A comunicação na missão salesiana

A COMUNICAÇÃO NA MISSÃO SALESIANA

É extraordinário! Faz os surdos ouvirem e os mudos falarem!”[1]
1.Coloquemo-nos em onda - ...com a Igreja - ...e com o Carisma - A comunicação interpessoal. - A comunicação social. 2.Fazer os surdos ouvirem e os mudos falarem”. - Mudar de mentalidade. - Condições para comunicar. - A urgência do momento: qualificar-se. - Uma competência comunitária. 3. Orientações práticas. - Esforços das comunidades. - Esforços das Inspetorias. - Conclusão.
Roma, 8 de dezembro de 1999
Solenidade da Imaculada Conceição
Queridos irmãos,
O ano 2000 está às portas. Vô-lo desejo feliz no espírito do Jubileu extraordinário, que marca o divisor de águas entre séculos e milênios. Nele, haverão de acompanhar-vos a reflexão sobre a Penitência já transmitida[2] , a estréia sobre a Reconciliação e a Paz, a Carta sobre a Eucaristia que vos chegará em maio e o subsídio preparado para as nossas celebrações comunitárias[3] .
Desejo desenvolver nesta carta, com calma, um ponto da nossa programação sexenal[4] .
Quando procuramos imaginar como será a nossa vida e a dos jovens no próximo século, vem-nos espontâneo o pensamento do desenvolvimento que a comunicação social poderá ter.
Os meios de comunicação social já são em parte indispensáveis em nossos equipamentos pessoais, quase incorporados ao nosso modo de viver: nossos dias são marcados pelos jornais, rádio, TV, celular, computador, internet, congressos e encontros, espetáculos, eventos culturais e acontecimentos editoriais.
A comunicação social enche o mundo e determina a forma da convivência humana. Interessa, de perto, então, à vocação do salesiano como discípulo de Cristo e, de forma ainda mais urgente, como alguém que atua com mentalidade de educador nas frentes da promoção e da evangelização.
Chamamo-nos, com convicção e satisfação interior, filhos de um Santo que soube dar ouvidos às muitas vozes que provinham dos jovens e da cultura do seu tempo; e que conseguiu comunicar com gestos, palavras e com a própria estrutura que tinha criado. Ela tornou-se, de fato, “mensagem” justamente porque exprimia com clareza a finalidade e o espírito da sua missão.
Dom Bosco ligava-se, nisso, à espiritualidade de São Francisco de Sales, indicado hoje como Patrono dos jornalistas católicos pela capacidade de falar e escrever sobre a vida cristã, fazendo-se entender pelos pequenos e grandes, letrados e simples, homens de Igreja e pessoas alheias a qualquer forma de religião.
Se passarmos a examinar a vida dos jovens do nosso tempo, a partir destas considerações, surgirão dois sentimentos em nós: descobrimos com pesar que a sua linguagem, aprendida da mídia, corre o risco de já ser incompreensível para nós; e sentimos a urgência de recuperar terreno no emprego da comunicação, como reposta à nossa vocação de Salesianos.
Trata-se de chegar antes e de manter o passo de uma realidade que está em evolução contínua e que, por sua vez, se torna motor de uma igual ininterrupta mudança global.
1. Coloquemo-nos em onda
... com a Igreja
Falou-se muito deste tema em documentos oficiais recentes da Igreja e nos comentários para a jornada anual da Comunicação Social.
O material é abundante e toca os vários aspectos da comunicação social: da teologia[5] à dimensão sócio-cultural; da formação dos sacerdotes[6] à instrução dos fiéis; da preparação de programas à organização pastoral das dioceses para uma intervenção orgânica nesse campo[7] .
Não faço a síntese da doutrina. Contento-me apenas com alguns aspectos, para levar o tema a uma consideração que acredito ser a mais importante para nós, tanto no plano da reflexão, como no operativo.
Paulo VI intuíra a passagem de época que a evangelização do mundo estava atravessando e, como conseqüência, as novas formas exigidas pelo anúncio do Evangelho.
Em nosso século- afirma na Evangelii Nuntiandi -, marcado pela mídia ou instrumentos de comunicação social, o primeiro anúncio, a catequese ou o aprofundamento ulterior da fé não podem desprezar estes meios.
Colocados a serviço do Evangelho, eles são capazes de estender quase ao infinito o campo de escuta da Palavra de Deus, e fazem chegar a Boa Nova a milhões de pessoas.
A Igreja sentir-se-ia culpável diante do seu Senhor se não se servisse desses poderosos meios, que a inteligência humana torna a cada dia mais aperfeiçoados; servindo-se deles a Igreja “prega sobre os tetos”[8] a mensagem de que é depositária; neles, ela encontra uma versão moderna e eficaz do púlpito. Graças a eles consegue falar às multidões”[9]
A indicação parte do mandato, entregue à Igreja por Jesus, de fazer chegar o Evangelho ao mundo inteiro: trata-se de falar a multidões, de estender ao infinito o campo da escuta da palavra, de chegar com a boa nova a milhões de pessoas e, também, de ajudar povos inteiros a viver com lucidez a fé recebida numa cultura nova. É um primeiro elemento do qual tornar-se definitivamente conscientes: os púlpitos, as cátedras, as praças e os canais do anúncio mudaram, com vantagens para todos.
Tomamos do abundante magistério de João Paulo II, não por acaso considerado um grande comunicador, um segundo ponto que vai além da capacidade extensiva  dos MCS e nos introduz numa visão mais substancial: a comunicação social como cultura.
É um problema complexo, pois esta cultura nasce, menos dos conteúdos do que do próprio fato de existirem novos modos de comunicar com novas linguagens, novas técnicas, novas atitudes psicológicas.
O meu predecessor Paulo VI dizia que «a ruptura entre o Evangelho e a cultura é, sem dúvida, o drama da nossa época», e este juízo é plenamente confirmado pelo campo da comunicação moderna”[10] .
A conclusão é peremptória. A simples utilização dos instrumentos e técnicas de comunicação social não é suficiente para chegar à integração entre mensagem evangélica e cultura atual. Devem-se descobrir concepções de vida e valores, não digamos difusos, mas até mesmo internos aos novos modos de comunicar. “Não basta, portanto, usá-los para difundir a mensagem cristã e o Magistério da Igreja, mas é necessário integrar a mensagem nesta “nova cultura”, criada pela comunicação moderna”[11] .
É um esforço maior, mas indispensável e, de muitos pontos de vista, sedutor pela novidade de panoramas que oferece.
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Concluo esta rápida resenha, trazendo ainda um texto da Exortação Apostólica Vita Consecrata, que nos diz respeito muito de perto. A ele a União dos Superiores Gerais quis dedicar a sua 50ª Reunião[12] . A comunicação social é colocada na Exortação entre os areópagos modernos que mais desafiam a mentalidade cristã e portanto, tem mais necessidade de audácia, criatividade, competência e capacidade de novas colaborações de pessoas carismáticas.
As pessoas consagradas, sobretudo quando operam neste campo por carisma institucional, devem adquirir um conhecimento sério da linguagem própria destes meios, para falar eficazmente de Cristo ao homem de hoje, interpretando «as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias»[13] dele, e contribuir assim para a edificação de uma sociedade onde todos se sintam irmãos e irmãs a caminho de Deus[14] .
...e com o Carisma
Recordei brevemente a experiência de Dom Bosco. Poder-se-ia contar a sua história de comunicador, descobrir os códigos da sua comunicação, comentar os seus projetos. Podemos encontrar a tradução fiel do seu pensamento nas Constituições que, justamente referindo-se a ele, colocam a comunicação na perspectiva que comentávamos acima: como grande possibilidade de educação e evangelização e como central de cultura.
Transcrevo literalmente o artigo das Constituições: “Trabalhamos no setor da comunicação social. É um campo significativo de ação, que está entre as prioridades apostólicas da missão salesiana.
Nosso Fundador intuiu o valor dessa escola de massa, que cria cultura e difunde modelos de vida, e lançou-se a empresas originais apostólicas para defender e sustentar a fé do povo.
Seguindo-lhe o exemplo, valorizamos como dons de Deus as grandes possibilidades que a comunicação social nos oferece para a educação e a evangelização”[15] .
A orientação estava presente no primeiro texto constitucional preparado por Dom Bosco para apresentá-lo à Santa Sé[16] . Desde então, a obrigação de empenhar-se na comunicação social era reconhecido como parte importante do nosso apostolado.
As áreas típicas da missão confiada aos Salesianos: a educação, a evangelização, a comunicação social, devem ser relacionadas entre si e, para chegar a decisões operativas concordes com o carisma, devem ser referidas também aos destinatários preferenciais da nossa missão e aos serviços que lhes queremos oferecer[17] .
Estes esclarecimentos ajudam de um lado, a considerar a comunicação social não simplesmente como um conjunto de instrumentos ou meios materiais a utilizar, ou como uma atividade autônoma, embora no interior do carisma. Ela reveste toda a presença salesiana empenhada na educação e evangelização, quer através de obras específicas, quer através de outras formas de ação que influem na cultura popular e na promoção de formas sociais adequadas[18] .
Por outro lado as mesmas orientações constitucionais circunscrevem, orientam e finalizam as muita finalidades, modalidades e campos da comunicação social aos objetivos da nossa missão, livrando-a do risco da dispersão nas mensagens e iniciativas.
A comunicação é assim entendida como “via mestra” para a realização das diversas áreas da missão. Consequentemente, emerge como competência necessária que entra na identidade do salesiano educador, pastor, evangelizador, promotor vocacional[19] . Ele realiza estes aspectos da sua missão “em particular com a comunicação social”, afirma o artigo 6 das Constituições, em linha com a carta circular de Dom Bosco  de 19 de março de 1885: “Eu vos peço-vos e esconjuro, pois, a não descuidar dessa parte importantíssima da nossa missão. Iniciai-a não só entre os próprios jovenzinhos que a Providência vos confiou, mas com as vossas palavras e o vosso exemplo fazei deles outros tantos apóstolos da difusão dos bons livros”[20] .
A insistência de Dom Bosco deveria ser hoje mais urgente. Ele colocar-se-ia ainda uma vez “na vanguarda do progresso”, para influir sobre os critérios com que são utilizados hoje os novos instrumentos técnicos e para difundir através deles e sobre eles propostas educativas e culturais próprias.
Eu tinha isso em mente quando, no final do CG24, propus a comunicação social como um dos principais pontos de atenção do sexênio[21] e quando, com o Conselho Geral, integrávamos na programação geral algumas orientações sobre a comunicação, que considerávamos prioritárias, além de um adequado programa setorial confiado ao dicastério correspondente[22] . “Habilitar – dizia-se entre as estratégias para tornar mais significativa a presença salesiana – as comunidades e as CEP a comunicar-se com o próprio contexto oferecendo mensagens eficazes (tipo de presença, testemunho, intervenções, participação) para a promoção humana e a evangelização”[23] .
Comunicação interpessoal
Como educadores, interessa-nos antes de tudo a comunicação interpessoal entre adulto e jovem, entre leigos e religiosos, entre os que são ricos de experiência e aqueles que dão os primeiros passos na vida, entre todos os que têm dons a compartilhar.
Já tive a oportunidade de entreter-me convosco sobre ela a propósito da comunidade “núcleo animador”[24] . Retomo-a brevemente por pertencer ao tema que estamos tratando e porque, no seu contexto, revela novas dimensões.
Falou-se que o Sistema Preventivo reconhece sua eficácia educativa principalmente ao encontro direto, face a face. E trata-se de um encontro de confiança, de amizade. Para que o jovem se entregue com confiança, também o educador deve entregar espontaneamente aquilo que vive. O espírito de família favorece encontros para crescer juntos: do pátio aos momentos programados de diálogo. São aspectos variados de comunicação interpessoal.
Isso deve ser entendido de forma análoga também pelos agentes, colaboradores, co-responsáveis. Todo projeto e comunidade educativa exige o confronto sincero das situações nas quais atua, a verificação do caminho proposto e realizado, a responsabilização naquilo que vai brotando no coração das pessoas envolvidas enquanto procuram realizar a missão comum.
As diversas formas de envolvimento dos irmãos e comunidades justificam, para a comunidade religiosa, a importância dada pelas Constituições aos encontros comunitários: conselhos de comunidades, assembléias comunitárias, momentos de oração participada e outros.
Reduzir as possibilidades de diálogo e intercâmbio na comunidade religiosa, como nas comunidades educativas, levaria a não desenvolver e não acompanhar os processos de crescimento dos jovens e pessoas com as quais trabalhamos.
Acrescento duas notas. A nova tonalidade e a nova situação da vida fraterna estimulam a criar espaços de conversação em nossas comunidades. Muitas vezes, a pressa e as muitas coisas programadas não deixam respiro suficiente à conversação repousante, não estruturada, em que se pode fazer intercâmbio e colocar à prova a nossa capacidade de partilha. Quando não cai no banal ou na murmuração, na fofoca e no lamento, a conversação oferece condições para uma forma nova de estar juntos, de comportar-se, de escutar, responder, conhecer-se e conhecer; enfim, de viver.
A segunda nota é para sublinhar a importância da escuta atenta e interessada na comunicação interpessoal. Dar a palavra, deixar falar! A comunicação é perturbada não só por aqueles que se fecham no silêncio, mas também por aqueles que não favorecem ou não dão espaço à manifestação dos demais. “Todo Superior (...) deixe falar muito, mas ele fale pouco”[25] , recomendava Dom Bosco ao educador. Hoje, a tendência, talvez aprendida da TV e dos espetáculos, leva em direção contrária.
O esforço exigido à competência educativa no âmbito da comunicação é, portanto, amplo. Inclui uma reforma de atitudes e hábitos, além das relações e das formas de colaboração.
Comunicação social
A comunicação social vai além da interpessoal. Projeta-nos no mundo das tecnologias que nos permitem dirigir simultaneamente com uma mesma mensagem a grande número de pessoas e estabelecer ligações e contatos sem fronteiras. Nesse sentido, é um fenômeno “novo” e, em seu âmbito, continuam a ser produzidas inovações que nos questionam.
Vivemos, repete-se, numa aldeia global, no país “eletrônico”. Tais expressões poderiam ser discutíveis. Apresentam, porém, de modo adequado, uma idéia: a comunicação envolve a todos, alcança os extremos do mundo, aproxima povos e pessoas: o universo que habitamos está sempre mais unido por cabos. À rede dos meridianos e paralelos foi sobrepujada pela rede das linhas de comunicação e das ondas eletromagnéticas que propagam impulsos, imagens e vozes.
Os próximos anos prometem outras revoluções ainda. O que já foi realizado no campo da comunicação social terá um desenvolvimento tanto quantitativo quanto qualitativo que hoje é apenas “simulado”. Fazem-no entender a pesquisa, o mercado e a publicidade: tão logo adquirimos um celular, um televisor ou um computador, já ouvimos falar do próximo modelo com novas possibilidades.
Estamos ainda nos primeiros passos. As próximas novidades não serão as últimas. Poderiam até mesmo provocar uma aceleração nessas transformações. Tudo isso representa uma oportunidade e um condicionamento cujo valor não se pode correr o risco de subestimar.
Três aspectos das nossas comunidades educativas e religiosas devem ser examinados seriamente.
O primeiro é a nova relação entre meio e mensagem. Isso talvez ainda não tenha sido entendido ou aceito pela nossa mentalidade, habituada a distinguir matéria e forma, conteúdo e estilo.
Uma notícia, um evento, uma mensagem assumem diferentes características, segundo o instrumento utilizado. Um é o efeito quando se comunica à viva voz e face a face. Diversos são o valor, o conteúdo da notícia e a reação dos ouvintes, se a mesma realidade chegar através de um ou muitos jornais. Muda ainda quando é usado um anúncio radiofônico. Se nos servimos, então, da televisão, os resultados são ainda diversos.
Quanto mais vasto for o raio de intervenção, quanto mais atraente a forma de apresentação, quanto mais distante o interlocutor, muito mais “incontestável” será a comunicação.
Há um segundo aspecto que nos diz respeito muito de perto. Nossas comunidades, obras e atividades às quais damos origem, entram como qualquer instituição, num sistema mais vasto de comunicação, com que se confrontam e dentro do qual interagem. Parecem realidades físicas e mudas; entretanto emitem mensagens ainda antes que nós peguemos a caneta ou o microfone para explicar-nos e falar de nós.
É indispensável, então, ter cuidado, não apenas quanto ao feito no interior da obra. Deve ser considerada a imagem que se mostra, o reflexo que a nossa ação produz fora da obra. Fala o edifício material com a sua sobriedade e bom gosto; fala o tipo de jovem que prevalece na obra; comunica o programa e o estilo educativo; fala o ambiente experimentado diretamente ou conhecido por outras vias. De acordo, depois, com a nossa comunicação, com e no contexto, aquilo que realizamos pode expandir-se ou ser condicionado negativamente.
Por último, deve ser percebido e valorizado o serviço à comunidade.
A urgência de entrar na sociedade da comunicação com vigor maior vem do fato que a informação e a comunicação, enquanto ocupam um lugar sempre mais invasor na vida do homem, parecem dar lugar a uma Babel, onde gente de um mesmo povo e língua não consegue se entender, mais do que a praça de Jerusalém, onde o Espírito inspirou uma mensagem entendida  unitariamente por gente de diversos povos e línguas. Fala-se muito, de fato, e atingem-se muitos com a comunicação social, mas a interpretação dos fatos e aspectos importantes da vida são muitas vezes dispersivos e contraditórios. É preciso, portanto, orientar para a unidade aquilo que ela tem de bom.
Como ser educadores e evangelizadores numa aldeia global dessas dimensões? Como ser eficazes quando muitos mestres concorrem à formação dos mesmos jovens, mas com propostas diferentes entre si?
O problema não está no fato de usar instrumentos, mas na capacidade de exprimir-nos adequadamente através deles. Imersos numa rede universal, somos chamados a criar, a permutar, a armazenar conhecimentos e riquezas culturais que se tornam comuns.
Uma pessoa e um povo são tais por serem capazes de produzir o necessário para conhecer e ser conhecidos; por saberem aprender dos outros aquilo que serve para viver, e saberem oferecer aos outros o que pode ajudar a viver melhor; por serem capazes de acumular informações, notícias, fatos e experiências que constróem a própria história e servem para caminhar na direção do futuro.
Há um patrimônio que se transmite, de informações, conhecimentos e imagens úteis. A comunicação atual, porém, pode levar, se não se conhecem as suas leis, tanto ao descuido do que é importante, como ao esquecimento do que se elaborou com esforço.
2. “Fazer os surdos ouvirem e os mudos falarem”
Jesus é a Palavra. Como vive uma inefável comunicação com o Pai e o Espírito, Ele comunica Deus ao homem e fá-lo perceber, à luz de Deus, em seu justo sentido e dimensão, pessoas, acontecimentos e coisas. E esta palavra penetra no universo e difunde-se na história.
O homem deve aprender a dispor-se em acolhe-la e depois comunicá-la.
Há páginas evangélicas que bem exprimem a tarefa educativa que temos no âmbito da comunicação. São aquelas nas quais se narra como Jesus abre as capacidades dos sentidos: olhos, ouvidos, língua ,e habilita a perceber o mundo, os outros e si mesmo;
Trouxeram-lhe um homem surdo e mudo, e pediram que lhe impusesse a mão. Levando-o à parte, longe da multidão, colocou os dedos nos ouvidos dele e, com saliva, tocou a sua língua. Erguendo os olhos ao céu, deu um suspiro e disse-lhe: ‘Effatá’, isto é, ‘Abre-te’.
Abriram-se imediatamente os seus ouvidos, e desatou-se o nó de sua língua, de modo que ele falava corretamente. Jesus, porém, recomendou que não dissessem nada a ninguém. Entretanto, quanto mais insistia, mais eles proclamavam o fato.
Cheios de admiração, todos diziam: ‘Ele tem feito bem todas as coisas! Faz os surdos ouvirem e os mudos falarem’”[26] .
Os milagres são uma epifania de Jesus e colocam em evidência aspectos do seu poder de salvar o homem. A abertura dos órgãos e a recuperação dos sentidos permitem comunicar com a realidade total da qual tinham sido afastados: a realidade física do mundo, a das pessoas, a interior, a transcendente. Fazem-nos, por primeiro, observadores e ouvintes atentos dessa realidade e, depois, permitem-nos interpretá-la e proclamá-la. Assim, o cego de nascença começa vendo os homens “como se fossem árvores” e acaba vendo Jesus como Messias, Filho de Deus[27] .
Notemos que o milagre se realiza sem qualquer palavra de Jesus. Ele faz gestos concretos, simples, de compreensão imediata, que não precisam de comentários. A voz individual de quem foi curado é logo amplificada pela “informação” de todas as testemunhas que começam a falar para contar o que aconteceu.
Somos chamados a dar a palavra, a abrir os olhos, a informar sobre o dom de Deus. Como dispor-nos? Vivendo em boa comunicação com as realidades que contam e sendo bons comunicadores, não simplesmente técnicos dos instrumentos.
Mudar de mentalidade
A comunicação social, dizíamos, investe toda a presença salesiana. Entrar nela comporta, não só retocar alguns elementos dessa presença, deixando os demais invariáveis; ela exige a realização de uma conversão cultural, que se traduz em empenho espiritual e novidade de visão pastoral.
A preocupação prevalecente no trabalho era, até hoje, voltada ao rendimento que se podia obter no interior das obras.
Conseguimos criar nelas, com a graça do Senhor e com a ação dos irmãos e colaboradores, um ambiente satisfatório e sereno e comunicar aos jovens convicções, atitudes e valores.
As comunidades salesianas, além disso, relacionavam-se com o contexto social em que se encontravam, segundo as modalidades possíveis na era pré-informática: oferta de momentos culturais, participação em acontecimentos religiosos e sociais, relação direta com as famílias, contato com organismos e instituições civis e eclesiásticas.
Era uma práxis formulada e praticada. Hoje, na era informática, intervêm novos fatores que devem fazer crescer a consciência e atenção diante das repercussões amplificadas da própria presença, atitudes e intervenções.
A comunidade salesiana é chamada a projetar, olhando para o próprio trabalho também a partir de fora. É um recolocar-se, não tanto geograficamente como migração de um lugar a outro, quanto mentalmente, isto é, sabendo considerar as coisas de pontos de vista que vão além do espaço material e das finalidades imediatas.
Isso exige passar das preocupações elaboradas em seu interior à escuta das sensibilidades e expectativas que provêm do contexto. Passar do fazer muito e com empenho, só entre os muros domésticos, a pôr em relevo o que e como os outros podem perceber da nossa ação e presença; passar do simples desenvolvimento acurado das atividades à capacidade comunicativa e envolvente do contexto sobre valores típicos da missão e espiritualidade salesiana.
Há uma palavra de Dom Bosco que nos pode ajudar a compreender o significado disso tudo, para que a presença salesiana, em seu esforço de mostrar-se ou falar de si, não se reduza a aspectos de fachada nem se centralize na auto-apresentação.
Vivemos em tempos, nos quais é precisa agir. O mundo tornou-se material; é preciso, por isso, trabalhar para tornar conhecido o bem que se faz. Se alguém faz também milagres rezando dia e noite e ficando em sua cela, o mundo nem percebe e não acredita mais. O mundo precisa ver e tocar”[28] .
É uma expressão arrojada, de uma solidez que desconcerta. Exige um modo diverso de olhar à mesma organização da vida comunitária e ação apostólica. É indispensável pensar na presença, na comunidade e na obra salesiana “em rede”, como uma emissora, intercomunicada.
O CG24 indicou novas aberturas nesse sentido. A primeira refere-se aos colaboradores leigos. Não se trata apenas, já foi repetido muitas vezes, de ter pessoas externas na comunidade, que vêm trabalhar conosco na educação e evangelização dos jovens. A sua presença significa, da nossa parte, acolhida de outros pontos de vista: as modalidades típicas de intervenção.
Esta mudança de mentalidade e de modelo operativo tem um nome: comunidade educativa. Ela não é um fato puramente técnico, uma nova estrutura; ela é, justamente, uma realidade de comunicação interna e externa. Não se reduz à expressão de conteúdos bem articulados, com clareza verbal e corretamente colocados no tempo. É, antes de tudo, capacidade de relação, de informação real, pertinente e oportuna, de partilha vital, de opção comum dos critérios educativos e pastorais.
O salesiano presente na comunidade educativa com uma responsabilidade específica, deverá aprender as muitas estradas e variações do diálogo com os leigos e com o conjunto da mesma comunidade educativa.
Um segundo âmbito, que interessa a mudança de mentalidade, é o contexto em que somos chamados a agir: o território mais vasto em que a obra salesiana é colocada como centro de agregação.
A redescoberta desta função convida a alargar o diálogo às instituições educativas, sociais e religiosas atuantes na mesma área. O confronto com elas é o banco de prova do que somos capazes de comunicar além da comunidade religiosa e dos colaboradores mais estreitos.
O que é percebido fora do projeto educativo dos salesianos, das opções de valores privados e sociais que eles fazem si próprios e propõem aos jovens?
Como a obra salesiana está qualificada no território, nos setores que lhe são mais congeniais carismaticamente: atenção à condição dos jovens, acompanhamento do desenvolvimento da camada popular, proximidade de quantos sentem-se e vivem isolados e marginalizados? A CEP torna-se significativa no território e, portanto, a mensagem é compreensível, quando é capaz de associar os que estão interessados em iniciativas educativas e culturais e apresenta-se como centro de irradiação de sensibilidade, propostas e agentes que se ligam a ela.
Pode-se referir, também, a uma terceira abertura à qual impele o mesmo CG24: é o espaço criado pelas técnicas modernas, capazes de construir relações, oferecer uma imagem de si e iniciar um diálogo efetivo com interlocutores invisíveis mas reais.
Exige-se, aqui, sobretudo uma mudança de mentalidade, tanto porque o espaço virtual não nos é familiar, como porque é preciso aprender formas novas de comunicação e encontro. Não faltam exemplos de realizações que, em se dando possibilidades, são levadas adiante também por jovens cheios de boa vontade ou colaboradores profissionais. Multiplicaram-se as web e algumas delas apresentam uma qualidade educativa e alcançam um número de pessoas que duplicam o influxo da obra.
Somos parte, consciente ou não, de uma grande rede que nos envolve. Pode-se ficar estranhos a ela ou inserir-se nela, oferecendo, também neste campo, os dons que temos como educadores e evangelizadores.
Não se considere coisa de pouco valor o fato de poder difundir instantaneamente, no mundo todo, informações e comunicações. Comentamos com frequência mais os riscos do que os valores dessa situação. Se quisermos, porém, que o mundo da comunicação seja modificado pelo fermento evangélico devemos sentir-nos interpelados a intervir e interagir com aqueles que vão às praças ou areópagos “para falar e ouvir falar”[29] .
Condições para comunicar
Considerando-se as coisas de uma perspectiva imediata, as condições principais para a comunicação social parecem ser a espetacularidade e a venda dos produtos.
É suficiente dar um pouco de atenção àquilo que a televisão oferece, como o mais poderoso dos mass media, para nos convencermos disso. A TV tende, pela sua natureza, a fazer de qualquer acontecimento um espetáculo. Todos os programas são organizados ao redor dessa exigência. A própria informação deve ser espetáculo.
Para ser interessante na TV é preciso suscitar emoções, impressionar, ser apresentado como imagem forte a golpes de luz, cor, originalidade, sucessão rápida de fotogramas e comentários.
A comunicação, dessa forma, é hoje um grande mercado. Definimos a nossa como uma sociedade de informação e imagem. A informação é a principal matéria prima da economia: trocamos muito mais dados do que produtos. A audiência é disputada sem exclusão de golpes. A propaganda visa mais a imagem do que o produto oferecido. A mesma comunicação, em todos os seus aspectos, é produção de grandes empresas, com o relativo jogo de pesquisa e oferta, concorrência de preços e qualidade.
A comunidade salesiana vê-se em ação, nessa situação, com intenção educativa. Também ela deve, em certo sentido, impressionar e vender. Procura, pois, entender como funciona a comunicação, mas sublinha a exigência de ela ser colocada a serviço do crescimento humano, e que realize comunhão entre os homens.
Para ser capaz de propostas e eficaz, a comunidade visa outras condições: quer do ponto de vista pessoal e quer, mais ainda, do ponto de vista institucional, ela aposta na autenticidade e na transparência.
São essas as qualidades exigidas por aqueles que nos consideram ponto de referência para a vida e a experiência humana e cristã num território. Não só, para nós, discípulos de Cristo, são também requisitos e fatores vencedores da comunicação.
Reconheço que nos é pedida a aquisição de algumas atitudes pessoais e comunitárias. Vivemos, quase de forma reservada, opções e projetos, realizações e orientações culturais. Os outros deviam descobrir a alma interior das nossas atividades. Não era nossa intenção mantê-los escondidos, mas não estávamos nem mesmo preocupados em ser “transparentes”, em deixar-nos conhecer.
O discurso não é só moral. Pertence ao universo da comunicação: para estar presentes, é preciso ser legíveis; para ser eficazes, é preciso ser autênticos, ou seja, comunicar experiências e convicções profundamente sentidas e vividas.
Os instrumentos da comunicação, particularmente os mais recentes, representam um supermercado de idéias. As visões da vida e as propostas que oferecem são muitas, fáceis de acolher e fáceis de abandonar.
O perigo é perder o sentido da diferença entre necessário e supérfluo, entre importante e efêmero. Sendo tudo objeto de consumo, tudo pode ser objeto de permuta. E nesse “tudo” podem acabar também a autenticidade e a transparência. A “ficção agradável” em vista da venda substitui a verdade e a sinceridade: a busca obsessiva de audiência torna-se norma em vez de propósito de gerar convergência e resposta responsável.
Conscientes, também desses riscos e tendências reais, exprimimos um juízo positivo sobre o mundo todo da comunicação, pelas “vantagens que esses instrumentos podem proporcionar à família humana, quando bem utilizados; de fato, eles servem admiravelmente  para elevar e enriquecer o espírito, como também propagar e reforçar o Reino de Deus”[30] .
Jesus, Apóstolo do Pai, vindo ao mundo para comunicar a vida de Deus, uniu de forma nova os três elementos da expressão humana: a palavra, a ação e os gestos simbólicos. A palavra como apoio do gesto, para que este não ficasse mudo; o gesto como complemento da palavra, para que ela se enchesse de visibilidade e consistência (“A Palavra fez-se carne”[31] , diz-se de Jesus que vem ao mundo); a ação como realização na história da riqueza do gesto e do significado da palavra.
Autenticidade e transparência não são, pois, uma utopia irrealizável. São os critérios de avaliação do que é oferecido para construir comunhão e responsabilidade. Medem, com outras palavras, se a vontade de comunicar é verdadeira e as intenções que a orientam estão na linha da ética e do amor. Constituem, então, o empenho do crente que quer entrar em relação com os outros.
A urgência do momento: qualificar-se
Torna-se necessário, então, um caminho formativo adequado a fim de responder ao desafio da comunicação atual.
Com a evolução da mídia surge um conflito entre as possibilidades internas às mesmas tecnologias e a aceitabilidade humana do que é oferecido através dela. Não é automático, de fato, a relação entre crescimento técnico e amadurecimento humano, entre desenvolvimento tecnológico e progresso civil.
Notemos que enquanto a técnica se desenvolve com extrema rapidez, o desenvolvimento das competências individuais, de aprendizagem e uso das novas técnicas é muito lento e desigual.
Já faz parte da experiência de nossas comunidades uma dupla velocidade: alguns têm dificuldade de adaptação e afastam até mesmo o pensamento de pôr-se a aprender o uso e a avaliação do que se refere aos instrumentos informáticos; outros, diversamente, vêem-se facilmente nas novas linguagens e possibilidades oferecidas por elas e mantêm facilmente o passo do seu desenvolvimento. É, de certa forma, o espelho do que está acontecendo na realidade social, em dimensões muito maiores.
O que fazer, então? A única estrada útil a seguir é a da formação. A nova alfabetização, isto é, a capacidade de ler e escrever na cultura da mídia, refere-se a todas as pessoas e, no que concerne à fé, a todos os crentes. Quanto mais deverá interessar a educadores e evangelizadores!
Desde há alguns anos, a Igreja, através dos dicastérios competentes da Santa Sé, propõe um caminho que contempla três diversos níveis de formação: um de base, um segundo “pastoral”, o terceiro de preparação especializada.
O mínimo exigido coloca-se no nível de base. Cada um de nós consome quotidianamente informações que o atingem através de mil caminhos: do jornal ao livro, do rádio ao vídeo, do cinema à Internet.
Aprender a ler e avaliar é o primeiro passo. Não se pode expor ao bombardeamento comunicativo, sem ter os necessários anticorpos e chaves de leitura para não se deixar cooptar de maneira ingênua; para não ver apenas com os olhos dos outros e julgar com a cabeça dos outros. Não se pode nem sequer ser apenas audiência num momento em que a interatividade é generalizada e cada cidadão tem o direito e a possibilidade de exprimir-se imediatamente sobre o que lhe é oferecido.
No caminho formativo das comunidades, religiosas salesianas ou educativas, dever-se-ão considerar as orientações da Igreja[32] , para não exprimir unicamente apreciações negativas genéricas, mas ajudar a saber dar juízos motivados sobre  os produtos da comunicação. É preciso fazer, então, o esforço de forma-se para poder servir-se ordinariamente dos novos meios, técnicas e linguagens: verbal, de gestos, audiovisual, simbólico; discurso, rádio, televisão.
O espaço é amplo para propostas formativas e também para iniciativas de intervenção regular e ordinária, correspondente às exigências dos diferentes lugares em que se trabalha. Penso no quanto as comunidades educativas poderiam influir na defesa dos direitos dos mais fracos e dos valores das culturas locais, se soubessem inserir-se nos circuitos de comunicação com avaliações justas sobre aquilo que acontece e com propostas oportunas sobre as coisas a serem feitas.
Uma função permanente de “comunicação” ao externo, também com despesas econômicas, é tudo mais que supérflua ou marginal à comunidade educativa.
O segundo nível  de formação refere-se àqueles que têm responsabilidades particulares na animação da comunicação social no território.
Não se trata ainda do nível de especialistas, mas de agentes educativos e pastorais que devem entrar na rede de comunicação com o próprio profissionalismo e segundo a própria missão. Interessa, então, aos animadores inspetoriais da comunicação social, às comunidades religiosas e educativas.
 Trata-se de conhecer, antes de tudo, os influxos reais e efetivos que as novas tecnologias da informação e da mídia exercem sobre os processos educativos de indivíduos e grupos.
Nasce daí uma exigência nova de projeto educativo: integrar explicitamente os critérios da comunicação nas opções pastorais. Ontem, era suficiente que o conteúdo fosse bem definido e confeccionado. O instrumento teria servido só para fazer “passar” a mensagem com eficácia ao maior número possível de destinatários.
O novo modelo põe em evidência que a mídia não é apenas “meios”, mas comporta uma cultura, uma filosofia de vida, uma ética que reinterpreta e relê os valores, uma espiritualidade que pede uma síntese dos aspectos novos da vida humana e cristã. O uso dos instrumentos e a forma determinam, na ordem mais específica da elaboração e apresentação das mensagens, algumas características e significados não secundários da própria mensagem.
Esta obra de inculturação é indispensável hoje, e orienta de maneira diferente o ser educador e pastor.
Existem outros elementos desse nível formativo, que exigem atenção como importantes e atuais.
A comunidade educativa deve estar pronta a “dispensar o seu ministério tanto aos que são ricos de informação, como ao que são pobres dela; [...] saiba como convidar ao diálogo, evitando um estilo de comunicação que faça pensar em domínio, manipulação ou proveito pessoal”[33] .
A comunidade salesiana e a comunidade educativa devem saber acompanhar, de modo particular, os que vivem ativamente empenhados no trabalho com a mídia. Não sejam deixados a sós. Sejam encorajados e apoiados em sua atividade. Sejam convocados, em algumas circunstâncias, para um diálogo franco e para uma ajuda recíproca em vista da compreensão e revisão do próprio caminho e propostas[34] . Eles, por outro lado, procurarão escutar avaliações e pareceres, agindo segundo um projeto comunitário e trabalhando em equipe de maneira co-responsável e participada.
O terceiro nível de formação refere-se aos especialistas de comunicação social. Interessa diretamente às comunidades inspetoriais e, de reflexo, também às locais.
No plano de qualificação de uma Inspetoria, pedido pelos Regulamentos[35] e insistido na carta Por vós estudo[36] , adquire hoje um relevo particular a preparação de irmãos no campo da comunicação social.
Alcançada a qualificação, estes irmãos colocarão a própria competência a serviço da Inspetoria, agindo no contexto de um projeto inspetorial e respondendo às exigências das diversas dimensões: da pastoral juvenil, que dará maior atenção às perspectivas da comunicação, à economia que cuidará dos aspectos financeiros e empresariais das estruturas de comunicação presentes em muitas instituições salesianas.
O esforço feito pela Congregação para dotar-se de uma faculdade universitária de comunicação social deve ser valorizado para preparar irmãos que ajudem a Congregação a colocar-se no nível das novas exigências.
Voltando o olhar à nossa história recente, devo reconhecer a grande parte que tiveram os Salesianos para o crescimento da sensibilidade eclesial ao redor da pastoral juvenil.
Poderá ser iniciado um caminho semelhante com a comunicação social? Não se trata, também neste caso, de jovens que precisam ser acompanhados em seu desenvolvimento, ou de camadas populares a serem apoiadas em seu esforço de promoção?
“A comunicação é a dimensão do espírito em que nós nos elevamos acima da nossa constituição biológica e do fato de estarmos vinculados à natureza. Possui, por isso, uma função fundamental para o desenvolvimento da compreensão de nós mesmos e do mundo”[37] .
O consenso que damos às comunicações que chegam até nós oferece confirmação e oportunidade de amadurecimento à identidade pessoal. O intercâmbio comunicativo desenvolve a compreensão do valor e significado da própria existência.
É verdade que ninguém pode delegar aos outros a tarefa de interpretar a vida, mas é igualmente verdade que nenhum ser humano vive só para si mesmo. E, sobretudo, ninguém é capaz de descobrir sozinho as chaves para compreender a vida.
Insere-se aqui o serviço prestado ao ser humano pelos comunicadores especializados. Esforçar-se para fazer com que seja um ministério eclesial reconhecido, poderá dar dignidade à intervenção daqueles que são adidos ao trabalho.
Uma competência comunitária
As coisas afirmadas nas páginas precedentes não são estranhas à vida quotidiana. O aprendizado do modo de confeccionar uma mensagem, para que seja eficaz, faz parte da missão pastoral. De outra forma, a comunidade corre o risco de fazer esforços que resultarão inúteis.
Não basta ter tesouros; devemos sabe-los utilizar. Se ficassem escondidos e incomunicáveis seriam como dinheiro bloqueado.
Não se alcançam, muitas vezes, os objetivos que a comunidade religiosa e a comunidade educativa se prefixaram porque as formas de comunicação não centraram o núcleo da mensagem, não atraíram suficientemente a atenção e não envolveram os destinatários: não falamos à experiências deles.
É verdade que nem todos somos chamados a ser especialistas em comunicação social. Temos obrigação, porém, de ser bons comunicadores.
As duas coisas não estão necessariamente relacionadas. Há entre elas a diferença que corre entre a posse teórica do saber e o saber fazer de maneira suficiente. Cada salesiano educador e evangelizador precisa da competência prática em comunicação para todas as suas intervenções: quando encontra pessoalmente o jovem ou o irmão, quando é chamado a falar em público, quando anuncia a palavra de Deus a um grupo ou a um vasto auditório, num retiro ou num debate, quando é oferecida uma ocasião de intervir na comunicação de massa.
A cada dia é mais evidente que entra já no ordinário estar preparado para intervir, ocasionalmente ou com uma certa regularidade, através da imprensa, rádio, TV.
  O CG23 já indicara os âmbitos possíveis. “A Congregação – lemos no documento capitular – empenha-se numa adequada utilização da Comunicação Social para a transmissão da mensagem cristã e a educação dos jovens à fé. A comunidade local busque, por isso, a própria capacidade comunicativa: ajudando cada salesiano a ser um bom comunicador, capaz de usar uma linguagem adaptada aos jovens e ao povo, especialmente na liturgia e na catequese; servindo-se de todos os meios (relações, aspecto da casa, teatro, vídeo, música, salas...) através dos quais são emitidas mensagens para predispor à fé e difundir a mensagem da salvação; cuidando, particularmente, da educação dos jovens às diversas formas de comunicação e à leitura crítica das mensagens”[38] .
Se as comunidades locais, fazendo uma revisão, perceberem que não se levaram ainda em consideração essas orientações do Capítulo Geral, programem um caminho para realizá-los.
Orientações práticas
Apresento-vos, agora, uma série de indicações operativas. Não se deve tomá-las como um pacote indivisível, como se cada Inspetoria e cada comunidade devesse realizar todas elas.
A Congregação apresenta-se variegada quanto à comunicação social. Existem Inspetorias que possuem pessoas qualificadas, estruturas que atuam como empresas já afirmadas, caminhos experimentados de formação de irmãos, organismos inspetoriais, múltiplas atividades juvenis e assim por diante. Outras, diversamente, trabalham em níveis mais modestos.
Será tarefa dos Conselhos Inspetoriais adequar o programa de ação às exigências do contexto e às reais possibilidades da Inspetoria. Não se pode ignorar, porém, ou remeter essa dimensão para o futuro. É clara, entretanto, a opção fundamental e a direção dos nossos esforços: predispor equipes e centrais dedicadas à elaboração das mensagens, mais do que preocupadas com o processo de instrumentos ou a gestão de estruturas materiais. Estas tornam-se logo obsoletas e muitas vezes, uma vez adquiridas, devemos empregá-las em trabalhos que não se referem estritamente à nossa missão. Os serviços que esses complexos técnicos prestam, podem ser solicitados a terceiros, pelo menos nas regiões normalmente providas, enquanto nós nos concentramos nas mensagens.
Em nenhum campo da vida existem receitas simples e imediatamente aplicáveis. Muito menos num âmbito que está em contínua expansão e de que é difícil prever os desenvolvimentos ulteriores, mesmo em breve tempo. Não é secundário, porém, conhecer as mil possibilidades que se abrem diante da nossa ousadia apostólica.
Recolho-os ao redor de dois núcleos: o empenho educativo de cada presença salesiana e a responsabilidade institucional das Inspetorias diante da cultura da comunicação.
Os dois aspectos são complementares entre si: deve-se agir no imediato e no pequeno, mas não deve ser desleixada a preocupação mais vasta pela situação juvenil e a cultura, que exigem ações programadas também em grande raio e longo tempo.
Estes últimos poderão parecer esforços que nos superam, e talvez sejam-no. Se não começarmos, porém, como cidadãos e como salesianos, a assumir maiores responsabilidades, apesar das dificuldades conaturais a esse trabalho, e as acrescentadas pela concorrência leal e desleal, jamais se poderá influir no curso das coisas: ou seja, sobre os critérios dos utentes, sobre a ética dos produtores, sobre a mentalidade dos educadores, sobre a sensibilidade dos pastores. Saberemos, menos ainda, enfrentar o desafio, inédito e imprevisível, da complexidade cultural que a comunicação comporta.
O carisma salesiano, justamente pela sua experiência direta dos jovens e do povo, pode sugerir projetos para orientar positivamente a comunicação de massa e participar em sua realização com contribuições de competência educativa e pastoral.
Esforços das comunidades
 A comunicação social é, hoje, o maior fator de socialização e educação. É uma escola sem limites de horário e espaço, de onde recebem-se informações e modos de agir, orientações de pensamento e soluções práticas para os problemas que a vida apresenta. Seja considerada, portanto, como um campo de intervenção para nós Salesianos, sempre atentos à dimensão educativa.
Eis, portanto, alguns possíveis empenhos a serem postos à atenção das comunidades para que entrem novamente no projeto educativo e sejam considerados nas programações anuais.
Ativar a comunicação salesiana
A Congregação e a Família Salesiana atualizaram-se quanto aos meios e modalidades de comunicação interna. Ela circula nos diversos níveis (casa, inspetoria, região, congregação) e leva material abundante, correspondente a variadas urgências e necessidades.
Há a comunicação institucional que faz chegar, com a autoridade que lhe dão as Constituições e a ampla experiência da vida salesiana, orientações carismáticas em termos de motivações e indicações operativas: compreende as Cartas do Reitor-Mor, as comunicações dos Conselheiros Gerais para a animação do setor que lhes é confiado e as que vão do Centro Inspetorial às comunidades locais. Tal comunicação já possui muitos elementos de espiritualidade.
Há, depois, a comunicação fraterna sobre os acontecimentos da Congregação, que podem interessar de modo maior pelo seu significado ou reflexo sobre a opinião pública. O artigo 59 das Constituições indica-o como um dos elementos principais para criar unidade e sentido de pertença. O mesmo acontece e exige-se em nível inspetorial.
São exemplos. Poderiam ser multiplicados, fazendo também um discurso análogo sobre a Igreja. Imagino as dificuldades que se possam interpor: o acúmulo de documentos e comunicações, a escassez de tempo para comunicar, o interesse diversificado dos irmãos.
Viu-se que é possível gerir a complexidade que deriva desses três fatores com uma atenção maior por parte do superior-animador, conservando as oportunidades de comunicar (boa-noite, leitura espiritual, dia da comunidade, refeições, reuniões), predispondo um lugar onde os órgãos de comunicação sejam dignamente expostos ao interesse de cada um (sala da comunidade, biblioteca), fazendo uma seleção inteligente para apresentar na comunidade o que é mais relevante e interessante, de acordo com critérios objetivos de vida salesiana ou situação comunitária com um comentário oportuno.
Educar ao uso da mídia
Os termos utilizados nos vários Países poderão mudar, assim como são diversos os níveis técnicos e as disponibilidades de programas e instrumentos. Fica para todos a vontade de empenhar-se: os que trabalham na educação e na evangelização devem sentir-se chamados a elaborar uma pedagogia que leve à compreensão e utilização da mídia.
Não basta dotar as comunidades juvenis ou de adultos com instrumentos, até refinados, para fazer crescer a comunhão. Não será a simples conexão com as redes nacionais e internacionais que garantirão a difusão adequada de conhecimentos e o aumento das relações, mas, sim, o uso mirado e racional dessa possibilidade. A orientação educativa é, ao menos, muito conveniente, também para o adulto.
Vem de aqui a exigência de os educadores terem a possibilidade de conhecer a fundo as problemáticas que nascem do contato com as novas tecnologias. É preciso fazer o esforço de aplicar ao mundo da mídia os princípios e critérios da nossa pedagogia preventiva.
Isso corresponde ao nosso carisma. Devemos, então, perseguir as suas expressões e, onde for o caso, recuperar o tempo perdido.
Oratórios, escolas, paróquias, grupos juvenis sejam ajudados, não digo a entrar na cultura medial, porque talvez já estejam imersos nela, mas a viver nela com clareza de orientação, a organizar um programa eficaz de educação, com práticas e revisões adequadas.
Recorde-se que existem os “meios pequenos”, à medida doméstica e à mão de todos, que representam sempre uma riqueza comunicativa e servem à qualidade do ambiente: folhetos, revistas, momentos celebrativos mais ou menos formais e outros semelhantes.
Não fiquemos satisfeitos com a crítica fácil sobre o que nos vem da comunicação de massa. Percorramos com decisão e de modo sistemático, o caminho de preparação de jovens e adultos à responsabilidade e conhecimento da mídia, correspondente ao seu crescimento.
Aplicar as novas tecnologias ao ensino
Falo de ensino, incluindo aí tudo o que uma presença salesiana realiza de educativo e pastoral: as relações interpessoais de amizade, de papéis ou de ministério sacerdotal, o ensino formal na escola, o debate nos grupos, a proposta evangélica através da pregação, o momento celebrativo, ordinário ou extraordinário, seja ele cultural ou religioso.
Hoje é necessário colocar-se na perspectiva de uma comunicação global, perguntar-se como ser eficazes na proposta que se está oferecendo. A comunidade deverá verificar a coerência entre a linguagem verbal, as mensagens que se quer comunicar e os significados preterintencionais. Não basta selecionar os conteúdos; sejam estudadas igualmente as referências e modalidades de apresentá-los e o contexto no qual faze-los ressoar. As novas tecnologias mediais servem justamente para centrar e melhorar a elaboração dos conteúdos escolhidos.
Exige-se, aqui, uma mudança no modo pessoal e comunitário de trabalhar que nos pode se difícil. Será, porém, em vantagem dos destinatários e dos valores que entendemos apresentar.
O CG24 indicava esse objetivo: “Valorizar a comunicação em todas as suas formas e expressões: comunicação interpessoal e de grupo, produção de mensagens, uso crítico e educativo dos meios da comunicação social”[39] .
Desenvolver todas as potencialidades comunicativas das pessoas
A educação salesiana inseriu na sociedade civil muitos ex-alunos que se distinguiram no âmbito da comunicação social. Seria difícil apresentar um elenco completo de nomes, de setores da comunicação onde eles estão inseridos, dos papéis assumidos. Podemos indicar o teatro, o canto, o espetáculo, a récita, o show, a música, e muitos outros aspectos do entretenimento e da cultura popular. Podemos recordar os inúmeros escritores que se prepararam no ambiente salesiano: jornalistas, autores de textos escolares, romances, leituras educativas e formativas, poetas em vernáculo e em língua culta.
Não sejam esquecidas ainda as pessoas criativas que pertencem à nossa Família, que, quando colocadas na ocasião, souberam aproveitar os dotes pessoais para criar empresas de comunicação: revistas, editoras com finalidades culturais e educativas variadas, redes de rádio e de televisão, agências de notícias.
Tudo isso é um sinal de que muitos jovens encontraram entre nós espaços e apoio para desenvolver capacidades que, de outra forma, teriam ficado sepultadas.
Seria realmente uma grande perda se falhassem essas riquezas da nossa tradição educativa!
Demos, pois, confiança aos jovens!
É maciça a presença deles no areópago da comunicação. Eles sentem a urgência de acolher a diversidade, de entrar em contato com quem tem uma cultura ou sensibilidade diversa, de comunicar experiências, de animar encontros. Eles já crescem equipados com o conhecimento de mais de uma língua. Exprimem uma surpreendente capacidade de colocar-se no interior das novas tecnologias e linguagens. Não se pode deixar de ficar satisfeito com isso; mas, justamente por essas suas capacidades devemos confiar neles[40] .
Os jovens, dizia a mensagem para a 24ª Jornada da comunicação social, “tiveram a vantagem de crescer juntos com o desenvolvimento das novas tecnologias, e será tarefa deles empregar esses novos instrumentos para um diálogo mais amplo e intenso entre todas as diversas raças e classes que habitam este “mundo sempre mais pequeno”. Caberá a eles descobrir os modos com que os novos sistemas de conservação e intercâmbio de dados podem ser utilizados para contribuir à promoção de uma maior justiça universal, de um maior respeito dos direitos humanos, de um sadio desenvolvimento de todos os indivíduos e povos, e das liberdades que são essenciais para uma vida plenamente humana”[41] .
Sabendo-os orientar no uso desses instrumentos, poderão tornar-se protagonistas no percurso que nos deve guiar a objetivos educativos de grande peso no novo milênio.
Refiro-o em primeiro lugar aos jovens salesianos. É necessário que alguns ou muitos entre eles, oportunamente preparados, sejam orientados para ocuparem no âmbito da mídia os espaços que se referem aos meninos e jovens. Trata-se de uma “ocupação” correspondente à pastoral e ao espírito salesiano de vasta incidência educativa e evangelizadora.
Ajudar os novos pobres
Vez por outra parece que se queira carregar de aspectos novos o projeto formativo dos Salesianos e o educativo dos jovens. É um fato que vão se acrescentando em nossa vida novas dimensões e novas problemáticas, e a necessidade de responder-lhes exige novas atenções.
A comunicação social – mensagens, instrumentos, cultura – abre ou impede caminhos para interpretar e forjar a vida. Deduzem-se dela, com facilidade, a visão do mundo e os modelos de comportamento. A qualidade da vida fica ligada àquilo que os meios de comunicação apresentam diretamente ou de forma oculta.
A pessoa qualifica-se pela sua liberdade de autodeterminar-se, pelas opções concretas e pela contribuição que oferece à convivência e à sociabilidade. Esse relevo exigiria uma reflexão mais ampla e mais detalhada. As poucas afirmações anteriores servem-me para tirar uma conseqüência prática que confio às comunidades locais.
Preparar as pessoas ao uso dos instrumentos oportunos para exercer a própria liberdade e viver de forma mais completa as exigências da sociabilidade, investe diretamente a responsabilidade de uma instituição que se apresenta com finalidades educativas.
Exigir a inserção da comunicação no projeto educativo e pastoral, considerando seus aspectos, possibilidades e riscos, não significa outra coisa que pedir às comunidades salesianas e educativas que adquiram e ofereçam competências diante da cultura em que estamos imersos e da sociedade em que devemos viver.
Os leigos poderão desenvolver uma tarefa específica nesse setor. Eles, de fato, podem individualizar e elaborar mensagens que respondam mais de perto à situação e às necessidades atuais do povo e dos jovens. Eles possuem facilmente uma linguagem mais adaptada para exprimir valores ou convicções porque forjada na experiência secular, ligada ao conhecimento direto das condições ordinárias da vida. Particularmente, os que, dentre eles, têm uma profissão específica podem ser colaboradores preciosos da missão de Dom Bosco[42] .
Em tema de competência medial hoje, parece-me indispensável gastar algumas linhas sobre a última revolução informática: a Internet.
A grande rede estende-se sempre mais e nos envolve. Estamos aprendendo a usá-la; devemos aprender a apreciar a sua utilidade e a não ficar emaranhados nela; devemos, sobretudo, conseguir orientar os meninos e jovens que correm o risco de perder-se em seus labirintos e chegar a espaços que certamente não os ajudam a crescer.
Para nós, existe a grande tarefa educativa diante de um espaço que é, sim, virtual, mas que pode ter sérios reflexos sobre a vida real de meninos e jovens; há ainda uma tarefa de confronto cultural e ético sobre o uso, a regulamentação, as responsabilidades às quais não nos podemos subtrair e que podemos promover.
A Internet coloca conhecimentos à disposição, cria contatos diretos, oferece espaços amplos de comunicação e difusão de mensagens. Não podemos ser distraídos quanto às suas potencialidades; devemos assumir atitudes justas diante dela e saber avaliar o influxo que produz na vida concreta e em nossa ação educativa.
Não há dúvidas de que a Internet, embora atualmente de modo submerso, está produzindo uma espécie de revolução antropológica, que não se refere apenas às habilidades de uso, mas toca as formas de pensamento, os hábitos de vida e a própria consciência. A rede dá um aspecto novo às noções de espaço e tempo, elimina limites e barreiras entre nações, torna possíveis interações nas quais todos se sentem em paridade. Está nascendo um mundo aberto em que desaparecem as barreiras geográficas entre as pessoas, um mundo interativo e, portanto, vivo e variegado. Muitas coisas mudaram e outras mudarão em nível relacional, cultural, comercial; todos os setores de serviços, de atividades de intermediação, de trabalho, de entretenimento e dos transportes sofrerão perturbações [43] .
Não é possível avaliar plenamente, ainda, o peso dessa revolução, mas está nascendo o “cidadão eletrônico” que devemos ajudar a ser “honesto”, a abrir-se ao “além” da rede e reconhecer a paternidade de Deus, para ser “bom cristão”.
Esforços das Inspetorias
Podem-se exprimir muitos esforços na vertente institucional em relação à comunicação social. Recolho-os ao redor de alguns temas e confio-os, neste caso, às comunidades inspetoriais, aos seus organismos, às comissões de comunicação que trabalham no interior das Inspetorias.
Conhecer as leis e os próprios direitos
O ofício inspetorial de comunicação social, entre outros empenhos, assuma o de conhecer as leis sobre a comunicação vigentes no País. Ali são também expressos os direitos dos cidadãos, instituições reconhecidas e grupos de fato.
A partir das diversas legislações podem-se percorrer muitos caminhos para individualizar aspectos urgentes do bem comum e concorrer para apoiá-los.
Desenvolvem-se ao redor das estruturas de comunicação de massa interesses econômicos, políticos, culturais, religiosos, de poder oculto. Não é fácil entrar em seus dinamismos. O primeiro passo a dar, porém, é o conhecimento das leis para mover-se com honestidade e segurança e não colocar em dificuldade nem a si próprios nem, muito menos, a ação apostólica ou a instituição salesiana. Hoje, de fato, existem muitos aspectos “regulados” pelas leis cuja violação comporta sanções além de serem desonestidade (direitos de autor, de imagem, respeito da privacidade, taxas e impostos, declarações variadas, reproduções, etc.).
É preciso, porém, fazer com que a legalidade seja respeitada por todos, pelas pessoas comuns e por quem exerce o poder. Uma consciência que deve crescer entre nós e em nossas comunidades educativas é o direito de tutela. O bem comum e a defesa da dignidade da pessoa exigem com frequência, intervenções claras e públicas. O cidadão individualmente e as associações têm o direito e o dever de exprimir-se com suas tonalidades próprias, junto às sedes e através dos meios que julguem mais oportunos e eficazes.
O argumento é vasto e com muitos aspectos de tipo ético e legal. Ele, porém, barra a estrada a uma atitude: a aceitação passiva, resignada ou impotente diante das grandes organizações.
Desenvolver algumas atenções
Em continuidade à linha da reflexão anterior, enuncio várias atenções a serem desenvolvidas. Estão todas em linha com a prioridade juvenil, de educação e evangelização, que determina os nossos objetivos.
A primeira é a tutela dos direitos dos meninos e dos jovens. A experiência dos últimos anos apresentou-nos com frequência o sofrimento dos mais pequenos e dos mais fracos diante dos conteúdos mediais e de organizações criminosas interligadas através desses meios.
A violência, o ódio racial, a sedução moral, a própria publicidade voltada ao público juvenil ofendem a pessoa humana e influem negativamente no desenvolvimento intelectual, emotivo, moral e psicológico.
Nossas comunidades educativas podem intervir, singular ou coletivamente, em defesa da legalidade, além de educar jovens e famílias ao uso adequado do zapping.
Vem depois, a tutela da família. Muitos espetáculos, que chegam em casa através dos meios da comunicação de massa, não facilitam as relações cordiais entre seus membros, não apoiam a fidelidade no amor, não se harmonizam com os critérios evangélicos da vida de casal.
Os produtores de espetáculos não podem descarregar toda a responsabilidade nos que se servem da mídia, como se a democracia comunicativa não devesse ter critérios de auto-regulamentação interna.
Os grupos que trabalham em nossos ambientes têm o direito legal de intervir e dar a conhecer as expectativas dos utentes da mídia.
Há ainda, a tutela da qualidade do serviço. Afirma-se com frequência, como pretexto, que a qualidade é um conceito nitidamente subjetivo, que a cada um agrada “um determinado tipo de qualidade”, que é pedida por ele. É, entretanto, sem dúvida possível indicar e definir alguns indicadores que ajudem a julgar objetivamente os produtos oferecidos. O nível técnico, o profissionalismo, a maestria na interpretação dos personagens e situações, o rigor da trama, a dimensão ética da narração são alguns critérios de julgamento da oferta feita pela TV. Convém dar a todos conhecimentos para que possam avaliar com competência e intervir sem complexos.
Configura-se, também aqui, um âmbito em que os leigos atuantes nas estruturas salesianas podem oferecer uma válida contribuição.
Por último, coloco a tutela da privacidade. A busca do lucro econômico não pode ser a única preocupação dos grandes instrumentos de comunicação.
Assistimos com frequência à concorrência desapiedada, em busca de fatias de mercado de ouvintes, à manipulação de dados pessoais com a finalidade de impressionar o público.
Verificam-se assim violações patentes dos direitos das pessoas e infrações de normas estabelecidas pela lei. Sabe-se que o “scoop” não é apenas uma técnica; é uma tentação em vista de um lucro maior.
É justa a reação espontânea que nos vem diante de informações que não tutelam os dados pessoais. Todos têm o direito de decidir quais os dados que podem ser tornados públicos e quais devam permanecer reservados. Cabe-nos ver se numa “questão social” como a comunicação, as nossas “justas” reações permanecem sempre privadas e individuais ou conseguem influir no costume e nos comportamentos.
São exemplos. O fato de ter indicado o tema sirva de ajuda na reflexão das questões que são novas, e que se tornarão, nos próximos anos, sempre mais urgentes e necessitadas, portanto, de uma organização clara, de atitudes adequadas e de soluções originais.
Abrir-se a sinergias e colaborações
Lemos nos Regulamentos: «Tais serviços (de comunicação) assentem-se em seguras bases jurídicas e econômicas e encontrem formas de entrosamento e cooperação com centros de outras inspetorias e com o conselheiro geral para a Família Salesiana e a comunicação social»[44] . «Os centros editoriais que atuam na mesma nação ou região busquem formas convenientes de colaboração para formular um projeto unitário»[45] .
Um primeiro comentário refere-se à gestão das empresas de comunicação. Olho com atenção particular para as casas editoras, que são numerosas na Congregação. Devem corresponder primeiramente aos critérios que orientam a nossa missão educativa e pastoral. Tenha-se, também, presente que a atividade editorial, organizada com critério de empresa, deve ser gerida com profissionalismo bem definido, objetivos claros e um controle eficiente e freqüente por parte da instituição salesiana.
A segunda observação que se tira do texto dos Regulamentos é que a comunicação social ultrapassa os limites restritos de uma Inspetoria. Deve ser  pensada, portanto, em rede. O que não pode ser feito com as forças de uma única inspetoria, pode ser realizado com a participação de várias. São variados os aspectos em contínua e rápida mudança, que se não forem observados no momento oportuno, de forma ótima e com custos proporcionados, esvaziam a empresa e colocam-na fora do mercado. De aí a urgência de não sobrepor, de não repetir esforços que se possam fazer em comum.
Deram-se na Congregação algumas reuniões que viram várias editoras juntas para programarem um futuro de colaboração e ligação.
O caminho deve ser continuado e incrementado, experimentando e confrontando também modalidades concretas de realização. Hoje, é indispensável a união para estar presentes de maneira eficaz e competitiva. Observamos continuamente, em todas as partes do mundo, fusões, acordos, ligações entre empresas de todo gênero (ban