Bakaru Rowatsu's (noticias misionarias)| 05



Missão Salesiana de Mato Grosso

ANIMAÇÃO MISSIONÁRIA INSPETORIAL

CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO INDÍGENA

Av. Tamandaré, 6000 - Jd. Seminário

Caixa Postal 100 - UCDB

79.117-900 Campo Grande MS

Fone (067) 312-3600 / 3731 Fax (067) 312-3301

E-mail: lachnitt@ucdb.br








Coordenação: Delegado Inspetorial de Animação Missionária:

Pe. Georg Lachnitt SDB





Digitação e Diagramação: Georg Lachnitt





Impressão: Mariza Etelvina Rosa Irala

Centro de Documentação Indígena

UCDB - Campo Grande MS




Capa:

BAKARU, palavra Bororo, significa: o que se conta, notícia

ROWATSU'U, palavra Xavante, significa: o que se conta amplamente, notícia

Apresentação

Várias contribuições tornaram possível este novo número de NOTÍCIAS MISSIONÁRIAS. Conforme estabelecido no início, o rosto desse periódico depende das contribuições.

O companheiro do CIMI-MS, Jorge Vieira, apresenta um relato objetivo dos acontecimentos que se sucederam em Japorã, no Mato Grosso do Sul, acontecimentos esses totalmente desfigurados pela imprensa local, que seguia os interesses de seus patrocinadores.

Dom Pedro Casaldáliga &Tierra fazem uma análise mais ampla dos mesmos fatos, com uma feição poética típica a eles. Os fatos de Japorã se somam àqueles outros de Roraima, Raposa Serra do Sol, como àqueles de Marãiwatsédé dos Xavante, mostrando assim uma postura do governo mais ampla do que talvez localmente possa ser percebido. Trata-se, basicamente, de cumprir o que a Constitução Federal de 1988 determina, ou fazer prevalacer a prepotência de diversos setores da sociedade.

Vale a pena retomar as "Sugestões para a Criação de Reservas para os índios Xavante", entregues ao então ministro José Queiroz Campos em 1969, que testemunham inequivocamente o direito dos Xavante à sua terra Marãiwatsédé, de que naquele tempo foram afastados sem muito consentimento.

Como há muitas que, querendo reduzir os direitos indígenas, se arvoram em afirmar a questão numérica dos povos indígenas como irrelevante, acrescentamos publicações de referências oficiais, como, por exemplo, do IBGE de 2000.

Num sentido de formação oferecida aos missionários e missionárias, segue a 4ª reflexão sobre cultura, para contribuir para uma ação mais qualificada junto aos povos indígenas.

Frisamos, para os SDB da Inspetoria de Campo Grande, a mudança da modalidade de promover a Animação Missionária nas Casas, não mais através de um encontro inspetorial, mais pela visita do Delegado de Animação Missionária Inspetorial.

Além da agenda ainda noticiamos algumas publicações de última data, que podem também ser solicitadas no CDI.

Continuem animados pela anúncio de Evangelho a todos os povos.

Pe. Georg Lachnitt SDB

1. Guarani-Ñandewa luta para garantir

TEKOHA YVY KATU

Mesmo com área já identificada como indígena, os 3.800 guarani-ñandewa não conseguem os 9.461 ha que lhes pertencem.

Jorge Vieira – Cimi/MS

Tekoha, na língua guarani, “lugar onde o guarani vive a sua tradição”. Yvy Katu – “terra sagrada”. Foi em busca de seu Tekoha Yvy Katu – a terra sagrada para viver como guarani – que os guarani-ñandewa retomaram no dia 22 de dezembro de 2003 14 fazendas - São Jorge (Agrolak), Remanso-Guassu, Paloma, São Pedro, Chaparral, São Miguel, Guasuri, Jacaraí; as estâncias Varago e Itamar; e os sítios São José, Guaporema, Bonfim e Santa Luzia. Estão acampadas mais de 1.500 pessoas, a maioria velhos, jovens e crianças. Já são dois meses de resistência.

Desde o século XVI fogem dos colonizadores. Primeiro os espanhóis, depois a Companhia Erva-Mate Laranjeiras e, no século passado, os colonos gaúchos. As frentes expansionistas - agrícola e pecuária – foram empurrando-os mata adentro. Encobertos pelas matas – enquanto existiram - à beira de rios e córregos, resistiram. A ânsia do lucro rápido e fácil, os colonizadores destruíram as matas, poluíram os rios. Deixaram os guarani descobertos. Só restou ao “Dono” – Deus - dos animais retirá-los, como expressou com muita tristeza um velho guarani-kaiowá do Tekoha Tey Kuê, município de Caarapó. Atualmente, as aldeias estão desoladas - não tem mais a mata, os rios e os animais; não tem mais o sapé para cobrir as casas. Praticamente, de Campo Grande até a fronteira do Brasil com o Paraguai, a terra se encontra coberta de capim para o boi ou plantada de soja.

O Tekoha Yvy Katu é de 9.461 hectares, identificado pela Fundação Nacional do Índio – FUNAI, localizada no município de Japorã, a 510 km de Campo Grande, no Cone Sul do Estão do Mato Grosso do Sul. No entanto, uma população de mais de 3.800 guarani-ñandewa vive confinada em 1.648 hectares na “Reserva de Porto Lindo”, demarcada em 1928 pelo Serviço de Proteção ao Índio – SPI.

As conseqüências para a população indígena são visíveis nos dados publicados a cada ano pelos órgãos governamentais. Somente em 2003 se suicidaram 52 indígenas, com faixa etária a cada ano diminuindo entre adolescentes e jovens; além disso, crianças são acometidas pelo alto índice de desnutrição, droga, alcoolismo, prostituição de jovens, trabalho em usinas e fazendas.

Diante dessa grave situação em que se encontram e da morosidade do governo Federal em não demarcar seu território tradicional, os índios interditaram no dia 17 de dezembro três pontes da rodovia que liga as cidades de Iguatemi a Sete Quedas. Mas, com a intervenção da Polícia Federal, os indígenas acamparam nas margens da estrada. Sem providências, quatro dias depois retomaram as fazendas.

Esta tem sido a forma nos últimos 30 anos encontrada pelos povos indígenas. Estão cobrando o cumprimento de seus direitos constitucionais e querem a demarcação de suas terras. Mas, no Mato Grosso do Sul, encontram como resposta omissão do governo federal, o terrorismo praticado pelos meios de comunicação e autoridades incitando a sociedade contra a população indígena. Estes fatos ajudam a aumentar a fúria de policiais, fazendeiros e jagunços paraguaios, culminando em prisões ilegais, ameaças de morte e discriminação, particularmente contra as lideranças. Para a classe dominante do Estado os povos indígenas valem menos do que a pata do boi e um de pé de soja transgênica.

Além dessas pressões, os fazendeiros entraram com liminar de reintegração de posse na Justiça Federal, em Dourados. No dia 10 de janeiro, o juiz federal, Odilon de Oliveira, marcou audiência de “conciliação” entre as partes. Participaram somente três representantes indígenas. Considerando-os “não representativos”, o juiz foi até a aldeia garantindo que estava apoiando os direitos indígenas. Contrariando ao que tinha se comprometido, no dia 14 de janeiro concedeu reintegração da posse em favor dos fazendeiros, determinando prazo de três dias para a comunidade desocupar as terras. E caso a Funai não retirasse os índios das fazendas, pagaria multa de R$ 2 mil por dia a partir do período previsto.

Coincidentemente, ou não, o Juiz Odilon de Oliveira da 3º Vara Federal de Campo Grande já é conhecido na região por sempre tomar decisões contrárias aos índios, abarcando praticamente todas as demandas judiciais que repercutem na opinião pública envolvendo os indígenas no Estado.

A Polícia Federal - PF, juntamente com o governador do Estado, Zeca do PT, e o secretário de Justiça e Segurança Pública, Dagoberto Nogueira, planejaram o despejo da comunidade indígena. Em declarações feitas à imprensa local, Nogueira diz que tomará todas as medidas para a retirada dos indígenas, mesmo que “na marra”.

A ação de despejo contaria com aproximadamente 600 homens envolvendo a Polícia Federal, Militar e Civil, bem como o acompanhamento logístico do exército, na operação. Seria ainda colocado à disposição, dois helicópteros e uma aeronave da PF, todo o aparato sob o custo de aproximadamente R$100 mil por dia de operação. O que seria, de fato, deflagrar, irresponsavelmente, uma verdadeira guerra.

O procurador da República, Ramiro Rockemback, entrou com recurso no TRF, 3a Região, São Paulo, o qual foi redistribuído para a desembargadora Consuelo Yoshida que suspendeu no dia 21 de janeiro a reintegração de posse e determinou que a área indígena seja delimitada adequadamente, conforme a Constituição Federal de 88, artigos 231 e 232. Para isso, deverão ser criadas oito comissões, no prazo de 20 dias, com até 20 representantes dos indígenas, que deverão permanecer na entrada de cada imóvel.

Após a decisão da desembargadora, as autoridades do Governo do Estado de MS, fazendeiros e o próprio Odilon de Oliveira dizem que não entenderam o teor da sentença e seu verdadeiro objetivo. Destacaram, no entanto, que a partir do dia 11 de fevereiro a desocupação será executada.

No dia 26, o governador em exercício, Egon Krakhecke, frustrando a expectativa de autoridades estaduais e federais, acatou proposta das entidades ligadas aos direitos humanos e indigenistas, criou uma Comissão para executar a decisão da desembargadora Consuelo Yoshida referente ao termo de Ajustamento de Conduta entre os índios e fazendeiros. Mesmo diante de toda tensão na região, o Governo federal só tomou providências quatro dias depois, encaminhando o presidente da Funai, Mércio Pereira Gomes, para conversar com a comunidade indígena.

A Aty Guassu - “grande reunião” - foi realizada no dia 30 na aldeia Jaquapiré, município de Tacuru, sul do Estado. Mais de 30 lideranças indígenas estiveram presentes, além dos procuradores da República e antropólogos. A reunião teve como objetivo discutir a demarcação das terras guarani e, em particular, a Yvy Katu. As lideranças indígenas fecharam acordo em ocuparem 10% das fazendas São Jorge (antiga Agrolak), Remanso-Guassu e Paloma, ao longo das margens do rio Iguatemi, deixando desocupadas as sedes e mais 11 pequenas fazendas, até o término do processo de demarcação. Em contrapartida, com o compromisso do presidente da FUNAI publicar Relatório de Identificação no Diário Oficial da União até o dia 29 de fevereiro e cumprir os prazos fixados pelo Decreto 1.775/96.

Na primeira semana de fevereiro os fazendeiros radicalizaram suas ações: decidiram retirar os índios “na marra”; paralisaram o comércio de Iguatemi; são contra a permanência dos índios na terra. A partir do 07, a FAMASUL, Associação dos Criadores de Gado do Mato Grosso do Sul - Acrissul, Sindicato dos Produtores Rurais de Dourados, a ONG “Recovê” e o Clube do Laço organizaram mobilização e acampamento próximo à ponte do rio Iguatemi com o objetivo de expulsar os indígenas das terras.

Para justificar suas ações estão veiculando na mídia que os índios destruíram a plantação de soja, as casas das fazendas, venderam os bois e cavalos e destruíram utensílios. Justificam que conseguiram filmar tudo de helicóptero. Denunciam que, de 9.200 mil cabeças de rezes não têm mais de 2 mil. Será que conseguiram uma filmadora com tanta precisão e os índios comeriam ou venderiam tanta carne sem que a mídia local e internacional percebesse, visto que está 24 horas com equipes de plantão na área?!

Em apoio às populações indígenas, as organizações populares do Estado estão se mobilizando e defendendo o legítimo direito aos seus territórios tradicionais. Através do Manifesto, Campanha da Solidariedade, criação do Comitê Permanente em apoio aos Povos Indígenas do Mato Grosso do Sul e da Caravana da Solidariedade, têm manifestado o apoio dos movimentos sociais.

O desfecho do processo ainda é imprevisível. A LUTA dos guarani-ñandewa é garantir a demarcação de seu território, permanecendo na área definitivamente.

Segundo o antropólogo, Marcos Homero, os procuradores trabalham com a hipótese dos fazendeiros aceitarem o acordo com os índios, presidente da FUNAI e procuradores da República; ou, caso não concordem, a Justiça defina uma área para os índios ficarem acampados até que a FUNAI conclua o processo de demarcação.

Segundo o professor guarani-ñandewa, Valdomiro Ortiz, a comunidade já está cumprindo o acordo firmado com o presidente da FUNAI e com os procuradores em 30 de janeiro – estão construindo os barracos nas margens do rio Iguatemi.

Em carta dirigida a população “branca”, a comunidade afirma que não sai da terra mais, “a não ser que cavem um buraco e nos joguem dentro”, sentenciou uma jovem guarani-ñandewa.


2. Ao Presidente LULA em defesa da Vida da etnia Guarani Kaiowá

Quantos Jorge Velho

de todos os Lucros,

de todos os Tempos,

de todas as Guardas!

Quantas Áureas Leis

Da Justiça Branca!”

Pedro Casaldáliga & Pedro Tierra

Enquanto acadêmica não posso deixar de lhe escrever em defesa da Vida e do Direito à Vida da etnia Guarani Kaiowá; ademais, enquanto judia coloco-me inexoravelmente contrária à operação de guerra (cf. http://www.midiaindependente.org) que o Estado Brasileiro está perpetrando contra esta Etnia, bem como a atuação de paramilitares a mando dos fazendeiros. Posto que EU SOU mãe de cada Criança Kaiowá que está sendo traumatizada por esta operação de guerra.; e, EU SOU irmã de cada Índia e de cada Índio Kaiowá que está sofrendo pela brutal violação de seus direitos fundamentais à Vida, à Terra e à Alimentação.

A dissertação de mestrado “Energia-Transporte-Direito-Etnias na Perspectiva da Hipótese Gaia – Estudo de Caso Para a Região Metropolitana de São Paulo” (cf. http://www.iee.usp.br/biblioteca/ producao/2002/Teses/tese_Marilia_Internet.pdf) foi escrita para um eventual “Governo Lula de centro esquerda”, todavia, mesmo para o “Governo Lula Neoliberal” esta dissertação continua válida, em especial no que concerne aos 500 anos de genocídio indígena e, que se encontra descrito no capítulo 3 e complementado no capítulo 6 e no anexo XXXVIII.

Destaco ainda o anexo XI para o caso em tela porque as condições de vida da etnia Guarani Kaiowá em muito se assemelha às dos integrantes do MST. Onde o Desembargador Rui Portanova escreve “reforma agrária” leia-se “reforma agrária e demarcação de terras indígenas” (cerca de 85% destas terras aguardam pela demarcação, incluso as terras do caso em tela). E quão atuais se mantém as palavras do Desembargador. Rui Portanova:

(...)desde sempre até agora, o Poder Judiciário tem acreditado nas promessas dos governantes que ocupam o Poder Executivo, no sentido de que vão fazer reforma agrária e acabar com a violência no campo. Em razão deste crédito os juízes tem deferido liminares para reintegrações rápidas.

Contudo, é bom que se diga, tais liminares queiram ou não, acabam se tornando verdadeiras ‘cartas brancas’ para o executivo, com seu efetivo militar, fazer o despejo a ferro e fogo. Talvez os juízes não queiram, mas os atos de violência que eventualmente possam ser praticados nestas ocasiões, devem também ser tributados à responsabilidade de quem decide em primeiro ou segundo grau de jurisdição.

Como disse acima, o Poder Judiciário, assim como o povo em sua maioria tem acreditado nas promessas de melhora nas condições de vida dos pobres. Mas o que se vê é os que governam o Estado e o País beneficiando mais os ricos do que os pobres.

Para os ricos, as soluções são rápidas, e os gastos vultosos em nome de uma modernidade que nunca chega. Contra os pobres os governantes são violentos. O Governo Federal, ou difama os sem terra, acusando-os de plantar maconha, ou ofende nossos pais chamando-os todos de vagabundos. O Governo do Estado não é menos violento com os pobres. Aqui a reforma agrária não é questão de política, é questão de polícia. Por isso é rápido em providenciar verdadeiras operações de guerra, para atender a decisão do juiz.

Tanto quanto parece, nosso governo estadual e nacional, não gostam dos pobres.

Para este julgador, nas condições atuais, a paz no campo só virá com uma verdadeira reforma agrária.(...)

Rui Portanova, Desembargador de plantão”

De acordo com os termos deste Agravo e, feita a sua devida adaptação de “reforma agrária” para ”demarcação de terras indígenas”, conclui-se que o Ministro da (In)Justiça do Governo Neoliberal Lula privilegia o direito de propriedade dos fazendeiros que se apossaram de terras indígenas através de esbulho, bem como o direito de propriedade dos fazendeiros que sucederam os praticantes do esbulho, isto, e bem assim, em detrimento do direito à Vida da etnia Guarani Kaiowá, que historicamente é vítima do genocídio ao largo destes “500 anos D’Encobrimentos”e das tantas “Áureas Leis da Justiça Branca”. E, ousa chamar a etnia Guarani Kaiowá de “invasores” e afirmar que “ninguém está acima da Lei” (cf. matérias veiculadas recentemente pelo Jornal O Estado de São Paulo), enquanto privilegia o direito ao lucro dos fazendeiros e, mantém o “direito de posse por esbulho” bem acima do próprio “direito à Vida” da etnia Guarani Kaiowá.

Para melhor entendimento da opção do Governo Brasileiro em privilegiar a Ética do Lucro em detrimento da Ética da Vida, considere-se o apêndice “Ética do Lucro versus Ética da Vida” da aludida dissertação (“Energia-Transporte-Direito-Etnias (...)” ). O que se vê na Justiça Branca é que o Estado Brasileiro confere o “Direito à Vida” para as elites brancas bandeirantistadescendentes e, o “Direito à Morte” para escravodescendentes (indígenas/afrodescendentes/ membros do MST/...).

E como o Presidente Lula ousou prometer que faria a Reforma Agrária na Av. Paulista, na noite da sua eleição, para depois conviver pacivamente com a “prisão política”de Zé Rainha e outras pessoas do MST, bem como o grande aumento da taxa de extermínio de indígenas (se considerado o 8o ano do Governo Neoliberal Cardoso e o 1o ano do Governo Neoliberal Lula). E se isto não bastasse, na noite da sua eleição o Presidente Lula citou “Deus”, então cabe aqui lembrar ao Presidente Lula:

(...) Canta sobre o Morro tua Profecia

que derruba os ricos e os grandes, Maria.

Ergue os submetidos, marca os renegados.

Samba na alegria dos pés congregados.

Encoraja os gritos, acende os alhares,

ajunta os escravos em novos Palmares. (...)”

Casaldáliga & Tierra

Pois sim, senhor Presidente Lula, será que a Rainha da Paz (Maria) já ajuntou os escravos em novos Palmares, no levante das etnias Xavante e Guarani Kaiowá ??? Enquanto o Bispo Casaldáliga orava e escrevia, eu também orava e escrevia. Nós fizemos a nossa parte ... Quando o senhor Lula fará a sua ???

(...) No Novo Israel plantaremos

as tendas do filho do Santo.

Os prantos, os gritos, unidos num canto

de irmãos corações,

na luta e na festa do ano inteiro. (...)

E à espera do nosso Quilombo total

– o alto Quilombo dos céus –

os braços erguidos, os Povos unidos

serão a muralha ao Medo e ao Mal,

serão valhacouto da Aurora desperta

nos olhos do Povo,

da Terra liberta

no QUILOMBO NOVO !!!”

Casaldáliga & Tierra

O Estado Brasileiro claramente está violando a Convenção Americana de Direitos Humanos da OEA e, deve responder pelas condições desumanas e degradantes nas quais mantém os Povos Indígenas.

Indígenas não estão praticando “desobediência civil”, indígenas estão lutando para não morrer de fome. O senhor Lula sabe o que é sentir fome?

Conclui esta carta lembrando ao Presidente Lula que:

Em nome do Deus de todos os nomes

Javé

Obatalá

Olorum

Oió (...)

Em nome do Povo

que fez seu Palmares,

que ainda fará

Palmares de novo

Palmares, Palmares, Palmares do Povo !!!”

Casaldáliga & Tierra

Como judia e como acadêmica eu solicito que o Governo Lula respeite os direitos humanos dos Povos Indígenas que vivem no Estado Brasileiro; e, o direito inalienável à Vida, à Terra e à Alimentação dos Povos Indígenas tem primazia sobre a posse de terras indígenas através de esbulho, nem cabe à União indenizar o esbulho de tais terras. No limite, o direito não é só lei; conforme Miguel REALE, o direito é fato, valor e norma. No caso em tela a dimensão axiológica é fundamental e, deve ser tratada à luz dos direitos humanos e da Ética da Vida.


3. Marãiwatsédé

Pe. Pedro Sbardellotto SDB

Enquanto volta com todo vigor a discussão sobre o direito dos Xavante à Terra Indígena Marãiwatsédé, colocamos aqui um estudo do Pe. Pedro Sbardellotto, testemunha dos fatos, de indiscutível valor sobre a procedência da reclamação dos direitos originários, garantidos pela Constituição 1988 (Cf. CHOVELON, Hipólito e outros. Do primeiro encontro com os Xavante à demarcação de suas reservas. Campo Grande, MSMT, 1996, das Sugestões para a criação de reservas para os índios Xavante, Pe. Pedro Sbardellotto, p.105-109) .

a) Tibúrcio

b) Bödöditu

Em 1949-1950, ao tempo da Pacificação dos Xavante do UIWEDEDZÉ, no Posto Pimentel Barbosa, havia a mais de 100 km ao norte deste Posto, nas cabeceiras do rio São João, afluente de esquerda do Rio das Mortes, nos contrafortes da Serra do Roncador, região chamada por eles de MARÃIWATSÉDÉ por estar próxima às matas do Xingu, essas duas aldeias com mais de 400 Xavante, complexivamente, próxima uma à outra.

Enquanto seus parentes começavam a privar com o branco na região de Pimentel Barbosa, eles faziam alguma visita pacífica aos moradores de São Félix e Luciara que se aventuravam a abrir sítios e fazendinhas a algumas léguas dos dois centros.

Porém alguma imprudência por parte dos colonizadores provocou por duas ou três vezes reações violentas por parte dos Xavante, fazendo algumas mortes, e recuando novamente invisíveis e inacessíveis.

Em 1960 os sertanejos se esparramaram bem mais pelo interior, e começa daí em diante a invasão sistemática também deste território, e entre tantos a Fazenda Suiá-Missu.

a) Tibúrcio

Pelo 1961, devido a rixas com os Xavante do aldeamento vizinho, afasta-se mais e mais deles, e com seus 90 Xavante ruma para o norte, e quando o Sr. Ariosto da Riva fixa o lugar de sede e inicia a abertura da fazenda sobredita, os Xavante estão acampados a poucos km de distância, e após ter recebido brindes de ferramentas jogadas do avião, visitam pacificamente a sede e aí instalam-se espontânea e definitivamente (1963).

Tibúrcio procura tirar todas as vantagens possíveis da sua condição de hospedeiro-hospedado, e é tratado e assistido o quanto possível pela administração já tão ocupada e preocupada pelos trabalhos de magna envergadura desde o começo, nas derrubadas, construções e abertura de estradas.

Um funcionário, que tinha gosto e jeito para lidar com os índios, é destacado para atendê-los e assisti-los.

Tibúrcio, chefe ainda novo dum grupo bem reduzido, aspirava tornar-se chefe de todo o grupo MARÃIWATSÉDÉ, e conseguiu o seu anseio com um golpe.

b) Bödöditu

Chefe da maior das duas aldeias, e de boa idade, permanece no seu território, e só uns e outros de seus caçadores "engrossados" têm contatos com os sitiantes invasores, que renovam imprudências, redobrando assim a desconfiança dos índios, mantendo-os arredios.

Recebem ferramentas jogadas pelo avião da Fazenda Suiá-Missu, e outras procuram-nas no Posto Pimentel Barbosa, onde também são aconselhados e instruídos para fazerem uma pista para avião.

O Pe. Pedro, atuante naquela região desde 1962, visita em janeiro de 1964 a Fazenda Suiá-Missu, entretém-se com os Xavante aí abrigados, estuda com a administração o problema da aldeia ainda arredia e recebe promessas de apoio concretizado de imediato num vôo sobre o aldeiamento de Bödöditu.

Em seguida sobe de barco o Rio das Mortes e intenta a entrada a cavalo, mas não consegue chegar, porque as informações são ainda muito vagas, e então em abril consegue novamente sobrevoar a aldeia, descobrindo recentíssima pista junto à mesma, e desta vez, também de avião o ponto de partida desde a margem do rio e a rota para lá chegar. Pretende chegar por terra primeiro, para garantir a pista que não parece muito legal.

No dia tratado ainda está em viagem e a pé (por causa dos pântanos e dos córrego sem passagens para cavaleiros), e o avião, visto o Padre a caminho certo, volta e aterriza a muito custo naquela pista de emergência, trazendo o funcionário e o Tibúrcio, que não perde tempo: trata de entusiasmar o Bödöditu a seguir com toda a sua gente para a fazenda Suiá-Missu.

No dia seguinte chega o Pe. Pedro que faz de tudo para convencê-los a permanecerem aí, pois viria mais tarde abrir uma Missão como em São Marcos e Sangradouro.

A volta do Padre para a beira do rio, de avião, em primeiro lugar (pois só podia decolar com uma pessoa de cada vez) proporcionou ao Tibúrcio a oportunidade de permanecer mais tempo na aldeia e assim dar o seu golpe, convencendo o grupo a seguir daí a uns dois meses, após a colheita, quando ele viria ao seu encontro com o seu grupinho.

Foi então que o chefete consumou o golpe eliminando os três ou quatro líderes contrários àquela transfêrencia-abandono do próprio território.

Os 200 e mais km que medeiam entre MARÃIWATSÉDÉ e a fazenda foram palmilhados a marchas forçadas, quanto o aguentavam as mulheres carregadas de muambas, e as crianças não carregadas pelas mães, na ânsia de chegarem à "Terra Prometida"...(julho de 1964).

A fazenda não esperava por este golpe traiçoeiro do Tibúrcio, e não podia por certo sujeitar-se a este peso e estorvo.

O funcionário ficou destacado de uma vez a tomar conta dos índios.

A rapaziada era aproveitada, livre e espontaneamente, em trabalhos da fazenda, mas a massa da população indígena não ficava por certo confinada em sua aldeia, mas "dilagava" em todas as direções.

O primeiro ano de convivência patenteou a impossibilidade de sustentar tal situação, pois a fazenda operava com centenas de trabalhadores recrutados em Mato Grosso e Goiás, de todas as camadas sociais, e na maioria da ínfima, e esse bloco de mais de 300 selvagens aldeados a somente 1 km da sede, não deixava de criar uma série de problemas que complicavam a já tão difícil obra dos pioneiros.

O Pe. Pedro propõe então iniciar a Missão à uns 20 km da sede, proposta aceita com entusiasmo pelo então Administrador Geral da Fazenda, Sr. Orlando Ometto, que prontificou toda a assistência possível bem como a doação da Reserva (uns 5.000 hectares, sendo metade de matas), dependendo tão somente da escolha do lugar pelo Padre.

Isso em fins de março de 1965, estando o Pe. Pedro em São Paulo a tratamento de saúde, em seguida ao naufrágio ocorrido no dia 20 do mesmo mês no Rio das Mortes.

O tratamento protelou-se até fins de junho, e quando o Padre chegou à Fazenda Suiá, o gerente local já tinha-se antecipado, escolhendo uma área a 60 km mais ao norte.

Num vôo de 10 minutos o Padre chegava no local escolhido, Gorgulho, onde já se achava o funcionário encarregado com uns 20 rapazes Xavante executando os trabalhos preliminares.

Na opinião do Padre o lugar era "in toto" impróprio para uma Missão, para um aldeamento estável, e os acontecimentos de 1965 a 1966 comprovaram essa opinião, tanto que levaram a fazenda a procurar acolhida para os índios nas Missões de São Marcos e Sangradouro, e eles mesmos optaram pela primeira.

E para lá foram transferidos os 300 e mais Xavante com avião da FAB no meado de agosto de 1.966, abandonando assim definitivamente sua região MARÃIWATSÉDÉ não muito satisfeitos, mas impelidos pelas circunstâncias e logrados nas suas expectativas quanto à "Terra Prometida" das promessas do Tibúrcio.

Em São Marcos sentiram-se hóspedes bem aceitos, mas sempre hóspedes, sem aquela liberdade de autodeterminação e de grupo independente que "ab immemorabili" desfrutavam.

Em outubro sobreveio a epidemia do sarampo, que ceifou quase a terceira parte desse grupo, quando só alguns dos antigos da Missão faleceram, e não por diferença de tratamento, mas por não possuírem reserva de defesas orgânicas estando extremamente desnutridos devido àquele ano passado no "Gorgulho", não obstante todos os esforços da fazenda para supri-los até mesmo por via aérea.

Os que escaparam à morte graças aos desvelos dos missionários, das missionárias e dos irmãos Xavante improvisados enfermeiros, afeiçoaram-se mais aos seus hospedeiros e entrosaram-se de uma vez na comunidade.


4. Quantos são os Índios do Brasil

Em 1500, estima-se que havia entre

5 milhões e 6 milhões de índios no Brasil

Numa denúncia dos Latifúndios Indígenas, o ilustre advogado Ives Gandra da Silva Martins, fala de 300.000 índios no Brasil.

Por ocasião da Semana dos Povos Indígenas de 1999, a FUNAI publicou os seguintes dados:

População Indígena: 325.600, distribuídos em:

206 etnias que falam ainda 170 linguas.

Por ocasião da CF 2002, Fraternidade e Povos Indígenas, a CNBB declarou:

550.438 indígenas, dos quais

358.310 vivem nos territórios,

191.228 nos centros urbanos,

900 ainda não contactados;

sendo 225 etnias que falam cerca de 180 línguas diferentes.

O IBGE, pelo Censo Demográfico de 2000, apresenta o seguinte quadro da População Indígena por Região/Estados do Brasil

Norte 213.445

Rondônia 10.683

Acre 8.009

Amazonas 113.391

Roraima 28.128

Pará 37.681

Amapá 4.972

Tocantins 10.581

Nordeste 170.389

Maranhão 27.571

Piauí 2.664

Ceará 12.198

Rio Grande do Norte 3.168

Paraíba 10.088

Pernambuco 34.669

Alagoas 9.074

Sergipe 6.717

Bahia 64.240

Sudeste 161.189

Minas Gerais 48.720

Espírito Santo 12.746

Rio de Janeiro 35.934

São Paulo 63.789


Sul 84.748

Paraná 31.488

Santa Catarina 14.542

Rio Grande do Sul 38.718



Centro-Oeste 104.360

Mato Grosso do Sul 53.900

Mato Grosso 29.196

Goiás 14.110

Distrito Federal 7.154

Brasil 734.131


5. O que é Cultura (IV)

Dando continuidade à reflexão sobre cultura, passamos agora a aprofundar alguns elementos mais sistematizados. Missionários e missionárias que vivem e trabalham junto aos povos indígenas, e também junto a qualquer outro povo diferente do próprio, podem encontrar algumas explicações úteis para a sua experiências.

Natureza e Cultura

Antes de tudo torna-se necessário distinguir entre natureza e cultura. Por sua natureza biológica, o homem pertence ao reino animal e, dentro desse, aos primatas. Como tal, o homem igualmente tem uma série de necessidades fisiológicas a serem preenchidas. Os animais costumam responder a essas exigências de maneira instintiva. Cada espécie de animais tem sua maneira específica de como resolver instintivamente tais necessidades e o faz de maneira idêntica em qualquer lugar que esteja, sem haver diferença dentro da mesma espécie. Mesmo transformado-se o ambiente, não se constatam novas variantes de comportamento animal de cada espécie.

Constata-se ainda que cada espécie animal está condicionada, na sua sobrevivência, a determinado ambiente geográfico e fora desse ambiente nativo, ao qual está adequado instintivamente, não tem mais condições de sobrevivência. O homem, no entanto, está presente em todas as situações geográficas, climatológicas e ambientais do mundo e atualmente até se está preparando para viver no espaço, fora deste planeta. O homem mostra-se capaz de se adequar não instintivamente a qualquer ambiente em que se encontre, mas responde culturalmente às exigências que lhe são postas para a sua sobrevivência, criando para si as condições necessárias para isso.

Assim sendo, podemos afirmar de como ao reino animal pertence necessariamente o instinto para garantir a sua sobrevivência, assim, por sua vez, pertence ao reino humano a cultura para garantir a sua sobrevivência. Nesse sentido, a espécie humana não existe em natureza pura, mas radicalmente unindo natureza com cultura. O ser humano é radicalmente cultural ou então, o homem se distingue do animal por ser possuidor de cultura.1 Como fica evidente, trata-se aqui de uma verdade fenomenológica que parte da universalidade do fato cultural constatado entre os homens. No sentido etimológico, pois, cultura é cuidado, criatividade, respostas às exigências, adequação ao ambiente físico, organização, inventividade etc.

Ao mesmo tempo que temos que admitir a inexistência de um determinismo geográfico e biológico, dando primazia ao cultural sobre o natural, constatamos que a cultura age seletivamente, explorando determinadas possibilidades e limites ao desenvolvimento.2 Ao lado de tantas possibilidades, o homem só vive e realiza uma delas, dentro de sua cultura.

Ao ser essencialmente cultural, o homem não elimina as exigências de sua natureza biológica. Estas persistem, a ponto de se poder falar de um certo determinismo biológico sobre a natureza humana.3 Mas as respostas dadas a estes exigências indispensáveis são respostas culturais, portanto, organizadas pelo grupo humano concreto. Malinowski elenca sete necessidades básicas provenientes da natureza biológica e acrescenta sete respostas culturais a estas necessidades:

- metabolismo - aprovisionamento;

- reprodução - parentesco;

- confortos corporais - abrigo;

- segurança - proteção;

- movimento - atividades;

- crescimento - treinamento;

- saúde - higiene.4

Como os agrupamentos humanos vivem distintamente, em tempos idos muito mais isoladamente do que hoje, as respostas culturais não são idênticas, mas diversificadas, respostas elaboradas a partir das situações concretas da vida. Laraia, citando Kroeber, afirma que embora estas funções sejam comuns a toda a humanidade, a maneira de satisfazê-las varia de uma cultura para outra.5 Existe portanto uma interdependência entre as exigências determinantes da natureza humana e as respostas culturais diversificadas dadas a estas exigências.

White, citado por Kaplan, expressa-o quando afirma que cultura é o artifício adaptativo pelo qual o homem se acomoda à natureza e a natureza a ele.6 Esta colocação é válida também mais amplamente do que o contexto evolutivo e de produção e liberação de energias em que White desenvolve suas reflexões. Kroeber, acima citado, não apenas permanece numa simples interdependência, mas postula a supremacia do cultural sobre o biológico a ponto de, apesar de admitir um certo determinismo biológico, o cultural é determinante sobre o biológico, no respectivo sentido, como ficará detalhado mais adiante.7

A resposta dada a uma necessidade biológica, por conseguinte, não é simplesmente individual, mas é sempre de um grupo que mantém as respostas culturalmente elaboradas e as transmite de geração em geração, a tal ponto que o indivíduo normalmente, nos casos ordinários, reproduz respostas já elaboradas por seu grupo e quando não existirem para o caso peculiar, as respostas ainda existem preexistentes para casos similares. Este fenômeno é precisamente uma manifestação cultural, que se concretiza através de "norma" ou "costume", "hábito" ou mos. Então, num caso como este, o fato de existência de uma norma, de uma regra, de uma tradição a ser seguida, de um costume de como proceder, é a manifestação da dimensão cultural.8

O oposto a um elemento cultural, nesta perspectiva e em certo sentido, seria então o natural. Em decorrência do que acima foi afirmado, que o humano é sempre cultural, não existem fatos puramente naturais entre os homens, tais como comportamentos instintivos.

Universais da Cultura

A cultura não é pois algo acrescentado à natureza, mas ingrediente essencial9 do homem. Os pesquisadores ainda assim estão empenhados em identificar elementos "universais" da cultura, sendo como que uniformidades empíricas dentro das diversidades, ou então constantes estabelecidas de biologia, psicologia e organização social humanas.10 Nesse sentido, aos universais se oporiam as variantes, sendo porém ambas dimensões culturais localizados em níveis diferentes.11

Se falamos então de elementos "universais" nas culturas, devemos entendê-los não tanto como elementos ou comportamentos concretos sendo como que exigências naturais despidos de cultura, mas muito mais como realidades genéricas presentes em todas as culturas, tais como uma certa linguagem ou língua, padrões de comportamento ao tomar alimento etc.

O fato de existirem associações em todas as culturas e de elas estarem regulamentadas, explícita ou tacitamente, é um universal, mas menos suas normas concretas de funcionamento.12 Com isso, diviergimos parcialmente de Menezes, que chama de "universal" o que o homem realiza espontaneamente, isto é, dependendo da ordem da natureza, não, porém, de sua dimensão cultural.13 Expressando-o de outra maneira, todo o comportamento humano, pelo fato de tê-lo aprendido com seus semelhantes, não é instintivo, mas o natural exercido dentro das condições de determinada cultura.14

No sentido de clarear mais um pouco o conceito a respeito dos "universais", partindo do fato da transmissão da cultura, esta determina o comportamento do homem, não a herança genética.15 Linton, neste sentido, chama a cultura de herança social dos membros de uma sociedade, pelo que ele define a cultura de configuração de conduta aprendida e dos resultados da conduta, cujos elementos são partilhados e transmitidos aos membros da sociedade.16 Este fato da herança social e da conduta aprendida são elementos universais de toda a cultura, porque presentes em todas elas, por mais variadas que sejam.

Igualmente a dimensão organizativa, acima explicitada pelo termo "configuração", de grupos dos mais diversos existentes em todas as culturas, com certos traços presentes em todas elas, são fatores universais de todas as culturas, e são fatores nitidamente culturais e não naturais. Mais baixo, quando dos sistemas de organização social, seguem outros pormenores sobre as configurações associativas da cultura!17

Três Dimensões da Cultura

Costumam-se distinguir, numa cultura, três dimensões: a cultura material, a cultura social e a cultura simbólica, ou então partindo do comportamento humano em relação a estas três dimensões, distingue-se entre o sistema adaptativo, o sistema associativo e o sistema interpretativo.18

a) A Cultura Material

A cultura material é constituída pelo meio-ambiente material. Nenhuma instituição está suspensa no ar ou flutuando de maneira vaga e indefinida através do espaço. Todas têm um substrato material, ou seja, uma porção reservada das disponibilidades ambientais em riquezas, em instrumentos e também uma porção de lucros decorrentes de atividades combinadas.19 Esta cultura material é parte integrante de toda a cultura, indispensável para a sua realização. Como parte integrante e básica da cultura, condiciona todas as demais dimensões da cultura.20 Os homens com suas culturas elaboram verdadeiros sistemas produzindo a sua cultura material, sistemas que englobam todos os elementos materiais existentes e fabricados em vista da sobrevivência do grupo enquanto tal. Não existem elementos avulsos ou isolados. Todos os elementos fazem parte do sistema global da cultura material, são de tal maneira integrados que não é possível mexer com um só sem atingir todos os demais elementos integrantes, naturalmente em graus diferentes.

Significativa é a contribuição de Kroeber para explicar a conexão da cultura material do homem e sua cultura em geral. Falando da adaptação do homem ao seu ambiente ecológico, comenta que ao invés de modificar para isto seu aparelho biológico, como sucedeu com os animais, que cada espécie está adequada definitivamente ao seu ambiente ecológico nativo, o homem modifica o seu equipamento "superorgânico",21 podendo destarte permanecer e sobreviver em qualquer ambiente ecológico. Fabricando-se instrumentos e equipamentos, neutralizando condições inviáveis, vai-se submetendo a cultura material em vista de sua sobrevivência. Daí resultou a diversidade de habitações, vestuário, alimentação, comercialização.

b) A Cultura Social

A cultura social é chamada, por Suess, de sistema associativo. Não se trata, pois, de uma simples convivência massificada de indivíduos, como que um acervo, mas de uma organização da convivência dos indivíduos em vista da sobrevivência do grupo como tal, em última análise. A organização resulta das respostas que se dão às exigências da ecologia, que podem tornar-se tanto mais complexas quanto mais escassos forem os elementos indispensáveis fornecidos pelo meio-ambiente, fazendo assim jus a Tylor que declara a complexidade da cultura. O desenvolvimento de uma consciência de grupo, um sentimento de unidade22 é um corolário das exigências assumidas como grupo e da convicção de depender a sobrevivência do grupo da participação individual e de sua inserção na globalidade da atividade comunitária. As necessidades individuais são preenchidas naturalmente no contexto da sociedade global na medida em que a resposta organizativa for funcional. Deste fato dependem a estabilidade das instituições ou ainda a renovação de elementos não-funcionais da mesma.23

Malinowski traz um elenco detalhado sobre princípios gerais que unem os seres humanos e os integram em grupos permanentes, princípios estes que têm as características de universais nas culturas:

1o Princípio reprodutivo de integração ou de parentesco;

2o Princípio de propingüidade e contigüidade: a cooperação recíproca entre vizinhos;

3o Princípio de distinção e de integração entre sexo, idade etc.;

4o Princípio de associação, isto é, grupos voluntários por iniciativa individual;

5o Princípio da habilitação, adestramento e preferência ocupacional;

6o Princípio de formação de classe e casta;

7o Princípio de autoridade.24

Estes princípios ou universais constatam-se presentes em todas as culturas, embora o exercício concreto de cada um deles esteja variando de acordo com os sistemas sociais e organizacionais de cada cultura.

c) A Cultura Simbólica

A cultura simbólica, ou então, o sistema hermenêutico ou interpretativo é, por sua vez, conseqüência do sistema associativo. A linguagem como fator de comunicação dentro da sociedade num determinado ambiente ecológico, todo o mundo simbólico que se vai originando e recriando permanentemente, como pertencente ao mundo da comunicação, e a própria realidade religioso-mítico-ritual da comunidade tornam a dimensão social praticável, justificam-na, conservam-na e adaptam-na quando novos postulados o exigirem. É no mundo simbólico que se expressa a vida social, a ecologia, os conceitos e a filosofia construídos pela mente humana naturalmente social, isto é, naturalmente cultural.

Sistemas de Organização Social

Para explicar a existência da organização e de organizações numa cultura, recorreu-se a diversas tentativas com uma diversidade de vocábulos que todos pretendem, cada uma à sua maneira, clarear esses fenômenos. O termo mais amplo é o de "configuração" que significa tanto a conduta como seus resultados que compõem a cultura.25 Estas configurações compõem-se de três elementos distintos: a personalidade dos indivíduos (...), o ambiente natural (...) e o conjunto global de técnicas26 a serem transmitidos para garantir a continuidade da sociedade. Os sistemas culturais fazem parte das configurações.

As configurações então podem ser descritas como aspectos peculiares próprios de uma determinada cultura, configurações estas que a distinguem de outras culturas. Os sistemas seriam então sub-entidades culturais em determinados setores, tais como o sistema simbólico, o sistema religioso, o sistema educacional, o sistema social de uma determinada sociedade e sua cultura. A organização peculiar de cada um desses citados setores e tantos outros são elementos subalternos da globalidade de uma cultura com o conjunto de todas as suas configurações.

Os sistemas sociais, segundo alguns antropólogos, se distinguem das instituições. Estas instituições, embora se constituam numa maneira peculiar de organizar a sociedade ou grupos da sociedade, não se encontram isoladas, mas, como parte integrante de toda a cultura, só podem ser estudadas e compreendidas devidamente levando em conta a globalidade. Estas instituições podem ser primárias ou secundárias.

Entre aquelas a mais importante é a família que, dentro do sistema social e educacional, é responsável pela formação da personalidade individual com sua dimensão social. As secundárias são, de certa maneira, derivadas das primárias, segundo Kardiner, e incluem a religião, mitologia, padrões de pensamentos etc.27

Os sistemas sociais, por sua vez, são uma teorização, verdadeiros sistemas de idéias.28 Cada instituição é uma maneira peculiar de fazer atuante o sistema social, em determinado setor da cultura. O sistema é mais abrangente, mais global, é como que o modelo, o padrão ou uma forma de classificar de acordo com a qual devem pautar-se as instituições.29 Se existem numa cultura as instituições, isto é fato que se constata. Os sistemas são abstrações feitas pelos pesquisadores, embora possam ser verificados na sua aplicação nas instituições.

Os termos de "norma", "lei" e "regra" quase têm significado idêntico com pequenas distinções. As organizações, dentro de uma cultura, têm que revestir-se de estabilidade e obrigatoriedade diante dos membros da mesma sociedade. Assim sendo, é preciso definir quais são as respectivas competências de cada membro da sociedade, em vista dos objetivos da coletividade e sua continuidade. As normas são portanto criações humanas, ou melhor, convenções coletivas para garantir o funcionamento da cultura globalmente. Elas são a concretização da vivência cultural dentro de uma disciplina concreta que é transmitida de geração em geração e prescrevem um comportamento ideal para todos os componentes da sociedade.

Estas normas pressupõe valores aceitos como tais pela sociedade como evidentes por si mesmos. Pressupor normas, no entanto, não significa que as normas sejam derivadas dos valores. Os valores são conseqüências de normas estabelecidas e de princípios mais amplos. Normas e valores, de qualquer forma, são elementos correlacionados de uma cultura.30

"Padrão" e "modelo" são termos quase idênticos. Existem modelos ou padrões ideais de comportamento. Eles derivam do sistema social como tal e são propostos aos indivíduos e aos grupos sociais para serem observados. Eles se revestem de reciprocidade, pois estabelecem um movimento recíproco entre os membros da sociedade. Padrões e modelos têm também caráter conservador do sistema social em uso. Eles são necessários para garantir o funcionamento e a sobrevivência da sociedade. A soma total dos padrões constitui o sistema social de determinada cultura.31

Kaplan esclarece mais precisamente o conceito de "modelo". O modelo é sempre uma aproximação parcial com a realidade, pelo que existe estreita correlação, semelhança, mas não identidade. Os modelos têm caráter analógico e metafórico, pelo que se distinguem de teorias que explicam, enquanto os modelos existem como ideais. Com isso, os modelos podem ser chamados de entidades formais que se relacionam com seus correspondentes empíricos que neles se refletem. Assim sendo, os modelos são muito mais simbólicos do que realidades empíricas com as quais não se confundem e, por isso, devem ser estudados melhor num mundo simbólico.32

Pelas reflexões anteriores constatamos que, para o pesquisador, a tarefa consiste em, partindo dos fatos empíricos, deduzir padrões, estruturas, sistemas etc. subjacentes à vivência cultural. A maioria dos integrantes de alguma cultura, normalmente, têm pouca consciência desses elementos, embora presentes em todas as realidades culturais. Normalmente, um pequeno grupo de mais instruídos é que tem condições de passar a reflexões desse tipo.33

Cada Cultura tem sua Lógica Própria

Ao estudar sociedades e culturas mais primitivas, coloca-se a questão da lógica com que se leva adiante certo tipo de reflexões. No contexto do evolucionismo não existe um pensamento lógico nessas culturas primitivas. No entanto, a rigor, cada cultura tem seu próprio sistema lógico culturalmente condicionado, e, sendo o pesquisador estranho a esta cultura, antes de tudo terá que tentar descobrir qual seja o sistema lógico de organizar o pensamento.34 Há, de fato, uma diferença entre a consciência de uma cultura e sua expressão verbal, em confronto, por exemplo, com a expressão simbólica desta consciência. A primeira prima por sua racionalidade e a segunda por sua intuitividade e simbologia. Nesse sentido é mais fácil aos portadores nativos de uma cultura descrever comportamentos e práticas do que abstrair da prática e chegar a princípios de ordem genérica.35

Para conhecer racionalmente a própria cultura, Linton julga necessário o conhecimento de alguma outra cultura que não seja a própria, pois é na alteridade que vislumbra a própria identidade.36 Ele vê até pouca possibilidade de um membro comum de qualquer sociedade poder ajudar ao pesquisador, devido a essas diferenças constatadas.37 Normalmente tal tarefa de comunicação com estranhos e pesquisadores fica reservada a especialistas, não raro incluindo competências para tal tarefa, sendo que outros, mesmo estando ao par dos elementos por acaso pesquisados, não serem autorizados a comunicar seus conhecimentos, pelo que os nativos não raro recorrem a mecanismos de defesa, inclusive o de não saberem ao serem interrogados.38 Fatos como esses tenho enfrentado pessoalmente, principalmente ao pesquisar temas de caráter simbólico e religioso, como ainda tive que me convencer que toda a sociedade tem seu sistema original de desenvolver e comunicar reflexões e teorizações sobre a própria cultura.


5. Animação Missionária Inspetorial

O Encontro de Animação Missionária dos SDB, de 22-23 de março, foi cancelado. O Delegado Inspetorial de Animação Missionária fará oportunamente uma visita às Casas para promover a Animação Missionária local.

O Material da Jornada Missionária Mundial está para chegar de Roma e será enviado às Casas. O Video com o tema "ARUNACHAL PRADESH - O Despertar de um Povo" já está à disposição.



6. Agenda

05-07 de março - III Seminário sobre Inculturação da Liturgia entre os Povos Indígenas, promovido pela Comissão de Liturgia da CNBB, Luziânia DF

12-14 de março - Encontro de Catequistas Terena, Jardim MS

18-19 de março - Curso de Agentes de Pastoral Bororo, Merúri MT

29-30 de março - Encontro de Formação do CIMI-MS, Campo Grande MS

04-11 de abril - Semana Santa e Páscoa do Senhor

18-23 de abril - Semana dos Povos Indígenas



7. Publicações Diversas

Folders:

Índios, Xavante 1, Xavante 2, Xavante 3, Xavante 4, Bororo, Nambiquara

Aldeias Xavante 2004, Aldeias Kaiowá e Guarani, Aldeias Terena-Kinikinaua-Aticum-Guató-Kamba-Kadiwéu-Ofayè Xavante.

Livros recentes do CDI:

TSAWE, Jerônimo. A'uwe na Rowatsu'u 1. Campo Grande, MSMT-UCDB, 109 p. 2ª ed. 2004

TSAWE, Jerônimo. A'uwe na Rowatsu'u 2. Campo Grande, MSMT - UCDB, 114 p. 2ª ed. 2004

HITSÉ, Xavante Rafael e outros. O Meu Mundo - Wahöimanadzé - Livro de Leitura. Campo Grande, MSMT-UCDB, 2ª ed. 2002, 107 p.

LACHNITT, Georg. Romnhitsi'ubumro - Dicionário xavante-português. Campo Grande, MSMT-UCDB, 108 p. 2ª ed. 2003.

LACHNITT, Georg. Damreme'uwaimramidzé - Estudos Sistemáticos e Comparativos de Gramática Xavante. Campo Grande, MSMT-UCDB, 202 p. 2ª ed. 1999.

LACHNITT, Georg. Romnhitsi'ubumro - Dicionário português-xavante Campo Grande, MSMT-UCDB, 123 p. 2ª ed. 2003.

LACHNITT, Georg e TSI'RUI'A, Aquilino Tsere'ubu'õ (Coord.s). Ihöiba prédu 'rãti'i na'ratadzé - Iniciação Cristã de Adultos. Campo Grande, MSMT-UCDB. 2004, 71 p.

1

Cf. Luis Campos MARTINEZ, Utopia somos nosotros - antropologia, p. 120-121; cf. Ralph LINTON, O homem, uma introdução à antropologia, p. 86; cf. também Paulo SUESS, Cultura e religião, p. 783, onde ele descreve a cultura como o específico do homem frente à natureza.

2Roque LARAIA, Cultura, um conceito antropológico, p. 24.

3Cf. Bronislaw MALINOWSKI, Uma teoria científica da cultura, p. 76-77, 79-80, 84, 86.

4Ibid. p. 89; cf. ainda p. 86-87.

5Roque LARAIA, Cultura, um conceito antropológico, p. 38.

6Cf. David KAPLAN, e Robert A. MANNERS, Teoria da cultura, p. 75.

7Cf. Roque LARAIA, Um conceito antropológico, p. 776.

8Cf. Paulo MENEZES, As origens da cultura, p. 24; cf. ainda Bronislaw MALINOWSKI, Uma teoria científica da cultura, p. 70.

9Clifford GEERTZ, A interpretação das culturas, p. 59.

10Ibid. p. 50.

11Cf. Clifford GEERTZ, A interpretação das culturas, onde ele reflete sobre esse tema dos universais e a relação entre natureza e cultura em longas páginas: 46-61.

12Cf. Ralph LINTON, O homem, uma introdução à antropologia, p. 264.

13Cf. Paulo MENEZES, As origens da cultura, p. 24.

14Cf. Roque LARAIA, Cultura, um conceito antropológico, p. 51. Igualmente Ralph LINTON, O homem, uma introdução à antropologia, p. 77, distingue entre reflexos incondicionados, instintivos e reflexos condicionados, resultantes de comportamento adquirido.

15Roque LARAIA, Cultura, um conceito antropológico, p. 49, citando Kroeber.

16Ralph LINTON, Cultura y personalidad, p. 45.

17Cf. Bronislaw MALINOWSKI, Uma teoria científica da cultura, p.44-45, 47.

18Cf. Paulo SUESS, Inculturação: Desafios - Caminhos - Metas, p. 89-90, cf. id. Cultura e religião, p. 782; cf. também Bronislaw MALINOWSKI, Uma teoria científica da cultura, p. 143.

19Bronislaw MALINOWSKI, Uma teoria científica da cultura, p. 56.

20Cf. ibid. p. 42-43, 69-70; cf. Ralph LINTON, Cultura y personalidad, p. 47; cf. Raul Ruiz de Asúa ALTUNA, Cultura tradicional banto, p. 41: descreve como o clima, o mundo animal, as doenças regionais condicionam o temperamento, a filosofia, a religião os sistemas sociais, enfim condicionam toda a cultura em geral dos Banto.

21Kroeber, citado in: LARAIA, Roque LARAIA, Cultura, um conceito antropológico, p. 49.

22Ralph LINTON, O homem, uma introdução à antropologia, p. 98.

23Cf. ibid. p. 97, 99, 112.

24Cf. ibid. p. 59-67.

25Ralph LINTON, Cultura y personalidad, p. 45.

26Ralph LINTON, O homem, uma introdução à antropologia, p. 262.

27Cf. David KAPLAN, e Robert A. MANNERS, Teoria da cultura, p. 202; ele cita Kardiner e Linton.

28Cf. Ralph LINTON, O homem, uma introdução à antropologia, p. 250.

29Cf. ibid. p. 252, 254-255; cf. Roque LARAIA, Cultura, um conceito antropológico, p. 95-96.

30Cf. Waldenyr CALDAS, Cultura, p. 14; cf. David KAPLAN, e Robert A. MANNERS, Teoria da cultura, p. 180-181; cf. Bronislaw MALINOWSKI, Uma teoria científica da cultura, p. 43, 52.

31Cf. Waldenyr CALDAS, Cultura, p. 15; cf. Ralph LINTON, O homem, uma introdução à antropologia, p. 107, 109-110, 255.

32Cf. David KAPLAN, e Robert A. MANNERS, Teoria da cultura, p. 243-247; cf. ainda Ralph LINTON, Cultura y personalidad, Fondo de cultura económica, p. 45.

33Cf. Ralph LINTON, O homem, uma introdução à antropologia, p. 110.

34Cf. ibid. p. 345; cf. Roque LARAIA, Cultura, um conceito antropológico, p. 90.

35Cf. Ralph LINTON, O homem, uma introdução à antropologia, p. 253; cf. Roque LARAIA, Cultura, um conceito antropológico, p. 65.

36Cf. Ralph LINTON, Cultura y personalidad, p. 130.

37Cf. ibid.

38

Cf. ibid. p. 344, 263.