Johannes Paulus II


Johannes Paulus II



ANEXO 1


Mensagem de S. S. JOÃO PAULO II

para o início do Capítulo Geral 25



Caríssimos Filhos de Dom Bosco!


141.

1. É com grande afeto que me dirijo a vós, que vindes dos cinco continentes para celebrar o 25o Capítulo Geral do vosso Instituto. É o primeiro do terceiro milênio e vos oferece a oportunidade de refletir sobre os desafios da educação e da evangelização dos jovens, desafios aos quais os Salesianos desejam responder, seguindo os passos do Fundador, são João Bosco. Desejo que o Capítulo seja para vós um tempo de comunhão e de trabalho profícuo, durante o qual possais compartilhar do fervor que vos reúne na missão entre os jovens, como também o amor pela Igreja e o desejo de vos abrir a novas fronteiras missionárias.

O pensamento vai neste momento espontaneamente ao saudoso Reitor-Mor, P. Juan Vecchi, recentemente falecido após uma longa enfermidade, oferecida a Deus por toda a Congregação e especialmente por esta Assembléia Capitular. Enquanto agradeço a Deus pelo seu serviço prestado à vossa Família religiosa e à Igreja, como também pelo testemunho de fidelidade evangélica que sempre o distinguiu, asseguro-vos por sua alma uma oração especial de sufrágio. Cabe a vós agora continuar a obra por ele felizmente realizada, na esteira dos seus antecessores.

Educadores atentos e acompanhadores espirituais competentes que sois, sabereis ir ao encontro dos jovens que querem “ver Jesus”. Sabereis conduzi-los com suave firmeza rumo a metas exigentes de fidelidade cristã. “Duc in altum!”. Seja este o lema programático também da vossa Congregação, que por esta Assembléia Capitular estimula todos os seus membros a um corajoso relançamento da própria ação evangelizadora.


142.

2. Escolhestes como tema do Capítulo: “A comunidade salesiana hoje”. Estais bem conscientes que é preciso renovar métodos e modalidades de trabalho, para que apareça, com clareza, a vossa identidade “salesiana” nas atuais e mudadas situações sociais, que exigem, entre outras coisas, também a abertura à contribuição de colaboradores leigos, com os quais partilhardes o espírito e o carisma deixados em herança por Dom Bosco. A experiência dos últimos anos evidenciou as grandes oportunidades de tal colaboração, que permite aos vários componentes e grupos de vossa Família salesiana crescer na comunhão e desenvolver um comum dinamismo apostólico e missionário. E para vos abrirdes à cooperação com os leigos é para vós importante focalizar bem a identidade peculiar das vossas comunidades: que sejam comunidades, como Dom Bosco queria, reunidas em torno da Eucaristia e animadas por um profundo amor a Nossa Senhora, prontas a trabalhar juntas, partilhando um único projeto educativo e pastoral. Comunidades capazes de animar e envolver os outros, sobretudo pelo exemplo.


143.

3. Deste modo continua Dom Bosco a estar presente no meio de vós. Vive por meio da vossa fidelidade à herança espiritual que vos deixou. Ele imprimiu em sua obra um singular estilo de santidade. E é de santidade que tem hoje necessidade, antes de tudo, o mundo! Muito oportunamente, pois, tenciona o Capítulo Geral re-propor com coragem “a busca da santidade” como principal resposta aos desafios do mundo contemporâneo. Trata-se, em conclusão, não tanto de começar novas atividades e iniciativas, mas de viver e testemunhar sem compromissos o Evangelho, a fim de que se estimulem à santidade os jovens que encontrais. Salesianos do terceiro milênio! Sede apaixonados mestres e guias, santos e formadores de santos, como o foi são João Bosco.

Buscai ser educadores da juventude à santidade, cultivando aquela típica pedagogia de santidade alegre e serena, que vos caracteriza. Sede acolhedores e paternos, capazes a todo momento de perguntardes aos jovens com vossa vida: “Queres ser santo?”. E não tenhais medo de lhes propor a “medida alta” da vida cristã, acompanhando-os pelo caminho de uma radical adesão a Cristo, que, em seu discurso na montanha, anuncia: “Sede, pois, perfeitos como é perfeito o vosso Pai celeste” (Mt 5,48).

A vossa é uma história rica de santos, muitos dos quais jovens. Na “Colina das bem-aventuranças juvenis”, como hoje chamais o Colle Don Bosco, onde nasceu o Santo, durante a minha visita de 3 de setembro de 1988, tive a alegria de proclamar bem-aventurada Laura Vicuña, a jovem salesiana chilena que vós bem conheceis. Outros Salesianos encontram-se a caminho dos altares: trata-se de dois irmãos, Artêmides Zatti e Luís Variara, e de uma Filha de Maria Auxiliadora, irmã Maria Romero. Em Artêmides Zatti aparecem o valor e a atualidade do papel do salesiano coadjutor; no P. Luís Variara, sacerdote e Fundador, se manifesta mais uma realização do vosso carisma missionário.


144.

4. Ao não pequeno grupo de Santos e Bem-aventurados salesianos, sois chamados a unir-vos também vós, comprometidos a seguir as pegadas de Cristo, fonte de santidade para todo fiel. Fazei com que toda a vossa Congregação brilhe pela santidade e a fraterna comunhão.

No início deste milênio, o grande desafio da Igreja consiste, como fiz notar na Carta apostólica Novo millennio ineunte, em “fazer da Igreja a casa e a escola da comunhão” (nº 43). Para que o apostolado traga frutos de bem, é indispensável que as comunidades vivam um espírito de mútua e real fraternidade. Para levar adiante um único projeto educativo e pastoral, é necessário que todas as comunidades estejam unidas por um forte espírito de família. Cada comunidade seja verdadeira escola de fé e de oração aberta aos jovens, onde seja possível partilhar suas esperanças e dificuldades, e responder aos desafios que os adolescentes e jovens devem enfrentar.

Mas onde está o segredo da união dos corações e da ação apostólica a não ser na fidelidade ao carisma? Mantende, pois, os olhos sempre fixos em Dom Bosco. Ele vivia intensamente em Deus e recomendava a unidade das comunidades ao redor da Eucaristia. Só do Sacrário pode brotar aquele espírito de comunhão que se torna fonte de esperança e de empenho para todo fiel.

O afeto pelo vosso Pai continue a inspirar-vos e a vos sustentar. O seu ensinamento vos convida à confiança mútua, ao perdão cotidiano, à correção fraterna, à alegria de partilhar. É este o caminho que ele percorreu, e para o qual também vós podeis atrair os fiéis leigos, especialmente jovens, a partilhar da proposta evangélica e vocacional que vos unifica.


145.

5. Como podeis ver, volta constantemente, também nesta Mensagem, a referência aos jovens. Poderíamos dizer que os jovens e os Salesianos caminham juntos. De fato, caríssimos, a vossa vida transcorre no meio dos jovens, tal como queria Dom Bosco. Sois felizes entre eles e estes se alegram com vossa presença amiga. As vossas são “casas” nas quais eles se sentem bem. Não é este o apostolado que vos caracteriza em todas as partes do mundo? Continuai a abrir as vossas instituições especialmente à juventude pobre, para que aí possam os jovens sentir-se “em sua casa”, gozando da laboriosidade de vossa caridade e do testemunho de vossa pobreza. Acompanhai-os em sua inserção no mundo do trabalho, da cultura, da comunicação social, promovendo um clima de otimismo cristão no contexto de uma esclarecida e forte consciência dos valores morais. Ajudai-os a serem, por sua vez, apóstolos dos seus amigos e coetâneos.

Esta exigente ação pastoral vos coloca em relação com tantas forças que atuam no campo da educação das novas gerações. Estai prontos a generosamente oferecer, nos vários níveis, a vossa contribuição, cooperando com todos os que elaboram as políticas educacionais nos Países em que vos encontrais. Defendei e promovei os valores humanos e evangélicos: desde o respeito da pessoa até ao amor ao próximo, especialmente aos mais pobres e marginalizados. Trabalhai para que a realidade multicultural e multi-religiosa da sociedade atual possa caminhar rumo a uma integração cada vez mais harmoniosa e pacífica.


146.

6. Caríssimos Filhos de Dom Bosco, a vós é confiada a tarefa de serdes educadores e evangelizadores dos jovens do terceiro milênio, chamados a ser “sentinelas do futuro”, como lhes disse em Tor Vergata, por ocasião da Jornada Mundial da Juventude do Ano 2000. Caminhai junto com eles, ajudando-os com a vossa experiência e o vosso testemunho pessoal e comunitário. Acompanhe-vos a Virgem Santa, que vós invocais com o belo título de Maria Auxiliadora. Seguindo a Dom Bosco, confiai sempre nEla, difundi sua devoção a todos os que encontrardes. Com a sua ajuda pode-se fazer tanto; aliás, como gostava de repetir Dom Bosco, na vossa Congregação, foi Ela quem tudo fez.

O Papa vos manifesta a sua satisfação pelo vosso empenho apostólico e educativo e reza por vós, para que possais continuar a caminhar na plena fidelidade à Igreja e na estreita colaboração entre vós. Acompanhe-vos Dom Bosco e a teoria dos Santos e Bem-aventurados salesianos.

Enriqueço estes votos com uma Bênção Apostólica especial, que envio a vós, Membros do Capítulo Geral, aos Irmãos espalhados por todo o mundo e a toda a Família salesiana.



Do Vaticano, aos 22 de fevereiro de 2002, Festa da Cátedra de São Pedro




ANEXO 2


1 Discurso do Cardeal Eduardo Martínez Somalo

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Prefeito da Congregação

para os Institutos de Vida Consagrada

e as Sociedades de Vida Apostólica



147.

1. É-me particularmente agradável estar no meio de vós para exprimir-vos, uma vez mais, a participação sincera do Dicastério da Vida Consagrada, e minha pessoal, na experiência de fé e de disponibilidade à Vontade de Deus que a vossa Congregação está a viver.

É uma experiência repleta de graça.

Se o evento do Capítulo Geral é um evento do Espírito Santo que nos abre e nos empenha na Verdade e na Caridade, o testemunho da vida e da morte do vosso Reitor-Mor, P. Juan Vecchi, exprime admiravelmente o carisma de Dom Bosco: estar prontos, com serena consciência, a viver e a dar a vida, como Deus quer, para os jovens, especialmente os mais pobres, vivendo a realidade do “já, mas não ainda” em filial abandono à vontade do Pai. Esta profundidade espiritual, que se exprime na simplicidade da vida e na confiança em Deus, parece-me ser característica na linha formativa que o Reitor-Mor, nestes anos, aperfeiçoou em vossa congregação. Também o sempre relembrado P. Egídio Viganó, em toda a sua fecunda existência e na sua última doença, havia percorrido esse caminho com o estilo em que havia vivido: a caridade pastoral pelos jovens.

Tenho reunido com freqüência na oração e na Celebração Eucarística a estes dois grandes animadores da Família Salesiana aos quais hoje confiamos o Capítulo Geral 25 que estais por iniciar.

Sinto-me feliz por saudar a todos os presentes, e em particular ao Vigário Geral, Revdo. P. Van Looy, que, com o Conselho Geral, levou avante estes meses a responsabilidade da condução da Congregação com o afeto de filho e a atenção solerte aos desejos, expressos e intuídos, do Reitor-Mor; saúdo a Superiora Geral das Filhas de Maria Auxiliadora, o Responsável dos CCSS e dos EEAA e a todos os grupos religiosos e leigos que, por variados títulos, estão presentes e não deixarão de dar a própria contribuição para que a Família Salesiana continue a responder, com a prontidão e a profecia de Dom Bosco, às expectativas da Igreja, com a ajuda e a proteção de Nossa Senhora Auxiliadora.


148.

2. Estais por iniciar o primeiro Capítulo Geral dos Salesianos no III Milênio, que o Santo Padre definiu: “Um vasto oceano onde aventurar-se com a ajuda de Cristo .... O Cristo contemplado e amado convida mais uma vez a pôr-nos a caminho” (NMI 58).

Vivemos recentemente momentos excepcionais de graça e de misericórdia durante o Jubileu de 2000. Sem dúvida, ninguém ficou indiferente ao testemunho de caridade pastoral e de exigente espiritualidade que o Papa João Paulo II viveu com os jovens. É uma página de história que vos diz respeito: enquanto põe a descoberto as mais profundas expectativas dos jovens, indica-nos com clareza que, quando o jovem se sente amado, mesmo com as lacunas próprias da idade e dos condicionamentos da sociedade, mira alto.

Qual teria sido a reação de Dom Bosco se tivesse podido estar presente, como um de nós, naqueles dias, e como teria repensado o empenho pastoral que caracteriza a comunidade fraterna e se expande na acolhida aos jovens, rosto de Cristo jovem, mas tantas vezes desfigurado? Vosso saudoso Reitor-Mor, nos Atos do Conselho Geral que me enviastes, sublinha nestes termos aquilo que está a peito de todos os salesianos do mundo: “O objetivo do CG25 não é tanto o que a comunidade e os irmãos ainda devem fazer pelos jovens, mas o que devem ser e viver hoje por eles e com eles (ACG, n. 172, p. 14). E esclarece: “Trata-se de fazer uma revisão de nossa vida comunitária com o espírito e a metodologia do discernimento evangélico, para descobrir as modalidades de fraternidade salesiana, capazes de responder às exigências da seqüela de Cristo e da missão” (ib.).


149.

3. Se a reflexão sobre a vida fraterna, em função da seqüela e da missão, é o interesse central do vosso Capítulo e desejais proceder a um discernimento no espírito do Evangelho, é necessária uma condição fundamental: que todos aperfeiçoem cada vez mais profundamente o próprio contato vivo, sincero e existencial com Cristo, Palavra de Deus e Eucaristia. Então a Assembléia capitular poderá verdadeiramente chegar a um discernimento evangélico sobre a identidade e sobre as linhas de ação da fraternidade salesiana. Neste sentido, o Capítulo Geral se torna uma grande ocasião de formação: põe em atitude de escuta recíproca, respeitosa e capaz de confiança, e ajuda a aperfeiçoar aquela humildade que é a via mestra para a verdade. Provoca, antes de tudo, o discernimento pessoal sobre a coerência com que cada qual vive a própria consagração a Deus no estilo salesiano, ilumina a reflexão sobre a pastoral juvenil que exige madura capacidade de discernir sobre quanto convém deixar de lado ou rever, e quanto deve ser confirmado e reforçado; abre, com equilíbrio e autêntica participação, a uma harmônica inculturação, re-confirma no espírito de Dom Bosco o empenho de suscitar no jovem a vontade de tornar-se honesto cidadão e bom cristão. Torna ao mesmo tempo atentos, como o foi ele, às autênticas exigências dos jovens, ao tempo da primeira revolução industrial, quando emigravam, sozinhos, para a cidade e eram explorados pelo trabalho ilegal, sem contrato algum sequer, que de algum modo os protegesse. Uma vida que fatalmente os punha em condição de fácil desorientação e Dom Bosco, bem o sabeis, teve a experiência direta dos efeitos devastadores do ambiente carcerário sobre os menores.


150.

4. A Igreja sente-se feliz por relevar que o vosso instituto possui forte incidência sobre os jovens e, por conseqüência, sobre o futuro da sociedade e da Igreja. Certamente a missão que Dom Bosco viveu e transmitiu requer uma grande sensibilidade educativa e uma boa dose de coragem para ir ao encontro dos jovens e com eles partilhar os problemas e as expectativas, os momentos de rejeição e o fácil entusiasmo que com freqüência se desfaz no nada. Vivem num ambiente contraditório, superficial e ao mesmo tempo convincente no apresentar a conquista fácil e uma competitividade que marginaliza o fraco e se baseia no dinheiro. Mas sente-se também a presença de ares novos e limpos de forças jovens que se comprometem com o bem. São “as sentinelas da manhã” que perscrutam a aurora de uma nova sociedade. Soube o Santo Padre ver neles a esperança que já Paulo VI guardava no coração: são os mensageiros da civilização do amor. Nada como crer profundamente numa realidade e acompanhá-la com a oração e o sacrifício, para que ela pouco a pouco viva no meio de nós. Foi assim que viveu Dom Bosco!

É uma tradição maravilhosa esta que levais avante em todas as partes do mundo. E a Igreja se compraz pelo bem que vós fazeis. E vos agradece. Como não recordar também o fecundo apostolado que realizais no mundo da cultura com as vossas Universidades, com a correta promoção dos MCS, com a vossa doação nas missões, nas paróquias, nas escolas profissionais em que preparais os jovens para um trabalho digno e honesto?


151.

5. Não se pode hoje subestimar a aflição comum a todos os institutos: a escassez das vocações. Isto obriga a numerosos irmãos – ainda de alma juvenil como a de Dom Bosco – a prolongarem a própria dedicação também quando as forças já não respondem com prontidão. Colhe-se então com pesar a diferença entre as gerações, que torna mais difícil o relacionamento com os jovens. É grande a diferença de mentalidade, de linguagem, de gostos, de escolhas, que incidem no cotidiano; no modo de sentir os problemas, de divertir-se, de orar, de julgar, de conviver. Corre-se o risco, alguma vez, de tornar cansativa a comunicação, apesar de todo o esforço. Então, só a fé na Palavra nos faz crer e viver a caridade paciente, benigna, que tudo espera e tudo desculpa, que não vai em busca da própria gratificação, mas crê nos jovens de hoje, porque Deus os ama. Vive-se, então, um dos momentos mais altos da entrega de si mesmos na caridade pela glória de Deus e a salvação dos jovens. A caridade que s. Paulo celebra na Carta aos cristãos de Corinto é a grande força, insubstituível, na experiência educativa. Não era por acaso que Dom Bosco repetia aos vossos primeiros irmãos: “É preciso que os jovens não somente sejam amados, mas que eles próprios saibam que são amados”. Ele compreendera muito bem que também o jovem mais refratário teria cedido somente ao amor paciente que, apesar de tudo, espera tudo.

Só há educação onde houver amor; quando se substitui a norma, os mesmos gestos ficam desprovidos de alma. Por isso, a quem lhe perguntava uma definição do seu sistema educativo Dom Bosco respondia com uma só palavra: “O meu sistema educativo? A Caridade!” (MB V,381). É a única estrada que abre ao anúncio de Cristo.


152.

6. João Paulo II ajuda-nos a verificar a autenticidade da nossa fé: “Quem verdadeiramente encontrou Cristo não pode guardá-Lo para si; tem de anunciá-Lo .... embora no devido respeito pelo caminho próprio de cada pessoa e com atenção pelas diferentes culturas” (NMI 40).

Anunciar Cristo com a própria vida exige certamente que esta seja sustentada por “um amor alimentado pela Palavra e pela Eucaristia, purificado no sacramento da Reconciliação, sustentado pela imploração da unidade, dom especial do Espírito para aqueles que se põem na escuta obediente do Evangelho” (VC 42). Então a comunidade fraterna pode verdadeiramente definir-se, como diz a Vita Consecrata, “espaço humano habitado pela Trindade” (VC41) e “espaço teologal onde se pode experimentar a presença mística do Senhor Ressuscitado” (VC42). Será ambiente fecundo, onde os jovens se sentem não só acolhidos, mas também desejados, para partilhar juntos os problemas e as esperanças, em diálogo aberto e sincero.

Caros salesianos, o Capítulo é um canteiro em que tantos projetos se focalizam, harmonizam e estudam, a fim de propor a toda a Congregação um caminho de novidade de vida na fidelidade ao carisma. No íntimo desta comunhão fraterna está sempre o Espírito Santo, o Qual indica o caminho, coordena, inspira o modo melhor de realizar a santidade dos filhos de Dom Bosco e dos jovens. Todos, entretanto, são chamados a contribuir, porque a cada um está confiado o bem comum.

O mesmo sucede em vossas comunidades. Cada jovem que recebeis é um projeto irrepetível do amor de Deus a vós confiado no concreto da história. Sois chamados a dar vida e espaço ao sopro do Espírito que nele habita. Quem conduz? O CRISTO, de Quem sempre devemos começar. Ele nos acompanha mediante a sua Palavra e o dom da Eucaristia. Olhando para Ele, entrevemos a Dom Bosco que, por primeiro, vos abriu este caminho de novidade, adaptando-a nas modalidades à sua própria época, mas inspirando-se na Caridade, realidade jamais ultrapassada, válida para todos os tempos.


153.A Igreja confia em vós!

A Igreja muito espera de vós, Filhos de Dom Bosco!

Deixai-me relembrar as palavras que Jean Duvallet, um dos primeiros colaboradores do Abbé Pierre, disse a salesianos jovens: “Vós só tendes um tesouro: a pedagogia de Dom Bosco. Arriscai tudo, mas salvai a sua pedagogia! Vinte anos de ministério, passados a reeducar os jovens, me obrigam a dizer-vos: Vós sois responsáveis por este tesouro perante a Igreja e perante o mundo”.


Roma, 25 de fevereiro de 2002.


ANEXO 3



Discurso do Vigário Geral,
P. Luc Van Looy,
na abertura do CG25




Eminência Reverendíssima, Cardeal Martinez-Somalo,

Caríssimos Cardeais Alfons Stickler, Antonio María Javierre e Ignacio Velazco, Irmãos Arcebispos e Bispos,

Irmãs e Irmãos representantes da Família Salesiana,

Caros Irmãos Capitulares,


154.

Ao iniciarmos este 25º Capítulo Geral da Sociedade de São Francisco de Sales, sinto-me feliz de poder saudar-vos a todos com muita cordialidade e reconhecimento. Vejo na vossa presença uma demonstração de afeto para com a nossa Congregação e de participação a um dos atos mais importantes da sua vida, como é de fato o Capítulo Geral.

Agradeço à Madre Antonia Colombo, Superiora Geral da Filhas de Maria Auxiliadora e a todos os responsáveis pelos diversos ramos da Família Salesiana aqui presentes: o Coordenador Central dos Cooperadores, o Presidente Mundial dos Ex-alunos, a Responsável Central das Voluntárias de Dom Bosco, os Superiores e as Superioras de Congregações religiosas, e os Responsáveis dos grupos e associações reconhecidos como pertencentes à Família Salesiana. Sentimos, nesta vossa presença solidária, os vínculos que nos unem numa só Família – a Família de Dom Bosco.

E a vós, Irmãos, que vindes das diversas Inspetorias espalhadas pelo mundo, exprimo-vos as mais cordiais e fraternas boas-vindas. Sei que viestes para trabalhar, para fazer uma vigorosa experiência de mundialidade e para preparar o futuro da Congregação.


Gostaria antes de tudo de relembrar com gratidão e afeto o P. Juan Vecchi, a quem o Senhor levou para Si faz um mês. Persiste ainda viva em nossa memória a lembrança da sua amável paternidade, da sua sabedoria, da incisividade no governo da Congregação, e do seu testemunho pessoal de fé e de serena aceitação da vontade de Deus durante a sua longa enfermidade. Nesse período, a Congregação e a Família Salesiana encontraram-se compactamente ao lado do Reitor-Mor, unindo-se em oração em torno do Irmão Artêmides Zatti. Estamos certos de que o P. Vecchi, que iniciou e orientou a caminhada de preparação para este Capítulo Geral, haverá de ajudar-nos do Céu a levá-lo a bom termo.

Nestes últimos anos, a canonização de Dom Versiglia e do P. Caravario, a beatificação dos jovens oratorianos poloneses e dos mártires espanhóis estimularam toda a nossa Família para uma “medida alta de vida salesiana ordinária” (cf. NMI 31); e a próxima beatificação do P. Luís Variara, da Irmã Maria Romero e do Sr. Artêmides Zatti introduz, mais uma vez, os santos e a santidade para o meio de toda a Família Salesiana.


1. O Caminho pós-conciliar

155.

O tema deste Capítulo Geral insere-se num percurso que atravessa e se desenvolve ao longo de todo o período pós-conciliar. Depois de haver refletido globalmente sobre a nossa identidade salesiana (CG20) e de ter aprofundado alguns dos seus aspectos, como a evangelização dos jovens, o sistema preventivo, a animação da comunidade e a figura dos sócios (CG21), chegamos à promulgação das Constituições renovadas no CG22 de 1984.

Concentramos a seguir a nossa atenção sobre o caminho que, para educar os jovens à fé e na fé, devemos percorrer (CG23). Relevamos para tanto a necessidade de uma comunidade que se renove continuamente, que se insira mais ativamente no mundo juvenil com um salto de qualidade pastoral, e que se torne a um só tempo núcleo animador, tanto da comunidade educativo-pastoral quanto dos vários ramos da Família Salesiana.

O CG24 retomou esse último aspecto do envolvimento dos leigos em nosso espírito e em nossa missão, e delineou o novo papel da comunidade religiosa salesiana dentro da CEP e na elaboração do PEPS.

A comunidade salesiana, pois, tanto no CG23 quanto no CG24, emergiu como o ponto de convergência. Do seu bom funcionamento depende, de fato, em grande parte, a qualidade do testemunho, a incidência apostólica e a fecundidade da Congregação. É a comunidade religiosa dos salesianos que deve ser “sal da terra e luz do mundo” por meio das suas várias obras e atividades.

Seguindo este “fio vermelho”, o CG25 propõe-se agora avaliar os passos dados à luz do último Capítulo Geral, aprofundar as indicações não suficientemente compreendidas, e dar impulso ao trabalho já em andamento da renovação da comunidade. Pretende-se com ele relançar a comunidade como carta decisiva na evangelização dos jovens neste novo milênio.

Tal tema, portanto, não nos tira de sob os olhares nem os nossos destinatários, nem os leigos que conosco colaboram. Como escreveu o P. Vecchi na sua carta de convocação:

O objetivo do CG25 não é tanto o que a comunidade e os irmãos ainda devem fazer pelos jovens, mas o que devem ser e viver hoje por eles e com eles. O olhar deve dirigir-se em primeiro lugar ao que somos e vivemos, do ponto de vista evangélico, para agir mais eficazmente em favor dos destinatários de nossa missão” (A caminho do 25º Capítulo Geral, ACG 372, p. 14).


A comunidade salesiana será, pois, o ponto focal do CG25. A ele se acrescenta a tarefa de dar cumprimento à orientação operativa do CG24 (n. 191) relativa às estruturas de governo, e da eleição do novo Reitor-Mor e dos membros do Conselho Geral que hão de guiar a Congregação durante o próximo sexênio.



2. O tema do CG25 perante os desafios de hoje

156.

O tema do Capítulo, “a comunidade salesiana hoje”, articula-se em quatro pontos:

a vida fraterna,

o testemunho evangélico,

a presença animadora entre os jovens,

a animação comunitária.


Os vários Capítulos Inspetoriais refletiram sobre estes pontos, a partir da experiência das comunidades locais e da individuação de alguns problemas de especial relevo, que a Comissão Pré-capitular julgou bem assinalar, como, por exemplo:

- a necessidade de reforçar a vida da comunidade segundo o Espírito. Isto é, criar as condições para que os irmãos gozem de uma intensa experiência do amor de Cristo que os leve a uma vida profundamente fraterna, a uma dedicação total à missão juvenil, a um testemunho atraente dos valores evangélicos;

- a exigência de desenvolver a capacidade inspiradora da comunidade religiosa no interior da comunidade educativa e pastoral, de forma a gerar comunhão, entusiasmo e vigoroso senso de pertença;

- a dificuldade de fazer frente às exigências reais da missão devido à diminuição das forças e o conseqüente desequilíbrio entre o volume de trabalho e o pessoal disponível;

- o envelhecimento e escassez de vocações, que tornam a vida de comunidade mais pesada e arriscam ofuscar o caminho futuro da missão.


Sobre estes e outros aspectos da vida de comunidade, o Capítulo Geral é chamado a indicar pistas seguras e motivadas para relançar a comunidade no início deste Milênio, relembrando a insistência de Dom Bosco:

Nós escolhemos viver «in unum». Quer dizer: «in unum locum, in unum spiritum, in unum agendi finem»” (levar vida comum, com o mesmo espírito, com o mesmo objetivo a alcançar) (MB IX 573).


A idéia de escolher este tema, porém, não deriva apenas da consciência de fraquezas ou lacunas no perfil de nossa vida comunitária religiosa, mas de alguns desafios provenientes de um horizonte muito mais amplo.


157.A cultura hodierna

Em primeiro lugar desafia-nos a cultura hodierna. Viver e anunciar a fé tornou-se difícil no mundo secularizado, em que o povo se afasta de modo gradual e silencioso da fé como de um elemento pouco importante para a vida de todos os dias.

Havendo diminuído consideravelmente o valor educativo e religioso da família, e passando a Igreja a ser considerada como uma instituição alienada da sociedade moderna, os jovens que crescem em ambientes secularizados acham difícil compreender a terminologia religiosa e se habituam a chegar aos critérios de conduta e ao sentido da vida por conta própria, sem referência a valores religiosos e, muitas vezes, sem ouvir os conselhos dos adultos que lhes estão perto. Em nossos dias, a credibilidade da Igreja é também posta sob a mira dos meios de comunicação, os quais põem em relevo, justa ou injustamente, certas fraquezas ou erros morais de religiosos e sacerdotes.

Também a escola interpela-nos fortemente, sobretudo naqueles países em que está em andamento um processo de reforma. O sistema de Dom Bosco põe como centro a pessoa e a sua educação integral, enquanto hoje constatamos que a preocupação no campo escolar se concentra quase que exclusivamente na instrução, nada se importando com a formação e o acompanhamento da pessoa. O ensino religioso, além disso, tende a ter cada vez menos peso, levando inevitavelmente ao enfraquecimento da formação integral do jovem e da sua capacidade de desenvolver uma cultura pessoal.


A tarefa hoje é a de encontrar um modo de superar essas barreiras físicas, psicológicas e culturais, a fim de chegar também aos jovens mais afastados, e ajudá-los a chegar à fé em Cristo. Não serão, em primeiro lugar, as palavras e os arrazoados a abrir tal caminho, mas o testemunho de uma comunidade que vive a própria fé em Jesus Cristo, encontra nela a sua coesão e a torna visível pela alegria e a transparência.

Esta carga espiritual conduz a comunidade de fé a superar o setorialismo e o individualismo, e a viver em fraterna amizade e colaboração, a ponto de tornar-se atraente e evangelizadora, como indica a Exortação Vita Consecrata:

A vida de comunhão torna-se um sinal para o mundo e uma força de atração que leva à fé em Cristo. .... Deste modo, a comunhão abre-se para a missão e converte-se ela própria em missão” (VC 46).

O mesmo amor por Cristo leva também a um generoso acolhimento e doação de si aos outros. Aos jovens em primeiro lugar, por meio de uma presença ativa e amiga entre eles, e, depois, aos colaboradores leigos e aos membros dos diversos ramos da Família Salesiana, mediante uma comunhão feita de experiências de planejamento comum, participação responsável e formação conjunta, “até poder tornar-se uma experiência de Igreja, reveladora do plano de Deus” (C 47).

Em sendo sinal, a comunidade torna-se escola de fé que encontra a coragem e a criatividade para mostrar o seu próprio rosto cristão e sabe dar sabor e orientação à vida dos destinatários.


158.Expansão geográfica e inserção

O fenômeno da globalização, com o correlativo fenômeno da localização, sublinha a necessidade de um equilíbrio entre a unidade do carisma e o pluralismo das expressões.

Exige que se dê mais peso ao valor da fraternidade do que às diferenças de etnia, língua, etc., de modo que as nossas comunidades, abertas às diversas culturas, se tornem um verdadeiro presente para a Igreja e a sociedade. A nossa presença em todos os continentes, em 128 nações, ajuda-nos a ter uma visão mundial do nosso carisma e a observar o movimento geográfico da vida da Igreja e das vocações. Enquanto se envelhece em algumas regiões tradicionais, se cresce e renasce em outros países e continentes.


Diz o Santo Padre em sua Exortação Apostólica Vita Consecrata, ao n. 51:

Situadas nas várias sociedades do nosso planeta – sociedades tantas vezes abaladas por paixões e interesses contraditórios, desejosas de unidade, mas incertas sobre os caminhos a seguir –, as comunidades de vida consagrada, nas quais se encontram como irmãos e irmãs pessoas de diversas idades, línguas e culturas, aparecem como sinal de um diálogo sempre possível e de uma comunhão capaz de harmonizar as diferenças. As comunidades de vida consagrada são enviadas a anunciar, pelo testemunho de sua vida, o valor da fraternidade cristã e a força transformadora da Boa Nova, que faz reconhecer a todos como filhos de Deus e leva ao amor oblativo para com todos, especialmente para com os últimos. .... Os Institutos internacionais, nesta época caracterizada pela repercussão universal dos problemas e simultaneamente pelo regresso dos ídolos do nacionalismo, sobretudo eles têm a missão de manter vivo e testemunhar o sentido da comunhão entre os povos, as raças, as culturas. Num clima de fraternidade, a abertura à dimensão mundial dos problemas não sufocará as riquezas particulares, nem a afirmação de uma particularidade gerará contrastes com as outras e com o todo. Os Institutos internacionais podem realizar isso eficazmente, já que eles próprios devem enfrentar criativamente o desafio da inculturação e conservar ao mesmo tempo a sua identidade”.



1.1 159. A busca da qualidade

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A inserção na realidade cultural exige um empenho sério para qualificar as pessoas e as obras. A significatividade da nossa ação depende principalmente da capacidade de conjugar o profissionalismo com o espírito carismático.

Falando do papel da comunidade salesiana como núcleo animador, o P. Vecchi indicou metas a alcançar. É preciso que nos esforcemos por tornar-nos:

- pessoas que vivem, com confiança e alegria, a própria vida, com atitude de compreensão e de diálogo com os jovens e o seu mundo, com atenção à cultura, com capacidade de inserção no seu território;

- educadores competentes que sabem conjugar a educação e a evangelização, e preparar agentes para a transformação cristã da sociedade;

- animadores dispostos a partilhar os caminhos formativos com os colaboradores leigos na vida de cada dia e nos momentos comunitários de especial importância, como a elaboração do PEPS, a avaliação da CEP, e o discernimento diante de situações concretas;

- dirigentes que interiorizaram o valor da participação e da co-responsabilidade e sabem animar, criando e renovando as modalidades oportunas;

- salesianos que trabalhando em equipe com outros manifestam uma sensibilidade particular para a educação dos mais pobres e se tornam promotores de uma cultura de solidariedade e de paz (cf. Especialistas, testemunhas e artífices de comunhão. A comunidade salesiana – núcleo animador, in ACG 363, pp.37-38).


Para alcançar essa qualidade, tanto das comunidades quanto dos irmãos, a Congregação no sexênio fez um esforço notável para repensar e atualizar a sua práxis formativa, adequando a tarefa formadora aos desafios e às exigências de hoje. A Ratio, promulgada em dezembro de 2000, é um compêndio das normas e das orientações da Congregação em matéria de formação. Contempla toda a formação na perspectiva da formação permanente, atribui uma eficácia formativa à vida e ao trabalho de todos os dias.

Para tanto, requer-se haja na comunidade:

- um clima que favoreça o crescimento dos irmãos como pessoas e como comunidade (espírito de família, que cria uma mentalidade de busca e discernimento comuns, valorizando a experiência de todos; clima de fé e de oração que reforça as motivações interiores e dispõe a vivê-las com radicalismo evangélico e doação apostólica...);

- a valorização dos diversos tempos e meios que favorecem a formação permanente;

- a programação anual da formação permanente;

- a comunicação com a comunidade inspetorial e com a Congregação, e o acolhimento dos estímulos e das orientações que delas dimanam... (cf. Ratio, n. 543).


3. Algumas perspectivas


160.

A tarefa confiada por Cristo – de ser sal da terra e luz do mundo – leva a defrontar-nos com a realidade, na qual queremos repensar constantemente a nossa originalidade carismática, verificando se o sal ainda tem sabor e se a luzerna está bem colocada.

O Ano Jubilar convidou-nos a levantar a medida de nossa vida. Com sua palavra de ordem – “Duc in altum!” – o Santo Padre estimula-nos a que nos façamos ao mar aberto e profundo, tal como a fez ecoar o P. Vecchi em sua Estréia para este ano de 2002. Para este primeiro Capítulo Geral do novo Milênio, “Duc in altum” quer dizer relançar a Congregação em um dos seus aspectos fundamentais que testemunham o seu vigor religioso e carismático. A comunidade é, na verdade, a chave para a renovação e o crescimento da Congregação na sua missão juvenil, na sua pastoral vocacional e no seu impacto carismático e evangélico sobre o mundo.


Neste encontro fraterno, que é o Capítulo Geral, queremos em primeiro lugar viver a comunhão como sinal da unidade da Congregação; queremos fazer juntos uma reflexão sobre a comunidade, para redescobrir e re-exprimir o núcleo da inspiração evangélica do carisma de Dom Bosco, sensíveis às necessidades dos tempos e dos lugares (cf. C 146). Trata-se de reavivar e fundamentar o nosso testemunho evangélico e carismático como comunidade, a fim de tornar-nos profetas do novo Milênio. Queremos individuar e partilhar as linhas de percurso de toda a Congregação no próximo sexênio.


161.

A este respeito, gostaria de indicar desde já algumas pistas ou perspectivas para as nossas comunidades, mirando a um testemunho significativo de futuro, capaz de re-fundar ou re-desenhar a nossa presença no mundo de hoje:


Antes de tudo, como testemunhas de pobreza, as nossas comunidades se inserirão na sociedade, participando das multíplices formas de pobreza, material e espiritual, e empenhando-se pela justiça e o respeito pela pessoas humana. É, na verdade, a vocação de seus membros consagrados que as coloca nesta sensibilidade que é típica para a Igreja.

A opção pelos pobres” – relembrou-nos o Papa – “inscreve-se na própria dinâmica do amor, vivido segundo Jesus Cristo. .... Isto comporta para cada Instituto, de acordo com o seu carisma específico, a adoção de um estilo de vida, tanto pessoal quanto comunitário, humilde e austero” (VC 82).

As comunidades serão solicitadas a repensar o seu modo de viver e trabalhar, favorecendo a sua presença entre os jovens menos afortunados e fomentando em seus membros e nos destinatários uma cultura de solidariedade que seja expressão do Evangelho da caridade.


162.

Em segundo lugar, como testemunhas de fé, as comunidades deverão responder à sede de espiritualidade que os jovens manifestam.

Cito as palavras do P. Vecchi:

Os jovens .... precisam de testemunhas, de pessoas e de ambientes que demonstrem por meio de exemplos as possibilidades de organizar a vida em nossa sociedade segundo o Evangelho. Esse testemunho evangélico, que é ao mesmo tempo comunhão entre irmãos, seqüela radical de Cristo e presença ativa, estimulante e portadora de vida entre os jovens, constitui o primeiro serviço educativo a oferecer-lhes, a primeira palavra de anúncio do Evangelho. É evidente, do ponto de vista vocacional, que eles se sintam atraídos a entrar em ambientes comunitários significativos, mais do que só assumir um compromisso” (A caminho do 25º CG, in ACG 372, p. 17).

Na Exortação o Papa convida os consagrados a

suscitar em cada fiel um verdadeiro anseio de santidade, um forte desejo de conversão e renovação pessoal num clima de oração cada vez mais intensa” (VC 39).

E o seu testemunho comunitário de vida fraterna e de caridade para com os necessitados constituirá um vigoroso convite e encorajamento aos demais para partilharem o carisma salesiano. Realizarão assim quanto dizem as nossas Constituições: “A descoberta e orientação das vocações” constitui o “«coroamento» de toda a nossa ação educativo-pastoral” (C 37).


163.

Terceiro: como testemunhas de comunhão as nossas comunidades deverão zelar por expandir, reforçar e recriar a comunhão a fim de tornar-se, como disse o Papa, verdadeiros “especialistas de comunhão” (VC 46).

Tornar-se-ão assim significativas no território, mediante o seu envolvimento, na linha do seu carisma, tanto na pastoral da Igreja local quanto no trabalho em favor dos jovens pobres e em co-ligação com outras entidades e organizações. Cuidarão quer de promover os valores evangélicos, com palavras e mais ainda com o próprio exemplo, quer de estar presentes lá onde se decidem os critérios educativos e se estabelecem as linhas políticas relativas à juventude.

Não só: a vocação de educadores e consagrados, e o ministério sacerdotal levarão as comunidades a dar impulso a atividades sistemáticas para a orientação e a formação dos colaboradores e das comunidades educativas. Para torná-los (a eles e a elas) capazes de viver a própria vida com maturidade e alegria, de compreender e viver a espiritualidade salesiana e de cumprir a missão educativo-pastoral com competência e profissionalismo, as comunidades terão em mira não só o seu crescimento cultural e profissional mas também e sobretudo o desenvolvimento de sua vocação humana, cristã e salesiana.

Entrelaçarão relacionamentos de colaboração e co-responsabilidade na comum missão, e empenhar-se-ão ativamente na Igreja e na sociedade, especialmente em áreas como a educação, a evangelização da cultura e a comunicação social.


Quarto: como testemunhas de uma profunda vida espiritual as comunidades deverão empenhar-se sobretudo em reavivar a própria espiritualidade salesiana, reconhecendo que a comunidade deve a sua existência e missão ao Espírito, e que, portanto, não poderá nunca reinventar a si mesma ou cumprir uma sua tarefa com fruto sem uma intensa experiência espiritual. Procuraremos “partir de Cristo” (NMI 29), com a consciência de que “a comunidade religiosa é, antes de tudo, um mistério a ser contemplado e acolhido com coração reconhecido numa límpida dimensão de fé” (A vida fraterna em comunidade, n. 12).

Na virada do novo Milênio é-nos lembrada com insistência a importância de sermos cristãos autênticos e testemunhas competentes e fidedignas. Diz-se hoje que, ‘sem paixão e mística, ninguém poderá ser cristão’; muito menos religioso e salesiano, acrescentamos. Saiba o Capítulo Geral reacender esse fogo em cada comunidade salesiana.


Conclusão


164.

Confiemo-nos à ajuda de Maria, “modelo de oração e de caridade pastoral, mestra de sabedoria e guia da nossa Família” (C 92), e confiemo-nos à condução do Espírito Santo, com a docilidade de Dom Bosco, para sermos iluminados em todos os passos que dermos e em todas as decisões que tomarmos neste Capítulo. Saibamos também que toda renovação feita segundo a moção do Espírito e em sintonia com o carisma de Dom Bosco será acompanhada por sua força criadora. É assim que podemos empreender o nosso trabalho com a plena confiança de fazer a vontade de Deus.

São estes os votos que nos fazemos, certos de que o Senhor está no meio de nós.


Roma, 25 de fevereiro de 2002.