Jornadas de Estudo - Do primeiro anuncia a...

«DO PRIMEIRO ANÚNCIO AO CATECUMENATO»


Ir. Patricia Finn, FMA


Tema: o caminho de Iniciação Cristã da primeira evangelização ao catecumenato para “recuperar o ardor dos inícios da evangelização do continente africano”.

Introdução


Quando se pensa na África, se pensa imediatamente à sua extensão geográfica, às diversidades, à complexidade e ao seu mistério. A Igreja Católica na África é envolvida por estes elementos que precisam ser descompactados para compreender a realidade da Igreja no continente africano.


  1. DIVERSIDADES CULTURAIS E GEOGRÁFICAS



Quando se fala de África, devemos recordar que o norte da África é completamente diferente da África subsaariana. Além disto, cada região: oriental, ocidental, central e meridional é significativamente diferente uma da outra. Do ponto de vista linguístico, a África é ainda mais complexa. Deixando de lado todos os dialetos, podemos contar aproximadamente 2 mil línguas diferentes e, portanto, podemos imaginar o enorme problema de comunicação que as 62 nações africanas precisam enfrentar hoje. Viajando de um país a outro, o estilo de vida pode variar notavelmente em seus meios de subsistência, na sua cultura e também na sua alimentação.

É também importante recordar que a evangelização entrou no continente africano muito antes dos interesses coloniais. Como lemos nos Atos dos Apóstolos 8, 26 – 40, foi o apóstolo Filipe quem batizou o primeiro cristão etíope.

Portanto, a missão evangelizadora da Igreja na África e as modalidades de sua realização podem variar de país a país. Entretanto, a realidade é sempre a mesma. As perguntas são sempre as mesmas: como pode a Igreja realizar a sua missão evangelizadora? Como os cristãos africanos podem tornar-se sempre mais fiéis testemunhas de nosso Senhor Jesus Cristo?


  1. O CATECUMENATO BATISMAL COMO INSPIRAÇÃO PARA TODA A CATEQUESE



Quando nos referimos à catequese e ao modelo de catecumenato batismal, é essencial compreender de que coisa nós estamos falando para poder colocar numa prospectiva correta o processo mediante o qual o Rito de Iniciação Cristã dos Adultos mudou o nosso modo de fazer catequese.


2.1 Constituição Conciliar sobre a Sagrada Liturgia: Neste documento, o Concílio Vaticano II pede que “restaure-se o catecumenato dos adultos, com vários graus, a praticar segundo o critério do Ordinário do lugar, de modo que se possa dar a conveniente instrução a que se destina o catecumenato e santificar este tempo por meio de ritos sagrados que se hão de celebrar em ocasiões sucessivas (#64)”.


    1. Decreto sobre a atividade missionária da Igreja (#14): “Aqueles que receberam de Deus por meio da Igreja a fé em Cristo, sejam admitidos ao catecumenato, mediante a celebração de cerimônias litúrgicas; o catecumenato não é mera exposição de dogmas e preceitos, mas uma formação e uma aprendizagem de toda a vida cristã; prolongada de modo conveniente, por cujo meio os discípulos se unem com Cristo seu mestre. Por conseguinte, sejam os catecúmenos convenientemente iniciados no mistério da salvação, na prática dos costumes evangélicos, e com ritos sagrados, a celebrar em tempo sucessivos, sejam introduzidos na vida da fé, da liturgia e da caridade do Povo de Deus. […] Enfim, o estado jurídico dos catecúmenos deve ser fixado claramente no novo Código. Pois eles estão já unidos à Igreja, já são da casa de Cristo, e, não raro, eles levam já uma vida de fé, de esperança e de caridade”.



    1. O Rito de Iniciação Cristã dos Adultos (RICA): No seu decreto de 1972, a Congregação para o Culto Divino disse: “O Concílio Vaticano II prescreveu a revisão do Rito do Batismo de Adultos, que institui a restauração do catecumenato para adultos, que compreende várias etapas distintas, de modo que o tempo do catecumenato, para uma preparação adequada, é santificado por ritos sagrados para ser comemorado em momentos sucessivos. O Conselho decidiu também que, com a restauração do catecumenato, sejam revisados também o rito solene e o simples rito do batismo de adultos." (Congregação para o Culto Divino 6 de janeiro de 1972).



    1. Diretório Geral Catequético (atualizado). “Dado que a missão ad gentes é o paradigma de toda a missão evangelizadora da Igreja, o Catecumenato batismal, que lhe é inerente, é o modelo inspirador da sua ação catequizadora. Por isso, é oportuno sublinhar os elementos do Catecumenato que devem inspirar a catequese atual e o significado metodológico dos mesmos. É preciso, todavia, colocar a premissa que entre os catequizandos e os catecúmenos, e entre catequese pós-batismal e catequese pré-batismal, que lhes é respectivamente administrada, existe uma diferença fundamental. Ela provém dos sacramentos de iniciação recebidos pelos primeiros, os quais «já foram introduzidos na Igreja e já foram feitos filhos de Deus por meio do Batismo. Portanto, o fundamento da sua conversão é o Batismo já recebido, cuja força devem desenvolver». Diante desta substancial diferença, consideram-se a seguir alguns elementos do Catecumenato batismal, que devem ser fonte de inspiração para a catequese pós-batismal (DGC 1997 #90):

O Diretório busca, portanto, aprofundar quais elementos de pré-catequese batismal devem ser considerados como norma para a catequese pós-batismal.

  • A pastoral de iniciação cristã é vital para toda Igreja particular.

  • O Catecumenato batismal é responsabilidade de toda a comunidade cristã.

  • O Catecumenato batismal é todo impregnado pelo mistério da Páscoa de Cristo

  • O Catecumenato batismal é também, lugar privilegiado de inculturação.

  • A concepção do Catecumenato batismal, como processo formativo e verdadeira escola de fé, oferece à catequese pós-batismal uma dinâmica e algumas notas qualificativas:

  • a intensidade e a integridade da formação;

  • o seu caráter gradual, com etapas definidas;

  • a sua vinculação com ritos, símbolos e sinais, especialmente bíblicos e litúrgicos;

  • a sua constante referência à comunidade cristã...

O Diretório conclui este capítulo com um parágrafo no qual se afirma que, se bem considerada, esta visão da catequese mudará o modo de catequizar crianças e jovens.

“A catequese pós-batismal, sem dever reproduzir mimeticamente a configuração do Catecumenato batismal, e reconhecendo aos catequizandos a sua realidade de batizados, deverá inspirar-se nesta «escola preparatória à vida cristã», deixando-se fecundar pelos seus principais elementos caracterizadores” (DGC 91).


  1. A CATEQUESE NO PROCESSO DE EVANGELIZAÇÃO


3.1 O Primeiro Anúncio de Cristo

O Diretório Geral Catequético afirma1 (#61): “primeiro anúncio se dirige aos não crentes e àqueles que, de fato, vivem na indiferença religiosa. Ele tem a função de anunciar o Evangelho e de chamar à conversão”. Não é somente dirigido àqueles que ainda não conhecem Cristo, mas também aos batizados que abandonaram a prática da sua fé cristã, àqueles que vivem na indiferença, àqueles que se limitam a praticar a fé cristã de vez em quando e em determinados momentos durante o Ano Litúrgico, àqueles que praticam a sua fé porque é costume.

Essencialmente, o primeiro anúncio, a evangelização e a nova evangelização buscam alcançar o mesmo objetivo: levar as pessoas a um encontro com Jesus. A Igreja deseja que a primeira fase do processo catequético seja dedicada a garantir a conversão a Cristo (CT 19; DGC 61). É verdade que o primeiro anúncio é o início de um longo caminho de fé e de conversão. Sem esta conversão inicial e a fé pessoal inicial, a catequese corre o risco de ser estéril.

Na Redemptoris Missio João Paulo II insiste no fato de que “o primeiro anúncio é a prioridade permanente na missão” que tem um papel central e insubstituível na missão da Igreja (n. 44).

    1. O período do pré-catecumenato

Este é o ponto de partida, o tempo da conversão inicial. É o tempo no qual é possível compreender quem é a Igreja, é também o tempo de discernir se a Igreja Católica é capaz de dar significado e direção à própria vida. É a viagem de Iniciação Cristã; este período pode durar até que a pessoa descubra, aceite e acredite em Jesus tornando-se deste modo membro ativo da Igreja.

Qual é a vantagem do pré-catecumenato? É o período da evangelização, um desejo do coração, um início à conversão afetiva da pessoa. É o tempo no qual as pessoas dão as primeiras respostas como membros da Igreja e são capazes de remover os primeiros obstáculos e preconceitos. É o tempo no qual se reflete sobre o caminho que Deus está lhes indicando, e também o tempo de conhecer histórias e testemunhos de outros catecúmenos. É muito importante ser flexíveis e responder às necessidades dos pré-catecúmenos e possuir um conteúdo sistemático para o catecumenato.

Isto é o que diz o RICA (n.t. Ritual de Iniciação Cristã dos Adultos) a respeito do pré-catecumenato: “Todo o período do pré-catecumenato é reservado para esta evangelização, de modo que a verdadeira vontade de seguir a Cristo e buscar o batismo possa amadurecer perfeitamente” (#36).

Antes de celebrar o rito de aceitação, é preciso deixar um tempo suficiente para cada candidato a fim de avaliar se é necessário purificar os motivos e as disposições pessoais” (RICA # 43).

Reflexão: Como catequistas, o que fazemos para que crianças e jovens sejam evangelizados antes de chegarem à catequese?


Grupos que precisam de uma nova evangelização

Características identificadas

Cristãos não praticantes”

Aqueles que foram batizados, mas não vivem como cristãos

Povos simples”

Aqueles que expressam a sua fé profunda através de devoções populares, mas conhecem pouco dos seus princípios fundamentais.

Pessoas “muito instruídas” mas ignorantes do ponto de vista cristão.

Aqueles que cresceram sem uma formação religiosa durante a sua infância

Cristãos reticentes


Aqueles que, por diversas razões, não têm a coragem de “testemunhar em público, a sua fé em Jesus Cristo”.


3.3 O período do Catecumenato

O número 75 do Ordinário afirma claramente que "o catecumenato é um período durante o qual os candidatos recebem formação pastoral adequada e orientação, visando a formação deles na vida cristã. Deste modo, os motivos de aceitação no catecumenato alcançam a sua maturidade. Isto é conseguido de quatro maneiras:


3.3.1 Uma gradual, completa e adequada catequese é planejada, com uma atenção às festas do ano litúrgico e completada pelas celebrações da Palavra de Deus […]


3.3.2 […] Os catecúmenos e os candidatos são ajudados pelos padrinhos e por toda a comunidade. Os catecúmenos aprendem mais facilmente a chegar a Deus através da oração, a dar testemunho da sua fé, a manter viva a sua esperança em Deus a cada momento, a seguir as inspirações sobrenaturais nas suas ações cotidianas e amar os irmãos e irmãs na vida concreta, mesmo que a custo de sacrifícios pessoais. Isto prepara os novos convertidos a iniciar um caminho espiritual […]


3.3.3 A Igreja, como uma mãe, ajuda os catecúmenos no seu caminho com ritos litúrgicos adequados a eles, de modo que aos poucos possam ser purificados e reforçados com a ajuda de Deus […]


3.3.4 Do momento em que a vida da Igreja é apostólica, os catecúmenos devem também aprender a trabalhar ativamente com os outros para difundir o Evangelho e construir a Igreja com o testemunho da sua vida e de professar a própria fé.


  1. RELAÇÃO FUNDAMENTAL ENTRE EVANGELIZAÇÃO E CATEQUESE



Todos os cristãos são responsáveis pela catequese. Isto é particularmente verdadeiro porque cada cristão faz parte da missão evangelizadora da Igreja. Este princípio ressoa mais forte quando lemos no Catecismo da Igreja Católica que é muito importante que os animadores paroquiais colaborem entre si, em todos os níveis, nas atividades catecumenais, e colaborem com os pais e os familiares das crianças e dos jovens, “porque são os primeiros educadores dos seus filhos” (CIC 2223).

Em todos os ministérios e os serviços que a Igreja oferece “a missão de evangelização e de catequese ocupa um lugar muito importante” (DGC 219).

A catequese é um serviço “realizado por sacerdotes, diáconos, religiosos e leigos em comunhão com o bispo” (DGC 219). Por isso, a fim de que possa tornar-se realidade, é necessário que entre os católicos haja uma forte convicção que a catequese não é uma responsabilidade somente de alguns escolhidos. Toda a comunidade cristã é chamada a envolver-se neste processo.

A Palavra de Jesus continua a dar significado à vida cristã: “Não foram vocês que me escolheram, mas fui eu que escolhi vocês. Eu os destinei para ir e dar fruto, e para que o fruto de vocês permaneça.” (Jo 15,16). Um dos obstáculos para realizar uma efetiva catequese catecumenal está no fato de que muitas vezes a responsabilidade da catequese se concentra somente sobre algumas pessoas de boa vontade.

Muitas foram as definições sobre a Evangelização, mas a mais significativa foi dada por Paulo VI: “Evangelizar, para a Igreja, é levar a Boa Nova a todas as parcelas da humanidade, em qualquer meio e latitude, e pelo seu influxo transformá-las a partir de dentro e tornar nova a própria humanidade” (EN 18).

O papa João Paulo II fala da catequese “como um momento muito importante no processo de evangelização” (CT 18). A evangelização e a catequese são estreitamente unidas, mas não podem identificar-se. Mesmo que o conteúdo da catequese e da evangelização sejam o mesmo, ou seja, a Boa Notícia da Salvação, o “momento” da catequese é o momento da conversão a Jesus Cristo concretizado na pertença total a Cristo (CT 26).

Se a catequese é compreendida como uma introdução ao processo para fazer despertar a fé nos não crentes, esperando que os introduza na Igreja, ou também se é compreendida como parte do processo que ajuda a fé das crianças, jovens e adultos, esta se realiza sempre no contexto da evangelização (DGC 49). Todos aqueles que foram evangelizados e catequizados, por sua vez, são chamados a tornarem-se Evangelizadores.

A Catequese deve necessariamente unir a atividade missionária que convoca à fé com a atividade pastoral que continuamente nutre a comunidade cristã. […] A Catequese é fundamental para a formação pessoal de cada discípulo (DGC 81).


Elementos

Objetivos

Estruturas

Características

Neocatecumenato
Evangelização

Conversão e fé inicial

Ad gentes”, uma “neocatequese”; nova evangelização; “catequese querigmática”


Anuncia o Evangelho; chama à conversão; prepara o indivíduo para o catecumenato; inicia o processo catequético.

Catecumenato

Preparação para os sacramentos de iniciação cristã

O batismo dos catecúmenos que une o anúncio às atividades pastorais da comunidade.

Oferece uma formação sistemática e completa da fé; fornece instrução e tirocínio na vida cristã; centrada sobre as doutrinas basilares sobretudo sobre os valores evangélicos.


Mistagogia / formação permanente na fé

Crescimento da fé / conversão contínua

Integração dos iniciados na vida das comunidades; alimentar o amor por Deus e pelo próximo e um compromisso com a evangelização.

Estudo da S. Escritura (especialmente Lectio Divina); “uma leitura dos eventos cristãos”; o estudo social católico; catequese litúrgica; algumas vezes, a catequese centrada em eventos particulares; iniciativas que reforçam o compromisso, abrem novas perspectivas e incentivam a perseverança (por exemplo, jornadas penitenciais, retiros...)



4.1 A Palavra de Deus como fonte da catequese

O DGC dedica um capítulo inteiro sobre as normas e sobre os critérios da apresentação da mensagem evangélica na catequese. Isto significa que “no centro da catequese está uma pessoa, a Pessoa de Jesus de Nazaré” (#98).

Na exortação pós-sinodal Verbum Domini, papa Bento XVI se refere à dimensão bíblica da catequese considerada “um aspecto importante da ação pastoral na Igreja, porque se usada sabiamente pode ajudar a descobrir a centralidade da Palavra de Deus […]” (VD 74).


4.2 A Missão da Igreja pós Concílio Vaticano II

O testemunho dos valores do Reino de Deus por parte dos batizados e das comunidades cristãs é o anúncio de Cristo Ressuscita, o Querigma (AG 20; EN 28, 49, 80; RM 32, 48-49; 72). É diferente da catequese. O evangelizado é uma pessoa cheia de paixão por Jesus Cristo. Uma paixão que mostra a convicção de que Jesus é o Senhor e o Salvador.

Os primeiros beneficiados da primeira evangelização são os não cristãos e os não crentes: povos, grupos, contextos socioculturais onde Cristo e o seu Evangelho não são conhecidos e onde se encontram comunidades cristãs não suficientemente maduras no viver e anunciar a fé aos outros grupos e promover os valores do Reino de Deus (Cf. AG 4,5,6; RM 33-34).

A missão ad gentes nos compromete a promover um desenvolvimento humano através da formação das consciências.

Todas as igrejas locais são chamadas à missão ad gentes, como primeira atividade missionária da Igreja, sem a qual a dimensão missionária perderia o seu profundo significado e o seu motivo de existir (RM 34, 37; 52-58).

O documento sobre a Reforma Litúrgica (SC) e o documento Ad Gentes, que fala da natureza missionária da Igreja, da visão evangelizadora, da formação catecumenal e da celebração litúrgica, foram elaborados como um momento privilegiado para revitalizar os esforços iniciais da Igreja.

Esta renovação se encontra em muitos documentos magistrais dos últimos 25 – 30 anos e que pouco a pouco deu forma à visão Conciliar. Documentos, Reforma litúrgica, Congregação Romana, Encíclicas Papais, Sínodos episcopais e outros documentos provenientes dos diferentes setores da Santa Sé e individualmente de conferências episcopais em todo o mundo, encontraram o modo como viver o mandato do Concílio em fidelidade ao Espírito que havia conduzido o Vaticano II.

Como educadores salesianos, a nossa tarefa é muito mais aquela de uma Iniciação Cristã do que de uma formação religiosa. A Iniciação Cristã é a agenda mais adequada para nós.


4.3 Iniciação Cristã

Ser iniciados na Igreja exige um pressuposto no qual haja uma comunidade onde está presente o Mistério ou um conhecimento especial. O Ordinário de Iniciação Cristã para adultos exige que na Igreja haja uma tal comunidade.

Cada Iniciação Cristã requer um processo que permita ao indivíduo de fazer parte de um grupo. Os iniciados adquirem uma nova identidade. Em cada contexto, a iniciação tem como meta formar indivíduos e comunidades capazes de comprometer-se com a história, os símbolos, os valores e a celebração do grupo. A toda comunidade empenhada na Iniciação Cristã se exige a conversão de vida como critério de pertença.


4.4 Uma Catequese adequada

O número 75 do Ordinário de Iniciação Cristã dos Adultos2 afirma claramente que o período do Catecumenato é um momento de “formação pastoral e de orientação, cuja finalidade é a formação [dos catecúmenos] na vida cristã” (RICA 75).

As principais partes do Ordo fazem ver como a catequese deve ser adequadamente implementada.


4.4.1 A Catequese durante o período do catecumenato “é gradual e completa no seu exercício, adequa-se ao ano litúrgico, e é ajudada pela celebração da Palavra de Deus. Esta catequese leva os catecúmenos a conhecerem de modo adequado não só os dogmas e os preceitos, mas também o sentido profundo do mistério da salvação ao qual são chamados a participar” (75). Daqui compreendemos que a catequese é uma experiência do Mistério de Deus e faz crescer o desejo de uma profunda participação a tal mistério.


4.4.2 A segunda parte do número 75 do Ordo nos dá uma luz sobre como o processo de iniciação deve ser levando adiante: "Quando começam a se familiarizar com a vida cristã e são ajudados pelo exemplo dos protetores, padrinhos, e toda a comunidade cristã, os catecúmenos aprendem mais facilmente a chegar até Deus através da oração, a dar testemunho de sua fé, a manter sua esperança em Deus em todos os momentos, a seguir as inspirações sobrenaturais em suas ações diárias e a amar os irmãos e irmãs na vida concreta, mesmo à custa de sacrifício pessoal. Isso prepara os novos convertidos a um caminho espiritual" (75.2).

Crianças e jovens aprendem mais facilmente as verdades religiosas seguindo os exemplos de vida da comunidade.


4.4.3 A terceira parte da seção 75 do Ordo descreve a importância da experiência ritual no processo de iniciação: demonstrar com o exemplo como viver uma vida apostólica. A iniciação convida a desenvolver um processo profundo que faça todos trabalharem com amor pelo Evangelho. Cuidando dos marginalizados, trabalhando pela justiça através de ações políticas, prontos a compartilhar publicamente as razões da própria fé, ser orgulhosos de pertencer à lista dos batizados. Estas são as características do “modo de viver” no qual nossos jovens devem ser iniciados.

No número 75 do Ordo encontramos uma síntese maravilhosa da visão da Iniciação Cristã, que deveria provocar uma “mudança de modelo”, ou seja, como a Iniciação Cristã para adultos, jovens e crianças, em nível de catecumenato neobatismal e aquele pós-batismal, deveria ser.

Uma comunidade que verdadeiramente acredita na Iniciação Cristã coloca sempre em primeiro lugar a conversão, a comunidade como contexto e o discipulado como meta.


  1. A CATEQUESE COMO UM LONGO CAMINHO DE CONVERSÃO E DE FÉ, RUMO À COMUNHÃO E À INTIMIDADE COM JESUS CRISTO (DGC 80)


Finalidade da catequese: a comunhão com Jesus Cristo

«A finalidade definitiva da catequese é a de fazer com que alguém se ponha, não apenas em contato, mas em comunhão, em intimidade com Jesus Cristo».

Toda a ação evangelizadora tem o objetivo de favorecer a comunhão com Jesus Cristo. A partir da conversão «inicial» de uma pessoa ao Senhor, suscitada pelo Espírito Santo, mediante o primeiro anúncio, a catequese se propõe dar um fundamento e fazer amadurecer esta primeira adesão. Trata-se, então, de ajudar aquele que acaba de ser converter a «...melhor conhecer o mesmo Jesus Cristo ao qual se entregou: conhecer o seu «mistério», o Reino de Deus que Ele anunciou, as exigências e as promessas contidas na Sua mensagem evangélica e os caminhos que Ele traçou para todos aqueles que O querem seguir». O Batismo, sacramento mediante o qual «configuramo-nos com Cristo», sustenta, com a sua graça, esta obra da catequese.

O papa Paulo VI destaca que para uma catequese autêntica é importante que esta seja “orgânica e sistemática a fim de que não diminua o seu valor” (CT 21).

A catequese inicial é muito mais que ensinar um conhecimento da fé. Começa e continua um estilo de vida que encontramos no catecumenato do batismo para os adultos “dentro de uma comunidade, que vive, celebra e dá testemunho de fé” (DGC 68).

O papa Bento XVI destaca na sua primeira enciclia Deus Caritas Est que “Ao início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo”.

Uma catequese verdadeiramente renovada se centraliza na pessoa de Jesus Cristo. Portanto, os esforços catequéticos devem ser orientados rumo à comunhão com Jesus Cristo. Se a fé cristã é um encontro com a pessoa de Jesus, o ensino da fé deve ir além dos mandamentos e das regras, deve impulsionar a um maior conhecimento de Jesus como Pessoa. Na Igreja a renovação catequética deve basear-se numa relação pessoal com Jesus dentro de uma comunidade de fé, comunidade sacramental.

O DGC (#80) destaca que o “objetivo último da catequese não é só permitir o contato, mas viver em íntima comunhão com Jesus Cristo.

Esta relação pessoal com Jesus não é somente uma utopia, mas sobretudo um crescimento maduro na fé cristã que exige um conhecimento e um aprofundamento da Sagrada Escritura. “O trabalho da catequese sempre requer uma aproximação à Sagrada Escritura na fé e nas tradições da Igreja(VD 74).

Quando o papa Bento XVI faz referência à catequese como “permeada por uma mente evangélica através do contato assíduo com os textos (VD 74), ele se refere ao fato de que a Palavra de Deus deve inspirar toda a dimensão da vida da Igreja.

Os discípulos de Jesus têm necessidade de ser cada dia nutridos pela Palavra de Deus de modo a crescer na vida cristã e em uma fé profunda. “A fé depende, portanto, da pregação, e a pregação é o anúncio da palavra de Cristo” (Rm 10,17).


5.1 A catequese pós-batismal é modelada pelo catecumenato batismal: um caminho contínuo de conversão e de fé

Há 50 anos, o Vaticano II ressaltava a visão da catequese na Igreja como um caminho contínuo de conversão à fé: um processo de iniciação na vida e na missão de Cristo. A novidade da visão é baseada no retorno a uma prática antiga de introduzir os não batizados adultos na Igreja. (RICA pp. xiv-xviii).

O RICA é muito mais um conhecimento da fé do que uma instrução. É um longo processo, um caminho de fé, assinalado por ritos específicos, por celebrações da Palavra de Deus e pela unção e imposição das mãos.

Esta preparação culmina com a recepção dos sacramentos da iniciação cristã e inserção em uma comunidade cristã de fé, conscientes e comprometidos com a sua missão evangelizadora na Igreja. Portanto, todas as formas de catequese devem ser compreendidas como uma aprendizagem na fé (DGC 67).

A restauração do catecumenato batismal requer uma adaptação às «diferenças de culturas, de idades, da vida espiritual, de situações sociais e eclesiais daqueles a quem a catequese é dirigida».


5.2 Como modelar toda a catequese pós-batismal no catecumenato batismal

A catequese pós-batismal para crianças e adolescentes que é modelada no catecumenato batismal é uma completa e sistemática formação na fé que normalmente inicia com o período de evangelização ou reevangelização.


5.2.1Toda a catequese é gradual e completa no seu conjunto, considera o ano litúrgico e é ajudada pela celebração da Palavra de Deus.

5.2.2Estimula o acompanhamento do indivíduo por parte do responsável, dos padrinhos e por toda a comunidade cristã. É um processo que se realiza em uma comunidade cristã.

5.2.3Promove as celebrações próprias da liturgia através das diversas fases e momentos da catequese. É necessário tempo e portanto não é preciso ter pressa.

5.2.4Recomenda que oportunidades adequadas sejam previstas para um ativo envolvimento apostólico segundo a idade, a cultura e as circunstâncias (RICA 75).

5.2.5Contém muito mais que instrução; é um tirocínio na fé que promove uma sequela autêntica de Cristo, centrada na Sua pessoa. Ajuda também os discípulos de Cristo a aceitarem as responsabilidades assumidas no dia do batismo e a professar a fé do profundo do “coração” (CT 29).

5.2.6 Apresenta um tipo de catequese que é permeada por um clima de oração.

5.2.7Insere aqueles que se preparam à Iniciação Cristã em uma comunidade de fé que vive, celebra e testemunha a fé.

5.2.8Prepara e abre à missão da Igreja (DGC 67-68).

5.2.9 O sacramento da crisma completa o processo de iniciação fazendo com que cada um, para todos os efeitos, se torne um membro da Igreja, empenhando-se deste modo a continuar a missão de Jesus.

5.2.10Depois de ter recebido o sacramento da Iniciação cristã há um período mistagógico ou de aprofundamento da fé, que tem por objetivo ajudar a pessoa a tornar-se na comunidade um membro ativo do corpo de Cristo.


  1. OS ELEMENTOS ESSENCIAIS OU AS TAREFAS DA CATEQUESE

A catequese é sempre inspirada no modo com que Jesus formou os seus discípulos: ensinou-lhes o Reino; selou neles as atitudes evangélicas; ensinou-lhes a rezar; preparou-os e enviou-lhes a cumprir a sua missão.

Há elementos ou tarefas essenciais no processo de evangelização. O DGC chama estes elementos de “tarefas fundamentais” (DGC 85) da catequese e destaca que quando a catequese não considera um destes elementos, a fé cristã não atinge o pleno desenvolvimento (DGC 87).



As tarefas fundamentais da catequese são:


6.1 Promover o conhecimento da fé

A catequese deve orientar os catequizandos não somente a um gradual conhecimento da fé mas deve também enriquecê-los com talentos de modo a serem capazes de articular a própria fé.

6.2 A formação litúrgica

Todos os fiéis devem ser levados a participar plena, consciente e ativamente da liturgia. Parte da catequese é portanto a tarefa de promover o conhecimento e a compreensão do significado da liturgia e dos sacramentos.


6.3 Formação moral

A catequese transmite as atitudes próprias de Jesus e estimula os catequizandos a empreenderem um caminho de transformação interior. O Discurso da Montanha é um ponto de referência indispensável para a formação moral, tão importante na vida dos nossos jovens de hoje.

6.4 A formação da oração

Se o objetivo de toda a catequese é a intimidade e a comunhão com Jesus, os catequizandos devem ser formados em vários aspectos da oração cristã: adoração, louvor, agradecimento, confiança, súplica e veneração. Todos estes sentimentos estão resumidos na oração do Senhor, que é o modelo de toda oração cristã. A catequese deve ser permeada por um clima de oração.


6.5 Iniciação à vida da comunidade

A catequese prepara os catequizandos a viverem em comunidade e a participarem ativamente à vida e à missão da Igreja. Parte desta iniciação à vida da comunidade incentiva atitudes fraternas para com os membros de outras igrejas cristãs e comunidades eclesiais.


6.6 Iniciação missionária

A catequese tem por objetivo dotar os discípulos de Jesus para estarem presentes como cristãos na sociedade através da sua vida profissional, cultural e social. A catequese infunde as mesmas atitudes evangélicas que Jesus ensinou aos seus discípulos: procurar os perdidos, proclamar e curar, ser pobres de espírito. A catequese deve também educar à comunicação significativa com homens e mulheres de outras religiões e ajudar a ser capazes de reconhecer as muitas sementes do Verbo que Deus semeou nestas religiões (DGC 81-87).

Cada um destes elementos deve estar presente na vida de uma pessoa madura, cristã comprometida. Devem além disto estar em relação com o outro de modo permanente. A sua interação é o coração da fórmula de crescimento para um cristão (DGC 31; 87).

Se um ou mais destes elementos está totalmente ausente da vida de um cristão, significa que não houve uma fundamental formação / experiência de conversão (DGC 22, 53-57). Enquanto muitas pessoas associam a catequese ao ministério para crianças ou a programas de preparação pré-sacramental, o DGC esclarece que a catequese é um processo ao longo da vida ou um caminho de conversão e de fé para todos os crentes (DGC 51-57).


1 A partir de agora designado DGC

2 O Ordinário de Iniciação Cristã de Adultos a partir de agora será designado Ordo

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