Bakaru Rowatsu's (noticias misionarias)| 14



Missão Salesiana de Mato Grosso

ANIMAÇÃO MISSIONÁRIA INSPETORIAL

CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO INDÍGENA (CDI)

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"BAKARU-ROWATSU'U-Notícias Missionárias"

é de Circulação Interna




Coordenação: Delegado Inspetorial de Animação Missionária:

Pe. Georg Lachnitt SDB





Digitação e Diagramação: Georg Lachnitt





Impressão: Mariza Etelvina Rosa Irala

Centro de Documentação Indígena

UCDB - Campo Grande MS




Capa:

BAKARU, palavra Bororo, significa: o que se conta, notícia

ROWATSU'U, palavra Xavante, significa: o que se conta amplamente, notícia

Apresentação


Este número de NM, sob o tema de "Itinerância Missionária" apresenta três frentes de ação missionária junto ao Povo Xavante: O Pároco se faz presente na muitas aldeias a tempo integral. O vigário colabora em certas épocas do ano, sobretudo por ocasião do Natal e da Páscoa. E as Irmãs Lauritas, que residem na aldeia São Pedro, atendem várias aldeias da redondeza além da de sua sede. Estas são várias maneira diferentes de responder aos desafios de um povo que ocupa seu território residindo em 90 aldeias aproximadamente.

A reflexão sobre o significado da inculturação no magistério de João Paulo II apresenta na Carta Encíclica Redemptoris Missio alguns pontos que podem ser sublinhados para a atividade missionária, sem contudo perder toda a riqueza que este documento contém, em certo sentido, uma síntese do mesmo tema já tratado sob outros aspectos em documentos anteriores.

O tema da Teologia Índia é tratado numa segunda reflexão, aguardando mais uma terceira abordagem, num sentido de abrir novos horizontes.

A realidade de morte dos Povos Indígenas, provocada de fora e de dentro pela conjuntura nacional de marginalização, exige decididamente uma nova postura por parte dos poderes públicos, mais ainda quando tentam ocultar esta triste realidade.

Uma das maneiras de promover a reflexão e atuação missionárias é a formação de grupos missionários do mais diversos. Reflexão teórica e experiência prática, uma fundamentando e outra testando a teoria na prática, criam uma dinâmica original que torna a dimensão missão da Igreja viva e atuante.

Os missionários SDB e missionárias FMA junto ao povo Xavante em Merúri e Sangradouro começaram o novo ano investindo na qualidade dos Agentes de Pastoral através de uma proposta de formação solicitada pelos Bororo. Os missionários/as se envolveram todos neste dias de formação, formando e sendo formados. Parabéns! Num próximo número apresentaremos os detalhes deste dois dias valiosos

Muita Animação Missionária!

Pe. Georg Lachnitt SDB

1. Itinerância em Marãiwatsédé - Natal 2005

Bartolomeu Giaccaria

Neste ano de 2005, pela primeira vez foi celebrado o Natal em Marãiwatsédé com a presença do padre. No ano passado os Xavante estiveram acampados nas proximidades da Terra Indígena, porque uma liminar do Juiz de Cuiabá impedia a entrada na área, "para evitar conflitos". Havia fazendeiros na área, aliás todos já indenizados e posseiros que rejeitavam propostas de reassentamento. No final do ano, outro juiz de Brasília permitiu a ocupação de parte do território, cujo dono anterior já se tinha retirado.

A aldeia é muito grande; são 66 casas, com aproximadamente seiscentos indivíduos. As casas ainda são provisórias, cobertas com lonas pretas e folhas de palmeiras, impróprias para essa finalidade. A palhinha de piaçaba só existe nos lugares, onde os índios são impedidos de entrar.

A maior parte da mata foi destruída para dar lugar a pastos. Atrás da aldeia ainda há um bom pedaço de mata, mas, apesar de ser mata, a terra não é muito fértil. A caça já é bem reduzida, pois foi exterminada propositalmente pelos invasores, além do espaço permitido para essa finalidade ser muito estreito.

Os Xavante estão fazendo suas roças, sempre lutando com a escassez de sementes e de ferramenta. Portanto, a situação alimentar é escassa e como conseqüência há um número relevante de crianças subnutridas e desnutridas. De vez em quando chegam algumas cestas básicas.

No início de dezembro as Irmãs de Cascalheira deram início à Pastoral da Criança. Devido à dificuldades da estrada e da distância, as visitas são previstas a cada dois meses.

Nas duas semanas anteriores a Natal, fomos celebrar nas várias aldeias da Terra Indígena de Areões, onde ha cinco grupos que foram batizados no ano passado ou neste. O acesso às mesmas foi bastante difícil, pois chovia muito. Algumas estradas foram patroladas, mas não foram feitas as saídas das águas pluviais.. Assim precisou passar em certos lugares por quilômetros dentro da água com até 40 cm de altura. Em outro lugar só conseguimos chegar percorrendo um bom trecho a pé e os últimos 500 ms de barco.

Todas essas dificuldades não fazem esmorecer o fervor e o entusiasmo com que a maioria dos Xavante participam às celebrações, com cantos apropriados e muito animados.

A aldéia Marãiwatsédé se situa a 400 km de Nova Xavantina, com 150 km destes de chão, e o asfalto em muitos lugares bastante esburacado.

Desta vez a nossa equipe era de três pessoas: Nellina, uma voluntária italiana de 28 anos, Ir. Felícia, Laurita da Aldeia São Pedro, que veio para conhecer a nova realidade e ajudar, e o Pároco.

Saímos de Nova Xavantina no dia 23 pela manhã para chegar à Aldeia Belém. Este é o nome atual da antiga Aldeia Água Branca. A maioria desta aldeia se transferiu para Marãiwatsédé; assim também pareceu bem trocar o nome de uma aldeia hoje com 170 pessoas.

De noite celebramos antecipando a Solenidade do Natal, celebrando com animada participação. Nos dias 24 e 25, os Xavante solenizaram o Nascimento de Jesus com celebrações e cantos no estilo tradicional Xavante, todos eles ornados a rigor indígena.

Nós saímos no dia 24 cedo rumo a Marãiwatsédé. Depois de Cascalheira tivemos uma surpresa agradável. As chuvas tinham dado uma trégua e ainda, pela primeira vez nesse ano, tinha passado a patrola, pelo que teve poucos buracos. Em alguns trechos havia "montanhas-russas", e em outros um pouco de trepidação. Em todo o percurso havia muita poeira. Assim sendo, em vez de quatro horas e meia, como é costume, gastamos menos de três horas.

Em Cascaleira visitamos o pároco e as Irmãs, falando um pouco sobre a situação dos Xavante na região e sobre projetos futuros.

Chegamos a Marãiwatsédé pelas 14:30 hs, onde fomos muito bem recebidos. Tratamos logo de montar as nossas barracas, pois ão há construção para nos hospedar. Mal e mal que acabamos de concluir isso, despencou um temporal fortíssimo. Desta vez, com a experiência de vezes anteriores, consegimos evitar que as nossas barracas fossem alagadas.

Terminando o mau tempo, atendi confissões. Ao anoitecer, foi celebrada a Missa do Natal com muita solenidade. A participação foi quase total, e a maior parte dos adultos pintados. Toda a celebração foi solenizada com os cantos e danças Xavante.

Na manhã seguinte, bem cedo, foi celebrada outra missa, muito bem participada. Como no dia anterior, esteve também presente um grupo numeroso de jovens da Aldeia São Felipe para solenizar a festa com um torneiro de futebol.

O retorno foi sem surpresas. Em alguns trechos ainda havia muita poeira. Em outros lugares havia chovido. Num certo trecho encontramos carretas deslisando no barro e assim fechando a estrada. Por sorte conseguimos encontrar um desvio para ultrapassar esses veículos e assim mais rapidamente conseguimos chegar em casa.


2. Itinerância em Parabubure -Natal 2005

Georg Lachnitt

Nesse relatório estão alguns elementos da minha participação no atendimento pastoral da Paróquia São Domingos Sávio. Esta é uma informação ao pároco sobre as atividades desenvolvidas e aos meus superiores gerárquicos a quem devo prestar contas. O Pároco Pe. Bartolomeu Giaccaria mantém presença mensal nas aldeias de Parabubure. A minha participação se restringe ao tempo do Natal e da Páscoa, além dos cursos de formação dos agentes de pastoral, formação de missionários/as e outros momentos ocasionais.

O mesmo pároco, neste final de ano, faz seu giro pastoral nas aldeias da T.I. Areões, na aldeia Água Branca, aldeia Caçula e na distante Área Marãiwatsédé, onde celebra a noite de Natal. A Ir. Felícia, Laurita de São Pedro, o acompanhou neste Natal em sua viagem pastoral.

Pelo uso ampla da língua indígena, posso dar uma contribuição na conversa com eles, na confissão e sobretudo na celebração da liturgia em língua indígena. Assim minha assessoria não fica apenas na teoria, mas tenho oportunidade de verificar sua pratica, além de me dedicar a um trabalho missionário concreto.

11/12 - Saí de Campo Grande neste dia, levando comigo seis diplomas de estudantes indígenas Xavante e Bororo, que concluíram o curso superior em diversas áreas de Pedagogia. Em Sangradouro, onde pousei, entreguei esse diploma a Cesarina, única mulher indígena. Confirmei ainda o encontro de formação para missionários/as entre os Xavante, a realizar-se de 26 a 30 de dezembro.

12/12 - A próxima parada foi Merúri, onde entreguei o Diploma ao Bororo Marcos. Encontrei somente o Me. Mário em casa, com quem tive prolongado almoço, discutindo vários problemas da realidade missionária.

Indo até São Marcos, parei na Aldeia Nova Nazaré, onde entreguei 3 caixas de livros didáticos solicitados. A subida logo depois da aldeia fez anunciar um generoso atoleiro para este tempo de chuvas.

Na Aldeia N.S. de Fátima entreguei diplomas a Júlio e Cláudio, agora diretor da escola recém-criada. Deixei ainda 4 caixas de livros didáticos solicitados.

Na Aldeia Guadalupe encontrei a comunidade em Festa de sua Padroeira. Tinham vindo os times de futebol de N. Nazaré, Fátima e São Marcos para um torneio. Interessante: o futebol consegue costurar novamente a paz entre comunidades há pouco em guerra. Autoridades da FUNAI e do Município tinham sido convidadas. Entreguei 2 caixas de material didático solicitado. Os dois acadêmicos Rufino e Dário tinham ido poucos dias atrás a Campo Grande onde receberam seus diplomas.

Em São Marcos deixei outras duas caixas de material didático. Ainda fiz propaganda do Encontro depois do Natal.

13/12 - Saí de São Marcos de madrugada, acompanhado pela Ir. Cleide, Salesiana, que depois de vários anos de ausência voltou a integrar-se na equipe de itinerância. A chuva de ontem continou a nos acompanhar até São Pedro.

Encontrei Campinápolis sem pároco, pois o Pe. Cícero, Claretiano, está internado em Goiânia com uma meningite e logo em seguida precisou trocar uma válvula do coração. Corre notícia que uma vez recuperado não voltaria mais para cá. Aliás, os claretianos têm proposta de assumir uma paróquia em Paranatinga e Campinápolis aguarda outra congregação.

Feitas as últimas compras para a nossa manutenção, seguimos os últimos 60 km até São Pedro onde chegamos pelas 14:00 hs, sob chuva permanente. Entreguei as últimas 6 caixas de material didático e litúrgico. Todo esse material já faz parte do orçamento para 2006. É material que ainda constava nos estoques do CDI e que, já entregue, aliviaria o peso das respectivas entregas em fevereiro. Enquanto isso, alguns materiais de maior número já se encontram nas tipografias; o resto deve ser impresso em janeiro e fevereiro.

Diante das chuvas permanentes, que ameaçam continuar nos próximos dias, planejamos atender por primeiro as aldeias mais próximas, deixando as mais distantes para dias futuros com sol, se Deus quiser.

14/12 - Ir. Rosalba, Ir. Cleide e eu saímos de manhã a Santa Maria. O cacique e algumas pessoas estiveram ausentes. Celebramos eucaristia na capela/escola recém-construída pela OMG: 3 paredes de meia altura, com um quarto no fundo, são cobertos provisoriamente com palha de babaçu. É um ambiente bem arejado e acolhedor ao mesmo tempo.

Depois da missa fomos visitar a Aldeia Deus é Amor. As duas casas tinham queimado tempos atrás. Um ancião muito queimado ainda se encontra em Brasília. Sua esposa, menos atingida, já cuida da pequena aldeia, onde os anciãos com seus netos querem viver em paz.

Próximo daí está a Aldeia Três Marias. Um jovem cuidava de tudo e nos veio ver. Os demais também foram à cidade.

Daí fomos à Aldeia Santa Rosa, aliás dividida também em duas. Celebramos debaixo de uma mangueira, pois a escola/igreja de palha está impraticável. Os presentes participaram com sua simples devoção e seriedade.

Fomos ainda até a Aldeia Couto Magalhães, onde o cacique Irineu nos recebeu, o que é raridade, pois ele viaja muito. Ele nos declarou que um pastor crente lhe foi muito simpático e que ele passaria com sua comunidade a ser crente. Quem não quisesse, seria respeitado. Por isso dispensaria a Missa do padre. Mesmo assim pede que lhe instalem no poço antigo uma bomba.

Retornando, ainda paramos na Aldeia Central. Só havia umas poucas pessoas, os demais na cidade.

15/12 - Saindo ainda com chuva que nos acompanharia durante todos esses dias, paramos na Aldeia Luto Sagrado. O cacique Modesto não concorda com o vizinho Irineu de tornar-se crente. Como foi educado pelos padres, quer continuar de acordo com a educação recebida. Celebramos a missa na casa dele, onde ele mesmo sempre dá entoação e animação.

Passaram três caminhões da furação de poços da FUNASA para trabalhar na Aldeia Parabubure. Foram ver a primeira pinguela próxima que com um atoleiro logo depois desaconselhou a passagem. Tentaram entrar pelo caminho novo rumo à Aldeia Muritu, de Adalberto, por onde camionetes passavam rumo a Parabubure, mas voltaram mais tarde e foram embora.

Fomos então à Aldeia São Domingos Sávio, para aproveitar o tempo. Os jovens estiveram para começar um jogo. Mas o cacique ordenou a missa. A comunidade participou ativamente da missa na capela. Cantos animados não faltaram até com dança no início da missa. Só que as crianças irrequietas não pararam durante toda a missa. Acontece também!

16/12 - Apesar da chuva decidimos tomar rumo à Aldeia Barreiro. Passando por Luto Sagrado, consertei um registro na caixa d'água e um reparo da torneira. Seguimos bem até perto da Aldeia Estrela onde se desvia para a direita. Mas numa passagem por um córrego sem ponte corria tanta água, sem poder avaliar a profundidade e com muita correnteza, que desistimos arriscar a passagem.

Almoçamos e entramos em Etepore, debaixo de chuva. Há só dois batizados e um deles em situação irregular de família. Com o tempo frio e com chuva, pediram desculpas por não poder rezar a missa na escola, também as casas estão mais dispersas. A caixa d'água instalada pela FUNASA fez ceder um pilar da estrutura da mesma, pelo que a caixa está desativada. A bomba nova manual da equipe AMA funciona perfeitamente.

Indo rumo a Parabubure passamos bem pela primeira pinguela, pois o atoleiro seguinte parece mais do que é. Para entrar na parte superior da Casa de Encontros, precisou abrir a porta "menos convencionalmente", pois a fechadura esteve engripada. Na parte debaixo da Casa estava instalada uma equipe da FUNAI para fins de Censo pormenorizado em todas as aldeias. Um Xavante integrante da equipe e morando com a família em Goiânia a serviço da FUNAI pediu material de alfabetização e leitura para seu filho "para não perder a língua e cultura". Dias mais tarde entreguei o material pedido.

Descarregadas as coisas fui a Campinápolis comprar uma nova fechadura, já que a chuva não permitia outra atividade.

Pousamos nesta casa no cantar da chuva que caía a noite inteira.

17/12 - Nosso plano de ir à Aldeia Santo André, onde há oito catecúmenos ... nem pensar sob tanta chuva. Mais tarde, com a chuva meio parada, fomos à Aldeia Palmeiras onde celebramos na capela para a comunidade presente que encheu a capela. Foi uma celebração bem participada. Um rombo no telhado de palha não incomodou, pois a chuva respeitou a nossa celebração. Há muita gente de luto pela morte de Arcanjo, filho de Celestino, que morreu ainda jovem de diabétis na cidade.

Vendo que não havia condições de continuar nossa missão por ora nesta região, decidimos outro plano.

Passando por São José não encontramos quase ninguém, pois um caminhão cheio de gente tinha ido à Aldeona para jogar e voltariam no outro dia de noite.

Chegando a Santa Clara fomos recebidos cordialmente pelo casal Frederico e Aglay com sua equipe da OMG. Ficou decidido fazer a celebração no domingo de manhã, com a entrega do Evangelho de João a um bom grupo de crismandos, que está sendo orientado pelas Irmãs Lauritas.

18/12- Domingo - A celebração foi precedida por numerosas confissões, de manhã. Na capela, onde se guarda o SS.mo, a celebração foi realizada com muita seriedade e num ambiente sugestivo, também pela arrumação da capela. Algumas crianças ocuparam-se fora e assim não estorvaram a celebração. Os evangelhos foram entregues aos crismandos depois da leitura do Evangelho.

Depois da missa a equipe missionária local fez as malas para o recesso de Natal, cada um para sua casa. Dias antes presentearam todas as pessoas das quatro aldeias assistidas, Sta. Clara, S. Felipe, S. José e S. Dom. Sávio, com um panettone.

Fizemos nosso almoço na casa dos hospedeiros e mais tarde seguimos à Aldeia São Felipe. Chegando lá, estava sendo concluído um campeonato com a respectiva premiação, tudo a rigor e do jeito Xavante.

Depois de tomarem o banho costumeiro, celebramos a missa na capela com a costumeira piedade dos participantes, onde os idosos sobressaem com sua singela piedade.

Terminando nesta aldeia seguimos para São José esperando que os jogadores voltassem, pois a maioria dos crismandos era deles. Como já bem tarde ninguém apareceu, decidimos voltar daqui a dois dias, de tarde.

No caminho fomos surpreendidos por um pequeno desvio onde atolamos. Enquanto fizemos alguns procedimentos chegaram os jogadores que prontamente nos deram o empurrão salvador. Assim já no escuro chegamos em São Pedro, porém com um plano diferente executado, do que tinha sido planejado.

19/12 - Como o dia amanheceu sem chuva, decidimos ir até a Aldeia Santa Cruz, 80 km de São Pedro. O caminho era bom, apenas perto da Aldeia Baixão houve um atoleiro respeitável. Um minador no meio da estrada de barro tornou-se ativo. Um caminhão trucado de madeireiros carregado tentou passar e quebrou a ponta de eixo. Chegamos em Santa Cruz onde os notáveis tinham seguido à cidade. O professor e catequista com sua esposa aproveitaram o dia e foram trabalhar na roça que está bem distante da aldeia. Conversamos com um idoso já conhecido de São Marcos, que muito se alegrou com nossa presença.

Com os melhores votos a todos e lembranças ao cacique decidimos aproveitar o dia seco e fomos ainda à Aldeia Barreiro. O córrego agitado de dias antes tinha baixado. Fomos recebidos com alegria na aldeia que se alegra com um grupo de oito catecúmenos, aliás o primeiro grupo nesta aldeia. Fui convidado para uma catequese em língua Xavante feita debaixo de um palheiro. Realmente, pensavam que o batismo é para prevenir doenças e para sarar delas. Talvez isto derivado do batismo de emergência para crianças. Assim se pôde anunciar o batismo em nome de Jesus Cristo, como São Paulo ensinou aos Romanos. O velho cacique tinha sido batizado no grande sarampo em São Marcos, o que porém ficou sem efeito.

Assim chegamos realizados de volta em São Pedro, já de noite.

20/12 - Como o dia continou sem chuva, seguimos para Santo André. Os lugares críticos não ofereceram dificuldades, já que o veículo não escorregou. Chegando à aldeia, fomos surpreendidos com a notícia que o cacique juntou sua família inteira, entre eles os catecúmenos, foi fazer compras em Nova Xavantina, aproveitando a estrada seca. Os presentes perguntaram pelos jovens pre-noviços com quem tinha ido visitar a comunidade em julho passado.

Conversamos bastante com um homem bastante jovem que periodicamente fica obrigado ao repouso por causa de reumatismos. Por isso não pôde fazer muita roça neste anos; mas alegra-se com ainda duas pilhas de arroz na velha roça.

Passando pela Casa de Encontros, entramos na Aldeia Parabubure, onde o professor reuniu os alunos já em férias. Debaixo de um palheiro, que também serve para as aulas, fizemos uma celebração adaptada a esta clientela, com dinâmica mais narrativa sobre o nascimento do Senhor Jesus.

Daí seguimos para São José, onde os crismandos nos esperavam. A eucaristia foi celebrado com o costumeiro fervor típico desta comunidade.

Depois da missa, a pedido da Ir. Glória, fiz uma catequese sobre o significado da Crisma, dentro do contexto do processo de iniciação cristã.

Assim, depois de um dia bem movimentado, chegamos em casa já de noite.

21/12 - Este dia foi iniciado com uma missa com a comunidade das Irmãs. Precisou manter a tradição do AJACA, que é prática típica venezuelana. A preparação de uma massa que encobre uma mistura de carne de vaca e de porco com diversos temperos empenha todo mundo. Tudo é envolto em palhas de bananeira e amarrado tipicamente, do tamanho de uma pamonha. O resultado de 100 ajacas é cozinhado demoradamente numa panela para depois ser comido ou distribuído entre tantos outros. - Este foi um dia de intervalo animador para os dias seguintes em preparação ao Santo Natal.

22/12 - Cedinho a Ir. Glória foi com a Ir. Felícia a Nova Xavantina, pois esta foi convidada a acompanhar o Pe. Giaccaria em sua ida às aldeias Água Branca, Caçula e, por fim, Marãiwatsédé, onde seria celebrada a noite de Natal.

De manhã fui com a Ir. Cleide e uma mulher Xavante em visita à sua irmã à Aldeia Espírito Santo. Também aqui a constatação: uma aldeia quase vazia, e ainda dividida em duas comunidades de difícil comunicação. Celebramos a eucaristia como de costume na escola da aldeia. Estranhamos a ausência do pessoal "de cima". No fim da missa veio o professor da aldeia, aliás pouco dedicado à sua missão, e avisou que a escola agora funciona na casa do chefe de posto e que lá deveria ter sido feita a celebração. Bem ...!

Havia um rapaz novo da aldeia, de férias, que trabalha como engenheiro agrônomo em projetos dos Xavante e dá assessoria a iniciativas desse tipo a quem desejar. Foi interessante ouvi-lo falar de suas experiências, contando também com sua visão de Xavante.

Fomos até São Pedro para fazer o nosso almoço.

Pelas 15:00 hs saímos à Aldeia Bom Jesus da Lapa, debaixo de um sol rachado. O cacique Cipriano e comunidade nos receberam com alegria. A missa foi celebrada na capela nova com devota participação, precedida por várias confissões.

Já durante a missa começou a chuva pesada que cercava a aldeia. O embarque com uma família já foi debaixo de chuva pesada. O caminho de 5 km foi uma aventura, pois a estrada virou um rio. O Toyota trabalhou com todo vapor com a tração ligada, maneirando a velocidade para as águas não encobrirem o capu. Várias vezes teve dança, só não parar! Tive que abrir e fechar eu mesmo os três colchetes, muito esticados para mãos mais delicadas. Tudo andando dentro da água. Chegamos em São Pedro ensopados. A Ir. Glória chegou mais tarde voltando de Nova Xavantina.

Este dia não deixou em falta as aventuras que põem à prova a coragem e o idealismo dos missionários.

23/12 - De manhã, com Ir. Cleide e Ir. Genoveva fomos à Aldeia São Paulo. A aldeia estava quase por completo vazia. Seguimos à Aldeia Salvador. Os homens tinham ido à cidade por vários motivos.

Encontramos a esposa do cacique João Nunes, coberta de fogo selvagem e cega, mas não menos animada para falar de sua situação e das saudades dos tempos idos. Celebramos a missa na casa dela, com um grupo de mulheres jovens. No final elas apresentaram uma dança da tradição Xavante, com o texto do Natal do Senhor. Uma recriação nova bem original!

De tarde fomos à Aldeia N. S. Aparecida, cujo cacique Camilo e família são batizados. Infelizmente o mesmo com seus três filhos poderosos ainda esteve na cidade lutando por uma vaca inteira concedida apenas às grandes aldeias enquanto a dele somente conta com três casas. Celebramos na casa dele com um grupo liderado pela esposa do cacique que participou ativamente com as leituras e os cantos.

24/12 - Vigília do Natal - Esta manhã começamos com a missa da vigília do Natal, na comunidade missionária. Dedicamos o dia a diversas atividades e manutenção e reparos na casa das Irmãs, como serviços de pedreiro, podar árvores, pequenos consertos diversos, como ainda a Ir. Glória lavou os veículos. Missionários e missionárias todos empenhados para a grande festa do Natal.

A partir das 16:00 hs atendi as primeiras confissões. O grosso seguiu a partir das 19:00 hs. A solene missa do Natal começou às 21:00 hs, no centro da aldeia. Em lugar de destaque um grupo de 10 catecúmenos que receberam na celebração a Oração do Senhor, após chamado do ministro e a entrega foi feita pelo/a padrinhos/madrinha de cada um. À luz das velas a celebração teve seu encanto singular. Como "não há sábado sem sol", também a celebração foi feita sem chuva, embora alguns trovões de longe se mostrassem vivos.

Pelas 23:00 hs começou a festa na comunidade missionária, para terminar as 01:00 h.

25/12 - Natal - A manhã deste dia do Natal do Senhor foi em clima da viagem próxima. Arrumar todas as coisas, limpar os ambientes. Duas Irmãs foram conosco até São Marcos, para também participarem do Encontro de Estudos, a partir do dia 26 de tarde até 30 de dezembro em Sangradouro. Assim saímos ao meio dia e chegamos bem em São Marcos pelas 18:00 hs





3. A Ação Missionária das Irmãs Lauritas entre os Xavante

Georg Lachnitt

Ao me inserir ocasionalmente na Ação Missionária das Irmãs Lauritas entre os Xavante durante a Páscoa, o Natal e nos Cursos de Agentes de Pastoral Xavante, acompanho a atividade Missionária das Lauritas desde o início, em 1993. Assim posso descrever alguns traços da mesma atividade como observador externo.

1 - Na Catequese e Evangelização, as Irmãs acompanham e promovem a catequese em diversas aldeias dentro do programa de Iniciação Cristã de Adultos, que é o caminho normal de evangelização. Quando uma comunidade se sente na urgência de iniciar um grupo de catecúmenos, as Irmãs oferecem apoio e formação ao catequista indígena, que é escolhido pela comunidade dentre os membros da própria comunidade. Os missionários dificilmente conseguem aprender suficientemente a língua indígena, e assim só os nativos são aptos para este ministério. As Irmãs se fazem presentes até cada quinze dias, por alguns dias para a sua ação. Os indígenas, com seus métodos de encontros periódicos, o lugar, a presença e ação dos padrinhos e madrinhas, tudo isso é metodologia indígena na qual se expressa o processo de evangelização. Só assim é possível considerar o Evangelho como uma questão própria e não dos brancos de fora.

2 - Ao promover a liturgia, em língua indígena, com seus cantos próprios e suas expressões culturais, as Irmãs participam normalmente da celebração da comunidade onde estiverem. Apenas entram em ação para o rito da distribuição da Eucaristia na celebração. Os indígenas determinam a hora e o lugar das celebrações e distribuem os respectivos ministérios, e quando houver um sacerdote, este também se insere numa organização complexa já definida.

3 - No início da presença das Irmãs, a Ir. Genoveva participou dos cursos ocasionais de formação dos professores indígenas e posteriormente participou como monitora no Projeto TUCUM para acompanhar os professores indígenas em suas escolas nas etapas intermediárias, juntamente com outras pessoas da prefeitura, do SIL e da MSMT. A pedido da comunidade de São Pedro para instalar os cursos de 5ª a 8ª séries, com a colaboração da MSMT através do Pe. Leal, diretor de Sangradouro, quatro professores indígenas já com o magistério a nível de 2º grau realizado, as Irmãs deram apoio decidido para a realização da promoção de novas quatro séries. Com isso a Ir. Genoveva ficou incumbida da diretoria da Escola e deu sua contribuição valiosa para a realização da Escola. Posteriormente, com a criação do IIº grau, pela SEDUC, a mesma Irmã trabalhou como coordenadora pedagógica na mesma escola, quando um professor indígena assumiu a diretoria, infelizmente não tão bem sucedido. Nesta época, a Ir. Felícia se inseriu no mesmo trabalho, já que a Ir. Genoveva estava com os dias contados nesta missão. Foi quando novamente a Ir. Genoveva foi solicitada pela Prefeitura de Campinápolis para colaborar como assessora das demais escolas da Área de Parabubure, já que o orientador anterior tinha sido promovido a Secretário da Educação. Neste trabalho acompanha também o novo Curso de Formação de Professores a nível de 2º grau da Prefeitura, curso no qual a Ir. Felícia também tem papel importante.

4 - Desde que a FUNASA assumiu o compromisso pelo atendimento à saúde, a ação das Irmãs neste campo consiste em entrar subsidiariamente. Com graves lacunas na ação da FUNASA, muitas emergências ficam a cargo das Irmãs, como transporte de doentes ao Polo em Campinápolis, atendimento sobretudo às crianças, onde se valem de muitos conhecimentos de medicina natural acumulados pelo trabalho missionário delas mesmas e enriquecido em confronto com a medicina tradicional indígena. Desta maneira elas animam os indígenas a valorizar sua própria medicina e também enriquecê-la com novos conhecimentos deste gênero.


4. A INCULTURAÇÃO no Magistério de João Paulo II (III)

Georg Lachnitt

Pressupostos para a Reflexão sobre a Inculturação

A Carta Encíclica Redemptoris Missio, de João Paulo II, reafirma a centralidade da Missão da Igreja de anunciar Jesus Cristo e seu Evangelho a todos os povos. Isto já tinha sido anunciado claramente pelo Concílio Vaticano II vendo as necessidades da Igreja no mundo contemporâneo e constatando que o anúncio do Evangelho ainda está no início diante de numerosos povos aos quais este anúncio ainda não foi proclamado. Escreve o Papa logo na introdução ( RMi. 1) da Encíclica:

O Concílio Vaticano II pretendeu renovar a vida e a atividade da Igreja, de acordo com as necessidades do mundo contemporaneo: assim sublinhou o seu caráter missionário, fundamentando-o dinamicamente na própria missão trinitária. O impulso missionário pertence, pois, à natureza íntima da vida cristã, e inspira também o ecumenismo: «que todos sejam um (...) para que o mundo creia que Tu Me enviaste» (Jo 17,21).

Ao conceber esta missão de anunciar com o fundamento na própria Trindade, reconhecemos a solidez desta missão como sendo da própria Igreja qual servidora desta missão trinitária (cf. RMi 9).

Ao refletir no capítulo I sobre o tema "Jesus Cristo, Único Salvador", o Papa reafirma a centralidade da encarnação de Jesus Cristo na História, pelo que a encarnação atinge todos os homens, de diversas maneiras. Ninguém está excluído do mistério pascal e neste mesmo a história de qualquer povo merece ser recapitulada. E é justamente pela ação do Espírito Santo que todos os povos recebem, receberam e irão receber no futuro a fé no Filho de Deus. Escreve, pois, João Paulo II (RMi 6):

«Aprouve a Deus que n'Ele residisse toda a plenitude, e por Ele fossem reconciliadas Consigo todas as coisas, pacificando, pelo sangue da sua cruz, tanto as criaturas da terra como as do céu» (Col 1,13-14.19-20). Precisamente esta singularidade única de Cristo é que Lhe confere um significado absoluto e universal, pelo qual, enquanto está na História, é o centro e o fim desta mesma História:1 «Eu sou o Alfa e o Ómega, o Primeiro e o Último, o Princípio e o Fim» (Ap 22,13).

Se é lícito e útil, portanto, considerar o mistério de Cristo sob os seus vários aspectos, nunca se deve perder de vista a Sua unidade. À medida que formos descobrindo e valorizando os diversos tipos de dons, e sobretudo as riquezas espirituais, que Deus distribuiu a cada povo, não podemos separá-los de Jesus Cristo, o Qual está no centro da economia salvadora. De fato, como «pela encarnação, o Filho de Deus se uniu de alguma forma a todo o homem», assim «devemos acreditar que o Espírito Santo oferece a todos, de um modo que só Deus conhece, a possibilidade de serem associados ao mistério pascal»,2 0 plano divino é «recapitular em Cristo todas as coisas que há no céu e na terra» (Ef 1,10).

João Paulo II mostra que a universalidade da salvação não está ligada à entrada explícita na Igreja. A salvação pode ser alcançada, pela ação do Espírito Santo, em virtude da morte-ressurreição de Cristo, do modo que só Deus conhece. Vejamos o argumento precioso de João Paulo II (RMi 10):

A universalidade da salvação em Cristo não significa que ela se destina apenas àqueles que, de maneira explícita, crêem em Cristo e entraram na Igreja. Se é destinada a todos, a salvação deve ser posta concretamente à disposição de todos. É evidente, porém, que, hoje como no passado, muitos homens não têm a possibilidade de conhecer ou aceitar a revelação do Evangelho, e de entrar na Igreja. Vivem em condições socio-culturais que o não permitem, e frequentemente foram educados noutras tradições religiosas. Para eles, a salvação de Cristo torna-se acessível em virtude de uma graça que, embora dotada de uma misteriosa relação com a Igreja, todavia não os introduz formalmente nela, mas ilumina convenientemente a sua situação interior e ambiental. Esta graça provém de Cristo, é fruto do Seu sacrifício e é comunicada pelo Espírito Santo: ela permite a cada um alcançar a salvação, com a sua livre colaboração.

Por isso o Concílio, após afirmar a dimensão central do Mistério Pascal, diz: «isto não vale apenas para aqueles que crêem em Cristo, mas para todos os homens de boa vontade, no coração dos quais opera invisivelmente a graça. Na verdade, se Cristo morreu por todos e a vocação última do homem é realmente uma só, isto é, a divina, nós devemos acreditar que o Espírito Santo oferece a todos, de um modo que só Deus conhece, a possibilidade de serem associados ao Mistério Pascal».3

Outro fundamento básico para a reflexão sobre e inculturação encontramos no Capítulo II - O Reino de Deus. Este tema deve ser compreendido em estreita relação com a Igreja. O Papa começa retomando um discurso já anteriormente afirmado (RMi 12):

A salvação consiste em crer e acolher o mistério do Pai e do Seu amor, que se manifesta e oferece em Jesus, por meio do Espírito. Assim se cumpre o Reino de Deus, preparado já no Antígo Testamento, realizado por Cristo e em Cristo, anunciado a todos os povos pela Igreja, que atua e reza para que ele se realize de modo perfeito e definitivo.

A finalidade de todo o labor evangelizador é pois o Reino de Deus a se realizar na terra, o qual cabe à Igreja anunciar. Este Reino diz respeito a todas as pessoas sem exclusão, sem discriminação e sem recusa. Mas todos estão convidados a pertencer ao Reino no uso pleno de sua liberdade. Explica João Paulo II (n.15):

O reino pretende transformar as relações entre os homens, e realiza-se progressivamente à medida que estes aprendem a amar, perdoar, a servir-se mutuamente. Jesus retoma toda a Lei, centrando-a no mandamento do amor (cf. Mt 22, 34-40; Lc 10, 25-28). ..........

O Reino diz respeito a todos: às pessoas, à sociedade, ao mundo inteiro. Trabalhar pelo Reino significa reconhecer e favorecer o dinamismo divino, que está presente na história humana e a transforma. Construir o Reino quer dizer trabalhar para a libertação do mal, sob todas as suas formas. Em resumo, o Reino de Deus é a manifestação e a atuação do Seu desígnio de salvação, em toda a sua plenitude.

Esta presença do Reino também se caracteriza pela aceitação das pessoas em suas diferenças e em sua originalidade. Longe de nivelá-las num único perfil cultural, reconhece as diferenças com dom de Cristo dado para a construção do Reino. Amar-se mutuamente e servir-se reciprocamente leva a estabelecer novas relações que unem as pessoas, em nome de Jesus Cristo.

Duas referências tornam-se indispensáveis para a concretização do Reino, conforme João Paulo II (RMi 18):

O Reino de Deus não é um conceito, uma doutrina, um programa sujeito a livre elaboração, mas é, acima de tudo, uma Pessoa que tem o nome e o rosto de Jesus de Nazaré, imagem do Deus invisível.4

De igual modo, não podemos separar o Reino, da Igreja. Com certeza que esta não é fim em si própria, uma vez que se ordena ao Reino de Deus, do qual é princípio, sinal e instrumento. Mesmo sendo distinta de Cristo e do Reino, a Igreja todavia está unida indissoluvelmente a ambos. ..... Nasce daí uma relação única e singular que, mesmo sem excluir a obra de Cristo e do Espírito fora dos confins visíveis da Igreja, confere a esta um papel específico e necessário. Disto provém a ligação especial da Igreja com o Reino de Deus e de Cristo, que ela tem «a missão de anunciar e estabelecer em todos os povos».5

Pois bem! O Reino se identifica com a pessoa de Jesus Cristo.

O Espírito continua agindo além dos limites da Igreja, muito mais amplamente.

A Igreja se distingue de Jesus Cristo e do Reino, mas ainda assim está unida indissoluvelmente a ambos; isto é, ela tem a missão de anunciar e estabelecer o Reino em todos os povos.

Ainda mais importante para uma reflexão sobre a inculturação é aquela sobre a presença e ação do Espírito Santo (28 e 29).

As pesquisas antropológicas constatam a universalidade da religião em todas as culturas. Sendo parte integrante de qualquer cultura, a religião se expressa em formas culturais, embora o fato de sua existência não se condicione a determinada cultura. Sobre esta realidade o Espírito exerce sua ação. Afirma João Paulo II (RMi 28):

O Espírito está, portanto, na própria origem da questão existencial e religiosa do homem, que surge não só de situações contingentes, mas sobretudo da estrutura própria do seu ser.6

A presença e ação do Espírito não atingem apenas os indivíduos, mas também a sociedade e a história, os povos, as culturas e as religiões.

........ o Espírito que infunde as «sementes do Verbo», presentes nos ritos e nas culturas, e as faz maturar em Cristo.7

Por fim, o Espírito está presente e atuando através dos tempos, desde o início até e Encarnação do Filho de Deus, na própria Encarnação e através de todos os tempos. (RMi 29):

Assim o Espírito que «sopra onde quer» (Jo 3, 8) e que «já estava a operar no mundo, antes da glorificação do Filho»,8 que «enche o universo, abrangendo tudo e de tudo tem conhecimento» (Sab 1, 7), induz-nos a estender o olhar, para podermos melhor considerar a Sua ação, presente em todo o tempo e lugar. .......

Este Espírito é o mesmo que agiu na encarnação, vida, morte e ressurreição de Jesus, e atua na Igreja. ...... Tudo quanto o Espírito opera no coração dos homens e na história dos povos, nas culturas e religiões, assume um papel de preparação evangélica,9 e não pode deixar de se referir a Cristo, Verbo feito carne pela ação do Espírito, «a fim de, como Homem perfeito, salvar todos os homens e recapitular em Si todas as coisas».10

Esta ação do Espírito é entendida por João Paulo II em íntima relação com a Igreja. Isto, no entanto, não significa que o Espírito estja agindo somente na Igreja, em seus limites. Antes, a ação dele se desenvolve dentro e fora da Igreja. Cabe à Igreja reconhecer, acolher e discernir esta ação do Espírito. O Papa escreve assim (RMi 29):

A ação universal do Espírito, portanto, não pode ser separada da obra peculiar que Ele desenvolve no Corpo de Cristo, que é a Igreja. Sempre é o Espírito que atua, quer quando dá vida à Igreja impelindo-a a anunciar Cristo, quer quando semeia e desenvolve os seus dons em todos os homens e povos, conduzindo a Igreja à descoberta, promoção e acolhimento desses dons, através do diálogo. Qualquer presença do Espírito deve ser acolhida com estima e gratidão, mas o discerni-la compete à Igreja, à qual Cristo deu o Seu Espírito para a guiar até à verdade total (cf. Jo 16, 13).

A Origem Apostólica da Inculturação

João Paulo II começa recordando que há seis discursos missionários nos Atos dos Apóstolos que mostram a dinâmica de anunciar o Evangelho logo no início. Paulo e Pedro convidam a abraçar a fé em Jesus. Escreve o Papa (RMi 24)

Os Atos dos Apóstolos referem seis «discursos missionários», em miniatura, que foram dirigidos aos judeus, nos primórdios da Igreja (cf. At 2,22-39; 3,12-26; 4,9-12; 5,29-32; 10,34-43; 13,16-41). Estes discursos-modelo, pronunciados por Pedro e por Paulo, anunciam Jesus, convidam a «converter-se», isto é, a acolher Jesus na fé e a deixar-se transformar n'Ele, pelo Espírito.

Paulo e Barnabé começam logo sentir a problemática ao anunciarem Jesus Cristo aos pagãos. Comenta o Papa: (RMi 24)

Paulo e Barnabé são impelidos pelo Espírito para a missão entre os pagãos (cf. At 13,46-48), mesmo no meio de tensões e problemas. Como devem viver os pagãos convertidos, a sua fé em Jesus? Ficam eles vinculados à tradição do judaismo e à lei da circuncisão?

O assunto teve tanta importância que os apóstolos decidiram se reunir, como hoje o chamamos, para o Primeiro Concílio para tomar uma decisão que fosse de consenso de todos e servisse para orientar a prática de anunciar Jesus Cristo entre os não-judeus. Esta é uma primeira e fundamental declaração daquilo que hoje designamos com o processo de inculturação. Escreve o Papa: (RMi 24)

No primeiro Concílio, que reune em Jerusalem, à volta dos Apóstolos, os membros das diversas Igrejas, é tomada uma decisão considerada como emanada do Espírito Santo: não é necessário que o pagão se submeta à lei judaica para ser cristão (cf. At 15,5-11.28) A partir desse momento, a Igreja abre as suas portas torna-se a casa onde todos podem entrar e sentir-se à vontade, conservando as próprias tradições e cultura, desde que não estejam em contraste com o Evangelho.

A seguir, o Papa descreve a prática dos apóstolos e aponta em que eles faziam consistir a inculturação:

1- O Deus que vem revelar, já está presente nas suas vidas: de fato, foi Ele Quem os criou, e é Ele que misteriosamente conduz os povos e a história;

2- é necessário que abandonem os falsos deuses que eles próprios fabricaram, e se abram Àquele que Deus enviou para iluminar a sua ignorância e satisfazer os anseios dos seus corações (cf. At 17,27-30) (RMi 25).

A prática de anunciar a novidade de Jesus Cristo a um povo que tem a fé em Deus criador e, reconhecendo esse fato, exige construir a novidade sobre o que já existe é portanto da natureza original do cristianismo. Mais ainda, propor a novidade de Jesus Cristo, o Filho de Deus, que ilumina, tira dúvidas, esclarece a plena verdade e satisfaz às expectativas da humanidade, é igualmente prática original apostólica.

O que é a Inculturação

Sabemos que, por circunstâncias históricas, a prática da inculturação foi abandonada e se passou àquele outro processo da Colonização Religiosa, que na época apostólica seria a judaicização. É por essa razão que a Igreja, passando a uma Nova Evangelização, retoma a prática apostólica, que não é apenas uma opção, mas uma postura urgente, em que os missionários, querendo ou não querendo, estão envolvidos, como escreve João Paulo II (RMI 52):

Desenvolvendo a sua atividade missionária no meio dos povos, a Igreja encontra várias culturas, vendo-se envolvida no processo de inculturação. Esta constitui uma exigência que marcou todo o seu caminho histórico, mas hoje é particularmente aguda e urgente.

Vejamos agora em que consiste a inculturação, segundo João Paulo II na Redemptoris Missio, definições já emitidas anteriormente (RMi 52).

A inculturação «significa a íntima transformação dos valores culturais autênticos, pela sua integração no cristianismo, e o enraizamento do cristianismo nas várias culturas»11.

Em certo sentido há, pois, dois movimentos; os autênticos valores de uma cultura são recebidos no cristianismo, de tal modo que agora se tornam cristãos, e, num movimento inverso, o Evangelho vai às culturas e penetra nelas até sua raízes. Como escreve o Papa, que superando qualquer superficialidade, esta inserção numa cultura, por ser profunda, é um processo demorado, não pode ser ação nem inicial, nem imediata e direta do processo de evangelização.

O processo de inserção da Igreja nas culturas dos povos requer um tempo longo: é que não se trata de uma mera adaptação exterior (RMi 52).

Isto também está expresso de outra maneira numa outra passagem, como podemos ler:

Pela inculturação, a Igreja encarna o Evangelho nas diversas culturas e simultaneamente introduz os povos com as suas culturas na sua própria comunidade,12 transmitindo-lhes os seus próprios valores, assumindo o que de bom nelas existe, e renovando-as a partir de dentro.13

Este processo não se refere apenas a alguns aspectos da evangelização, como, p. ex. ao uso de língua local ou, quem sabe, de alguns elementos da liturgia, antes, atinge todos os setores da vida, da filosofia, da sabedoria, da religião, da economia etc. de determinado povo. O que não se opuser ao Evangelho, a partir de uma recapitulação da globalidade da cultura do povo à luz do Evangelho, é integrado no cristianismo.

Trata-se, pois, de um processo profundo e globalizante que integra tanto a mensagem cristã, como a reflexão e a práxis da Igreja (RMi 52).

É evidente, como lemos no DSD, Não é a cultura a medida do Evan­gelho, mas Jesus Cristo é a medida de toda a cultura e de toda obra humana.14 O Evangelho é sempre luz a iluminar qualquer cultura. Por isso podemos afirmar que o Evangelho se identifica na cultura e não com a cultura. Neste caso deixaria ser uma proposta universal para qualquer cultura, e seria apenas a expressão de uma determinada cultura.

Mas é também um processo difícil, porque não pode comprometer de modo nenhum a especificidade e a integridade da fé cristã (RMi 52).

Uma vez que cada povo com sua cultura vai receber o anúncio do Evangelho e encarná-lo em sua cultura, surgirá em cada povo uma nova Igreja particular com rosto particular bem específico. Esta diversidade prevista e projetada, longe de prejudicar a unidade da Igreja como um todo, será uma valiosa contribuição para a compreensão mais plena do Evangelho, será uma preciosa riqueza para sua própria identidade (cf. RMi 85).

Por sua vez, a Igreja, com a inculturação, torna-se um sinal mais transparente daquilo que realmente ela é, e um instrumento mais apto para a missão.

Graças a esta ação das Igrejas locais, a própria Igreja universal se enriquece com novas expressões e valores nos diversos setores da vida cristã, tais como a evangelização, o culto, a teologia, a caridade; conhece e exprime cada vez melhor o mistério de Cristo, e é estimulada a uma renovação contínua. Estes temas, presentes no Concílio e no Magistério sucessivo (RMi 52).

A inculturação não é uma atividade de especialistas que projetam a definem o processo num escritório. Estes, na verdade, têm um papel específico nesse processo, conforme lemos na SC 39, referindo-se à adaptação da liturgia, conforme lemos:

Como as leis litúrgicas, sobretudo nas missões, costumam trazer dificuldades especiais, quanto à adaptação, ao elaborá-las, recorra-se a pessoas competentes nesta matéria.

O compromisso é de toda a Igreja particular com as mais diversas instâncias, uma vez que se espera que cada comunidade precisa rezar a Deus em espírito e verdade. Aos pastores cabe um papel irrenunciável em promover, discernir e urgir a colaboração também de peritos para o seu devido desenvolvimento. Além do mais, embora o Papa declare aqui que o processo acompanha toda a vida missionária, na verdade, ele deve realizar-se em qualquer Igreja particular, pois é uma questão de renovação deslanchado pelo próprio Concílio Vaticano II.

A inculturação é um caminho lento, que acompanha toda a vida missionária e que responsabiliza os vários agentes da missão ad gentes, as comunidades cristãs à medida que se vão desenvolvendo, e os Pastores que têm a responsabilidade de discernimento e de estímulo na sua realização.15

O Papel dos Missionários

João Paulo II faz ainda um apelo sério aos próprios missionários para que o Evangelho penetre até às raízes de cada cultura.

O Papa não considera necessário renunciar à própria identidade cultural. Esta, aliás o condiciona em todos os sentidos. Este condicionamento deve ser superado, em razão de sua missão de evangelizar.

Para isso, a metodologia adequada e mais eficiente é inserir-se no mundo sócio-cultural dos destinatários, para compreender, estimar, promover e evangelizar a do ambiente em que atuam. Com esse método vivencial de tomar contato com a realidade, torna-se mais fácil de aprender a língua não só de um povo, mas até de uma região que costuma distinguir-se com variedade dialetal de uma língua.

Como a evangelização se realiza antes de tudo pelo testemunho de vida e pela solidariedade para com o povo e, em concreto, para com uma comunidade, esta é a primeira maneira de se comunicar evangelicamente. É evidente que o testemunho de vida se reveste de traços culturais, os quais devem ser assumidos também dos evangelizandos. Um gesto vivencial pode ser testemunho numa cultura e contra-testemunho numa outro. O testemunho de vida é que fala por si mesmo, sem ter que dar muita explicação. Em seguida, naturalmente, vem a língua falada, instrumento fundamental para a anúncio do Evangelho.

Todo o processo de adequar-se ao ambiente dos evangelizandos tem em vista uma evangelização crível e frutuosa do conhecimento do mistério escondido.

O texto da Encíclica de João Paulo II é seguinte (RMi 53):

Os missionários, provenientes de outras Igrejas e Países, devem inserir-se no mundo socio-cultural daqueles a quem são enviados, superando os condicionalismos do próprio ambiente de origem. Assim, torna-se necessário aprender a língua da região onde trabalham, conhecer as expressões mais significativas da sua cultura, descobrindo os seus valores por experiência direta. Eles só poderão levar aos povos, de maneira crível e frutuosa, o conhecimento do mistério escondido (cf. Rm 16,25-27; Ef 3,5), através daquela aprendizagem. Não se trata, por certo, de renegar a própria identidade cultural, mas de compreender, estimar, promover e evangelizar a do ambiente em que atuam e, deste modo, conseguir realmente comunicar com ele, assumindo um estilo de vida que seja sinal de testemunho evangélico e de solidariedade com o povo.

Princípios para a correta inculturação

1. A finalidade do processo de inculturação é exprimir progressivamente a própria experiência cristã em modos e formas originais, em consonância com as próprias tradições culturais.

2. Igualmente, o conteúdo da fé cristã precisa ser expresso inequivocamente.

Estas duas referências são pares quanto à sua importância. Se faltar, que seja em partes o revestimento cultural do Evangelho, falha a comunicação e o devido entendimento. Logo, a fé corre risco de não ser assumida em sua plena verdade. Se o conteúdo não for transmitido em seus traços sobretudo essenciais, há igualmente risco para a unidade e fidelidade à Igreja. Deve-se considerar, porém, que qualquer tradução de um ambiente lingüístico e cultural para outro representa sempre um esforço aproximativo, nunca de igualdade perfeita. Nisso há ganhos e perdas. Por isso, a Igreja universal se enriquece com novas inculturações da fé, ao mesmo tempo que a verdade expressa "plenamente numa cultura, não parece ser tal ao inserir-se numa outra. Escreve João Paulo II (RMi 53):

As comunidades eclesiais em formação, inspiradas pelo Evangelho, poderão exprimir progressivamente a própria experiência cristã em modos e formas originais, em consonância com as próprias tradições culturais, embora sempre em sintonia com as exigências objetivas da própria fé.

3. A relação entre Igreja particular e universal significa outra desafio. A unidade na fé deve continuar garantida, aos mesmo tempo que formas culturais particulares garantem uma fé assumida em profundidade, e não superficialmente (cf. EN 20). Se, como escreve o Papa, uma etnia se extende a várias Igrejas particulares, a unidade pastoral de um mesmo povo é uma exigência. Diferente já é o caso quando numa Igreja particular houver várias minorias étnicas, que igualmente merecem acolhida e direito à inculturação da fé. A variedade da expressão da fé comum é legítima, merece reconhecimento e acolhida, como ainda é um dom do Espírito à Igreja. A expressão da unidade da fé se faz pelo dom da diversidade, claro, oportunamente também em expressões originais de comunhão. Escreve João Paulo II (RMi 53):

Para isso, especialmente no que toca aos setores mais delicados da inculturação, as Igrejas particulares do mesmo território devem trabalhar em comunhão entre si16 e com toda a Igreja, certas de que só a atenção tanto à Igreja universal como à Igreja particular as tornará capazes de traduzirem o tesouro da fé, na legítima variedade das suas expressões.17 Portanto os grupos evangelizados oferecerão os elementos para uma «tradução» da mensagem evangélica,18 tendo presente os contributos positivos provenientes do contato do cristianismo com as várias culturas, ao longo dos séculos, mas sem nunca esquecer os perigos de alteração, de quando em vez a tentar-nos.19

4. A compatibilidade com o Evangelho é outro princípio, o que significa um desafio delicado. Qual novidade para qualquer povo com sua religião, que também é um dom do Espírito, a Encarnação do Filho de Deus encontra um terreno fértil que precisa ser cultivado. Por isso, esse princípio inclui aquele outro da purificação, elevação e aperfeiçoamento. Tudo merece ser recapitulado em Cristo para que possa surgir uma nova maravilha da fé no Filho de Deus. Cabe aos pastores da Igreja, nos diversos níveis, o dever do discernimento em razão da fidelidade ao Evangelho. Diz o Papa (RMi 54, cf. 76):

A propósito disto, continuam fundamentais algumas indicações. A inculturação, em seu correto desenvolvimento, deve ser guiada por dois princípios: «a compatibilidade com o Evangelho e a comunhão com a Igreja universal».20 Os Bispos, defensores do «depósito da fé», velarão pela fidelidade e, sobretudo, pelo discernimento,21 para o qual se requer um profundo equilíbrio: de fato corre-se o risco de se passar acriticamente de um alheamento da cultura para uma sobrevalorização da mesma, que não deixa de ser um produto do homem e, como tal, está marcada pelo pecado. Também ela deve ser «purificada, elevada, e aperfeiçoada».22

5. A inculturação da fé cristã não se dá como fato de partida do anúncio do Evangelho. Sempre há uma passagem da expressão da fé na cultura do missionário para, progressivamente passar a expressar-se em formas e modos cada vez mais originais. Hoje se fala de um "processo" da inculturação. Há momento de fervor nesse processo, com também podem ocorrer tempos de cansaço e até volta ao modelo importado. Esse é o caminho da encarnação também do Filho de Deus, que é o paradigma, por analogia, da inculturação. Afirma João Paulo II (RMi 54):

Um tal processo requer gradualidade, para que seja verdadeiramente uma expressão da experiência cristã da comunidade: «será necessária uma incubação do mistério cristão no caráter do vosso povo - dizia Paulo VI em Kampala para que a sua voz nativa, mais límpida e franca, se levante harmoniosa no coro das vozes da Igreja universal».23

6. A inculturação da fé é uma questão de uma Igreja particular ou, em sua origem, de uma etnia dentro de uma Igreja particular. Para certos aspectos da inculturação, pensemos no esforço da tradução da Bíblia, p. ex., há necessidade de peritos que "fazem a ponte" entre as duas culturas, pessoas que se familiarizaram com as duas culturas. Mas os portadores da cultura são os verdadeiros sujeitos da inculturação. Estes devem ser envolvidos em todo o processo, nos seus mais diversos aspectos, pois a fé no Filho de Deus encarnado deve se expressar na cultura do povo, que é seu sujeito. Como toda a cultura é dinâmica, as transformações dela são um fato permanente o qual, como conseqüência, exige um processo permanente de inculturação, não apenas das jovens Igrejas missionárias, mas também as Igrejas de tradição secular e milenar. Continua João Paulo II (RMI 54):

Enfim, a inculturação deve envolver todo o povo de Deus, e não apenas alguns peritos, dado que o povo reflete aquele sentido da fé, que é necessário nunca perder de vista. Ela seja guiada e estimulada, mas nunca forçada, para não provocar reações negativas nos cristãos: deve ser uma expressão da vida comunitária, ou seja, amadurecida no seio da comunidade, e não fruto exclusivo de investigações eruditas. A salvaguarda dos valores tradicionais é efeito de uma fé madura.

Por fim, urge reconhecer que estas reflexões são apenas parciais, em base à Carta Encíclica Redemptoris Missio de João Paulo II. Pelo esforço desse Papa, missionário que percorreu os mais diversos campos de missão da Igreja e, em cada lugar, deixou uma parte de sua espiritualidade missionária, temos hoje muitos elementos declarados para urgir o desenvolvimento do processo de inculturação, com também solicitam os bispos da América Latina em Santo Domingos.


5. Teologia Índia (II)

Georg Lachnitt

Teologia Índia através do Mito e do Rito

Para possibilitar efetivamente uma maior aproximação aos conteúdos da Teologia Índia, é indispensável tratar de dois conceitos inerentes, digamos, outro modo de expressar o conteúdo que não seja a via racional. Esses dois conceitos são o MITO e o RITO. Esses dois possibilitam uma leitura, em outros códigos, dos conteúdos teológicos de determinada etnia.

1. O MITO

Partindo dos conceitos comuns em uso, temos que avançar para uma compreensão mais antropológica do mito.

Vejamos no Dicionário Brasileiro Contemporâneo, onde afirma que o mito é: Narração dos tempos fabulosos ou heróicos; fábula; tradição alegórica explicativa de um fato natural, histórico ou filosófico; (fig.) coisa inacreditável, que não tem realidade; quimera, utopia, mistério, enigma.24

Desse conceito popular, voltemos então às fontes etimológicas. A palavra "mito" vem do grego, μῦθος, o que significa: 1- palavra, citado, lema, sentença, discurso; 2- narração, conto, história legendária de deuses ou heróis, fábula; 3- voz, grito, fama, notícia; 4- conversa, colóquio, objeto de que se fala; 5- deliberação, desenho, projeto, entendimento; 6- sugestão, conselho, ordem.25

Mantendo um traço fundamental do mito enquanto pertencente à linguagem, ele é, como todo fator cultural, criação de determinado grupo étnico. Portanto, num certo sentido, ele é ficção, mas não pura ficção; ele é narrativa, mas não simples narrativa, ele é regido por uma lógica, não porém de cunho racionalista, mas de cunho intuitivo.26 É impróprio, desde já, opor o mito como não-verdadeiro ao que é verdadeiro, isto é, o que racional e científico. Esta avaliação do mito como não-verdadeiro provém da dificuldade de abordar o mito com as categorias da lógica racionalista a que ele resiste, pois o pensamento mítico tem uma unidade fundamental, mas já de outro registro, em outra modulação em relação ao racional,27 que não se opõe necessariamente à razão e sua lógica própria.

O mito como narrativa relata de maneira simbólica, como acabamos de afirmar, um acontecimento que teve lugar no tempo primordial, o tempo fabuloso dos "começos". Continuando, Eliade acrescenta que o mito conta como, graças aos feitos dos Seres Sobrenaturais, uma realidade passou a existir, quer seja a realidade total, o Cosmos, quer apenas um fragmento: uma ilha, uma espécie vegetal, um comportamento humano, uma instituição.28

Com isso fica evidente o caráter sagrado do mito, das ações míticas como ações sagradas e de tudo o que de alguma maneira se acha em relação direta ou indireta com tais acontecimentos e com personagens primordiais.29

Martinez expressa mais explicitamente idêntico parecer quando afirma que em cada sociedade há uma maneira típica de ver a Deus, condicionada a seus valores fundamentais. Chamamos de "mito" o "como" os membros de cada sociedade percebem a Deus.30

Neste sentido de sacralidade do mito, é preciso considerar a "verdade" do e no mito. Não se trata, como é evidente, de verdades em sentido absoluto como que antecipadas à sua verificação científica, mas de verdades tal como o povo primitivo foi capaz de entendê-las e expressá-las. Almeida tenta explicá-lo afirmando que os mitos podem não ser verdadeiros no que narram, mas são verdadeiros em outro sentido: contam algo realmente acontecido na história, isto é, a crença nos mitos e estes são então considerados fatos históricos e sua verdade uma verdade histórica.31 Em outras palavras, o fato histórico realmente aconteceu, mas como aconteceu, ou melhor, como determinada etnia interpreta que tenha acontecido, isto é de competência do mito, através da linguagem simbólica.

De fato, portanto, os mitos contêm e expressam verdade. Mas esta verdade, conforme afirmam Ricoeur, Eliade e Van Riet, não é imediatamente evidente para a razão discursiva,32 por se tratar de uma expressão simbólica que é dinâmica, expressa num código pertinente a uma cultura específica.

Numa outra passagem, Eliade apresenta uma argumentação detalhada sobre a incidência do mito na vida dos homens e de suas sociedades. Ele afirma: ... os mitos relatam não só a origem do mundo, dos animais, das plantas e do homem, mas também todos os acontecimentos primordiais em conseqüência dos quais o homem se transformou naquilo que é hoje, ou seja, um ser mortal, sexuado, organizado em sociedade, obrigado a trabalhar para viver, e trabalhando segundo determinadas regras. Se o mundo existe, se o homem existe, foi apenas porque os Seres Sobrenaturais desenvolveram uma atividade criadora nas "origens". (...) os outros acontecimentos tiveram lugar depois da cosmogonia e da antropogonia e o homem como é hoje, é o resultado direto desses acontecimentos míticos, é constituído por esses acontecimentos.33 De um lado fica evidente, nesta argumentação, o elemento fundante do mito na vida dos homens em sua globalidade, de outro lado, declara o autor o poder revelador do mito quanto às suas origens, quanto às sua situação real atual na vida concreta, em toda a sua globalidade.

Para concluir, citamos Tarcísio Moura que mostra o valor de podermos ter, ainda em nossos tempos, a presença de etnias chamadas depreciativamente de "primitivas", mas na verdade originais, no sentido mais exato da palavra "primitivo", o que nos leva ao conhecimento de modelos mais humanos da existência humana, modelos estes ofuscados e desvirtuados pelo desenvolvimento tecnológico das sociedades modernas. Ele escreve: ... o basicamente humano se funda, seja agora como outrora, todo ele no mito. Isto nos leva a modificar totalmente as perspectivas tradicionais sobre as civilizações primitivas. Porque, se é verdade ser o mito a fonte de todo o autenticamente humano, nada melhor para compreendê-lo, e também a nós mesmos, do que procurá-lo no comportamento primitivo, onde se encontra, por assim dizer, em estado puro. O homem primitivo não pode, então, ser encarado como o negativo de nossa civilização, mas sim como sua matriz primordial.34

2. O RITO

Trata-se agora de ver um pouco o "como", na realidade, se dá o fato do mito, como ele se manifesta, se expressa e se comunica. E é exatamente no conjunto de culto-rito-cerimônia que o mito se realiza hoje.

Etimologicamente, estes três termos significam como segue:

"Culto", palavra que vem do latim cultus onde significa: cultivo, cultura; 1. modo de viver; 2. educação, elegância; 3. modo de vestir; 4. veneração, obséquio.35 A palavra portuguesa "culto" tem hoje o sentido de homenagem que se presta à divindade, adoração, veneração, religião.36 Martinez faz pertencer o culto à multiplicidade de manifestações da vida religiosa,37 e o descreve como um respeito temeroso, uma atitude de submissão íntima a um ser que é percebido como superior.38 Uma segunda nota essencial do culto, que é sua expressão exterior, espontânea ou tradicional, da atitude interna de respeito.39

"Rito" é palavra que vem do latim ritus onde significa: costume, hábito.40 No português contemporâneo, "rito" significa: conjunto de cerimônias de uma religião, culto, doutrina, seita, qualquer cerimonial, ritual.41 Piazza pensa os ritos fundamentalmente como uma linguagem de gestos, mediante a qual o homem primitivo procura expressar a sua total entrega a Deus, como ser não só espiritual, mas também corporal. E resume dizendo que os ritos são a expressão corporal da religiosidade humana.42 Martinez chama o rito de conjunto de regras estabelecidas para o culto, e ainda o distingue de "cerimônia" que é o conjunto de ritos relacionados entre si e executados num determinado tempo. Kevin Seasoltz define o rito como comportamento padronizado, repetitivo, formal, que pode ser tanto secular como religioso. E continua dizendo que, quando for religioso, o rito procura relacionar a pessoa humana ao sagrado.43

A palavra "ritual", própria do português, significa livro que consigna as fórmulas das cerimônias que se devem observar na prática de alguma religião, cerimonial, etiqueta, praxe.44 No sentido antropológico, diversos autores descrevem o ritual como repetição ou reiterada apresentação de um acontecimento primordial.45 Embora se trate de uma dramatização, enquanto representação, é muito mais e claramente uma reatualização de um acontecimento primordial,46 pelo que se torna um acontecimento atual, que teve seu precedente nos tempos primordiais.

"Cerimônia" é palavra que vem do latim caerimonia, onde significa: cerimônia, rito, santidade, caráter sagrado, veneração.47 No português contemporâneo significa: forma exterior de um culto religioso; pompa e formalidades em festas públicas; conjunto de formalidades que a civilidade prescreve; preceitos de cortesia entre pessoas educadas que não se tratam com familiaridade; etiqueta; protocolo; cortesia incômoda; embaraço; acanhamento.48

3. Rito e Mito

De fato, há duas modalidades de reatualizar o mito no ritual: a primeira original, é realizá-lo repetindo-o conforme a tradição do grupo o mantém em sua memória; a segunda maneira consiste em recitá-lo durante a realização de um ritual. Neste sentido se estabelece uma unidade entre memória e realização, passado e presente, narrativa e ação, discurso e rito celebrado, tão originais que um desses elementos não pode ser pensado sem os demais elementos integrantes. O discurso pertence à ação e é ação.49

Esta reatualização do mito através do rito resulta então numa contemporanização dos participantes nos acontecimentos primordiais. O rito leva o homem a transcender os seus limites, obriga-o a situar-se ao lado dos deuses e dos heróis míticos, a fim de realizar os seus atos. Direta ou indiretamente, o mito provoca uma "elevação" do homem.50 Nesse contexto, o mesmo autor Eliade já havia afirmado que conhecer o mito é celebrá-lo, o que é essencial para o homem, sobretudo para o primitivo, e, ao recordá-lo, ao reatualizá-lo, ele (o homem) é capaz de repetir o que os deuses (...) fizeram "ab origine".51 Em outras palavras, pelo ritual, o homem torna-se contemporâneo das ações que os deuses realizaram "in illo tempore".52

Para o homem primitivo, se interrelacionam o passado e a atualidade, fato histórico e acontecimento atual, isto é, mito, enquanto fato histórico atualizado e sua verdade, que foi e é presenciada pelos participantes. Não é raro constatar entre os primitivos a dificuldade de distinguir entre passado e presente, pois tudo é atualidade para os que participam. Nesse sentido, afirma Eliade que o homem primitivo tem a certeza de que qualquer coisa existe de uma maneira absoluta (...) é um transcendente susceptível de ser vivido ritualmente e que acaba por fazer parte integrante da vida humana.53

Existe então uma íntima vinculação ou uma interdependência do rito e do mito. Esta interdependência não significa precedência. Ambos são elementos essenciais da vida religiosa e, portanto, da própria cultura de uma etnia, pois tiveram sua origem dentro de uma cultura e estão estritamente vinculados a ela. O rito, afirma Durkheim, não é outra coisa senão o mito posto em ação.54 Para não entender unilateralmente os fatos, o mesmo autor havia esclarecido de maneira original seu pensamento sobre isso. Afirmava ele que o culto que se presta à divindade depende da fisionomia que se lhe atribui: e é o mito que fixa essa fisionomia.55 O mito é então a expressão de como o homem se compreende diante da divindade, e essa expressão se patenteia no rito celebrado. O mito vive e revive dentro do rito e procurar conhecer o mito de uma sociedade é descobri-lo dentro de seus ritos. Para entender o alcance da ação de tantos conquistadores fora do continente europeu em menosprezar os mitos e uma interpretação folclorista dos ritos, bom é ouvir o que afirma ainda Durkheim: se se retira o mito da religião será necessário retirar-lhe igualmente o rito.56

Levando mais adiante a distinção anterior entre interdependência e não-precedência, calha bem o argumento de Terrin: O ritual não cria sentimentos humanos do nada, mas a partir de uma repetição e reatualização de experiências humanas fundamentais onde o homem é coenvolvido aos níveis mais profundos da existência.57 Num sentido, o rito expressa a experiência do homem e do seu grupo. Mas num outro sentido, os mesmos ritos reatualizando o mito modelam e sistematizam a própria experiência,58 experiência que não é apenas profana, mas todo o profano, pelo rito, fica pervadido de sacralidade.59

Estamos cada vez mais explicando de como se deve entender o caráter fundante do mito, naturalmente sempre com seu rito, dentro de uma religião. Se da religião já se afirma seu caráter fundante da cultura em sua totalidade, isto muito mais agora se pode afirmar do mito como elemento essencial da vida religiosa. Perpetuar o mito de uma sociedade é igualmente perpetuar a própria sociedade em suas motivações mais profundas e em suas disposições diretivas.60 Toda a articulação de uma sociedade depende de sua mitologia, na qual encontra seus modelos, suas razões fundamentais e sua expressão comunicativa.

Piazza, citando Daniélou, apresenta mais um elemento importante quando afirma três elementos constitutivos das religiões: Os mitos, em seu aspecto doutrinário, os ritos, em seu aspecto cultual, e o misticismo, em seu aspecto de experiência interior.61 É este misticismo que contém mais radicalmente as motivações e as razões existenciais para a vida de uma pessoa e esta dentro de sua sociedade.

Nada de estranho, após estas colocações, do que falar não só do significado do mito e do rito, mas mesmo falar de sua eficácia. Terrin sintetiza a mediação eficaz do ritual constatando que faz apelo a todos os aspectos do humano; o seu ser social, os seus sentimentos, suas necessidades e, ao mesmo tempo, reforça as convicções do fiel por meio de um comportamento que não deixa de ser eficaz.62 E Pinkus, argumentando mais de longe, evidencia que somente mediante a função simbólica a pessoa tem a capacidade de penetrar psicologicamente no rito e de "apropriar-se" das energias que dele promanam e que têm condições de transformar a própria dinâmica psíquica.63

Fica evidente que, para um estranho observador, que não tem a chave de leitura do mito e do rito, que é a experiência de tê-lo vivido e celebrado, o mito e os ritos tornam-se de difícil compreensão. Sem a experiência do "reviver" e do viver participando, o mito e o rito se reduzem a uma interpretação inteletual que, como se afirmou acima, está separada da pessoa, não a compromete e, portanto, não tem eficácia.64


6. Um Ano Recorde de Assassinatos de Indígenas

CIMI-Nacional, Informe n° 696, 06/01/2006

Ano de 2005 termina com número recorde de assassinatos.

Com o assassinato de Dorvalino Rocha, líder Guarani Kaiowá da terra Nhande Ru Marangatu, morto no dia 24 de dezembro por homens contratados para fazer a segurança da fazenda Fronteira, situada no município de Antonio João (MS), o ano 2005 terminou com 38 indígenas assassinados.

Este é o maior número de assassinatos nos últimos onze anos, segundo levantamentos do Conselho Indigenista Missionário (Cimi). O Mato Grosso do Sul é o estado brasileiro onde se registrou o maior número de assassinatos, com 28 mortos. A soma total dos últimos onze anos chega aos 240 assassinatos, uma média de mais de 21 mortos por ano.

Para fazer seus levantamentos sobre violência, o Cimi utiliza informações colhidas por seus missionários e notícias divulgadas através da imprensa.

O Cimi considera que a lentidão do Estado nos processos de reconhecimento e proteção das terras indígenas é uma das principais causas dos assassinatos.

E o terceiro ano do governo Luiz Inácio Lula da Silva teve números desfavoráveis no que se refere à quantidade de terras declaradas, isto é, que tiveram sua Portaria Declaratória publicada pelo Ministério da Justiça no Diário Oficial. Foram apenas cinco terras declaradas, o que leva a uma média de seis terras por ano no governo Lula, abaixo da média anual dos governos Fernando Collor/Itamar Franco (média de 16 terras), Fernando Henrique Cardoso (média de 11 terras) e João Baptista Figueiredo (média de 8 terras).

Se as demarcações seguirem neste ritmo, o Estado brasileiro irá demorar pelo menos 45 anos para reconhecer todas as terras indígenas do país e rever os limites daquelas que têm sua extensão questionada pelos povos.

Assassino confesso de líder Guarani Kaiowá é solto.

Encontra-se em liberdade o assassino confesso de Dorvalino Rocha, líder Guarani Kaiowá da terra Nhanderu Marangatu, morto na véspera de Natal no município de Antônio João, Mato Grosso do Sul.

Depois de confessar o crime em testemunho prestado à Polícia Federal, o segurança João Carlos Gimenes, da empresa Gaspem, contratado para fazer a vigília da fazenda Fronteira, foi solto pela delegada da Polícia Federal Penélope Automar.

A delegada concedeu a liberdade ao assassino ao constatar que se tratava de um réu primário, com bons antecedentes, residência fixa e por entender que este não oferecia risco ao curso das investigações.

As testemunhas do crime contam que quatro seguranças desceram de um automóvel estacionado à beira da estrada MS 384 e foram em direção ao acampamento onde se encontram as famílias Guarani Kaiowá. Ainda segundo as testemunhas, o assassino teria disparado dois tiros contra a vítima sem lhe dar qualquer oportunidade de reagir.

Apesar da apreensão pela qual passam, as famílias Guarani Kaiowá estão determinadas a permanecer em seu acampamento na beira da estrada, como forma de pressionar as autoridades para que devolvam sua terra, homologada por decreto presidencial em março de 2005 e da qual foram expulsos por determinação judicial no início de dezembro passado.

Sete indígenas continuam presos em Santa Catarina

Em 27 de dezembro de 2005, oito indígenas foram presos em Chapecó, Santa Catarina, por determinação da Justiça Federal. As prisões ocorreram oito dias depois de uma manifestação pela continuidade do processo de retirada dos ocupantes não-índios das terras Toldo Chimbangue e Toldo Pinhal. O cacique Lauri Alves foi liberado em 31 de dezembro por decisão da Justiça Federal, após provar que não estava presente na manifestação. As outras sete pessoas continuam presas, e aguardam a decisão do Superior Tribunal de Justiça sobre o pedido de liberdade para os índios, impetrado pela Funai. O Tribunal Regional Federal da 4a Região já negou o Hábeas Corpus. A Funai recorreu também ao Supremo Tribunal Federal (STF), mas, em 3 de janeiro, a ministra Ellen Gracie negou seguimento ao pedido, pois não reconheceu a competência do STF para o caso.

A arbitrariedade das prisões é tão grande que, entre as oito pessoas detidas, duas não são citadas no processo. Alceu de Oliveira foi preso por ser conhecido como Quixé, mas o nome que consta no processo é João Gonçalves, também chamado de Quixé. No lugar de um indígena chamado Wilson Antunes foi preso o indígena Adilson Ferreira. Segundo informações da Funai em Chapecó, há dúvidas sobre a existência de um Wilson Antunes.

O cacique Idalino Fernandes é acusado de liderar a comunidade indígena no bloqueio do acesso a uma fazenda durante a manifestação de 19 de dezembro de 2005. No entanto, ele não estava na manifestação quando ela começou, mas no escritório regional da Funai em Chapecó e somente foi até o local ao ser informado da manifestação.

Outra acusação é de que os indígenas teriam roubado duas armas de fogo dos agricultores. Mas as armas que motivam a acusação foram retiradas das mãos dos agricultores pelos indígenas, que estavam sendo ameaçados, e foram entregues, logo em seguida, também pelos indígenas, a policiais que lavraram autos de apreensão das armas. As lideranças que respondem a inquérito policial são acusadas também de invasão de propriedade e agressão.

Para o Conselho Indigenista Missionário, está em curso mais um capítulo da antiga e recorrente estratégia de criminalizar pessoas que lideram a luta dos povos indígenas para conquistar e garantir direitos à dignidade, à justiça e à vida.



7. Animação Missionária e Grupos Missionários

Dicastério para as Missões dos SDB

Estamos planejando as atividades escolares de um novo ano e, dentro delas, as iniciativas pastorais que devem permear todas as nossas presenças, como ainda fazemos os planos pastorais das paróquias. A Animação Missionária deve permear todas as dimensões pastorais das nossas presenças.

Mais ainda, uma das características da dinâmica pastoral salesiana é o funcionamento dos mais diversos grupos de múltiplas iniciativas. Dentro desses grupos merece um destaque singular o grupo missionário, que aliás pretende dinamizar todas as nossas iniciativas pastorais. Recordemos algumas indicações do Manual do Delegado Inspetorial para Animação Missionária, do Dicastério para as Missões Salesiana:






1. A Animação missionária bem orientada:

* acentua, na pastoral juvenil, a opção prioritária pela primeira evangelização através do testemunho de vida, o anúncio explícito de Jesus Cristo, o sentido da universalidade da Igreja65;

* mobiliza todas as instâncias educativas e pastorais típicas do nosso carisma para sustentar a obra de "paciente evangelização e fundação da lgreja"66.

* qualifica a pastoral juvenil conferindo-lhe um horizonte, uma finalidade e uma sensibilidade especiais no tocante à dimensão universal da práxis eclesial;

* ilumina o caminho de educação à fé e de iniciação à espiritualidade juvenil salesiana mediante a proposta de metas, objetivos, atitudes e experiências missionárias capazes de reconduzir os jovens às raízes da fé e fazer-lhes perceber o significado e a alegria da doação pelos outros67;

* abre o coração dos jovens e das comunidade aos grandes problemas da humanidade e desenvolve neles a capacidade de diálogo com outras culturas, religiões e grupos humanos que pertencem a minorias étnicas68.

* suscita nos jovens o ardor da fé, que os transforma em testemunhas e anunciadores dignos de fé69, provocando neles um forte questionamento sobre o próprio estilo de vida, sobre a capacidade deles de empenhar-se:

- no voluntariado e nos grupos de animação missionária;

- na acolhida e na educação das pessoas que provêm de raças, fé e cultura diferente, dos imigrados e dos refugiado, dos jovens que estão em perigo e que não são acompanhados70;

- a na evangelização daqueles que não conhecem ainda Jesus Cristo e estão à espera do primeiro anúncio da salvação71 etc.


2. Favorecer a formação de grupos missionários para:

- manter viva a consciência missionária nos jovens e suas lideranças;

- promover a reflexão sobre temas missionários;

- coordenar iniciativas de Animação Missionária;

- encaminhar a vocação para o voluntariado missionário;

- proporcionar formação missionária a esses voluntários;

- partilhar as experiências feitas de voluntariado;

- concretizar experiências de inculturação, a partir da reflexão missionária.



8. Curso de Agentes de Pastoral Bororo

Georg Lachnitt

Nos dias 09 e 10 de fevereiro passado foi realizado um novo Curso de Agentes de Pastoral Bororo. Participaram 14 indígenas e 07 missionários e missionárias.

P. Eloir, que concluíu o Curso de Formação Básica do CIMI, ofereceu uma reflexão sobre conjuntura nacional e regional. O mundo que nos rodeia não é amigo dos Povos Indígenas e o sistema político e econômico brilha pela corrupção e cooptação.

P. Ochoa mostrou valores da cultura Bororo, importantes também para um projeto de evangelização. Recebeu total aprovação dos bororo pela reflexão, embora não fosse natural desse povo.

Me. Mário, colhendo de sua experiência de catequese na Aldeia Garças, mostrou um programa de evangelização e catequese que haure das riquezas da cultura bororo e anuncia Jesus Cristo e um povo profundamente religioso.

P. Jorge mostrou como fazer catequese a partir da celebração litúrgica, como p. ex. fazendo a profissão de fé nas suas diversas fórmulas, extrair o conteúdo da fé, meditá-lo e aprofundá-lo.

O trabalho em grupos foi uma abertura para o confronto das reflexões com a vida real vivida em cada comunidade bororo. Daí surgiram também idéias para uma mior inculturação da catequese e liturgia, que deve concretizar-se em mais reflexões de missionários e com os indígenas.


9. Notícias Breves

Estudo de Língua e Cultura Xavante - 26-30/12/2005

Até meio dia de 26 de dezembro, reuniram-se em Sangradouro para a Semana de Estudos da Língua a Cultura Xavante: as Lauritas Ir. Glória e Ir. Rosalba, as Salesianas Ir. Cleide, Ir. Elza Maria, Ir. Laurinda, Ir. Hilda, Ir. Vitória, Ir. Luizinha, os salesianos Cl.go José Alves, Pe. Giaccaria, Pe. Miguel Gaya, Pe. Georg, além do Pe. Aquilino, de carona para Campo Grande, que está trabalhando na revisão final do Evangelho de Lucas.

O Pe. Giaccaria apresentou reflexão sobre princípios da cultura Xavante, de acordo com o que foi solicitado. O tema do matrimônio Xavante, tradicional e em confronto com a realidade universal, foi vivamente discutido. A divisão de trabalho mereceu atenção. A Educação tradicional e os desafios de hoje foi outra reflexão. Em todos os temas houve a preocupação de avaliar a influência marcante do mundo externo sobre as comunidades indígenas.

O Pe. Georg apresentou elementos gramaticais da língua Xavante, sobretudo os verbos transitivos, os prefíxos pessoais e alguns elementos de adaptações fonéticas, como ainda experiência prática de leitura e tentativa de tradução, esforço de produzir textos traduzindo alguns frases da vida prática etc.

Foi solicitado um novo encontro a nível de missões, na primeira ou quarta semana do mes de julho, a ser definido na Reunião dos Missionários de Maio.

As Irmãs Lauritas de São Pedro se reuniram com o Assessor, nos dias 18 na 20 de fevereiro, para firmar os estudos feitos na língua Xavante, aprofundar alguns aspectos e marcar trabalhos-exercícios até o próximo encontro durante a Semana Santa. Parabéns pelo fervor missionário!


10. Videos Missionários

Os seguintes Videos de temas missionários podem ser encontrados nas Locadoras.

A Missão, Robert de Niro e Jeremy Irons, 2 horas

Hábito Negro. 1:35 horas

Romero - uma história verdadeira. John Duigan. 1:05 horas

Brincando nos Campos do Senhor. Hector Babenco. 3 horas.

A Floresta de Esmeraldas. John Boorman. 1:53 horas

O Curandeiro da Selva. Cinergi. 1:40 horas

Avaeté - semente de vingança. Zelito Viana. 1:10 horas

Gerônimo. Joseph Runningfox. 1:20 horas


11. Agenda

09-10/02/06 - Encontro de Agentes de Pastoral Bororo, Merúri

11-13/02/06 - Continuidade do Estudo da Língua Xavante, São Pedro

03/03/06 - Reunião da Coordenação Ampliada do CIMI/MT, Cuiabá

17-19/03/06 - IV Seminário de Inculturação da Liturgia entre os Indígenas, Luziânia GO

O3/04/06 - Reflexão sobre os passos dados na Inculturação da Liturgia entre os Bororo, Merúri


12. Publicações Diversas

Folders:

Índios, Xavante 1, Xavante 2, Xavante 3, Xavante 4, Bororo 1, Bororo 2, Nambiquara. - Aldeias Xavante 2004, Aldeias Kaiowá e Guarani, Aldeias Terena-Kinikinaua-Aticum-Guató-Kamba-Kadiwéu-Ofayè Xavante.

Livros recentes do CDI:

VV.AA. (Coord.) Romhurinhihötö Nhoré Waihu'uprãdzé - Cartilha de Leitura I. 2ª ed. Campo Grande, MSMT, 2004, 47 p.; MSMT-UCDB, 2004, 47 p.

VV.AA. (Coord.) Rowatsu'u Nhorédzé-Cartilha de Leitura II. 2ª ed. Campo Grande, MSMT, 12004, 106 p.; 2ª ed. MSMT-UCDB, 2004, 106 p.

LACHNITT, Georg. O Símbolo "Água" na Iniciação Cristã. Ed. prov. Campo Grande, MSMT-UCDB, 2004, 126 p.

LACHNITT, Georg. Estudando o Símbolo. Ed. prov. Campo Grande, MSMT-UCDB, 2004, 151 p.

LACHNITT, Georg. Ritos de Passagem do Povo Xavante - um estudo sistemático. Ed. prov. Campo Grande, MSMT-UCDB, 2004, 155 p.

LACHNITT, Georg. Cultura - Religião - Mito. Ed. Prov. Campo Grande, MSMT-UCDB, 2005, 122 p.

LACHNITT, Georg. Curso de Língua Xavante. Campo Grande, MSMT-UCDB, 2005, 172 p.

LACHNITT, Georg (Coord.). Romhurinhihötö Waihu'u Na'ratadzé - Cartilha de Alfabetização (Comentários em Xavante). (livro do prof.), Campo Grande, MSMT - UCDB, 2005, 3ª ed. exp. modificada.

LACHNITT, Georg. Noções de Símbolo. Campo Grande, MSMT-UCDB, 2005, 46 p.

TRINDADE, Rosa Adélia Garcia Neto. Ai'uté ma Rowatsu'u (Literatura Infantil Xavante). Campo Grande, MSMT - UCDB, 2ª ed. 2005.

OBS: Eventuais pedidos sejam dirigidos ao CDI, com o endereço acima.

1Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. past. sobre a Igreja no mundo contemporâneo Gaudium et Spes, 2.

2Ibid., 22.

3Ibid., 22.

4Cf. CONC. ECUM. Vat. II, Const. past. sobre a Igreja no mundo contemporâneo Gaudium et Spes, 22.

5Cf. CONC. ECUM. Vat. II, Const. dogm. sobre a Igreja Lumen Gentium, 5.

6Cf. Carta Enc. Dominum et Vivificantem, 54: l.c., 875 s.

7Cf. CONC. ECUM. Vat. II, Const. dogm. sobre a Igreja Lumen Gentium, 17; Decreto sobre a atividade missionária da Igreja Ad Gentes, 4.

8Cf. Decreto sobre a atividade missionária da Igreja Ad Gentes, 3.15.

9Cf. CONC. ECUM. Vat. II, Const. dogm. sobre a Igreja Lumen Gentium, 16;

10Cf. CONC. ECUM. Vat. II, Const. past. sobre a Igreja no mundo contemporâneo Gaudium et Spes, 45; cf. Carta Enc. Domin um Vivificantem, 54: l.c., 876.

11Assembleia Extraordinária em 1985, Relação final, II, D, 4.

12Cf. Exort. Ap. Catechesi tradendae (16/X/1979), 53: AAS 71 (1979), 1320; Epist. Enc. Slavorum apostoli (2/VI/1985), 21: AAS 77 (1985), 802 s.

13Cf. Paulo VI, Exort. Ap. Evangelii nuntiandi, 20: l.c., 18 s.

14João Paulo II, na alocução aos bispo reunidos em Santo Domingo para a IV. Conferência do CELAM, 6.

15CONC. ECUM. Vat. II, Decreto sobre a actividade missionária da Igreja Ad gentes, 22.

16CONC. ECUM. Vat. II, Decreto sobre a actividade missionária da Igreja Ad gentes, 22.

17Cf. Paulo VI, Exort. Ap. Evangelii nuntiandi, 64: l.c., 55.

18As Igrejas particulares «têm a missão de assimilar o essencial da mensagem evangélica, de o traduzir, sem a mínima alteração da sua verdade fundamental, na linguagem que estes homens compreendem, e depois anunciá-lo nessa mesma linguagem ... O termo "linguagem" deve ser entendido aqui não tanto no sentido semântico ou literário, como sobretudo naquele que podemos designar antropológico ou cultural» (ibid., 63: l.c., 53).

19Cf. Discurso na Audiência Geral de 13 de Abril de 1988: Insegnamenti XI/1 (1988), 877-881.

20Exort. Ap. Familiaris consortio (22/XI/1981), 10, que trata da inculturação «no âmbito do matrimónio e da família»: AAS 74 (1982), 91.

21Cf. Paulo VI, Exort. Ap. Evangelii nuntiandi, 63-65: l.c., 53-56.

22Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 17.

23Discurso aos participantes no Simpósio dos Bispos da África, em Kampala, a 31 de Julho de 1969, 2: AAS 61 (1969), 577.

24Francisco FERNANDES, Dicionário brasileiro contemporâneo, verbete: Mito.

25Benedetto BONAZZI, Dizionario greco-italiano, verbete: Mythos.

26Cf. ibid. p. 48; cf. Luis Campos MARTINEZ, Utopia somos nosotros, antropologia, p. 237; cf. Maria da Piedade Eça de ALMEIDA, Mito: metáfora viva? in: Régis de MORAIS (org.), As razões do mito, p. 64.

27Augusto Novaski, Mito e racionalidade filosófica, in: Régis de MORAIS (org.), As razões do mito, p. 25.

28Mircea ELIADE, Aspectos do mito. p. 12.

29Marcelo FABRI, a Presença dos Deuses, in: Régis de MORAIS (org.), As razões do mito, p. 31, citando Mircea ELIADE, História das religiões, p. 490.

30Luis Campos MARTINEZ, Utopia somos nosotros, antropologia, p. 237.

31Maria da Piedade Eça de ALMEIDA, Mito: metáfora viva? in: Régis de MORAIS (org.), As razões do mito, p. 62.

32Cf. Constança Marcondes CÉSAR, Implicações contemporâneas do mito, in: Régis de MORAIS (org.), As razões do mito, p. 39.

33Mircea ELIADE, Aspectos do mito. p. 17.

34Tarcísio MOURA, O mito, matriz da arte e da religião, in: Régis de MORAIS (org.), As razões do mito, p. 49.

35Ferdinando BERNINI. Dizionario della lingua latina. verbete: cultus.

36Francisco FERNANDES, Dicionário brasileiro contemporâneo, verbete: Culto.

37Luis Campos MARTINEZ, Utopia somos nosotros, antropologia, p. 236.

38Ibid. p. 236.

39Ibid. p. 236.

40Ferdinando BERNINI. Dizionario della lingua latina. verbete: ritus.

41Francisco FERNANDES, Dicionário brasileiro contemporâneo, verbete: rito.

42Waldomiro O. PIAZZA, Introdução à fenomenologia religiosa, p. 235.

43Kevin SEASOLTZ. Antropologia e teologia litúrgica. in: POWER, David e BOROBIO, Dionísio. Ritos de passagem e cristianismo. Concilium/132 1978/2 Liturgia, p. 15 (151).

44Ibid. verbete: ritual.

45Cf. Thomas F. O'DEA, Sociologia da religião, p. 63, citando B. Malinowski; cf. Mircea ELIADE, Aspectos do mito. p. 18-19.

46Cf. Mircea ELIADE, Aspectos do mito. p. 18-19, 119 cf. ainda Aldo Natale TERRIN, Leitourgia, dimensione fenomenologica e Aspecti Semiotici, p. 61

47Ferdinando BERNINI. Dizionario della lingua latina. verbete: caerimonia.

48Francisco FERNANDES, Dicionário brasileiro contemporâneo, verbete: cerimônia.

49Cf. Marcelo FABRI, A presença dos deuses in: Régis de MORAIS (org.), As razões do mito, p. 32; Mircea ELIADE, Aspectos do mito. p. 18-19.

50Mircea ELIADE, Aspectos do mito. p. 123.

51Ibid. p. 18-19.

52Ibid. p. 120.

53Ibid. p. 119.

54Emile DURKHEIM. As Formas elementares da vida religiosa. p. 118.

55Ibid. p. 118.

56Ibid. p. 118.

57Aldo Natale TERRIN, Leitourgia, dimensione fenomenologica e Aspecti Semiotici, p. 58.

58Cf. Clifford GEERTZ, A interpretação das culturas, p. 129.

59Cf. Aldo Natale TERRIN, Leitourgia, dimensione fenomenologica e aspecti Semiotici, p. 58, 60.

60Cf. Clifford GEERTZ, A interpretação das culturas, p. 128.

61Waldomiro O. PIAZZA, Introdução à fenomenologia religiosa, 1983, p. 234.

62Aldo Natale TERRIN, Leitourgia, dimensione fenomenologica e Aspecti Semiotici, p. 22.

63Lúcio PINKUS, O mito de Maria, uma abordagem simbólica, p. 56.

64Cf. Waldomiro O. PIAZZA, Introdução à fenomenologia religiosa, p. 217; onde ele cita Malinowski.

65Cf. AMS, p. 14; EN 80.

66C 30.

67Cf. EDM, os capítulos 2 e 3, p. 22-41.

68Cf. R 18; CG24, 183.

69Cf. CG23, 93.

70Cf. VECCHI J.E., "Si commosse per loro" (Mc 6,34). Nuovo povertà, missione salesiana e significatività. ACG 359, pp. 27-29.

71Cf. EN 72; RM 34; CG23, 93.