Acompanhamento Orientacoes_pt


Acompanhamento Orientacoes_pt



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Dicastério para a Formação
Dicastério para a Pastoral Juvenil
Jovens Salesianos
e acompanhamento
Orientações e diretrizes
Roma 2019

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Jovens Salesianos
e acompanhamento

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Dicastério para a Formação
Dicastério para a Pastoral Juvenil
Jovens Salesianos
e acompanhamento
Orientações e diretrizes
Roma 2019

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Projeto gráfico:
Andrea Marconi
Tradução: P. José Antenor Velho, sdb
Impressão
a/c EDEBÊ – Brasília
Todos os direitos reservados
à Sociedade de São Francisco de Sales
(Salesianos de Dom Bosco)
Edição extracomercial (2020)
Sede Central Salesiana
Via Marsala, 42
00185 Roma

1.6 Page 6

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Sumário
ABREVIAÇÕES, pag. 9
APRESENTAÇÃO, pag. 11
INTRODUÇÃO, pag. 15
PRIMEIRA PARTE - RECONHECER, pag. 23
1. O estudo do acompanhamento pessoal Salesiano, pag. 25
1.1 O processo, pag. 25
1.2 Elementos macroscópicos relativos aos entrevistados, pag. 28
1.2.1 Salesianos que emitiram a primeira profissão religiosa, pag. 29
1.2.2 Distribuição demográfica, pag. 32
1.2.3 Língua, pag. 34
1.2.4 Idade, pag. 36
1.3 O presente documento, pag. 38
2. Temas emergentes, pag. 43
2.1 As pessoas envolvidas no acompanhamento espiritual pessoal, pag. 43
2.1.1 Uma Congregação jovem, pag. 44
2.1.2 Os guias espirituais, pag. 46
2.1.3 Acompanhamento comunitário, pag. 49
2.2 Como é entendido o acompanhamento espiritual pessoal, pag. 51
2.2.1 O modo de entender de quem é acompanhado, pag. 51
2.2.2 O modo de entender de quem acompanha, pag. 54
2.3 O que acontece durante o acompanhamento espiritual pessoal, pag. 54
2.3.1 Alguns fatores externos que condicionam, pag. 55
2.3.2 Diretores como guias espirituais: tendência à diminuição, pag. 55
2.3.3 Carências sobre a discrição e a confidencialidade, pag. 56
2.3.4 Abertura e transparência, pag. 57
2.3.5 Outros aspectos problemáticos, pag. 58
2.3.6 Um comportamento externo ao qual conformar-se, pag. 58
2.3.7 A sobreposição de acompanhamento e autoridade, pag. 59
2.4 O papel desempenhado por algumas mediações, pag. 61
2.4.1 Avaliações trimestrais (escrutínios), pag. 61
2.4.2 Diversas formas ou aspectos da oração, pag. 63
2.4.3 O projeto pessoal de vida, pag. 64

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SEGUNDA PARTE - INTERPRETAR, pag. 67
3. Inspirações que nascem da nossa tradição, pag. 69
3.1 A originalidade do acompanhamento espiritual salesiano dos jovens, pag. 69
3.2 O acompanhamento espiritual salesiano nos processos de formação, pag. 74
3.2.1 A praxe de Dom Bosco reflete-se nos processos de formação, pag. 74
3.2.2 O sistema preventivo e os processos de formação, pag. 74
3.2.3 A esplêndida harmonia entre espírito de família e acompanhamento, pag. 78
4. À escuta do espírito, pag. 81
4.1 Uma formação inculturada, pag. 81
4.2 Esclarecer o significado de acompanhamento espiritual salesiano, pag. 87
4.3 Além do limiar do foro íntimo, pag. 90
4.4 Os pontos críticos da experiência do pré-noviciado , pag. 91
4.5 A qualidade da pastoral juvenil determina os processos de formação, pag. 94
4.6 A dinâmica fundamental de graça e liberdade, pag. 97
4.6.1 A problemática sobreposição de papel da autoridade e do acompanhamen-
to espiritual pessoal, pag. 97
4.6.2 Graça e liberdade, pag. 97
4.6.3 Respeitar o dinamismo de graça e liberdade, pag. 99
4.7 O diretor, o acompanhante espiritual e o confessor: três figuras-chave, pag. 103
4.8 Continuidade no acompanhamento, pag. 105
4.9 O papel da comunidade e da missão, pag. 107
4.10 Respeitar a confidencialidade e criar confiança, pag. 112
4.11 Retornar al sistema preventivo, pag. 115
4.12 Aprender da experiência, pag. 119
4.13 Acompanhamento espiritual holístico, pag. 120
4.14 Avaliações trimestrais como ajuda para o crescimento, pag. 121
4.15 Assumir a responsabilidade pessoal da formação, pag. 122
4.16 Aprender que o acompanhamento continua a vida toda, pag. 124
4.15 A urgência de escolher e preparar guias espirituais, pag. 125

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TERCEIRA PARTE - ESCOLHER, pag. 129
5. Caminho a trilhar, pag. 131
5.1 Sugestões emergentes, pag. 131
5.2. Estratégias, pag. 132
5.2.1 Esclarecer a natureza do acompanhamento espiritual salesiano, pag. 132
5.2.2 Renovação da animação vocacional e dos aspirantados, pag. 132
5.2.3 Adotar o Sistema Preventivo como nosso modelo de formação, pag. 134
5.2.4 Assumir a responsabilidade do acompanhamento da comunidade, pag. 136
5.2.5 Garantir a liberdade no acompanhamento espiritual pessoal, pag. 138
5.2.6 Reforçar a figura e o papel do diretor, pag. 140
5.2.7 Preparação de formadores e guias espirituais, pag. 142
5.2.8 Fazer com que o acompanhamento espiritual seja permanente, pag. 146
5.2.9 Contextualizar as estratégias, pag. 147
CONCLUSÃO, pag. 151
APÊNDICE:
ALGUMAS QUESTÕES E ALGUNS PONTOS PARA REFLEXÃO, pag. 155
BIBLIOGRAFIA ES COLHIDA, pag. 165

1.9 Page 9

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Comentário
às imagens
Capa: vista do Tel Morasti, ambiente do profeta Miquéias (foto Ivo Coelho)
Mq 6,8: “Já te foi dito, ó homem, o que convém, o que o Senhor reclama
de ti: que pratiques a justiça, que ames a bondade, e que andes com hu-
mildade diante do teu Deus”.
Caminhar foi o motivo inspirador das imagens que acompanham o texto.
O primeiro passo é dado pelo Bom Pastor ([2] catacumbas de São Calisto),
ícone que diz tudo sobre o processo da vocação e missão salesiana, foco
central de todas as páginas que seguem
Para iniciar encontramos a humilde casa de “I Becchi” e o “Colle Don Bos-
co”; para concluir, temos “Valdocco” e a “Basílica de Maria Auxiliadora”.
Nesse caminho do nosso pai Dom Bosco e da Família Salesiana, que nas-
ceu dele e continua a crescer no mundo, colocam-se as três partes do
texto.
A primeira, RECONHECER, consiste na escuta atenta do que expressam
os passos de tantos jovens em formação e de seus acompanhantes, como
se reflete na ampla consulta internacional da qual brotam as orientações e
os itinerários oferecidos no texto. O círculo dos pés [22] e o salto na poça
evocam o caminhar dos primeiros protagonistas deste trabalho, que são os
próprios jovens.
A segunda parte, INTERPRETAR, mostra o caminho que se pretende se-
guir, onde o ponto em que nos encontramos, tal como aparece na pesquisa
e consulta, indica-nos os inícios da viagem e a inspiração que vem de Dom
Bosco, para poder ver mais adiante e intuir para onde devemos dirigir nos-
sos passos com entusiasmo renovado. O caminho é longo [64], mas se
percorre com prazer porque não é um caminho solitário que nos isole do
resto do mundo. Ao contrário, faz-nos entrar na vida do povo a que somos
enviados [78], tendo em nós um coração sempre mais semelhante ao de
Dom Bosco.
A terceira parte, ESCOLHER, apresenta sugestões que emergem das par-
tes anteriores. São sugestões mais do que normas, que devem ser inter-
pretadas e encarnadas em cada Região, Inspetoria e Comunidade. A ima-
gem dos jovens que expressam com suas mãos a necessidade de receber
e o desejo de dar amor [126] reflete a DIREÇÃO que dá vida a todo o ca-
minho e a cada passo: “Ama e faze o que quiseres” (Santo Agostinho).

1.10 Page 10

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Abreviações
AL Amoris laetitia
9
Albuquerque Eugenio Albuquerque Frutos, São Francisco de Sales como diretor espiritual. Práxis pastoral da
direção espiritual do Bispo de Genebra, in Attard-García 28-47.
Attard-García Fabio Attard e Miguel Angel García, O acompanhamento espiritual. Itinerário pedagógico e espiri-
tual em chave salesiana a serviço dos jovens. Editora Dom Bosco, Brasília 2015.
Bay Marco Bay, Giovani salesiani e accompagnamento. Risultati di una ricerca internazionale, LAS, Roma 2018.
Buccellato Giuseppe Buccellato, A experiência da direção espiritual vivida por Dom Bosco no Colégio Eclesiás-
tico de Turim (1841-1844), in Attard-García 141-194.
C Constituições da Sociedade de São Francisco de Sales (2015)
CV Christus vivit
EG Evangelii gaudium
CEP Comunidade educativo-pastoral
DF XV Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos 2018, “Os jovens, a fé e o discernimento vocacional”
Documento Final
QdR A Pastoral Juvenil Salesiana. Quadro Referencial (2014)
FSDB A Formação dos Salesianos de Dom Bosco: Ratio Fundamentalis Institutionis et Studiorum (IV
edição, 2016)
GE Gaudete et exsultate
Giraudo Aldo Giraudo, Direção espiritual em São João Bosco. Características peculiares da direção espiritual
oferecida por Dom Bosco aos jovens in Attard-García, 195-211. Direção espiritual em São João Bosco. Conteú-
dos e itinerários do acompanhamento espiritual dos jovens na praxe de Dom Bosco, in Attard-García 212-226.
Grech Louis Grech, Salesian Spiritual Companionship with Young People Today inspired by the Thought and
Praxis of St John Bosco. Horizons, Malta 2018.
IL XV Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos 2018, Os jovens, a fé e o discernimento vocacional –
Instrumentum Laboris.
McDonnell Eunan McDonnell, A direção espiritual em São Francisco de Sales. Linhas fundamentais do método
espiritual e pedagógico na perspectiva salesiana, in Attard-García 94-133.
OEA Oeuvres de saint François de Sales. Annecy 1892-1932.
R Regulamentos Gerais da Sociedade de São Francisco de Sales
Struś Józef Struś, A pessoa do diretor espiritual segundo São Francisco de Sales in Attard-García 48-93.
VC Vita consecrata
VN Para vinho novo odres novos, CIVCSVA, Roma 2017.

2 Pages 11-20

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2.1 Page 11

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2.2 Page 12

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Apresentação
Caros irmãos,
11
Estou feliz por apresentar-lhes Jovens Salesianos e Acompa-
nhamento. Orientações e Diretrizes, promulgando-o ad experi-
mentum por um período de três anos. Não se trata de um suple-
mento da Ratio (A Formação dos Salesianos de Dom Bosco), e,
em caso de discrepâncias, este documento prevalece sobre a
Ratio.
Estou particularmente feliz ao dizer que este documento é fru-
to da colaboração entre os dicastérios para a Formação e para
a Pastoral Juvenil da nossa Congregação. O acompanhamento
espiritual, como se torna sempre mais evidente, é central tanto
para a pastoral juvenil como para a formação. A pedido do Rei-
tor-Mor e seu Conselho, os dois dicastérios iniciaram uma provei-
tosa colaboração que possibilitou um intenso exercício de escuta
dos jovens salesianos e seus guias espirituais. Os dois dicastério
seguiram o método do discernimento, utilizado também nos Sí-
nodos sobre a família e no Sínodo recentemente concluído sobre
os jovens, a fé e o discernimento vocacional.
Embora este documento resulte da colaboração entre os dois
dicastérios, a atenção se concentrou no acompanhamento dos
salesianos em seus processos de formação inicial. O interesse,
no acompanhamento, deve dirigir-se sobretudo à relação de
acompanhamento espiritual pessoal. Como, no entanto, em nos-
sa tradição e práxis há uma relação muito estreita entre acompa-
nhamento pessoal e acompanhamento comunitário, o documen-
to também esclarece sobre o acompanhamento da comunidade,
o colóquio pessoal com o diretor e outros elementos do processo
formativo.
Emergiu também com clara evidência deste exercício de “es-
cuta” que aquilo que acontece na Pastoral Juvenil influencia a
formação e vice-versa. E se houver em nossa Pastoral Juvenil um
bom acompanhamento e discernimento vocacional, as vocações

2.3 Page 13

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12
salesianas que daí brotarem entrarão bem preparadas nos pro-
cessos de formação. E se houver um bom acompanhamento na
formação, podemos esperar salesianos bem preparados para a
Pastoral Juvenil e o acompanhamento dos jovens. A nossa missão
“dá a toda a nossa existência o seu tom concreto” (C 3) e “a iden-
tidade de consagrado apóstolo, como o foi Dom Bosco, constitui
a linha mestra do processo formativo” (FSDB 41). O centro da
nossa missão está em ser “companheiros de caminhada” para os
jovens, como Dom Bosco o foi em Valdocco. Trata-se de um dos
melhores modos de preparar os salesianos para abraçarem essa
missão e oferecer-lhes experiências válidas de acompanhamento
pessoal durante a formação inicial, mediante o serviço de irmãos
“aptos para comunicar vitalmente o ideal salesiano, capazes de
diálogo e com suficiente experiência pastoral” (C 104).
Este documento é dirigido, portanto, a todos os envolvidos de
diferentes maneiras nos processos de formação inicial: guias es-
pirituais, formadores e confessores; diretores de jovens e irmãos
em formação inicial, inclusive os tirocinantes; membros do Con-
selho local; inspetores e seus Conselhos, delegados inspetoriais
para a formação e suas respectivas comissões. Mas, à luz do
que se disse acima sobre a conexão entre pastoral juvenil e for-
mação, também se dirige de algum modo a todos os salesianos
envolvidos na pastoral juvenil e especialmente aos que trabalham
com aspirantes à vida salesiana. São todos convidados a ler este
documento, deixando-se desafiar e provocar por ele, a fim de,
juntos, encontrarem as modalidades mais vantajosas, com o en-
volvimento dos próprios jovens salesianos, para poderem acolher
as orientações e pôr em prática as diretrizes que o Reitor-Mor e
seu Conselho oferecem agora à Congregação inteira.
No coração da mensagem comunicada pelo documento está
um convite aos formadores e guias espirituais a serem verdadeira
e genuinamente salesianos. Escrevendo-lhes da Basílica do Sa-
cro Cuore, não posso deixar de pedir para retornarem à carta de
Dom Bosco, escrita desde Roma, e fazerem do Sistema Preventi-

2.4 Page 14

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vo o nosso modelo de formação. Dom Bosco o disse com muita
13
eficácia: procura fazer-te amar! A cruz da nossa profissão per-
pétua é um constante convite e memória deste princípio central
do sistema educativo de Dom Bosco.
A aproximação dos 400 anos da morte do nosso patrono São
Francisco de Sales é outro apelo a recuperarmos a centralidade
do coração em nosso carisma e em nosso sistema educativo,
e darmos novamente ao acompanhamento espiritual o lugar de
destaque que lhe cabe tanto na proposta pastoral de quem se
inspira em Dom Bosco como nos processos de formação dos
seus salesianos.
Ángel Fernández Artime, SDB
Reitor-Mor
Roma – Sacro Cuore, 16 de agosto de 2019

2.5 Page 15

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2.6 Page 16

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Introdução
Os dicastérios para a Pastoral Juvenil e para a Formação dos
15
Salesianos de Dom Bosco envolveram-se, nos últimos anos,
num processo de profundo estudo sobre o acompanhamento
pessoal salesiano (APS). Por feliz coincidência, também o re-
cente Sínodo dos Bispos sobre Os jovens, a fé e o discerni-
mento vocacional refletiu sobre como acompanhar os jovens
no discernimento da própria vocação. Estamos, pois, diante de
um tema realmente importante, que se refere tanto à formação
como a práxis pastoral.
Caminhar com os jovens e encorajá-los a dialogar de maneira
livre e responsável com o Senhor que chama é uma tarefa que
está na essência da vocação e da missão salesianas. Criar uma
atmosfera de confiança e confidência, em que os jovens se sin-
tam amados como são, faz parte do sistema educativo e da es-
piritualidade de Dom Bosco e constitui o quadro interpretativo do
acompanhamento espiritual salesiano.
O acompanhamento espiritual, tanto comunitário como pes-
soal, é parte igualmente importante dos processos da formação
inicial e, sem dúvida, também da formação permanente. De fato,
há uma interação intrínseca e contínua entre o acompanhamento
oferecido nas áreas da nossa pastoral juvenil e aquele oferecido
e experimentado ao longo dos processos de formação. Quanto
melhor for o acompanhamento dos jovens em seus contextos
de vida, tanto mais será facilitado e potencialmente frutuoso o
acompanhamento durante os processos de formação; e quan-
to melhor for o acompanhamento durante os anos da formação
inicial, é muito mais provável que os salesianos se tornem bons
guias espirituais para os jovens e para os leigos que participam
da nossa mesma missão.
Ainda antes do CG27, o acompanhamento salesiano esta-
va no centro da atenção do dicastério para a Pastoral Juvenil
e do dicastério para a Formação, cada qual segundo a própria
perspectiva, com o objetivo de promover a redescoberta e rea-

2.7 Page 17

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16
valiação dessa parte tão típica da missão salesiana. O dicastério
para a Pastoral Juvenil promoveu três seminários sobre o tema
do acompanhamento espiritual dos jovens,1 enquanto o dicas-
tério para a Formação concretizou um processo de consulta que
levaria ao suplemento da nossa Ratio sobre “o acompanhamento
pessoal salesiano” que, embora distinto do acompanhamento da
comunidade, deveria incluir várias formas de acompanhamento,
como o colóquio com o diretor, o acompanhamento espiritual
pessoal (“direção espiritual”), o sacramento da reconciliação, o
acompanhamento psicológico, as avaliações periódicas (“escru-
tínios”) e o acompanhamento intelectual, litúrgico e pastoral.
Em junho de 2015, um esboço desse suplemento – intitulado
Critérios e normas para o acompanhamento pessoal salesiano
foi apresentado ao Reitor-Mor e seu Conselho, mas não promul-
gado. Em vez dessa publicação, o Padre Ángel Fernández Artime
convidou os dois dicastérios para a Formação e para a Pastoral
Juvenil a colaborarem num novo processo de escuta mais atenta
dos envolvidos no acompanhamento espiritual salesiano, antes
de proceder à interpretação e às orientações do caminho a se-
guir. O objetivo era sempre o de oferecer diretrizes sobre o acom-
panhamento pessoal salesiano para os itinerários formativos.
Os dois dicastérios fizeram uma opção clara de campo: de um
lado, ater-se à compreensão ampla do que é o “acompanhamen-
to pessoal salesiano” como fora esboçado originariamente pelo
dicastério para a Formação no trabalho já feito e, de outro lado,
concentrar-se especialmente no “acompanhamento espiritual
pessoal”, ou a relação da “direção espiritual pessoal” com os
processos de formação inicial. Como o acompanhamento espi-
ritual pessoal é feito sempre em contexto de comunidade, este
estudo final explana necessariamente outros elementos, como o
1 Cf. Fabio Attard e Miguel Ángel García (ed.) O acompanhamento espiritual.
Itinerário pedagógico e espiritual em chave salesiana a serviço dos jovens.
Editora Dom Bosco, Brasília 2015.

2.8 Page 18

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colóquio com o diretor, o sacramento da reconciliação e o papel
17
da comunidade que acompanha o itinerário de crescimento in-
dividual dos seus membros. A delimitação do campo de obser-
vação dos processos de formação inicial significava que não se
estaria diretamente interessado no acompanhamento espiritual
no contexto amplo da pastoral juvenil, ou nesse nível de acom-
panhamento no interior da formação permanente (no sentido de
pós-inicial). Entretanto, como veremos, surgiram consequências
importantes do estudo dessas áreas da nossa vida e do nosso
ministério.
Método
Seguimos, em nosso estudo, o método do discernimento espi-
ritual – reconhecer, interpretar, optar – que agora não é mais uma
opção, mas deve se tornar o habitus de toda comunidade cris-
tã. É importante acrescentar que escutar e reconhecer, partes do
discernimento das situações em que vivemos, não são aqui redu-
tíveis a uma análise meramente sociológica. Os dados coletados
da realidade nunca são neutros, como se fossem uma amostra de
laboratório. Estamos sempre preventivamente imersos na graça,
constantemente ativos em nossa existência quotidiana. Vivemos
num mundo que foi redimido, no qual o Espírito, como o Papa
Francisco nos lembra, foi dado a todos os batizados.2
Portanto, discernimento significa escuta do que o Espírito está
a nos dizer, em nosso caso, mediante o grande dom que são os
mais de 4.000 candidatos e jovens em formação, com seus guias
espirituais, que se manifestaram na pesquisa sobre o acompa-
nhamento. Os jovens, disse o Sínodo de 2018, são um lugar teo-
lógico “onde o Senhor nos dá a conhecer algumas das suas ex-
pectativas e desafios para construir o futuro” (DF 64).
2 Francisco, Constituição apostólica Episcopalis communio sobre o sínodo
dos bispos (15 de setembro de 2008) 5.

2.9 Page 19

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18
Uso
Este texto pretende oferecer sobretudo orientações e diretrizes
sobre o acompanhamento pessoal salesiano nos processos de
formação inicial, com especial referência ao acompanhamento
espiritual pessoal. Inevitavelmente, suas orientações e diretrizes
também tocarão o “antes” e o “depois”: o “antes”, porque a qua-
lidade da pastoral juvenil e da animação vocacional influencia di-
retamente a formação inicial; e o “depois”, porque o acompanha-
mento, tanto comunitário como pessoal, é compreendido como
parte integrante da formação entendida como permanente, além
de ser um serviço precioso que somos chamados a oferecer aos
jovens e àqueles que compartilham a nossa mesma missão entre
os leigos.
O texto é dirigido principalmente aos que estão envolvidos de
diferentes maneiras nos processos de formação inicial: diretores,
formadores, confessores e guias espirituais; delegados inspeto-
riais para a formação e suas respectivas comissões; inspetores e
seus conselhos. É um texto da Congregação ao qual obviamente
devem ter acesso também os jovens em formação, não só para
a leitura e reflexão pessoal. Podem-se ter momentos de partilha
e exame comunitário ou de grupo entre formadores e formandos,
tomando inspiração dos vários temas presentes no documento.
Além de oferecer orientações e diretrizes, o texto deve ser uti-
lizado para a animação em nível mundial, regional e inspetorial,
em conjunto com o livro de Marco Bay, Giovani salesiani e ac-
compagnamento.

2.10 Page 20

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Agradecimentos
19
Não podemos concluir sem agradecer às muitas pessoas que
se envolveram em nosso processo de estudo sobre o acompa-
nhamento pessoal salesiano.
Os que se envolveram e contribuíram para a redação de Critérios
e normas para o acompanhamento pessoal salesiano: Francesco
Cereda, então Conselheiro Geral para a formação, Chrys Saldanha
e todos os coordenadores regionais de formação e delegados ins-
petorias para a formação e suas respectivas comissões.
Os membros do dicastério para a Pastoral Juvenil: Miguel Ángel
García, Patrick Antonyraj, Daniel García, Tarcízio Morais.
Os membros do dicastério para a Formação: Raymond Callo,
Salvador Cleofas Murguía Villalobos (agora bispo dos Mixes –
México), Silvio Roggia e Francisco Santos Montero.
Os irmãos que participaram dos seminários de 2016 e 2017: Ja-
vier Altamirano, Patrick Anthonyraj, Simon Asira, Luca Barone,
Raymond Callo, Daniel Costa, Francesco de Ruvo, Salvador Del-
gadillo, Guido Errico, Robert Falzon, Enrique Franco, Daniel Gar-
cía, Sahaya Gnanaselvam, Louis Grech, Zenon Klawikowski, Jose
Kuttianimattathil, Erino Leoni, Francesco Marcoccio, Francesco
Santos Montero, Assis Moser, Salvador Cleofas Murguía Villalo-
bos, Johny Nedungatt, Luis Onrubia, Alphonse Owoudou, Loddy
Pires, Shaji Puykunnel, Giuseppe Roggia, Silvio Roggia, Roque
Sibioni, Juan Carlos Solis, Luis Timossi, Gerald Umoh, Maurizio
Verlezza, Roneldo Vilbar, Carlo Maria Zanotti.

3 Pages 21-30

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3.1 Page 21

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20
Os que se envolveram na preparação e aplicação do questio-
nário. 3
Os candidatos e irmãos – em formação inicial e os que prestam
o serviço de guias espirituais – que participaram da pesquisa.
O grande número de irmãos e jovens que dedicaram genero-
samente o seu tempo como voluntários para a tabulação dos
dados. 4
O grupo de redação que trabalhou nestas Orientações e diretri-
zes: Raymond Callo, Miguel Ángel García, Koldo Gutierrez, Louis
Grech, Cleofas Murguía Villalobos, Silvio Roggia, Francisco San-
tos Montero e Michal Vojtaš.
Os tradutores: Zdzisław Brzęk, Placide Carava, Zenon Klawikowski,
Luis Onrubia, Jean-Luc Vande Kerkhove, José Antenor Velho.
Enfim, um agradecimento especial a Marco Bay e Silvio Rog-
gia, pela paixão e competência com que realizaram este trabalho:
sem eles, teria sido impossível.
Ivo Coelho, SDB
Conselheiro geral para a Formação
Fabio Attard, SDB
Conselheiro geral para a Pastoral Juvenil
Sacro Cuore – Roma, 25 de julho de 2019
3 Os nomes são indicados em Bay 18.
4 Os nomes são indicados em Bay 18-19.

3.2 Page 22

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3.3 Page 23

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3.4 Page 24

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Primeira parte
23
Reconhecer

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24

3.6 Page 26

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1. O estudo
do acompanhamento
pessoal salesiano
1.1 O PROCESSO
25
1. A itinerário que levou a este estudo já foi descrito na intro-
dução. Limitamo-nos aqui a descrever o processo que levou às
Orientações e diretrizes para o acompanhamento espiritual sale-
siano.
O primeiro passo da colaboração entre os dicastérios para a
Pastoral Juvenil e para a Formação foi a realização de um semi-
nário internacional em Roma, de 22 a 24 de abril de 2016, com
representantes dos setores da pastoral juvenil e da formação das
sete regiões em que se subdivide a Congregação.1 Um dos fru-
tos imediatos do seminário foi a orientação clara para os meses
seguintes: ouvir o grupo de atores mais numerosos e importantes
no processo de acompanhamento do pessoal salesiano, que é o
próprio jovem salesiano ou que está prestes a ser um deles. Esse
grupo foi definido como grupo dos que estão passando pelas
várias etapas da formação inicial: os que se preparam para a vida
salesiana no pré-noviciado, os noviços, os pós-noviços, os tiro-
cinantes, os dois grupos em formação específica (aspirantes ao
sacerdócio e salesianos leigos); um questionário “ad hoc” tam-
bém foi preparado para os irmãos nos primeiros cinco anos após
a ordenação sacerdotal ou a profissão perpétua (o quinquênio).
2. Orientados por Marco Bay, salesiano leigo diretor do Centro
de Pesquisas e Elaboração de Dados da Universidade Pontifí-
cia Salesiana – Roma (UPS) e Silvio Roggia, do dicastério para a
Formação, foram preparados sete questionários, um para cada
fase indicada acima, e um oitavo para os que oferecem acom-
panhamento e orientação espiritual. Os questionários, com uma
média de 15 páginas cada, giravam em torno de 12 temas-chave
emersos no seminário de abril de 2016. Após um primeiro teste
1 As 7 regiões definidas pelo CG27 são: África e Madagascar, América – Cone Sul,
América – Interamérica, Ásia Este e Oceania, Ásia Sul, Europa Centro e Norte, Medi-
terrânea.

3.7 Page 27

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e a revisão subsequente, os oito questionários foram traduzidos
para os 6 idiomas mais usados na Congregação: inglês, francês,
espanhol, português, polonês e italiano.
A primeira perspectiva era apesentar os questionários online.
Mas foi logo deixada de lado por duas razões. Em primeiro lugar,
a abordagem reflexiva e ponderada exigida pelas muitas pergun-
tas abertas dos questionários é presumivelmente mais favorecida
pelo papel do que pelo teclado e o mouse. A segunda razão foi a
geografia da formação inicial na Congregação: onde há maior nú-
26
mero de aspirantes ou irmãos em formação, onde o fosso digital
ainda é muito grande e as possibilidades de conexão à Internet
ainda não são suficientes para garantir uma abordagem online
tranquila e não apressada aos questionários que requerem indivi-
dualmente entre 30 e 60 minutos para serem concluídos.
3. A leitura de algumas questões, particularmente as transver-
sais e presentes nas várias fases, ajuda a perceber a natureza da
pesquisa:
Quais os pontos fortes, qualificadores e positivos que o aju-
dam a crescer no caminho vocacional salesiano? Como avalia
suas convicções nos caminhos de crescimento na vida espi-
ritual? O que na vida mais o ajudou a alcançar os objetivos
específicos de cada etapa da formação para a vida salesiana?
Como considera a sua experiência de acompanhamento espi-
ritual pessoal? Pode descrever o acompanhamento espiritual
pessoal?
O que aprecia mais ou menos em alguns irmãos correspon-
sáveis ​p​ ela sua formação inicial? Que papel é essencial para
quem coordena, anima, guia e governa a comunidade religio-
sa? Se o sacramento da reconciliação é um grande dom para
o crescimento espiritual, pode tentar expressar o que vive e
pensa e como o sacramento o ajuda?
Se der um olhar geral nos progressos realizados até o momen-
to, considerando a ajuda que recebeu daqueles que o acom-
panharam: expresse o que descobriu de novo e de importante
no conhecimento de si mesmo, dos seus dons e limitações;
narre brevemente os elementos mais relevantes da sua vida
passada, positivos e negativos, que fazem parte desse cami-
nho de autodescoberta; olhando para o futuro, indique como
imagina o seu caminho vocacional.
Até agora, você pôde viver uma experiência positiva de comu-
nidade com os companheiros de caminho e outros salesianos

3.8 Page 28

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com quem poderia confrontar-se nos relacionamentos? No
ambiente salesiano, na casa onde morava, o que foi mais útil
para o seu crescimento? Pode tentar expressar, em sua expe-
riência pessoal de acompanhamento espiritual personalizado
vivido no ambiente salesiano, o que criou desconforto ou di-
ficuldade? O que correu bem e o que poderia ter sido melhor
para você e seu acompanhante?
Para os jovens que virão depois de você como salesianos, o
que sugeriria alterar para tornar o acompanhamento espiritual
mais útil? (Bay 9).
27
4. Nos dois primeiros meses de 2017, os questionários foram
enviados a todas as inspetorias segundo o número de cópias
para cada fase, indicado pelos delegados inspetoriais para a for-
mação. Eles foram aplicados durante os primeiros seis meses de
2017. A participação foi além das previsões mais otimistas, como
se pode ver na Tabela 02, que indica o número de questionários
preenchidos que chegaram ao Centro de Pesquisas e Processa-
mento de Dados da UPS, em envelopes sigilados (Bay 28). Ob-
serve-se, em particular, a porcentagem de respostas em relação
ao número de candidatos / irmãos em cada uma das etapas ini-
ciais de formação, com base nos dados pessoais fornecidos pela
sede central de Roma (31 de dezembro de 2017).
Pré-noviços
Noviços
Pós-noviços
Tirocinantes
Específica teologia
Específica coadjutores
Sac. Quinquênio
Guias espirituais
Total
Frequências dos questionários
entregues e disponíveis
455
399
903
554
701
54
369
538
4.000
Tabela 02. Indivíduos distribuídos por fase formativa e guias
Porcentagens segundo os
report Flash inspetoriais
87
92
93
78
87
79
41
-
-
Mesmo nas fases em que o percentual de entrevistados é re-
lativamente menor, como o tirocínio e o quinquênio, houve uma
forte participação. Na verdade, são irmãos que não vivem juntos
em casas de formação e que, no entanto, optaram por responder
de maneira individual.
5. O interesse nesse tipo de pesquisa e a vontade de participar

3.9 Page 29

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também emergem no serviço generoso de mais de 220 irmãos de
todas as regiões que se ofereceram para a tabulação dos dados.
Entre junho e agosto de 2017, as respostas de mais de 4000 ques-
tionários cartáceos recebidos e digitalizados foram tabuladas ma-
nualmente e inseridas no servidor. Se tivermos em mente que, para
este trabalho, é necessária uma média de 20 a 40 minutos para
cada questionário, dependendo da extensão das respostas aber-
tas, temos uma idéia de quantas horas de serviço foram volunta-
riamente doadas, principalmente de pós-noviços e estudantes de
teologia. Todo o trabalho de tabulação foi feito digitalmente.
28
6. Em fins de setembro de 2017, foi realizado um segundo se-
minário internacional em Genzano (Roma) para estudar esses da-
dos. A maioria dos participantes já havia participado do primeiro
seminário de 2016. Optou-se por não entrar naquele momento
na interpretação dos dados, mas afinar a capacidade de escuta,
para perceber antes de tudo a riqueza das mensagens oferecidas
pelo grande coro de vozes, representando 24,18% do número
total de membros da Congregação (noviços incluídos).
Para garantir o anonimato, que o questionário exige por sua na-
tureza, foi solicitado aos entrevistados que não indicassem seu
nome, comunidade e inspetoria. Através de uma cuidadosa cata-
logação das respostas, com base no local de onde foram enviadas
(referências postais), foi possível classificar as contribuições pela
região de origem. Essa identificação regional é um importante va-
lor agregado para a pesquisa, possibilitando a comparação não
apenas entre fases e grupos de idiomas, mas também por regiões.
7. Com as tabelas de porcentagens e os gráficos, fruto das
indicações expressas nas respostas fechadas e das abundantes
respostas abertas em diferentes idiomas, o primeiro relatório de
coleta e organização de dados ultrapassou 5.000 páginas. Foi
um grande mérito de Marco Bay ter compactado e tornado mais
acessível ulteriormente essa quantidade de dados nas 584 pági-
nas do volume Giovani salesiani e accompagnamento. Risultati di
una ricerca internazionale (LAS, Roma 2018). Tenha-se presente
que o volume não quer ser uma interpretação, mas uma primeira
síntese dos dados recebidos, facilmente explorável.
1.2 ELEMENTOS MACROSCÓPICOS RELATIVOS
AOS ENTREVISTADOS
8. Bay observa na introdução a Giovani salesiani e accompag-
namento que alguns “elementos macroscópicos” emergem ime-

3.10 Page 30

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diatamente dos dados (Bay 12). Eles dão uma idéia da variedade
de situações e contextos de onde provêm os entrevistados e, ao
mesmo tempo, oferecem uma imagem realista da Congregação
Salesiana, quanto à sua distribuição geográfica e linguística, indi-
cando a sua riqueza e complexidade. Reportamos esses elemen-
tos em detalhes, juntamente com algumas tabelas ilustrativas do
primeiro capítulo do livro (Bay 12-17, 30-36).
9. Antes, porém, é bom perceber com clareza a consistência
numérica daqueles que responderam à pesquisa, fase por fase.
29
Total (31.12.2017)
Respostas
Respostas % total SDB
Pré-noviços
Noviços + SDB em
formação inicial
Guias espirituais
Total (noviços +
professos)
521
3827
14.660
455
3007
538
4000
20.51
27.29
Note-se que os noviços e professos em formação (incluindo o
quinquênio) que responderam foram 20,51% do número total de
membros da Congregação em 31 de dezembro de 2017 (novi-
ços incluídos). Noviços, membros professos em formação e guias
espirituais que responderam foram 24,18% do número total de
membros da Congregação em 31 de dezembro de 2017 (noviços
incluídos).
1.2.1 Salesianos que emitiram a primeira
profissão religiosa
10. No 50º aniversário do Concílio Vaticano II, e após 15 anos
de caminhada no novo milênio, a Congregação Salesiana apresen-
ta uma diminuição no número de neoprofessos (ver figuras 01a,
01b e 01c). No entanto, esses dados devem ser lidos em conjunto
com a redução significativa no número de pessoas que deixam
o noviciado antes da primeira profissão: enquanto há uma que-
da no número de noviços, há ao mesmo tempo uma taxa mais
elevada dos que fazem a primeira profissão. Desde 2011, tem-se
dado uma tendência de queda também na taxa de abandonos en-
tre os que fazem votos temporários. Portanto, a Congregação tem
também um rodízio geracional eficaz e consistente, indicando sua
vitalidade e seu grande potencial, mesmo que não pareça mais
capaz de manter a mesma presença e consistência em todas as

4 Pages 31-40

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4.1 Page 31

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30
Figura 01 A. Irmãos neoprofessos entre 1966 e 2016 (fonte: ofício anagráfico
da sede central salesiana)
Fig. 01B. Irmãos neoprofessos, sdb leigos e aspirantes ao sacerdócio, no
período 1996-2016

4.2 Page 32

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31
Fig. 01C. Irmãos de votos temporários que deixaram a Congregação (1996-
2016 Fonte: Ofício anagráfico da Sede Central Salesiana
Fig. 01 D. Número dos membros de institutos religiosos e sociedades de vida
apostólica e diferença (1965-2015) Fonte: Pardilla, 2016, 62.

4.3 Page 33

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frentes educativo-pastorais. As centenas de novos membros que
abraçam a vida salesiana permitem que a Congregação enfrente
os desafios educativo-pastorais e vocacionais de maneira sólida,
mas fica claro a partir de seus testemunhos que as novas gerações
de salesianos exigem atenção, apoio e estímulos formativos cor-
respondentes aos desafios de hoje e aos novos contextos juvenis.
32
Figura 02. Distribuição demográfica dos entrevistados segundo as inspeto-
rias. Os círculos em vermelho indicam as áreas de maior concentração dos
que responderam (Bay 15).
1.2.2 Distribuição demográfica
11. Quase um terço dos jovens entrevistados estão na Índia (1235
– 30,9%); seguem: Itália (292 – 7,3%, onde, contudo, estão presen-
tes muitos noviços e irmãos estudantes de outras nações e regiões),
Brasil (205 – 5,1%), Filipinas (156 – 3,9 %) e República Democrática
do Congo (145 – 3,6%). Estes são seguidos por Quênia (144 – 3,6%
com salesianos provenientes de diversas nações e inspetorias), Po-
lônia (130 – 3,3%), Colômbia (115 – 2,9% com salesianos estudan-
tes provenientes de diversas nações e inspetorias) Timor Leste (98
– 2,5%) e assim por diante (v. Bay, capítulo 1, tabela 04). 2
O que isso significa em termos de recursos humanos para a
Sociedade Salesiana nos próximos vinte anos?
2 Deve-se ter presente que Itália, Filipinas, Quênia e Colômbia possuem percentuais
relativamente elevados devido às comunidades interinspetoriais nesses países.

4.4 Page 34

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Frequência
Percentual
Percentual
válido
Percentual
cumulativo
Válido
Em falta
Total
RASS
RAFM
RASE
RAMI
RAMS
RMED
RECN
UPS
Total
Não relevado
1274
836
480
402
336
336
266
51
3981
19
4000
31,9
20,9
12,0
10,1
8,4
8,4
6,7
1,3
99,5
0,5
100,0
32,0
21,0
12,1
10,1
8,4
8,4
6,7
1,3
100,0
32,0
53,0
65,1
75,2
83,6
92,0
98,7
100,0
33
Tabela 04. Entrevistados segundo as regiões salesianas (frequências e percentuais). Abreviações:
RASE Ásia Este e Oceania; RASS Ásia Sul; RAFM África e Madagascar; RECN Europa Centro-Nor-
te; RMED Mediterrânea; RAMI Interamérica; RAMS América Cone Sul; UPS Universidade Pontifí-
cia Salesiana – Visitadoria. Roma
Figura 01. Andamento da amostragem por regiões e fases formativas

4.5 Page 35

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1.2.3 Língua
12. Mais da metade dos entrevistados (53%) usa o idioma in-
glês. Eles representam contextos geográficos, sociais, religiosos
e culturais muito diferentes (Índia, Filipinas, Quênia, Nigéria, Tan-
zânia, Etiópia, Malaui, Gana, Vietnã, Etiópia, Austrália, Sri Lanka,
Zâmbia, Estados Unidos da América, Indonésia, Israel, Coréia,
Ruanda, Grã-Bretanha, Irlanda, Tailândia, China, Áustria, Malta,
Mianmar, Papua Nova Guiné, Eslováquia, África do Sul, Timor
Leste, Japão, Croácia, Alemanha ...). 10% usam o italiano.
34
Surgem muitas questões. Que nuances ou diferenças de forma-
ção são necessárias com visões antropológicas e culturais des-
sa natureza e força? Quais são as implicações para consolidar a
identidade salesiana e a pertença à Congregação? Dado que a
formação deve unir tradição e inovação, como garantir o acesso
às fontes históricas (estudo crítico de Dom Bosco e da Congre-
gação)?
Língua
En Inglês
Es Espanhol
Fr Francês
Pt Português
It Italiano
Pl Polonês *
TOTAL
Frequência
2101
521
468
394
388
128
4.000
Percentual
52,5
13,0
11,7
9,9
9,7
3,2
100,0
Percentual
válido
52,5
13,0
11,7
9,9
9,7
3,2
100,0
Percentual
cumulativo
52,5
65,6
77,3
87,1
96,8
100,0
Tabela 07. Indivíduos que responderam por língua de compilação do questio-
nário (frequência e percentuais). Os questionários compilados em língua polo-
nesa foram traduzidos em italiano
N.B. As respostas em polonês foram traduzidas para o italiano.
Como já acenado, também devemos ter presente que um bom
número de respostas em italiano foi dado por noviços ou irmãos
em várias fases de formação inicial ou de estudo na Itália.

4.6 Page 36

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35
Figura 02. Indivíduos por língua de compilação do questionário (percentuais)
Fig. 03. Entrevistas segundo a fase de formação (percentuais) (Bay 36)

4.7 Page 37

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1.2.4 Idade
13. Se excluirmos os guias espirituais, estaremos diante de
entrevistados na faixa etária de 20 a 30 anos, principalmente da
África-Madagascar, Ásia e Oceania (ver Fig. 03). O banco de da-
dos da sede central indica que os salesianos + noviços, em 31
de dezembro de 2017, com menos de 35 anos, eram 3.355; os
representados na pesquisa são 2.726, ou seja, 81% do número
total. Esses números, em relação aos 2.751 salesianos acima de
75 anos no mesmo período, são bastante reconfortantes porque
36
indicam uma boa rotatividade de gerações. Se formos ao nível
regional, como mostra o gráfico (fig. 3a), notam-se desequilíbrios
significativos.
Fase formativa
pré-noviciado
noviciado
pós-noviciado
tirocínio
formação específica teologia
formação específica coadjutores
sac. do quinquênio
guias – acompanhantes

4.8 Page 38

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37
da análise dos indivíduos da amostragem ** (n=4000)
do ofício anagráfico de toda a população SDB* (N = 14.758)
Idade por classes
Figura 3a. Grupos de idade dos que responderam por região** incluídos pré-noviços e noviços.
Da base de dados central (número total de salesianos incluídos os noviços = 14.758 em 31 de
dezembro de 2017

4.9 Page 39

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14. Investir nas faixas geracionais mais jovens é de fundamen-
tal importância para o presente e o futuro da Congregação, como
caminho real para a fidelidade e fecundidade vocacional.
Além disso, pode-se ver que os guias espirituais (ver figura 04)
são de diferentes idades, com alta concentração na faixa etária
entre 40 de 50 anos. 27,4% deles trabalham na região Ásia Sul e
16,9% na África - Madagascar. Cerca da metade deles (48,3%)
respondeu em inglês. Há outra faixa geracional significativa:
aqueles com mais de 70 anos, pouco menos de cem, dos quais
38
mais de um quarto vive na América, um quinto na região Ásia Sul
e outro quinto na África - Madagascar. É um grupo significativo de
pessoas, ativas e valorizadas pela sua experiência, confiabilidade
e sabedoria.
Andamento das idades segundo faixas etárias dos guias espirituais
Fig. 4. Guias espirituais segundo as faixas etárias
1.3 O PRESENTE DOCUMENTO
15. Já dissemos que o livro de Bay não pretende interpretar os
dados, mas tão somente oferecer a sua primeira síntese.
O trabalho de interpretação foi realizado pelos dicastérios para
a Formação e para a Pastoral Juvenil, com a ajuda de um grupo
qualificado de salesianos Nada impede que especialistas se dedi-
quem ao estudo profundo dos dados da pesquisa, estudem, por

4.10 Page 40

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exemplo, a relação entre interculturalidade e acompanhamento,
ou interpretando os dados de uma perspectiva psicológica ou fa-
zendo uma análise textual dos termos mais recorrentes em fases
específicas, como o tirocínio e o quinquênio etc.
16. A interpretação dos dicastérios para a Formação e para a
Pastoral Juvenil, porém, é expressada neste documento – Acom-
panhamento pessoal salesiano: Orientações e diretrizes.
Este segundo trabalho interpretativo envolve, à sua maneira,
um movimento de retorno aos grupos envolvidos na pesquisa –
39
os que estão em formação inicial, ou que os acompanham como
guias, os delegados inspetoriais da formação e suas respectivas
comissões. Para entender melhor esse trabalho interpretativo,
emprestamos uma imagem da trigonometria: a triangulação. A
sinergia de três perspectivas permite-nos entender melhor a rea-
lidade em exame.
• A primeira perspectiva é a dos dados emergentes da pesqui-
sa, que era quase um recenseamento e não uma amostragem,
considerando o elevado número dos entrevistados de cada fase.
• A segunda perspectiva é a da experiência de primeira mão
das realidades locais. O nível regional é de particular importân-
cia para compreender as peculiaridades que emergem em cada
região e procurar entender as diferenças entre as diversas áreas
da Congregação. Momentos privilegiados para esse trabalho são
as reuniões anuais das comissões regionais de formação, as reu-
niões periódicas das comissões inspetoriais de formação, bem
como as reuniões de formadores de fases específicas, como as
realizadas para diretores e coordenadores de estudo de pós-no-
viciados em 2018-2019.
• A terceira perspectiva vem da pré-compreensão do acompa-
nhamento pessoal salesiano que todos os salesianos têm. Essa
pré-compreensão poderia ser entendida como preconceito li-
mitador; mas é óbvio que não há como fugir da nossa pré-com-
preensão. A única maneira é estar ciente disso e se engajar em um
processo contínuo de enriquecimento, mudança e purificação, va-
lorizando ao máximo os novos dados dos quais vimos a conhecer:
é o que descrevemos usando a imagem da triangulação.
17. Dados, experiências de primeira mão e pré-compreensão
salesiana encontram-se no método de discernimento que estru-
turou o estudo e também dá uma estrutura a este documento em
suas três partes:

5 Pages 41-50

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5.1 Page 41

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1. Reconhecer: a primeira parte oferece um relato do processo
de escuta (o estudo sobre acompanhamento pessoal salesiano)
indicando em seguida os temas emergentes da pesquisa, organi-
zando-os em torno de quatro pontos: o que é o acompanhamen-
to espiritual pessoal; quem está envolvido nele; como é realizado;
algumas mediações.
2. Interpretar: a segunda parte pode ser vista como fruto da
triangulação mencionada acima; interpretar os dados em harmo-
nia com a experiência de primeira mão das realidades formativas
40
em nível regional e inspetorial, com base na compreensão sale-
siana iluminada pelo recente magistério da Igreja e pelo carisma
e tradição salesianos.
3. Escolher: a terceira parte define estratégias e linhas de ação
sugeridas pela interpretação dos dados. As diretrizes oferecidas
servem de estímulo à reflexão, discussão e renovação, com o obje-
tivo de tornar o acompanhamento pessoal salesiano um elemento
ainda mais proveitoso no caminho da fidelidade vocacional.
18. Isso tudo pode parecer muito ambicioso, e certamente o
seria se se tratasse só de um texto impresso. Mas, na realidade,
este documento é apenas um passo no interior de um caminho
muito mais longo, que envolveu literalmente milhares de pessoas,
igual a pouco menos de um terço da Congregação.
O processo de envolvimento já faz parte da mudança, que, por-
tanto, já começou. Nossa firme esperança é que esse proces-
so continue a envolver todas as circunscrições, comunidades e
irmãos. Na realidade, não se trata de adicionar alguma coisa a
mais às nossas já pesadas cargas de trabalho. Trata-se de re-
descobrir a riqueza e a beleza de um tesouro que já nos pertence
por vocação, dom carismático que pode fazer com que sejamos
mais fiéis a Dom Bosco e aos jovens do nosso temo, a partir dos
que se sentem chamados a compartilhar a nossa vida, mas sem
excluir os jovens a quem somos enviados. Porque, como ficará
claro a seguir, há uma correlação muito próxima entre formação
e missão, entre qualidade do acompanhamento espiritual nos
processos de formação inicial e qualidade e lugar desse acom-
panhamento na Pastoral Juvenil e na animação e formação dos
leigos que participam da missão salesiana.
19. A pesquisa também oferece dados importantes sobre as
diferenças entre as regiões, que podem ser comparados com
os resultados gerais e com os específicos de cada região. Este
documento, no entanto, não pode entrar na análise dessas va-

5.2 Page 42

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riações, embora seja uma abordagem mais adequada ao nível
regional, em particular aos centros regionais de formação per-
manente, às comissões regionais de formação e comunidades
interinspetoriais de formação.
20. O artigo 119 das nossas Constituições – o último da tercei-
ra parte dedicada à formação e, portanto, uma chave sintética e
interpretativa da terceira parte – oferece uma boa exegese sobre
o fruto do acompanhamento pessoal salesiano: a formação per-
manente como atitude e mentalidade permanentes. Lido com R
99, também indica que o acompanhamento espiritual não é algo
41
reservado aos anos da formação inicial, assim como a formação
não é algo que “termina” com a última fase da formação inicial.
Art. 119 Formação permanente como atitude pessoal
Vivendo entre os jovens e em constante contato com os
ambientes populares, o salesiano se esforça para discernir
nos acontecimentos a voz do Espírito, adquirindo assim a
capacidade de aprender da vida. Confere eficácia formativa
às suas atividades ordinárias e utiliza também os meios de
formação que lhe são oferecidos.
Durante o tempo de sua atividade plena, encontra ocasiões
para renovar o sentido religioso-pastoral da própria vida e
habilitar-se a desenvolver com maior competência o seu tra-
balho.
Sente-se ainda chamado a viver com interesse formativo
qualquer situação, considerando-a tempo favorável para o
crescimento da sua vocação.
Como a formação, o acompanhamento espiritual é permanen-
te, por toda a vida, e deve tornar-se uma atitude e um hábito
pessoal que permanece. Esse é o grande processo em que se
insere este documento, como uma pequena contribuição, que
se espera seja útil.

5.3 Page 43

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42

5.4 Page 44

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2. Temas emergentes
21. No capítulo anterior, foi descrito o processo que levou a
43
este documento, destacando também alguns elementos macros-
cópicos relativos aos entrevistados. Neste capítulo, apresentare-
mos alguns temas emersos da pesquisa, reservando sua inter-
pretação para a parte II. Os temas foram organizados ao redor
de quatro núcleos, já antecipados: [1] os principais atores do
acompanhamento espiritual pessoal; [2] a compreensão predo-
minante do acompanhamento espiritual pessoal entre aqueles
que são acompanhados e seus guias; [3] o que acontece efe-
tivamente no acompanhamento espiritual pessoal salesiano; [4]
o papel desempenhado por algumas mediações e instrumentos
importantes.
Recordamos novamente que o foco da pesquisa foi o acompa-
nhamento espiritual pessoal nos processos de formação inicial
salesiana. Este ponto focal também ilumina alguns elementos
correlatos, como, por exemplo, o colóquio com o diretor, o acom-
panhamento espiritual comunitário, o sacramento da Reconcilia-
ção, as avaliações periódicas (escrutínios) e o papel da comuni-
dade em seu conjunto.
2.1 AS PESSOAS ENVOLVIDAS NO
ACOMPANHAMENTO ESPIRITUAL PESSOAL
22. Os principais atores do acompanhamento espiritual pes-
soal são os jovens acompanhados, os seus guias espirituais, as
equipes de formadores e as comunidades. Os dados brutos re-
lativos a números e porcentagens já foram apresentados; aqui,
tentamos identificar os temas que emergem desses dados, bem
como também de outros elementos presentes nas respostas aos
questionários

5.5 Page 45

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2.1.1 Uma Congregação jovem
A faixa etária 20-30 anos
23. O primeiro ponto é que a Congregação Salesiana em seu
conjunto é jovem, talvez mais do que pensamos normalmente. O
número de salesianos que se expressaram no questionário – aqui
excluímos os pré-noviços, mas incluímos os noviços e os que
oferecem o serviço de orientação – é de 24,18% do total: pouco
menos de um quarto dos 14.660 membros da Congregação (da-
44
dos de 31 de dezembro de 2017, noviços incluídos). Excluindo os
guias espirituais, os entrevistados são sobretudo jovens, a maior
parte deles na faixa etária considerada pelo Sínodo de 2018 Os
jovens, a fé e o discernimento vocacional:
Excluindo os guias espirituais, vemo-nos diante de entrevista-
dos, sobretudo entre 20 e 30 anos, principalmente africanos
e asiáticos (cf. a Figura 03). Na anágrafe central, os SDB +
os noviços com menos de 35 anos são 3.355; os da amos-
tragem são 2.726 (pré-noviços excluídos). Foram abrangidos
aproximadamente 81% dos irmãos e noviços com menos de
35 anos (Bay 15)
24. Já vimos a distribuição de jovens irmãos de acordo com
as várias etapas da formação inicial. Tenhamos presente que a
distribuição também é influenciada pela diversa duração dessas
fases: no máximo 1 ano para o pré-noviciado; 1 ano para o novi-
ciado; 2-4 anos para o pós-noviciado; 2-3 anos para o tirocínio;
4 anos para a formação específica ao sacerdócio; 2 anos para a
formação específica dos salesianos leigos.
Como consequência disso, em 31 de dezembro de 2017, os
números registados pelo arquivo central eram os seguintes: 521
pré-noviços; 435 noviços; 942 pós-noviços; 676 tirocinantes; 740
aspirantes ao sacerdócio em formação específica; 68 salesianos
leigos em formação específica; 966 sacerdotes salesianos du-
rante o período do quinquênio (Bay 24). Obviamente, o número
relativamente reduzido de salesianos leigos em toda a formação
inicial1 também se reflete em seu número para o período da for-
mação específica. Note-se que o número limitado se torna limi-
tante também para a interpretação das respostas, condicionada
precisamente pelas alterações sofridas pelas proporções percen-
tuais quando a amostragem é muito pequena e se deve comparar
com outros grupos em que a amostragem é muito ampla.
1 214 em 31 de dezembro de 2015: cf. ACG 424 (2017) 73.

5.6 Page 46

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Alterações geográficas e linguísticas
25. Outro aspecto da Congregação que aparece na pesquisa
é a sua internacionalidade, juntamente com uma evidente mu-
dança do centro de gravitação geográfica e linguística em an-
damento, resultado direto dos grandes projetos missionários da
Congregação, como o Projeto África.
As respostas ao questionário vieram de irmãos ou candidatos à
vida salesiana de 61 nações, distribuídos em 88 circunscrições,
agrupadas, por sua vez, em 7 regiões.
45
A alteração geográfica emerge quando olhamos para a distribui-
ção continental, representada aproximativamente pelas regiões
salesianas. Começamos considerando o grupo com a maior repre-
sentação no questionário, ou seja, os pós-noviços: 76,7% provêm
da África e Madagascar, Ásia e Oceania (34,9% da Ásia Sul, 28,2%
da África e Madagascar, 13,6% da Ásia Este e Oceania). Estas são
as três regiões com maior crescimento vocacional, com África e
Madagascar na liderança. Três quartos do número total dos pós-
-noviços salesianos são provenientes dessas regiões.
26. Quando olhamos para o fator linguístico, não podemos dei-
xar de destacar que 53% das respostas chegaram em inglês.
As implicações dessa alteração geográfica e linguística sobre
a formação devem ser cuidadosamente estudadas. No entanto,
é importante observar que a maioria dos nossos entrevistados
considera a interculturalidade como um benefício, sem ignorar as
dificuldades e os desafios que isso comporta.
27. É interessante que a maior valorização da internacionali-
dade e da interculturalidade provenha dos noviços e irmãos da
região África e Madagascar, onde a formação acontece para a
grande maioria na própria região. Mesmo um único continente
pode conter uma grande real diversidade no seu interior!
A interculturalidade é um grande desafio para quem oferece o
serviço de acompanhamento, chamado a respeitar, reconhecer,
aceitar e acolher a diversidade. Mesmo nesse caso, devem ser
evitadas as fáceis suposições. Não se pode presumir, por exem-
plo, que um formador pertencente a um determinado grupo cultu-
ral já seja capaz de entender e relacionar-se com sabedoria com
os do seu próprio grupo. A capacidade de entender as pessoas
requer muito mais do que o simples fato da mesma origem étnica
ou nacional.

5.7 Page 47

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É encorajador ver que nossos guias espirituais consideram po-
sitiva a interculturalidade presente em muitos de nossos contex-
tos de formação. “Em geral, as situações em que existem dife-
renças de origem cultural (por exemplo, país, idioma, formas de
se expressar, hábitos, costumes...) entre acompanhado e acom-
panhante, são percebidas pelo acompanhante que considera a
incidência desse aspecto sobre a dinâmica de acompanhamento
para 13% entre negativo e problemático e positivo e enriquece-
dor para 87%” (Bay 418).
46
Parece que uma experiência pessoal de interculturalidade –
como pode acontecer mediante a formação ou o trabalho missio-
nário em um contexto cultural diferente – é um recurso precioso
para o guia espiritual. A pesquisa mostra que 91% dos irmãos
que viveram essa experiência consideram as diferenças culturais
entre eles e aqueles a quem oferecem o serviço de orientação
como positivas e enriquecedoras (Bay 418).
2.1.2 Os guias espirituais
28. O questionário foi respondido por 538 guias espirituais.
Não temos ideia do número total de irmãos que oferecem o ser-
viço de guia espiritual, sendo, portanto, impossível determinar a
porcentagem das respostas em relação ao total deste grupo es-
pecífico, embora apenas de modo hipotético.
A idade desses entrevistados varia de 21 a 91 anos, levando em
consideração o fato, bastante singular, que 26 tirocinantes tam-
bém optaram por responder ao questionário de guias espirituais,
provavelmente em acréscimo ao dos tirocinantes (Bay 379).
29. Pode ser interessante comparar a porcentagem de respos-
tas dos jovens em formação [A] (Bay 456) e dos guias [B] (Bay
379) com base em suas regiões, comparativamente ao total de
questionários recebidos dos jovens formandos [A] e dos guias
[B]. Para a Ásia Leste – Oceania, América Cone Sul e Europa Cen-
tro Norte, a porcentagem é quase a mesma (por exemplo, para a
América Cone Sul, os formandos [A] representam 8,4% do total
e os formadores [B] representam 8,0% dos 538 guias que parti-
ciparam da pesquisa). Se considerarmos as regiões Interamérica
e Mediterrânea, [B] supera [A] em cerca de 5 pontos percentuais
(por exemplo, para Interamérica [A] = 10,1% e [B] = 15,8%). Para
a Ásia Sul e África e Madagascar, no entanto, a situação é inversa
(por exemplo, para Ásia Sul [A] = 31,9% e [B] = 27,3%).

5.8 Page 48

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Guias espirituais que são diretores de comunidade
30. O número de guias espirituais que também são diretores de
comunidade é de 243 ou 45,16% do número total de guias que
responderam. Desse grupo, 119 são diretores de casas de forma-
ção inicial (provavelmente não incluindo diretores de tirocinantes)
e 42 são diretores de noviciado (Bay 379). Os outros podem ser
diretores, mas não candidatos ou jovens irmãos a quem ofere-
cem o serviço de guia.
Em relação aos diretores de comunidade que também são
47
guias espirituais (dos seus ‘sujeitos’), a pesquisa indica que isso
ocorre em 75% dos pré-noviços, 93% dos noviços, 64% dos
pós-noviços, 55% dos tirocinantes, 37% dos candidatos à for-
mação específica do sacerdócio, 28% dos salesianos leigos em
formação específica e 37% dos padres salesianos no quinquênio
(Bay 439). Se considerarmos o noviciado à parte, podemos ver
que há uma diminuição constante na porcentagem de diretores
que são guias espirituais.
Guias espirituais que são também confessores
31. A partir dos dados do nosso estudo, não é possível esta-
belecer quantos guias espirituais são também confessores da-
queles que recorrem a eles para o acompanhamento. No entanto,
podemos dizer que, para a grande maioria dos entrevistados, o
sacramento da reconciliação e o acompanhamento espiritual são
considerados de maneira distinta, fazendo referência a diferen-
tes pessoas para confissão e para o acompanhamento espiri-
tual, mas mesmo aqui há uma redução dessa porcentagem ao se
aproximar das fases finais da formação inicial (Bay 439). Assim,
um bom número de salesianos no quinquênio e um número ainda
maior de guias indicam que o confessor também é o próprio guia
espiritual.
Ajuda recebida do diretor, do guia espiritual e do confessor
32. Em relação à ajuda recebida do diretor, do guia espiritual
e do confessor, algumas tendências emergem de forma bastante
clara e transversal, no que diz respeito às diversas fases da for-
mação.
Se considerarmos todos os entrevistados juntos como um úni-
co grupo – inclusive os guias – distintos apenas pela idade, o
confessor surge como a figura mais valorizada (55,92%), atin-
gindo um valor máximo de 67% para os guias mais avançados

5.9 Page 49

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em idade.2 Se nos limitarmos apenas aos irmãos em formação
inicial, mais de 80% dizem ter grande confiança no confessor, e
declaram que não é difícil conversar com ele sobre o que pesa na
consciência (Bay 453).
O guia espiritual vem depois, com um índice de apreciação de
50,53%. É interessante notar, no entanto, que para o grupo de
menos de 40 anos, correspondente a quase todos aqueles em
formação inicial, o guia espiritual recebe uma avaliação positiva
de 62%, 2 pontos percentuais a mais sobre o confessor (60%).
48
Quanto ao diretor, para todo o grupo de entrevistados (incluin-
do os guias), a apreciação pela ajuda recebida é em média de
32,15%. Se considerarmos a maioria dos entrevistados, ou seja,
aqueles com menos de 40 anos, o índice de apreciação sobe
para 48,8%. Se, por outro lado, for selecionado o grupo com
mais de 55 anos (= 42% dos guias que responderam), o índice de
apreciação cai para 16,6%.
Apreço pelo colóquio com o diretor
33. Parece que, em geral, também há um bom nível de apreço
pelo colóquio com o diretor, visto como um dos serviços importan-
tes relacionados ao seu papel de animação e guia da comunidade.
Nas respostas à pergunta sobre a importância das várias tarefas
confiadas ao diretor, o colóquio é constantemente considerado,
do pós-noviciado à formação específica, como uma parte muito
importante do papel do diretor para o serviço de acompanhamento
espiritual pessoal (Bay 130, 182 -183, 261, 306-307).
Isso está em sintonia com as respostas para a pergunta so-
bre qual aspecto do seu serviço que o diretor nunca deveria ne-
gligenciar. Os pós-noviços colocam o colóquio em quarto lugar,
seguido pelo serviço de guia espiritual (Bay 130); os aspirantes
ao sacerdócio em formação específica colocam o colóquio em
quarto lugar e o serviço de guia espiritual em sexto lugar (Bay
262); os salesianos coadjutores em formação específica colocam
o colóquio em segunda posição, enquanto não indicam plena-
mente o serviço de guia espiritual (Bay 307). É interessante notar
que apenas os tirocinantes invertem a ordem, colocando o servi-
ço de guia espiritual em quarto lugar, seguido pelo colóquio em
sétimo lugar (Bay 183).
2 Os dados e os percentuais dos três parágrafos seguintes provêm de uma parte da
elaboração dos resultados não incluída em Marco Bay, Giovani salesiani e accom-
pagnamento. Risultati di una ricerca internazionale.

5.10 Page 50

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Preparação de guias espirituais
34. Quanto à preparação para o seu serviço, 78,6% (423) dos
guias afirmam ter aprendido com a experiência, 57,1% (307) len-
do, escrevendo, refletindo e meditando pessoalmente, e 41,3%
(222) buscando conselhos e comparando sua experiência com a
de outros.
24,7% (133) falam de supervisão por um especialista em dire-
ção espiritual (Bay 420). Para 40,3% (205) dos guias, o recurso
ao acompanhamento espiritual faz parte do seu estilo de vida,
49
enquanto 44,6% (227) confessam certa inércia a esse respeito.
Paradoxalmente, 15,1% (77) dos guias afirmam que ainda não
desenvolveram uma convicção e uma forte motivação que os in-
centive a crescer nessa direção (Bay 403).
45,7% (246) relatam ter recebido algum nível de preparação
formal para o serviço de orientação espiritual. Essa preparação
inclui mestrado em teologia ou pedagogia espiritual (formação de
formadores), cursos de pós-graduação em psicologia ou teolo-
gia espiritual, curso de formação de formadores (UPS - Roma), a
Escola Salesiana de Acompanhamento Espiritual (Quito), o curso
para diretores (Centro Don Bosco de Renovação – Bangalore) e o
curso de estudos salesianos (Berkeley). Além disso, existem cur-
sos mais breves, que duram em média uma semana, organizados
por dioceses e congregações religiosas sobre counseling e, mais
especificamente, counseling pastoral, direção espiritual, etc. (Bay
419-420).
Deve-se levar em conta que a preparação formal menciona-
da é de natureza muito variada. Alguns dos cursos são voltados
ao mundo acadêmico e à preparação intelectual, outros se con-
centram na aquisição de competências e habilidades, enquanto
outros promovem principalmente a mudança e o crescimento na
pessoa do formador (ver ACG 426 [2018] 40-42).
2.1.3 Acompanhamento comunitário
O desejo da presença e proximidade dos formadores
35. Quando os entrevistados são solicitados a sugerir sobre “o
que mudar ou acrescentar para melhorar o modo como é atuada
a formação”, surge com insistência coral, de todas as áreas lin-
guísticas, que se melhore a proximidade no relacionamento dos
formadores com os formandos. Nossos jovens do mundo todo

6 Pages 51-60

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6.1 Page 51

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pedem aos seus formadores que estejam presentes em momen-
tos informais, que estejam genuinamente dispostos a comparti-
lhar, encurtar distâncias, promover a amizade, construir relacio-
namentos ricos em confiança e criar o espírito de família.
É evidente que o ambiente da comunidade influencia muito o
crescimento vocacional e é, por si só, uma forma de acompanha-
mento. De maneira alguma ele substitui o diálogo espiritual pes-
soal, mas afeta muito a eficácia desse encontro, como também
repetiu insistentemente o recente Sínodo (DF 95-97).
50
O ambiente da comunidade nem sempre é favorável
36. Dos dados como são apresentados, emerge várias vezes
que o ambiente da comunidade nem sempre favorece o acompa-
nhamento pessoal.
Falando dos pré-noviços, por exemplo, Bay observa: “Um gru-
po interessante de cerca de um quarto dos entrevistados, 24,9%
(110), mantém conversações [com irmãos que fazem parte de sua
comunidade] apenas uma a três vezes por mês ou algumas vezes
por ano” (Bay 62).
Também é interessante ver a importância da comunidade para
aqueles que estão no outro extremo do período da formação
inicial: o quinquênio. Em todas as áreas linguísticas emerge de
modo insistente a importância dada à compartilha, à interação
e ao encontro entre irmãos, jovens e leigos que participam da
missão como também emerge a manifestação das dificuldades
nos relacionamentos, principalmente entre os próprios irmãos da
comunidade.
Variações regionais
37. Pode ser esclarecedor observar algumas variações regio-
nais e segundo as línguas nas respostas do quinquênio em rela-
ção às dificuldades associadas à vida comunitária.
ITALIANO: muito trabalho e solidão, com poucas possibilidades
de compartilhar com os irmãos devido à diferença geracional,
que leva ao individualismo e ao setorialismo.
INGLÊS: muito trabalho e dificuldade no relacionar-se com os
idosos, levando a incompreensões e comportamentos contrários
à vocação salesiana.

6.2 Page 52

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FRANCÊS: incompreensões, preconceitos, problemas de co-
municação.
POLONÊS: distância geracional e pouca abertura por parte dos
irmãos idosos, com tendência à “diocesezação”.
PORTUGUÊS: diferença geracional, conflitos de mentalidade,
muito trabalho, incoerências.
ESPANHOL: muito trabalho, juntamente com questões relacio-
nadas ao uso do dinheiro e do exercício da autoridade; muito
51
pouco acompanhamento e diálogo.
Dimensão da comunidade
38. Não poucos da fase do quinquênio se referem também à
dimensão da comunidade: se for muito pequena, as dificuldades
mencionadas acima aumentam.
Também emergem problemas típicos de comunidades numeri-
camente muito grandes, com o risco da despersonalização e do
enfraquecimento dos processos de acompanhamento formativo
2.2 COMO É ENTENDIDO O
ACOMPANHAMENTO ESPIRITUAL PESSOAL
39. A compreensão que se tem do acompanhamento espiri-
tual pessoal tende a orientar consequentemente a sua mesma
prática. É importante, portanto, dar atenção ao que os jovens ir-
mãos em formação inicial e os guias espirituais entendem por
“acompanhamento espiritual pessoal” e como eles pensam que
se relacionam com outras formas de acompanhamento, como o
colóquio com o diretor e o sacramento da reconciliação
2.2.1 O modo de entender de quem é
acompanhado
Distinção entre acompanhamento espiritual pessoal e co-
lóquio com o diretor
40. Um primeiro ponto que surge claramente é a tendência en-
tre os jovens em formação de evidenciar a distinção entre acom-
panhamento espiritual pessoal e colóquio com o diretor. As por-
centagens daqueles que afirmam claramente essa distinção são

6.3 Page 53

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as seguintes: pré-noviços 46%; noviços 46%; pós-noviços 57%;
tirocinantes 67%; aspirantes ao sacerdócio em formação espe-
cífica 70%; salesianos leigos em formação específica 71% (Bay
439).
Todavia, existem variações regionais interessantes. Quando se
pergunta aos pós-noviços se “o colóquio que tenho com a pes-
soa responsável pela fase formativa é distinta do acompanha-
mento espiritual (duas coisas diferentes)”, as porcentagens de
sim são as seguintes:
52
76% na Mediterrânea,
71% na Europa Centro e Norte,
61% na Ásia Leste – Oceania,
59% na Interamérica,
54% na África – Madagascar e Ásia Sul,
46% na América – Cone Sul.
Estima sincera pelo acompanhamento espiritual pessoal
41. Um segundo ponto interessante: aqueles que são acompa-
nhados demonstram uma estima sincera pelo acompanhamento
espiritual pessoal. Um grande número de elementos que emer-
gem de todas as fases da formação inicial reflete a consciência
de que é um tesouro no campo, a ser redescoberto e valorizado.
O testemunho dos irmãos no período do quinquênio é parti-
cularmente digno de nota: 89,80% (344 em 383) consideram o
acompanhamento espiritual importante para o seu caminho,
mesmo com o término da formação inicial.
O acompanhamento é “espiritual”
42. Outro elemento que emerge, especialmente nas respostas
dos que estão nas últimas fases da formação inicial, é a “centra-
lidade espiritual” do acompanhamento. Ou seja, nossos jovens
irmãos acreditam que o acompanhamento espiritual deve con-
centrar-se principalmente nos aspectos que ajudam a pessoa a
crescer na vida espiritual e na sua relação com Deus.
Assim afirmam os estudantes de teologia: “A atenção nesse
encontro se concentra sobretudo na vida de oração e no modo
de viver o relacionamento com Deus, os compromissos da vida
espiritual, etc. para 88,60% (615)... Também a Palavra de Deus
frequentemente faz parte do conteúdo do diálogo de acordo com
67,60% (468)” (Bay 225).

6.4 Page 54

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Poderíamos acrescentar que, embora a palavra “Deus” apareça
1607 vezes nas respostas abertas dos que estão em formação
inicial, os termos “Jesus” e “Cristo” recorrem juntos 730 vezes.
Atenção ao carisma
43. A vida em comunidade e o envolvimento na missão apos-
tólica são fatores extremamente significativos nos processos de
formação. O crescimento do carisma salesiano é parte integrante
do caminho de acompanhamento espiritual, cujo objetivo final é
crescer como discípulos de Cristo inspirando-se no modo de vida
53
traçado por Dom Bosco.
A pesquisa indica que a atenção ao carisma é particularmente
forte no noviciado, mas menos nas fases sucessivas. 95,9% dos
noviços colocam o amor a Dom Bosco e a missão salesiana em
segundo lugar, imediatamente após a possibilidade de um melhor
autoconhecimento (97,5%) e antes do caminho do crescimento
espiritual mediante o silêncio, a oração e a meditação (94,7%)
(Bay 76).
Também é interessante notar que a “salesianidade” é geralmen-
te mais apreciada em algumas regiões do que em outras. Mais
da metade dos entrevistados da África – Madagascar, Ásia Leste
– Oceania e também da UPS enfatizaram positivamente a ajuda
recebida do maior conhecimento sobre Dom Bosco e do estudo
das Constituições (Bay 470).
Pode-se acrescentar que a palavra “Bosco” retorna 596 vezes
nas respostas abertas dos formandos e 33 vezes nas dos guias
espirituais.
Características do acompanhamento
44. Grande importância é dada ao sentir-se à vontade nos
encontros de acompanhamento espiritual, sem receio de abrir o
coração sobre perguntas delicadas e pessoais (84% dos estu-
dantes de teologia).
Ainda mais importante é a atmosfera de liberdade (96% dos
estudantes de teologia, mas também de tirocinantes).
A liberdade para escolher o guia é avaliada positivamente com
índices muito altos (91% dos estudantes de teologia, 93% do
quinquênio).

6.5 Page 55

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Os estudantes de teologia enfatizam que a confiança e a aber-
tura (97%), a transparência e a sinceridade com o guia são impor-
tantes para eles (95%).
A absoluta confidencialidade do guia é considerada de extrema
importância (94% dos estudantes de teologia).
2.2.2 O modo de entender de quem acompanha
54
A “centralidade espiritual” do acompanhamento
45. Como os guias espirituais entendem o acompanhamento
espiritual pessoal e que valor lhe atribuem?
Solicitou-se aos salesianos que prestam o serviço de guia espi-
ritual para se expressarem sobre a “intensidade e qualidade das
atitudes assumidas, vividas e praticadas pelos guias no ‘acom-
panhar’ os outros”. Eles podiam escolher entre 12 respostas fe-
chadas, que expressavam uma gama de todas as atitudes posi-
tivas. A resposta que recebeu o mais alto consenso é a seguinte:
“Creio que a tarefa mais importante, mas também a mais difícil, é
saber ‘transmitir Deus’ ou ajudar a pessoa a viver cada vez mais
conscientemente na presença de Deus. Serenidade, paz, miseri-
córdia, paixão pelos pequenos e pelos pobres, alegria interior...
estes são os sinais da ‘união com Deus’ que os acompanhantes
devem experimentar em si mesmos para também poder comuni-
car” (Bay 391).
Nas respostas abertas dos guias, a palavra “Deus” aparece 237
vezes, as palavras “Jesus” e “Cristo” 43 vezes, enquanto a pala-
vra “Bosco” está presente 33 vezes.
2.3 O QUE ACONTECE DURANTE O
ACOMPANHAMENTO ESPIRITUAL PESSOAL
46. Não podemos dar por óbvio que o que se pensa coinci-
da simplesmente o que realmente acontece. Por isso, nos per-
guntamos o que realmente acontece no que é definido como
“acompanhamento espiritual pessoal”; prestamos muita atenção
às indicações que, de várias maneiras, revelam o que acontece
no acompanhamento espiritual pessoal nos nossos processos de
formação.

6.6 Page 56

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2.3.1 Alguns fatores externos que condicionam
Iniciação ao acompanhamento no pré-noviciado
47. Um primeiro ponto é que, para mais de 80% dos entrevis-
tados, incluindo aqueles que oferecem o serviço de guia espiri-
tual, a iniciação ao acompanhamento adequadamente entendida
ocorreu no pré-noviciado.
Todavia, parte dos entrevistados reconhece ao mesmo tempo,
com porcentagens que vão de um terço a mais da metade, que
55
alguma forma de acompanhamento já havia ocorrido antes do
pré-noviciado (Bay 438).
Diretores / encarregados com tempo insuficiente para o
acompanhamento
48. Em segundo lugar, lamenta-se que os diretores ou respon-
sáveis nem sempre têm tempo suficiente para o acompanha-
mento. Assim, 45,7% (403 de 882) dos pós-noviços dizem que o
diretor tem tantas coisas a fazer que não tem tempo para acom-
panhá-los espiritualmente (Bay 131). É ainda mais surpreenden-
te que 31,40% (124 de 389) dos noviços dizem a mesma coisa
do mestre dos noviços (Bay 85). É essa a situação que também
33,90% dos pré-noviços relatam (Bay 49). O mesmo problema é
relatado por 46,10% dos tirocinantes (Bay 184), por 37,90% dos
aspirantes ao sacerdócio em formação específica (Bay 263) e por
54,90% dos salesianos leigos em formação específica (Bay 308).
Devemos ter presente que o acompanhamento aqui nem sem-
pre coincide com o acompanhamento espiritual pessoal, dado
que o diretor nem sempre é o guia espiritual escolhido.
2.3.2 Diretores como guias espirituais: tendência
à diminuição
49. Vimos acima (ver acima a seção 2.2.1) que os formandos
tendem a distinguir nitidamente colóquio com o diretor e acom-
panhamento espiritual. Distinção, no entanto, não significa ne-
cessariamente separação: posso distinguir claramente o que é o
colóquio com o diretor daquilo que considero como acompanha-
mento espiritual e ainda assim escolher a mesma pessoa para os
serviços de escuta e de ajuda pessoal. Por isso, enquanto 46%
dos pré-noviços fazem essa distinção, 75% deles indicam que
o encarregado do pré-noviciado também é seu guia espiritual.

6.7 Page 57

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Passando para as fases posteriores da formação inicial, 93% dos
noviços dizem que o mestre dos noviços é o seu guia espiritual;
de modo semelhante 67% dos pós-noviços, 55% dos tirocinan-
tes, 37% dos candidatos ao sacerdócio em formação específica
e 28% dos salesianos leigos em formação específica referem-se
ao diretor da comunidade como seu guia espiritual (Bay 439).
Se considerarmos os noviços separadamente, vemos, então,
que os jovens em formação tendem a não apenas distinguir entre
o colóquio com o diretor e o acompanhamento espiritual, como
56
também a separar sempre mais o acompanhamento espiritual da
relação que mantêm com o diretor da casa.
2.3.3 Carências sobre a discrição e a
confidencialidade
50. Há um dado que emerge transversalmente de todas as re-
giões: a delicada questão da discrição em relação ao que é com-
partilhado durante o acompanhamento pessoal. Já vimos que a
confidencialidade nesse nível é considerada de absoluta impor-
tância (cf. a seção 2.2.1 acima). No entanto, muitos de nossos en-
trevistados têm a impressão de que o que é compartilhado com
o guia é com frequência revelado a outros.
A porcentagem de quem se exprime nesse sentido é particu-
larmente alta no pré-noviciado: “87,90% (385) dos pré-noviços
revelaram que o guia usa as informações fornecidas pelo pré-no-
viço com outras pessoas e às vezes contra o pré-noviço. Apenas
12,10% (53) dos entrevistados indicaram que isso não causa di-
ficuldade” (Bay 63).
Nas demais fases, as pontuações relativas à quebra de sigilo
são muito mais baixas: noviços 12,10% (47); pós-noviços 14,30%
(78); tirocinantes 14,90% (78); estudantes de teologia 13,40%
(91); salesianos leigos em formação específica 25,5% (12 de 47);
quinquênio 21,10% (79). É interessante notar que até 16,7% dos
guias salesianos relatam essa dificuldade quando comentam a
experiência de acompanhamento espiritual pessoal vivido duran-
te a própria formação inicial (Bay 408).
51. Em várias reuniões das comissões regionais de formação
ao longo de 2018, houve quem se perguntasse se esse tipo de
percepção fosse mais subjetivo do que fundamentado na reali-
dade, especialmente considerando que os pré-noviços tendem
a olhar com apreensão a admissão ao noviciado e o temor de

6.8 Page 58

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serem excluídos pode influenciar sua maneira de avaliar o rela-
cionamento com os formadores.
Qualquer que seja a opinião que tenhamos sobre isso, não po-
demos ignorar o fato, ou seja, que o percentual de pré-noviços que
se expressam nesses termos é não apenas muito alto (quase 90%),
como também passa transversalmente por todos os países e re-
giões. Mesmo que isso refletisse uma impressão subjetiva, ainda as-
sim seria um indicador de como é avaliada a relação entre formando,
formadores e comunidade. Esse é um dos dados da pesquisa que
requer uma séria reflexão e uma resposta o mais urgente possível.
57
2.3.4 Abertura e transparência
52. Vimos que 97% dos estudantes de teologia consideram a
confiança, a abertura, a transparência e a sinceridade importan-
tes no acompanhamento espiritual (cf. acima a seção 2.2.1). Na
realidade, contudo, parece não haver essa abertura.
À pergunta se o acompanhamento espiritual é um momento em
que possam ser compartilhados livremente sentimentos, dúvi-
das, alegrias e dificuldades, valores positivos muito altos são ex-
pressos nas duas regiões da Europa, nas duas regiões da Amé-
rica e na África – Madagascar; as duas regiões da Ásia vêm em
seguida, mas com uma diferença considerável de 10 a 12 pontos
percentuais (Bay 476).
O acompanhamento pessoal é um momento em que é pos-
sível sentir-se à vontade, sem receio de abrir seu coração para
questões muito pessoais? Novamente, os valores mais altos são
dados pelas regiões Mediterrânea e Europa Centro Norte (88-
89%), enquanto os valores mais baixos são registrados nas duas
regiões da Ásia (Bay 476).
Quanto ao que se está disposto a revelar sobre si durante o
acompanhamento pessoal: trata-se apenas do que é “estrita-
mente necessário”? A prevalência das respostas afirmativas vem
novamente da Ásia Sul e Ásia Este – Oceania, juntamente com
África – Madagascar: expressam-se com sentimentos de estima
em relação ao guia, mas ainda não há plena confiança, não se é
capaz de dizer-lhe tudo (Bay 477).
Em outras palavras, há certa desconfiança que influi sobre a
abertura e a transparência em algumas regiões, que, porém, não
estão presentes em outras.

6.9 Page 59

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2.3.5 Outros aspectos problemáticos
53. Quando passamos a outros aspectos problemáticos rela-
tivos à relação de acompanhamento, a diversidade entre as re-
giões se torna ainda mais acentuada. Não podemos deixar de no-
tar uma diferença clara e constante de pelo menos +9,14 pontos
percentuais entre os índices provenientes conjuntamente da Ásia
Sul e da Ásia Este e Oceania (43% do total de entrevistados) em
comparação com os das outras regiões nestes seis elementos:
58
falta de confiança por parte do guia;
encontros pouco frequentes;
pouca capacidade de escuta: o guia quer ouvir coisas de seu
interesse, e não o que o acompanhado preferiria compartilhar;
incompreensões;
demasiada atenção a questões de caráter e de psicologia;
receio de abrir-se da parte do acompanhado (Bay 482-483).
2.3.6 Um comportamento externo ao qual
conformar-se
54. Em muitos casos, a formação é identificada com a adapta-
ção a um conjunto de comportamentos, a fim de estar em confor-
midade com os padrões nos quais a adequação dos formandos
será medida e avaliada. Eis que 29,80% (117 de 389) dos noviços
afirmam que a regulamentação minuciosa de cada momento do
dia deixa pouco espaço para a iniciativa pessoal. Cerca de um
quarto, 24,20% (94), afirma sentir-se mais observado e controla-
do do que acompanhado. 23,70% (93) afirma que o mestre dos
noviços insiste tão fortemente na disciplina e na obediência que,
ao fazê-lo, aumenta o temor e o medo, em vez de sinceridade e
espontaneidade. Para um sobre cinco – cerca de 21% (83) – o
encontro pessoal com o mestre dos noviços é mais um dever a
ser cumprido do que um encontro desejado, no qual compartilhar
o que realmente sentem e experimentam dentro de si (Bay 85).
55. Quando chegamos aos pós-noviços, os percentuais são
ainda mais elevados: 393 de 885 (44,60%) dizem que se sentem
mais observados e controlados do que acompanhados, e que a
forte insistência na disciplina e na obediência favorece mais o
medo do que a sinceridade e a espontaneidade; e 378 (42,70%)
acreditam que o encontro com o diretor é mais um dever a ser
cumprido do que um encontro em que se possa compartilhar o
que realmente se sente (Bay 131).

6.10 Page 60

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Quanto aos tirocinantes, 29% sentem-se mais observados e
controlados do que acompanhados, 26% acreditam que a in-
sistência na disciplina e na obediência levam ao medo, e para
36,20% o encontro com o diretor é principalmente, um dever a
cumprir (Bay 185).
Para os jovens irmãos em formação específica para o sacer-
dócio e os salesianos leigos em formação específica, respecti-
vamente 33,30% (221) e 44,9% (22) sentem-se mais observados
e controlados do que acompanhados, respectivamente 36,90%
(250) e 46,9% (23) consideram o colóquio com o diretor mais um
59
dever do que um momento para compartilhar o que se vive real-
mente (Bay 263 e 308).
56. Percebem-se os reflexos de um modelo de formação que
se vale de uma disciplina rígida e uma obediência formal para um
denso programa de obrigações e eventos, como se isso abrisse
uma espécie de “trilho ferroviário” que facilita a consecução de
objetivos claros e bem definidos para cada fase. Entre essas obri-
gações, há também o colóquio mensal com o responsável.
Desde que até o pós-noviciado o colóquio coincide, para um
número muito grande, com o acompanhamento espiritual pes-
soal também este corre o risco de ser um dos comportamentos
aos quais conformar-se “para ir adiante”.
2.3.7 A sobreposição de acompanhamento e
autoridade
57. De várias maneiras e com graus variados de insistência,
nossos Regulamentos e a Ratio incentivam a fazer com que o
serviço do guia espiritual seja oferecido pela pessoa encarregada
de uma determinada fase de formação, inclusive ao menos até o
tirocínio:
“As comunidades formadoras tenham um diretor e uma equipe
de formadores com preparação específica, sobretudo para a di-
reção espiritual, que ordinariamente é exercida pelo próprio dire-
tor” (R 78, cursivo acrescentado).
“[O diretor] é responsável pelo processo formativo pessoal de
cada irmão. É também o diretor espiritual proposto, não imposto,
aos irmãos em formação” (FSDB 233, cursivo acrescentado).
“O Diretor [do pós-noviciado] continua a ação do mestre de

7 Pages 61-70

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7.1 Page 61

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noviciado. Com sabedoria e bom senso ele anima o ambiente
e o caminho da comunidade, acompanha e ajuda os pós-novi-
ços particularmente mediante o acompanhamento pessoal e o
colóquio, a direção espiritual de consciência e as conferências
periódicas” (FSDB 417, cursivo acrescentado).
A sobreposição de acompanhamento e autoridade emerge
transversalmente como uma séria dificuldade, justamente porque
quem é proposto e recomendado como guia espiritual é também
quem tem a maior responsabilidade no processo de admissão. 3
60
A fusão dos papéis é tolerada nas fases iniciais
58. A nossa pesquisa revela que a fusão de papéis é tolerada
desde que não possa ser evitada e é descartada pela maioria
assim que for possível – geralmente entre o pós-noviciado e o
tirocínio (ver 2.3.2).
Mesmo entre os noviços, onde 93% dizem que o mestre tam-
bém é o seu guia espiritual (Bay 439), faz pensar o fato de que
mais da metade deles (67,50%) vive essa situação com descon-
forto.4
Insistência sobre a liberdade de escolha do guia
59. Há uma convergência notável em todas as áreas linguís-
ticas, nas sete regiões, portanto, sobre a liberdade de escolha
do guia. Isso surge com força especial quando os entrevistados
são solicitados a sugerir livremente (em respostas abertas) o que
eles acreditam deva ser alterado para melhorar a qualidade da
formação.
No entanto, existem variações regionais. A maioria dos pré-no-
viços que pedem para não serem obrigados a valer-se do seu
encarregado como guia espiritual, denunciando até abertamente
3 A FSDB propõe o diretor / encarregado como guia espiritual até o tirocínio: cf. 339,
345 (pré-noviciado); 417, 420 (pós-noviciado); 437, 438 (tirocínio). Sobre a fase da
formação específica diz simplesmente: “[O diretor] zele pela animação espiritual co-
munitária e pessoal” (FSDB 490).
4 Deve-se corrigir aqui a afirmação de Bay 98 que diz: “Um grupo importante de cerca
de um terço dos noviços, ou seja, 32,50% (127), fez notar que o formador / mestre
e diretor espiritual são uma única pessoa, mesmo que para três quartos, 67,50%
(264), não seja assim”. A pergunta referia-se ao que cria desconforto ou dificuldade:
“Tente expressar agora, em sua experiência pessoal de acompanhamento espiritual
salesiano personalizado, o que criou desconforto ou dificuldade”. 67,50% indicaram
como dificuldade ‘o fato de meu formador / mestre e diretor espiritual ser uma única
pessoa”. 32,50% indicaram o contrário – ou seja, que esse fato para eles não cria
desconforto ou dificuldade.

7.2 Page 62

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algumas limitações em seus formadores (falta de confiança, etc.),
são de língua francesa e inglesa provenientes da África – Mada-
gascar, Ásia Sul e Ásia e Oceania (cf. as respostas às perguntas
em aberto sobre o que poderia ser melhorado e o que deveria ser
alterado: Bay 63-70).
60. Outra peculiaridade de natureza regional: a palavra “liber-
dade” ocorre com muito mais frequência nas respostas às per-
guntas abertas vindas da Ásia de língua inglesa, em comparação
com outras regiões. O desejo de maior liberdade na escolha do
guia espiritual é verbalizado explicitamente, e não poucos, espe-
61
cialmente nas três fases iniciais da formação, lamentam que não
há essa liberdade.
Positivamente, a liberdade de escolher o próprio guia espiritual
é uma das características mais apreciadas nas fases de formação
específica, tanto para os candidatos aspirantes ao sacerdócio
quanto para os salesianos leigos. Aqui, em seguida, está a res-
posta dos estudantes de teologia à pergunta 16 sobre “Elemen-
tos de ajuda para a experiência de acompanhamento espiritual
personalizado” (lembramos que os entrevistados representaram
87% do total de estudantes SDB nessa fase de formação em
2017):
Para quase todos os que responderam ao questionário (acima
de 90-98%) pertencentes a esta fase formativa, a confiança e a
abertura dos professos em formação específica em relação ao
guia foram indicadas por 96,70% (665 de 688), a atitude positiva
e o grande respeito da parte do acompanhante por 96,10% (661),
o clima de liberdade por 95,90% (658) e a abertura e confiança do
guia em relação ao acompanhado para 94,40% (645)... É notável
que para 90,50% (620) dos professos em formação específica, a
liberdade de escolher o acompanhante espiritual é um elemento
adicional de ajuda para crescer (Bay 278).
Como interpretar essa insistência transversal sobre a liberdade
de escolher o guia, e as variações regionais sobre isso?
2.4 O PAPEL DESEMPENHADO POR ALGUMAS
MEDIAÇÕES
2.4.1 Avaliações trimestrais (escrutínios)
61. Um tema sobre o qual um grande número de participantes
do questionário se expressou vivamente é a avaliação pessoal

7.3 Page 63

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trimestral, que por sua natureza deveria ser um auxílio ao cresci-
mento pessoal, complementar em relação ao que é oferecido no
acompanhamento pessoal. Essa avaliação poderia ser descrita
como acompanhamento personalizado pela ação da comunida-
de. “Uma forma de acompanhamento explicitamente prevista
pela pedagogia formativa salesiana é constituída pelos momen-
tos periódicos de avaliação pessoal (escrutínios), por meio dos
quais o Conselho da comunidade ajuda o irmão a avaliar sua si-
tuação formativa pessoal, orienta-o, estimula-o concretamente
no seu processo de amadurecimento” (FSDB 261).
62
62. Sobre esse tema, emergem da pesquisa fortes e persis-
tentes críticas em todas as fases da formação, com variações
percentuais, mas sempre com números significativos.
“Para um terço dos noviços, ou seja, 30,3% (106), parece mais
um julgamento sobre eles, não objetivo, que capta apenas algu-
ma coisa do que faz e não de quem realmente é. Enfim, mais de
um quarto dos noviços, 28,1% (106 de 377), afirma que a incidên-
cia dos escrutínios sobre a admissão à renovação dos votos na
primeira profissão leva o noviço mais a temê-los que deseja-los
(Bay 106). Se ainda no noviciado esse instrumento de crescimen-
to é avaliado de forma negativa por mais de um terço, o problema
não é pessoal nem isolado, mas estrutural.
O índice de negatividade aumenta quando chegamos ao pós-
-noviciado. “Para quatro em cada dez pós-noviços, ou seja,
41,6% (366), é mais sentido [A] como um julgamento sobre si
mesmo, não objetivo, que apreende apenas alguma coisa do
que faz e não de quem realmente é. Enfim, mais de um quarto
dos pós-noviços, ou 27,9% (244 de 875), sustentam que [B] a
incidência dos escrutínios na admissão à renovação dos votos
leva o pós-noviço mais a temê-los do que desejá-los” (Bay 158).
Sobre as mesmas questões, as porcentagens que emergem dos
questionários dos irmãos no tirocínio são [A] 38,3% e [B] 31,9%,
e para os estudantes de teologia aspirantes ao sacerdócio [A]
35,30% e [B] 27, 5%.
63. Um exame mais detalhado das variações regionais seria
significativo. Todavia, os dados em geral já são uma forte referên-
cia, dado que para um número muito grande de formandos, esse
exercício não é de fato perceido como a ajuda para o crescimento
que é chamado a ser.

7.4 Page 64

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2.4.2 Diversas formas ou aspectos da oração
64. Em seu conjunto, em geral, os jovens em formação têm em
grande consideração a vida de oração e muitos deles veem no
acompanhamento espiritual pessoal uma ajuda especificamente
orientada para o crescimento na vida de oração.
É interessante examinar mais detalhadamente as respostas a
várias expressões pessoais e comunitárias da oração. A Eucaris-
tia quotidiana sempre reúne o máximo dos consensos, mesmo
se nessa caso seja difícil distinguir entre “cabeça” e “coração”,
63
ou seja, entre um valor que deve ser afirmado por princípio e por
fé e o modo com que, de fato, a Eucaristia é realmente vivida e
valorizada na vida quotidiana. Pode ser mais significativo, porém,
prestar atenção nas respostas relativas à oração pessoal, à ora-
ção comunitária, à meditação e à palavra de Deus:
Pré-noviços
Noviços
Pós-noviços
Tirocinantes
Estudantes teologia cl.
SDB leigos form. espec.
Quinquênio
Oração
pessoal
74,60%
83,00%
73,80%
77,70%
74,90%
69,20%
74,20%
Oração
comunitária
Meditação
61,80%
Não entre
as 22 opções
Palavra de
Deus
69,80%
71,60%
65,00%
Não entre
as 22 opções
60,60%
52,40%
68,20%
61,43%
42,23%
67,82%
57,90%
46,50%
73,20%
69,20%
59,60%
63,50%
62,10%
42,30%
68,20%
A tabela confirma a estima que há por essas expressões de
oração, especialmente a oração pessoal. Observe-se que a Ásia
Leste – Oceania é a região que dá o máximo valor à oração pes-
soal, à oração comunitária e à meditação (Bay 472).
65. No entanto, também há sinais de fadiga. Considerem-se,
por exemplo, as respostas do quinquênio relativas à liturgia das
horas, identificadas como uma das dimensões da vida de oração
menos autêntica e menos viva e vivificante. É um dado que nos
faz refletir: por que a liturgia das horas, que é uma das formas
mais constantes de oração em toda a formação inicial, acaba por
ser percebida como algo meramente exterior e não vivo e vivifi-
cante?

7.5 Page 65

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E o que dizer da meditação, cuja fidelidade quotidiana é garan-
tida durante toda a formação inicial? Claramente, estar constan-
temente presente não é automaticamente uma garantia de cres-
cimento e apropriação do seu valor e beleza a partir do interior da
pessoa. A pessoa deve ser ajudada a ouvir e reconhecer o que
acontece em seu mundo interior enquanto medita, para poder
chegar a ativar itinerários pessoais de crescimento e amadurecer
convicções profundas. Na tabela acima, meditação é a expres-
são da oração com índices mais fracos de apreço.
64
2.4.3 O projeto pessoal de vida
66. Outra mediação que pode ser muito significativa no cami-
nho de acompanhamento pessoal é o projeto pessoal de vida.
É significativo que o projeto pessoal seja um dos instrumentos
aos quais os guias espirituais dão muita atenção. Entre vários
outros instrumentos, este é, enfim, o que eles indicaram como
particularmente valioso, com amplo consenso (83,7%).
Na pesquisa, há uma pergunta em todas as fases sobre o quan-
to são utilizados e valorizados “métodos, técnicas, modelos para
conhecer melhor a si mesmo e crescer na vida espiritual”. É inte-
ressante comparar a importância dada ao projeto pessoal de vida
em relação aos outros três instrumentos.
Noviços
Pós-noviços
Tirocinantes
Estudantes
de teologia
Salesianos
leigos na
formação
específica
Quinquênio
Projeto
pessoal
de vida
78,20%
72,40%
64,20%
75,40%
76,60%
70,10%
Exercícios
de análise
pessoal
e avaliação
78,20%
68,80%
62,40%
69,30%
72,00%
65,40%
Diário
68,80%
50,60%
47,80%
45,50%
45,70%
28,90%
Autobiografia
65,80%
38,60%
32,50%
39,80%
40,40%
28,50%

7.6 Page 66

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7.7 Page 67

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66

7.8 Page 68

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Segunda parte
67
Interpretar

7.9 Page 69

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7.10 Page 70

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3. Inspirações
que nascem
da nossa tradição
3.1 A ORIGINALIDADE DO ACOMPANHAMENTO
69
ESPIRITUAL SALESIANO DOS JOVENS
67. Vale a pena insistir na peculiaridade do acompanhamento
espiritual salesiano dos jovens: trata-se de um processo comple-
xo, como bem esclarece o Sínodo de 2018 (DF 95-97). “Existe
uma complementaridade constitutiva entre o acompanhamento
pessoal e o comunitário, que cada espiritualidade ou sensibili-
dade eclesial é chamada a articular de maneira original” (DF 95).
Na cidade de Turim, em rápida expansão, com um grande aflu-
xo de jovens em busca de trabalho, correndo riscos pessoais
muito sérios, Dom Bosco encontrou o campo ao qual era chama-
do e enviado. Percebeu que, para prosseguir com essa missão,
devia provar àqueles garotos que realmente haviam encontrado
um verdadeiro amigo, alguém em quem podiam confiar e a quem
podiam abrir livremente seus corações. Compreendeu a impor-
tância fundamental de fazer com que os jovens se sentissem à
vontade, e sentissem que eram amados.
Enquanto procurava dar respostas às muitas necessidades do
grupo de jovens que se reuniam em seu oratório, Dom Bosco le-
vou a sério as relações pessoais individuais e manteve-as vivas.
Seu objetivo era preparar os garotos para a vida e conscientizá-
-los do amor de Deus por eles, fazendo tesouro da própria fé, a
ser vivida dia a dia. Assim, o oratório tornou-se uma casa, uma
paróquia, uma escola e um pátio.
O diagrama a seguir ilustra a originalidade e a riqueza da prática
de Dom Bosco (Grech 251-254):

8 Pages 71-80

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8.1 Page 71

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A PRAXE DE DOM BOSCO
NO ACOMPANHAMENTO ESPIRITUAL
ABORDAGEM
INFORMAL
ABORDAGEM
INFORMAL
ORATÓRIO
AMBIENTE IDEAL
PARA O CRESCIMENTO
ESPIRITUAL
70
GRUPO
INDIVIDUAL
68. A direção espiritual praticada por Dom Bosco é um itinerá-
rio que se desenvolve simultaneamente no ambiente e em nível
individual. Não se limita a um encontro periódico um a um entre
o diretor espiritual e o indivíduo que busca orientação. Dom Bos-
co conseguiu manter um esplêndido equilíbrio entre o ambiente
saudável e maduro e o nível individual. Dentro dessa dinâmica
básica, podemos distinguir ulteriormente entre abordagem formal
e abordagem informal.
A abordagem formal é regular e baseada em uma concordân-
cia. Em nível de grupo, inclui retiros espirituais, vida litúrgica, ca-
tequese e outros encontros, com vários tipos de contribuições,
organizadas (formais). No nível individual, isso se traduz no en-
contro “pessoal” entre o diretor espiritual e a pessoa em busca
de acompanhamento.
A abordagem informal tem um exemplo claro na “palavrinha ao
ouvido”. Ocorre ocasionalmente e pode envolver uma variedade
de temas que intervêm e orientam.
69. O processo de acompanhamento espiritual ocorre no inte-
rior de uma comunidade de fé, aberta à ação da graça e à ação
do Espírito Santo, onde encontramos um entrelaçamento natu-
ral de abordagens formais e informais. A abordagem regular e
estruturada tem maiores possibilidades de ser transformadora e
frutuosa, mas é igualmente verdade que sem as várias interven-
ções informais e o ambiente comunitário favorável, a eficácia dos
momentos formais seria pelo menos reduzida, se não compro-
metida.

8.2 Page 72

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Esse tipo de prática holística também deixa claro quanto tempo
Dom Bosco tenha dedicado aos seus jovens. Para ele, passar
algumas horas por semana no diálogo “um a um” não era sufi-
ciente. Sua originalidade consiste em criar uma abordagem holís-
tica que inclui as dimensões de grupo e individuais, por meio de
várias abordagens formais e informais em um ambiente que fa-
vorece especificamente tudo isso (Grech c. 4; Giraudo 195-211).
O acompanhamento pessoal “um a um” de Inácio de Loyola
70. É interessante notar a multiplicidade e variedade de liga-
71
ções entre a praxe de Dom Bosco e a de Inácio de Loyola e de
Francisco de Sales.
A praxe da direção espiritual de Inácio de Loyola está centrada
nos encontros individuais com um guia. Como Teresa de Jesus,
Inácio deu grande importância ao discernimento dos espíritos na
tentativa de estabelecer um relacionamento sólido com Deus.
Seus Exercícios Espirituais foram forjados pela reflexão sobre o
próprio caminho espiritual e envolvem uma clara opção de intros-
pecção e exame das motivações interiores que estão por trás das
opções. A proposta de Inácio consiste em remover afetos desor-
denados e buscar o conhecimento da vontade de Deus segundo
esta nova liberdade adquirida.
71. Os Exercícios foram um elemento central do projeto formati-
vo do Colégio Eclesiástico, onde Dom Bosco passou três anos de-
cisivos de sua primeira vida sacerdotal e “aprendeu a ser padre”.1
Dom Bosco não só fez os Exercícios todos os anos, como também
os propôs desde o início aos seus jovens, não obstante a pobreza
em que viviam, além de ajudar regularmente Cafasso nos Exercícios
para grupos de padres e leigos em Sant’Ignazio sopra Lanzo por
muitos anos. Oferecer os Exercícios aos jovens e às pessoas sim-
ples foi, de fato, um dos cinco objetivos da Congregação Salesiana
desde as primeiras Constituições, escritas pelo próprio Dom Bosco.
Francisco de Sales: amizade espiritual no acompanhamento
72. A influência inaciana é forte sobre Francisco de Sales. Em
Paris, ele escolheu cursar a universidade dos jesuítas de Cler-
1 O Colégio foi fundado por Luís Guala, graças à inspiração de Pio Brunone Lanteri.
O próprio Lanteri era um discípulo de Nicolaus von Diessbach, um jesuíta seguidor
entusiasmado de Afonso Maria de Ligório. Diessbach iniciara Lanteri na difusão dos
Exercícios Espirituais de Santo Inácio como um instrumento privilegiado de apostola-
do. Essa foi uma das intuições centrais do Colégio Eclesiástico em que Dom Bosco
foi formado. Ver Buccellato 141-148.

8.3 Page 73

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mont, contrariamente à preferência de seu pai pelo colágio de
Navarra. Como estudante em Pádua, recorreu ao jesuíta Anto-
nio Possevino como seu diretor espiritual. Quando jovem bispo,
confiou-se ao P. Fourier, diretor do colégio jesuíta de Chambery.
Em sua praxe, no entanto, ele acrescenta ao que aprendeu com
a tradição inaciana o elemento da amizade espiritual. “Talvez o
traço que mais bem caracterize a direção espiritual salesiana é o
clima de amizade recíproca que une o diretor e a pessoa por ele
dirigida. Parece-me que se possa afirmar que para Francisco de
Sales não há verdadeira direção espiritual se não houver verda-
72
deira amizade, ou seja, comunicação, influxo recíproco; e trata-
-se de uma amizade que chega a ser verdadeiramente espiritual”
(Albuquerque 43). “No espírito da terminologia de S. Francisco de
Sales... o vocábulo que exprime o modo e o estilo de estar “cheio
de caridade” do diretor espiritual na direção espiritual é “amiza-
de” (Struś 79) e a insistência sobre a amizade constitui provavel-
mente um divisor de águas na história da direção espiritual na
Igreja (Struś 90, 92-93)
A relação pessoal, central na praxe de Dom Bosco
73. Baseando-se no que havia aprendido da tradição inacia-
na no Colégio, Dom Bosco parece ter adotado espontaneamente
também o elemento salesiano de amizade e de relações pessoais
ardorosas na praxe de acompanhamento espiritual. “A relação do
diretor com o jovem, na direção espiritual salesiana, não é secun-
dária ao longo do processo; ela é essencial para sua recuperação
e seu crescimento... Esta atenção paterna ou materna pode re-
ferir-se ao modo extraordinário de direção espiritual de S. Fran-
cisco e de S. Joana Francisca [de Chantal], no qual eles «conser-
vavam os seus discípulos no próprio coração»” (McDonnell 79).
“A relação entre formador salesiano e jovem deve caracterizar-se
pela «maior cordialidade», porque «a familiaridade leva ao amor,
e o amor cria confiança. É assim que ela abre os corações, e os
jovens manifestam tudo sem medo […], tornam-se sinceros na
confissão e fora da confissão, e atendem docilmente a tudo o que
determinar aquele pelo qual estão certos de serem amados»”.2
Há, de fato, uma bela ressonância entre a etimologia da pa-
lavra acompanhamento e a familiaridade salesiana: acompanhar
significa “ser companheiro de viagem”, com aquele nível de so-
lidariedade que nasce da participação do pão, do cum-panis, e
as ressonâncias que suscita no contexto bíblico-cristão e nosso
salesiano.
2 Giraudo 202, citando G. Bosco, Due lettere da Roma, 10 maggio 1884.

8.4 Page 74

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Comunidade, grupo e acompanhamento pessoal
em Dom Bosco
74. Às relações de amizade e cordialidade com os jovens, Dom
Bosco acrescentou a comunidade e as dimensões do grupo, e
nisso está a sua originalidade. Encontramo-lo bem refletido no
Quadro Referencial da Pastoral Juvenil Salesiana (QdR), quando
se observa que a comunidade educativo-pastoral (CEP) é ani-
mada pelo acompanhamento do ambiente, do grupo e de cada
pessoa.3 No contexto do acompanhamento da comunidade e de
grupo “o encontro-colóquio tem valor e função específicos. O
73
diálogo restabelece atitudes pastorais, como vemos no encontro
do menino João Bosco com o padre Calosso ou o colóquio de
Dom Bosco padre com Bartolomeu Garelli. A ação salesiana quer
despertar no jovem a colaboração ativa e crítica ao itinerário edu-
cativo, na medida de suas possibilidades, escolhas e experiên-
cias pessoais: busca de motivações fundamentais para a vida;
necessidade de clareza num determinado momento; desejo de
diálogo e discernimento; interiorização das experiências cotidia-
nas, para decifrar suas mensagens; confronto e instância crítica;
reconciliação consigo mesmo e recuperação da calma interior;
consolidação da maturidade pessoal e cristã” (QdR 116).
Acompanhamento na Estreia de 2018
75. A originalidade e peculiaridade do estilo de acompanha-
mento salesiano dos jovens é confirmada pelo P. Ángel Fernán-
dez Artime na Estreia de 2018 sobre o tema do acompanhamento:
“‘Senhor, dá-me desta água’. Cultivemos a arte de escutar e de
acompanhar” (ACG 426). Em primeiro lugar, como para Dom Bos-
co, o acompanhamento salesiano não se limita a um momento de
diálogo pessoal, mas insere o “cara a cara” no contexto vivo de
um ambiente educativo atraente “rico de propostas educativas e
de relações humanas” (ACG 426 25). Em segundo lugar, mas em
continuidade com o que se disse acima como primeiro aspecto,
o acompanhamento pessoal salesiano é uma parte viva da nossa
pedagogia espiritual da relação, que chega à conquista do cora-
ção: “o tom afetivo e a instauração de confiança e simpatia” são
condições fundamentais do método educativo de Dom Bosco
(ACG 426 26).
Tudo isso encontra sua confirmação no que o Papa Francisco
diz: na pastoral juvenil “deve-se privilegiar a linguagem da proxi-
3 Em sua exortação pós-sinodal, o Papa Francesco diz que a Igreja está crescendo na
consciência de que é a comunidade inteira que evangeliza os jovens (CV 202).

8.5 Page 75

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midade, a linguagem do amor desinteressado, relacional e exis-
tencial que toca o coração, atinge a vida, desperta esperança e
anseios. É necessário aproximar-se dos jovens com a gramática
do amor, não com o proselitismo” (CV 211).
3.2 O ACOMPANHAMENTO ESPIRITUAL
SALESIANO NOS PROCESSOS DE FORMAÇÃO
3.2.1 A praxe de Dom Bosco reflete-se
74
nos processos de formação
76. A originalidade e riqueza da prática do acompanhamento
espiritual em Dom Bosco deve ser considerada não só em rela-
ção à Pastoral Juvenil, na variedade de suas expressões, mas
também nos processos que caracterizam a formação inicial. As-
sim, comentando a Ratio na carta “Vocação e formação”, o P.
Pascual Chávez observa que o acompanhamento na formação
“não se restringe ao diálogo individual; é um conjunto de rela-
ções, um ambiente e uma pedagogia, próprios do Sistema Pre-
ventivo” (FSDB 258; ACG 416 40-41). O acompanhamento comu-
nitário desempenha um papel muito importante na comunicação
vital dos valores salesianos. Obviamente, esse acompanhamento
deve ser personalizado e, para isso, devemos garantir que haja “a
presença e a dedicação de pessoas empenhadas na formação, a
sua competência e a unidade de critérios” (ACG 416 41).
3.2.2 O sistema preventivo e os processos
de formação
77. O sistema preventivo é nossa maneira de fazer as coisas: é
tanto uma espiritualidade quanto uma metodologia pastoral. Em
última análise, é o nosso modelo de formação.
A famosa tríade do sistema preventivo pode ser traduzida nas
atitudes fundamentais do acompanhamento: a acolhida em refe-
rência ao amor, a pedagogia em referência à razão e a mistagogia
em referência à religião.
78. A acolhida envolve valores como a aceitação incondicional,
a lealdade, o respeito e a confiança, a escuta paciente, a sensi-
bilidade pelos outros, um relacionamento cheio de humanidade e
o objetivo de crescimento integral. No centro da educação e da

8.6 Page 76

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formação está a pessoa em sua singularidade e concretude.4 “A
primeira sensibilidade ou atenção é à pessoa. Trata-se de escutar
o outro, que se nos dá com as suas palavras. O sinal desta escuta
é o tempo que dedico ao outro. Não é questão de quantidade,
mas de que o outro sinta que o meu tempo é dele: todo o tempo
que precisar para me manifestar o que quer. Deve sentir que o
escuto incondicionalmente, sem me ofender, escandalizar, abor-
recer nem cansar” (CV 292).
Acolher significa olhar positivamente para a pessoa, ouvir,
dialogar, fazer propostas concretas de crescimento e depois
75
acompanhar com paciência os processos de crescimento, estar
presente nos principais momentos de decisão e dificuldade. A
pesquisa mostra que os jovens percebem imediatamente se os
seus formadores são dedicados de todo o coração ao serviço de
acompanhamento ou se estão mais preocupados com sua agen-
da pessoal. Um guia preocupado demais com seu tempo dificil-
mente poderá criar um ambiente favorável para acolher e ouvir.
O formador ajuda a pessoa a ser ela mesma, a saber correr o
risco de tomar suas próprias decisões e assumir a própria vida.
É esse clima de acolhida que cria um espaço no qual a pessoa
se sente segura, onde os que estão em formação encontram a
coragem para abrir seus corações e confiar em seus formadores
e guias. É essa abertura, confiança e transparência que permite
a devida atenção à dimensão humana, incluindo a área da afeti-
vidade e sexualidade, e permite o surgimento de motivações e
convicções profundas.
A pedagogia implica em partir do ponto em que cada jovem se
encontra, iniciando um caminho, engajando-se em um proces-
so, propondo objetivos e fases, ajudando a pensar com cuidado
e crítica, educando à fé. Ouvir sinceramente a história de vida
de cada pessoa em sua singularidade é o ponto de partida do
acompanhamento e requer boas habilidades de escuta de quem
acompanha os candidatos, especialmente nos estágios iniciais
do seu itinerário vocacional. Há uma crescente diversidade e frag-
mentação no mundo de nossos jovens, também ligadas à vida
familiar e aos contextos sociais em constante transformação. O
acompanhamento dos jovens a partir do “ponto em que se acha
a sua liberdade” (C 38) é uma arte pedagógica que requer uma
excelente sensibilidade salesiana e também uma preparação es-
pecífica. Muita ajuda pode ser obtida do counseling, da psicolo-
4 Este é um dos aspectos fundamentais na direção espiritual de Francisco de Sales.
Ver Alburquerque 35.

8.7 Page 77

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gia e das ciências humanas, numa preparação que deve envolver
totalmente a pessoa e a experiência de vida dos formadores.
A mistagogia implica em despertar o desejo da fé, ajudando as
pessoas a tomarem consciência da sua própria interioridade, em
sintonia com as questões profundas sobre o sentido, reconhe-
cendo a inabitação de uma Presença, uma verdadeira iniciação
à experiência de Deus. O documento final lembra o exemplo do
diácono Filipe:
76
O serviço do acompanhamento constitui uma verdadeira
missão, que requer a disponibilidade apostólica de quem o
presta. Como o diácono Filipe, o acompanhador é chamado
a obedecer ao apelo do Espírito, saindo e abandonando o
recinto das muralhas de Jerusalém, figura da comunidade
cristã, para se dirigir a um lugar deserto e inóspito, talvez pe-
rigoso, precisando de correr para alcançar um carro. Tendo-
-o alcançado, deve encontrar o modo de relacionar-se com
o viajante estrangeiro para fazer suscitar nele uma pergunta
que, espontaneamente, talvez nunca tivesse formulado (ver
At 8, 26-40) (DF 101).
79. Isso tudo faz parte do papel materno da Igreja. “Educar
quer dizer, portanto, participar com amor paterno e materno no
crescimento do indivíduo enquanto se cuida também, para esta
finalidade, da colaboração com os outros: a relação educativa,
de fato, supõe várias agências coletivas” (Viganò ACG 337 13). A
atenção personalizada e a intimidade materna tornam-se mista-
gogia (Giraudo 201).
A dimensão mistagógica envolve o reconhecimento de que o
guia é um mediador. Como para o Batista, é o Senhor que deve
crescer, enquanto o guia deve diminuir (ver Jo 3, 28-30). As gran-
des virtudes do mediador são a humildade e a abnegação. O guia
humilde é de grande ajuda; o guia cheio de si mesmo é um grande
perigo. “Em síntese, acompanhar exige colocar-se à disposição
tanto do Espírito do Senhor como de quem é acompanhado, com
todas as suas qualidades e capacidades, e depois ter a coragem
de humildemente se afastar” (DF 101).
80. As tentações do guia são muitas: querer ocupar o lugar
do Senhor, aparecer como alguém especial, buscar seguidores
e discípulos, pensar que tudo depende dele ou que as vitórias
daqueles que são acompanhados são vitórias suas e, vice-ver-
sa, os fracassos dos que são acompanhados são fracassos seus
como acompanhante. Ou ainda, poderia ser tentado a substituir a
pessoa em acompanhamento, não respeitando sua liberdade ou

8.8 Page 78

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seu processo de crescimento, tomando decisões por ele, traindo
a confidencialidade, deixando de incentivar a sua independência
e criando dependências. O guia, diz o Papa Francisco, “a dado
momento deve desaparecer para o deixar seguir o caminho que
ele descobriu. Desaparecer como desaparece o Senhor da vista
dos seus discípulos, deixando-os sozinhos com o ardor do co-
ração que se transforma num impulso irresistível de se porem a
caminho (ver Lc 24, 31-33)” (CV 296).
81. A dimensão mistagógica pressupõe, da parte do guia, um
intenso amor por Jesus. “Não é a mesma coisa ter conhecido
77
Jesus ou não o conhecer, não é a mesma coisa caminhar com Ele
ou caminhar tateando, não é a mesma coisa poder escutá-lo ou
ignorar a sua Palavra, não é a mesma coisa poder contemplá-lo,
adorá-lo, descansar n’Ele ou não o poder fazer. Não é a mesma
coisa procurar construir o mundo com o seu Evangelho em vez
de o fazer unicamente com a própria razão” (EG 266).
O amor pelo Senhor se nutre de oração. Para alimentar o amor
é necessário dialogar com a pessoa amada: “A nossa tristeza
infinita só se cura com um amor infinito” (EG 265). “Com o amigo,
conversamos, partilhamos as coisas mais secretas. Com Jesus,
também conversamos... A oração permite-nos contar-Lhe tudo
o que nos acontece e permanecer confiantes nos seus braços e,
ao mesmo tempo, proporciona-nos momentos de preciosa inti-
midade e afeto, onde Jesus derrama a sua própria vida em nós.
Rezando, ‘abrimos o jogo’ a Ele, damos-Lhe lugar ‘para que Ele
possa agir, possa entrar e possa vencer’” (CV 155).
A oração é fundamental para quem é guia espiritual: “Sem mo-
mentos prolongados de adoração, de encontro orante com a Pa-
lavra, de diálogo sincero com o Senhor, as tarefas facilmente se
esvaziam de significado, quebrantamo-nos com o cansaço e as
dificuldades, e o ardor apaga-se” (EG 262).
O guia ora por aqueles que ele acompanha. Sua oração é um
humilde pedido ao Espírito para esclarecer e acompanhar aque-
les que pedem orientação e compensar as limitações e deficiên-
cias do próprio guia. Quando o guia não valoriza a oração inter-
cessora, o acompanhamento perde lentamente seu frescor e se
torna rotina.
82. Enfim, o acompanhamento torna-se escola de santidade
e produz frutos de alegria e felicidade genuína em quem acom-
panha como também nos que são acompanhados. “Não tenhas
medo da santidade. Não te tirará forças, nem vida nem alegria.

8.9 Page 79

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Muito pelo contrário, porque chegarás a ser o que o Pai pensou
quando te criou e serás fiel ao teu próprio ser” (GE 32).
3.2.3 A esplêndida harmonia entre espírito
de família e acompanhamento
83. A partir das narrativas de Dom Bosco em suas Memórias e
nas biografias dos jovens escritas por ele, vemos que a interação
entre o ambiente e o acompanhamento pessoal é tão intensa que
78
não podemos imaginar um sem o outro. “A esplêndida harmonia
de natureza e graça”, que retrata plenamente o nosso fundador
(C 21), reflete-se na maneira com que realizou a sua missão en-
tre os jovens, na esplêndida harmonia entre espírito de família e
acompanhamento pessoal que Magone, Besucco, Savio e seus
companheiros encontraram em Valdocco.
A nossa pesquisa confirma a importância do relacionamento
entre o ambiente comunitário em que se respira o espírito de fa-
mília (ver C 16) e a atenção dada a cada um através de três mo-
dos principais de acompanhar. Eles foram realizados juntos na
pessoa de Dom Bosco, que era superior, guia espiritual e con-
fessor. A história deu origem a muitas mudanças na animação da
comunidade e na maneira como o acompanhamento pessoal é
vivido na Congregação, mas o valor desses três modos de acom-
panhamento permanece inalterado.
O Diretor
84. Em nossa tradição, o papel do diretor está intimamente
ligado à experiência pedagógica e espiritual do próprio Dom Bos-
co e, portanto, é muito diferente do que se encontra em outros
institutos religiosos. Muito dessa figura pode ser encontrado em
O Diretor Salesiano – um ministério para a animação e o governo
da comunidade local (2019), que é a edição totalmente revista do
Manual do Diretor, solicitada pelo CG27. Para a finalidade das
presentes orientações e diretrizes é suficiente recordar que [1]
o diretor é o guia espiritual a serviço da unidade na comunida-
de religiosa e na comunidade educativo-pastoral; [2] é o guar-
da da identidade carismática salesiana, favorecendo o trabalho
comum para a fidelidade criativa a Dom Bosco, no contexto e
na situação particular em que a presença salesiana é chamada
a encarnar-se; [3] “Tem... responsabilidade direta em relação a
cada um dos irmãos; ajuda-o a realizar sua vocação pessoal” (C
55), em particular através do colóquio pessoal (C 70). Esse tipo
de acompanhamento mantém todo o seu valor, mesmo quando é

8.10 Page 80

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distinto do acompanhamento espiritual pessoal, onde se entra
em aspectos da vida que dizem respeito ao foro interior. Quem
é chamado a ser o pai da família conhece seu irmão nos aspec-
tos que se manifestam no interior da vida de comunidade e na
missão, e tem uma responsabilidade especial em momentos de
discernimento, questionamentos e admissões.
O Confessor
85. O sacramento da Reconciliação é um elemento de im-
portância central na espiritualidade e pedagogia de Dom Bosco.
79
Teremos mais a dizer sobre o confessor (ver em seguida a seção
4.7). Aqui é suficiente notar que essa forma de acompanhamen-
to, em que o encontro entre graça e liberdade encontra expres-
são no modo mais íntimo e sacramental, está em pleno acordo
com os papéis do diretor e do guia espiritual. É nesta intera-
ção harmoniosa de vida interior e trabalhos externos, relações
comunitárias e itinerários pessoais, que encontramos o melhor
apoio para o nosso “caminho de santificação” (C 25).
O Guida espiritual
86. O acompanhamento espiritual pessoal requer, por sua na-
tureza, que seja vivido em sincera harmonia com o ambiente co-
munitário, com o papel fundamental do diretor de acompanhar
a comunidade e os irmãos, e com a experiência sacramental
da reconciliação. Quanto mais se vive a integração harmonio-
sa desses dons, mais rico será o caminho de crescimento vo-
cacional. Damos grande importância, e com razão, à liberdade
pessoal, incluindo a liberdade de escolher aquele a quem po-
demos confiar nossas experiências mais pessoais. No entanto,
isso não diminui a sabedoria que advém da nossa tradição de
escolher um guia que não só conhece o nosso carisma, como
também é testemunha direta da realização da experiência co-
tidiana na comunidade. As nossas interações com os outros e
nosso estilo de vida diário fazem parte do que compartilhamos
no acompanhamento pessoal. Pode servir de ajuda valiosa o
fato de quem oferece o serviço de guia compartilhe a mesma
vida de comunidade com a sua experiência direta e não depen-
dente inteiramente do que lhe é comunicado durante o diálogo
de acompanhamento. Um diretor sábio sabe como ajudar os
seus irmãos a valorizarem da melhor forma o acompanhamento
espiritual e entregar-se a guias capazes.

9 Pages 81-90

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9.1 Page 81

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80

9.2 Page 82

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4. À escuta do espírito
87. No capítulo 2, estruturamos os dados do nosso exercício
81
de escuta com a ajuda de quatro perguntas: quem são os envol-
vidos no processo de acompanhamento espiritual? O que enten-
dem com acompanhamento espiritual pessoal? O que realmente
acontece no acompanhamento espiritual pessoal? Qual o papel
desempenhado por algumas mediações? No capítulo 3, deixa-
mo-nos iluminar e inspirar pela tradição salesiana e pelos recen-
tes ensinamentos da Igreja.
Agora podemos avançar para o segundo passo em nosso exer-
cício de discernimento espiritual, que é a interpretação: o que o
Espírito nos diz através do que ouvimos? Não seguiremos mais a
ordem das quatro perguntas listadas acima; mas deixamos que
os temas surjam espontaneamente.
4.1 UMA FORMAÇÃO INCULTURADA
Diálogo com a cultura dos jovens
88. O primeiro ponto que emerge do nosso estudo é o convite
ao diálogo com a cultura dos jovens, a fim de garantir uma edu-
cação inculturada. Encontrar os jovens “no ponto em que se acha
a sua liberdade” (C 38) implica também em entrar em diálogo
com a sua cultura, o seu modo de compreender a vida e o seus
modelos de comunicação.
Se esse é um desafio que preocupa todos os salesianos, é sem
dúvida extremamente relevante para os irmãos dedicados ao
acompanhamento pessoal, principalmente nos estágios iniciais
da formação. É justamente aí que ocorre o encontro entre a vida
salesiana e as novas gerações daqueles que pretendem abraçá-
-la, ano após ano, com novos rostos, dons, exigências e desafios.

9.3 Page 83

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Relacionar-se com uma cultura que é digital
89. Elemento central na cultura dos jovens de hoje é o universo
digital. “O ambiente digital caracteriza o mundo atual. Largas fai-
xas da humanidade vivem mergulhadas nele de maneira ordinária
e contínua. Já não se trata apenas de ‘usar’ instrumentos de co-
municação, mas de viver numa cultura amplamente digitalizada
que tem impactos muito profundos na noção de tempo e espaço,
na percepção de si mesmo, dos outros e do mundo, na manei-
ra de comunicar, aprender, obter informações, entrar em relação
82
com os outros” (CV 86).
É um dado de fato que a maioria dos jovens em formação na
Congregação tem entre 20 e 30 anos e, portanto, são nativos
digitais, pertencentes à Geração Y e agora também à Geração
Z.1 Eles cresceram em uma cultura dominada pela tecnologia de
comunicação virtual. Nesse espaço, eles se tornaram atores e
roteiristas, com sua própria linguagem e com seu mundo de inte-
resses. Eles se descobrem e se reinventam e exigem o direito de
navegar e dialogar no ciberespaço. “A vida nova e transbordante
dos jovens, que impele a buscar a afirmação da própria persona-
lidade, enfrenta atualmente um novo desafio: interagir com um
mundo real e virtual no qual se entra sozinho como num continen-
te desconhecido. Os jovens de hoje são os primeiros a fazer esta
síntese entre o pessoal, o específico de cada cultura e o global”
(CV 90).
Nesse processo, um dos riscos é “tornar as pessoas mais dis-
tantes muito próximas e, ao mesmo tempo, tornar as mais próxi-
mas muito distantes”. Com a hiperconectividade, paradoxalmen-
te, a solidão não diminui de maneira alguma: tende-se facilmente
a ser “solitários juntos”. Ao mesmo tempo, os jovens gostam
muito de poder se conectar com qualquer pessoa em qualquer
momento. O desafio diante deles é “passar do contato virtual a
uma comunicação boa e saudável” (CV 90).
90. Entre os riscos emergentes estão a pornografia, o jogo de
azar, o ciberbulismo, os perigos que se escondem nas salas de
bate-papo e a manipulação ideológica, e os nossos jovens que
aspiram à vida salesiana e irmãos não estão isentos desses pe-
rigos. Aqueles que oferecem acompanhamento espiritual já não
podem deixar de estar atentos e ser competentes sobre como
intervir quando se defrontam com esse tipo de obstáculo ao cres-
1 Segundo um dos estudos, a Geração Y inclui os nascidos entre 1980 e 2000, en-
quanto a Geração Z nasceu após 2000.

9.4 Page 84

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cimento, com a sua tendência de se enraizar e tornar-se hábitos,
até se transformarem em dependências.
91. A tarefa dos guias, todavia, não se limita ao uso saudável
e ético da rede. Para nós, a comunicação social é um campo de
ação que faz parte das prioridades apostólicas da missão sa-
lesiana (C 43). Mais uma vez, o Papa Francisco nos convida a
confiar nos jovens: “Mas os jovens são capazes de criar novas
formas de missão, nos mais variados setores. Por exemplo, visto
que se movem tão bem nas redes sociais, é preciso envolvê-los
para que as encham de Deus, de fraternidade, de compromisso”
83
(CV 241). Crescendo como pessoas animadas pela fé e profun-
damente enraizadas no carisma salesiano, nossos jovens irmãos
da geração digital criarão novas linguagens para se comunicar
com os coetâneos e compartilhar a Boa-Nova trazida pelo Se-
nhor Jesus.
Uma cultura que não encoraja compromissos definitivos
92. As últimas gerações tendem a achar difícil assumir com-
promissos definitivos. Elas são caracterizadas por um estado de
fluidez e incerteza, em que a liberdade é entendida como possi-
bilidade de acesso e escolha a partir de uma gama indefinida de
oportunidades, sempre novas. Essa fluidez e incerteza levam a
um amplo sentimento de temor diante de compromissos defini-
tivos.2 Ao mesmo tempo, os nativos digitais ainda são “grandes
buscadores de significado e tudo o que entra em sintonia com a
sua busca de dar valor à própria vida provoca a sua atenção e
motiva o seu compromisso” (IL 7). Não obstante a secularização,
ainda há uma profunda fome de Deus nos jovens de hoje.
93. Outro aspecto da questão é que no presente cenário so-
cial, econômico, político e cultural, o período da juventude varia
muito. “Em alguns países, em média, casa-se ou escolhe-se o
sacerdócio ou a vida religiosa até antes dos 18 anos, enquanto
em outros lugares tal acontece depois dos 30 anos, quando a ju-
ventude já passou. Em muitos contextos, a transição para a vida
adulta tornou-se um caminho longo, complicado, não linear, em
que se alternam passos para frente e para trás, e geralmente a
busca pelo trabalho prevalece sobre a dimensão afetiva. Isso tor-
na mais difícil para os jovens fazerem escolhas definitivas” (IL 16).
94. Dois outros fatores são a idéia predominante de liberdade e
2 Ver F. Cereda, “A fragilidade vocacional. Início de uma reflexão e propostas de inter-
venção”. ACG 385 (2004) seção 2.1: A incapacidade de decisões definitivas.

9.5 Page 85

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o capitalismo de consumo. Quando a liberdade é entendida como
a possibilidade de ter acesso ilimitado a oportunidades sempre
novas, e quando isso é reforçado pelo capitalismo de consumo,
com a exibição constante de uma grande variedade de opções,
os jovens são facilmente levados a evitar as escolhas definitivas
que parecem limitar e restringir os campos: “Hoje, escolho isso,
amanhã veremos”. Ou: “Até agora estou feliz. Amanhã, se as coi-
sas mudarem, verei”.
Relacionar-se com a interculturalidade
84
95. Há outro elemento adicional da interculturalidade. A dis-
tribuição planetária dos salesianos de Dom Bosco não é ape-
nas um fato geográfico, mas uma dinâmica de internacionalidade
única em seu gênero. Presente em mais de 133 países, estamos
sem dúvida entre as congregações religiosas mais amplamente
difundidas no mundo. Essa realidade não pode deixar de ter um
impacto no processo de formação, em particular no que se refere
ao acompanhamento espiritual.
Falando apenas em termos de diversidade, temos jovens can-
didatos de grandes centros urbanos e outros de áreas rurais re-
motas; os que pertencem a grupos populacionais majoritários e
socialmente dominantes e outros que provêm de minorias étni-
cas; os que têm a oportunidade de realizar os processos de for-
mação em sua língua materna e outros que precisam passar pelo
esforço de aprender um segundo e às vezes um terceiro idioma;
e assim por diante. A isso se acrescenta a diversidade regional,
nacional, cultural e econômica, sem falar de castas e outras es-
tratificações ou fatores de classificação mais ou menos evidentes
ou profundas presentes em diversas partes do mundo.
96. Diante dessa diversidade, a Congregação encoraja explici-
tamente a interculturalidade, tanto nas fases de formação inicial
quanto em outras situações e formas.3 Que tipo de formadores,
guias e equipes são necessários para acompanhar a diversidade
e a interculturalidade? Como devemos preparar os formadores e
guias? Sobretudo, como a Congregação pode realizar com efi-
cácia sua ação de governo para as realidades interinspetoriais,
situação em que, de fato, já se encontra um número crescente de
casas de formação em todo o mundo, quando a maioria de suas
estruturas atuais foi organizada em vista de um tipo de governo e
de escala inspetorial?
3 CG27 75.5; Á. Fernández Artime, ACG419 (2014) 25-26; F. Cereda, “Favorecer as
comunidades internacionais (GC27 75.5)”, ACG 429 (2019) 46-56.

9.6 Page 86

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Além disso, a Congregação deve levar em consideração o fato
de 53% dos entrevistados responderem em inglês. Devemos per-
guntar-nos que implicações isso tem nos nossos processos de
formação.
E mais, se o aprendizado de uma língua estrangeira exige de-
dicação e constância, muito mais exigente e ao mesmo tempo
necessária é a abertura para uma nova maneira de entender, dar
ou não dar valor às coisas, de comunicar o que é típico das novas
gerações. Esse modo de linguagem, gramática e cultura exige
prontidão para ouvir, dialogar e aprender o que não é menos in-
85
tenso daquilo exigido de um irmão enviado a um novo país como
missionário ad gentes.
Construir pontes entre as culturas
97. Já estamos assistindo à passagem de uma noção de cultu-
ra classicista a outra empírica, onde não existe mais uma cultura
normativa, capaz de colocar-se como ideal a que tender.4 Fé e
carisma são realidades fundamentalmente transculturais, que re-
querem encarnar-se na variedade das culturas da humanidade.
98. Em tal situação, os formadores e os guias são chamados
a uma inculturação que hoje é certamente mais necessária do
que nunca, que é como a capacidade de construir pontes entre
as distâncias que existem entre diferentes culturas. E isso, em
nossa opinião, não é tanto uma questão de conhecimento pro-
fundo das culturas, quanto de estar familiarizado com o “núcleo
mais íntimo” da pessoa do formador. A verdadeira ponte entre
as distâncias culturais é a interioridade existencial-espiritual do
formador. Nenhum formador ou guia espiritual pode esperar co-
nhecer profundamente cada uma das culturas presentes em sua
comunidade muitas vezes intensamente multicultural, mas cer-
tamente pode-se esperar que ele cresça e continue a crescer de
maneira luminosa e madura em sua vida interior. Voltamos, assim,
ao requisito indispensável da contínua preparação e formação de
formadores, com uma insistência elementar, mas ao mesmo tem-
po intensa, sobre o sistema preventivo, que sabe valorizar a pes-
soa em sua particularidade e empenhar-se num diálogo paciente,
4 A distinção (mesmo que não seja expressa exatamente da mesma maneira) é en-
contrada no magistério eclesiástico e salesiano, como por exemplo e EG 117 e ACG
419 25. O classicismo considerava a cultura como norma; os outros de fora eram
meramente bárbaros. A noção empírica de cultura é simplesmente a negação do clas-
sicismo. Ela reconhece uma pluralidade de culturas, porque considera a cultura como
o modo pelo qual qualquer pessoa aprende o significado das coisas e as valoriza no
seu próprio modo de vida.

9.7 Page 87

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fundamentado na convicção de que todos somos animados e
acompanhados pela graça, ou melhor, somos imersos nela.
A nossa pesquisa sugere que ficar exposto pessoalmente por
um tempo razoável a uma cultura que não é a sua é visto como
algo muito útil para um formador (ver a seção 2.1.1 acima). “Até
que um homem adquira algum conhecimento de outra cultura,
não se pode dizer que ele é educado, pois toda a sua perspectiva
é tão condicionada pelo seu próprio ambiente social que ele não
percebe suas limitações”.5
86
Tendo presente que a grande maioria dos jovens salesianos
agora vem da África – Madagascar, Ásia Sul e a Ásia Este – Ocea-
nia, a necessidade de cultivar uma atenção mais profunda às cul-
turas que nutrem a vida desses jovens e irmãos, especialmente
na formação dos formadores, torna-se uma importante estratégia
futura para a Congregação. Sem uma compreensão correta das
culturas, não haverá inculturação da formação e da missão. A
formação e a missão são, por natureza, chamadas a sintonizar o
melhor possível, em sua interação com a vida e a cultura dos po-
vos e nações, naquela “esplêndida harmonia de natureza e gra-
ça” (C 21) que está no centro de todo itinerário vocacional.
Exigem-se passos corajosos na inculturação dos programas de
estudo, conforme proposto pela Veritatis Gaudium.6
Novas formas de discernimento vocacional e aspirantado
99. O acompanhamento dos jovens interessados na vida con-
sagrada salesiana deve levar em conta as grandes mudanças que
influenciam o mundo social e cultural dos jovens de hoje, mudan-
ças que não são apenas marcadas pelo ritmo frenético com que
ocorrem, mas também por variações consideráveis, dependendo
das regiões e inspetorias envolvidas. A carta conjunta de 2011
dos dicastérios para a Pastoral Juvenil e para a Formação pro-
cura dar uma resposta, propondo uma variedade de abordagens
diferentes para a experiência do aspirantado:
5 Christopher Dawson, The Crisis of Western Education (New York, Sheed and Ward,
1961) 113. Tradução nossa (“Until a man acquires some knowledge of another culture,
he cannot be said to be educated, since his whole outlook is so conditioned by his
own social environment that he does not realize its limitations”).
6 Ver Mauro Mantovani, “La ‘filosofia’, nel Proemio de Veritatis Gaudium, vent’anni
dopo Fides et ratio”, Salesianum 81/1 (2019) 27-46 e Andrea Bozzolo, “Trasforma-
zione missionaria e rinnovamento degli studi nel Proemio di Veritatis Gaudium”, Sale-
sianum 81/1 (2019) 47-71.

9.8 Page 88

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Percebemos, hoje, que os tempos de amadurecimento são
mais longos e diversos os ritmos dos processos pessoais. Muitos
fatores concorrem para essa situação. Não se trata, contudo, de
alongar os tempos do processo formativo, mas de mudar a me-
todologia pedagógica... Hoje, o aspirantado assume diferentes e
novas formas, de acordo com as várias situações dos candidatos
[segue uma lista de diferentes tipos de aspirantado]... As formas
indicadas não esgotam as modalidades de aspirantado na Con-
gregação, antes, deseja-se que se busquem novas formas para
responder às situações dos jovens, em particular para universi-
tários, trabalhadores, imigrantes, autóctones. Hoje é possível ter
87
numa Inspetoria duas ou mais formas de aspirantado. Cabe a
cada Inspetoria identificar o tipo ou os tipos de aspirantado de
que precisa para ir ao encontro da diversidade dos candidatos e
das situações no próprio território. 7
4.2 ESCLARECER O SIGNIFICADO DE
ACOMPANHAMENTO ESPIRITUAL SALESIANO
O nosso acompanhamento tem um núcleo espiritual
100. Vimos que tanto os que estão em formação quanto seus
guias têm predominantemente uma percepção de acompanha-
mento, em que emerge sua clara “centralização espiritual”. Isso
pode ser interpretado como um sinal positivo e encorajador, que
revela um interesse e uma predisposição para descobrir o projeto
de Deus e a ação do Espírito na própria história pessoal. Isso
também significa que os jovens estão em busca de adultos que
possam acompanhá-los nesse tipo de caminhada, ajudando-os
a progredir em direção a uma “medida alta” de vida cristã ordiná-
ria,8 a que todos somos chamados.
Considerando a frequência dos termos nas respostas abertas
de formandos e guias, não se pode deixar de notar a clara pre-
ponderância da palavra “Deus” sobre as palavras “Jesus”, “Cris-
to” e “Espírito’. Isso pode ser entendido como uma indicação da
necessidade de garantir que o acompanhamento pessoal seja
mais claramente trinitário e cristocêntrico?
7 Carta de Fabio Attard e Francesco Cereda, Orientações sobre a Experiência do As-
pirantado. 26 de julho de 2011, prot. 11/0377.
8 Novo millennio ineunte 31.

9.9 Page 89

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Nem sempre é carismaticamente consistente
101. A centralização espiritual do acompanhamento pessoal
nem sempre é equilibrada por uma densidade carismática de
igual peso e abrangência. Como já foi observado (ver seção 2.2.1
acima), a atenção ao carisma salesiano é muito forte durante o
noviciado, mas muito mais fraca nas fases posteriores. Já apon-
tamos que a “salesianidade” em geral é mais apreciada em certas
regiões (África – Madagascar, Ásia Este – Oceania) do que em
outras.
88
A nossa identidade deve orientar a nossa formação
102. As Constituições insistem que “A natureza religiosa e
apostólica da vocação salesiana determina a orientação espe-
cífica da nossa formação” (C 97) A Ratio indica repetidamente a
identidade salesiana como o ponto de referência constante para
todo o acompanhamento formativo:
A identidade de consagrado apóstolo, como foi Dom Bosco,
constitui a linha mestra do processo formativo. Mediante a
formação, na verdade, realiza-se a identificação carismática e
adquire-se a maturidade necessária para se viver e trabalhar
em consonância com o carisma fundacional: de uma primeira
situação de entusiasmo emotivo por Dom Bosco e por sua
missão juvenil, chega-se a uma verdadeira configuração com
Cristo, a uma profunda identificação com o Fundador, à aco-
lhida das Constituições como Regra de vida e critério de iden-
tidade, e a um vigoroso sentido de pertença à Congregação e
à Comunidade inspetorial.
A estreita relação entre formação e identidade “comporta para
cada um dos membros o estudo assíduo do espírito do Insti-
tuto a que pertence, da sua história e missão, para melhorar
a sua assimilação pessoal e comunitária”. Evidencia a im-
portância da “salesianidade”, isto é, do patrimônio espiritual e
da “mens” da Congregação, que devem ser progressivamente
estudados, assimilados e cultivados (FSDB 41).
Guiados pelo Espírito “para viver Jesus”
103. Em Francisco de Sales, encontramos inspiração para
orientar o acompanhamento espiritual de maneira mais explícita
em vista do discipulado e da configuração a Cristo. O objetivo de
todo acompanhamento é a transformação e transfiguração em
Cristo, como Francisco diz simplesmente, “viver Jesus”. O nosso
crescimento em Cristo, diria o bispo de Genebra, é uma continua-

9.10 Page 90

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ção da encarnação dentro de nós. “Se seguimos as suas suges-
tões e começamos a nos unir a Ele [...], [Ele] sustenta os nossos
frágeis esforços e une-se a nós de maneira que possamos perce-
ber que Ele entrou em nós, em nosso coração, com incomparável
doçura” (OEA V 11, in McDonnell 95).
104. A nossa transfiguração em Cristo é obra do Espírito:
“Todos nós, porém, com o rosto descoberto, refletimos a gló-
ria do Senhor e, segundo esta imagem, somos transformados,
com uma glória cada vez maior, pelo Espírito do Senhor” (2Cor
3,18). O acompanhamento espiritual é, portanto, por sua própria
89
natureza, profundamente trinitário. Deus vem até nós através das
missões do Filho e do Espírito; foi o Espírito que “suscitou São
João Bosco. Formou nele um coração de pai e mestre, capaz de
doação total... guiou-o na criação de várias forças apostólicas”
(C 1), e é o Espírito que nos transforma à imagem e semelhança
de Cristo.
Tornar o acompanhamento mais carismático
105. Como nosso seguimento de Cristo é mediado por Dom
Bosco, há necessidade de uma atenção explícita e maior à di-
mensão carismática do nosso seguimento de Cristo; e isso é um
interesse e uma solicitude que devem estar muito a peito em
quem oferece o serviço de acompanhamento espiritual.
Aqui é útil a nova atenção da Congregação à leitura teológico-
-espiritual da vida e da experiência de Dom Bosco e ao itinerário
espiritual salesiano. Todo esforço nessa direção será de grande
ajuda para o acompanhamento espiritual pessoal e a formação
permanente.
A atenção à dimensão carismática envolve ajudar os que estão
em formação a conhecerem Dom Bosco e descobrirem a pre-
sença de Deus naqueles a quem somos enviados (C 95). Seria
importante elaborar em nível local planos formativos mais sinto-
nizados com essa herança carismática, para definir e atuar bons
consequentes processos pedagógicos de crescimento.
Parte desse trabalho é o acompanhamento de experiências
pastorais, a atenção ao campo da comunicação social e à dimen-
são missionária, como componentes decisivos do crescimento
vocacional.
O acompanhamento das atividades pastorais (FSDB 198-199)
servirá de escola para aprender a “fazer experiência dos valores”

10 Pages 91-100

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10.1 Page 91

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e do significado da vocação salesiana (C 98), em sintonia com
cada fase formativa e com uma progressão que segue a quali-
ficação educativo-pastoral delineada no Quadro Referencial da
Pastoral Juvenil Salesiana. Esta é também uma das áreas mais
fecundas para a formação conjunta entre salesianos e leigos.
106. A comunicação social “está entre as prioridades apostóli-
cas da missão salesiana” (C 43), com um impacto cada vez maior
que não podemos subestimar, considerando o ambiente de onde
provêm os nossos candidatos, os contextos das comunidades
90
em que vivem e o mundo juvenil ao qual eles são enviados. A
equipe dos formadores deve ser formada, portanto, para poder
responder a essa prioridade apostólica, aos desafios e às neces-
sidades que surgem no acompanhamento dos jovens formandos
deste nosso tempo. Os passos frutuosos para essa qualificação
formativa vêm da colaboração com o dicastério para a Comuni-
cação Social em nível inspetorial, interinspetorial e regional e do
trabalho em rede com outras realidades eclesiais e educativas,
valorizando o apoio que pode advir de especialistas na área da
comunicação.
107. A dimensão missionária qualifica o carisma salesiano em
todas as fases do crescimento vocacional. É um elemento-chave
no processo do discernimento vocacional inicial, pois representa
de maneira sintética, simbólica e realista o tipo de vida que se
sente chamado a abraçar. A ausência de sinais positivos claros
de atração da missão pelos jovens e os mais pobres entre eles
já seria, por si só, uma indicação clara de ausência da vocação
salesiana. Os projetos formativos em nível local e um processo
de acompanhamento pessoal assíduo e de qualidade ajudarão o
zelo missionário a crescer ao longo da formação inicial.
Contemplando Cristo com os olhos de Dom Bosco aprende-
mos a ver a vida em todas as suas expressões com os olhos do
Bom Pastor.
4.3 ALÉM DO LIMIAR DO FORO ÍNTIMO
108. Vimos que um grande número de formandos considera
o acompanhamento espiritual pessoal como algo bem distinto
do colóquio com o diretor, e que esse “distingo” se torna mais
evidente transversalmente nas setes regiões durante as fases
mais avançadas da formação inicial, chegando ao ponto de má-
xima intensidade durante a formação específica (ver a seção
2.2.1 acima).

10.2 Page 92

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Também advertimos o desejo transversal entre aqueles que
estão na formação inicial de poder escolher livremente seu guia
espiritual (ver a seção 2.3.7 acima).
Deixamos de lado o noviciado, onde o mestre dos noviços é,
por disposição canônica, o guia espiritual dos noviços, e a forma-
ção específica, onde, no conjunto, a liberdade de escolha do guia
espiritual já é praticamente exercitada em toda parte. O fato é
que, nas outras fases, um grande número opta pelo diretor como
a pessoa de referência para o acompanhamento espiritual (75%
dos pré-noviços, 64% dos pós-noviços, 55% dos tirocinantes).
91
Devemos perguntar-nos sobre a natureza e a qualidade do acom-
panhamento espiritual nesses casos. Pode acontecer, sem mais,
que um jovem em formação, embora considerando o colóquio
com o diretor e o acompanhamento espiritual como duas for-
mas distintas escolha livremente o diretor para os dois serviços,
o que é muito bom. No entanto, também poderia acontecer que
um jovem em formação escolhesse o diretor como guia espiri-
tual por outras razões. Nesse caso, existe o risco de que aquilo
que é chamado de acompanhamento espiritual nunca ultrapasse
realmente o limiar do foro externo, quer devido ao temor causa-
do pela sobreposição dos papéis da autoridade e do serviço de
acompanhamento, quer simplesmente porque o formando opta
por não abrir seu coração.
Tenhamos presente, naturalmente, que os nossos jovens irmãos
expressam grande apreço pelo crescimento espiritual, pelos ge-
nuínos valores salesianos e pelo acompanhamento de adultos
significativos e dignos de confiança. Há o desejo genuíno de um
frutuoso acompanhamento pessoal salesiano. Ao mesmo tem-
po, apontam com grande franqueza os elementos que se tornam
obstáculos no seu caminho, que devemos enfrentar e remover
com coragem, se o acompanhamento espiritual pessoal quiser ir
além do foro externo e ser aquilo que é chamado a ser.
4.4 OS PONTOS CRÍTICOS DA EXPERIÊNCIA DO
PRÉ-NOVICIADO
109. O pré-noviciado é uma fase de importância crucial no que
diz respeito à experiência do acompanhamento, uma vez que
para 80% dos entrevistados a iniciação ao acompanhamento es-
piritual pessoal ocorreu precisamente durante essa fase. O modo
de viver no pré-noviciado influencia e determina, positiva ou ne-
gativamente, a experiência subsequente de acompanhamento.

10.3 Page 93

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Se a pessoa responsável pelos pré-noviços ou aspirantes pu-
der estabelecer as bases de um relacionamento de verdadeira
confiança mútua, os jovens a ele confiados poderão aprender a
ler os sinais da presença de Deus em suas vidas, ter a coragem
de abrir as páginas de sua memória, iniciar o processo de cura
das feridas, crescer na fé e entrar em processos de autêntico
discernimento vocacional. Esse pode ser o maior dom que o pré-
-noviciado oferece e, dessa forma, o pré-noviço pode reviver pelo
menos parcialmente o que João Bosco viveu em Morialdo duran-
te os nove meses que passou com o Padre Calosso.
92
Mas se as dinâmicas forem diferentes e o responsável pelos
pré-noviços não tem tempo, interesse ou o modo adequado de
se relacionar que favoreça esse tipo de iniciação, cria-se um pa-
radigma na mente do pré-noviço, que será a medida das suces-
sivas relações de acompanhamento. 144 dos 455 (31,54%) dos
pré-noviços entrevistados afirmam estimar o guia, mas não têm
total confiança nele, e não estão dispostos a confiar-lhe todos os
seus segredos pessoais. 151 (33,18%) afirmam que o papel da
autoridade comunica respeito e temor, mas não ajuda a ter con-
fiança ou a se abrir (Bay 48-49).
110. Muito foi feito para potencializar o pré-noviciado. Em
quase todas as inspetorias e circunscrições, temos agora pré-
-noviciados que duram pelo menos seis meses, se não um ano
inteiro, o que já produziu frutos, se considerarmos a diminuição
da taxa das saídas do noviciado nos últimos anos. No entanto,
é necessário fazer muito mais com a consistência quantitativa e
qualitativa das equipes de formação e garantir que os projetos e
processos de formação se concentrem claramente no crescimen-
to da fé, único em que pode ocorrer um verdadeiro discernimen-
to vocacional. O Papa Francisco exprime-o expressamente: “O
ponto fundamental é discernir e descobrir que aquilo que Jesus
quer de cada jovem é, antes de tudo, a sua amizade. Este é o dis-
cernimento fundamental” (CV 250). O Papa insiste ao dizer que o
crescimento na fé não pode ser reduzido à formação doutrinal e
moral, por mais que seja necessária. Qualquer projeto formativo,
qualquer itinerário de crescimento para os jovens deve ser cen-
trado em dois eixos principais: o aprofundamento do kerygma e
o crescimento no amor fraterno, na vida comunitária, no serviço
(ver CV 213).9
9 Ver também a seção inteira: “Grandes linhas de ação” (CV 209-215). A duas linhas
são “a busca, a convocação, a chamada que atraia novos jovens para a experiência
do Senhor” e “o crescimento, o desenvolvimento dum percurso de maturação para
quantos já fizeram essa experiência” (CV 209).

10.4 Page 94

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No interior da equipe, o responsável pelos pré-noviços tem um
papel extremamente importante e delicado a desempenhar em
termos de acompanhamento formativo e discernimento vocacio-
nal. Quando alguém é selecionado e preparado com atenção, é
grande a diferença qualitativa na experiência do pré-noviciado.
111. Muito mais delicada é a questão da liberdade de esco-
lha do guia espiritual nesta fase. Vimos que um grande número
de pré-noviços pede a liberdade de poder escolher o guia (ver
a seção 2.3.7 acima). Tentemos imaginar o que pode acontecer
durante o “acompanhamento espiritual pessoal”, como continua-
93
mos a chamá-lo, quando um pré-noviço se aproxima de seu guia
espiritual “por obrigação” com medo, trepidação, ansiedade,
apreensão... Continuaremos sobre esse problema nas sessões
seguintes. Sem a livre escolha do guia, a própria experiência de
acompanhamento espiritual corre o risco de ser viciada. Por ou-
tro lado, é verdade que o responsável deve ajudar os pré-noviços
a chegarem a uma clara opção vocacional. Espera-se que a refle-
xão sobre a dinâmica da graça e da liberdade (ver a seção 4.6 a
seguir) possa esclarecer esse tema.
112. Há também a área do acompanhamento e revisão psico-
lógica no pré-noviciado.
Antes ou durante o pré-noviciado é necessário que haja exa-
me médico e exame psicológico, que verifique a existência
da base humana e os requisitos de idoneidade exigidos por
“Critérios e normas” para poder iniciar o itinerário formativo
salesiano, respeitando-se, entretanto quanto se dispõe no câ-
non 220. Os resultados do controle médico e do exame psico-
lógico podem ser comunicados pelo médico e pelo psicólogo
ao Diretor do pré-noviciado e ao Inspetor, se antes do controle
médico e do exame psicológico o pré-noviço tiver dado o seu
consentimento por escrito, “na perspectiva do discernimento
e no espírito da colaboração necessária com os responsáveis
do processo formativo” (CN 36). Tal consentimento deve ser
“prévio, explícito, informado e livre” (FSDB 352).
Deve-se dar uma adequada atenção a esse aspecto, em que
leigos com competência profissional nas ciências humanas po-
dem ser de grande ajuda, assim como as instituições da Igreja
local que oferecem esses serviços. Essa pode ser uma maneira
de praticar o que o Sínodo diz sobre os jovens em relação à inclu-
são de leigos, principalmente mulheres e casais, nos processos
de formação (DF 163-164).

10.5 Page 95

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4.5 A QUALIDADE DA PASTORAL JUVENIL
DETERMINA OS PROCESSOS DE FORMAÇÃO
O acompanhamento pessoal ainda é uma exceção em nos-
sa Pastoral Juvenil
113. 80% dos entrevistados dizem que foram iniciados no
acompanhamento espiritual pessoal apenas no pré-noviciado, um
certo número (de um terço a mais da metade) afirma ter sido acom-
panhado de alguma forma já antes do pré-noviciado (ver 2.3.1 aci-
94
ma). Isso significa que um grande número (de dois terços a pouco
menos da metade) não experimentou nenhuma forma de acompa-
nhamento e ajuda para o discernimento vocacional antes do início
do caminho vocacional explícito em vista da vida salesiana. Por-
tanto, não podemos dar por certo que o acompanhamento pessoal
seja sempre garantido em muitas de nossas presenças. 10
E também nos nossos aspirantados
114. Infelizmente, isso parece verdade também para muitos
dos nossos aspirantados, que são, por definição, períodos de
acompanhamento e discernimento vocacional. A maioria dos pré-
-noviços entrevistados vem de uma fase anterior de aspirantado
que vivia em tempo integral numa casa salesiana, e, no entanto,
nem todos podem falar sobre a experiência de acompanhamento
espiritual como parte de seu aspirantado, simplesmente porque
para eles não havia nenhuma. O fato de os próprios aspirantes
não fazerem experiência de acompanhamento espiritual pessoal
já é por si indicação de um estado de coisas sério e dramático.
Olhando juntos os sinais que extraímos da pesquisa e do estu-
do das estatísticas da Congregação sobre oa que saem durante
o noviciado, votos temporários e mesmo depois dos votos per-
pétuos, a conclusão resultante é muito clara: o discernimento e a
orientação vocacional antes do pré-noviciado são extremamen-
te importantes.11 “O candidato só é admitido ao pré-noviciado
quando tiver feito a opção pela vida salesiana e apresenta, se-
gundo o juízo dos responsáveis, as correspondentes condições
de idoneidade humana, cristã e salesiana” (FSDB 330). O cami-
10 Giraudo é severo nesse ponto: “Entre os grandes diretores espirituais carismáticos
da história da Igreja, pode-se dizer que Dom Bosco é aquele que, de modo mais ex-
plícito, se dedicou de preferência aos pré-adolescentes e elaborou um método para
o seu acompanhamento espiritual, dando início a uma escola de formação espiritual
para meninos que teve grande repercussão histórica, dentro e fora da obra salesiana.
Hoje parece que os salesianos o tenham esquecido completamente” (Giraudo 198).
11 Ver DF 163 sobre a necessidade de um sério discernimento no início do itinerário.

10.6 Page 96

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nho a seguir não deve ser apenas de maior rigor na seleção de
candidatos; antes de tudo, é preciso um bom acompanhamento
e ajuda para o discernimento.
Acompanhamento e discernimento como parte integrante
da Pastoral Juvenil
115. Há anos a Congregação diz que acompanhar os jovens
no “desenvolvimento da sua vocação” é parte integrante e “co-
roamento de toda a nossa ação educativo-pastoral... sustentado
pela oração e pelo contato pessoal, sobretudo na direção espiri-
95
tual” (C 37). Todas as dimensões da Pastoral Juvenil convergem
para a dimensão vocacional, “horizonte último da nossa pastoral”
(QdR 152). “A dimensão vocacional configura o objetivo primeiro
e último da Pastoral Juvenil Salesiana (QdR 152). No capítulo 7
sobre as atividades e as ações da Pastoral Juvenil Salesiana, o
Quadro Referencial dedica uma seção a “experiências ou servi-
ços de animação e orientação vocacional” como “Comunidades
de Acolhida, Comunidades Proposta, Centros de Orientação Vo-
cacional” (QdR 248-249).
116. Tudo isso ecoa no Sínodo sobre Os jovens, a fé e o dis-
cernimento vocacional, que também fala de “pastoral juvenil vo-
cacional”, para indicar que a animação vocacional é intrínseca e
essencial à pastoral juvenil. Portanto, com o Sínodo, insistimos
na necessidade urgente de oferecer um acompanhamento de
qualidade pessoal a todos os jovens a quem somos enviados, e
não apenas aos que desejam abraçar a vida salesiana (ver IL 1).
Como observa Aldo Giraudo, o acompanhamento espiritual para
a perfeição cristã é uma parte essencial e necessária da pedago-
gia salesiana (Giraudo 196). A base disso tudo está em crer no
chamado universal à santidade, uma parte muito importante da
praxe de Francisco de Sales e do próprio Dom Bosco.
O acompanhamento comunitário, de grupo e pessoal é o con-
texto adequado em que pode realmente ocorrer o discernimento
vocacional. Uma cultura vocacional saudável incentiva o surgi-
mento de vocações específicas na Igreja, como a vocação para a
vida religiosa salesiana.
117. Com relação ao aspirantado, a carta conjunta dos Dicas-
térios para a Pastoral Juvenil e para a Formação descreveu assim:
“O ambiente, as condições adequadas, o itinerário e o acompa-
nhamento propostos ao jovem orientado para a vida consagrada
salesiana constituem a experiência do aspirantado”. Sobre os as-
pirantes diz-se nela:

10.7 Page 97

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Iniciam a experiência do aspirantado os jovens que já trilha-
ram um caminho de amadurecimento na fé e de orientação
vocacional, ordinariamente no interior dos processos de Pas-
toral Juvenil, que favorecem o crescimento de vocações apos-
tólicas para a Igreja e a Família Salesiana. Iniciam essa expe-
riência também outros jovens atraídos pelo carisma de Dom
Bosco, que não viveram numa comunidade educativo-pasto-
ral salesiana. A todos esses candidatos, a Inspetoria oferece
um acompanhamento específico através de uma das diversas
formas de aspirantado, que melhor correspondam às exigên-
cias da sua história pessoal e da sua situação. 12
96
A necessidade de continuar o caminho de renovação
da Pastoral Juvenil
118. A qualidade da Pastoral Juvenil determina a qualidade da
formação e vice-versa. Somos convidados a continuar pelo cami-
nho de renovação da Pastoral Juvenil, já iniciada vigorosamente
pelo dicastério para a Pastoral Juvenil, para que a nossa pastoral
possa realmente ser um processo de educação e evangelização,
em que o acompanhamento pessoal e de grupo encontre o seu
adequado e necessário habitat, para que todo jovem possa ser
ajudado a descobrir o próprio caminho na vida e a sua vocação
ao amor.
Por outro lado, se a experiência de acompanhamento pessoal
durante as fases da formação inicial foi significativa e frutuosa, há
uma boa probabilidade de o irmão continuar a buscar orientação
nos anos seguintes e, por sua vez, esteja pronto para acompanhar
os jovens a quem for enviado. Infelizmente, o oposto também é
verdadeiro: se para alguns salesianos a experiência de acompa-
nhamento foi “sofrida” ou simplesmente tolerada, é provável que
não continuem a valer-se da ajuda de um acompanhante espiri-
tual tão logo termine a formação inicial e nem estarão inclinados
e dispostos a oferecer acompanhamento espiritual aos jovens.
Entre a Pastoral Juvenil e a formação há uma circularidade e
uma interação muito mais profunda de quanto poderia parecer.
12 Ver Carta de Attard e Cereda, prot. 11/0377 de 27 de julho 2011.

10.8 Page 98

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4.6 A DINÂMICA FUNDAMENTAL DE GRAÇA
E LIBERDADE
4.6.1 A problemática sobreposição de papel
da autoridade e do acompanhamento espiritual
pessoal
119. Os nossos entrevistados deram muita atenção à sobre-
posição de acompanhamento espiritual pessoal e os papéis de
autoridade, após o fato de como a nossa tradição foi codificada,
97
de o diretor da casa também ser em geral o guia espiritual (R 78),
proposto, não imposto (FSDB 233) (ver a seção 2.3.7 acima e
também a anterior 2.3.6).
Esse duplo papel parece menos problemático em lugares onde
os números são mais reduzidos, o clima de fraternidade é muito
bom e não há barreira entre formandos e formadores. Por outro
lado, é muito problemático onde os números são elevados, a for-
mação tende a adaptar-se (ver a seção 4.11), e também há cer-
ta distância entre formandos e formadores. Nessas situações, a
sobreposição de autoridade e acompanhamento leva facilmente
ao medo e à adaptação às normas e formas de comportamento
exigidas, sem convicção profunda, incluindo a obediência ao en-
contro regular para o colóquio / acompanhamento espiritual.
Portanto, três elementos estão envolvidos na sobreposição de
acompanhamento espiritual pessoal e autoridade: (1) a tradição
salesiana codificada em nosso direito próprio, (2) o modelo de
formação que leva a adequar-se e (3) as personalidades dos for-
madores, em particular a do diretor ou responsável. Iniciemos,
porém, com uma reflexão sobre graça e liberdade, que é o dina-
mismo fundamental de todo caminho espiritual.
4.6.2 Graça e liberdade
A liberdade é fundamental para o acompanhamento
espiritual
120. Deve-se afirmar claramente que a liberdade é fundamental
para o acompanhamento espiritual. Isso é confirmado pelo mesmo
São Francisco de Sales: a liberdade de espírito é um dos princípios
básicos da sua espiritualidade. Francisco escreve em letras maiús-
culas para Joana Francisca de Chantal: FAZE TUDO POR AMOR,
NADA POR FORÇA. “No centro desta insistência salesiana, mais

10.9 Page 99

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na doçura do que na coação, está a convicção fundamental de
que tudo deve ser feito por amor e não por obrigação, porque a
vontade não pode ser forçada a mover-se numa direção que lhe
seja oposta. A gentileza, se quisermos, corresponde à liberdade
de espírito. A liberdade de espírito é uma das características da
direção espiritual salesiana, reconhecida universalmente pelos co-
mentaristas de S. Francisco” (McDonnell 78).
Francisco “não quer impor a própria vontade, prefere motivar
a pessoa acompanhada, de modo que ela chegue a tomar as
98
decisões necessárias. Aparece claro, então, o respeito à pessoa
e à sua liberdade, assim como também o sentido da direção espi-
ritual na prática de Francisco de Sales: ele não pretende dominar
as almas ou as consciências, mas ajudar, motivar...” (Alburquer-
que 29).
121. A liberdade é, de fato, a única maneira de acessar a ver-
dade da pessoa e dar espaço ao seu pleno envolvimento no ca-
minho espiritual, para um crescimento que o envolve totalmente.
Onde a liberdade é reduzida ou mesmo substituída por compor-
tamentos apenas exteriores e formais, o acompanhamento é es-
vaziado do seu significado e peso a partir de dentro. Pode-se ser
fiel e regular nos momentos de acompanhamento espiritual pes-
soal, mas eles permanecem como um campo vazio, sem nenhum
tesouro escondido dentro dele.
Só o que é assumido livremente se torna convicção e atinge
o nível de motivação, onde nasce e se desenvolve a “reta inten-
ção”, que a Ratio indica como elemento fundamental de todo
caminho da vida salesiana: “Sinal fundamental da maturidade
exigida para a profissão perpétua é a reta intenção, isto é, a
vontade clara e decidida de oferecer-se inteiramente a Deus,
de pertencer a Ele e de servi-lo no próximo segundo a vocação
salesiana” (FSDB 504).
O profundo respeito pela pessoa e a sua liberdade faz parte
da “razão” ou “racionalidade” que é um dos pilares do Sistema
Preventivo de Dom Bosco. Deveria ser pedagogicamente natural
para nós favorecer o encontro entre os jovens e o Senhor, res-
peitando o caminho de cada um e encontrando-os “no ponto em
que se acha a sua liberdade” (C 38).
Graça e liberdade são o coração do acompanhamento
122. A liberdade é fundamental, porque a dinâmica da graça
e da liberdade é o coração do processo de acompanhamento. O

10.10 Page 100

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acompanhamento espiritual não é nada se não estiver em har-
monia com o diálogo entre o Senhor e a liberdade deste jovem,
chamado a responder.
O caminho espiritual de todo ser humano é o mistério do en-
contro contínuo entre duas liberdades: a de Deus e a da própria
pessoa. A graça não só fala à liberdade, mas a fortalece e tor-
na sempre mais completa. É a graça que torna possível a nossa
resposta, porque é o amor que chama a amar. Entretanto, não
pode existir amor sem liberdade, como também a maior graça
não tira a nossa liberdade. Francisco de Sales diz: “Apesar da
99
força onipotente da mão amorosa de Deus que toca, cobre e en-
volve a alma com tantas inspirações [...] a graça não tem o poder
de dominar, mas de atrair o nosso coração” (OEA IV 126-127, in
McDonnell 122). Deus onipotente, como Bento XVI gostava de
dizer, é um mendicante diante do coração humano.13 E o Papa
Francisco coloca-o em chave de amizade: Jesus se apresenta
como amigo (Jo 15, 15) e convida-nos à amizade com ele, com
um convite que não nos obriga, mas se propõe delicadamente à
nossa liberdade (ver CV 153). O formador salesiano e o guia espi-
ritual não podem permitir-se agir diversamente.
4.6.3 Respeitar o dinamismo de graça
e liberdade
Começar da qualidade das nossas relações
123. Diante da intensa insatisfação com o sistema atual e do
forte desejo de escolher livremente o próprio guia espiritual, a
nossa tentação poderia ser a de refugiar-nos na tradição ou cul-
par os nossos jovens formandos por não estarem dispostos a
entregar-se com simplicidade ao irmão que lhes é indicado, pro-
posto e não imposto pelos documentos oficiais.
A nossa reflexão sobre graça e liberdade esclarece o quanto
surgiu do Sínodo sobre os jovens. Como diz Rossano Sala (se-
cretário especial do Sínodo dos Bispos): “O primeiro fruto deste
Sínodo, claramente visível no Documento final, é que os jovens
não podem ser problematizados porque se afastaram da Igreja;
em vez disso, a qualidade evangélica da Igreja como um todo
deve ser examinada e relançada”.14 Este exame e relançamento
13 Bento XVI, Mensagem de Sua Santidade Bento XVI para a Quaresma de 2007 (21
de novembro de 2006).
14 Rossano Sala, “Invito alla lettura”, in XV Assemblea generale ordinaria del Sinodo

11 Pages 101-110

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11.1 Page 101

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começa com a qualidade relacional dos seus membros, jovens
incluídos.15
124. Todos nós, compreendidos os jovens salesianos, somos
chamados a dar atenção à qualidade das nossas relações. O pro-
cesso de formação é recíproco, por natureza. Os formandos não
são objetos de formação, mas os sujeitos e protagonistas princi-
pais (ver CV 203, 206). “São ‘lugares teológicos’ onde o Senhor
nos dá a conhecer algumas das suas expectativas e desafios
para construir o futuro” (DF 64).
100
Imitar o próprio Deus
125. O que nossos jovens salesianos nos dizem através do seu
clamor? O que o Senhor nos diz através daquilo que os nossos
jovens salesianos dizem? Esta é a pergunta a que procurar res-
ponder.
Somos convidados a imitar o próprio Deus, que respeita a nos-
sa liberdade e é infinitamente paciente conosco.
Somos convidados a uma formação que atinja e toque o cora-
ção e se torne transformadora.
Somos convidados a aprender a ouvir.
Partir novamente de Dom Bosco
126. Acima de tudo, somos chamados a retornar a Dom Bos-
co e redescobrir o método educativo de Dom Bosco com toda a
sua autenticidade. Somos convidados a escutar o grito de Dom
Bosco em sua carta de Roma de 1884. Nela, é-nos recordado
intensamente que a confiança e a confidência só podem ser me-
recidas e conquistadas, não podem ser impostas por nenhuma
regra.
Podemos dizer que o sistema preventivo é o nosso modelo de
formação, e o seu tema-guia é o “Procura fazer-te amar”, que faz
parte da cruz que recebemos na profissão perpétua.
dei vescovi, I giovani, la fede e il discernimento vocazionale, Documento finale (Torino,
Elledici, 2018) 14.
15 Ibid.

11.2 Page 102

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Para uma formação que “toca o coração”
127. Abrindo os olhos para o horizonte mais amplo da vida
religiosa, vemos que a Igreja insistiu numa formação capaz de
“encontrar a liberdade” dos jovens. Reconhecemos as sérias difi-
culdades que surgem quando a vida nas casas de formação “não
toca o coração”:
Portanto, devemos nos questionar seriamente sobre o siste-
ma de formação. Certamente, nos últimos anos, fizemos mu-
danças, também positivas e na direção certa. No entanto, isso
foi feito de forma descontínua e sem alterar as estruturas es-
101
senciais e fundamentais da formação. Parece que apesar de
todos os esforços e empenhos feitos na formação, não alcan-
çamos o coração das pessoas e as transformamos realmente.
Tem-se a impressão de que a formação é mais informativa do
que performativa. O resultado é a persistência de uma fragili-
dade das pessoas, tanto nas convicções existenciais quanto
no caminho de fé. Isso leva a uma capacidade psicológica e
espiritual mínima, com a consequente incapacidade de viver a
missão com generosidade e coragem, no diálogo com a cul-
tura e a inserção social e eclesial (VN 12).
É mais importante iniciar processos do que dominar espaços
como nos diz o Papa Francisco:
A obsessão, porém, não é educativa; e também não é possível
ter o controle de todas as situações onde um filho poderá chegar
a encontrar- se. Vale aqui o princípio de que “o tempo é superior
ao espaço” [EG 222]... A grande questão não é onde está fisi-
camente o filho, com quem está neste momento, mas onde se
encontra em sentido existencial, onde está posicionado do ponto
de vista das suas convicções, dos seus objetivos, dos seus de-
sejos, do seu projeto de vida. Por isso, eis as perguntas que faço
aos pais: Procuramos compreender ‘onde’ os filhos verdadeira-
mente estão no seu caminho? Sabemos onde está realmente a
sua alma? E, sobretudo, queremos sabê-lo? (AL 261).
Aprender a escutar
128. A chave está na escuta. “Quando nos toca ajudar o ou-
tro a discernir o caminho da sua vida, a primeira coisa a fazer
é escutar” (CV 291). Mas em que consiste essa escuta? Como
podemos escutar juntos o Senhor? Vale a pena meditar sobre
três “sensibilidades ou atenções”, distintas e complementares,
que o Papa Francisco nos oferece em Christus vivit: (1) atenção

11.3 Page 103

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à pessoa, que exige uma escuta incondicional “sem ofender-me,
sem escandalizar-me, sem irritar-me, sem cansar-me”, como fez
Jesus com os discípulos de Emaús que caminhavam “na direção
oposta àquela certa”; (2) atenção à verdade profunda que o outro
quer exprimir, mediante um discernimento entre a graça e a ten-
tação; (3) atenção aos impulsos para ir além do que o outro está
experimentando, que, “às vezes, requer que a pessoa não olhe
tanto para o que gosta, para os seus desejos superficiais, mas
para o que mais agrada ao Senhor” (CV 294). O Papa acrescenta:
“Esta escuta é atenção à intenção última, que é aquela que, em
102
última análise, decide a vida, porque há Alguém como Jesus que
entende e valoriza esta intenção última do coração” (CV 294).
Temos aqui um admirável entrelaçamento entre a pessoa, o
acompanhante e o Senhor. Trata-se de ouvir o Senhor através da
pessoa, para descobrir o que seria mais agradável ao Senhor, o
dom que o faria sorrir (ver CV 287). Trata-se de um discernimento
de amizade, que se torna ainda mais admirável quando perce-
bemos que ele sempre tem primereado, “nos vencendo sempre”
(ver CV 153), porque é ele quem primeiro pensa no dom que nos
dará mais prazer e nos fará mais bem (ver CV 288-290).
A experiência de João Bosco com Cafasso, e de Domingos
Sávio com Dom Bosco, são alguns dos Emaús salesianos das
origens, cuja fecundidade é a prova do valor dessa abertura à
presença de Deus. Nas respostas dadas pelos 538 guias espiri-
tuais, é significativo notar que entre as abordagens ou tipos de
acompanhamento possíveis o que teve maior consenso foi este:
[Uma forma de acompanhamento que] não se concentra ape-
nas na solução de um problema, mas visa iniciar ou fortalecer
a vida espiritual de alguém. Nessa abordagem, não são pro-
priamente os temas que focalizam o trabalho so acompanha-
mento, nem a segurança pessoal e as habilidades da pessoa
como tal, mas, levando em consideração os problemas e a
pessoa específica, o acompanhante se concentra mais no
objetivo a que a pessoa é chamada, dá atenção à vocação
à qual deve responder, observa o crescimento contínuo em
Cristo (Bay 386).
Aprender a responder
129. Isso tudo também envolve naturalmente grande respon-
sabilidade daqueles que estão na fase inicial de formação. Mes-
mo que houvesse os melhores formadores e guias à sua dispo-
sição, sempre pode acontecer que seja o jovem em formação a
decidir não abrir seu coração e negar-lhes total confiança. Como

11.4 Page 104

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diz O dom da vocação presbiteral: “Durante o processo formativo
requer-se que o seminarista se conheça a si mesmo e se deixe
conhecer, relacionando-se de modo sincero e transparente com
os seus formadores”.16
Sem o envolvimento completo e total da própria liberdade não há
resposta ao chamado; o itinerário vocacional nem sequer é iniciado.
Longe de ser uma maneira de tornar o processo mais fácil, o
reconhecimento pleno do peso da liberdade no diálogo com a
graça torna muito exigente o caminho de crescimento de quem
103
quer viver sinceramente como discípulo.
Se um candidato não está pronto para se comprometer plena-
mente com o caminho vocacional e ter confiança naqueles que lhe
foram dados como mediações para o processo de discernimento e
crescimento vocacional, significa que ele escolheu livremente não
seguir esse caminho e, quanto antes o perceber, é melhor.
Formadores para os jovens salesianos de hoje
130. As palavras dos jovens no encontro pré-sinodal sinteti-
zam bem o perfil do formador necessário para os jovens de hoje.
Os guias não deveriam levar os jovens a serem seguidores passi-
vos, mas sim a caminhar ao seu lado, deixando-os ser os prota-
gonistas do seu próprio caminho. Deveriam respeitar a liberdade
do processo de discernimento de um jovem, fornecendo-lhe os
instrumentos para realizar adequadamente este processo.
Um guia deveria confiar sinceramente na capacidade que tem
cada jovem de participar na vida da Igreja. Por isso, um guia
deveria cultivar as sementes da fé nos jovens, sem pressa de
ver os frutos do trabalho que vem do Espírito Santo (CV 246,
citando o Documento da Reunião pré-sinodal).
4.7 O DIRETOR, O ACOMPANHANTE
ESPIRITUAL E O CONFESSOR: TRÊS FIGURAS-
CHAVE
131. Como dissemos (ver a seção 3.2.3 acima), encontramos
em nossa tradição três figuras-chave no campo do acompanha-
16 Congregação para o Clero, O dom da vocação presbiteral: Ratio Fundamentalis
Institutionis Sacerdotalis (Roma, 2016) 45.

11.5 Page 105

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mento pessoal: o diretor da comunidade, o guia espiritual e o
confessor.
A pesquisa mostra que esses três papéis são centrais para o
desenvolvimento da experiência salesiana na formação inicial e
mesmo depois dela, como mostram as respostas dadas pelos
guias. Há, contudo, grandes variações na maneira como essas
três presenças são percebidas e avaliadas, segundo a idade, a
fase formativa e a região.
104
132. Um elemento comum é o grande valor dado à atmosfera
fraterna da comunidade, à proximidade entre os irmãos mais ve-
lhos e os mais jovens, tanto quando surge como algo já existente,
muito apreciado ou, mais frequentemente, como algo fortemente
desejado (ver as respostas abertas em todas as etapas). Esse
tipo de “acompanhamento comunitário” está intimamente liga-
do ao papel de animação do diretor. Não se deve esquecer que
o colóquio fraterno com o diretor é um instrumento importante
para o bom funcionamento e a qualidade de vida da comunidade.
Quando vivido adequadamente, não serve apenas de ajuda para
o irmão, mas também para toda a comunidade, fortalecendo a
comunhão de intenções e favorecendo uma atenção personaliza-
da às necessidades e ritmos de cada um de seus componentes.
133. É claro que o diretor tem a primeira e a última responsa-
bilidade da formação na comunidade, mas isso não significa que
ele seja o único responsável. Ele é o garante de todo o processo
formativo e da sua coerência carismática salesiana. Acompanha
espiritualmente a comunidade de várias maneiras e cada irmão
através do colóquio e das intervenções informais. Faz o possível
para que o colóquio conserve todo o seu valor como um mo-
mento importante e insubstituível de acompanhamento forma-
tivo, e como um meio extremamente útil para a construção da
comunidade. É muito importante que ele garanta uma verdadeira
liberdade de escolha em relação ao acompanhamento espiritual
pessoal, ao mesmo tempo em que permanece aberto e dispo-
nível para aqueles que desejam escolhê-lo livremente como seu
guia espiritual. Ajuda, na medida do possível, o jovem irmão em
formação inicial a fazer uma síntese com a fase anterior e pre-
parar-se para a sucessiva. Também garante que os irmãos em
formação inicial sejam realmente envolvidos no processo de ela-
boração ou revisão do projeto formativo da comunidade.
134. O confessor oferece o ministério do acompanhamento
sacramental, que entra na esfera da consciência. Parece que um
número significativo de jovens em formação opta por combinar o

11.6 Page 106

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sacramento da Reconciliação com o acompanhamento espiritual.
Nesse caso, o confessor deve garantir, com delicadeza, que a
relação de acompanhamento espiritual não se reduza a mera for-
malidade. Em todo caso, uma abordagem que ajuda nesse senti-
do é distinguir os dois momentos de confissão sacramental e de
acompanhamento espiritual pessoal, mesmo quando ocorressem
com a mesma pessoa durante o mesmo encontro.
O apreço pelo sacramento da Reconciliação, expresso de vá-
rios modos pela pesquisa, é um convite e um desafio. O quanto
estamos dispostos a investir na preparação e qualificação dos ir-
105
mãos para esse ministério? As opções feitas por aqueles a quem
é confiado o serviço de autoridade são uma indicação clara da
hierarquia de valores que se segue. Se o papel de confessor se
torna sinônimo de alguém que “não pode fazer outra coisa”, que
tipo de mensagem estamos dando aos nossos irmãos?
135. Tanto para o guia espiritual quanto para o confessor, a
Ratio expressa o forte desejo de que seja um salesiano: “Se um
irmão pedir um confessor ou diretor espiritual especial, o superior
lhe conceda lembrando, porém, que é da maior conveniência, no
tempo da formação inicial, ser salesiano e estável” (FSDB 292).
De qualquer forma, o diretor e a equipe dos formadores devem
garantir e assegurar a liberdade de escolha, e, sobretudo, imitar
o exemplo de Dom Bosco que conquistara a plena confiança dos
jovens e dos seus irmãos. No interior dessa relação de confiança
recíproca, com respeito e gentileza encontrarão o modo de escla-
recer as opções a serem feitas.
136. Claramente, é necessário ter uma visão e objetivos com-
partilhados entre as três figuras do diretor, do acompanhante es-
piritual e do confessor, e é o diretor quem tem a responsabilidade
primária dessa sintonia. Ele a exerce envolvendo, na medida do
possível, durante as reuniões da equipe, também quem presta
o seu serviço nos outros dois papéis. Os documentos da Igreja
atribuem a maior importância a essa unidade. 17
4.8 CONTINUIDADE NO ACOMPANHAMENTO
137. O problema da fragmentação do acompanhamento espi-
ritual surgiu em graus variados em nossa pesquisa. Pode ser sin-
17 Ver, por exemplo: Optatam totius 5; Potissimum institutioni 32; Pastores dabo vobis
66; Diretrizes sobre a preparação dos educadores nos Seminários (1993) 29-32; O
dom da vocação presbiteral, Introdução da seção 3.

11.7 Page 107

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tetizado no fato de um irmão, durante a formação inicial, mudar
repetidamente os guias espirituais que o acompanham.
O ideal é ter apenas um guia espiritual ao longo de todas as
fases da formação inicial? Não faz parte também do processo de
crescimento e maturidade aprender a administrar o desapego e
migrar para novas estações e pessoas às quais fazer referência?
Isso vale para o acompanhamento espiritual como para outros
âmbitos da vida, tanto da parte de quem é acompanhado, como
também da parte do próprio guia, que deve estar atento contra a
106
tentação da possessividade.
138. Dada essa premissa, ainda é importante garantir a con-
tinuidade do acompanhamento formativo. Papel-chave pode ser
exercido aqui pelo inspetor, com sua solicitude paterna, e pelo
delegado inspetorial para a formação, mediante reuniões e visitas
periódicas às casas de formação inicial, mas sobretudo às ca-
sas com tirocinantes e irmãos no quinquênio. As reuniões de for-
madores de várias etapas também são úteis nesse sentido, para
garantir uma visão e estilos de formação comuns e, também, a
comunicação contínua entre as comunidades e as equipes, ao
mesmo tempo em que preservam a discrição e a confidencia-
lidade sobre situações pessoais. Naturalmente, favorece a dis-
posição do salesiano em formação a se abrir com transparência
com o guia, apesar das mudanças que acompanham as fases da
formação.
139. Atenção especial, como já dissemos, deve ser dada às
fases do tirocínio e do quinquênio, não por último, com a sábia
escolha de comunidades capazes de oferecer um bom nível de
acompanhamento. Essa é a responsabilidade direta do inspetor.
Cabe também ao inspetor selecionar, preparar e propor um cer-
to número de irmãos como guias espirituais para a comunidade
inspetorial. Também seria adequado propor aos irmãos na forma-
ção inicial alguns critérios para a escolha dos guias espirituais: a
possibilidade de uma reunião mensal (o que significa que o guia
deve estar próximo o suficiente, para permitir a possibilidade de
encontros suficientemente frequentes); conhecimento, pelo guia,
do carisma salesiano e das características formativas das diver-
sas etapas da formação; a possibilidade de o guia participar pelo
menos de algumas reuniões da equipe de formação.

11.8 Page 108

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4.9 O PAPEL DA COMUNIDADE E DA MISSÃO
140. Missão e comunidade são elementos constitutivos da iden-
tidade consagrada salesiana e emergem como temas importantes
na pesquisa. A relação de acompanhamento espiritual é, pois, in-
tensamente marcada pela missão e pela vida da comunidade.
Acompanhamento espiritual e comunidade
141. Há uma relação recíproca entre acompanhamento espiri-
tual e comunidade. Tenhamos presente que entendemos por co-
107
munidade não só a comunidade religiosa salesiana, mas também
a comunidade educativo-pastoral (CEP). Isso é particularmente
significativo na fase do tirocínio.
Um bom itinerário de formação ajuda a viver sempre mais aber-
tos aos outros e mais disponíveis ao dom de si no serviço.
É igualmente verdade que o ambiente da comunidade tem
grande impacto no caminho de cada membro e em sua abertu-
ra e capacidade de tirar o melhor proveito do acompanhamen-
to espiritual. O próprio ambiente físico é educativo: “O oratório
de Dom Bosco, critério permanente” (C 40) deve também ser
uma fonte de inspiração para a arquitetura e o mobiliário, para
o cuidado dos espaços comunitários. A prática do discernimen-
to comunitário (C 66) torna-se escola para formar comunidades
sempre mais capazes de discernir. A atmosfera da comunidade
religiosa cria confiança e familiaridade, características de todas
as relações humanas que a constituem, incluindo a do acompa-
nhamento pessoal. O oposto também é verdadeiro, como pode
ser visto sobretudo nas respostas abertas de algumas regiões.
Além disso, em todas as áreas linguísticas, como vimos, os jo-
vens em formação pedem que seus formadores vivam próximos,
compartilhando sua vida em momentos informais, construindo
relacionamentos de amizade e confiança. O acompanhamento
comunitário e o acompanhamento pessoal estão dialeticamente
relacionados, de modo que, se um sofre, o outro também se re-
cente. É interessante notar que o Sínodo de 2018 teve o cuidado
de destacar esse ponto de vista tipicamente salesiano (DF 95-
97), como já vimos acima quando foi discutida a originalidade da
praxe de Dom Bosco (ver seção 3.4). ).
A “cultura da Inspetoria”
142. Devemos deter-nos também na relação que corre entre
formação inicial e “cultura da Inspetoria”.

11.9 Page 109

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O que se passa com os irmãos numa casa de formação, mesmo
quando vivem em comunidades interinspetoriais fora e distantes
do território de sua Inspetoria, não é indiferente à vida da mesma.
A qualidade da sua experiência formativa e o modo como são
acompanhados determinarão a qualidade de vida e a missão da
Inspetoria.
O oposto é ainda mais verdadeiro: a cultura da Inspetoria tem
uma influência decisiva nos processos de formação. O estilo de
vida dos irmãos da Inspetoria como um todo tem inevitavelmente
108
um impacto positivo ou negativo sobre aqueles que estão em
formação inicial e olham para os que estão à frente no caminho
como exemplo e inspiração.
Consequência imediata é que as “questões da formação”, como
o acompanhamento, não podem ser limitadas ou reservadas às
comunidades de formação inicial. Se isso acontecer, já é um sinal
de que algo não vai bem naquele ambiente de formação, que é a
cultura da Inspetoria, entre todos o mais extenso e mais influente.
O grupo de colegas
143. Como pastor e educador de jovens (C 98), o salesiano é
chamado a valorizar o grande potencial da experiência de grupo
na formação dos jovens. Esse princípio pedagógico geral tam-
bém é válido no contexto da formação inicial. A experiência de
grupo nas fases iniciais da formação tem um grande impacto no
itinerário vocacional de candidatos e de irmãos.
Isso também vale em relação ao acompanhamento salesiano
pessoal. Os colegas podem incentivar ou desencorajar, de uma
maneira que geralmente é mais influente do que a oferecida pelos
formadores. Esse é outro elemento crucial no acompanhamento
da comunidade e na atmosfera criada na comunidade.
Além disso, não podemos esquecer que no mundo digital de
hoje, amigos virtuais nas redes sociais podem ser ainda mais in-
fluentes do que companheiros e colegas da comunidade.
Em algumas casas de formação, a interação de pequenos gru-
pos se torna uma forma de acompanhamento espiritual. O gru-
po cria um ambiente acolhedor e tranquilizante, onde se pode
compartilhar o próprio itinerário de fé e os valores fundamentais
da vida, para o enriquecimento recíproco de todos. Por sua vez,
essa experiência em grupo facilita outras formas de acompanha-
mento, como o caminho feito com um guia espiritual pessoal.

11.10 Page 110

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A questão das grandes comunidades de formação
144. Deve-se dar atenção à situação das grandes comunida-
des de formação. Mesmo quando essas comunidades são ca-
racterizadas por um clima pacífico em seu conjunto, estamos
sempre mais convencidos de que a qualidade da interação e do
acompanhamento formativo tende a ser muito melhor em comu-
nidades menores. A possível divisão de grandes comunidades
naturalmente envolve maiores investimentos em termos de for-
mação do pessoal, e isso nem sempre é fácil. Até certo ponto, no
entanto, processos de grupo de vários tipos (grupos de ano de
109
estudo, grupos transversais em relação aos anos de estudo etc.)
podem compensar e atenuar as dificuldades encontradas por co-
munidades excessivamente grandes.
Missão e acompanhamento espiritual
145. A atmosfera da comunidade e o envolvimento na missão
apostólica são extremamente importantes para o crescimento em
aspectos da nossa vida que são tipicamente salesianos. Essa é
uma área sempre válida de interesse para o caminho do acom-
panhamento espiritual salesiano, uma vez que o nosso objetivo é
crescer como discípulos de Cristo no caminho traçado por Dom
Bosco. Já vimos que devemos dar mais atenção a essa dimen-
são, principalmente nas fases de formação após o noviciado (ver
seção 4.2 acima).
Além do colóquio pessoal com o diretor e da possibilidade de
aproximar-se do sacramento da Reconciliação, a comunidade
também oferece outras formas de acompanhamento, como o
acompanhamento das experiências apostólicas, o trabalho inte-
lectual na vertente acadêmica e a ajuda que se recebe de espe-
cialistas na vertente psicológica.
Sem dúvida, já nas fases de formação inicial precisamos de
uma iniciação à participação do espírito e da missão salesiana
com os leigos e o envolvimento dos jovens em formação no inte-
rior de uma CEP em que os irmãos façam parte do núcleo anima-
dor juntamente com os leigos que participam da nossa mesma
missão. Os apostolados de fim de semana e aqueles nas férias
podem ser extremamente frutuosos quando acompanhados de
modo adequado, ou seja, se os formadores forem capazes de
ajudar os jovens salesianos a fazer “experiência dos valores da
vocação salesiana” (C 98). Formadores e guias estarão particular-
mente atentos para ajudar os que estão em formação a aprender
a encontrar Deus através daqueles a quem são enviados (C 95)

12 Pages 111-120

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12.1 Page 111

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e a discernir a voz do Espírito em todas as experiências, fazendo
o melhor uso formativo de cada situação (C 119). Seu serviço
de formação seria ainda mais eficaz se pudessem participar de
alguma maneira das experiências apostólicas em que os jovens
em formação estão envolvidos. Obviamente, o acompanhamento
pastoral e espiritual é uma contribuição formativa indispensável
para a experiência do tirocínio: sem ela, essa fase formativa corre
o risco de ser simplesmente reduzida a uma carga de trabalho a
realizar.
110
O estilo de colaboração no acompanhamento salesiano
146. O ambiente formativo saudável e sereno, de estilo familiar,
é essencial para o acompanhamento espiritual na vida salesiana.
A colaboração e o trabalho em equipe são conditio sine qua non
para a criação desse ambiente. O processo de formação não de-
veria e não pode ser efeito do esforço heroico de um indivíduo
particularmente talentoso, mas fruto de um trabalho em equipe
eficaz. Em um mundo onde o individualismo é tão forte, nossos
jovens salesianos precisam saber que trabalhar em conjunto é
possível e belo. Eles precisam ver seus irmãos mais adultos vi-
vendo e trabalhando juntos.
Uma das tarefas essenciais é, pois, formar equipes de forma-
ção coesas e harmoniosas. Obviamente, não basta escolher um
grupo de indivíduos individualmente talentosos e qualificados.
Eles devem ser capazes de sintonizar-se e formar juntos uma
boa equipe, capazes de melhorar a atmosfera da comunidade e
promover uma interação significativa, tanto quanto possível em
todos os níveis. A seleção dos formadores e a preparação de
equipes de formação capazes de boa coesão é uma tarefa de go-
verno, em nível inspetorial e interinspetorial, de vital importância
para a formação.
147. O espírito de família é condição fundamental para um bom
itinerário vocacional, e é absolutamente a primeira coisa a dar
atenção na comunidade. “Dom Bosco queria que em seus am-
bientes cada qual se sentisse ‘em casa’. A casa salesiana torna-
-se uma família quando o afeto é correspondido e todos, irmãos
e jovens, se sentem acolhidos e responsáveis pelo bem comum.
Em clima de confiança mútua e perdão cotidiano, experimenta-se
a necessidade e a alegria de tudo compartilhar, e as relações se
regem não tanto pelo recurso às leis quanto pelo movimento do
coração e da fé. Esse testemunho desperta nos jovens o desejo
de conhecer e seguir a vocação salesiana” (C 16).

12.2 Page 112

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O diálogo de acompanhamento espiritual pessoal salesiano
pressupõe e baseia-se em relações enraizadas no contexto da
comunidade. A comunidade inteira e as estruturas de formação
oferecem, nesse sentido, um importante acompanhamento infor-
mal, complementar e de apoio nos momentos mais formais.
148. Se todos os membros da comunidade são responsáveis
pelo espírito de família, o diretor é ainda mais responsável pelo
papel principal que desempenha na criação de condições para
uma experiência positiva de comunidade e no favorecimento de
processos de crescimento pessoal (ver Bay 404). Ele sabe da im-
111
portância do colóquio fraterno, cujo objetivo é o bem do irmão
e também o bom funcionamento da comunidade (C 70), e está
disponível para isso. Assegura que os irmãos, especialmente
aqueles em formação inicial, desfrutem de verdadeira liberdade
ao escolher o seu guia espiritual.
149. Um bom vice-diretor é igualmente valioso em uma comu-
nidade de formação, especialmente se souber apoiar o diretor e
encarregar-se dos assuntos de disciplina e organização, liberan-
do o diretor de tais funções para exercer melhor o seu papel de
pai, animador e guardião do espírito de família.
150. Tanto diretor quanto os demais membros da equipe de
formação estão cientes da importância da unidade e coesão da
própria equipe e fazem todo o possível para promovê-la. A au-
sência de unidade interna é suficiente para comprometer todos
os outros esforços em favor da formação.
Da importância da equipe segue também o fato de nunca haver
em uma comunidade de formação “simples professores”: todo
professor também é sempre um formador, devido ao impacto
que, de alguma forma, tem na comunidade e, em particular, nos
mais jovens. Quem quer que fosse exclusivamente professor e
não formador já seria, por esse motivo, desclassificado tanto
para a primeira como para a segunda tarefa.
151. O diretor e a equipe reconhecem a importância da famí-
lia de origem dos irmãos. Quanto mais conseguirmos caminhar
juntos com a família, tanto mais os itinerários de crescimento,
humanos e na fé, adquirem valor e força.

12.3 Page 113

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4.10 RESPEITAR A CONFIDENCIALIDADE
E CRIAR CONFIANÇA
Acompanhamento espiritual
152. Na relação de acompanhamento espiritual, é importan-
te criar um espaço onde se possa sentir sempre acolhido e res-
peitado, para estar à vontade, também no compartilhamento de
sentimentos profundos. Manter a confidencialidade é a melhor
maneira de garantir um ambiente que ofereça este nível de res-
112
peito e a sensação de segurança. “A confidencialidade é um dom
que ainda podemos oferecer às pessoas, em um mundo onde
restaram tão poucos segredos”.18
Sem confiança, não é possível entrar em contato com a verda-
de da pessoa. A natureza do acompanhamento espiritual é justa-
mente entrar em contato com a verdade interior da pessoa, para
ajudar a conhecer-se com sinceridade, com a finalidade de ser
aos poucos aquele filho/a que Deus quer que sejamos. 19
A pesquisa sobre o acompanhamento dá-nos uma clara indica-
ção de que, da parte dos que são acompanhados, a liberdade é
indispensável para que o acompanhamento seja um caminho na
verdade. Da parte dos que oferecem o serviço de guias espiri-
tuais, a confiança é a condição indispensável.
153. Em nosso sistema educativo, acompanhamento não é
equivalente a entregar-se a um mestre espiritual em um mosteiro
ou santuário. É a casa da formação que serve de bom terreno,
no qual se estabelece o clima de confiança, respeito e compro-
metimento, que se torna o humus para que as pessoas possam
crescer, florescer e dar frutos.
Os resultados da pesquisa dão a impressão de que muito do
que é proposto por várias casas de formação é aceito no nível
de adequação comportamental, porque é isso que se pede. O
18 Richard Gula, Ethics in Pastoral Ministry (Mahwah NJ, Paulist Press, 1996) 117.
19 O discernimento pode ser definido como a arte pela qual o homem entende a pa-
lavra que lhe foi dirigida, e nessa mesma palavra reconhece o modo como deve ca-
minhar para responder à Palavra. A atitude de discernimento é, portanto, uma visão
progressiva de si mesmo e da história com os olhos de Deus, uma visão de como
Deus realiza sua obra em nós e nos outros, e como podemos nos dispor a essa sua
ação, a fim de nos envolver intimamente no mistério pascal de Jesus Cristo, deixando
sempre mais a Cristo a posse de nós mesmos ‘até que todos cheguemos à plena
maturidade’ (Ef 4:13), ‘completando em nós mesmos o que falta à sua paixão em favor
do seu corpo que é a Igreja’ (Cl 1,24). Ver Marko Ivan Rupnik, Discernimento (Roma,
Ed. Lipa, 2004).

12.4 Page 114

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quanto seja verdadeira convicção pessoal não é fácil de se dizer.
A partir das respostas abertas, especialmente de tirocinantes e
estudantes de teologia, vemos a tendência de espiritualizar as
coisas, tanto da parte dos formadores quanto de quem está em
formação, dando uma espécie de prioridade oficial a coisas es-
pirituais em relação a outros elementos do conjunto do caminho
e do programa. As avaliações periódicas são baseadas no que
é visível externamente (por exemplo, a presença na meditação).
Mas o conteúdo e o impacto dessas práticas só podem ser ela-
borados num acompanhamento pessoal caracterizado pela liber-
dade e a confiança.
113
154. Na literatura salesiana clássica, há um texto de força in-
comparável quando se trata de questões como liberdade e con-
fiança, confiança e abertura: a carta de Roma de 1884. Meditar
sobre ela à luz dos resultados da nossa pesquisa pode seja muito
esclarecedor.
A carta é a expressão madura da experiência pedagógica e es-
piritual de Dom Bosco, com uma perspectiva que agora abran-
ge um horizonte mundial. Dom Bosco sabe que está entregando
sua herança e seu testamento, sua maneira de ser pai e mestre
de jovens. É o mesmo tipo de abordagem que ele havia seguido
dez anos antes, quando escreveu as Memórias do Oratório, numa
época em que as Constituições da recém-criada Congregação
haviam sido finalmente aprovadas e a primeira expedição missio-
nária estava prestes a partir. Ele acredita que retornar ao espírito
das origens é a melhor maneira de avançar no futuro. O recente
Sínodo sobre a juventude e as diretrizes dirigidas a toda a Igreja
mostram com foram proféticas as intuições contidas nessa carta
escrita em maio de 1884 e entregue a cada salesiano junto com
as Constituições, no dia de sua primeira profissão.
O Papa Francisco fala da mesma “sólida e afetuosa confiança”
em relação à vida familiar: “uma família, onde reina uma confian-
ça sólida, carinhosa e, suceda o que suceder, sempre se volta
a confiar, permite o florescimento da verdadeira identidade dos
seus membros, fazendo com que se rejeite espontaneamente o
engano, a falsidade e a mentira” (AL 115). “A formação moral de-
veria realizar-se sempre com métodos ativos e com um diálogo
educativo que integre a sensibilidade e a linguagem própria dos
filhos. Além disso, esta formação deve ser realizada de forma in-
dutiva, de modo que o filho possa chegar a descobrir por si mes-
mo a importância de determinados valores, princípios e normas,
em vez de lhes impor como verdades indiscutíveis” (AL 264).

12.5 Page 115

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O colóquio com o diretor
155. O colóquio fraterno com o diretor é, em si, protegido por
um altíssimo nível de discrição em todos os documentos da Igreja
e da Congregação, em linha com o que se pede hoje para muitas
profissões de ajuda, como o counseling. Baste citar a Ratio: “O
acompanhamento formativo em seus diversos níveis exige dos
que prestam tal serviço... ater-se aos critérios de prudência e de
justiça que, segundo os casos, requerem discrição ou absolu-
to respeito ao segredo profissional e ao segredo sacramental”
114
(FSDB 264). Como disse o Padre Paulo Albera, há uma correlação
tão estreita entre discrição e confiança, que apenas um leve re-
laxamento na primeira causa a perda quase completa e imediata
da segunda.20
Mesmo as coisas externas, se comunicadas ao diretor durante
os colóquios, como por exemplo questões de saúde ou dificulda-
des pessoais, são consideradas confidenciais, porque cada um
tem direito ao próprio bom nome e à sua privacidade. Deixam de
ser questões reservadas se o diretor, em seguida, vem a saber no
foro externo; contudo, seria oportuno que o diretor comunicasse
antes ao irmão interessado que um determinado fato agora é co-
nhecido também por outros, em nível externo.
Ainda, como um dos objetivos do colóquio é o bom funciona-
mento da comunidade, o diretor sempre tem a possibilidade, com
a permissão do irmão, de intervir com base nas informações re-
cebidas.
No entanto, a confidencialidade relativa ao colóquio, como tam-
bém o encontro com o guia espiritual, não é ab­soluta, como é o
sigilo do sacramento da Reconciliação. De fato, existem circuns-
tâncias graves que podem suspender o dever de confidenciali-
dade, como casos de abuso de menores, homicídio ou suicídio.
20 “O colóquio é defendido, por sua natureza, por um segredo rigoroso: ‘o diretor
abstenha-se atentamente de manifestar a uns os defeitos dos outros, mesmo quando
se trata de coisas que ele conhece através de outros meios. Dê, a seus subalternos,
prova de que é capaz de guardar segredo a respeito de tudo que os irmãos lhe vêm
confiar. Uma pequena indiscrição nesta matéria bastaria para diminuir e talvez destruir
inteiramente a confiança que eles, nele, tinham depositado’ (do Manual do Diretor, do
Padre Paulo Albera, n. 131). Por razões inerentes ao seu ofício, o diretor pode ser in-
terrogado pelo inspetor a respeito deste ou daquele irmão. Nesse caso o diretor dará
as informações com objetividade e grande sentido de responsabilidade. Mas a fonte
dessas informações será exclusivamente a conduta externa do irmão interessado e
tudo quanto, a respeito dele, outros tenham referido. As confidências do colóquio
são tuteladas por um segredo rigoroso: nihil, nunquam, nulli (nada, nunca, sobre nin-
guém)”. (O Diretor Salesiano, São Paulo, Editora Salesiana Dom Bosco, 1986) 264.

12.6 Page 116

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Admissões
156. Quando se trata de admissões, feita exceção para os ca-
sos mencionados antes (n. 155) o princípio formulado pelo CG19
continua válido: “A obrigação do segredo acerca das coisas ou-
vidas nas contas de consciência é rigorosíssimo. Tratando-se de
coisas íntimas, o Diretor é obrigado a não revelar nada, nem di-
reta nem indiretamente, por nenhum motivo, nunca, menos ainda
quando se tratar de admissões aos Votos ou às Ordens (GC19
– ACS 24, 114).
115
Na prática, isso significa que o diretor não pode nem comparti-
lhar as informações ouvidas no colóquio com outros membros do
seu Conselho, nem pode usá-las para tirar delas conclusões pes-
soais quando é o momento de tomar posição. Expressa o próprio
juízo exclusivamente segundo as próprias observações e da do
seu Conselho.
Se acontecer que, antes das admissões no Conselho local, o
diretor acreditar que em consciência alguém não deveria pro-
fessar ou receber as ordens sacras “tem-se grave obrigação de
consciência de dizer com caridosa clareza e seriedade ao interes-
sado que não pode, nem deve – também para o próprio bem – ir
para frente” (ACS 281, 43).
Se, mesmo assim, o irmão apresenta o seu pedido, o diretor
deve agir no Conselho como com todos os outros casos. Em
outras palavras, não pode deixar-se influenciar pelo próprio juízo
e pela sua prévia comunicação com o interessado.
4.11 RETORNAR AL SISTEMA PREVENTIVO
Os diversos modelos de formação
157. Há certa uniformidade e afinidade na maneira como a for-
mação é realizada no mundo todo, e isso deriva da nossa tradi-
ção compartilhada, dos esforços feitos para atuar a Ratio e da
unidade que deriva da animação e do governo em nível mundial.
Todavia, devemos admitir, e este é um dos resultados mais óbvios
da nossa pesquisa, que também existem grandes diferenças.
Ao traçar as grandes linhas, poderíamos dizer que em algumas
áreas a dinâmica da fraternidade é bastante visível e predominan-
te, enquanto em outras persiste certa lacuna entre “superiores”
e “sujeitos”, como se pode ver também em coisas relativamente

12.7 Page 117

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menores, como a maneira de organizar os lugares no refeitório.
O termo “medo” frequentemente retorna em respostas de certas
áreas, com uma consequente tendência à conformidade exterior
(formalismo), em vez de uma verdadeira transformação de moti-
vações, atitudes e convicções. Essas são também as áreas em
que, a partir do conjunto das respostas, os jovens em formação
pedem insistentemente uma distinção entre o diretor/responsável
e o guia espiritual (ver acima 2.3.7), e onde a possibilidade de
abrir livremente o coração e dar a confiança sem reservas recebe
os valores mais baixos (ver acima 2.3.4); onde enfim a palavra
116
“liberdade” recorre com mais insistência. Infelizmente, é sempre
nessas áreas que os encontros pessoais não são muito regulares
(ver acima 2.3.5), e onde o colóquio coincide para muitos com
acompanhamento espiritual pessoal e se torna uma das práticas
prescritas às quais se conformar.
Podemos falar, então, de diversos modelos predominantes ou
operacionais de formação, mesmo quando todos teoricamente
aderem ao modelo definido e proposto pela Ratio
O modelo da ‘conformidade exterior’ na formação e seus
efeitos
158. O modelo predominante de formação é um elemento-cha-
ve no processo de formação e na relação de acompanhamento
pessoal; como já dissemos, por predominante entendemos não
aquele que é definido como tal, mas que predomina na prática;
o importante é que, de fato, é o modelo operacional em ato. De
fato, é possível, como todos sabem, dizer uma coisa e fazer ou-
tra. É possível jurar lealdade ao sistema preventivo e, no entanto,
na prática, caminhar numa direção muito diferente. Na realidade,
pode-se seguir uma praxe, enquanto o sistema preventivo exige
outra, e, também, pode-se não ter ciência da diferença. Não estar
ciente também significa não ter uma linguagem capaz de captar
e expressar propriamente o que se está fazendo, continuando a
falar em termos de razão, religião e bondade. Isso desencadeia
um processo de desvalorização, distorção, diluição, corrupção
dessa linguagem e do conteúdo a que nos referimos com es-
ses termos. É uma desvalorização que só pode ser circunscrita
a alguns indivíduos. Mas também pode ocorrer em uma escala
maior, até que as palavras sejam repetidas e amplificadas, mas
o seu verdadeiro significado se foi, desapareceu. E esta é real-
mente uma situação difícil, quando não apenas alguns indivíduos,
mas todo um grupo é afetado pela desvalorização e distorção da
tradição carismática.

12.8 Page 118

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159. Se o modelo predominante de formação visa a aquisição
de um conjunto de comportamentos, o resultado obtido após um
número considerável de anos de formação inicial estará alinhado
com o que foi buscado: adaptações comportamentais, com um
conjunto de hábitos que se tornaram costumes, com a esperança
subjacente de que, ao mesmo tempo, tenham sido desenvolvidas
motivações interiores correspondentes. Se o modelo estabelecer
objetivos de maior profundidade e visar a aquisição de um con-
junto de competências necessárias para o ministério, o resulta-
do será um grupo de pessoas qualificadas. Se o modelo visar a
transformação da pessoa, ou seja, a sua transfiguração em Cristo
117
seguindo o caminho traçado por Dom Bosco, o resultado será
um grupo de pessoas que assumiram responsabilidade pessoal
pelo seu crescimento e que, com toda esperança, continuarão a
crescer em Cristo, tanto individualmente como em grupo.
Poderíamos falar de um modelo de formação de cima para bai-
xo, de conformação formal, quando o objetivo é, na prática, a
conformidade exterior. Esse tipo de modelo torna-se forte pela
autoridade e pelas regras; tende a ser marcado pelo distancia-
mento entre os que detêm a autoridade e os que estão sujeitos
à autoridade. Não é de admirar que fortes elementos de medo e
ansiedade estejam presentes entre os formandos.
160. Mesmo no interior do modelo vertical de conformação,
houve certamente pessoas que cresceram bem e até chegaram
à santidade. No entanto, é muito improvável que hoje a simples
adaptação comportamental exterior seja uma boa receita para
a vida religiosa salesiana. Os ritmos da vida de hoje em nossas
comunidades locais consomem rapidamente a fidelidade, quan-
do ela está ancorada apenas em bons hábitos comportamentais.
Apenas o que se tornou razão, convicção e motivação profunda
é capaz de reger e sustentar a fidelidade, ajudando a encontrar
um novo equilíbrio e integrar os desafios e as oportunidades que
surgem constantemente. O ritmo de vida de hoje exige muita for-
ça interior e uma sólida vida espiritual, como também docilidade
para poder discernir a voz do Espírito nos acontecimentos de
todos os dias (C 119). Torna-se evidente a importância de um
bom itinerário de acompanhamento espiritual pessoal. Trata-se,
de fato, do principal meio pelo qual as expressões da nossa vida
de oração podem ser verdadeiros itinerários de crescimento pes-
soal, que continuarão a nutrir-nos independentemente das situa-
ções externas que encontraremos. “Somos chamados a formar
as consciências, não a pretender substituí-las” (AL 37).

12.9 Page 119

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A importância da interioridade e da transformação
do coração
161. Um modelo de formação que permanece apenas no nível
exterior é profundamente dissonante com a tradição salesiana
(ver McDonnell 104-107). Francisco de Sales era cético em re-
lação àqueles que focavam a atenção e a energia no aspecto
exterior: “Quanto a mim, jamais fui capaz de aprovar o método
de quem, para reformar alguém, começa a partir de fora, pela
aparência, pela maneira de vestir, pelos cabelos. Ao contrário,
118
eu sinto que é necessário iniciar a partir de dentro” (OEA III, in
McDonnell 98). Ele estava convencido de que “aqueles que têm
Jesus em seu coração, logo o terão em todas as suas manifes-
tações exteriores” (OEA III, in McDonnell 98). A espiritualidade
salesiana destaca a importância da interioridade: para Francisco,
o coração é central. Um dos primeiros objetivos do acompanha-
mento espiritual salesiano é permitir que os jovens se reconectem
com o centro de seu ser, com o próprio coração. Esta primazia
do coração é a marca da autenticidade do humanismo cristão de
São Francisco de Sales. O caminho espiritual é um caminho inte-
rior, um caminho em direção ao coração da pessoa, e o acompa-
nhamento espiritual mira à transformação do coração, à configu-
ração da pessoa a Cristo.
Revisitando o que foi vivido na formação inicial
162. Uma reflexão adicional sobre o modelo de formação é
sugerida pelas observações feitas pelos 538 salesianos que
oferecem o serviço de acompanhamento. No questionário, eles
foram convidados a voltar à sua própria experiência de acom-
panhamento durante a formação inicial. É surpreendente que
muitas das dificuldades destacadas pelos outros entrevistados
(do pré-noviciado ao período do quinquênio) sejam semelhantes,
também nas porcentagens encontradas em relação aos proble-
mas enfrentados por esses irmãos quando eles mesmos estavam
em formação inicial. Isso sugere que algumas tendências são de
alguma forma constantes, ligadas às estruturas ou ao modelo de
formação.
Se as experiências vividas durante a formação inicial são mar-
cadas por graves limitações (por exemplo, a falta de respeito à
discrição e a confidencialidade), é difícil e improvável que as ge-
rações de salesianos que passaram por esses “filtros” tenham as
melhores disposições no futuro e preparação para serem bons
guias espirituais de seus irmãos mais novos. Exceções sempre
são possíveis, como quando alguém é capaz de aprender com as

12.10 Page 120

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próprias experiências negativas, mas a tendência mais comum
é reproduzir o que se vivenciou.
163. Portanto, tomar conhecimento do modelo operacional
de formação que se está seguindo é importante e urgente. Tra-
zer à luz o modelo operativo significa poder examiná-lo critica-
mente e decidir se é necessário alterá-lo.
Em nossa opinião, o modelo de conformação comportamen-
tal na formação está muito próximo do sistema repressivo e
não pode estar de acordo com o espírito salesiano (ver Cons-
119
tituições, capítulo 2). Precisamos fazer uma avaliação honesta
e retornar corajosamente ao sistema preventivo. A recomen-
dação de Dom Bosco ao primeiro jovem diretor salesiano da
Congregação, Miguel Rua – procura fazer-te amar – está inscrita
na cruz que nos é dada no dia da profissão perpétua e pede in-
tensamente que seja praticada, corroborada pela exegese ines-
timável que é a carta de Roma de 1884. Levá-la a sério pelos
diretores, formadores e guias espirituais, mas também por cada
salesiano chamado ao serviço de acompanhamento em suas
diversas formas, certamente envolverá um caminho de purifica-
ção e ascese, que acolhemos como nosso modo quotidiano de
abraçar a cruz e colocar-nos na de Cristo.
4.12 APRENDER DA EXPERIÊNCIA
164. O artigo 98 das nossas Constituições oferece-nos uma
metodologia fundamental para a formação: o salesiano “faz ex-
periência dos valores da vocação salesiana”. Este é outro modo
de exprimir a centralidade do coração ou da interioridade na
tradição de Francisco de Sales.
Aprender da experiência não significa simplesmente acumular
experiências. É uma questão de “entrar” nessas experiências e
refletir sobre elas em espírito de oração, para discernir nelas a
voz do Espírito (C 119). É a principal habilidade, por assim dizer,
que faz com que a formação seja permanente. Quando vivemos
dessa maneira, realmente vivemos em uma atitude permanente
de discernimento (ACG 425 29-31).
165. Não é suficiente, então, manter nossos jovens em for-
mação constantemente ocupados, com mil coisas a fazer. O
acompanhamento consiste em ajudá-los a focar sua atenção no
que está acontecendo no seu interior, no profundo do coração,
enquanto vivem as várias experiências, para reconhecer a voz

13 Pages 121-130

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13.1 Page 121

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do Espírito em todas as situações. Tal acompanhamento pode
ocorrer na comunidade e também deve ocorrer em pequenos
grupos quando a comunidade é grande. Deveria ser o coração e
a essência do acompanhamento espiritual. E podemos aprender
com a experiência em todos os níveis, porque “há experiência”
em todos os lugares: nos relacionamentos, na vida comunitária,
no trabalho pastoral, nos trabalhos intelectuais, nas práticas de
piedade, na vida de oração e assim por diante. Quando isso não
acontece pode-se entender porque muitos dentre nós possam
ter “passado através” de algumas práticas de piedade ao longo
120
da sua formação inicial, sem realmente aprender a rezar.
É bom recordar aqui que a pedagogia da oração foi central
na proposta educativa de Dom Bosco: “âmbito fundamental de
acompanhamento é a formação à oração que, partindo do exer-
cício da presença de Deus e das práticas de piedade, conduz à
aquisição do espírito de oração, à união com Deus e ao estado
de oração vivido no dia a dia” (Giraudo 225).
4.13 ACOMPANHAMENTO ESPIRITUAL HOLÍSTICO
166. O caminho do verdadeiro crescimento vocacional está na
interação harmoniosa de todas as dimensões que fazem parte
da história de vida única e não repetível de cada pessoa. Quem
acompanha é chamado a sintonizar a sua interação com esse
processo em que a vida eclode, é curada e floresce, encontrando
os jovens “no ponto em que se acha a sua liberdade” (C 38).
Acompanhar os jovens que pretendem seguir a Cristo na Con-
gregação Salesiana é, então, um processo holístico, em que co-
munidade e indivíduos estão envolvidos em todos os aspectos
da vida quotidiana. O acompanhamento espiritual preocupa-se
com a totalidade da pessoa e não apenas com o aspecto “espiri-
tual” entendido de maneira redutiva. Aqui, podemos nos inspirar
na “promoção integral” descrita no artigo 31: “Educamos e evan-
gelizamos segundo um projeto de promoção integral do homem,
orientado para Cristo, homem perfeito”.
Todas as dimensões do ser humano, portanto, entram no con-
teúdo do acompanhamento espiritual. O momento do acompa-
nhamento pessoal é, acima de tudo, um espaço de respeito e
aceitação, onde a pessoa se sente segura, sendo possível trazer
toda a experiência da pessoa: condição física e saúde, vida emo-
tiva no passado e no presente, vida comunitária , vida em grupo
e relações interpessoais, o aspecto educativo-intelectual que, em

13.2 Page 122

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determinados momentos, faz parte tão importante da formação
inicial, a vida de oração em suas expressões comunitárias e em
seu aspecto mais íntimo, onde a vida se torna oração, experiências
pastorais, e a vocação consagrada salesiana, que permeia tudo o
que acabamos de mencionar... Um bom guia torna fácil e espon-
tâneo para quem está à sua frente levar gradualmente a própria
experiência de vida à relação de acompanhamento, ajudando-o a
descobrir e discernir ali a voz e a ação do Espírito (C 98, 119).
Esta abordagem holística harmoniza bem com o princípio bási-
co proposto pelo Papa Francisco, ou seja, que o tempo é superior
121
ao espaço: “Este princípio permite trabalhar a longo prazo, sem
a obsessão pelos resultados imediatos. Ajuda a suportar, com
paciência, situações difíceis e hostis ou as mudanças de planos
que o dinamismo da realidade impõe. É um convite a assumir a
tensão entre plenitude e limite, dando prioridade ao tempo... Dar
prioridade ao tempo é ocupar-se mais com iniciar processos do
que possuir espaços” (EG 222-223).
4.14 AVALIAÇÕES TRIMESTRAIS COMO AJUDA
PARA O CRESCIMENTO
167. O único objetivo das avaliações pessoais periódicas (es-
crutínios) é promover o crescimento integral de cada jovem em
formação. Por meio deles, o Conselho da casa avalia, incentiva,
corrige e fortalece o caminho vocacional de cada pessoa. Ideal-
mente, portanto, essas avaliações devem ser uma ajuda comple-
mentar da comunidade em relação ao colóquio com o diretor e
no acompanhamento espiritual pessoal. Se bem vivida, a avalia-
ção pode ser uma experiência muito proveitosa. Se, contudo, a
avaliação for realizada de forma temerária e imprudente, poderá
prejudicar seriamente a relação de confiança entre o irmão em
formação e a equipe de formadores.21
168. As equipes de formação são convidadas a refletir aten-
tamente sobre o objetivo e os métodos de avaliação periódica, a
fim de garantir um processo saudável que favoreça realmente a
formação e o crescimento dos jovens em suas comunidades. É
importante ressaltar que a avaliação não é, por si só, um proces-
so de discernimento vinculado à admissão de um candidato para
21 30,3% dos noviços dizem viver o escrutínio como um “juízo sobre si não objetivo,
que colhe apenas algo do que faz e não de quem é realmente”. No pós-noviciado este
sentimento é ainda mais difuso – 41,6%. Ver Valutazione della pratica dello scrutinio
in Bay 106, 211, 290, 319.

13.3 Page 123

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a próxima fase. As admissões são atos jurídicos que envolvem a
Inspetoria e não apenas o Conselho da casa, enquanto o princi-
pal objetivo das avaliações periódicas é favorecer o crescimento
vocacional daqueles que as recebem, por meio de contribuições
qualificadas oferecidas pelos membros do Conselho local. O
escrutínio formativo é uma avaliação do caminho do formando.
Utilizado na formação inicial para personalizar o caminho forma-
tivo, é um meio a ser valorizado pelo diretor e o guia espiritual
para o acompanhamento pessoal do formando. Como cada fase
formativa tem seus objetivos específicos em relação à dimensão
122
humana, espiritual, intelectual e pastoral, os formadores, e mais
precisamente o diretor com o Conselho da comunidade, avaliam
o progresso do formando de acordo com esses objetivos. O es-
crutínio leva em consideração o progresso feito com relação às
avaliações anteriores.
169. A Ratio oferece uma sugestão importante: envolver ati-
vamente o jovem em formação no processo de avaliação. “No
período da formação inicial, para avaliar e estimular o processo
formativo pessoal, os escrutínios se façam cada três meses. Po-
nham-se em confronto os objetivos da fase e a caminhada do
irmão, verificando a maturidade vocacional em continuidade com
as avaliações precedentes. Seja o irmão envolvido na verificação
com variadas modalidades” (FSDB 296). Todavia, o que perma-
nece como princípio fundamental é que as avaliações devem re-
ferir-se constantemente à “via evangélica traçada nas Constitui-
ções Salesianas” (C 24). De fato, fazem parte da assistência dos
nossos irmãos salesianos, que invocamos na fórmula da profis-
são, como auxílio para sermos fiéis no dia a dia. Nossos irmãos
em formação inicial devem ser ajudados a compreender que essa
assistência no estilo de vida evangélico é parte essencial de nos-
so crescimento e fidelidade.
4.15 ASSUMIR A RESPONSABILIDADE PESSOAL
DA FORMAÇÃO
170. Não basta ter boas equipes de formadores e guias espi-
rituais bem preparados. Como afirmam as nossas Constituições
“cada salesiano assume a responsabilidade da própria formação”
(C 99) e deve tomar a decisão consciente e convicta de abrir-se
aos seus guias de modo que “se conheça e se deixe conhecer,
relacionando-se de modo sincero e transparente com os forma-
dores”.22
22 Ver O dom da vocação presbiteral 129.

13.4 Page 124

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A comunidade e os formadores têm o próprio papel importante
e sabemos que não existem comunidades e guias perfeitos. Mas
nada pode substituir o que é confiado à resposta livre de cada
um. Mesmo o melhor guia não será capaz de ajudar alguém que
não está pronto para se abrir, compartilhar sinceramente sua ex-
periência e iniciar um processo de crescimento. Da mesma for-
ma, se as motivações básicas da pessoa não são sinceras e a
simulação for deliberadamente adotada como uma maneira “para
sobreviver”, o dano ao discernimento e ao processo de formação
é incalculável e é uma responsabilidade séria assumida pela pró-
pria pessoa.
123
Quando, porém, há plena disponibilidade e prontidão para um
completo envolvimento em resposta ao chamado “em diálogo
com o Senhor”, então aprendemos “a viver com interesse forma-
tivo qualquer situação” (C 119).
171. A carta sobre a “fragilidade vocacional” (ACG 385) ajudou
a refletir sobre as raízes, as expressões e as causas dessa fragi-
lidade, e sugeriu várias intervenções, muitas das quais são en-
contradas neste nosso presente documento: atenção à animação
vocacional e ao acompanhamento dos que se sentem chamados
à vida consagrada salesiana, atenção ao pré-noviciado, uma me-
todologia formativa personalizada que favoreça o acompanha-
mento pessoal, o fortalecimento da equipe de formadores e a
vida comunitária. A carta “Fidelidade vocação” (ACG 410) convi-
dou cada irmão a revisitar a história da própria vocação, reforçar
a consciência da sua identidade consagrada, responsabilizar-se
pela sua maturidade humana, pela sua vida espiritual, pelo seu
empenho apostólico e pela sua formação intelectual, adquirir a
mentalidade da formação que é permanente e assumir a própria
responsabilidade nessa formação que dura a vida toda. Também
evidenciou o papel vital da comunidade local e inspetorial sobre
a fidelidade vocacional.
A grande insistência deste documento sobre a qualidade e
formação dos formadores e dos guias espirituais não difere de
forma alguma da realidade fundamental, ou seja, que toda for-
mação é, em última análise, “autoformação” (PDV 69). Na dinâ-
mica de graça e liberdade que está no centro do crescimento
vocacional e na relação de acompanhamento espiritual pessoal,
permanece a responsabilidade de cada irmão: ele é o primeiro
a ser convidado a responder, todos os dias, ao chamado do
Senhor (C 96; ACG 416).

13.5 Page 125

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4.16 APRENDER QUE O ACOMPANHAMENTO
CONTINUA A VIDA TODA
172. Todo irmão na formação inicial aprende que a formação é
permanente. Aprende que também o acompanhamento espiritual
pessoal dura a vida toda.
Nossas Constituições falam da direção espiritual como um dos
meios à disposição de todos os irmãos para crescer na castida-
de: “entrega-se com simplicidade a um guia espiritual” (C 84).
124
Nossos Regulamentos também fazem referência à direção espi-
ritual como um dos elementos da formação permanente (R 99).
173. O CG26 e o CG27 convidaram os salesianos (todos!) a
uma experiência regular de acompanhamento espiritual. O CG26
pediu que cada salesiano, para fazer do Da mihi animas cetera
tolle o programa pessoal de vida espiritual e pastoral, “retome ou
reforce a prática de fazer-se acompanhar por um guia espiritual
que reflita a experiência de Dom Bosco” (CG26 20). O CG27 pro-
pôs que, para sermos místicos no Espírito e vivermos com paixão
o seguimento de Jesus, comprometemo-nos a “ter um guia espi-
ritual estável e referir-nos a ele periodicamente” (CG27 67.2). Te-
mos nisso um ótimo exemplo em Dom Bosco: ele foi guiado por
quase 30 anos por Cafasso, até sua morte prematura aos 49 anos
de idade, e, antes dele, por uma série de outros acompanhantes
espirituais, a começar pelo bom Padre Calosso.
174. O diretório para o ministério e a vida dos presbíteros
(2013) fala da necessidade de os sacerdotes procurarem um guia
espiritual para si mesmos:
Para contribuir ao melhoramento da sua espiritualidade, é ne-
cessário que os presbíteros recebam eles mesmos a direção es-
piritual, porque «com a ajuda do acompanhamento ou conselho
espiritual [...] é mais fácil discernir a ação do Espírito Santo na
vida de cada indivíduo». Colocando nas mãos dum sábio colega
– instrumento do Espírito Santo – a formação da sua alma, a partir
dos primeiros anos de ministério, crescerão na consciência da
importância de não caminhar sozinhos pelos caminhos da vida
espiritual e do empenho pastoral. 23
23 Congregação para o Clero, Diretório para o ministério e a vida dos presbíteros, nova
edição, Libreria Editrice Vaticana, Cidade do Vaticano 2013, 73. A citação interna é
da Congregação para o Clero, O sacerdote ministério da misericórdia divina. Subsídio
para confessores e diretores espirituais (9 de março de 2011) 98.

13.6 Page 126

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Estamos assistindo aqui e nos ensinamentos de Bento XVI e de
Francisco, uma expansão do que foi dito em Vita Consecrata, em
que João Paulo II falara de “um apelo humilde e confiante à dire-
ção espiritual” como uma grande ajuda no caminho da fidelidade
rumo ao Evangelho, “especialmente no período da formação e
em certos momentos da vida” (VC 95).
Portanto, o acompanhamento espiritual pessoal não é entendi-
do apenas como ajuda para administrar as crises; seu propósito
é o crescimento contínuo em Cristo. Assim como a formação é
permanente, também o acompanhamento espiritual pessoal é
125
permanente.
4.15 A URGÊNCIA DE ESCOLHER E PREPARAR
GUIAS ESPIRITUAIS
Uma boa seleção
O bom acompanhante é uma pessoa equilibrada, que sabe
escutar, uma pessoa de fé e de oração, que se confrontou com
as suas próprias fraquezas e fragilidades. Por isso, sabe ser aco-
lhedor dos jovens que acompanha, sem moralismos nem falsas
condescendências. Quando é necessário, sabe oferecer também
uma palavra da correção fraterna.
A consciência de que acompanhar é uma missão que exige
uma profunda radicação na vida espiritual há de ajudá-lo a
manter-se livre em relação aos jovens que acompanha: respei-
tará o êxito do percurso deles, assistindo-os com a oração e
regozijando-se com os frutos que o Espírito produz naqueles
que lhe abrem o coração, sem procurar impor-lhes a sua von-
tade nem as suas preferências. De igual modo, será capaz de
se colocar ao serviço, em vez de ocupar o centro da situação
assumindo atitudes possessivas e manipuladoras que criam,
não liberdade, mas dependência nas pessoas. Este respeito
profundo será também a melhor garantia contra os riscos de
imitação servil e de abusos de todos os tipos (DF 102; ver
também CV 246).
Obviamente, tanto salesianos presbíteros como coadjutores
podem oferecer o serviço de acompanhamento espiritual, uma
vez que o serviço de acompanhamento espiritual não está vincu-
lado à ordenação sacerdotal
Este papel [de acompanhante] não deveria ser circunscrito aos
presbíteros e aos religiosos, mas também o laicato deveria po-

13.7 Page 127

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der exercê-lo. Todos estes guias deveriam poder beneficiar duma
boa formação permanente.24
Preparação específica
176. Uma cuidadosa seleção não torna menos necessária a
preparação específica dos guias espirituais. Quem tem esse dom
se beneficia da preparação específica para o seu serviço, da
mesma maneira quem tem talento musical pode desenvolvê-lo,
graças à própria formação específica que receberá nesse parti-
126
cular campo artístico.
Para poder desempenhar o seu serviço, o acompanhante pre-
cisará cultivar a sua vida espiritual, alimentando a relação que o
une Àquele que lhe confiou a missão... Será importante que re-
ceba uma formação específica para este ministério particular (DF
103, ver também CV 246).
O acompanhamento pessoal salesiano não pode ser improvisa-
do: exige fortes raízes no carisma e, ao mesmo tempo, uma ca-
pacidade constantemente atualizada de ouvir as novas gerações,
tão expostas à mudança
Formação permanente dos formadores
177. Obviamente, aqueles que oferecem o serviço de acom-
panhamento espiritual devem cuidar de própria formação perma-
nente. Acima de tudo, significa que eles devem ser os primeiros
a ser fiéis e dar grande valor ao seu acompanhamento pessoal.
Este ponto é tão importante que requer um ulterior desenvolvi-
mento no parágrafo seguinte,
Guias que são guiados
178. Como todos os irmãos, aqueles que oferecem o serviço
de acompanhamento espiritual precisam ser eles próprios acom-
panhados.
O Papa Francisco usa a imagem de “guias que são guiados”.25
A Evangelii gaudium é muito clara sobre esse ponto: “Hoje mais
do que nunca precisamos de homens e mulheres que conheçam,
24 CV 246, citando o documento pré-sinodal. Ver também IL 126 e o Discurso do Santo
Padre Francisco aos participantes da plenária da Congregação para os Institutos de
Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, Sábado 28 de janeiro de 2017.
25 Francisco, homilia no 19º Dia para a Vida Consagrada, 2 de fevereiro de 2015.

13.8 Page 128

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a partir da sua experiência de acompanhamento, o modo de pro-
ceder onde reine a prudência, a capacidade de compreensão, a
arte de esperar, a docilidade ao Espírito” (EG 171). “A experiên-
cia pessoal de nos deixarmos acompanhar e curar, conseguindo
exprimir com plena sinceridade a nossa vida a quem nos acom-
panha, ensina-nos a ser pacientes e compreensivos com os ou-
tros e habilita-nos a encontrar as formas para despertar neles a
confiança, a abertura e a vontade de crescer” (EG 172). O ensi-
namento do Papa Francisco é retomado no documento final do
Sínodo de 2018: “Concluída a fase inicial da formação, é neces-
sário assegurar a formação permanente e o acompanhamento de
127
sacerdotes, consagrados e consagradas, principalmente os mais
jovens. Muitas vezes estes últimos veem-se confrontados com
desafios e responsabilidades desproporcionados” (DF 100).
Supervisão
179. Além do acompanhamento espiritual pessoal, há também
a necessidade de supervisão para o serviço de acompanhamen-
to espiritual que se oferece aos outros: “Será importante que (o
guia)... possa beneficiar, por sua vez, de acompanhamento e su-
pervisão” (DF 103, cursivo acrescentado). A supervisão é neces-
sária porque não se pode esperar que o guia “tenha todas as res-
postas”, e também para as suas reações e dinamismos pessoais
não criarem obstáculo ao seu serviço de acompanhamento.
A supervisão é realizada normalmente com a ajuda de alguém
preparado para essa tarefa, com níveis de qualificação que tam-
bém são oficialmente testados e reconhecidos. No entanto, a su-
pervisão entre colegas também é útil, com a ajuda ocasional de
um especialista. Finalmente, há também um nível de autossuper-
visão que não é apenas útil, mas que todos aqueles que oferecem
acompanhamento espiritual devem aprender a fazer. Comporta a
capacidade de ouvir a si mesmo enquanto ouve a outra pessoa
(uma consciência cada vez maior de si mesmo) e a boa prática
de servir-se do tempo necessário para ponderar pessoalmente as
sessões de escuta logo após a sua conclusão.

13.9 Page 129

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13.10 Page 130

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Terceira parte
129
Escolher

14 Pages 131-140

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14.1 Page 131

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14.2 Page 132

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5. Caminho a trilhar
5.1 SUGESTÕES EMERGENTES
131
180. O itinerário interpretativo seguido até aqui faz emergir
uma série de opções e sugestões para a ação.
Compreende-se, por exemplo, que uma formação inculturada
exige formadores capazes de dialogar com a cultura dos jovens,
a partir dos quais também o convite à Congregação a empenhar-
-se sempre mais para garantir uma comunicação adequada nos
idiomas mais usados, como o inglês.
Sem dúvida, devemos evidenciar melhor no acompanhamen-
to espiritual o aspecto da configuração a Cristo, como pessoas
consagradas que encontram inspiração em Dom Bosco. Também
precisamos investir muito na preparação de formadores e guias
espirituais. Além disso, devemos estar particularmente atentos
à interação dinâmica entre a comunidade e as dimensões pes-
soais do acompanhamento espiritual, selecionando e preparando
cuidadosamente os diretores e, ao mesmo tempo, garantindo a
verdadeira liberdade de escolha do guia espiritual. Além disso,
cientes do grande impacto formativo do nosso envolvimento na
missão salesiana, somos chamados a selecionar formadores
com suficiente experiência pastoral.
Antes de tudo, somos chamados a um profundo respeito pela
dinâmica da graça e da liberdade no centro da formação e do
acompanhamento espiritual. Aqui queremos ‘partir de novo’ do
Sistema Preventivo, que não é apenas pedagogia e espiritualida-
de, mas também modelo de formação, com profundo respeito à
pessoa, e a vontade de acompanhá-la com paciência, em espírito
de família, afeto e amizade. Ao mesmo tempo, aqueles que estão
em formação inicial são colocados diante da importância absolu-
ta de abertura, sinceridade e transparência em todo o processo
de formação e acompanhamento espiritual.

14.3 Page 133

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O papel crucial do pré-noviciado na iniciação do acompanha-
mento pessoal salesiano exige uma atenção contínua a essa fase
de formação, principalmente em termos de uma atenta seleção e
preparação do encarregado e da equipe de formadores. Ao mesmo
tempo, a reflexão sobre o pré-noviciado conscientizou-nos sobre
a estreita ligação entre Pastoral Juvenil e formação, com a neces-
sidade de uma renovação contínua da Pastoral Juvenil Salesiana
e particularmente dos aspirantados, na variedade de suas formas.
181. O exercício da escuta atenta do Espírito que fala por meio
132
de nossos irmãos abre caminho para algumas estratégias am-
plas. Nós os apresentamos nesta terceira parte, juntamente com
sugestões de possíveis linhas de ação que deverão ser concreti-
zadas, contextualizadas e realizadas em nível regional, inspetorial
e local.
5.2. ESTRATÉGIAS
5.2.1 Esclarecer a natureza do acompanhamento
espiritual salesiano
182. A primeira estratégia é esclarecer a natureza do acompa-
nhamento espiritual salesiano.
O presente documento pode ser considerado uma parcela des-
se processo, especialmente na segunda parte, onde procuramos
ler os sinais vindos das vozes dos nossos jovens candidatos e ir-
mãos em formação inicial e dos salesianos que prestam o serviço
de acompanhamento espiritual, à luz do magistério da Igreja e da
nossa tradição salesiana.
Todavia, este é apenas o início do caminho. Ainda se deve fa-
zer muito mais através do aprofundamento, assimilação e cres-
cimento nesta importante área de nossa vida e missão, que é o
acompanhamento espiritual pessoal salesiano. Certamente pre-
cisaremos fazer um investimento generoso de energias para a
formação de formadores e guias espirituais.
5.2.2 Renovação da animação vocacional
e dos aspirantados
183. Outra estratégia fundamental é continuar a renovação
da Pastoral Juvenil e garantir que os aspirantados sejam verda-

14.4 Page 134

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deiramente experiências de discernimento vocacional através do
acompanhamento comunitário, de grupo e pessoal. Segundo as
“Orientações sobre a Experiência do Aspirantado” (prot. 11/0377
- 27 de julho de 2011) consideramos o cuidado dos aspirantados
como uma tarefa conjunta dos dicastérios para a Formação e
para a Pastoral Juvenil.1
É muito importante esclarecer a diferença entre recrutamento
de vocações, acompanhamento e discernimento vocacional, va-
lorizando o que já foi claramente elaborado pela Congregação
e pelos documentos do Sínodo sobre os jovens (Instrumentum
133
Laboris, Documento Final e Christus Vivit).
Como já dissemos (ver acima seção 4.5), há uma relação direta
entre a qualidade da Pastoral Juvenil e a animação vocacional e
os processos de formação inicial. Quanto mais cuidados forem
tomados com o acompanhamento e o discernimento vocacional
antes de ingressar no pré-noviciado, melhor será a capacidade
dos que estão em formação de se beneficiar do que lhes é ofere-
cido, inclusive o acompanhamento espiritual pessoal. Da mesma
forma, quanto melhor a qualidade da formação e o acompanha-
mento espiritual, mais a Pastoral Juvenil será povoada por sale-
sianos capazes de um bom acompanhamento dos jovens, até a
descoberta da sua vocação e a responder-lhe com entusiasmo
generoso.
Sugestões para linhas de ação contextualizadas nas
regiões, inspetorias e comunidades locais
1. Estudo e avaliação, pela Pastoral Juvenil inspetorial e pelas co-
missões para a formação, sobre si e como o acompanhamento
pessoal salesiano é realmente parte do trabalho educativo-pasto-
ral comum das obras salesianas.
2. Estudo e avaliação, por aqueles que estão mais diretamente
envolvidos na Pastoral Juvenil, na animação vocacional e na for-
mação inicial, da animação vocacional em nível inspetorial e re-
gional, à luz do que emerge destas orientações e diretrizes.
3. Avaliação do estudo da teologia pastoral e do modo com que
as atividades pastorais são realizadas durante a formação espe-
cífica, à luz deste estudo. A preparação gradual para o serviço de
acompanhamento pessoal é um aspecto qualificante da forma-
ção específica salesiana.
1 Ver Attard e Cereda, prot. 11/0377 de 27 de julho de 2011.

14.5 Page 135

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4. Favorecer a regularidade e a qualidade do acompanhamento
espiritual pessoal no aspirantado, mediante itinerários de forma-
ção e momentos de avaliação
5.2.3 Adotar o Sistema Preventivo como nosso
modelo de formação
184. Recomeçar do Sistema Preventivo não é tanto uma es-
tratégia quanto um processo de conversão ou de renovação es-
134
piritual. É retornar às nossas raízes carismáticas, especialmente
àquele testamento inspirador que Dom Bosco nos deixou na car-
ta de Roma de maio de 1884.
Envolve a migração de um modelo de formação que se con-
centra na conformidade exterior e nas mudanças comporta-
mentais, para um processo de acompanhamento comunitário
e pessoal que reconheça e respeite a dinâmica da graça e da
liberdade. Tendências para lamentar-se e fazer julgamentos
fáceis devem ser substituídas pela capacidade de valorizar e
apreciar os jovens confiados às comunidades e equipes de for-
mação. A formação é questão de iniciar processos, em vez de
tentar dominar espaços.
Aqueles aos quais é confiado o serviço da formação são cha-
mados a cuidar de si mesmos e a melhorar e harmonizar a sua
personalidade, para ser de ajuda e não obstáculo aos processos
educativos. Os que oferecem o serviço de orientação espiritual
pessoal devem estar constantemente cientes de que o acompa-
nhamento é um “empreendimento a três” e que devem aprender
a desempenhar seu papel secundário de instrutores e guias, a
serviço do encontro entre graça e liberdade.
O acompanhamento de pessoas consagradas que seguem a
Cristo obediente, pobre e casto vai às raízes das motivações e
envolve a totalidade do caminho vocacional em seu presente,
passado e futuro. Sem um relacionamento marcado por uma au-
têntica confiança recíproca, não pode ocorrer o compartilhamen-
to nesse nível profundo e a ajuda que pode ser dada ou recebida
será mínima, se não insignificante.
185. O Sistema Preventivo também nos chama a viver verda-
deiramente o espírito de família. O acompanhamento comunitá-
rio, formal e informal, é como o outro lado da moeda em relação
ao acompanhamento espiritual pessoal, igualmente essencial. A
presença e a proximidade dos que estão em formação são ne-

14.6 Page 136

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cessárias para criar um clima de confiança e familiaridade que,
em seguida, chega à maturidade no acompanhamento espiritual
pessoal. Ele caminha pari passo com o aprendizado de ouvir os
jovens, não apenas no relacionamento individual, mas também
nas comunidades, inspetorias, regiões e na Congregação, pas-
sando da comunicação unidirecional ao diálogo autêntico e do
ser formadores que se limitam a ensinar a formadores que tam-
bém participam de momentos de lazer e trabalho.
Sugestões para linhas de ação contextualizadas nas
135
regiões, inspetorias e comunidades locais
1. Liberdade, responsabilidade, confiança são elementos-cha-
ve para qualquer itinerário de crescimento e resposta vocacio-
nal. Instrumentos para melhorar a compreensão e o exercício
corretos de liberdade, responsabilidade e confiança (cursos,
seminários, ajudas...) podem ser oferecidos em particular
àqueles que estão no início do caminho – aspirantes, pré-no-
viços, noviços.
2. A comissão de formação e o Conselho inspetorial podem
fazer um atento discernimento/avaliação do pessoal salesiano
ao qual os candidatos e irmãos em formação inicial podem
dirigir-se para o acompanhamento pessoal (proximidade, dis-
ponibilidade, preparação, etc.), incluindo nessa avaliação tam-
bém as comunidades com irmãos em tirocínio.
3. Sessões de formação para os diretores e irmãos que atuam no
ministério de acompanhamento podem ser organizadas em nível
inspetorial ou interinspetorial, com o objetivo de ajudar a com-
preender bem a diferença entre colóquio com o diretor e acom-
panhamento espiritual pessoal, para promover cada uma dessas
duas preciosas e distintas formas de ajuda ao crescimento.
4. As comissões inspetoriais para a formação podem estudar iti-
nerário de avaliação do nível de confidencialidade e respeito da
prudência nos processos de acompanhamento pessoal de can-
didatos e irmãos, e organizar sessões de formação, com a fina-
lidade de promover o valor e a prática fiel da confidencialidade.
5. Com a ajuda da comissão para a formação o inspetor pode
rever o plano de qualificação inspetorial para os formadores,
avaliando as capacidades de relações humanas significativas
dos irmãos interessados, e olhando em especial para o modo
como eles viveram o tirocínio e o quinquênio.

14.7 Page 137

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6. Poder-se-iam propor iniciativas em vários níveis (universida-
de, centros de formação permanente, centros de estudos sa-
lesianos, etc.) para refletir sobre a renovação da formação em
resposta às mudanças geracionais e contextuais, envolvendo
os jovens irmãos em formação inicial.
5.2.4 Assumir a responsabilidade
do acompanhamento da comunidade
136
186. Garantir um adequado acompanhamento na formação
inicial envolve investir na formação de diretores de casas de
formação e comunidades com tirocinantes. Também envolve
esforços para garantir que os professores de nossos centros de
estudo de filosofia e teologia se conscientizem plenamente de
que são sempre, em todos os casos, também formadores.
187. Os processos de formação receberiam considerável en-
riquecimento qualitativo se fossem capazes de incluir de várias
maneiras pessoas dos três estados de vida: consagrados, sa-
cerdotes e leigos, garantindo a presença de mulheres e casais
(DF 163-164). Naturalmente, a Congregação pede que os irmãos
salesianos façam parte das equipes de formação, com prepara-
ção adequada para a formação e o acompanhamento espiritual.
188. O colóquio com o diretor pode ser redescoberto em todo
o seu potencial, como instrumento precioso para a construção da
comunidade, ainda mais quando ele se distingue claramente da di-
reção espiritual (ver acima seções 4.7 e 4.9). A paternidade, no en-
tanto, também envolve responsabilidade, e para aqueles que preci-
sam dar passos importantes no discernimento vocacional, o diretor
continua a ser um ponto de referência fundamental, como promotor
e guarda do carisma em nome de toda a Congregação; ele tem uma
responsabilidade direta com cada irmão e sua vocação (C 55).
Por isso, o acompanhamento pessoal salesiano não pode ser re-
duzido a uma experiência particular. Ele sempre reflete a vida vivida
em comunidade e para essa vida orientará todas as pessoas, incen-
tivando um diálogo contínuo com os irmãos e, em particular, com
o irmão a quem foi pedido para realizar o serviço de pai da família.
189. Como o salesiano não é apenas membro de uma co-
munidade religiosa, mas também de uma comunidade educa-
tivo-pastoral,2 a experiência de acompanhamento será condi-
2 O diretor salesiano (2019) 121-123.

14.8 Page 138

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cionada, enriquecida e moldada pela interação com os leigos
que participam estreitamente da nossa missão educativa e com
todos aqueles com quem somos chamados a cooperar. A con-
tribuição dos diversos estados de vida da Igreja é um tesouro
precioso, e todos devemos aprender a ser membros da Igre-
ja que é comunhão, em que todo estado de vida tem seu pa-
pel e sua tarefa em relação aos outros e a serviço deles. Como
membros da comunidade religiosa salesiana, também devemos
aprender a desempenhar nosso papel de “ponto carismático de
referência” no interior da comunidade educativo-pastoral.
137
Sugestões para linhas de ação contextualizadas nas
regiões, inspetorias e comunidades locais
1. Investir na formação dos diretores das casas de formação,
compreendidas as comunidades com tirocinantes.
2. Valorizar o mais possível o projeto comunitário e o projeto
pessoal de vida, as assembleias comunitárias e as reuniões do
Conselho local, como instrumentos importantes de acompa-
nhamento espiritual da comunidade.
3. Dedicar tempo aos encontros de comunidade a fim de re-
fletir sobre a qualidade da vida comunitária e sobre o colóquio
com o diretor, como instrumento para construir a comunidade.
4. Criar cursos em nível inspetorial ou interinspetorial para as
equipes de formadores do aspirantado, do pré-noviciado e do
noviciado, a fim de potencializar as atitudes que contribuem
para criar um bom ambiente familiar que, por sua vez, favorece
um bom nível de acompanhamento pessoal.
5. Cuidar da iniciação de aspirantes, pré-noviços e noviços ao
acompanhamento pessoal e à prática do diário pessoal, através
de seminários e com instrumentos pedagógicos adequados.
6. Propor momentos de capacitação para as equipes de for-
mação com a finalidade de melhorar o modo com que são
realizadas as avaliações periódicas.
7. Cuidar da iniciação inicial ao trabalho apostólico de quem está
em formação nas comunidades educativo-pastorais salesianas.
8. Indicar explicitamente na carta de obediência dos irmãos en-
carregados do ensino nos centros para o estudo da filosofia e da
teologia que são, ao mesmo tempo, professores e formadores.

14.9 Page 139

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5.2.5 Garantir a liberdade no acompanhamento
espiritual pessoal
190. Há vários fatores envolvidos para garantir a liberdade que
está no centro do processo de acompanhamento espiritual: a li-
berdade na escolha do guia espiritual, o modelo de formação que
seja expressão do Sistema Preventivo, a personalidade e prepa-
ração do diretor ou quem é o primeiro responsável.
Nossas Constituições e Regulamentos além da Ratio, como vi-
138
mos, são prudentemente cuidadosos em manter aberta a janela
da liberdade de escolha, mas a linguagem utilizada tende a dar
um acentuado peso à escolha do diretor como guia espiritual:
o diretor é “ordinariamente” o guia, proposto não imposto, age
como mestre dos noviços... (ver as seções acima 2.3.7 e 4.6). Es-
pecialmente nas áreas em que a formação é mais conformadora
do que transformadora, isso tende a ser interpretado de maneira
incorreta, tanto por aqueles que exercem o serviço de autoridade
quanto por aqueles em formação inicial.
191. A fim de evitar essas situações, que têm porte incidência
na maior parte dos formandos da nossa Congregação, propomos
as seguintes modificações da Ratio.
TEXTO ATUAL: “Ele é responsável pelo processo formativo
pessoal de cada irmão. É também o diretor espiritual proposto,
não imposto, aos irmãos em formação” (FSDB 233).
TEXTO PROPOSTO: “Ele é responsável pelo processo for-
mativo pessoal de cada irmão. Se o irmão o desejar, o diretor
também pode oferecer o serviço de acompanhamento espiri-
tual pessoal” (FSDB 233).
TEXTO ATUAL: “O Diretor continua a ação do mestre de novi-
ciado. Com sabedoria e bom senso ele anima o ambiente e o
caminho da comunidade, acompanha e ajuda os pós-noviços
particularmente mediante o acompanhamento pessoal e o co-
lóquio, a direção espiritual de consciência e as conferências
periódicas” (FSDB 417).
TEXTO PROPOSTO: “O Diretor continua a ação do metre de
noviciado. Com sabedoria e bom senso ele anima o ambiente
e o caminho da comunidade, acompanha e ajuda os pós-novi-
ços particularmente mediante o acompanhamento pessoal e o
colóquio, as conferências periódicas e, se o jovem irmão o de-
sejar, também a direção espiritual de consciência” (FSDB 419)

14.10 Page 140

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192. Esta proposta não muda nada em nossa venerável tra-
dição salesiana. Continua uma verdade que Dom Bosco não era
apenas superior, mas também confessor e guia espiritual para
seus jovens e seus salesianos. E era assim que ele desejava que
seus diretores fossem. É igualmente verdade que, por vontade
da Igreja, aceitamos que os diretores não pudessem mais ou-
vir ordinariamente as confissões de quem era confiado aos seus
cuidados, sejam jovens ou irmãos. O diretor salesiano continua,
porém, a ser o guia espiritual da comunidade, com uma respon-
sabilidade especial em relação a cada irmão, com quem se en-
contra regularmente para o colóquio, e quando algum irmão pede
139
livremente que ele também seja seu guia espiritual, assume de
boa vontade essa responsabilidade.
Colocamos, portanto, a nossa confiança no Sistema Preventivo,
com o desejo de trabalhar para a atuação sempre mais completa
dessa admirável cristalização das intuições pedagógicas de Dom
Bosco, em que a confiança e a confidência são merecidas, não
impostas. Estamos fazendo a migração de um sistema ligado a
normas a uma consonância mais forte com o espírito do Sistema
Preventivo, expresso com intensidade na carta de Roma.
193. O ponto-chave está, portanto, no modo de alterar os mo-
delos operativos de formação, a fim de torná-los bem compatíveis
com o Sistema Preventivo, e no modo de tornar ao menos mais
provável a presença de formadores e guias capazes de inspirar con-
fiança, respeitando plenamente a liberdade daqueles que lhes são
confiados. Devemos incentivar e apoiar processos de animação e
formação de formadores e guias espirituais, bem como de bom go-
verno, onde se tomam decisões na escolha de pessoas para a tarefa
de formação e guia, e se investe sabiamente em sua preparação.
Essa é a estratégia central para enfrentar o difícil e debatido
problema da fusão de papéis, da sobreposição entre autoridade
e acompanhamento espiritual, que pode levar ao medo, à con-
formidade exterior e, em geral, ao esvaziamento do verdadeiro
significado e fecundidade dos processos de formação e, em par-
ticular, de acompanhamento espiritual.
194. Obviamente, garantir a liberdade de escolha do guia espi-
ritual é apenas um lado da moeda. Se a pessoa em formação não
decide ser aberta e transparente com o seu guia, o processo de
acompanhamento espiritual pessoal fica viciado por dentro e se
torna inútil. Na dinâmica da graça e da liberdade, a responsabili-
dade de cada pessoa nunca é subtraída ou diminuída (ver acima
a seção 4.16).

15 Pages 141-150

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15.1 Page 141

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195. A livre escolha do guia espiritual no pré-noviciado é um
ponto particularmente delicado, como já dissemos (ver acima a
seção 4.4). Antes de tudo, devemos garantir que o genuíno espí-
rito de família e a prática do Sistema Preventivo prevaleçam nos
nossos pré-noviciados, sobretudo com uma cuidadosa atenção
na composição das equipes de formação e com a preparação
prévia dos formadores e, em particular, do encarregado dos pré-
-noviços. Em uma atmosfera de confiança recíproca, é possível
ganhar a confiança dos jovens, garantindo-lhes uma liberdade
básica na escolha do seu guia. O inspetor e o delegado inspeto-
140
rial para a formação farão a sua parte sobre o papel delicado e
crucial do responsável, especialmente no que diz respeito ao dis-
cernimento vocacional. Um ponto correlato para garantir a liber-
dade de escolha do guia espiritual é garantir que os membros da
equipe dos formadores sejam especificamente preparados para
o acompanhamento espiritual e que haja entre eles ao menos um
confessor que não participe do Conselho local.
196. O guia espiritual deve ser escolhido entre os formado-
res da equipe da comunidade, e deve ser necessariamente um
salesiano? Também neste caso, o princípio básico é o mesmo:
é melhor confiar mais na qualidade salesiana dos formadores e
da comunidade do que em uma regra ou diretriz. No entanto,
também é importante garantir dois outros elementos: que o guia
escolhido seja alguém familiarizado com o nosso carisma e es-
piritualidade e que possa ser encontrado regularmente. Numa
relação caracterizada pela confiança e confidência recíprocas, o
diretor sabe como dialogar e discernir com o irmão em formação
também sobre a escolha do seu guia espiritual.
5.2.6 Reforçar a figura e o papel do diretor
197. Já dissemos que o diretor continua a ser o responsável
pelo acompanhamento formativo, comunitário e pessoal, e que ele
tem uma responsabilidade particular pela vocação de cada irmão
(C 55). Ainda mais, o peso carismático salesiano próprio da figura
do diretor deve ser ainda mais valorizado, pedindo dele que seja,
com sua equipe de formadores, real e plenamente os salesianos
que professaram ser. Garantir uma liberdade genuína na escolha
do guia espiritual não pode resultar em rebaixar os padrões na es-
colha dos diretores. A orientação a seguir é exatamente oposta:
todos os nossos diretores, e com maior razão os das comunidades
de formação, são chamados a exercer a sua paternidade e autori-
dade de modo que os irmãos sejam levados a abrir-lhes o coração,
como acontecia com Francisco de Sales e com Dom Bosco.

15.2 Page 142

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O inspetor e o delegado inspetorial para a formação são enco-
rajados a apresentar com clareza aos irmãos na formação inicial
a figura, o papel e as responsabilidades do diretor, garantindo a
verdadeira liberdade de escolha do guia espiritual. Os que ofere-
cem o serviço de acompanhamento espiritual, por sua vez, sem-
pre podem sugerir, especialmente em momentos mais relevantes
para o discernimento vocacional, que conversem com o diretor
e/ou o inspetor.
Sugestões para linhas de ação contextualizadas nas
141
regiões, inspetorias e comunidades locais
1. Os inspetores são chamados a escolher como diretores das
comunidades de formação irmãos exemplares pela sua vida
de fé e com suficiente experiência pastoral salesiana, capa-
zes de autêntico diálogo com os jovens irmãos e comunicar
vitalmente o ideal salesiano (C 104). Garantam para eles uma
preparação adequada, a fim de favorecer maximamente uma
relação de confiança recíproca com os formandos.
2. O diretor permanece como guia espiritual da comunidade,
animando-a com conferências, boas-noites, encontros, a re-
dação do projeto comunitário, etc.
3. O inspetor e o diretor empenham-se para que a dimensão
carismática da formação seja adequadamente vivida e conser-
vada.
4. Quando solicitado por um irmão, o diretor oferecerá de boa
vontade o serviço de acompanhamento espiritual pessoal.
5. O diretor convoca periodicamente as reuniões da equipe de
formação, incluindo também quem presta o serviço de guia
espiritual, de modo a garantir a unidade da formação e dar
espaço para a participação nas dificuldades e nos desafios no
campo da formação e do acompanhamento.
6. Conhecendo a importância da presença salesiana, o diretor
estará atento a não assumir compromissos que o levem a ficar
com frequência ausente da comunidade.
7. O diretor fará o possível para estar disponível ao colóquio
pessoal com os irmãos, em particular aqueles em formação
inicial (C 70, R 49 e R 79).

15.3 Page 143

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5.2.7 Preparação de formadores e guias
espirituais
198. A formação e a preparação de guias espirituais e for-
madores (diretores de casas de formação e equipes de forma-
dores, diretores de comunidades com tirocinantes e irmãos do
quinquênio, confessores) é claramente uma estratégia de im-
portância fundamental para fortalecer e melhorar a qualidade
do acompanhamento espiritual pessoal. Já vimos que o Do-
cumento Final do Sínodo sobre os jovens insiste na necessi-
142
dade de uma formação específica de guias espirituais (DF 103
e acima, seção 3.13). Poderíamos ler as três propostas do n.
164 do Documento Final, dirigidas não apenas aos que estão
em formação, mas também aos próprios formadores: (1) for-
mação de guias espirituais feita conjuntamente entre leigos e
sacerdotes; (2) inclusão no currículo de cursos e experiências
de pastoral juvenil; (3) inserção gradual na vida e nas atividades
de comunidades educativo-pastorais. Quem exerce o papel de
guia ou acompanhante deve desenvolver a capacidade de exer-
cê-lo com autoridade, mas não de modo autoritário; deve su-
perar toda tendência ao clericalismo; ser capaz de trabalhar em
equipe; ter uma sensibilidade particular em relação aos pobres,
transparência de vida e, novamente, vontade de ser por sua vez
acompanhado (DF 163).
199. Embora o tema da afetividade e do desenvolvimento
humano possa não ter emergido explicitamente nestas Orien-
tações e Diretrizes, o ponto central deste documento é ofere-
cer as condições que permitirão aos que estão em formação
falar livremente sobre o que trazem em seus corações, tam-
bém sobre a afetividade, a sexualidade e os relacionamentos.
Nos últimos seis anos, o dicastério para a formação estimulou
as regiões a elaborarem programas de educação à sexualida-
de, à afetividade e à castidade consagrada. Obviamente, os
programas por si só não são suficientes; precisamos de for-
madores capazes de aplicá-los e, acima de tudo, de formado-
res capazes de criar espaços onde os que estão em formação
possam ficar à vontade, sentir-se seguros e ter a coragem de
abrir o diálogo mesmo sobre o que é mais íntimo e pessoal.
O desafio à Congregação não é tanto falar sobre afetividade
e maturidade humana, mas criar as condições para que esse
crescimento possa realmente acontecer.
Durante muito tempo, focamos a nossa atenção sobre os for-
mandos; agora estamos aprendendo a fechar o círculo, voltando
nossa atenção recíproca também aos formadores, na convicção

15.4 Page 144

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de que a formação acontece na relação entre os que estão em
formação e os formadores, na interação entre aspectos pes-
soais e comunitários, e onde esse “nós” encontra a sua casa no
Nós de Deus.3
Sugestões para linhas contextualizadas de ação nas
regiões, inspetorias e comunidades locais
1. Promover processos e iniciativas em nível de Congregação,
143
regiões e inspetorias para a formação de formadores com os
seguintes objetivos e finalidades:
- dar atenção à interioridade dos formadores, no plano hu-
mano e espiritual, e à sua capacidade de diálogo, para serem
mais bem preparados a relacionar-se com a dimensão afetivo-
-humana e com a cultura dos formandos, sempre mais multi-
cultural e digital;
- apoiar a aquisição de competências e habilidades dos forma-
dores para serem capazes de ajudar a crescer no conhecimen-
to de si e no “aprender da experiência”, de modo a discernir
nela a voz do Espírito (C 98, 119);
- ajudar os formadores a terem uma percepção holística do
acompanhamento espiritual, capaz de chegar à totalidade da
pessoa na sua dimensão física, emotivo-afetiva, comunitária,
intelectual, pastoral e espiritual, preparando-os assim a serem
acompanhados e acompanhar;
- aprender a administrar a afetividade em si mesmos, para se-
rem de ajuda aos jovens a eles confiados.
2. Promover na inspetoria a cultura da formação inspirada no
Sistema Preventivo, com atenção aos seguintes aspectos:
- a unidade das esquipes de formadores com o diretor;
- a necessidade para todos os irmãos, especialmente os for-
madores e quem presta o serviço de acompanhamento pes-
soal, de terem os próprios guias espirituais, seguindo o exem-
plo do mesmo Dom Bosco, o recente magistério eclesiástico
(incluído o Sínodo sobre os jovens) e os Capítulos Gerais 26 e
3 Expressão extraordinária de J. Ratzinger, “On the Understanding of ‘Person’ in The-
ology,” Dogma and Preaching: Applying Christian Doctrine to Daily Life, ed. Michael J.
Miller (San Francisco: Ignatius Press, 2011) 195.

15.5 Page 145

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27 (ver acima a seção 4.15); este pode ser um ponto específico
de avaliação com os membros da equipe de formação durante
a visita canônica;
- ideias claras e convicções sobre a discrição relativas a vários
contextos: o sacramento da Reconciliação, o acompanhamen-
to espiritual pessoal, o colóquio com o diretor, o acompanha-
mento psicológico;
- distinção entre avaliações periódicas e procedimentos se-
guidos para as admissões, refletindo sobre a finalidade e as
144
modalidades das avaliações, envolvendo os formandos no
processo de avaliação;
- garantir que os formadores e os guias espirituais disponham
de tempo suficiente para o acompanhamento.
3. Algumas opções envolvem diretamente o nível de decisão
nas inspetorias:
- escolher os formadores que tiveram uma boa experiência da
prática do Sistema Preventivo no tirocínio (ver C 115), mais do
que concentrar-se principalmente naqueles que tiveram bons
resultados nos estudos filosóficos e teológicos;
- indicar os melhores guias para as fases iniciais (aspirantado,
pré-noviciado), de acordo com a natureza muito delicada e ao
mesmo tempo decisiva dessas fases.
4. Solicitar que o curso de formação para formadores, de qua-
tro meses, na UPS seja oferecido também em inglês, preferi-
velmente no primeiro semestre.
Escola salesiana de acompanhamento
200. Na área da formação de guias espirituais, uma linha im-
portante de ação-chave em nível de Congregação é criar uma
escola salesiana de acompanhamento pessoal, em sinergia com
o que está sendo feito nas várias regiões. O objetivo é ativar pro-
cessos e oferecer instrumentos para ajudar irmãos e leigos a se-
rem especialistas na arte do acompanhamento pessoal espiritual
salesiano. As modalidades devem levar em consideração a varie-
dade dos contextos em que o carisma salesiano está em ação,
garantindo que aqueles que se qualificam nessa área se tornem
propagadores do dom recebido em seu ambiente de origem.
Esta escola será conduzida em várias línguas e pretende valorizar
plenamente o potencial carismático dos lugares santos salesianos.

15.6 Page 146

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Planos de qualificação inspetorial para a preparação de guias
espirituais
201. Pede-se aos inspetores e aos curatorium das casas de for-
mação interinspetoriais para prepararem cuidadosamente os irmãos
(e outros) para o serviço de acompanhamento espiritual. Isso sig-
nifica preparar guias espirituais, confessores e também diretores.
Essas opções e decisões são cruciais, com efeitos de longo prazo:
incidem fortemente na identidade salesiana e na maneira como rea-
lizamos a nossa missão. Portanto, não são apenas os jovens em
formação inicial que se beneficiam, mas também todos os irmãos
145
da inspetoria. Não deveríamos mais ouvir esta reclamação: “Não sei
a quem recorrer para ter um guia. Não há irmãos preparados”.
Pede-se aos inspetores, na própria inspetoria e nos curatorium,
que redija e atualize periodicamente os planos de qualificação
que incluam a preparação de irmãos para o serviço de acompa-
nhamento espiritual.
202. Os estatutos dos curatorium devem ser revistos para ga-
rantirem a contribuição de todas as inspetorias participantes na
seleção e preparação de formadores, professores e guias espi-
rituais. Por “inspetorias participantes” entendam-se as inspeto-
rias que fizeram, opção declarada em seu diretório inspetorial por
uma determinada casa de formação. Tais opções não excluem a
possibilidade de enviar irmãos a outras casas de formação, onde
não há a obrigação de participar do curatorium e contribuir com
pessoal para a equipe de formadores.
Procedimento a seguir para a nomeação dos diretores das
casas de formação e dos mestres dos noviços
203. Sugerimos que o Reitor-Mor e seu conselho promulguem
uma linha normativa segundo a qual os diretores das casas de
formação e os mestres de noviciado serão nomeados apenas se
tiverem uma preparação preliminar para o serviço de formação
a que são chamados. O formulário de designação deve indicar
esse requisito.
Projetos formativos e processos de formação
204. Através de organismos como as comissões regionais de
formação, o dicastério para a formação iniciará um processo de
estudo e atualização dos projetos locais de formação, a fim de
garantir a inclusão de processos pedagógicos adequados para o
crescimento na fé e no carisma.

15.7 Page 147

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5.2.8 Fazer com que o acompanhamento
espiritual seja permanente
205. Se a formação é permanente, também o acompanhamen-
to pessoal é permanente (ver acima seção 4.16). Todos os sale-
sianos são, pois, convidados a ter um guia espiritual estável e a
fazer tesouro do acompanhamento espiritual pessoal regular.
Se o acompanhamento pessoal é necessário durante a forma-
ção inicial, é ainda mais necessário quando a concluímos, pois,
146
a partir desse momento estamos expostos a situações de vida
muito mais exigentes, com grande responsabilidade pela vida e
pelo crescimento de muitas outras pessoas. Assim como hoje a
supervisão é imprescindível para ajudar as profissões, o acom-
panhamento pessoal é para nós a maneira normal de crescer em
nossa vocação, qualquer que seja a tarefa apostólica específica
que nos foi atribuída. Mais uma vez, a experiência do nosso Fun-
dador é extremamente significativa. A presença do Padre Cafas-
so foi muito mais importante e relevante para a vida e a missão de
Dom Bosco após a sua ordenação sacerdotal em 1841 do que na
sua formação inicial. Vai nessa mesma direção o encorajamento
dirigido pelo Papa Francisco a todos os sacerdotes na carta que
lhes endereçou no dia 4 de agosto de 2019, 160º aniversário da
morte de São João Maria Vianney:
“Gostaria de vos encorajar a que não negligenciásseis o
acompanhamento espiritual, tendo um irmão com quem fa-
lar, confrontar-se, debater e discernir, com plena confiança
e transparência, a propósito do próprio caminho; um irmão
sábio, com quem fazer a experiência de se saber discípulo.
Procurai-o, encontrai-o e gozai a alegria de vos deixardes cui-
dar, acompanhar e aconselhar. É uma ajuda insubstituível para
poder viver o ministério, fazendo a vontade do Pai (cf. Hb 10,
9) e deixar o coração palpitar com «os mesmos sentimentos,
que estão em Cristo Jesus» (Fl 2, 5). Fazem-nos bem estas
palavras de Qohélet: «É melhor dois do que um só (…). Se
caírem, um ergue o seu companheiro. Mas ai do solitário que
cai: não tem outro para o levantar» (4, 9-10)”.
Apesar da insistência da Igreja e da Congregação, o acompa-
nhamento espiritual pessoal após o período de formação inicial
ainda é um tesouro a ser descoberto e apropriado por muitos ir-
mãos e comunidades. O trabalho de conscientização a esse res-
peito deve ser cuidadosamente planejado e realizado nos níveis
inspetorial e regional. Acima de tudo, um número crescente de
salesianos deve ser iniciado e adequadamente preparado para

15.8 Page 148

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este ministério, lembrando que a primeira indispensável escola é
a nossa experiência de acompanhados, a nossa determinação de
ser “guias que são guiados”.
5.2.9 Contextualizar as estratégias
206. O nosso estudo sobre o acompanhamento pessoal sa-
lesiano nos deu uma percepção muito fiel da diversidade que há
na Congregação. Essa diversidade implica em que as estratégias
sugeridas acima sejam contextualizadas em nível de regiões e
147
inspetorias. É precisamente nesses níveis que serão traçadas li-
nhas de ação concretas e atribuídos responsabilidades e prazos.
Sugerimos, então:
1. aprofundar os resultados da pesquisa sobre o acompanha-
mento pessoal salesiano em nível regional e inspetorial;
2. estudar as atuais orientações e diretrizes sobre o acompanha-
mento pessoal salesiano na ótica da contextualização e atuação;
3. compartilhar e fazer um intercâmbio de reflexões e planos de
ações para promover o acompanhamento pessoal salesiano en-
tre grupos de inspetorias e fases de formação no interior da mes-
ma região;
4. dialogar com os centros regionais de formação permanente a
fim de elaborar planos para a formação dos formadores, alinha-
dos com as reflexões e os planos de ação relacionados com o
acompanhamento;
5. envolver delegados inspetoriais de formação, comissões ins-
petoriais de formação e equipes de formadores, para garantir
uma reflexão sistemática sobre estas orientações e diretrizes em
todas as comunidades, e serem desenvolvidos com os jovens
candidatos e irmãos em formação. Atenção especial deverá ser
dirigida às comunidades interinspetoriais, às comunidades com
irmãos no tirocínio e no quinquênio, e especialmente às comu-
nidades de formação específica, que estão mais próximas da
passagem da formação inicial à plena inserção nas comunidades
educativo-pastorais da inspetoria.
207. Entretanto, só a animação não é suficiente; há necessi-
dade também de um bom governo. Apresentamos aqui várias
sugestões para o serviço de governo que já surgiram.

15.9 Page 149

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Em nível mundial:
1. A proposta de um novo procedimento para a nomeação dos
diretores das casas de formação e dos mestres de noviciado (ver
acima seção 5.2.7).
Em nível interinspetorial:
2. Reforçar os curatorium para garantir a seleção, a preparação
e o empenho de longo prazo dos formadores, guias espirituais e
professores.
148
Em nível inspetorial:
3. Criar planos de qualificação para garantir uma seleção de lon-
go prazo e a preparação de formadores, guias espirituais e pro-
fessores.
4. Garantir a criação de equipes de formadores que sejam qua-
litativa e quantitativamente significativos e capazes de trabalhar
bem em equipe.
5. Atribuir irmãos em tirocínio e os do quinquênio somente às co-
munidades onde for possível garantir um bom acompanhamento.
6. Garantir que os delegados inspetoriais para a formação e suas
comissões realizem o seu trabalho de reflexão, planejamento,
acompanhamento da formação inicial e pós-inicial; garantir o tra-
balho de equipe e coordenação em rede com o Inspetor e seu
conselho, com outros delegados inspetoriais, a coordenação re-
gional para a formação e o conselheiro geral para a formação.

15.10 Page 150

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149

16 Pages 151-160

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Conclusão
208. O nosso estudo concentrou-se no acompanhamento pes-
151
soal salesiano durante a formação inicial, com ênfase especial no
acompanhamento espiritual pessoal, tendo em vista que o acom-
panhamento pessoal inclui outras formas de acompanhamento,
como o sacramento da Reconciliação, o colóquio com o diretor,
o acompanhamento psicológico, intelectual, litúrgico e pastoral,
como também as avaliações periódicas ou escrutínios.
Dada a nossa tradição particular, era inevitável que o estudo
também esclarecesse sobre o colóquio com o diretor e a sua pe-
culiar relação com o acompanhamento espiritual pessoal.
O estudo também indicou um nível muito elevado de apre-
ço pelo sacramento da Reconciliação e certa insatisfação pelo
acompanhamento da comunidade e as avaliações periódicas.
Não entrou, porém, nas áreas de acompanhamento psicológico,
intelectual, litúrgico e pastoral, embora tenham surgido observa-
ções sobre as “práticas de piedade”, como a Eucaristia, a medi-
tação e a liturgia das horas.
209. O fato de a Congregação, mediante dois de seus dicas-
térios, ter optado por focalizar a atenção durante dois sexênios
sobre o acompanhamento espiritual pessoal na Pastoral Juvenil
e nos processos de formação, bem como a colaboração entre
os dois dicastério, que levou à elaboração do presente texto de
orientações e diretrizes, é por si só representativo de um mo-
mento muito importante da nossa história. Providencialmente, o
Sínodo sobre Os Jovens, a fé e o discernimento vocacional ocor-
reu precisamente durante este período, e, com grande vantagem,
houve um diálogo frutuoso entre os dois processos.
Podemos fazer nossas as palavras do Papa Francisco: deve-
mos aprender do Sínodo um método, ou melhor, um estilo de ser
Igreja:

16.3 Page 153

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Os frutos deste trabalho já estão a “fermentar”, como faz o
sumo das uvas nos barris depois da vindima. O Sínodo dos
jovens foi uma boa vindima e promete um bom vinho. Mas
gostaria de dizer que as primícias desta Assembleia sinodal
deveriam estar precisamente no exemplo de um método que
se procurou seguir, desde a fase preparatória. Um estilo si-
nodal que não tem como objetivo principal a redação de um
documento, que, contudo, é precioso e útil. Mas mais do que
o documento, é importante que se difunda um modo de ser
e trabalhar juntos, jovens e idosos, na escuta e no discerni-
mento, para chegar a opções pastorais correspondentes à
152
realidade.1
210. Certamente o Espírito está nos convidando, como Con-
gregação, a redescobrir aquela joia da proposta educativa de
Dom Bosco, que é o acompanhamento espiritual, em toda a sua
riqueza e originalidade, onde estão presentes juntamente a co-
munidade, o grupo e a dimensão pessoal, numa tensão fecunda
e dinâmica. Que os nossos esforços para possuir este tesouro,
preparar-nos para este serviço e dar os passos necessários em
termos de animação e bom governo, frutifiquem segundo os tem-
pos de Deus pelo bem dos jovens e de todos aqueles que parti-
cipam da missão de Dom Bosco no grande movimento que nele
tem sua origem.
Que Nossa Senhora, a Pastorinha, seja nossa mãe e mestra.
Possa o nosso Pai Dom Bosco nos inspirear com sua vida e seu
exemplo; e todos os membros da nossa família possam interce-
der por nós, a começar do nosso grande e venerado patrono,
Francisco de Sales, cujo 400º aniversário de morte celebraremos
em 2022.
1 Cf. Ângelus de 28 de outubro de 2018.

16.4 Page 154

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16.5 Page 155

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16.6 Page 156

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Apêndice:
algumas questões e alguns
pontos para reflexão
Cap. 1 – O ESTUDO SOBRE O
155
ACOMPANHAMENTO PESSOAL SALESIANO
A. A pesquisa sobre o acompanhamento pessoal salesiano com-
provou o quanto os jovens em formação estão prontos à contri-
buição para a melhoria dos processos formativos, compartilhan-
do opiniões e propostas, quando são escutados.
Que processos de envolvimento dos jovens em
formação já estão em ação em nossa inspeto-
ria? Que outros passos podem ser dados nessa
direção?
B. O crescimento da Congregação nos anos futuros como núme-
ro de irmãos será forte, sobretudo na África e na Ásia. A qualidade
do futuro dessa parte sempre mais majoritária da Congregação
será igual à qualidade da formação oferecida em cada inspetoria.
Cresce, na cultura e no quadro de valores da
nossa inspetoria, a convicção de que o investi-
mento formativo é o mais urgente e importante
“trabalho salesiano” em vista do nosso futuro,
com o mais forte impacto que qualquer outro
sobre a missão juvenil que nos é confiada?
Duas expressões diretas do valor que se dá à formação na cul-
tura inspetorial são: [1] Quanto se investe em formação, qualifi-
cação dos irmãos e áreas de especialização. [2] Qual o equilíbrio
na relação entre qualificação de irmãos e expansão para novas
presenças.
Estamos dispostos a fazer um sério discerni-
mento sobre as opções que se fazem nessas
duas frentes e, se necessário, mudar as nossas
estratégias?

16.7 Page 157

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C. A pesquisa evidencia a multiplicidade de culturas da Congre-
gação com uma nítida prevalência da língua inglesa como veículo
cultural de comunicação.
Qual é a qualidade da interculturalidade na sua
inspetoria? Quanto a aprendizagem das línguas
está se tornando parte da missão-formação que
a inspetoria promove e realiza sobretudo com os
jovens irmãos?
D, A grande maioria dos jovens em formação pertence à gera-
156
ção dos “nativos digitais”, com um bom grupo nascido depois
de 2000. Quem se dedica à formação deveria estar entre os mais
especializados na atualização necessária para o diálogo com as
novas gerações, cujos paradigmas culturais e linguísticos são de-
cididamente diferentes das gerações precedentes.
Nossas equipes de formação estão prontas para
esse processo de atualização constante? Que
passos podem ser propostos para favorecer
esse tipo de inculturação hoje?
E. Os jovens em formação mais do que destinatários são os pri-
meiros protagonistas do seu itinerário de crescimento.
a. O espírito de família e o dinamismo característico da nossa
missão tornam particularmente válida a contribuição apostólica
dos jovens salesianos.
b. Eles estão mais próximos das novas gerações, capazes de
animação e entusiasmo, disponíveis para novas soluções.
c. A comunidade, encorajando e orientando essa generosidade,
ajuda o seu amadurecimento religioso-apostólico (C 46).
A nossa comunidade inspetorial está pronta e
é capaz de envolver os jovens irmãos também
nos processos de discernimento e decisão so-
bre a vida das comunidades e da missão da ins-
petoria, que será entregue a suas mãos? Quanto
são ativamente protagonistas das opções fun-
damentais que regulam a vida das comunidades
de formação?

16.8 Page 158

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Cap. 2 – TEMAS EMERGENTES
A. Um dos apelos mais fortemente presentes na pesquisa, em
todas as fases da formação inicial e em todas as regiões, é o de
maior proximidade, presença, diálogo, familiaridade entre forma-
dores e formandos.
Isso serve de estímulo para uma séria e detalhada
revisão do modo como as equipes de formação
na inspetoria, inclusive as comunidades com tiro-
cinantes, estão ou não atuando em sintonia com
157
a familiaridade, coração do sistema preventivo
(carta de Roma de 1884), no modo ordinário de
interagir entre formadores e jovens em formação?
B. A pesquisa indica que há uma clara distinção entre acompanha-
mento espiritual e colóquio com o diretor, tanto no modo de enten-
der as duas formas de diálogo, como pela clara preferência a distin-
guir as pessoas a quem se referir para um e outro tipo de relação.
Como ativar uma reflexão atenta e profunda so-
bre o acompanhamento espiritual e o colóquio
com o diretor nas casas da inspetoria, à luz do
que emergiu da pesquisa e é indicado pelo pre-
sente documento de orientações e diretrizes?
C. O fato de oitenta por centro indicar o pré-noviciado como tem-
po em que inicia o itinerário de acompanhamento pessoal leva
a rever com atenção a vida das comunidades na inspetoria em
duas direções.
[1] O que se oferece no aspirantado e no pré-
-noviciado a cada candidato é uma boa iniciação
para o acompanhamento pessoal, sabendo que
da forma como se vive essa primeira experiên-
cia dependerá muito o modo de viver o acompa-
nhamento também nas fases sucessivas?
[2] O acompanhamento pessoal e o discerni-
mento vocacional constituem parte integrante
da Pastoral Juvenil em nossas obras educati-
vas? Podemos ativar uma séria revisão neste
sentido com o delegado para a Pastoral Juvenil
e com quem está mais diretamente envolvido na
pastoral juvenil e na animação vocacional?

16.9 Page 159

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O “fator tempo” em especial pode ser objeto de atenção, visto
que muitas vezes se faz referência na pesquisa ao fato de os sale-
sianos “não terem tempo para dedicar-se à escuta, porque muito
ocupados em outras atividades”.
D. Um risco que emerge repetidamente na pesquisa é o do confor-
mismo, quando os formandos se adaptam às exigências que lhes
são feitas, não por serem movidos interiormente pelo amadureci-
mento de convicções, mas porque há um forte elemento de con-
trole e, não raramente, de medo. Corre-se, então, o risco de que
158
também os aspectos mais vitais do itinerário formativo, como a vida
de oração, sejam condicionados por um formalismo que esvazia o
seu valor a partir de dentro. Esse risco é mais forte onde é maior a
sobreposição dos papéis de autoridade e de acompanhamento.
Isso incentiva uma corajosa revisão, com o en-
volvimento dos jovens, sobre a autenticidade e
sinceridade de envolvimento nos processos for-
mativos, examinando não só a resposta de quem
está em formação, mas também e ainda mais o
tipo de abordagem com que se animam e guiam
as comunidades.
E. Emerge da pesquisa um alarmante sinal na vertente da confi-
dencialidade, que parece ser um tanto frágil, sobretudo em algu-
mas fases da formação inicial.
É preciso fazer um sério exame dessa frente,
levando em conta todas as comunidades, para
corrigir erros e criar os pressupostos necessá-
rios que favoreçam um autêntico clima de con-
fiança, ponto inicial indispensável para o acom-
panhamento pessoal salesiano e a sua eficácia.
F. As avaliações trimestrais são uma forma de acompanhamento
comunitário. A pesquisa evidencia muitos elementos de dificul-
dade nessa frente.
Propõe-se uma revisão do modo como são pro-
postos e vividos esses instrumentos nas casas
de formação da inspetoria (comunidades com ti-
rocinantes incluídas), a fim de poder melhorar a
sua qualidade e eficácia.
É importante que a revisão seja feita com o envolvimento dos
próprios jovens, cujo crescimento é a única razão que motiva o
exercício dos escrutínios trimestrais.

16.10 Page 160

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Cap. 3 – INSPIRAÇÕES QUE NASCEM
DA NOSSA TRADIÇÃO
A. A reflexão sobre a praxe do acompanhamento espiritual em
Dom Bosco ajuda a compreender como a atenção ao ambiente
comunitário e de grupo e a abordagem pessoal sejam ambos fun-
damentais para o crescimento.
Como favorecer nas casas da inspetoria a har-
monia fecunda entre clima comunitário e rela-
ção pessoal, em vista do crescimento de cada
159
um, formadores e formandos?
B. Viver o sistema preventivo no acompanhamento significa dar o
melhor de si na qualidade das relações.
Como ajudar educadores e formadores a re-
novarem a qualidade do sistema preventivo na
relação com todas as pessoas, inspirada no
respeito pelo outro, na capacidade de escuta,
“participando com amor paterno e materno do
crescimento do indivíduo”, em colaboração com
os demais?
C. A dimensão mistagógica é fundamental para a aplicação do
sistema preventivo, ou seja, uma profunda vida de fé e de oração,
que está na base do serviço educativo e pastoral que se confia
a cada um.
Este é o horizonte de fundo que se respira e que
anima a ação formativa dos irmãos na inspeto-
ria? Como reavivar constantemente essa dimen-
são fundamental que une espiritualidade e ser-
viço formativo?
Cap. 4 - À ESCUTA DO ESPÍRITO
A. Os jovens no encontro anterior ao Sínodo traçaram a identidade
do acompanhante que foi retomado integralmente pelo Papa Fran-
cisco na Christus Vivit, nº 246: «Estes acompanhantes deveriam
possuir algumas qualidades: ser um cristão fiel comprometido na
Igreja e no mundo; manter uma tensão contínua para a santidade;
não julgar, mas cuidar; escutar ativamente as necessidades dos jo-
vens; responder com gentileza; conhecer-se; saber reconhecer os
seus limites; conhecer as alegrias e as tribulações da vida espiritual.

17 Pages 161-170

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17.1 Page 161

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Uma qualidade de primária grandeza é saber reconhecer-se huma-
no e capaz de cometer erros: não perfeitos, mas pecadores perdoa-
dos. Acontece frequentemente que os acompanhantes são coloca-
dos num pedestal e por isso, quando caem, provocam um impacto
devastador na capacidade que os jovens têm de se comprometer
na Igreja. Os acompanhantes não deveriam levar os jovens a serem
seguidores passivos, mas sim a caminhar ao seu lado, deixando-os
ser os protagonistas do seu próprio caminho. Deveriam respeitar a
liberdade do processo de discernimento de um jovem, fornecendo-
lhe os instrumentos para realizar adequadamente este processo.
160
O acompanhante deveria confiar sinceramente na capacidade que
cada jovem tem de participar na vida da Igreja. Por isso, deveria
cultivar as sementes da fé nos jovens, sem pressa de ver os frutos
do trabalho que vem do Espírito Santo. Este papel não deveria ser
circunscrito aos presbíteros e aos religiosos, mas também o laica-
to deveria poder exercê-lo. Todos estes acompanhantes deveriam
poder beneficiar duma boa formação permanente».
Este pode ser um ótimo roteiro para a reflexão
na inspetoria sobre o perfil que o acompanhan-
te salesiano é chamado a ter hoje, tanto para a
missão no interior da Pastoral Juvenil como nas
comunidades de formação inicial.
B. A abertura à diversidade de culturas, situações, gerações, his-
tórias de vida é uma atitude que parte da interioridade mais do
que de uma adequação exterior.
Onde, na inspetoria, emergem de modo mais
acentuado as diversidades e como se responde
a elas? (Boas práticas, elementos de fragilidade,
aspectos que exigem alguma mudança)
C. “A centralidade espiritual do acompanhamento pessoal” pede
para ser “balanceada por uma densidade carismática de igual peso
e valor”. “A natureza religiosa e apostólica da vocação salesiana
determina a orientação específica da nossa formação” (C 97).
São estes os fundamentos em que é baseada a for-
mação na inspetoria, nos quais também se orienta
o acompanhamento pessoal? Como reforçar esta
visão espiritual e intensamente salesiana tanto nos
guias como nos jovens em formação inicial?
D. A qualidade da Pastoral Juvenil determina os processos de
formação.

17.2 Page 162

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Propor uma revisão conjunta da Pastoral juve-
nil e da Formação em relação à animação voca-
cional, para avaliar se o que vem sendo atuado
está em sintonia com o que há anos o Quadro
Referencial já propõe para a animação vocacio-
nal, intrínseca e essencial para à Pastoral Ju-
venil em todas as suas expressões (QdR 152;
248-249). Atenção especial deverá ser dada às
experiências de aspirantado, avaliando-as tam-
bém à luz da carta sobre o Aspirantado de At-
tard e Cereda (julho de 2011).
161
E. Pré-noviciado.
Na inspetoria, é dado ao pré-noviciado um peso
e importância semelhante ao que se dá ao no-
viciado, como requerido pela Ratio, em especial
no que se refere à escolha do encarregado e da
equipe que colabora com ele (FSDB 345)? Qual é
o envolvimento de leigos no itinerário formativo
dos pré-noviços?
F. Graça e liberdade. Esta parte das orientações (121-132) é como
que o fundamento teológico do acompanhamento salesiano.
Mais que se limitar a uma pergunta, propõe-se
um processo de reflexão e estudo, participa-
ção e diálogo, para verificar em conjunto com
as equipes de formadores e com os grupos de
jovens em formação a sintonia com estas verda-
des de fundo que nutrem os processos de acom-
panhamento. Abre-se assim o caminho para pro-
cessos e itinerários de uma conversão gradual.
G. Diretor, acompanhante, confessor.
Como são compreendidas e valorizadas estas
três figuras nas comunidades em relação ao
acompanhamento? Que preparação é proposta
para estes ministérios? Onde se registra algu-
ma fragilidade sobre esses papéis na inspetoria,
como remediá-los neste momento e num plane-
jamento de longo prazo?
H. O acompanhamento da comunidade e da equipe de formação.
Propõe-se uma revisão corajosa tanto da par-
te dos formadores como dos formandos sobre o

17.3 Page 163

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efetivo peso formativo das comunidades e equi-
pes como são atualmente (ex.: SWOT analysis).
I. A carta de Roma de 1884.
Propõe-se retomá-la como paradigma daquilo
que confiança e abertura, confidência e familia-
ridade significam no acompanhamento pessoal
salesiano, através de uma “lectio salesiana” e
de momentos de partilha sobre esse texto fun-
damental da nossa tradição.
162
J. Os modelos de formação.
Mais do que uma pergunta, propõe-se uma refle-
xão tranquila e atenta dessa parte do documen-
to (156-163) com uma avaliação [1] do modelo
vivido na própria formação, [2] do modelo em
que atualmente se inspira [3] e da percepção do
modelo que os jovens em formação têm.
K. O escrutínio como oportunidade de renovação.
Enquanto se verifica e repensa a modalidade
como são feitos os escrutínios, pode-se ativar
um processo conjunto que levará tanto à melho-
ria desse instrumento como também à renovação
da relação entre equipe e jovens em formação.
L. Propõem-se dois níveis de revisão da formação dos formadores.
[1] Como a comissão inspetorial para a forma-
ção e o Conselho inspetorial fazem o discerni-
mento para a escolha do pessoal para a forma-
ção, a sua preparação específica e a formação
permanente dos formadores.
[2] Esquipes locais de formação e formador: veri-
ficar a própria abertura à supervisão, isto é, a ser
“um guia que, por sua vez, é guiado” (175-178)
NOTA: a terceira parte (ESCOLHER) está toda orientada para pro-
postas operativas, com uma série de “Sugestões para linhas de
ação contextualizadas nas regiões, inspetorias e comunidades
locais”. É supérfluo, portanto, propor questões que favoreçam a
contextualização das orientações na inspetoria.

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17.5 Page 165

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Bibliografia es colhida
Documentos da Igreja
165
Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Socie-
dades de Vida Apostólica. Para vinho novo odres novos. Do Con-
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Orientações, Roma 2017.
Congregação para o Clero. O dom da vocação presbiteral: Ratio
fundamentalis Institutionis Sacerdotalis. Roma 2016.
Francisco. Exortação apostólica pós-sinodal Amoris Laetitia so-
bre o amor na família, Roma 2016.
Francisco. Exortação apostólica pós-sinodal Christus vivit, Roma
2019.
Francisco. Exortação apostólica Evangelii gaudium sobre o anún-
cio do evangelho no mundo atual, Roma 2013.
Francisco. Exortação apostólica Gaudete et exsultate sobre o
chamado à santidade no mundo contemporâneo, Roma 2018.
João Paulo II. Exortação apostólica pós-sinodal Vita consecrata sobre
a vida consagrada e a sua missão na Igreja e no mundo, Roma 1996.
XV Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos 2018. Os
Jovens, a Fé e o Discernimento Vocacional, Documento Final.
XV Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos 2018. Os
Jovens, a Fé e o Discernimento Vocacional, Instrumentum Laboris.
Literatura Salesiana
Attard, Fabio e Miguel Ángel García, ed. O acompanhamento es-
piritual: Itinerário pedagógico e espiritual em chave salesiana a
serviço dos jovens, Brasília: Editora Dom Bosco, 2015.

17.7 Page 167

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Alburquerque Frutos, Eugenio. “São Francisco de Sales como di-
retor espiritual: Práxis pastoral na direção espiritual do Bispo de
Genebra” 28-47.
Buccellato, Giuseppe. “A experiência da direção espiritual vivida
por Dom Bosco nos anos do Colégio Eclesiástico de Turim (1841-
1844)” 141-194.
Finnegan, Jack. “Acompanhamento espiritual. Os desafios do
pós-moderno e do pós-secular no Ocidente contemporâneo”
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Giraudo, Aldo. “Direção espiritual em São João Bosco. Caracte-
rísticas peculiares da direção espiritual oferecida por Dom Bosco
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Giraudo, Aldo. “Direção espiritual em São João Bosco. Conteú-
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práxis de Dom Bosco” 212-230.
McDonnell, Eunan. “A direção espiritual em São Francisco de Sa-
les. Linhas fundamentais do método espiritual e pedagógico na
perspectiva salesiana” 94-133.
Struś, Józef. “A pessoa do diretor espiritual segundo São Fran-
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Attard, Fabio e Francesco Cereda. “Orientações sobre a Expe-
riência do Aspirantado” Prot. 11/0377, de 26 de julho de 2011.
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17.10 Page 170

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18 Pages 171-180

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