdade.
O sentimento de proximidade do Sistema Preventivo
de Dom Bosco é uma parte muito importante do nosso
Movimento.
Padre Jaime e alguns jovens voluntários aprenderam
como empurrar as cadeiras de rodas não só como ex-
pressão de solidariedade, mas como desejo de estar

3.2 Page 22

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méxico
No movimento, são compartilhados os valores da
espiritualidade salesiana até conseguir uma oficina onde
se constroem cadeiras de rodas para os mais pobres.
próximo de quem é ajudado. Vão com eles nas cadei-
ras de rodas a qualquer lugar, aos encontros, à Missa,
aos jogos, aos bailes, aonde quer que alguém precise
ir. A Semana Santa foi uma grande oportunidade de
renovação da própria fé para os membros do Movi-
mento. O Movimento Dom Bosco Movido a Rodas,
como o grão de mostarda do Evangelho, ainda é uma
pequena realidade, mas é o início de novos horizontes
que oferecem sombra, refúgio, serenidade e tranquili-
dade a um bom número de jovens. Como nos tempos
de Dom Bosco, basta que existam jovens para que eles
sejam muito amados em Deus, para vê-los felizes ago-
ra e na eternidade, pois somos os olhos do Bom-Pastor
que sempre procura os que não são capazes de ver.
Que o Bicentenário do Nascimento de Dom Bosco nos
encha abundantemente de paixão apostólica por to-
dos os jovens das nossas cidades, que não vemos, mas
21
que existem e que estamos esperando.

3.3 Page 23

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22

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Espiritualidade
23
alegre

3.5 Page 25

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USA
Por Osvaldo Gorzegno Davico/Juan Carlos Quirarte
24 Aqfruonetneitrea
México-Estados Unidos
A oferta pastoral e educativa das inspetorias
salesianas MEG e SUO, distribuída pela
fronteira entre México e Estados Unidos,
concentra-se nas áreas mais povoadas, nas
periferias das cidades e em outras regiões
estratégicas. Oferece programas escolares,
de saúde e de evangelização. Conta com
13 centros juvenis, 6 paróquias (uma em
território americano), uma escola e um
centro de convivência comunitária com
programas escolares e sanitários para
migrantes, deportados e gente local.

3.6 Page 26

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messico
A fronteira é vista como sinal de esperança
para os mexicanos, mas como perigo para
os americanos.
Muitos lugares, por variadas razões, tornam-se canais
para os quais convergem grandes fluxos de migrações
humanas. Um deles é a fronteira entre o México e os
Estados Unidos, uma área longa cerca de 3.200 qui-
lômetros. Nessa região há muitos postos de bloqueio,
e é aqui que se concentra o maior número de pessoas
que desejam, legal ou ilegalmente, passar a fronteira
com um sistema muito artificial de controle da parte do
governo americano.
A passagem dos limites pode acontecer em 23 lugares,
25
8 dos quais veem 94% do fluxo migratório, nas duas
direções. Esses bloqueios podem ser divididos em três
categorias:
◦Cidades de fronteira de tipo tradicional e em posi-
ção estratégica: Tijuana-San Diego (oeste), Ciudad
Juárez-El Paso (centro) e Matamoros-Brownsville
(leste).
◦Cidades de fronteira menos famosas: Mexicali-
-Calexico, Piedras Negras-passo dell’Aquila, Nuevo
Laredo-Laredo (Texas) e Nogales Sonora-Nogales
(Arizona).
◦Novos locais de travessia: Reynosa-Mc Allen, Ciudad
Acuña-Del Río e Sásabe, no deserto do Altar (Estado
de Sonora).
Os salesianos da Inspetoria MEG (México-Guadalajara)
têm 7 comunidades ao longo da fronteira (Nuevo La-
redo, Piedras Negras, Ciudad Juárez, Nogales, Mexicali
e Tijuana; os salesianos da Inspetoria SUO (Inspetoria
dos Estados Unidos Oeste) têm uma em Laredo (Texas)
e muitas outras no sul da Califórnia. Nos últimos trinta
anos, na fronteira dos dois Estados, ocorreram profun-
das transformações nas dinâmicas sociais com conse-
quências nos processos migratórios; verificaram-se
mudanças consideráveis no volume, nas direções das
transferências e, com o passar do tempo, também novas
tipologias de migração. Podemos traçar, então, quatro
tipos de fluxo migratório, conforme a proveniência:
1. Imigrantes que chegam às cidades de fronteira, com
o desejo de retornar ao próprio país, depois de um pe-
ríodo de trabalho nos Estados Unidos.

3.7 Page 27

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USA
Muitos jovens com quem os salesianos se encontram
foram vítimas de violência e de abusos.
26
2. Mexicanos “sem documentos” presos nos locais de
bloqueio nos Estados Unidos e, depois, repatriados.
3. Cidadãos de outros países que se encontram tem-
porariamente nas cidades de fronteira para trabalho
ou em busca de trabalho, que, contudo, retornarão aos
seus lugares de origem (situação típica da fronteira se-
tentrional).
4. Habitantes de outras regiões do país que chegam às
cidades de fronteira do Norte com o desejo de trabalhar
por ali ou ir aos Estados Unidos em busca de trabalho
(situação típica da fronteira meridional).
Para as gerações jovens, nascidas já num ambiente de
fronteira entre dois Estados, esta é a única realidade
conhecida, que podem ver e tocar. Para os jovens, ultra-
passar os limites, não é nada mais do que uma imagem
social, resultado de situações mais recentes:
◦Políticas migratórias criadas pelo governo dos Esta-
dos Unidos e pelos seus parlamentares, com a fina-
lidade de reforçar a segurança, sobretudo depois do
11 de setembro.
◦O clichê já unido à palavra “fronteira México-Estados
Unidos”, visto como esperança para os mexicanos,
mas como perigo para os americanos.
◦Um lugar como outros, para o tráfico de drogas, ar-
mas, homens e dinheiro.
Para quem se ocupa dos jovens, para quem nasceu de-
pois da segunda metade dos anos 1980, as zonas de
fronteira entre o México e os Estados Unidos são perce-
bidas como áreas de tensão internacional, exasperadas
em grande parte por razões sociais e políticas nos dois
países. Trata-se de áreas de suspeição, conflito, fluxo
e, às vezes, de bloqueio. As relações de fronteira nem
sempre são tranquilas, mas nem por isso significa que
devam ser sempre assim; de fato, os jovens veem esta
demarcação como um argumento difícil de enfrentar.
Seguindo a tradição salesiana, a nossa oferta consta de
programas educativos, de evangelização e de desenvol-
vimento humano. Somos um ponto de referência para
crianças e jovens, oferecemos-lhes atividades de tem-
po livre, iniciativas culturais, oportunidades de recupe-
ração escolar e para o itinerário escolar normal, tudo
sempre no total respeito às origens multiculturais das
comunidades das zonas de fronteira.
Diante da situação de violência e insegurança so-
cial criada nos últimos anos, nós salesianos nos es-
forçamos para educar à paz, ao trabalho para a in-
tegração social, à prevenção da dependência das
drogas, procurando impedir que esses jovens en-
trem no giro da criminalidade organizada, oferecen-
do uma presença fraterna, cheia de caridade cris-

3.8 Page 28

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27
tã para aqueles que foram vítimas da violência.
O testemunho da nossa vida religiosa também é parte
importante da nossa presença nas zonas de frontei-
ra. Nestes lugares, vemos a urgência de encorajar o
encontro com Jesus, recuperar e aprofundar a fé nas
várias expressões. Este trabalho exige dedicação e
tenacidade constantes em meio a tantos problemas
pastorais, econômicos e sociais.
Desde o início da nossa primeira presença no limite
setentrional do México, contamos com a ajuda de vo-
luntários vindos de diversos países (Áustria, Espanha,
Itália, Argentina etc.). Ficavam por breves períodos
(acampamentos de verão, férias de Natal ou de Pás-
coa) ou também por períodos mais longos. A todos,
de coração, a nossa gratidão mais sincera. As duas
Inspetorias tiveram muitas vezes a ocasião de encon-
trar-se para refletirem e trocarem ideias, aprendendo
a receber não só a ajuda dos voluntários, mas tam-
bém de pessoal salesiano em formação.
Após o encontro de conjunto realizado em Salvador,
em 2011, o tema da nossa proposta pastoral nas zo-
nas de fronteira tornou-se objeto de programação
futura para as duas Inspetorias, com a possibilidade
de criar no futuro uma comunidade salesiana inter-
nacional.

3.9 Page 29

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Espanha
EVANGELHO DA ALEGRIA
28
Um corredor e 12 portas
Ser educador na Casa Dom Bosco permitiu-me crescer não só em nível profissional, mas, ao mesmo
tempo, como pessoa. Todos os dias há momentos de alegria e outros mais trabalhosos, mas todos são
experiências memoráveis, porque são experiências de vida que não podem ser esquecidas.
Texto: Luis Miguel Avilés
O meu olhar quase se perdia no longo corredor com suas
12 salas. Meus ouvidos só percebiam o silêncio de uma
quente manhã de agosto. Tinha os cabelos um pouco de-
salinhados, a língua e a boca não conseguiam ficar para-
das por causa da tensão que, apesar do passar dos minu-
tos, não parecia diminuir. O nariz começava a perceber os
pequenos odores que chegavam de além das paredes, e
o meu coração sentia que este lugar se tornaria logo algo
especial e o tempo haveria de demonstrá-lo. Tinha 21
anos. Podia-se pensar que eu era muito jovem para traba-
lhar num Centro para Proteção de Menores. Era verdade,
mas o desejo de me dedicar à educação dos jovens ia além
da barreira da idade. Recordo-me daquele primeiro dia
como se fosse ontem, e já se passaram bem 2 anos e 7 me-
ses, nos quais me tornei como uma criança de 3 anos e,
como se diz das crianças pequenas, tornei-me como uma
esponja; observei centenas de vezes os meus colegas, que
me ajudaram a crescer como educador; considero-os ver-

3.10 Page 30

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Espanha
Durante este tempo, aprendi a gratidão,
a ser construtivo e o sentido de família.
dadeiros profissionais, pessoas muito qualificadas e, so- das e outras não tanto, experiências de vida que jamais se
29
bretudo, muito humanas.
conseguirá cancelar da memória e que nos marcam por
toda a vida.
A minha experiência na Casa Dom Bosco poderia ser bem
resumida em uma única palavra: “submissão”, porque Mas nem sempre foram flores. Nestes anos, na Casa Dom
estive nessa situação muitas vezes..., pelos modos afe- Bosco, houve momentos nos quais me senti bem, satis-
tuosos, amigáveis e divertidos com que os educadores feito comigo mesmo e com o meu trabalho, mas houve
realizam o seu papel; pela bela atmosfera entre a equi- também circunstâncias difíceis, nas quais me perguntava
pe educativa e a administração; pelas experiências dos se era realmente apto a esse tipo de trabalho, momentos
jovens hóspedes; pelo envolvimento da equipe; e, agora em que eu tinha pouca autoestima, momentos em que me
que conheço bem o espírito salesiano, realmente não fico vi enfrentando uma situação difícil tanto em nível profis-
mais admirado com isso tudo, porque é a sua caracterís- sional quanto pessoal. E foi justamente nesses momentos
tica que gosto de compartilhar (e não há como ganhar de que eu encontrei pessoas que me apoiaram e ajudaram a
um deles numa partida de pingue-pongue...).
tomar a decisão certa. No meu caso, foram os membros
da minha família ou os colegas, e a cada vez percebi que
E se não tivesse de resumir a minha experiência na Casa devemos estar ali, presentes para os garotos, de modo que
Dom Bosco com uma só palavra, mas pudesse acrescen- percebam que devem enfrentar um problema com o meu,
tar outras a ela, diria então: gratidão, construtividade, e então possam nos ver como ponto de referência, porque
sentido de formação e de família, e muitíssimas outras, somos parte importante de suas vidas assim como a mi-
mas prefiro ficar com o que me é mais familiar. Ir todos nha família e os meus colegas o foram para mim.
os dias ao trabalho e passar algum tempo com os garo-
tos, com o pensamento e a esperança de que um dia este Já se passaram 2 anos e 7 meses, e eu continuo a olhar
momento possa aflorar na mente dos garotos quando ti- para este corredor com o mesmo olhar, a escutar o mes-
verem momentos difíceis a enfrentar, e pensar que uma mo silêncio; recordo-me do odor e tomo um pouco de ar
coisa dita ou feita algum dia, ou ensinada, possa ajudar pensando em quão importante foi para mim aquele pri-
estes jovens. Sim, creio que seja a coisa mais gratificante meiro dia. Recordo-o sempre como se fosse ontem, tão
que pode acontecer na minha vida.
vivo está em mim.
Ser educador na Casa Dom Bosco fez-me crescer profis-
sionalmente, mas, sobretudo, deu-me a possibilidade de
crescer como pessoa, pois a cada dia há situações diverti-
A única coisa que mudou foi justamente eu, quem eu era
naquele primeiro dia e quem sou hoje. Reconheço que
aprendi muito, e ainda tenho muito a aprender.

4 Pages 31-40

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4.1 Page 31

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argentina
Deus
30 é o meu refúgio
Texto: Manolo Cayo
Deus convida a todos à santidade.

4.2 Page 32

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argentina
Escrevo de Córdoba, onde sou Um serviço nada fácil de encontrar hoje entre nós
inspetor e, ao mesmo tempo jovens. É algo único, não tem rival, é oferecido para
administro a casa do pós-novi- dar futuro a uma vida. Todos podemos participar deste
ciado. Ao falar nestes dias com serviço e criar um novo futuro. “Maria Auxiliadora é
muitos dos meus irmãos, posso a minha mãe; fez com que Dom Bosco tivesse o seu
afirmar que ainda é muito viva sonho, e despertou nele o chamado à santidade,
a memória de Gonzalo Acosta, o desejo de ter um coração santo. Se faz com que um
um jovem originário de Salta, garoto de 14 anos queira ser santo, o que, então, será
pequena cidade do nordeste da Argentina, que foi compa- impossível?”.
nheiro deles por alguns anos no pós-noviciado e também
de outros no noviciado. Deixou-nos em setembro, depois Estas palavras, pronunciadas há 9 anos, foram vividas
de um intenso período de discernimento, mas criou uma intensamente em todas as decisões que tomou em sua
ligação que perdura ainda hoje.
vida. Estamos certos disso graças ao testemunho das
Gonzalo morreu num acidente rodoviário na manhã pessoas que o acompanharam no seu caminho de vida. É
de Páscoa de 2014. Tinha só 22 anos. Muitos foram de justamente por isso que a sua vida foi tão rica de frutos,
Córdoba a Salta, mais de 800 quilômetros, para dar-lhe apesar da brevidade. A sua partida foi para todos algo de
o último adeus. Todos esperavam ter de enfrentar um inesperado, mas o seu coração, não: ele estava certamen- 31
momento difícil, mas em meio a tanta dor, ficaram im- te pronto.
pressionados pelo clima de serena alegria que reinava, Gonzalo veiome à mente justamente no dia em que se
porque é isso que se tem quando colocamos as nossas comemora Domingos Sávio: um santo jovem, alguém
esperanças no Senhor Ressuscitado.
que entendeu que podia viver profundamente a própria
Havia muitos violões no funeral, muitos amigos falaram existência terrena. Não devia esperar “amadurecer” para
da sua vida, foram muitas também as histórias e os teste- produzir frutos abundantes, porque cada passo dado
munhos ricos de entusiasmo a seu respeito; a cerimônia na vida já continha em si a plenitude. Era um santo que
fúnebre foi uma verdadeira e própria celebração de gra- encontrara outro santo pastor e educador, que confiara
tidão a Deus pelo dom da vida de Gonzalo. Novamente, nele, que entendera a sua sede de Deus e o encorajara a
Gonzalo nos dava uma verdadeira e própria lição de vida. empreender esta aventura.
Entre as muitas lembranças que posso compartilhar há Fazer memória de São Domingos Sávio, leva-nos a fazer
um pequeno texto que escreveu aos 14 anos de idade. duas coisas: antes de tudo, pensar que existem muitas
Cito alguns dos seus pensamentos:
pessoas como ele, não só Gonzalo, mas muitos outros,
que querem viver a vida em profundidade, que querem
“Há um convite que nós todos recebemos e pelo
dar um significado à própria existência (e não pensemos
qual Deus nos deu uma infinidade de presentes. É o
apenas de modo pessimista na condição juvenil atual).
chamado à santidade, algo possível, sim, e a que todos Em segundo lugar, escutar e considerar com seriedade
devemos dar prioridade. Façamos tesouro de cada
o desejo que brota no espírito de muitos adolescentes e
pequena coisa e chegaremos então à santidade”;
jovens, de modo que se possa servir de guia a partir de
“Todas as lembranças que tenho do oratório são
agora! É muito triste, de fato, ver um educador e pastor
belas lembranças: os momentos passados juntos, as
que minimiza, relativiza e transcura o que está presente
escaladas das colinas próximas, os passeios ao longo
no coração de um jovem, avaliando-o como um ser “in-
do rio, os torneios de futebol, as sedes do oratório
completo” (olhando, portanto, apenas e exclusivamente
que instalávamos nos lugares de missão; mas não há
do ponto de vista de pessoa adulta).
nenhuma dessas lembranças que possa superar a de
Durante o último retiro que Gonzalo fez há dois meses,
estar juntos entre amigos, e nenhuma outra experiência escreveu algo que bem sintetiza o seu desejo de vida e
que valha a pena de ser vivida além da que compartilhei os seus planos para o futuro: “Deus é o meu refúgio...”. É
com todos eles”.
a partir disso que a sua vida continua a falar-nos, justa-
Uma das características-chave de um salesiano é o
mente como o faz a vida de Domingos Sávio, a 157 anos
serviço, o serviço incansável oferecido com amor.
de distância.

4.3 Page 33

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LIBéRIA
Texto: Padre Sony Pottenplackal
32
A missão
do grupo
“Domingos Sávio e Dom Bosco”
Os jovens que frequentam as duas presenças
salesianas em Monróvia – a obra Dom Bosco
da rua 8 e a de New Matadi – animam uma
iniciativa comunitária de sensibilização
e educação preventiva para combater
a epidemia do vírus ebola. Educação e
conhecimento são as melhores armas para
vencerem este vírus mortal.

4.4 Page 34

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33
A Libéria é o país mais atingido pelo contágio, e a
capital Monróvia é a zona em que parece mais difí-
cil conter a epidemia que, só na Libéria, causou até
agora mais de 1.800 mortes. Os jovens iniciaram a
luta contra o ebola nas ruas de Monróvia com o lema
“Each One Reach One” (cada um alcance uma pessoa).
No primeiro momento foram treinados por agentes
sanitários e médicos do Ministério da Saúde e da Pre-
vidência Social, e pela equipe de formação do projeto
de Resposta ao ebola promovido pela Igreja Católica,
guiado pelo doutor Timothy Flanigan, especialista em
doenças infecciosas na Brown University, de Rhode
Island, Estados Unidos, que também é diácono per-
manente.
Operativamente, estes jovens – 105 entre rapazes e
moças, divididos em duas equipes – vão de comunida-
de em comunidade, pelas ruas da cidade e favelas, ins-
truindo as pessoas sobre o modo de evitar a infecção e
proteger a si mesmas e suas famílias. Dessa forma, os
jovens assumiram o papel de guias e pioneiros na luta
contra o medo e a ignorância, para levar esperança e
uma atitude positiva. Eles exprimem assim o próprio
sentido de solidariedade e patriotismo, num momento
de crise e sofrimento em todo o país. Até agora, calcu-
la-se que foram mais de 5 mil pessoas alcançadas pela
ação de educação sanitária. As duas equipes de jovens
são animadas e acompanhadas pelo padre Daniel Li-
bby, coordenador dos jovens da obra Dom Bosco da
rua 8, e padre Raphael Aeoroboam, responsável dos
jovens na casa salesiana de New Matadi. As atividades
são mantidas pelos salesianos e pela generosidade de
muitas pessoas e fiéis da paróquia dedicada a São
José, no bairro Capitol Hill.
“Meus amigos e familiares ficaram muito preocupa-
dos comigo, nesta situação. Aconselharam-me de to-
das as formas para que eu retornasse à Nigéria, mas
disse a mim mesmo: esta é uma situação que requer a
contribuição e ajuda de todos, não importa se pouco, e
como Deus me deu vida e boa saúde, estou usando-as
pelo bem de outras pessoas”, diz sem meios-termos
Josephat, o idealizador e guia do primeiro grupo que
se empenhou em enfrentar o vírus.
O contexto social em que os jovens vivem e atuam é
sempre muito difícil, dado que apesar de todas as no-
tícias e medidas postas em ação, ainda há muita gente
que não acredita que haja uma epidemia de ebola, e,
por outro lado, critica e acusa o governo e o Ministério
da Saúde de querer roubar dinheiro e preocupar-se
apenas em salvaguardar os animais selvagens, maca-
cos e morcegos, os principais transmissores do vírus.

4.5 Page 35

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LIBéRIA
Os voluntários foram treinados por agentes
sanitários do Ministério da saúde para responder
34
adequadamente às necessidades provocadas pelo
vírus do ebola.
Por sua vez, o governo só começou
a tomar sérias providências depois
que um funcionário público, Patrick
Sawyer, morreu por ebola na Nigéria
(no final de julho, enquanto os primei-
ros casos na Libéria foram registrados
em março).
Ao menos 34 pessoas foram curadas
do ebola. Do testemunho de muitos
deles, o fator mais importante que fa-
cilitou notavelmente a cura foi a ali-
mentação correta com os tratamentos
adequados dos agentes sanitários. “Isso
motivou o nosso grupo a estender a
nossa missão diretamente aos doentes
de ebola”, conta Josephat. “Dado que
não podemos chegar até eles pessoal-
mente, doamos alimentos, desinfetan-
tes, água mineral, dinheiro (sobretudo
para apoiar e motivar os agentes sani-
tários), cloro e cloreto, sabonete e sabão
em pó, contribuindo através da caridade
do arcebispo. Compramos o necessário e

4.6 Page 36

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35
enviamos ao nosso pároco, que o entrega ao arcebis-
po e, deles, chega até os vários centros de isolamento
para o ebola, presentes em Monróvia. Trata-se de uma
iniciativa do arcebispo para dar a contribuição da ar-
quidiocese à luta contra o ebola”.
Segundo as estatísticas apresentadas pelo ministro
da Informação, em 3 de setembro, foram 1.015 as
mortes suspeitas de ebola na Libéria. “A boa notícia
é que dois municípios do país estão atualmente livres
do vírus; e o município em que está a aldeia onde atu-
amos agora teve reduzido o número dos casos”, diz
Josephat. “Conseguimos encontrar numerosas famí-
lias nesta missão e o Senhor está realmente fazendo
grandes coisas. Alguns dos que ajudamos tiveram alta
do hospital porque já foram curados do ebola, depois
de seguirem os conselhos que tínhamos dado em nos-
sas visitas em cada casa”, afirma ainda Josephat. “A si-
tuação do país neste momento é, para dizer pouco, de
calamidade. É preciso intensificar a oração e as inicia-
tivas: oração e trabalho. A oração sem uma ação séria
está morta.” Sua última viagem não foi fácil. Por causa
de algumas fofocas sobre alguns mal-intencionados
que estariam envenenando os poços, quando chega-
O contexto em que os jovens voluntários se encontraram
a trabalhar foi sempre muito difícil.
ram a Gwaa, no município de Bomi, os jovens do Dom
Bosco e Domingos Sávio foram presos e mantidos em
custódia pela polícia local. Foram interrogados como
também algumas famílias que visitaram anteriormen-
te. Nem mesmo as fotografias das expedições ante-
riores, mostradas pelo celular foram suficientes; só
ficaram convencidos de suas boas intenções depois
que os obrigaram a usar sobre eles mesmos o material
que tinham levado. “Fizemo-lo lavando nossas mãos
e nossos rostos com o material sanitário, o que foi
seguido de um sincero e prolongado pedido público
de desculpas. A notícia que chegara anteriormente da
Guiné, onde alguns agentes sanitários foram mortos
durante uma de suas visitas de casa em casa para a
prevenção do ebola, fez-nos temer pelo pior.
O Senhor, porém, realmente nos protegeu e salvou.
Não foi fácil para o meu grupo superar este trauma,
mas aos poucos fiz com que entendessem que a nossa
finalidade é fazer o que fazemos pelo Senhor e para, o
mais possível, salvar vidas”.

4.7 Page 37

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turquia
36 «Estes Salesianos
são grandes!»
Texto: Giuseppe Nguyen

4.8 Page 38

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TURquIA
37
Ecumenismo, liberdade religiosa, tutela dos cristãos e
das minorias no Oriente Médio..., são muitos os temas
no centro da viagem apostólica do Papa Francisco à
Turquia. Mas, como de costume, o Papa desejou arran-
jar um tempo também para os últimos, para os menos
considerados da sociedade, como os menores prófugos
que são acolhidos no centro para refugiados dos sale-
sianos em Istambul.
A visita do Papa à obra salesiana de Istambul acendeu
os refletores sobre uma realidade pouco conhecida que
o próprio Pontífice define como “um trabalho escon-
dido”, porquanto muito precioso e expressão evidente
da maternidade universal da Igreja. É interessante, por
isso, notar o quanto incide o trabalho de poucas sim-
ples pessoas sobre a vida dos pequenos refugiados.
O encontro entre o Pontífice e cerca de 100 crianças e
jovens – cristãos e muçulmanos, prófugos da Síria, do
Iraque e do Chifre da África – deu-se na tarde de 30
de novembro, na catedral do Espírito Santo de Istam-
bul, e marcou a última etapa da sua viagem apostólica.
Entre o Papa e os jovens refugiados criou-se logo uma
proximidade emotiva, com o Santo Padre esclarecen-
do aos jovens que gostaria de ter-se encontrado com
mais refugiados em sua viagem, mas que não foi pos-
sível em vista do programa muito intenso. A maioria
dos refugiados, entre 10-11 anos, frequenta a escola
administrada pelos salesianos para eles que, com cur-
sos de inglês, os prepara para emigrarem sobretudo
aos Estados Unidos, Canadá e Austrália. O Papa, que se
entreteve por 30 minutos, sentou-se aos pés do altar
enquanto os jovens estavam nas primeiras fileiras dos
bancos da igreja.
“Continuem a esperar”
O padre Andrés Calleja, diretor da escola, saudou o
Papa em espanhol. Depois, uma garota iraquiana cristã
tomou a palavra para narrar “a situação dramática da
qual fugiu e as dificuldades com que vivia, não podendo
ir à escola e vivendo em situação de risco”. Momento to-
cante foi quando os jovens cantaram para o Papa uma
canção em espanhol, inglês e árabe, acompanhados ao
violão pelo padre Calleja.
“Queridos jovens – disse depois o Papa – não percam
a coragem. Com a ajuda de Deus, continuem a esperar
um futuro melhor, apesar das dificuldades e dos obs-
táculos que estão enfrentando agora. A Igreja Católica,

4.9 Page 39

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38
também mediante o precioso trabalho dos salesianos,
está perto de vocês e, além de outras ajudas, oferece-
-lhes a possibilidade de cuidar da própria instrução e
formação. Recordem-se sempre de que Deus não es-
quece nenhum de seus filhos, e que os mais pequenos
e os que mais sofrem estão mais perto do seu cora-
ção de Pai.” Falando aos jovens, o Santo Padre dirigiu
novamente um apelo à comunidade internacional. “As
condições degradantes em que devem viver muitos re-
fugiados são intoleráveis! Por isso, é preciso fazer to-
dos os esforços para remover as causas desta realida-
de. Lanço um apelo à maior convergência internacional
que se volte a resolver os conflitos que cobrem de san-
gue suas terras de origem, a opor-se às outras causas
que levam as pessoas a deixarem a própria pátria e a
criar condições para que possam permanecer ou retor-
nar.” O Papa continuou a dizer: “Da minha parte, com
toda a Igreja, continuarei a dirigir-me com confiança ao
Senhor, pedindo-lhe que inspire aqueles que ocupam
papéis de responsabilidade, para que promovam a jus-
tiça, a segurança e a paz sem indecisões e de modo re-
almente concreto. Através de suas organizações sociais
e caritativas, a Igreja permanecerá ao lado de vocês e
continuará a apoiar a causa de vocês diante do mundo”.

4.10 Page 40

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TURquIA
«Deus não se esquece de nenhum dos seus filhos. Os mais pequenos
e os que mais sofrem são os mais próximos do seu coração de pai».
Papa francisco
39
Retornando ao Vaticano, na primeira audiência, em 3
de dezembro de 2014, o Papa, como de costume, parti-
lhou com os fiéis as impressões tidas durante a sua via-
gem à Turquia. E percorrendo as suas etapas salientes,
Papa Francisco recordou com comoção os pequenos
refugiados encontrados em Istambul e os salesianos
que cuidam deles. Estas as palavras do Papa: “O último
encontro – belo e também doloroso – foi com o gru-
po de jovens refugiados, hóspedes dos salesianos. Era
muito importante para mim encontrar alguns prófu-
gos das zonas de guerra do Oriente Médio, quer para
exprimir-lhes a proximidade minha e da Igreja, quer
para sublinhar o valor da acolhida, no que também a
Turquia está muito empenhada. Agradeço novamente
à Turquia pela acolhida de tantos prófugos e agradeço
de coração aos salesianos de Istambul. Estes salesia-
nos que trabalham com os prófugos são grandes! En-
contrei também outros padres e um jesuíta alemão e
outros que trabalham com os refugiados, mas aquele
oratório salesiano dos prófugos é uma bela realida-
de, é um trabalho escondido. Agradeço muito a todas
as pessoas que trabalham com os refugiados. E reze-
mos por todos os prófugos e refugiados, e para que
sejam removidas as causas desta chaga dolorosa”.

5 Pages 41-50

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5.1 Page 41

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israel
Adeesqpuidreeimteutmarealmibbdauiaglsdhcraaoe
40
Texto: Star Tuazon

5.2 Page 42

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israel
Oito anos atrás, eu estava num avião. Meta: Isra-
el. Ali, só conhecia uma pessoa: minha tia. Sentia-
-me com uma mistura de emoções. Era minha pri-
meira viagem ao exterior; uma imensa vontade de
independência; medo do desconhecido; ansiedade
em vista das reportagens da TV sobre a condição
de vida em Israel. Só naquele momento percebi
que a bordo estavam também outros quatro filipi-
nos, e todas essas sensações desapareceram num
piscar de olhos. Estabelecemos logo uma amizade
que perdura ainda hoje, à distância de muitos anos.
Estar em Israel significava estar longe da minha famí-
lia. Por sorte, há o Skype, mas isso não cancela a nos-
talgia de estar com eles. A presença virtual é belíssima,
certamente, mas deixa de algum modo um buraco no
coração, difícil de preencher. As pessoas encontradas
naquele voo compartilhavam a minha condição, expe-
41
rimentavam os meus medos. Tornaram-se logo pesso-
as de confiança, presentes nos momentos difíceis, um
ombro onde chorar. Não importa se vêm do Sul ou do
Norte. Agora, fazem parte da família. Devo agradecer,
sobretudo pelo dom da Igreja. É a primeira coisa em
que se pensa quando chega o dia livre da semana. Um
santuário, um refúgio seguro, um lugar onde encon-
trar-se, desafogar o próprio coração, sussurrar a Deus
o que se está vivendo. Coisas que não se podem dizer
nem mesmo aos amigos ou às pessoas mais íntimas.
Agradeço ao Senhor também pela comunidade filipi-
na de Tel Aviv, Jaffa, Rehovot, Netanya, Haifa, Naza-
ré, Jerusalém e Kiriath Shemona, a comunidade do
Bom-Pastor da Agron Street, próxima do consulado
americano, pouco distante do local em que Isaías
profetizou o nascimento da Virgem. Obrigado à Co-
munidade São Lourenço dos salesianos do Instituto
Ratisbonne. Sempre participei das Missas dos salesia-
nos nas quartas-feiras e sábados à noite. Sendo filipi-
no, corre uma grande fé pelas veias. Provavelmente,
se não fossem os filipinos, várias igrejas no mundo
de hoje estariam fechadas, como me disse um amigo
A comunidade filipina é sempre mais numerosa.
Os filhos de Dom Bosco garantem a muitos imigrantes
os cuidados espirituais e sociais de que precisam.

5.3 Page 43

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israel
Estar e viver na terra de Jesus é para um filipino algo de especial.
sacerdote salesiano. Sendo filipino tem-se também a
sensação do sacrifício. Sobretudo aquele pelo bem da
própria família. Deixar os filhos, a casa, a pátria para
um trabalho que não se pensaria realizar na Pátria,
42
como ser acompanhante de idosos, doméstico, traba-
lhador em terraplenagem, marinheiro. Desconforto
contínuo, solidão, saudades de casa, discriminação
por anos e anos. Isso significa elasticidade, habili-
dade de ver o lado positivo em tudo, capacidade de
adaptação. E, sobretudo, significa ter grande sentido
de generosidade: ir até os mais desafortunados, às ví-
timas das muitíssimas e constantes calamidades que
envolvem a nossa amada terra, as igrejas, as crianças.
Ser filipino na Terra Santa é outra coisa, algo a mais,
algo especial. E o algo especial é justamente a Terra
Santa. Quem diria que algum dia haveria 40 mil filipi-
nos em Israel? Estamos aqui, vivemos, trabalhamos,
amamos esta terra de leite e mel. A terra que Deus
prometera a Abraão, a terra onde Jesus caminhou, tra-
balhou, sofreu, morreu, e também ressuscitou. A terra
de que ouvíamos falar no catecismo ou na Missa. Não
somos apenas afortunados, mas também abençoados
porque vivemos aqui, trabalhamos aqui, com e para
estas pessoas pré-escolhidas. Jerusalém, Belém, Ga-
lileia e Jericó: de algum modo Jesus esteve presente
aqui, bebeu destas águas. Visitando estes lugares, sen-
tia-me à vontade, quando organizava passeios para os
meus amigos, passeios que servem também para re-
colher fundos para os projetos sonhados pelos nossos
corações. E, ainda, há os meus esconderijos preferi-
dos, lugares aonde vou para estar um pouco sozinho,

5.4 Page 44

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israel
43
Com sua presença, os filipinos detêm a diminuição do número de cristãos na Palestina.
sozinho comigo mesmo: o Santo Sepulcro, a Igreja da
Dormição, São Pedro “ao canto do galo”. Não quero
esquecer a colorida festa de Santa Cruz, em maio, a
festa do nosso amado São Lourenço Ruiz de Manila,
em setembro, e talvez, quem sabe logo, a festa de São
Pedro Calungsod. Com bailes e danças, cores e música
e, obviamente, muita comida filipina. E, depois, o San-
to Natal, com a diferença que quem como eu vive aqui,
tem a felicidade de poder passar o dia todo em Belém.
Mas, claramente, nem tudo são flores. Há também pes-
soas que não têm tanta liberdade assim: em algumas
famílias judaicas não são permitidos rosários, Bíblias,
imagens, escapulários; não há tempo livre e possibi-
lidade de participar da Missa dominical, nem visitar
os lugares sagrados. Ou são presos pela ansiedade
de mandar dinheiro às próprias famílias ou de en-
contrar outro trabalho nos tempos de vacas magras.
Em nossos encontros há muita fé e amizade. Mas tam-
bém muita comida! Não há encontro sem comida, que
muitas vezes não é possível fazer nas casas judaicas
onde trabalhamos, “pansit, adobo, dinunguan, arroz
quente”. Durante a semana, é bom pensar no mo-
mento em que poderemos apreciar o nosso alimen-
to tradicional, e saber que podemos compartilhá-lo
com nossos amigos salesianos. Todos nós sabemos
que nestes tempos, a comunidade cristã em Israel e
na Palestina é sempre menos numerosa. O que não
se sabe é que está crescendo o número de novas co-
munidades cristãs. Quem haveria de imaginar que a
presença dos católicos fosse reforçada pela chegada
de tantas comunidades de imigrantes como as dos
filipinos? Estas são as pequenas “brincadeiras” de
Deus, como diz o padre David Neuhaus. “Numa ter-
ra em que os seus habitantes de fé cristã foram per-
seguidos por diversos séculos, a presença de tantos
filipinos é uma maravilha evangélica, um modo de
trocar as antigas lembranças por novas experiências
do serviço gentil, humilde e paciente.” Portanto, em
meio à dor e ao sacrifício, mas não sem alegria e di-
versão, pode-se encontrar o conforto de ser o Rosto de
Cristo, revelação do Pai, Amor. “Hamdullilah” Barukh
Ha Shem! –Bendito seja nos séculos o Seu Nome.

5.5 Page 45

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FILIPINas
Texto: Sylvester Casaclang
Espiritualidade salesiana
44
nos centros de instrução e formação profissional
Desde jovem padre, cheio de energia, São João Bos-
co, encontrou-se numa sociedade com muitos jo-
vens pobres e abandonados, que trabalhavam nas
fábricas e nos canteiros de obras ou cometiam cri-
mes, para sobreviverem à extrema pobreza e mi-
séria em que se encontravam. Muitos jovens caíam
nas garras de dadores desleais de trabalho, outros
acabavam na prisão. São João Bosco sentiu que Deus
o chamava para ser pastor entre a juventude pobre e
abandonada. Conseguiu, em pouco tempo, iniciar suas
obras e centros de formação profissional. Oferecia aos
jovens a oportunidade de estudar, aprender um ofício,
preparar-se para um futuro melhor.
Nas Filipinas, como também em outros países onde os sa-
lesianos estão presentes, São João Bosco continua a viver
através dos programas que os centros de formação pro-
fissional, geridos pelos salesianos, oferecem à juventude
pobre e abandonada.
setores industriais e nos serviços. Não se trata, natu-
ralmente, apenas de um job matching. Mesmo que
estes centros desenformem milhares de laureados,
sabem que para serem sempre importantes não po-
dem dormir sobre seus louros.
Várias pesquisas demonstraram que os sujeitos em
situação de risco de desvio são os que não possuem
um sentido de conexão com a sociedade, a comunidade,
a Igreja em que vivem, e são os que não têm uma ligação
emotiva positiva com as próprias famílias. Aqueles que
não são capazes de ser membros ativos na sociedade são
logo marginalizados. Como Dom Bosco com os jovens
pobres de Turim, os centros Dom Bosco TVET realizam a
sua atividade, ajudando os jovens a serem agentes de de-
senvolvimento para uma mudança social positiva. Estão
firmemente convencidos disso, sobretudo neste tempo
em que se buscam novas saídas profissionais também em
áreas inéditas, nas quais nunca se tinham aventurado.
Como o governo das Filipinas está muito interessado na
diminuição da taxa de desemprego, os diretores de todos
os Don Bosco Technical Vocational Education &Training
(TVET), sob o beneplácito do Escritório para o Desenvol-
vimento Escolar (ODEA), reuniram-se para programar da
melhor maneira os vários cursos, de modo que cada um
deles responda às exigências do mercado de trabalho nos
Os ventos de mudança trouxeram várias reformas no
campo escolar, do jardim de infância aos cursos superio-
res. Sobre isso, estão empenhando-se todos os Centros
TVET e, mais em geral, as duas inspetorias das Filipinas
(Norte e Sul). Cada centro colabora sempre mais com o
governo e com as indústrias para inserir no mundo do
trabalho os jovens dos últimos dois anos da escola mé-

5.6 Page 46

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FILIPINas
pirituais dos Centros trabalham na ambiciosa tarefa de
dia. De modo especial, buscam fundos para os sistemas e repensar os seus programas pastorais a partir do currícu-
projetos de aprendizagem considerados alternativos aos lo do cristão praticante, para integrar os valores nas ma-
programas oficiais para envolver os jovens que não en- térias técnicas e equipar os usuários dos vários centros de
tram nos últimos dois anos escolares.
uma vasta gama de valores morais e espirituais. Por isso,
interrogam-se sobre como, apesar do breve tempo de
Enquanto se continua a trabalhar com os Escritórios cada curso, os jovens possam fazer experiência de Deus,
da Autoridade para a Educação Técnica e da Autorida- criando um clima de casa que acolhe, paróquia que evan-
de para o Desenvolvimento das Capacidades Humanas geliza, escola que inicia para a vida e pátio onde comparti-
45
(TESDA) em vista da certificação dos nossos formado- lhar a autêntica alegria com verdadeiros amigos.
res e estudantes, os Centros salesianos começaram a Todos os Centros também são envolvidos na busca de re-
confrontar o próprio nível de formação com os padrões cursos para realizar e sustentar estas iniciativas. É nesta
internacionais, procurando ser acreditados pelo Colom- complexa fase que a nossa fé de homens e mulheres de
bo Plan Staff College (CPSC), organização internacional boa vontade é posta à prova e onde somos estimulados a
intergovernativa para o desenvolvimento dos recursos ter sempre confiança em Deus.
humanos na Ásia e no Pacífico. O CPSC é a única insti-
tuição regional fundada com a finalidade de aumentar a Quem trabalha nestes Centros conhece bem as dificul-
qualidade do TVET.
dades que podem ser encontradas. Dificuldades que pro-
vocam incerteza também quanto ao próprio futuro. Mas
Os Centros TVET Dom Bosco, desde o início, procuraram também descobrimos que os nossos colaboradores ficam
agregar todos os que compartilham do seu ideal educa- esperançosos quando pensam nas centenas de vida que
tivo e apreciam as suas iniciativas. De fato, eles sempre conseguiram ajudar, graças à formação profissional sa-
acreditaram no trabalho em rede e publicaram recente- lesiana. Encontram coragem, então, para continuar em
mente um elenco consolidado com portfólio que apre- sua dedicação como missionários leigos. São inspirados
senta os 19 Centros TVET das Filipinas.
pelos muitos Salesianos
O elenco apresenta as empresas compa-
coadjutores que fizeram a
nheiras que colaboram com os Centros
história dos Centros pro-
Dom Bosco, além dos encontros organi-
fissionais nas Filipinas. São
zados pela ODEA com o TESDA, a Comis-
também encorajados pelo
são da Alta Educação (CHED), o Departa-
apreço das agências gover-
mento de Educação (DepED), o Departa-
nativas. São confortados pe-
mento do Trabalho e Emprego (DOLE).
las cooperativas e indústrias
que continuam a apoiá-los.
Em meio a todas as “reviravoltas” do
Mas sinto, também, em seus
atual contexto socioeconômico e edu-
corações, que estes desafios
cativo, os Centros TVET sempre tra-
poderiam ser simplesmente a
balharam para garantir a formação
voz do Espírito que os convida
de bons cristãos e honestos cidadãos.
a acolher estes novos desafios
Com essa finalidade, os animadores es-
pelo Cristo Ressuscitado.

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NOVA GUINÉ
SALT
Vós sois
46 o sal da
terra…
Texto: Padre Angel Sanchez

5.8 Page 48

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NOVA GUINÉ
“Vós sois o sal da terra”.
Como se concretiza em nossos dias
esta exortação de Jesus (Mateus
5,13)? Como podemos ser o sal da
terra?
Por mais de uma década, a Don Bosco Technical Scho-
ol (DBTS) de Port Moresby, Papua Nova- Guiné, rea-
lizou uma programação especial para os estudantes
– particularmente para as classes diplomadas de nível
12 e do Curso Técnico Industrial de nível 2 inerente
ao Serviço e à Formação dos Líderes (Servanthood and
Leadership Trainig, ou SALT). Trata-se da referência
espiritual da escola em colaboração com a sua equipe
de pastoral, que dirige o planejamento, a realização e
a avaliação do programa.
Todo centro salesiano mira formar os jovens para que
se tornem “bons cristãos e honestos cidadãos”; na Don
Bosco Technical School, de Port Moresby, esta rea-
lidade é indicada pelo lema “Bosconians: guia quem
serve”. Em outras palavras, os Bosconians esforçam-
-se para ser o sal da terra como líderes-servidores. O
programa SALT é um bom meio para inculcar valores
e atitudes salesianas. Isso permite transmitir os diver-
sos elementos da Espiritualidade Juvenil Salesiana
no específico contexto da Melanésia. Os jovens que
se formam na Don Bosco Technical School assumem
desde os primeiros anos de escola o estilo da espiri-
tualidade salesiana que lhes é oferecida. Num país e
numa cultura em que as pessoas pedem sempre uma
“recompensa” por qualquer coisa que lhes é solicitado,
os jovens da Don Bosco Technical School aprendem
a servir os outros sem esperar nada em troca. Esta
47
experiência alarga seus horizontes e dá-lhes a opor-
tunidade de fazer alguma coisa de bom pelos outros.
Quando foi pedido para descrever a sua experiência
no Programa SALT, Kenesi Sogiri (do nível 12) descre-
veu-a simplesmente dizendo: “Servir aos outros com
alegria sem pedir dinheiro...”. Esse é o modo como a
Don Bosco Technical School contribui para a forma-
ção dos jovens de Papua Nova-Guiné.
Antes de realizar o Programa SALT, os estudantes pas-
sam um dia inteiro na escola em que se inscreveram.
São organizadas atividades de formação de equipes.
Fazem-se colóquios e conferências. Também a liturgia
e a oração espontânea. Essas atividades têm em mira
motivar os jovens a tornarem seus os ideais de Dom
Bosco.
“Como Bosconians, chamamo-nos líderes-servidores.
Devemos, então, pôr em prática o serviço aos outros”,
diz Alois Tivelit, também do nível 12. Durante alguns
sábados, os jovens que estão inseridos no Programa
SALT realizam alguns serviços nas comunidades dos
diversos bairros da cidade de Port Moresby. Os jovens
aprendem a ‘arregaçar as mangas’. Não é uma surpre-
sa, então, vê-los trabalhando na limpeza e na coleta
do lixo ao longo das ruas públicas. Os Bosconians não
têm medo de sujar as mãos!
Os jovens não são deixados sozinhos enquanto
prestam o seu serviço à comunidade. Os respecti-
vos professores os acompanham nesta experiência.
O Programa SALT torna-se, então, também para os
professores, um momento de aprender e praticar a

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NOVA GUINÉ
assistência salesiana. Neste contexto, a presença do
educador é importante enquanto o SALT não é apenas
uma atividade social, mas, sobretudo, atividade edu-
cativa e experiência formativa.
Note-se que nem todos os estudantes da Don Bosco
Technical School são católicos. Muitos deles perten-
cem a outras confissões cristãs. Mas os locais onde
os estudantes prestam o seu serviço comunitário são,
em geral, setores das paróquias católicas. Isso requer
uma coordenação preventiva das intervenções, envol-
vendo os diversos párocos da cidade. O que fez com
que alguns dos nossos estudantes, que fazem parte do
Programa SALT, tenham se tornado animadores ati-
vos em suas paróquias, permitindo-lhes despertar o
sentido de pertença à Igreja local, ajudando-os a ama-
durecerem a opção do voluntariado nas paróquias
48
de pertença. O serviço dos Bosconians, porém, não
para nas paróquias católicas. Também a comunidade
da Casa de Cheshire, para deficientes, beneficia-se da
presença dos jovens. Encontrar pessoas com deficiên-
cia é sempre muito formativo. Os jovens tomam cons-
ciência de como são afortunados e modelam o seu
coração na atenção pelos outros e na compaixão. Às
vezes, o contexto social favorece a formação de gru-
pos rascals, ou seja, de mal-educados que se tornam
muitas vezes responsáveis de muitos crimes. Alguns
dos nossos jovens provêm desse contexto. Através do
Programa SALT, é dada a possibilidade de visitar a pri-
são Bomana, na periferia da cidade de Port Moresby,
onde estão muitos jovens e, os nossos jovens podem
interagir com os detidos. Dom Bosco dizia que deve-
mos formar os jovens para reconhecerem “a fealdade
do pecado e a beleza da virtude”. Na prisão Bomana,
os Bosconians tocam com as mãos as consequências
do uso irrefletido da liberdade. Na prisão, encontram
todos os traços da miséria humana. Nesse contexto,
os jovens compreendem a necessidade de sonhar por
um futuro luminoso.
Outro estudante formando, Don Apini, reconhece que
a escola salesiana teve grande impacto em sua vida.
“Decidi, então, ser um verdadeiro Bosconian, não só
de nome, mas com as ações concretas da minha vida.”
Mesmo que o Programa SALT dure apenas alguns sá-
bados, torna-se para os jovens uma experiência úni-
ca e o que aprendem permanece mesmo depois da
formatura. É algo que recordam com afeto porque o
SALT não perde o seu sabor.

5.10 Page 50

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49

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6.1 Page 51

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itÁlia
50
Tdeasteamleugnrihaas
Em caminho para 2015
“Repito-vos novamente, fiquem alegres!” Um convite de 2 mil anos atrás,
mas que hoje soa muito atual e provocador entre os jovens do mundo todo.
A cidade de Turim, de 10 a 16 de agosto de 2013, ouviu-o ser afirmado nos pátios,
nas ruas, nas igrejas, nas praças, atravessadas por 1.200 jovens do MJS Itália
reunidos para o Confronto nacional.

6.2 Page 52

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itÁlia
Não houve nem sequer um minuto sem que a alegria não
fosse protagonista da cena. Não foi um simples evento, mas
uma etapa do caminho, que todos os jovens do mundo são
chamados a realizar na Igreja, para ser o presente e o futuro,
os “santos do novo milênio” (São João Paulo II).
Na JMJ de Madri, o MJS redescobriu as razões da própria es-
perança para viver “Enraizados e fundados em Cristo, solidi-
ficados na fé”. A JMJ do Rio, celebrada no final do Ano da Fé,
enviou os jovens ao mundo: “Vão e façam discípulos todos
os povos”. Igualmente, o Confronto MJS Itália não pôde fa-
zer outra coisa que beber na riqueza da caminhada da Igreja
relendo os temas da alegria e do testemunho à luz da espiri-
tualidade juvenil salesiana.
O slogan-guia do Confronto, “Testemunhas da alegria”, ex-
pressa e realiza o que Dom Bosco propunha aos seus jovens
na introdução de O jovem instruído: “Eu quero ensinar-lhes
um método de vida cristã que seja ao mesmo tempo alegre
e gratificante”.
O Confronto permitiu aos jovens provenientes de toda a Itá-
lia imergir na espiritualidade juvenil salesiana saboreando
plenamente todos os seus aspectos; propôs uma experiên-
cia real de pátio salesiano, uma combinação providencial de
alegria, festa, oração, reflexão, confidência, familiaridade,
escuta, encontros significativos, entrega a Maria.
Peregrinação salesiana
O ritmo da programação da semana foi marcado pela música
e pela festa, mas também pelas celebrações e pelos momen-
tos de oração. Foi um tempo vivido na escuta das temáticas
propostas, no diálogo e no confronto de experiências, va-
lorizando os lugares da história salesiana e social de Turim,
além de descobrir a espiritualidade e a beleza de Mornese,
de Chieri e do Colle Don Bosco.
Em Valdocco, Dom Bosco afirmou que a felicidade plena
e duradoura só é possível vivendo na graça, agindo como
cristão. A alegria, de fato, é o ambiente educativo a ser “res-
pirado” em suas obras. A Eucaristia cotidiana e as confissões
marcaram os encontros fundamentais de todas as jornadas
do Confronto.
Em Mornese, os jovens foram guiados pela vida de Maín, a jo-
vem Maria Domingas Mazzarello, através de uma história de
santidade feita de pequenas (grandes) coisas, de pequenos
(heroicos) gestos cotidianos, um extraordinário exemplo de
espiritualidade do agir cotidiano.
Pelas ruas de Turim, nos lugares da cidade que viram Dom
Bosco protagonista de mil aventuras, respirava-se a rela-
ção íntima entre o carisma salesiano e a Igreja. O MJS vive
na Igreja como proposta de santidade para todos os jovens.
Uma manhã de festa em Chieri levou a repercorrer os anos
da juventude de João Bosco e do amadurecimento da sua
vocação sacerdotal. Nada disso podia ser realizado sem uma
profunda amizade com Jesus, traço indispensável da espi-
ritualidade salesiana que Dom Bosco proporá em seguida
aos seus jovens.
O Colle Don Bosco, definido como a Belém salesiana, viu che-
garem os 1.200 peregrinos à Colina das Bem-aventuranças
Juvenis, como foi definida por João Paulo II na ocasião do
primeiro Confronto, em 1988.
A Vigília de adoração e a Eucaristia permitiram, depois, com
a alegria incontida nos corações dos presentes, explodirem
numa festa animada pela presença do padre Pascual Chávez.
O Reitor-Mor inaugurou o terceiro e último ano de prepara-
ção ao Bicentenário de 2015, convidando os jovens a olha-
51
rem para Dom Bosco, verdadeiro mestre de vida espiritual, a
beberem dele para fazer nossa a sua espiritualidade, inflamar
o nosso coração da sua caridade pastoral, encontrar Cristo e
fazê-lo ser encontrado pelos jovens, de modo que cada um
possa ser crível e convicta “testemunha da alegria”.
Quem estava presente ainda conserva no coração os três
afetuosos e acalorados apelos que o padre Pascual fez no úl-
timo encontro como Reitor-Mor com os jovens do MJS-Itália:
primeiro, “Não desperdicem a vida: devem pôr a própria exis-
tência em jogo”; segundo: “Cultivem seus desejos; ninguém
pode sonhar grandes coisas se não contemplou as estrelas”;
e, enfim: “Aprendam a nadar contracorrente; é o único modo
de serem fecundos no amor”.
Uma proposta de santidade juvenil
O nosso terceiro milênio precisa de santos, jovens santos das
pequenas coisas nas grandes opções, das ações ordinárias
em vidas extraordinárias, da alegria profunda numa vida de
testemunhas da Ressurreição de Cristo.
Uma semana de Confronto não pode ser resumida em pou-
cas linhas e nem contada em poucas páginas, mas para en-
contrar um ícone que explique o significado e a animação
num único Espírito, deveríamos descrever a chegada ines-
perada dos jovens na Praça Castello. Improvisamente, no dia
12 de agosto, às 12 horas, a praça animou-se com a chegada
dos 1.200 jovens que acorreram das ruas limítrofes forman-
do uma gigantesca composição “MJS”, dançando ao ritmo
do Hino do Confronto, “Alegria”. Não será, talvez, a Alegria
em Cristo a forma pura da santidade juvenil salesiana?

6.3 Page 53

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52

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Espiritualidade
53
que se celebra

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Uma celebração de fé e comunhão pelo mundo juvenil
54
A Pascoa
dos jovens
Texto: Inspetoria de Guwahati (Índia)
Guwahati é a porta norte da Índia e a maior cidade do
Assam. Os Salesianos estão aqui desde 1922, de onde,
depois, se espalharam a todos os cantos da região com
seus serviços pelos jovens, em particular focando na
educação e no desenvolvimento integral.
A Inspetoria de Guwahati, criada em 1959, deu origem a
outras duas Inspetorias a partir de 1981, e pode ser vista
ainda hoje como centro de união de todo o movimento
juvenil da região. O Don Bosco Youth Pasch é celebrado
todos os anos no Don Bosco Institute, e é um evento de
espiritualidade e fé que sempre traz grandíssimo número
de jovens do Movimento Juvenil Salesiano das três
Inspetorias.

6.6 Page 56

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ìNDIA
55
Padre Johnson Parackal, diretor da casa, entrevistado, recorda as origens do Youth Pasch: “O primeiro
encontro foi em 2004, quando vieram 100 jovens para celebrar o tríduo pascal no Don Bosco Institute de
Guwahati sob a orientação do padre V. M. Thomas, SDB, que na época era diretor e fundador do instituto, e
que hoje é nosso inspetor. Jamais teríamos pensado que a coisa tivesse sucesso, e tão grande. Desde aquele
momento, de fato, verdadeiras ondas de jovens dirigiram-se ao nosso centro para viver a experiência co-
munitária da Paixão de Cristo”.
Por mais de uma década, o Youth Pasch levou alegria ao nosso centro e fez irradiar a fé vivida e com-
O encontro pascal tornou-se
sinônimo de celebração da fé juvenil.

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ìndia
56
partilhada, de modo salesiano, por milhares de jovens.
Hoje, tornou-se sinônimo de celebração de fé católica
em nível de toda a região norte oriental do nosso país.
Mazzarello Mh. Boko, uma jovem que participou do
evento deste ano, fala da sua experiência: “Youth Pasch
foi para mim uma experiência única. Tudo bem orga-
nizado nos mínimos detalhes. Juntos, compartilhamos
a nossa fé em Jesus. Foi um dos encontros espirituais
mais belos de que participei”. Youth Pasch é, de fato,
uma experiência de fé para os jovens. “A programação
foi idealizada para que haja uma abordagem cativante
para os jovens de hoje de modo que cada participante
tenha um papel ativo neste encontro”, afirma o padre
Parackal.
Como fruto da metodologia do Youth Pasch, são ofe-
recidos aos jovens momentos tanto pessoais como de
grupo, para poderem, gradualmente, aproximar-se
mais da figura de Jesus Cristo. A paixão de Jesus e a es-
perança da ressurreição são vividas através de encon-
tros comuns e da liturgia do dia, solenizada de modo
cativante e sempre num adequado clima de oração.
No início da Semana Santa, os preparativos começam a
ferver no Don Bosco Institute. Uma maré de jovens de
toda a Índia norte oriental começa a invadir os vários
locais do Centro, que se encontra em verdes colinas a
poucos passos do rio Brahmaputra.
Tudo tem início na noite de Quarta-feira Santa. Há ca-
tequese e sessões de estudo da Bíblia, para que cada
jovem possa começar a preparar-se para o Tríduo
Pascal. “Aprender, estudar, conhecer a fundo a Bíblia,
alargou a minha visão”, diz Gracy Kulu, da diocese de
Dibrugarh. “Na Bíblia havia significados que eu antes
ignorava; agora, estou felicíssima por ter aprendido
algo de novo”.
Na manhã de Quinta-feira Santa, novamente encontros
sobre a fé cristã, para fazer com que os jovens estudem
e reflitam sobre a Palavra de Deus.
À noite, porém, são encenados o Lava-pés e a Última
Ceia, e os atores são os próprios jovens. Estes momen-
tos litúrgicos, tão importantes para a fé cristã e ricos
de significado, são revividos de modo muito especial
e não podem senão tocar a sensibilidade destes milha-
res de jovens.
Sexta-feira Santa é toda centrada na paixão e morte de
Cristo. A celebração da Via-sacra é uma oportunida-
de para os jovens fazerem experiência do significado
do sofrimento e pensar nas próprias dificuldades à luz

6.8 Page 58

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57
dos sofrimentos de Nosso Senhor. Os próprios jovens,
dividindo-se os papéis, encenam as quatorze estações.
Mesmo quem não é ator fica emotivamente muito
envolvido. Samuel Maslai, originário de Umswai, diz:
“Estou muito impressionado pelos momentos de ani-
mação teatral. A Palavra de Deus fez brotar em mim
muitas sensações e, seguramente, o meu desejo é dar
a conhecer o que Deus fez por mim a quem estiver ao
meu lado”.
“Neste dia, em que fazemos memória da nossa reden-
ção, é dada aos jovens a oportunidade de vivenciar o
grande poder curativo do Senhor através do sacramen-
to da Reconciliação”, diz o padre Parackal, responsável
e organizador do evento. Mesmo o fato de servir-se do
pátio para as confissões é um modo de fazer festa com
os jovens segundo a tradição salesiana, assim como
o de encenar “Ele vive”, tendo os jovens como atores,
obra teatral em que se sublinha a figura de Pedro, tam-
bém com o seu arrependimento.
A mediação e os momentos de partilha em grupo no
Sábado Santo preparam os jovens para a Vigília Pascal.
A expressão teatral é um meio válido para transmitir a
fé. E é de grande ajuda para fazê-los entrar no clima do
mistério da Vida Nova e da Ressurreição.
A expressão teatral é um meio válido para transmitir a fé.
“Nós Salesianos somos gente pascal, gente cheia de
alegria e de vida. E este é justamente o que cada um de
vós quer exprimir durante as nossas jornadas vividas
às margens do rio Brahmaputra”, afirma o padre Para-
ckal. A experiência de encontrar-se como na Galileia,
às margens de um grande rio, logo após a Santa Missa
do dia de Páscoa, dá aos jovens uma oportunidade de
expressar a alegria que trazem no coração com a mú-
sica, os cantos, as danças, tudo na companhia de seus
coetâneos e educadores. E tudo termina com um belo
ágape fraterno.
A noite passada em oração e em companhia faz com
que a experiência do Pasch Festival seja um verdadei-
ro itinerário de fé, no qual cada participante encon-
tra o Senhor Ressuscitado, que caminha com ele. Os
participantes voltam para casa renovados no espírito,
firmemente motivados a colocar-se a serviço de Cristo
no cuidado dos irmãos e das irmãs mais carentes.

6.9 Page 59

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58

6.10 Page 60

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www.dbafe.org
Quênia
Fé em ação
59
“Espero-o com ansiedade todos os meses”.
“Gostaria que fosse mais de uma vez por mês”.
“Ajudou-me a reforçar a minha fé”.
São alguns dos comentários dos jovens que
participam do Grupo de Liturgia Juvenil
“Vem e celebra”, que se reúne todos os meses
nos verdes campos do Don Bosco Youth
Educational Services (DBYES) de Nairóbi,
centro de animação juvenil e de formação
profissional da Inspetoria África Leste.
Texto: Sebastian Koladiyil

7 Pages 61-70

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7.1 Page 61

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Quênia
60
O programa “Vem e celebra” dirige-se aos jovens das esco-
las de Nairóbi e arredores, no Quênia. Muitas escolas não
oferecem a Missa aos seus alunos de fé católica e, por isso,
o DBYES procura compensar esta carência com uma missa
mensal, de modo que os estudantes que o desejem possam
participar dela; é sempre no primeiro domingo do mês, com
exceção de quando estão de férias.
São sempre muitos participantes, ao menos 400 jovens estu-
dantes vindos de 8, das 12 das escolas secundárias da região.
A única finalidade deste evento é a celebração da fé, para
que os jovens se sintam orgulhosos de serem católicos num
mundo que tendencialmente não o é, o mundo em que vivem
e estudam. Cada grupo tem o seu coordenador que é, ao
mesmo tempo, animador, muitas vezes um dos professores
da escola.
para as confissões, e é muito encorajador ver que
muitos resolvem receber este sacramento ou mes-
Uma celebração típica
mo apenas trocar duas palavras com algum padre.
O dia começa com o registro dos participantes, seguido de Cada parte da Missa é entregue à animação de uma
momentos de louvor e adoração, com cantos animados no das escolas: o serviço dos ministrantes, as leituras,
estilo africano, enquanto os estudantes dançam ao ritmo dos as canções, as danças litúrgicas, a oração dos fiéis,
tambores e de outros instrumentos. Estes momentos ser- o ofertório. Em média, estas missas duram duas ho-
vem de ajuda para criar uma atmosfera de espiritualidade, ras, ao final das quais há meia hora de pausa, que se
que prepara os jovens para a pequena conferência sobre o torna o momento do lanche e da socialização entre
assunto do dia. Os jovens então são divididos em grupos, os alunos das diversas escolas.
preenchem um questionário, e, depois, compartilham uma Após o lanche, eis o momento da diversão. Cada es-
discussão de todos juntos. Ao final da discussão de grupo, as cola é convidada a apresentar o tema do dia como
respostas são compartilhadas numa assembleia, e as outras quiser, com cantos, danças, pequenas récitas tea-
questões que surgirem serão esclarecidas durante a assem- trais. A melhor apresentação recebe um troféu. O
bleia geral. Segue uma pequena pausa, para permitir aos dia chega ao fim perto da noite, com o momento dos
jovens se prepararem para a Santa Missa. Desde o início do cumprimentos de todos e com a promessa de se re-
dia até este momento há a presença contínua de sacerdotes verem no mês seguinte.

7.2 Page 62

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Kenya
61
A família é o lugar em que se conserva a fé e o amor.
“Vem e Celebra” é uma experiência de vida cristã.
Temas
Em 2013, Ano da Fé, tratou-se dos temas: A fé na Bíblia;
A fé e a Igreja; A fé e a oração; A fé como credo; Fé, ciên-
cia e meios de comunicação; A fé e a espiritualidade; A
fé e o serviço; A fé que vai além... a esperança.
Em 2014, Ano da Família, os temas foram: A família na
Bíblia; A comunicação entre jovens e adultos no interior
de uma família; Preparar-se como jovem para uma vida
de casal; João Paulo II e a família; Os valores africanos
em diálogo com o cristianismo; Sacralidade do sexo no
âmbito do matrimônio; A família como pequena Igreja;
A família e a vocação.
Esperamos manter viva esta tradição nos anos futu-
ros. Estes encontros possibilitam aos jovens encontrar-
-se com coetâneos de outras escolas, fazer experiência
de partilha numa atmosfera absolutamente sadia, sem
distinções entre rapazes e moças, todos das escolas de
Nairóbi e arredores. É útil exprimir agora a própria fé,
vivê-la de modo visível, ser orgulhosos de fazer parte,
como nós, da família católica. A fé deles, porém, ao mes-
mo tempo, ainda precisa de ensinamentos para crescer.
Para isso servem os momentos de catequese durante os
vários encontros. Muitas das dúvidas dos jovens são es-
clarecidas, de modo que, no final do dia, são invadidos
por um sentimento de plenitude e sentem que a sua fé
também se reforçou um pouco.

7.3 Page 63

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África
Texto: Marc-Auguste Kambire
62 Batismo e
Eucaristia,
sacramentos
da alegria
Meu nome é Matthew Lawson e frequento
o mestrado em leis e ciências políticas na
Universidade de Lomé (Togo). Em minha vida
houve momentos que me marcaram muito e me
obrigaram a fazer uma pausa; o que estou para
contar é uma dessas experiências.

7.4 Page 64

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África
Um tranquilo sábado à tarde. Minha mãe tinha o cos-
tume de fazer compras no mercado. Eu aproveitava
para jogar futebol com os amigos. Naquela vez, porém,
quando minha mãe voltou para casa, pediu-me para
acompanhá-la à paróquia de Maria Auxiliadora de
Gbényedzi (sob a responsabilidade dos salesianos, na
região oriental de Lomé) para iniciar o meu itinerário
catequético. Tinha 11 anos. Para ser sincero, já me ti-
nha dito várias vezes que devia começar, mas eu não
tinha vontade; naquela tarde, porém, foi tudo diferente
para mim, pois estava me obrigando.
Chegando à paróquia, fomos até a sala dos mais peque-
nos. Minha mãe deixou-me com o catequista e voltou
para casa. Entrei na sala e fiquei quase o tempo todo
em silêncio. O motivo? Estava num grupo completa-
mente desconhecido. Precisei de mais de três aulas
para ambientar-me e, mais do que isso, para começar
a interessar-me por aquilo que estava acontecendo: a
catequese.
No início, eu odiava a ideia de ter de deixar o futebol
pelo catecismo; depois, aos poucos, comecei a ficar
contente por participar da escola de Jesus. O espírito
de família que havia na sala, os valores que nos eram
ensinados, como o respeito aos outros e o empenho na
escola, foram coisas que me motivaram sempre mais a
participar.
Nomearam-me chefe da sala devendo cuidar da disci-
plina, organizar os momentos de diálogo, fazer o regis-
tro das presenças e ausências para o catequista. Apren-
di como gerir um grupo e fiz a Primeira Comunhão no
Domingo de Páscoa de 2005. Desejei por muito tempo
aquele dia em que, finalmente, participaria do Sagra-
do Banquete da Eucaristia. Não sei como descrever a
alegria experimentada ao receber o Corpo e Sangue de
Jesus pela primeira vez na minha vida. Naquela idade,
estávamos desejosos de participar de alguma coisa que
nos fora negada por tanto tempo. A curiosidade inicial
tornou-se agora para mim uma verdadeira fonte de
salvação. Descobri a fonte da liberdade
no sacramento da Eucaristia. Na sema-
na seguinte, da Páscoa, fui à Missa to-
dos os dias rezando em par-
ticular por toda a minha
família. Mas, ai de mim,
o entusiasmo daqueles
primeiros dias se foram e
me levaram também a
não participar mais
da catequese por certo tempo. Estava convencido de
que tendo recebido aquele sacramento, já tinha ganha-
do a “carteira de identidade do católico”, um certificado
do qual precisava, e que era mais do que suficiente.
Em 2008, fui convidado por um meu catequista a par-
ticipar dos encontros de um grupo chamado “Jesus
Misericordioso”. Encontro após encontro, em 2011 eu
recebi o sacramento da Crisma. A partir daquele mo-
mento, tornei-me membro ativo tanto do grupo como
da minha paróquia. Fui eleito membro do grupo local
de animação da pastoral juvenil. O grande envolvimen-
to no grupo fez com que permanecesse bem sólido em
Jesus e continuasse a refletir sobre as graças recebidas
através dos sacramentos, em primeiro lugar, da Euca-
ristia.
Encontro alegre
São muitos os jovens que, como o nosso Matthew, re-
cebem o Batismo e a Primeira Comunhão no dia de
63
Páscoa. De 1982 até o fim de maio de 2014, podemos
contar 20.046 Batizados e 17.197 Primeiras Comu-
nhões. Uma média de 626 Batismos e 537 batizados
que recebem a Primeira Comunhão todos os anos. A
celebração destes sacramentos, segundo o que afirma
a coordenadora do grupo de catequistas, Désiré Gon-
çalves, “é uma oportunidade para a paróquia exprimir a
própria alegria ao ver os seus filhos e filhas renascerem
e tornarem-se parte da família cristã. Na cultura Éwé
(povo do Togo meridional), uma criança começa a fazer
parte da sociedade a partir do seu oitavo dia de vida.
O sacramento do Batismo é a festa em que se dão as
boas-vindas ao novo nascido no interior da família de
Deus. É, portanto, uma oportunidade de reunir as famí-
lias, para celebrar a alegria de ter um novo cristão nesta
grande família que é a Igreja. Um evento especial que
se dá aqui é o momento em que os neófitos agradecem
a Deus e se consagram a Maria Auxiliadora depois de
uma Missa especial, celebrada em honra deles na
manhã da segunda-feira da Páscoa”.
Para estes novos chegados, muitos dos quais
são jovens, a paróquia é um verdadeiro lugar de
alegria. E para a comunida-
de salesiana, este é um
modo de pôr em prática
a espiritualidade da ale-
gria, característica tí-
pica da espiritualida-
de salesiana..

7.5 Page 65

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México
Texto: Jorge García Montaño e Oscar Gómez De la Vega
FPraustcoal
Zamora, onde os salesianos têm uma igreja muito ativa,
é uma cidade de dimensões médias no Estado do Méxi-
co, enraizada na tradição cristã, que deriva mais da pie-
dade popular do que da profunda adesão ao Evangelho.
A formação cristã dos jovens vai-se desintegrando sem-
64
pre mais, dando lugar à indiferença religiosa.
Fruto Pascal é um grupo que faz parte do Movimento
Juvenil Salesiano e se ocupa em resgatar os jovens, le-
vando-os à fé alegre e profunda numa sociedade feita
apenas de superficialidade e de consumismo, caracte-
rizada pelo “querer mais”, e não pelo “ser mais”. Fruto
Pascal é um movimento juvenil que escolheu como
lema as palavras de Jesus: “Quem permanecer em
mim produzirá muito fruto” (João 15,5).
“Que tédio”, disse Monse quando foi convidada para
participar de um dos encontros de Fruto Pascal. “A
Igreja é uma coisa tediosa”, disse. Monse era uma
boa garota, mas faltavam-lhe horizontes espirituais.
Afastara-se da Igreja e Deus estava muito distante da
esfera de seus interesses. Aceitara com relutância o
convite para participar do grupo, mais do que por ou-
tros motivos, porque também estaria presente uma
amiga e... surpresa... a acolhida foi calorosa.
Logo, a sua vida mudou e agora dedica
grande parte do seu tempo ao apo-
stolado entre os jovens para torná-
los amigos de Jesus. Afirma ter
encontrado a verdadeira amiza-
de e que “Jesus é o meu herói”.
Todo membro do grupo oferece
o próprio tempo e ajuda convidan-
do outros jovens ao seu redor para
participar das atividades.
Erik, 21 anos, até alguns anos atrás
sofria de anorexia, apatia e outros
problemas. Era inseguro e pouco
comunicativo. Agora, não só é sociável, como também
responsável de alguns novos grupos, porque para ele
Deus se tornou uma presença bem perceptível em sua
vida cotidiana. “Está sempre comigo; agradeço-lhe
quando vou dormir e quando acordo.” Ele é um artista:
canta e toca muitos instrumentos, anima os momentos
da liturgia, é amigo de todos os membros do grupo. Diz:
“O grupo é o lugar onde se encontram os verdadeiros

7.6 Page 66

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MéXICO
amigos”, e identificou-se completamente com o espírito
de Dom Bosco, na “luta” para levar sempre mais amigos
a Jesus.
Oscar, 17 anos há pouco, estuda informática, gosta de
línguas e de leitura. “Gosto, sobretudo, do modo com
que Dom Bosco encaminhou os jovens à santidade, uma
santidade juvenil feita de alegria, ao alcance de todos
nós.” Oscar pensa na santidade como numa grande
alegria que brota do cumprimento dos próprios deve-
res, e ele tem bem presentes as palavras de Domingos
Sávio ao amigo Camilo Gávio no oratório de Dom Bo-
sco: “Caro amigo, aqui fazemos consistir a santidade em
estar sempre alegres; procuramos não cometer peca-
dos, porque ele nos tira a graça de Deus e a paz da alma;
participamos dos sacramentos e das práticas de pieda-
de, cumprimos os nossos deveres, para não esquecer as
palavras da Bíblia: ‘Servi ao Senhor na alegria’”.
Os jovens que participam do Fruto Pascal têm históri-
as semelhantes entre si, e passaram, embora de modos
diferentes, de uma situação humana e espiritual de
escassa relevância, sem metas, com muitos conflitos fa-
miliares e uma vida arrastada pelo tédio, embora cheia
de festas entre amigos, a uma vida vivida com a grande
alegria que deriva da verdadeira amizade com Deus e
o compromisso com Ele. Tudo isso é possível graças às
atividades apostólicas compartilhadas com outros ra-
pazes e moças da sua idade. Jesus disse: “Eu vo-lo disse
para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria
65
seja plena” (João 15,11).
Checo (Sérgio) e Grecia são noivos e cresceram parti-
cipando ativamente do grupo. Agora, fazem
parte dos “semeadores”, o nível sucessivo aos
três anos de preparação básica, comum a to-
dos. Grecia está concluindo os estudos. Quer
ser professora. O tema da sua tese é sobre “O
sistema educativo de Dom Bosco”. Checo foi
a alma do grupo desde o seu surgimento e é
a mão direita do fundador, padre Alejandro
Guzmán. Sua tarefa é ocupar-se dos rapazes
e moças aos quais ninguém oferece amor, fé
e educação; os jovens que têm péssimos co-
stumes, e ninguém sabe como ajudá-los, en-
frentam uma vida cheia de dificuldades e são
impotentes diante dos modelos
egoístas e da indiferença social
que a cultura atual oferece. Fru-
to Pascal ajuda os jovens na fase
do seu desenvolvimento no qual
a busca de sentido da vida é algo
importante. Com o apoio do gru-
po, é quase certo que todos se
abandonam ao abraço de Jesus,
que os acolhe como amigo,
porque a espiritualidade
de Dom Bosco foi cri-
ada na medida certa
para ajudar os mais
necessitados.

7.7 Page 67

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Texto: Marina Lomunno
DAomfeBstaodsceo
66
na Casa-Mãe

7.8 Page 68

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A longa jornada da festa litúrgica de Dom Bosco teve
seu momento central no fim da tarde na Basílica de
Maria Auxiliadora: a Missa para os jovens do Movi-
mento Juvenil Salesiano presidida pelo Reitor-Mor
padre Ángel Fernández Artime. Uma celebração fes-
tiva com os representantes do mundo todo das 30
realidades (leigas e religiosas) que compõem a Famí-
lia Salesiana e com centenas de jovens que lotaram
absurdamente a basílica.
O Senhor Jesus é o caminho autêntico
para a verdadeira felicidade de cada um
O Reitor-Mor, continuando a tradição do seu prede-
cessor padre Pascual Chávez Villanueva, também pre-
sente em Turim para as celebrações do Bicentenário,
entregou aos jovens do Movimento e, idealmente, a
todos os jovens dos 132 países do mundo onde estão
as obras salesianas, a mensagem da festa litúrgica de
Dom Bosco tirada da primeira carta de São João: “Es-
crevo a vós, jovens, porque sois fortes e a palavra de
Deus habita em vós”. “Escolhi estas palavras tiradas
da primeira carta de São João – disse o Reitor-Mor
– porque me parece uma belíssima concretização do
chamado que hoje o Senhor Jesus faz a cada um de
vós que, sem dúvida, Dom Bosco, com sua genialida-
de educativa, saberia traduzir em desafio e horizonte
da vida cotidiana para os jovens. Meus caros jovens,
eu não vos posso esconder esta minha profunda con-
vicção: o Senhor, Jesus de Nazaré, Filho do Pai, é o
caminho autêntico da verdadeira felicidade de cada
um de nós, de cada um e cada uma de vós. Dom Bosco
acredita cegamente, plenamente, em vós jovens. Fazia
suas as inquietações, esperança e alegrias dos seus jo-
vens (e de vós), vivendo com os seus jovens, entre eles
e com eles, e, no que nele era um dom especial, ser
homem da relação pessoal, do bom trato, da amizade
e do diálogo, dava aos seus jovens toda a confiança
para serem realmente ‘fortes’ no caminho da vida, for-
tes na fé, crendo realmente nas próprias capacidades
e possibilidades, crendo que podeis ser, e deveis ser,
porque assim pede o Senhor, os verdadeiros protago-
nistas de vossas vidas”.
67
30 grupos, 132 países
Pela manhã, os superiores e coordenadores das 30
componentes da Família Salesiana reuniram-se em
Maria Auxiliadora pela primeira vez por ocasião do
Bicentenário, animando o pátio de Valdocco com as
cores e as línguas dos 132 países onde os salesianos
estão presentes: “Estamos reunidos por ocasião dos
200 Anos do Nascimento de Dom Bosco – disse a irmã
Yvonne Reungoat, Madre-Geral das Filhas de Maria
Auxiliadora – para criar mais sinergia entre as várias
componentes da Família Salesiana, para potenciar a
rede dos filhos e das filhas de Dom Bosco e de Ma-
dre Mazzarello – é o carisma do nosso Santo que nos
une: mas, quanto mais conseguirmos conhecer-nos e
integrar-nos, mais serviremos à Igreja. Para ser sinal
de paz no mundo precisamos, antes de tudo, nós cris-
tãos, crescer no diálogo, abater os provincianismos.
Dom Bosco não é só da Família Salesiana, mas de toda
a Igreja e de todos aqueles que, mesmo não sendo
cristãos, amam os jovens”.

7.9 Page 69

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etiópia
Texto: Padre Lijo Vadakkan
A bandeira salesiana tremula
em terra ortodoxa
na Etiópia
68

7.10 Page 70

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ETIóPIA
69
Os etíopes são descritos na Bíblia como “um povo alto e
bronzeado, um povo poderoso e vitorioso, um povo te-
mido agora e sempre” (Isaías 18,2). A Etiópia é famosa
pela sua antiga civilização e tem orgulho de ser um dos
primeiros países do mundo a aceitar Cristo e o cristia-
nismo. É um dado de fato que, segundo a história do
cristianismo, a única pessoa a perguntar: “O que me im-
pede de receber o Batismo?”, foi um etíope. O apóstolo
Felipe disse: “Se crês com o coração, então te é permi-
tido”. O etíope respondeu: “Creio que Jesus Cristo é o
Filho de Deus” (Atos dos Apóstolos 8, 37-38).
Um “sonhador” para a África
Podem-se ler nas Memórias Biográficas de Dom Bos-
co dois sonhos relacionados com a África. O primeiro
é de 1866: uma pastorinha aparece a Dom Bosco e
mostra-lhe o desenvolvimento da Congregação através
da imagem de um raio de sol que, de Santiago chega
a Pequim, passando pelo continente africano (Memó-
rias Biográficas XVIII, 71). O segundo é de 1885: nele,
Dom Bosco sonha encontrar-se pessoalmente na África
Central e, ali, um anjo lhe fala das grandes bênçãos que
logo haveriam de chover sobre este continente (Memó-
rias Biográficas XVII, 643. 645).
Isto é história! Seriam necessários 90 anos para que o
sonho de Dom Bosco se tornasse realidade e os primei-
ros salesianos pusessem o pé em solo etíope; fizeram-
-no, de fato, somente em 1975. Desde a chegada dos
pioneiros, a prioridade dos salesianos na Etiópia foi a
educação de centenas de jovens que frequentam uma
rede com mais de 14 realidades presentes em todo o
país.
O sonho continua...
A missão salesiana voltada para os jovens etíopes foi
um verdadeiro desafio, sobretudo em vista da realida-
de multiétnica, plurirreligiosa e multicultural em que
se coloca. Enquanto a nação com o passar do tempo
foi proclamada de maioria cristã, recentemente a po-
pulação muçulmana cresceu muitíssimo a ponto de se
poder afirmar que o número atual dos muçulmanos é
quase o mesmo dos cristãos. O número dos católicos,
tanto de rito latino como grego, é hoje de apenas 1% da
população total etíope, que é de 85 milhões de habitan-

8 Pages 71-80

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8.1 Page 71

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etiopia
70
tes. Apesar de tudo, é preciso dizer que a Igreja Católica
tem um papel importante na vida de muitos etíopes, so-
bretudo graças ao grande número de escolas, hospitais
e outras instituições que oferecem serviços pelo bem
comum da sociedade. Há, de fato, mais de 350 escolas
católicas que atuam no país, com um total de 120 mil
estudantes por ano, fazendo com que a Igreja Católica
seja o mais importante organismo educativo do país,
logo depois do governo. Entre estas, as escolas salesia-
nas são 19, e compreendem escolas elementares, mé-
dias, técnicas e liceus.
A evangelização num ambiente
multiétnico
O principal desafio para os salesianos na Etiópia é fazer
com que o carisma de Dom Bosco esteja presente tam-
bém num ambiente plurirreligioso como é a Etiópia,
onde a Igreja Ortodoxa Etíope está profundamente en-
raizada na vida e na história das pessoas desde o início
do próprio cristianismo.
Embora raro, aconteceu, contudo, em alguns momen-
tos, que padres ortodoxos tenham proibido aos seus
fiéis de frequentar cursos ou até mesmo atividades
lúdicas nas casas salesianas, convencidos de que se
tratasse apenas de isca que depois levaria os jovens a
abraçarem a fé católica. Hoje, em todo caso, com paci-
ência e tolerância, são os próprios jovens que começam
a entender que as Igrejas ortodoxa e católica comparti-
lham o mesmo ideal: o desenvolvimento dos jovens da
sociedade em seu conjunto.
O Movimento Juvenil salesiano (MJS) da Visitadoria
fez grandes esforços a esse respeito, acompanhando
os jovens a trazerem harmonia entre as espiritualida-
des católica e ortodoxa. Aulas de catequese, Savio Club,
grupos teatrais e de entretenimento nos vários orató-
rios fazem parte da formação à fé, unida às várias ativi-
dades recreativas. Aulas de formação moral e progra-
mas de estudo noturno no oratório de Adwa, na região
norte do Tigray, por exemplo, são iniciativas passadas,
mas que os ex-alunos ainda recordam com prazer. O
resultado foi o número de vocações à vida salesiana
que vieram desses oratórios, muitas vezes de famílias
tradicionalmente ortodoxas apesar da dura oposição a
esta opção.

8.2 Page 72

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ETIóPIA
71
Jornada do MJS em Mekanissa
A jornada MJS realizada neste ano em Mekanissa foi
uma grande iniciativa a respeito disso, para reunir os
líderes dos jovens dos vários oratórios salesianos. Tudo
se realizou no centro Bosco Children da cidade. Partici-
param mais de 250 jovens dos vários oratórios locais;
eles compartilharam ideias e sonhos, apresentaram as
próprias diferenças e, depois, surgiu um fórum de dis-
cussão. Os três dias do evento foram organizados de
modo que os jovens e os salesianos participassem jun-
tos de momentos de música e esporte, com espírito de
alegria e de oração. Entre os jovens havia também mu-
çulmanos e ortodoxos, católicos e protestantes, todos,
porém sob o guarda-chuva de Dom Bosco, com o único
objetivo de criar um mundo melhor.

8.3 Page 73

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72

8.4 Page 74

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Espiritualidade
73
missionária

8.5 Page 75

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MUndo
Texto: Alfred Maravilla, SDB
74 Senhor, envia-me!
Ide ao mundo todo...
Durante sua vida, Dom Bosco organizou umas 11
expedições missionárias, mas nenhuma superará o
entusiasmo da primeira. Entre os muitos que respon-
deram ao convite, Dom Bosco escolheu 6 padres e
4 coadjutores. Foi um acontecimento epocal para a
Congregação e também para a cidade de Turim! A
partida de Valdocco foi solene; era o dia 11 de no-
vembro de 1875. Começa uma época missionária,
que crescerá em todos os Continentes, inculturando
o carisma salesiano em muitos lugares: “Sempre fiz o
que pude; sobre o que ainda resta a fazer, pensarão os
meus filhos”. Desde 1875, a Congregação Salesiana
é missionária. Em 1888, 20% dos salesianos viviam
nas missões da América. E ela continua ainda hoje a
viver com generosidade e entusiasmo esta vocação
específica.
Mas, por que ser missionário? O que motiva ainda
hoje esta vocação, até mesmo em países com cultu-
ra totalmente diferente, em lugares frequentemente
inseguros e paupérrimos? Odise Lazri (albanês, que
partiu em 2013 como missionário para a África do
Sul) diz: “Para mim, ser missionário significa ser por-
ta-voz de Cristo, levar a boa notícia da ressurreição do
Senhor, levar a alegria do Ressuscitado aonde ela ain-
da não chegou”. Padre Roberto (italiano, partiu para
o Brasil em 2012): “A partir da minha experiência de
salesiano – já estive diversas vezes em terras de mis-
são, tanto no Brasil como em Madagascar –, posso
dizer que os salesianos têm o grande objetivo de dar
sempre nova esperança, nova força, uma grande fé às
novas gerações”. Padre Sony (indiano que partiu em
2013 para Serra Leoa) fala: “O principal objetivo da
missão hoje é tornar Cristo conhecido a quem ainda
não o conhece e levar as pessoas a Deus. Vivemos
num mundo em que Deus não é importante e, por
isso, neste mundo secularizado, precisamos tornar
Cristo e a sua Palavra conhecidos do povo”.
No Ano Bicentenário do Nascimento de Dom Bosco,
os salesianos são chamados a reviver o seu espírito
missionário: “O aspecto missionário tornou-se típico
de cada salesiano, porque dedicado ao mesmo espíri-
to salesiano”, escreveu o padre Juan Vecchi, oitavo su-
cessor de Dom Bosco. “Não é, portanto, alguma coisa

8.6 Page 76

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MUndo
Fr. Luigi Bolla: «Quando la nave
è partita da Genova ho vissuto
uno dei momenti più belli della
mia vita... È un momento dove il
Signore ti dice: “Io sono tutto solo
per te” è un momento di gioia in-
finita. Questa sì è la testimonianza
che vorrei rimanesse perché può
incoraggiare i giovani che molte
volte dubitano, dicendo “vado a
provare”. Meglio andare disposti
a tutto...».
75

8.7 Page 77

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76
acrescentada a alguns. É como o coração da caridade
pastoral, o dom que caracteriza a vocação de todos.”
O padre Ángel Fernández, atual sucessor de Dom Bos-
co, reiterou aos membros da 145ª expedição missio-
nária (2014): “Hoje, dizer ‘salesianos’ significa estar
entre os mais pobres e necessitados da sociedade; não
deveria ser apenas um slogan, mas uma realidade (...).
Deve ser a paixão missionária que cada salesiano sen-
te de ir ao encontro dos jovens; precisamos, portanto,
de uma Congregação mais próxima deles, do povo, da
sociedade; isso haverá de garantir a continuidade do
carisma e da missão”. Por isso, o diácono brasileiro
José Alves de Oliveira pediu para ser enviado entre
os Xavantes do seu país: “Muitos missionários, dei-

8.8 Page 78

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MUndo
xando suas terras, dedicaram-se a este trabalho com
fé e amor. Assim também, nesta realidade indígena,
eu me vejo como parte do sonho de muitos outros so-
nhadores... e, como desafia o CG27, que nos chama a
ser Dom Bosco nas realidades fronteiriças das perife-
rias, aonde é mais necessária uma presença profética
e evangelizadora”.
“Celebrar este 200.º aniversário do nascimento de
Dom Bosco significa também retornar às nossas raí-
zes missionárias”, insiste o padre Guillermo Basañes,
77
Conselheiro para as Missões. “Vivemos este jubileu
em chave de saída missionária salesiana. Que a sole-
ne conclusão destas celebrações, em 15 de agosto de
2015, encontre os filhos de Dom Bosco acidentados
e feridos por terem saído pelas estradas, mais do que
doentes pelo fechamento e a comodidade de agarrar-
-se às próprias seguranças” (Papa Francisco, Evange-
lii Gaudium, 49), “saiamos para oferecer a todos a vida
de Jesus Cristo”. Eis o melhor presente de aniversário
que podemos oferecer ao nosso caro Joãozinho!
Hoje, o Papa Francisco nos ilumina: viver a dimensão
missionária do nosso carisma significa manter viva a
nossa paixão por Jesus e o seu povo, vivendo a nos-
sa vida salesiana em estado permanente de missão
e, assim, superarmos a acídia pastoral, a mesquinhez
e a psicologia do túmulo e reencontrar a alegria de
evangelizar! (cf. Evangelii Gaudium, 25, 82-83, 268).
Por outro lado, a expressão mais bela deste espírito
missionário é deixar a própria terra, o próprio povo
para anunciar o Evangelho de Cristo. Assim, todos os
anos, na basílica de Maria Auxiliadora de Turim se
renova a tradição da partida e do adeus aos missioná-
rios. É um evento solene e comovente. Com a entrega
do Crucifixo e o abraço fraterno completa-se o itine-
rário de preparação pessoal e comunitária. Vocação
missionária é uma longa história de amor entre Deus
que chama e o apóstolo que responde. É sempre Deus
quem escolhe. E o homem não é nunca tão grande
como quando diz “sim” a Deus que passa e chama.

8.9 Page 79

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Brasil
78 A voz
do missionário
Texto: Padre Roberto Cappelletti, italiano, missionário no Brasil
Não sei bem o dia preciso do nascimento da minha
vocação salesiana, mas sei muito bem como se desen-
volveu ao longo dos anos. Desde pequeno, e depois
no noviciado, sempre fui atraído pelas narrações dos
missionários que nos vinham falar de terras distantes
e da sua vida entre os mais pobres. Sempre tive esta
sensibilidade, mas, talvez, como o fogo de uma pequena
lareira, estava um pouco escondida, sob as brasas de
tantas atividades e dos meus estudos. Na casa salesiana
de Mezzano, tive a oportunidade de entrar em conta-
to com o Brasil, através do gemellaggio e de viagens
àquela terra. E ali, o fogo reacendeu-se. Fui, depois, cha-
mado como Delegado para a Animação Missionária da
Inspetoria INE. A caminhada com os jovens da Escola
de Mundialidade e as experiências de verão em Mada-
gascar, confirmaram-me na vontade de gastar minha
vida entre os mais pobres.
Há quem diga: “Aqui, na Itália, precisamos dos salesia-
nos; por que deve partir para as missões?”. Trata-se de
uma objeção que pode ter suas razões, vendo-se a op-
ção de deixar o próprio país para ser missionário ad
gentes apenas do ponto de vista material, numérico e
estatístico. Contudo, quem parte para a missão o faz
não para fugir de alguma coisa, mas para dar sentido
pleno à própria vocação e, no meu caso, à minha voca-
ção salesiana.
Ao colocar o meu pedido para ser missionário ad gen-
tes diretamente nas mãos do Reitor-Mor, quis dizer
que a minha vida pertence a Deus e não a mim, e que
gostaria fosse gasta pelos mais pobres e distantes. Não
será muito que conseguirei dar, mas estou certo de que
sentir a felicidade dentro de mim por aquilo que faço
com os mais pobres é a melhor resposta a tantas dúvi-
das iniciais.

8.10 Page 80

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AUSTRIA
79
Até há pouco tempo, estive em Itajaí, uma cidade por-
tuária do sul do Brasil, formada em grande parte por
gente que vive bem, que vive do próprio trabalho. Mas
mesmo numa cidade como essa há centenas de pessoas
e crianças que vivem à margem, em casas derrocadas,
em situações de violência, marginalização e droga. Es-
tive ali sobretudo para eles, para dar-lhes esperança e
futuro, através da educação, da formação pessoal, do
acompanhamento e do testemunho, meu e da comu-
nidade educativa do Parque Dom Bosco, a obra social
onde trabalhei até há pouco tempo. É claro que, às ve-
zes, também eu me pergunto se estou no lugar certo,
vendo que grande parte da cidade vive em estilo euro-
peu, sem muitos problemas. Mas, por agora estou aqui,
com o sonho de um dia poder dar a minha vida tam-
bém numa situação missionária mais radical e pobre do
que aquela onde estou agora. Foi sempre o meu sonho.
Mas onde estou e aonde serei enviado ou pedirei para
ir, procurarei sempre viver do melhor modo a minha
vocação salesiana missionária, dando cada respiro aos
mais pequenos e pobres.
Há dois meses fui destinado à Inspetoria Missionária da
Amazônia, para viver a experiência missionária numa
localidade do alto Rio Negro, chamada Iauaretê, nos
limites com a Colômbia. Aqui, comecei a trabalhar com
várias etnias indígenas, das quais a mais importante é
a dos Tucanos. Visitando as mais de 30 comunidades
espalhadas ao longo de vários rios, coordenando as ati-
vidades do Oratório e ajudando na pastoral paroquial,
estou descobrindo o quanto nós ocidentais temos a
aprender destes povos tão ricos de história e de cultu-
ra e tão simples em seu estilo de vida. Agradeço a Deus
e aos meus superiores por esta nova possibilidade de
viver pobre entre os mais humildes e pobres.

9 Pages 81-90

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9.1 Page 81

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patagonia
Texto: Pier Giuseppe Accornero
80
Da Terra do Fogo
ao Vaticano
“Uma ponta de terra árida voltando-se para o Sul, en-
tre o Pacífico e o Atlântico, ao final do Continente
americano” – esta é a Patagônia. “Encostada a oeste na
Cordilheira dos Andes e banhada a leste pelo Atlânti-
co, aberta ao norte a uma linha incerta que a liga aos
Pampas argentinos, percorrida sem pausa pelo vento”.
Assim um explorador descreve a Patagônia, 800 qui-
lômetros quadrados aonde chegaram, em 1879, as
missionárias e os missionários salesianos enviados por
Dom Bosco. “Meseta, planalto árido”, rios tempestuo-
sos, montanhas imponentes, tremenda solidão, vento
gélido e implacável. No Bicentenário do Nascimento
de Dom Bosco – reconhecido pelo Comitê histórico-
-científico como “um aniversário de interesse nacio-
nal” – a Câmara dos Deputados da Itália prestou ho-
menagem ao santo piemontês com uma celebração na
sala Aldo Moro, em 18 de novembro de 2014, com a
saudação da presidente da Câmara, Laura Boldini, e o
Congresso “Italianos no fim do mundo: missionários
salesianos pioneiros na Patagônia e Terra do Fogo”.
Antes de tudo, a formação humana
Em 11 de novembro de 1875, na basílica turinense de
Maria Auxiliadora, Dom Bosco abençoou a primeira
expedição missionária, capitaneada pelo padre João
Cagliero e formada por outros 5 sacerdotes, entre os

9.2 Page 82

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patagonia
81
quais José Fagnano, espírito de pioneiro e ex-garibal-
dino, e quatro coadjutores. Dom Bosco recomendava-
-lhes com insistência, a situação dolorosa de muitas
famílias italianas: “Encontrareis um grandíssimo nú-
mero de crianças e também de adultos que vivem na
mais deplorável ignorância sem saber ler, escrever e
qualquer princípio religioso. Ide, buscai estes nossos
irmãos que a miséria e a desventura levou a terra es-
trangeira”. Num segundo momento, iniciaria a evan-
gelização da Patagônia: “Damos assim início a uma
grande obra, não porque se creia converter o universo
inteiro em poucos dias, não! Mas quem sabe esta parti-
da e este pouco não serão como uma semente da qual
surgirá uma grande planta? Quem sabe não seja como
uma semente de milho ou de mostarda, que aos pou-
cos se estenderá e haverá de produzir grande bem?”.
Com grande comoção os 10 missionários atravessaram
a basílica recebidos por uma grande multidão. Trazem
consigo um folheto com as “lembranças especiais” es-
critas por Dom Bosco: “Buscai as almas, não o dinheiro,
nem as honras, nem as distinções; cuidai especialmente
dos doentes, das crianças, dos idosos e dos pobres, e
conquistareis a bênção de Deus e a benevolência dos
homens; fazei com que o mundo saiba que sois pobres
nas roupas, na alimentação, nas habitações, e sereis
ricos diante de Deus e donos do coração dos homens;
entre vós, amai-vos, aconselhai-vos, corrigi-vos, não
carregueis nem inveja nem rancor, antes o bem de um
seja o bem de todos, as penas e os sofrimentos de um
sejam as penas e os sofrimentos de todos, e cada um
procure afastá-los ou ao menos mitigá-los; nos traba-
lhos e nos sofrimentos, não se esqueça que temos um
grande prêmio preparado no Céu. Amém”. Ao padre
Cagliero, escreve: “Fazei o que possais, Deus fará o
que nós não podemos fazer. Confiai tudo a Jesus Sa-
cramentado e a Maria Auxiliadora, e vereis o que são
os milagres”. Dom Bosco acompanha-os até Gênova
onde embarcam no dia 14 no navio francês Savoie.
As primeiras obras e... os avós do Papa
Em Buenos Aires e na Argentina, são muitos os emi-
grantes italianos e piemonteses. Em 1877, os salesianos
inauguram no bairro de Almagro a igreja paroquial, as
escolas de artes e ofícios, o oratório; em 1908 nasce, na
capela de Santo Antônio, o time de futebol San Lorenzo
de Almagro do nome do fundador, o salesiano padre
Lorenzo Massa, time que apaixona e ganha 14 torneios
do campeonato argentino. Em 15 de fevereiro de 1929,
chegam os avós paternos e o pai do Papa Bergoglio,
emigrados de Turim e de Portacomaro. Em Buenos
Aires, frequentam a paróquia do bairro de Flores, mas
têm o coração no oratório de Almagro e torcem pelo
time com as cores vermelha e azul. Jorge Mario é seu
grande torcedor; quando pode, vai ver o time no estádio
e, em 2008, em seu centenário, o cardeal arcebispo de
Buenos Aires recebe a carteirinha de sócio honorário.

9.3 Page 83

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Tailândia
Texto: Anand Thanad
Construir com a espiritualidade
de Dom Bosco
A simplicidade vivida no amor é o modo de viver que
Deus realmente quer de nós. Jesus deu-nos um exemplo
de vida que reflete a simplicidade do verdadeiro amor
por nós e nos indica como segui-lo. A verdadeira espiri-
tualidade do amor só pode encorajar na continuidade do
próprio serviço, suportando as dificuldades e os proble-
mas que encontramos todos os dias.
As urgências do Evangelho pediram que muitas pessoas
82
vivessem longe do lugar onde nasceram e cresceram, às
vezes, sem lhes dar a possibilidade de retornar. Um destes
missionários é o padre belga Albert Lucien Gustave Roo-
sens, que com seus 89 anos ainda testemunha o frescor
do Evangelho. O padre Albert foi ordenado sacerdote
salesiano em 1956 e partiu como missionário para a
Tailândia, país no qual a religião de Estado é o budismo.
Sua vida inteira esteve cheia de milagres graças à ajuda
de Deus. O padre Albert contou-nos sobre o período em
que era o único missionário que trabalhava no sul da
Tailândia que, na época cobria as províncias de Pattani,
Narathiwat, Yala, Surathani e muitas outras confinan-
tes com elas. Não era fácil evangelizar naqueles lugares,
pois a maioria das pessoas era formada por muçulmanos
e, por isso, era-lhes difícil aceitar os conceitos básicos
de uma religião diferente. Também precisou levar em
conta o fato de muitíssimas crianças não terem a possi-
bilidade de ir à escola e as causas eram sobretudo duas:
a pobreza e a distância entre a casa e a escola. O padre
Albert decidiu, então, em primeiro lugar, construir uma
escola técnica fundada com os mesmos ideais da Escola
Técnica Dom Bosco de Bangcoc. Ele mesmo projetou-a
e mandou construir o edifício escolar. Ela, porém, só foi
a primeira. Outras a seguirão, tijolo a tijolo, justamente
como ele queria.
As escolas técnicas eram construídas para os jovens de
famílias pobres e para os órfãos, pois não tinham dinheiro
para pagar os estudos. A principal finalidade desse tipo
de escola é fazer com que os alunos se tornem técnicos
industriais, operadores de máquinas, soldadores, enge-
nheiros mecânicos, elétricos e eletrônicos. O padre Albert
Roosens crê que seja este o modo certo para reduzir a
pobreza ou ajudar os jovens a terem os conhecimentos
num trabalho específico que possa ajudar economica-
mente a si mesmos e às suas famílias.
Além dessas escolas, também construiu outros edifícios,
como uma escola que compreendia jardim da infância e
escola elementar, um edifício para dar continuidade à es-
cola obrigatória: o Centro de Formação Profissional Dom
Bosco para as crianças cujos pais são hansenianos; estas
crianças podem aprender um trabalho para poderem
se manter sozinhas em nossa sociedade. O padre Roo-
sens também construiu várias casas para pessoas pobres
que costumam migrar do nordeste ao sul da Tailândia.
Envolveu-se em muitos projetos de sensibilização dos
habitantes das aldeias para viverem de modo melhor, em
especial com melhores condições sanitárias e água enca-
nada mesmo em aldeias muito isoladas. Deve-se acres-
centar a isso tudo um centro de ajuda para ex-alunos
cegos da escola Dom Bosco e, portanto, impossibilitados
de viver com autonomia, como também a construção
de outra escola profissional na província de Pattani, e
muitas outras. Como o próprio padre Roosens diz com
frequência, “há muitas histórias desconhecidas”.
Todavia, realizar e levar adiante todos esses projetos exi-
ge um grande apoio econômico, como ele mesmo nos
disse, admitindo também que sempre ao iniciar uma nova
construção nunca tem a certeza de poder chegar ao fim
do projeto e sabe que sempre serão muitos os problemas
da administração. Continua a história, com os olhos lúci-
dos, dizendo: “Rezei sempre com constância, e Deus nun-
ca me abandonou. Certo dia um benfeitor veio até mim
dizendo-me que eu poderia usar o seu dinheiro do modo
que achasse necessário. Fiquei muito surpreso com este
gesto: Deus me mandara aquele homem, era um milagre.
Muitíssimas outras vezes recebi doações em dinheiro de
gente que nunca tinha visto antes. Deus sempre me guiou
até as pessoas a quem pedir ajuda, indicando-me o cami-
nho certo a seguir e como realizar a minha missão. Deus
é grande, creio cegamente nele, pois ele é o meu Pastor”.

9.4 Page 84

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Tailândia
O padre Roosens adora construir; ao longo da sua vida
construiu ao menos 35 novos edifícios; é por isso que
tem o apelido de “Bob, o construtor” (como o personagem
de um conhecido quadrinho local). Ele construiu muitas
escolas, quatro igrejas e já estão em andamento outras
quatro. Diz: “Nunca pensei em quantos edifícios teria a
possibilidade de construir, porque minha única preocu-
pação era ajudar os pobres e necessitados”.
Recebeu três medalhas honoríficas de Balduíno, rei da
Bélgica, nos anos 1971, 1983 e 1986. E em dezembro
de 2013 recebeu a medalha “Pro Ecclesia et Pontifice”
pelos seus anos de serviço pela Igreja e pelo bem-estar
da humanidade. E quando lhe é perguntado o que pensa
de todas essas honorificências, responde assim: “Não que
estas medalhas tenham ativado o meu desejo de ajudar
o próximo; elas são apenas uma demonstração de que
estas construções certamente não podiam aparecer do
nada. É preciso paixão e amor pelo próximo, e isso vale
principalmente no caso de nós sacerdotes, eu como os
outros, pois a nossa vida deve ser um sacrifício pelo pró-
esportivos. Nesse conjunto, grande sonho do padre Ro-
osens, há também uma capela dedicada a Nossa Senhora
de Banneux, ainda em fase de construção. Há três anos,
aos 86 anos de idade, ele enfrentou uma longa viagem
à Bélgica em busca de fundos para este projeto. Contou-
-nos que devia transferir-se de carro todos os dias, em
vista das distâncias, para visitar os vários amigos e ben-
feitores que o tinham ajudado no passado. E quando lhe
perguntavam como pudesse se lembrar de várias ruas,
visto que não punha os pés em seu país há mais de cin-
quenta anos, respondia: “É simples, enquanto guio, tenho
o rosário numa das mãos; rezo e guio. É óbvio que às
vezes, também com frequência, eu me perco, mas com a
ajuda das pessoas, sempre volto são e salvo para casa”.
E acrescenta: “Esta, com certeza, é minha última viagem
à Bélgica”. É um homem muito determinado e intransi-
gente, mas ele mesmo o admite. Se lhe é perguntado se
a viagem o cansou, pois tem problemas cardíacos, diz
83
que correu tudo bem, sobretudo com a ajuda de muitas
pessoas de bom coração.
ximo”. Recorda-nos justamente o que Jesus dissera, isto
é, que o maior amor é aquele que se entrega aos outros.
Entre os que o conhecem, é sabido que o padre Roosens
não gosta de comer em restaurantes.
Quando alguém o convida para um almoço, recusa com
a desculpa de que é muito caro, e que “comemos para
viver, não vivemos para comer”. É uma pessoa muito in-
dependente, que nunca quer perturbar ninguém. Neste
momento está empenhado em colecionar selos e cuidar
do seu último projeto: a Casa Dom Bosco, como também
a capela de Nossa Senhora de Banneux (Bélgica), seu
grande sonho desde sempre. A Casa Dom Bosco já foi
iniciada e é destinada aos jovens pobres que vêm das
zonas rurais da Tailândia e que desejam continuar os
estudos em Bangcoc, mas não têm um local para mo-
rar nem dinheiro para pagar aluguel. É um edifício de
quatro andares, com quartos, salas de recreação, salas
de reuniões, tudo rodeado por diversos pátios e campos
Quando o entrevistamos, também estávamos curiosos
para saber se não tinha saudades da família, que esta-
va distante a milhares de quilômetros. Admitiu que não
retornou nem para o enterro dos pais. Perguntamos
por que, obviamente. E ele respondeu: “Estava no sul da
Tailândia ajudando os pobres e, portanto, o que poderia
ter feito para uma pessoa defunta? Simplesmente rezar
pela sua alma. São os vivos, de fato, que precisavam, e
precisam de mim”.
Há muitíssimas histórias a contar sobre o padre Roo-
sens, e muitas “desconhecidas”, como ele mesmo diria.
Mas, por hoje, basta; ele também já não tem vontade de
continuar a falar. Perguntamos ao padre Roosens: “Como
podemos aumentar a nossa fé?”. E ele responde: “Creiam
no impossível”. Durante toda a sua vida religiosa sempre
teve uma grandíssima alegria no coração, sabendo estar a
serviço de Deus. O seu lema que está sempre no coração
é: “O Senhor é o meu Pastor, nada me falta”.

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84

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Espiritualidade
85
eclesial

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Santidade Salesiana
86
A“ espiritualidade
do cotidiano”
Padre Arthur Lenti é conhecido hoje em todo o mun-
do salesiano, graças ao sucesso da trilogia de sua au-
toria Dom Bosco: história e carisma, com os volumes:
1. Origem: dos Becchi a Valdocco (1815-1849); 2. Ex-
pansão: de Valdocco a Roma (1850-1875); 3. Apogeu:
de Turim à glória de Bernini (1876-1934), traduzidos e
editados em diversos países. Nascido, como Dom Bos-
co, no Piemonte (Itália), em 1939, padre Arthur emi-
grou para os Estados Unidos, onde entrou na Família
Salesiana. Após a Segunda Guerra Mundial, retornou
à Itália para a formação teológica em preparação à or-
denação sacerdotal e estudou também no Instituto
Bíblico de Roma. Desde 1975, vive no Don Bosco Hall,
de Berkeley, estado da Califórnia (Estados Unidos),
casa fundada como residência para os estudantes sa-
lesianos de teologia. Por muitos anos, foi conselheiro
do grupo dos estudantes. Conhecido pelo seu modo
de viver simples, pela
amabilidade e disponi-
bilidade para ajudar em
qualquer serviço, gozou
e goza ainda hoje do
apreço e do afeto de toda
a comunidade salesiana
do Don Bosco Hall, que
há anos é o seu lar.
Forçado pelas necessidades do período e por or-
dem de seus superiores, padre Arthur retornou a
Roma e ali continuou os estudos de salesianidade
de modo formal e, com grande diligência, estu-
dou com destaque a história e a espiritualidade de
Dom Bosco no contexto da Igreja e da sociedade
do século XIX. Nasceu, assim, o Instituto de Estu-
dos Salesianos no interior do Don Bosco Hall, afi-

9.8 Page 88

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Santidade Salesiana
liado à Escola Dominicana de Filosofia e Teologia.
Padre Arthur aceitou, com grande solicitude, passar
um pouco de tempo conosco em entrevista familiar
sobre a espiritualidade salesiana vivida no cotidiano.
A nossa entrevista baseia-se, sobretudo, em duas per-
guntas: 1. Como entende a espiritu-
alidade do cotidiano no carisma
salesiano? 2. Como é possível
vivê-la hoje?
A seguir, a resposta do mestre
padre Lenti.
“Falar de espiritualidade não
é tão fácil como podería-
mos pensar.
A palavra ‘espiritualidade’ é ambígua; não nos surpre-
ende, portanto, que com o passar do tempo tenha
87
sido compreendida de maneiras muito diferentes e,
às vezes, opostas entre si. Um exemplo muito claro é
que quando se fala de espiritualidade às pessoas, nor-
malmente ela é considerada como uma ação interior e
individual. Ao contrário, porém, a espiritualidade, para
ser autêntica, não pode existir a não ser em relação
com os outros, como bem a tinha compreendido e
vivido Dom Bosco.
Como salesianos, podemos ver a ‘espiritualidade’
como meio pelo qual nos movemos e nos relaciona-
mos com os irmãos da comunidade, com os jovens,
com as pessoas que participam conosco da missão
educativo-evangelizadora da juventude; portanto,
com as pessoas em geral. Fundamentalmente,
a espiritualidade é amor, é caridade.

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Santidade Salesiana
88
Contudo, não podemos ficar ‘satisfeitos’ com isso. Em
termos práticos, se substituirmos o termo espirituali-
dade por outro que, às vezes, nos ajuda a expressar a
nossa ideia de modo melhor, poderíamos usar pala-
vras como amor, caridade, amizade, disponibilidade
para ajudar o próximo etc. Tomados todos juntos, es-
tes termos poderiam descrever a espiritualidade do
cotidiano como Dom Bosco a entendia. É sob este as-
pecto que se pode ver claramente a influência que re-
cebeu de São Francisco Sales. Estamos absolutamente
certos de que Dom Bosco conhecia bem a Introdução
à vida devota (Filotea), obra-mestra do santo bispo de
Genebra. Neste livro pode-se encontrar uma das prin-
cipais raízes da espiritualidade do cotidiano que Dom
Bosco viveu e ensinou.
É justo recordar, também, que Dom Bosco viveu como
um místico, ou seja, com uma forte união com Deus,
com os santos, sobretudo a Virgem, com quem con-
versava com autêntica familiaridade. E não só; ele en-
tendeu a vida mística (espiritual) como amor cristão
posto em prática, vivido como apostolado. E isso, não
apenas como expressão de humanidade, de filantro-
pia, mas como profunda união interior com Deus.
Por isso, é possível substituir a palavra espiritualidade
com termos como amor e caridade cristã. Compre-
ende-se melhor o que foi dito, se recordamos, por
exemplo, que algumas pessoas em visita ao Oratório
de Dom Bosco ficavam surpreendidas e impressiona-
das pelo ‘ambiente sobrenatural’ que se respirava. Isto
se devia não só à intensa vida sacramental, às práticas
religiosas e devotas, mas também e de modo espe-
cial, visto o elevado nível, quase sobrenatural, de amor
cristão que motivava as vidas daqueles ‘simples’ ado-
lescentes e pré-adolescentes. O centro de todo este
ambiente era o próprio Dom Bosco e a sua relação
com Deus que, como um sol, irradiava a todos os que
estavam ao seu redor.
É justo recordar, ainda, que, por princípio, a espiritua-
lidade não é algo elitista. O Concílio Vaticano II bem o
compreendeu. A espiritualidade não é reservada aos
bispos, sacerdotes e religiosos, mas envolve a todos.
Isso significa que em nossos dias os membros da Famí-

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Santidade Salesiana
89
lia Salesiana podem viver este tipo de espiritualidade.
Dom Bosco espera de cada um de nós que estejamos
prontos e disponíveis para trabalhar com caridade. No
interior da Família Salesiana, isso é um dever de todos,
sem qualquer exceção. Não se trata apenas de um tra-
balho, mas de um trabalho de caridade. A Família Sa-
lesiana não é um ‘clube social’; o que
nos une é o apostolado e o trabalho
pela salvação dos jovens. Numa pa-
lavra: o que nos une e distingue de
todas as outras famílias religiosas é
justamente a nossa espiritualidade, e
não só o nosso apostolado no mun-
do exterior.
Neste sentido, a nossa espiritua-
lidade não tem horário e é vivida
no cotidiano, de modo especial no
comportamento com o próximo.
Por isso, devemos dar muita aten-
ção às palavras que dizemos e ao
modo como tratamos as pessoas. O
respeito pelas pessoas e o modo de ser são muito im-
portantes. Estes pequenos detalhes podem parecer
insignificantes, mas não são de modo algum pois são
expressões do que se aninha dentro de nós, são sinais
autênticos de uma espiritualidade cristã (e salesiana)
bem vivida”.

10 Pages 91-100

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10.1 Page 91

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Santidade Salesiana
“Nisto é glorificado
o meu Pai:
que produzais muito
fruto e vos torneis meus
90
discípulos”
(Jo 15,8)
O Venerável Padre Augusto Arribat
(1879-1963), salesiano francês, demonstrou-se um
bom pai para todos os seus filhos. Sua vida é a encar-
nação da expressão evangélica “Não vim para ser ser-
vido, mas para servir”. Não recusou nenhum tipo de
trabalho, antes buscou os serviços mais humildes. Em
virtude da sua disponibilidade para os trabalhos de
limpeza, os noviços chamavam-no de “o cavalheiro da
vassoura”. Assistia os doentes a noite toda. Durante a
guerra oferecia o seu quarto e a sua cama aos irmãos
de passagem, enquanto passava a noite numa poltro-
na ou na capela. A ele, chamado de “o santo do vale”,
são atribuídas curas milagrosas.
Em todos os seus cargos de responsabilidade, sobre-
tudo como diretor por diversos anos e em várias casas,
padre Arribat manifestou-se salesiano exemplar: sem-
pre ocupado entre os jovens alunos, no pátio ou na ca-
pela, na aula de catecismo ou na enfermaria; passava

10.2 Page 92

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Santidade Salesiana
do refeitório ao dormitório, do confessionário ao jar- ção da família. A encarnação do Sistema Preventivo
dim, sempre atento a tudo e a todos. Tinha um respei- em terra chinesa e filipina, sobretudo com a prática
to extraordinário e uma grande delicadeza pelas pes- da bondade e da paternidade é estímulo a atualizar
soas, sobretudo pelos pequenos e os pobres. Vigiava a herança carismática e educativa de Dom Bosco em
sobre a casa, da qual era considerado o “para-raios”, tempos e lugares diversos. O empenho e o zelo mis-
como se fosse um novo São José. Olhar aberto e sorri- sionário que distinguiram a sua vida recordam a di-
dente, este filho de Dom Bosco não afastava ninguém. mensão missionária que sempre deve acompanhar a
Enquanto sua magreza e seu ascetismo recordavam a vida de cada comunidade cristã para torná-la fecunda
figura do Santo Cura d’Ars, a sua delicadeza e o seu e evangélica.
sorriso eram dignos de São Francisco de Sales.
AdrveijdMa adjoceSne(r1v90o4-d19e99D) feoiuusmPa caodntríneuaAmnu--
dança sob os regimes comunistas da China, do Vietnã
e da antiga Iugoslávia. O espírito alegre, o trabalho em
colaboração com os outros, a capacidade de “atua-
lizar” Dom Bosco em terra chinesa, de fundar a pre-
sença salesiana no Vietnã, de promover a animação
91
missionária em sua terra de origem, a Eslovênia, são os
traços distintivos deste salesiano missionário.
Em meio a uma intensa atividade era fer-
mento da sabedoria evangélica e do discer-
nimento: as reflexões e as meditações reco-
lhidas em seus diários (mais de 6 mil páginas
O Servo de Deus Padre Carlos Braga
manuscritas), e o exercício cotidiano de um
cuidadoso exame de consciência, exprimem
(1889-1971), que ficara órfão de mãe, foi confiado às uma profunda vida cristã e religiosa, com um
Filhas de Maria Auxiliadora de Tirano, e depois aos Sa- trabalho pessoal de crescimento espiritual.
lesianos de Sondrio. Com o deflagar da Primeira Guer-
ra Mundial, foi recrutado pelo exército. Depois, pediu
para ser enviado em missão ao Extremo Oriente. Che-
gando em Shiu Chow, sul da China, foi colaborador
de dom Versiglia, primeiro mártir salesiano. Em 1930,
tornou-se inspetor da China, promovendo notável im-
pulso no desenvolvimento da obra missionária sale-
siana. Fundou em Pequim a primeira escola salesiana,
realizando o sonho de Dom Bosco. A obra salesiana,
em nítida expansão, foi dramaticamente interrompida
pelo comunismo. Padre Braga, então, voltou sua aten-
ção às Filipinas, onde iniciou a presença salesiana. Em
1955 foi eleito inspetor. Morreu em Bacolor no dia 3 de
janeiro de 1971.
“Testemunha da bondade”, em sua longa e fecunda
Profundo otimismo, paternidade e alegria foram os vida ele foi sinal e portador do amor de Deus, haurin-
traços salientes do padre Braga, que aonde quer que do do Coração mesmo de Cristo a caridade pastoral
fosse, promovia um admirável espírito de família. Sua marcada por um grande ardor apostólico e pela predi-
história familiar, marcada pela provação e pelo sofri- leção pelos jovens, testemunhando a ternura de Deus
mento em virtude do abandono do pai e da doença com as palavras e, sobretudo, com os gestos, na práti-
da mãe, é um apelo ao empenho em defesa e promo- ca da bondade salesiana.

10.3 Page 93

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Texto: Pierluigi Cameroni (assistente espiritual)
A Associação de Maria Auxiliadora
(ADMA)
92
saúda o novo
Reitor-Mor
Os Associados da ADMA “fazem parte da Família Sa-
lesiana ‘em razão da devoção salesiana à Auxiliadora
na forma estabelecida pelo próprio Dom Bosco. Essa
pertença empenha a honrar a Maria, Auxiliadora e Mãe
da Igreja, participando na missão juvenil e popular de
Dom Bosco, sobretudo no seu empenho de incremen-
tar e defender a fé cristã em meio ao povo’. Na Família
Salesiana, a Associação enfatiza e difunde a devoção
popular mariana, como instrumento de evangelização
e promoção das camadas populares e da juventude ca-
rente. Reconhece o Reitor-Mor, sucessor de Dom Bos-
co, pai e centro de unidade de toda a Família” (Art. 3º
do Regulamento).
L’adma nas Filipinas
O padre Nestor Impelido, salesiano e animador espiri-
tual da ADMA no Norte das Filipinas, apresenta a Asso-
ciação no país.
Qual é a história da ADMA nas Filipinas?
O primeiro promotor da ADMA foi dom Guglielmo
Piani, salesiano e Delegado apostólico nas Filipinas de
1922 a 1948. Ele difundia a devoção a Maria Auxilia-
dora em todos os lugares aonde ia. Conseguiu que Ma-
ria Auxiliadora fosse proclamada Patrona secundária
das Filipinas. O primeiro grupo da ADMA foi fundado
numa igreja dirigida pelos franciscanos, próxima ao
centro de Manila onde estava a primeira estátua de
Maria Auxiliadora, agora colocada no seu santuário
de Parafiache. Outro grupo, promovido por um irmão
vindo de Hong Kong, sr. Patrick Rayan, encontra-se na
cidade de Cebu.
Este salesiano fundou também outro grupo em Mani-
la (Makati), existente ainda hoje, formado por pessoas
da classe alta. A devoção a Maria Auxiliadora e a Dom
Bosco difundiu-se em todo o país graças aos Salesianos

10.4 Page 94

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www.admadonbosco.org
e às Filhas de Maria Auxiliadora, particularmente atra-
vés da promoção da novena à Auxiliadora.
Qual a atual presença da ADMA?
Atualmente existem nas Filipinas 35 grupos com cerca
de 100 mil membros, com dois conselhos ligados às
duas Inspetorias Salesianas, do Norte e do Sul. A atu-
alidade da devoção à Auxiliadora se manifesta como
contraste ao secularismo emergente, sustentado pela
política governativa, e como enfrentamento da emer-
gência educativa, muito difusa no país.
Qual o papel dos leigos na promoção
da Associação?
Não só os Salesianos e as Filhas de Maria Auxiliado-
ra promoveram a devoção à Auxiliadora, mas também
muitos leigos.
Por exemplo, uma de nossas sócias promoveu seis gru-
pos da ADMA. O que qualifica a ADMA como grupo da
Família Salesiana é a presença dos jovens e a participa-
ção das famílias na ADMA, como indicado no Congres-
so Internacional de Czestochowa, em 2011. Existem
nas casas os grupos chamados Auxilium, expressão
da ADMA juvenil. Os grupos cuidam nas paróquias do
canto e da liturgia, do ensino da catequese, de diversas
formas de caridade e solidariedade pelos mais neces-
sitados.
Quais os encontros associativos
mais significativos?
O Encontro Nacional da ADMA tanto no Norte como no
Sul; os encontros anuais da Família Salesiana, no mês
de fevereiro; a Semana de espiritualidade da Família
Salesiana; o encontro mensal do Conselho Nacional; o
retiro de preparação ao Natal; o aniversário de funda-
93
ção da ADMA, no mês de abril; o dia 24 de cada mês,
precedido da novena; a grande festa de 24 de maio.
Quais os desafios à Associação?
Os maiores desafios são a inserção e o envolvimento
dos jovens e das famílias na ADMA. Além disso, os Sa-
lesianos que, embora conheçam a ADMA e promovam
a devoção à Auxiliadora, devem reavivar o “fogo” apos-
tólico e a participação nos encontros da Família Salesia-
na, para compartilhar o espírito e a missão salesiana.

10.5 Page 95

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Eis por que
94
o amo
Uma voluntária de Dom Bosco apresenta
o seu Homem e o porquê da sua opção.
Eu o amo há vários anos. Apesar de algumas de su-
as características, enamorei-me dele aos poucos, até
decidir segui-lo definitivamente, mas continuando na
minha vida, no meu trabalho, estando entre o povo e,
talvez o mais estranho, sem revelar a ninguém (ao me-
nos oficialmente) a minha ligação com ele! Ele é um
homem que frequenta companhias estranhas, contu-
do todos têm um lugar no seu coração. Por eles, fa-
ria qualquer coisa, até dar a vida! Quando tem algum
tempo livre gosta de ir à casa de ladrões (Lc 19,1-6),
deixa que lavem os seus pés, até por uma prostituta
(Lc 7,36-39). Para não dizer das suas faltas de memó-
ria: basta que um ladrão que roubou na vida toda lhe
peça misericórdia e ele o leva para casa (Lc 23,43).
Esta “memória curtíssima” fascina-me. Esquece todas
as vezes que lhe sou infiel, que me esqueço dele muito
tomada pelo meu trabalho e pelo meu viver no mun-
do com todos os problemas que isso comporta! É um
homem não racional: certa vez falou-me de uma sua
amiga que, tendo dez moedas e perdendo uma delas,
pôs-se revirar a casa até que a encontrou e, para fes-
tejar o fato, deu uma grande festa (Lc 15,8-10), e ele
participava! Ou quando exercendo os seus dotes de
médico, curou uma dezena de pessoas, mas só uma
retornou para agradecer (Lc 17,11-19); entretanto,
para ele, um vale como dez.

10.6 Page 96

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Não “por que”, mas “para quem”
Ele é o motor das minhas ações, o horizonte ao qual
me dirijo. Quando em todas as manhãs eu me preparo
para enfrentar a jornada, percebo que não me basta
apenas a resposta à pergunta “por que”, mas se me
pergunto “para quem”, isto é, para ele, a perspecti-
va muda. Contudo, ele vale pouco como cortejador:
nos tempos em que sabia que estava me enamorando
dele, que estava interrogando-me se passaria a vida
toda com ele, em vez de envolver-me com propostas
atraentes, dizia-me: Se queres vir atrás de mim, re-
nega-te a ti mesma, toma a tua cruz e segue-me! (Mt
16,21-27). Mas será possível cortejar alguém assim?
No entanto conseguiu fascinar-me, fazer-me entender
que todas as cruzes, pequenas ou grandes, que me
propunha tomar eram feitas para mim, para pôr-me
à prova e, detalhe muito interessante, todas as vezes
que conseguia abraçar aquela cruz, ele estava ali. Há
cruzes todos os dias, mas a perspectiva nada fácil de
abraçá-las encontrando-o a esperar-me levou-me a
viver progressivamente com um estilo de obediência
à cruz, que não é sofrimento, mas caminho de purifi-
cação. Percebi, então, muitas vezes, o seu amor extra-
ordinário por mim: fez-me sentir única e excepcional,
fez-me sentir o quanto valia para ele, deixando tudo
para vir encontrar-me sempre que abandonava o ca-
minho. Quando, depois, se tratou de acertar as contas,
percebi que com ele, com o amor que ele nos oferece,
as contas sempre dão certo. Zaqueu, um dos seus ami-
gos estranhos, tinha o péssimo costume de roubar,
mas quando restituiu a metade, não sei como, vejo
escrito no recibo que vale quatro vezes mais! Quando
lhe peço alguma coisa, se é para o meu bem, ele não
pensa nas despesas: com frequência, faz pedir muitas
vezes, mas não se deixa vencer em generosidade!
Um cartão de crédito
com um “pin” em letras
Isso fez com que a dimensão da oração entrasse no
meu cotidiano, conquistando um lugar privilegiado
entre as mil atividades e coisas a fazer, oração de mui-
tas facetas: a oração da Igreja, mas também a oração
de um simples pedido de um encontro com certa pes-
soa, ou por uma situação complicada de vida. Depois,
descobri o modo de usar o seu “cartão de crédito”: ele
tem um “pin” realmente especial, não com números,
mas com letras: Seja feita a sua vontade! E, para mi-
nha grande satisfação descubro que, com facilidade,
ele deixa tirar da sua conta mais do que esperava. O
homem que amo trabalhou muito, embora não tenha
tido sucesso em alguns trabalhos. Tentou ser ministro
da economia, mas quase levou o sistema à falência.
Por exemplo, paga a todos do mesmo modo, e no mo-
mento do salário todos ficam um pouco descontentes
porque todos recebem a mesma coisa (Mt 20,1-6).
Sua generosidade não lhe permite calcular se alguém
fez a mais ou menos: para ele todos nós somos iguais.
Talvez, ao ler estas linhas algum leitor tenha se per-
guntado quem é ele e quem sou eu. Pois bem, ele é
Ele, Jesus. Eu sou uma VDB, uma Voluntária de Dom
Bosco, uma consagrada secular salesiana. Ou seja,
escolhi consagrar a minha vida a Deus, continuando
a viver no mundo com estilo salesiano. A consagra-
ção tornou mais profunda a marca que recebemos
95
no momento do nosso Batismo; levou-me, depois
de um longo itinerário de discernimento, a pronun-
ciar os votos de castidade, pobreza e obediência no
Instituto das Voluntárias de Dom Bosco. Quanto ao
mais, continuo a viver a minha vida no mundo, sem
sinais distintivos. Tenho um trabalho, muitos amigos,
a minha casa. Poderia ser, neste momento, a senhora
sentada no ônibus ao teu lado ou aquela que está con-
tigo na fila no supermercado ou no correio. Desejo,
apenas, que o meu modo de agir e de relacionar-me
seja algo que suscite alguma pergunta aos outros co-
mo: “Ela tem alguma coisa especial que não consigo
entender”. Como cheguei a esta opção? Bem, se não
te desagrada, falarei disso no próximo número.

10.7 Page 97

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México
Texto: Jorge García M.
96
Água Viva
“Mulheres sedentas”
Água Viva é um movimento de mulheres desejosas de
um maior nível de educação. São membros do povo de
Deus: casadas, mães de família, empenhadíssimas nas
atividades domésticas normais, sem tempo para parar
e refletir sobre o significado da vida. Elas vão adiante
dia após dia, como podem, buscando mais do que outra
coisa cumprir com suas obrigações.
Todas sentem a necessidade de algo que preencha a
sua alma e as torne cientes da própria dignidade e do
próprio valor de seres humanos, da natureza transcen-
dente de suas vidas. Muitas destas mulheres nunca ti-
veram uma educação escolar completa. Nem mesmo
receberam uma adequada formação espiritual. Vivem a
fé com aquele pouco que conseguiram recolher através
das práticas religiosas, das imagens, orações, devoções
por alguns títulos marianos ou pelos santos. Contudo,
são mulheres sedentas de algo que possa fazê-las sen-
tir-se como pessoas vivas no povo de Deus.
Diz Sílvia: “Recordo que estava com uma amiga que, a
certo ponto, me disse: ‘Tenho um encontro com o meu
grupo’, e isso despertou em mim uma grande curiosida-
de. Dez mulheres entre nós foram convidadas, e come-
çamos a participar dos vários encontros. Agora, posso
dizer que encontrei o que procurava. Sempre senti a
necessidade de ‘algo’ e encontrei-o no grupo desde o
primeiro dia”.
Também Norma foi convidada para o grupo, mas não
lhe agradou. Infelizmente, fez a experiência de en-
contrar-se à beira da morte por causa de uma doença.
“Também eu estava em busca de alguma coisa. Seria,
talvez, Deus? E um anjo, na forma de um amigo, chegou
e me convidou.”
Susana nos diz que quando foi convidada para parti-
cipar dos encontros do grupo, pensava que fosse um
simples encontro de mulheres, feito de bate-papos e
divertimentos. “Quando comecei a ouvir o padre Chavo

10.8 Page 98

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(padre Salvador Horacio Pérez, SDB) pensei: ‘Estas pa-
lavras são justamente para mim’, e até então eu nunca
fora tão ajudada.”
Muitos encontraram Deus através de experiências
fortes de fragilidade ou doença, de problemas e dores,
esvaziamento interior, solidão e abandono, a partir jus-
tamente de uma situação onde não havia espaço para
Deus. “Espiritualmente, a minha vida era vazia; perde-
ra a fé desde quando me casara; fiz Deus sair da minha
vida e, no seu lugar, no altar, coloquei o meu marido.
Pensava que tudo fosse ditado pelo destino e não sentia
necessidade de Deus.”
Água Viva é um movimento para situações deste tipo,
para mulheres que possuem poucos recursos econômi-
cos ou que tenham problemas de saúde, para dar-lhes
a possibilidade de “sair do rebanho”, oferecendo um es-
paço para o crescimento pessoal e formativo. Mas, para
dizer a verdade, é a massa que garante a vida da socieda-
de. Talvez, não se lhe dê muita atenção, mas na verdade,
estas mulheres são capazes de desenvolver as próprias
capacidades e ter grandes dotes humanos e espirituais.
“Encontrei Deus no movimento Água Viva; é fantástico
porque isso me ajudou a encontrar dignidade em mi-
nha vida. Agora, tenho muitas respostas para os meus
muitos ‘porquês’. Embora seja uma pecadora, aprendo 97
todos os dias alguma coisa d’Ele, e Maria é a minha mãe
e a minha força.”
“Deus está novamente em primeiro lugar em minha
vida; agora, é Ele o primeiro e único. Aprendi a conhe-
cê-lo através da sua Palavra. Está sempre ao meu lado
quando preciso, ao contrário do meu marido que, num
momento de necessidade, nunca está ao meu lado.”
“Minha filha adolescente me perguntou: ‘Quem você
mais ama?’; respondi-lhe: ‘Deus, eu o amo mais do que
tudo’. Agora, desejo que meu marido e meus filhos co-
nheçam a Deus, também eles, e a minha obra de apos-
tolado consiste em levar pessoas até Deus, e é por isso
que quero conhecê-lo sempre mais.”
“Percebo que estou mudando, e um pouco também o
estão as minhas filhas; isso me dá grande alegria e ener-
gia. Água Viva alimenta-me, e sinto-me pronta para ser-
vir à minha paróquia.”
Água Viva nasceu do desejo pastoral de um sacerdote
salesiano da Inspetoria de Guadalajara (México). Ocu-
pa-se com mulheres, esposas e mães de família que
vivem sem qualquer ajuda econômica nem formação
escolar, não têm ninguém que as ajude a sair do seu
status de pobreza. Padre Salvador Horacio Pérez, cha-
mado comumente de padre Chavo, foi o fundador do
movimento que conta, hoje, com 12 grupos em diver-
sas cidades. Apesar da sua morte em 2012, Água Viva
continua a existir e a ajudar humana e espiritualmente
centenas de pessoas. Quem o conheceu recorda-se dele
com grande afeto e devoção. Deu a vida ao povo que
não a tinha e precisava dela! A vida!

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Américas e Caribe
Jovens evangelizando jovens
98 O Movimento
Juvenil Salesiano
nas Américas e no Caribe

10.10 Page 100

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Américas e Caribe
Desde 1988, o movimento juvenil salesiano tornou-se sempre mais uma realidade viva e envolvente para milhares de jovens no mundo todo.
99
A Jornada Mundial da Juventude (JMJ) do Rio de Ja-
neiro, em junho de 2013, propiciou momentos ricos de
atividades para os integrantes do Movimento Juvenil
Salesiano (MJS). É tradição que em todas as JMJ haja um
dia especial no qual os delegados, líderes e membros
do MJS se reúnam ao redor do Reitor-Mor dos Salesia-
nos e da Madre-Geral das Filhas de Maria Auxiliadora.
Nascido depois de um acampamento juvenil em
Santiago (Chile) em 1974, a JMJ tornou-se, depois,
uma organização em nível mundial por ocasião do
centenário da morte de Dom Bosco, em 1988. Foi
ele o fundador e pai da Família Salesiana. A paixão
de Dom Bosco pela educação levou, ao longo do
tempo, a planejar um vasto movimento de caridade
que haure a própria energia da espiritualidade sale-
siana; dessa forma, também quer dar continuidade
ao projeto de evangelização nascido no Oratório de
Turim-Valdocco (Itália). São numerosas as associa-
ções juvenis que surgiram dele e que Dom Bosco
chamava, nas origens, de Sodalícios e que acredi-
tava ser produto do “trabalho dos próprios jovens”.
Em razão da renovação pastoral que brotou do Con-
cílio Vaticano II na Igreja, em 1970 os Salesianos e
as Filhas de Maria Auxiliadora relançaram o Siste-
ma Preventivo de Dom Bosco, buscando novas me-
todologias para exprimir esta prática pedagógica

11 Pages 101-110

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11.1 Page 101

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Américas e Caribe
100
que, baseando-se no Evangelho, tem seu foco na
educação dos jovens mediante a razão e a bondade.
O surgimento de novos grupos e associações juve-
nis preparou o terreno para a criação de uma visão
mais ampla do movimento juvenil, que, inspirando-
-se na espiritualidade salesiana e em comunhão com
a Igreja, quer ajudar um número maior de jovens.
Hoje, o MJS é formado por grupos e associações juvenis
que se reconhecem na espiritualidade e na pedagogia
salesiana; mantêm a própria autonomia organizativa
e prática, como parte da pluralidade dos grupos, e têm
uma vasta presença educativa de qualidade em novas
áreas de agrupamento que fazem parte da vida dos jo-
vens de hoje. Trata-se de um movimento “de jovens pa-
ra os jovens”, que compartilham uma espiritualidade e
uma forma de comunicação que garantem a passagem
de valores comuns entre todos os membros do grupo.
O MJS reúne jovens também muito diferentes entre si,
desde os afastados da fé e aqueles para os quais a es-
piritualidade é como uma semente que está crescen-
do, aos que de modo explícito e consciente estão en-
volvidos num trabalho apostólico à luz do Evangelho.
O principal objetivo do MJS é formar bons cristãos e
cidadãos honestos, que sejam apóstolos entre os jo-
vens, na escola de Dom Bosco e de Madre Mazzarello.
O Festival MJS América 2013 aconteceu de 18 a 21
de julho. Foi o primeiro encontro do MJS das Amé-
ricas e Caribe, cuja finalidade era reforçar a própria
identidade, em vista da notável presença juvenil sa-
lesiana no interior da Igreja. O encontro encorajou
para um maior sentido de pertença ao Continente,

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Américas e Caribe
Todo encontro do movimento encoraja e fortifica
o sentido de pertença.
buscou uma maneira de criar um mais vasto movi-
mento juvenil católico; discípulos zelosos que foram
envolvidos, com Dom Bosco, para proclamar a fé em
Cristo; missionários de vida numa sociedade com mui-
tos valores antigos e grandes fundamentos culturais.
A fim de consolidar o MJS nas Américas e no Caribe,
101
os coordenadores decidiram continuar o acompanha-
mento dos jovens no processo educativo de amadure-
cimento na fé, com Dom Bosco e Madre Mazzarello,
qual força juvenil na Igreja e serviço de evangelização
no interior da sociedade. Para alcançar este ideal, é
nosso desejo construir um MJS internacional com
metodologias de formação para todos, coordenação,
comunicação e coligação em rede dos vários grupos.
São estas as opções que inspiram o processo de base
para aumentar as estratégias e atividades em todos
os países e em todas as obras salesianas. A ideia é que
os nossos jovens aprendam a ser felizes na solidarie-
dade concreta do Evangelho, agora e na eternidade.

11.3 Page 103

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Coração
salesiano
de Xiomara Hernández González
cuba
102
Texto: Alejandro Satorre Morales

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cuba
103
Xionara começou a seguir Jesus nos anos do liceu,
quando o comunismo imperava em Cuba.
A humildade de Maria, a simplicidade de Francisco
de Assis e a capacidade de trabalho de Dom Bosco
descreveriam com perfeição esta mulher do povo e
da Igreja pelo modo como soube orientar a sua vida.
Há um coração salesiano que bate em Xiomara (às
vezes com um pouco de nervosismo). A personalidade
desta mulher foi forjada pelo calor de uma família do
interior, pelo exemplo de sua mãe viúva, com quatro
crianças para criar. “Quando minha mãe ficou viúva,
nós nos transferimos para Camajuaní, depois para
Santa Clara. Lavava e passava para nos manter; era
a única coisa que pudesse fazer. E assim nos criou
e educou.” A semente da sua fé veio-lhe também da
madrinha de Batismo, que confiava na grandeza de
Deus e na ação caridosa da Virgem “embora fosse um
pouco sincretista”. Recebeu o Batismo quando peque-
na, na cidade de Santa Clara. “Comecei a frequentar
uma casa vizinha da minha, onde se davam aulas de
catecismo em preparação à Primeira Comunhão. Re-
cordo muito bem das catequistas, duas mulheres um
pouco gordinhas, mas muito corteses, que vinham da
paróquia. Numa Quinta-feira Santa, não me lembro
do ano, recebi a Primeira Comunhão.” Provavelmente
foi nos anos do liceu que ela começou a empenhar-
-se sempre mais no seguimento de Jesus, sob a guia
do diretor, que estava preparando o grupo das jovens
para o sacramento da Crisma. Aos 12 ou 13 anos, fre-

11.5 Page 105

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cuba
quentou a Igreja de Nossa Senhora do Monte Carmelo
onde conheceu o Servo de Deus Padre José Vandor;
confessava-se com ele e escolheu-o como seu guia es-
piritual, até sua morte em 1979.
O esforço de seguir a Jesus aumentava sempre mais:
“Aproximei-me de algumas jovens e disse-lhes que
queria fazer alguma coisa a mais do que só ir à Mis-
sa, e assim, fundei a Ação Católica”. O seu “a mais”
haveria de levá-la a ser freira, mas naquele momen-
to não sabia como e, também, não parecia que fosse
isso que Deus queria. Se ela permaneceu fiel à Igreja
e autêntica na vivência dos valores cristãos, foi em
parte também graças ao seu feliz casamento com José
Gálvez, outro autêntico coração salesiano, e também
aos cinco ou seis filhos que gostaria de ter tido. “Foi
uma grande frustração, mas, graças à ajuda de Deus,
104
suportei também isso”.
Entre suas melhores lembranças, “o primeiro amor
da minha vida foi Pepe e, além do matrimônio, um
dos momentos mais belos foi a sua ordenação como
diácono permanente”. Casou-se na igreja de Nossa
Senhora do Monte Carmelo em novembro de 1965,
paróquia que frequentava há alguns anos. “Passamos
mais de cinquenta anos com a Família Salesiana do
Monte Carmelo, onde me tornei cooperadora. Agra-
deço a Deus pela minha vocação e por ter-me feito
participar desta maravilhosa Casa. Foi aqui que en-
contrei pessoas admiráveis: Cheo e Nelita, Amada e
Yiyo, María del Carmen e Juan Carlos, Ileana e Cam-
pito, Mirita e Pirolo, Alemán e Marité; as FMA Flami,
Lina, Severina, Lupita; os salesianos Ballari, Cantello,
Linares, Soto, Adrián, Héctor, Alex, Guillermo; são
uma família estupenda. Se quiserem saber quem mais
me influenciou, diria que os padres Vandor, Bruno e
Giordano. Recordo também com prazer o bispo Fer-
nando Prego, de Santa Clara, e minha mãe, exemplos
todos de coragem e de fé”.
Encarregada do curso pré-matrimonial, membro do
coral, tesoureira da paróquia (“desde os tempos do
padre Vandor até hoje, todos os párocos sempre con-
fiaram em mim”), encarregada do grupo de idosos, é o
verdadeiro motor que puxa a paróquia; é animadora
do Grupo Caritas, ministra extraordinária da Comu-
nhão, visita os doentes, distribui o jornal da dioce-

11.6 Page 106

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cuba
105
se, Amañecer: “Estou mais do que satisfeita com as
minhas atividades de apostolado, mas se tivesse de
escolher uma delas, escolheria a catequese. Sempre
digo às crianças, adolescentes e jovens que vivam se-
gundo a sua fé cristã. Jamais descuidei desta tarefa,
nem mesmo no meu trabalho, no bairro em que vivia,
nem nos momentos mais difíceis”.
Essa a essência da sua salesianidade. Para Xiomara,
não era suficiente anunciar o Bom Deus para os jo-
vens pobres e abandonados, rezar pelas novas voca-
ções ao sacerdócio e pelos doentes, mas precisava que
o seu trabalho fosse o testemunho de ser centrado em
Cristo, que a sua espiritualidade, centrada em Maria,
fosse alegre, todos os dias; que oferecesse um serviço
responsável e sempre em profunda comunhão com
a Igreja, uma prática que ela mesma resumia com as
palavras de São Paulo. A minha frase preferida é: “Ai
de mim se não anunciasse o Evangelho”.
Suas rugas trazem consigo sinais indeléveis da vida
da Igreja em Cuba: “Participei do primeiro Congresso
Nacional Católico (nos anos de 1980), e das visitas
do Santo Padre”. Viveu os altos e baixos da sua nação
sem críticas ou lamentos, talvez porque nela estavam
bem enraizadas as palavras de São Francisco de Sa-
les: “Podem-se pegar mais moscas com uma gota de
mel do que com um barril de vinagre”. Foi assim essa
mulher, que nunca perdeu o sorriso e que chorava
toda Sexta-feira Santa ao ouvir sobre as humilhações
sofridas por Jesus. O seu Salmo preferido é o número
22, ela que enfrentou a morte dos próprios sobrinhos
no exterior e que treme sempre que entra no hospital;
ela que tem uma grande loquacidade: “Sempre fui um
pouco nervosinha”.
E continuará a ser assim até o fim dos seus dias, por-
que a sua ideia de felicidade é “ter Deus no próprio
coração e viver em paz consigo e com os outros”.

11.7 Page 107

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106
Como Dom Bosco:
com os jovens
para os jovens
Na Estreia 2015, o Reitor-Mor sublinha
a atualidade da proposta educativa
de Dom Bosco, a duzentos anos do seu nascimento.
Texto: Lorenzo Bortolin

11.8 Page 108

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O carisma salesiano é estar com os jovens,
encontrá-los em sua vida cotidiana,
conhecer o seu mundo e amá-lo.
Dom Bosco sentia-se envolvido na trama de Deus. Por
isso, amava o jovem, qualquer que fosse
o seu estado.
107
A Estreia que o Reitor-Mor padre Ángel Fernández
Artime, décimo sucessor de Dom Bosco, propõe para
2015 sublinha que o carisma salesiano está a serviço
da comunhão e evangelização e é dirigido de modo
particular aos jovens. Recorda, antes de tudo, que
“desde os primeiros anos do Oratório, Dom Bosco
começara a entregar, no final do ano, uma Estreia a
todos os seus jovens em geral e outra a cada um em
particular. A primeira, a geral, consistia normalmente
em indicar alguns modos de proceder e os aspectos a
ter presentes para o bom andamento do ano que está
para começar”. Depois dele, os seus sucessores con-
tinuaram o costume. Para o padre Artime, a Família
Salesiana “caracteriza-se pelo fato de ser, em primeiro
lugar, uma família carismática, em que o primado de
Deus-Comunhão constitua o coração da mística sale-
siana. Nessa comunhão, nós reconhecemos a diver-
sidade e, ao mesmo tempo, a unidade que tem a sua
fonte na consagração batismal, na participação do es-
pírito de Dom Bosco e na participação da mesma mis-
são salesiana a serviço dos jovens, especialmente dos
mais pobres”. Por isso, a finalidade da Estreia é “ser
uma mensagem criadora de unidade e comunhão para
toda a nossa Família Salesiana, num objetivo comum”.
Para todos e para todas
O carisma salesiano “abraça e acolhe todos e todas”,
mas tem uma atenção especial pelos jovens. Para Dom
Bosco, “justamente porque se sentia envolvido na Tra-
ma de Deus, significava amar o jovem, qualquer que
fosse o seu estado ou situação, para levá-lo à pleni-
tude do ser plenamente humano que se manifestou
no Senhor Jesus e que tomava concretude na possi-
bilidade de viver como cidadão honesto e como filho
de Deus. Esta é a chave do nosso ser, viver e atuar o
carisma salesiano. Se chegarmos a sentir em nossas
vísceras, no mais profundo de cada um ou cada uma
de nós, aquele fogo, aquela paixão educativa que leva-
va Dom Bosco a encontrar-se com cada jovem face a
face, crendo nele, crendo que em cada um sempre há
uma semente de bondade e do Reino, para ajudá-los
a dar o melhor de si e aproximá-los do encontro com
o Senhor Jesus, certamente estaremos concretizando
em nossa vida o melhor do carisma salesiano, segun-
do as nossas modalidades e possibilidades”. Para o
Reitor-Mor, “o carisma salesiano não é propriedade
nossa, nem dos salesianos e nem mesmo de toda a
Família Salesiana”, mas da Igreja inteira: “É certamen-
te um dos dons com que o Espírito Santo enrique-
ceu a Igreja para que com o olhar fixo na essência

11.9 Page 109

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São os jovens que nos salvarão, porque nos farão sair da nossa rotina, dos nossos medos, das nossas inércias.
108
do Evangelho e na comunhão eclesial por primeiro, e
internamente na Família Salesiana depois, podermos
ser um presente precioso para os jovens. Por isso,
Evangelho, coração pastoral para com os jovens e co-
munhão são garantias de Identidade e de Fidelidade
para nós, Família de Dom Bosco, Família Salesiana”.
Estar com os jovens
Consequentemente, “o carisma salesiano é aquele
de estar com os jovens, estar com eles e entre eles,
encontrá-los em nossa vida cotidiana, conhecer o
seu mundo e amá-lo, estimulá-los a serem protago-
nistas da própria vida, despertar neles o ‘sentido’ de
Deus, incitando-os a se proporem metas elevadas, a
viverem a vida como viveu o Senhor Jesus”. Por isso,
deve-se “buscar o bem deles, empenhando nisso todas
as nossas energias, todos os respiros e a força que
temos”. Não só, o padre Artime observa que “quando
o Papa Francisco fala para ir à periferia, nós somos
interpelados de modo muito vivo e direto, porque
nos pede para estarmos com os jovens na periferia,
quase totalmente afastados, excluídos, quase sem
oportunidades. Ao mesmo tempo, quero dizer que
esta periferia é algo tipicamente nossa como Família
Salesiana, porque a periferia é algo constitutivo do
nosso DNA salesiano. O que foi o Valdocco de Dom
Bosco senão uma periferia da grande cidade? O que
foi Mornese senão uma periferia rural? Será preciso
que o nosso exame de consciência pessoal e como
Família Salesiana se confronte com este intenso ape-
lo eclesial, que faz parte por sua vez da essência do
Evangelho. Será preciso que nos examinemos sobre o
nosso viver com os jovens e para eles, especialmente
os últimos... mas não será preciso procurar para on-

11.10 Page 110

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O carisma salesiano pertence à Igreja inteira.
É um dom do Espírito Santo para recordar-nos o quanto os jovens são importantes para Deus.
109
de nos orientarmos, a nossa “estrela polar na nave-
gação”, porque nos últimos, nos mais pobres, naque-
les que mais precisam de nós, está o elemento mais
específico do nosso DNA como carisma salesiano”.
Um ano de festa
O Reitor-Mor acrescenta: “Ouso dizer que são os jo-
vens, as jovens, especialmente os mais pobres e neces-
sitados, que nos salvarão ajudando-nos a sair da nos-
sa rotina, das nossas inércias e dos nossos temores,
às vezes mais preocupados em conservar as nossas
seguranças do que em manter o coração, o ouvido e
a mente abertos ao que o Espírito pode nos pedir”.
E isso é muito mais importante no Bicentenário do
Nascimento de Dom Bosco, “ano em que a festa pelo
dom que é Dom Bosco para a Igreja e para a sua Fa-
mília não nos deixará centrados em nós mesmos, au-
torreferenciais e autocomplacentes, mas nos lançará
com a maior força possível para a missão”. Recorda,
enfim, o que o Papa São João Paulo II escreveu em
sua carta Iuvenum patris, no centenário da morte de
Dom Bosco, referindo-se a Maria, a colaboradora mais
insigne do Espírito Santo: “A Ela eu vos confio e con-
vosco confio todo o mundo dos jovens, para que eles,
por Ela atraídos, animados e guiados, possam obter
com a mediação da vossa obra educativa, a estatura
de homens novos para um mundo novo: o mundo de
Cristo, Mestre e Senhor”. A Estreia é um presente do
Reitor-Mor, sucessor de Dom Bosco e pai da Família
Salesiana. Cada grupo pertencente à Família, graças
à sua mensagem, vive a comum missão salesiana a
serviço dos jovens, especialmente dos mais pobres.

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