Bakaru Rowatsu's (noticias misionarias)| 02


Missão Salesiana de Mato Grosso

ANIMAÇÃO MISSIONÁRIA INSPETORIAL

CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO INDÍGENA

Av. Tamandaré, 6000 - Jd. Seminário

Caixa Postal 100 - UCDB

79.117-900 Campo Grande MS

Fone (067) 312-3600 / 3731 Fax (067) 312-3301

E-mail lachnitt@ucdb.br








Coordenação: Delegado Inspetorial de Animação Missionária:

Pe. Georg Lachnitt SDB





Digitação e Diagramação: Georg Lachnitt





Impressão: Mariza Etelvina Rosa Irala

Centro de Documentação Indígena

UCDB - Campo Grande MS




Capa:

BAKARU, palavra Bororo, significa: o que se conta, notícia

ROWATSU'U, palavra Xavante, significa: o que se conta amplamente, notícia

APRESENTAÇÃO DO N º1

A Inspetoria Salesiana de Campo Grande dispõe de um Serviço de Notícias, via INTERNET. O mundo mais amplo tem acesso a estas notícias. Não é tanto assim nas Missões, onde o telefone funciona precariamente, o que inviabiliza o acesso à internet. Há ainda outras frentes missionárias em áreas indígenas, onde só chega o correio. Para não ficar sem notícias missionárias, foi solicitada, no Encontro de Animação Missionária Inspetorial de 24-25 de março deste ano de 2003, a criação de um jornalzinho de Notícias Missionárias, a cargo da Animação Missionária Inspetorial. A freqüência depende das notícias que vem chegando. O BACARU- ROWATSU'U - Notícias Missionárias pretende ser um serviço simples, dinâmico e sem muita aparência, pois se dirige às bases missionárias e gente da periferia.

Muitas noticias das Missões e de iniciativas de Animação Missionária podem ser veiculadas, se você, caro leitor, enviar notícias. Assim como solicita o Pe. Francis Alencherry para as notícias a nível mundial, assim também esse BAKARU-ROWATSU'U - Notícias Missionárias pode se tornar um instrumento de comunicação; isso depende dos todos vocês como colaboradores.

Além de notícias em sentido estrito, pretendemos noticiar também eventuais breves reflexões missionárias, bibliografia sobre temas missionários etc.

Assim tornamos efetiva uma das finalidades da Animação Missionária, divulgando o trabalho missionário nos seus muitos aspectos e seus desafios daí decorrentes.

Que Nossa Senhora, nossa Mãe (como a chamam os Xavante), nos dê um coração missionário para vibrarmos com novo ardor, com novos métodos missionários e com novas expressões e dinâmicas que façam o trabalho missionário crível e significativo.

Festa de Nossa Senhora Auxiliadora de 2003.

Pe. Georg Lachnitt SDB



APRESENTAÇÃO PARA ESTE NÚMERO 2

Neste número temos algumas notícias da atividade missionária entre os indígenas de Mato Grosso, desenvolvidas pela Família Salesiana e outros agentes missionários e indígenas. Nesta atividade, as iniciativas de formação são de importância fundamental, pois visam, a curto e longo prazo, o exercício de autonomia das comunidades indígenas nos diversos setores de sua atividade, seja dentro dos moldes tradicionais, seja em questões novas adquiridas do mundo externo, elementos que hoje integram e enriquecem a cultura tradicional.

O contexto político nacional hoje inspira preocupações sérias, pois parece voltar à tona o movimento anti-indígena. A notícia citada é apenas uma entre muitas, que alarmam o estado de direito da sociedade. Para favorecer a animação missionária em todas as presenças da Família Salesiana, promova-se a comemoração do Primeiro Envio de Missionárias por Dom Bosco no dia II de cada mês, pois Dom Bosco enviou seus primeiros missionários no dia II de outubro de 1875. Por isso, inserimos nesse número o sermão de Dom Bosco aos primeiros missionários. Verificamos nisso seu coração paterno em ver seus filhos partirem e, ao mesmo tempo, ver hori-zontes novos e amplos para o futuro da Congregação.

Num sentido de formação missionária, inserimos a primeira reflexão missionária, em certo sentido básico para a prática da evangelização que hoje urge ser pela inculturação. Nos números seguintes seguem outras reflexões.

Por fim, segue um abreve notícia sobre a assembléia do CIMI-MT e a eleição da nova Coordenação Regional.

Como é do interesse de muitos, acrescentamos algumas informações de agenda.

Embora solicitado no número inicial, ainda aguardamos suas e muitas outras contribuições para as NOTICIAS MISSIONÁRIAS.

Pe. Georg Lachnitt SDB





1. Iniciação Cristã dos Xavante de Areões com novos passos decididos

Pe. Bartolomeu GIACCARIA - SDB

A A.I. (área indígena) de Areões começa a poucos km de Nova Xavantina MT. É a mais próxima da residência dos SDB na mesma cidade. Desde 1950 os Xavante foram contactados pelos missionários que sempre cultivavam uma proximidade simpática. Com a presença marcante dos agentes da FUNAI na área, nunca foi possível desenvolver qualquer prática mais consistente de evangelização explícita, como tampouco os crentes conseguiram se instalar nas aldeias da A.I. Com visitas periódicas cada vez mais freqüentes, o Pe. Bartolomeu Giaccaria com sua equipe e a corajosa atuação das Irmãs Franciscanas da Mãe Dolorosa, começou aos poucos um trabalho mais explícito. Desde 1997 foram realizados anualmente os Cursos de Agentes de Pastoral Xavante na Aldeia Cachoeirinha, com participação dedicada sobretudo dos anciãos. Esses cursos, aliás, são realizados todos os anos na A.I. de Parabubure, no fim de junho, e em Sangradouro ou São Marcos, alternadamente, no mês de dezembro. Importante para essa nova atuação em Areões foi a Iniciação Cristã de Água Branca, da A.I. Pimentel Barbosa. Os parentes do Pe. Aquilino com intervalos conseguiram celebrar por três vezes os ritos dos Sacramentos de Iniciação. O próprio Pe. Aquilino, quando ainda estudante de teologia, com aprovação do então bispo diocesano Dom Antônio Sarto SDB, batizou um terceiro grupo de sua aldeia na Festa de Natal do ano 2000, na presença do pároco Pe. Bartolomeu Giaccaria. Atualmente, esses novos cristãos, imbuídos de espírito missionário, estão viabilizando a catequese e todo o processo de Iniciação Cristã nas aldeias próximas de Areões. Assim sendo, podemos contemplar hoje as seguintes realizações ultimamente acontecidas:

- Aldeia Tritopa, a Entrega dos Evangelhos, como parte do Rito de Instituição dos Catecúmenos, a 46 candidatos, no dia 30 de maio passado;

- Aldeia Babaçu, e Entrega dos Evangelhos a 45 candidatos, no dia 15 de junho passado;

-Aldeia Sant'Ana, ou Capitariquara, a apresentação de 36 padrinhos com seus respectivos candidatos ao batismo, no dia 29 de junho passado; essa cerimônia aliás criada por exigência cultural dos Xavante, tomou nesta aldeia emprestado parte do ritual de iniciação DANHONO, com as respectivas pinturas de início o rito;

- Aldeia Cachoeira, igualmente a apresentação de 25 padrinhos e seus afilhados, no dia 15 de agosto próximo.

Esses fatos mostram corno hoje o processo de anúncio do Evangelho se realiza com calma, dentro da caminhada própria de cada comunidade, podendo passar vários anos até o momento oportuno. E, no caso, são os próprios indígenas que tomam a iniciativa e viabilizam a celebração das etapas da Iniciação Cristã.


2. Sermão de Despedida dos Primeiros Missionários Salesianos

No dia 11 de novembro de 1875, terminadas as Vésperas e antes da Bênção do Santíssimo Sacramento, Dom Bosco subiu ao púlpito, e fez aos missionários o seguinte sermão, cujas linhas essenciais estão aqui condensadas pelo biógrafo (Giovani Batt. LEMOYNE. Memórie Biográfiche di Don Giovvanni Bosco. Turim, Vol. XI, 1898, Cap. XVI, p. 383-387).

Nosso Divino Salvador, quando estava nesta terra, antes de voltar ao Pai Celeste, reunidos os seus Apóstolos, disse-lhes:

Ite in mundum universum....docete ... omnes gentes. ... praedicate evangelium meum omni creaturae. Ide pelo mundo inteiro ... ensinai a todos ... pregai o meu Evangelho a todas as criaturas. (p. 3 84)

Com essas palavras o Salvador deu aos seus Apóstolos não um conselho, mas uma ordem, para que fossem levar a luz do Evangelho a todas as partes da terra. Esta ordem ou missão deu o nome de Missionários a todos aqueles que em nosso país ou em países estrangeiros estão promulgando ou pregando as verdades da fé. lte, ide!

Depois de o Divino Salvador subir aos Céus, os apóstolos executaram fielmente o preceito do Mestre. São Pedro e São Paulo foram a muitos países, cidades e reinos do mundo. Santo André foi à Pérsia, São Bartolomeu à índia, São Tiago à Espanha e todos aqui e acolá pregaram o Evangelho de Jesus Cristo, tanto que São Paulo já escreve aos Romanos: Fides vestra annunciatur in universo mundo (a vossa fé é anunciada em todo o mundo).

Mas não teria sido melhor que os Apóstolos se tivessem firmado antes para conquistar os habitantes de Jerusalém e de toda a Palestina, especialmente para ter oportunidade de reunir-se juntos e discutir os pontos mais fundamentais da Religião Católica e sobre o modo de propagá-la de maneira que ninguém sobrasse naquelas regiões que não cresse em Jesus Cristo? Não, não fizeram assim; O Divino Salvador tinha-lhes dito: Ite in mundum universum, ide pelo mundo todo. Por isso, não podendo os Apóstolos percorrer por si mesmos todas as regiões do globo, associaram a si outros e depois outros operários evangélicos que enviaram para cá e para lá para propagar a palavra de Deus. São Pedro enviou Santo Apolinário a Ravenna, São Barnabé a Milão, São Lírio e outros à França, e assim fizeram outros apóstolos rio governo da lgreja.

Os Papas, sucessores dos Apóstolos, fizeram da mesma maneira; e todos eles andaram nas Missões, ou partiram de Roma ou foram com o consentimento do Santo Padre.

Tudo isso foi de acordo com as disposições de Deus Salvador que estabeleceu, como era necessário, um centro seguro, infalível, a que todos deveriam referir-se, de que todos dependessem, e a que deveriam conformar-se todos que deviam pregar a sua santa palavra.

Pois bem! Estudando no nosso pequeno mundo como seguir o preceito de Jesus Cristo, de acordo com as nossas forças, várias Missões se nos apresentaram na China, na Índla, na Austrália, na América; mas por várias razões, especialmente por ser a nossa Congregação incipiente, preferiu-se uma Missão na América do Sul, na República Argentina.

Seguindo o costume, também o preceitos de Jesus Cristo, apenas se começou a falar desta Missão, logo se procurou o pensamento do Chefe da Igreja e tudo foi feito com plena adesão de Sua Santidade; os nossos Missionários, antes de partir para a sua Missão, seguiram respeitosamente até o Vigário de Jesus Cristo para receber a bênção apostólica e em seguida partir como enviados do mesmo Divino Salvador.

(p. 385)

Deste modo damos início a uma grande ação, não porque tivéssemos a pretensão e pensássemos em converter o universo inteiro em poucos dias, não; mas, quem sabe, que não seja esta partida e esta coisa pequena como que uma semente de que deverá surgir uma grande planta. Quem sabe, não seja como que um grãozinho de alpiste ou de mostarda, que pouco a pouco se vai se estendendo e seja capaz de fazer um grande bem? Quem sabe se esta partida não tenha suscitado no coração de muitos o desejo de consagrar-se a Deus nas Missões, afilhando-se a nós e reforçando as nossas fileiras? Eu o espero. Constatei o número extraordinariamente grande daqueles que pediram de serem pre-escolhidos.

Para fazer-lhes um conceito adequado da grande necessidade de sacerdotes da República Argentina, cito-lhes apenas algumas linhas de uma carta recebida de uma pessoa amiga que vive naquele país: "Se ao menos nessas regiões se tivesse a comodidade, escreve ele, que se pode ter, já não digo na Igreja de Nossa Senhora Auxiliadora, mas no lugar mais esquecido da Itália ou da França, eh! como seriam felizes esses povos, e como se mostrariam dóceis e gratos à voz de quem por eles se cansa. Mas aqui, nem na hora da morte, pode-se ter algum conforto da Nossa Santa Religião. Não são poucas as regiões absolutamente privadas da Santa Missa". Ele me contou de um parente seu, que querendo ir à Missa no domingo, partiu na quinta-feira e para chegar em tempo, devia viajar com muita pressa, servindo-se do cavalo, de carroça e de todo meio possível, e apenas conseguiu chegar no domingo de manhã para a hora da Missa. Os poucos sacerdotes que há não bastam para administrar aos moribundos os Sacramentos seja para a grande população a que se estende o seu ministério pastoral, seja pela distância das regiões diversas em que moram.

Recomendo-lhes pois com insistência particular (disse voltando-se aos missionários) a dolorosa situação de muitas famílias italianas, que numerosas vivem dispersas naquelas cidades e naquelas regiões e no meio dos campos. Os pais, seus filhos pouco instruídos na língua e nos costumes dos lugares, longe das escolas e da igreja, ou não vão às práticas religiosas ou, se forem por acaso, não entendem nada. Por isso me escrevem que vocês encontrarão um número grandíssí-mo de crianças e também de adultos que vivem na mais deplorável ignorância na leitura, na escrita, e em qualquer princípio religioso.


Vão, procurem estes nossos irmãos, os quais a miséria ou a pouca sorte levou àquela terra estrangeira, e empenhem-se para fazer-lhes conhecer como é grande a misericórdia daquele Deus, que a eles os envia para o bem de suas almas, para ajudá-los a conhecer e seguir aquela estrada, que com segurança os leva à sua eterna salvação.

Nas regiões ao redor da parte civilizada existem grandes multidões de selvícolas, entre os quais ainda não penetrou nem a religião de Jesus Cristo, nem a civilização, nem o comércio, onde pés europeus não puderam ainda deixai-o seu vestígio.

(p. 386)

Estas regiões são as Pampas, a Patagônia e algumas ilhas situadas ao redor, e que formam um continente talvez maior que toda a Europa.

Pois bem! Todas aquelas vastíssimas regiões desconhecem o Cristianismo e de fato qualquer princípio de civilização, de comércio, de religião. Oh! Nós então rezaremos, pediremos ao senhor da vinha que envie muitos operários à sua vinha, que envie muitos, mas que os envie segundo o seu coração. para que se propague o reino de Jesus Cristo naquelas terras.

Neste momento devo dizer a todos os que me escutam que rezem pelos missionários, mas espero que o façam mesmo. Nós aqui não deixaremos passar nenhum dia sem recomendá-los a Maria Auxiliadora e penso que Maria, que agora abençoa a partida, não poderá fazer menos do que abençoar o progresso da Missão.

Deverei também dirigir palavras de agradecimento a tantos benfeitores, que de tantas maneiras se empenham pelo êxito desta Missão. Mas o que direi? Dirigismo-nos a Jesus Sacramentado, que agora se oferece para a bênção e pediremos que ele os recompense por tudo aquilo que foi feito em favor de nossa Casa, da Congregação Salesiana e desta Missão.

Preciso falar de um ilustre personagem que iniciou, prosseguiu e levou a bom termo o pio empreendimento; mas que não posso citá-lo pelo nome porque está presente; reservo-me falar dele em outra hora.

Dirigirei agora alguma palavra a vocês, amados filhos, que estão de partida.

Antes de mais nada recomendo-lhes que em suas preces particulares e comunitárias não se esqueçam dos nossos benfeitores da Europa, e que as primeiras almas que conquistarem para Jesus Cristo sejam ofereçidas ao Pai celeste em homenagem e sinal de gratidão aos benfeitores que apoiaram esta Missão. A todos já disse em particular a viva voz o que o coração me inspirava ou o que eu julgava mais oportuno; para todos deixo por escrito algumas lembranças especiais que sejam como que um testamento para aqueles que vão naqueles países distantes e que talvez não tenha mais a consolação de rever nesta terra.

A voz me falha, as lágrimas sufocam a palavra. Digo-lhes somente que, se meu ânimo neste momento está comovido pela partida de vocês, meu coração está alegre pela consolação de ver nossa Congregação consolidada; ao ver a nossa pequenez também nós contribuímos nesta comemoração com a nossa pedrinha no grande edifício da Igreja. Sim, partam então corajosos; mas recordem-se que há uma só Igreja que se propaga na Europa e na América e em todo o mundo, e recebe em seu seio os habitantes de todas as nações que queiram refugiar-se no seu seio materno.

Cristo é Salvador das almas que estão aqui, como aquelas que estão lá. Tal é o Evangelho que se anuncia num lugar e se anuncia num outro;

(p. 287)

de modo que, embora separados de corpo, tenham em toda a parte unidade de espírito, trabalhando todos para a maior glória do mesmo Deus e Salvador Nosso Jesus Cristo.

Em qualquer lugar que forem habitar, amados filhos, devem ter consciência sempre de que são sacerdotes Católicos, e que são Salesianos. Como Católicos, vocês foram a Roma para receber a bênção, a também a Missão do Sumo Pontífice. E com este fato vocês pronunciaram uma fórmula de profissão de fé e fazem saber publicamente que são enviados pelo Vigário de Jesus Cristo para cumprir com a mesma missão dos Apóstolos, como enviados do próprio Jesus Cristo.

Portanto, aqueles mesmos Sacramentos, aquele mesmo Evangelho anunciado pelo Salvador, pelos Apóstolos, pelos sucessores de São Pedro até os nossos dias, aquela mesma religião, aqueles mesmos Sacramentos devem amar ciosamente, professar e anunciar exclusivamente, seja diante dos selvícolas, seja entre povos incivilizados. Deus os livre de dizer urna palavra e de fazer uma ação mínima que seja ou possa somente ser interpretada contra o magistério infalível da Suprema Sé de Pedro, que é a Igreja de Jesus Cristo, a que deve referir-se qualquer coisa, e de que devem depender em qualquer coisa.

Como Salesianos, em qualquer parte mais remota do globo que estejam, não se esqueçam que aqui na Itália têm um pai que os ama no Senhor, uma Congregação que em qualquer evento pensa em vocês, e cuida de vocês e os acolherá como Irmãos. Vão então; vocês irão enfrentar todo tipo de cansaço, de afrontas, de perigos; mas não temam, Deus está com vocês, ele lhes dará urna tal graça, que dirão com São Paulo: Por mim mesmo não posso fazer nada, mas com a ajuda de Deus sou onipotente. Omnia possum in eo que me confortai. Vocês irão, mas não irão sozinhos; todos nós os acompanharemos. Não poucos companheiros seguirão o exemplo de vocês e se reunirão a vocês no campo da glória e da tribulação. E aqueles que não poderão partir com vocês no campo Evangélico, que a Divina Providência estabeleceu para vocês, os acompanharão com o pensamento e com a oração, condividirão com vocês as consolações, as aflições, as flores e os espinhos, para que com a ajuda de Deus possam obter frutos em tudo aquilo que devem empreender pela salvação das almas de Cristo redentor. Vão então! O Vigário de Jesus Cristo, o nosso venerável Arcebispo lhes deram a bênção, e eu também com todo o afeto do meu coração invoco copiosamente as bênçãos divinas sobre vocês, sobre a viagem de vocês, sobre todo o empreendimento de vocês, sobre toda a fadiga.

Adeus! Talvez nem todos nos possamos reencontrar nesta terra. Por pouco tempo estaremos separados de corpo, mas um dia nos reuniremos para sempre. Trabalhando para o Senhor, sentiremos a palavra: Euge, serve bone et fidelis ... intra in gaudium Domini tui (Então! Servo bom e fiel ... entra na alegria do teu Senhor).



3.Avaliação de Curso de Agentes de Pastoral Bororo

Pe. Eloir Inácio de Oliveira


No No das Notícias Missionárias foi comunicado o Curso de Agentes de Pastoral Bororo, realizado nos dias 06 e 07 de março passado. Agora é comunicada a avaliação daquele Curso, feita pelos participantes Bororo. Foi proposta a formação de uma equipe para começar a pensar sobre a elaboração de textos catequéticos inculturados para a Primeira Comunhão e Crisma. Isso porque até o momento usamos textos das paróquias das cidades.

*é preciso fazer mais ligação entre valores cristãos e bororo.

*Ainda há muitas dúvidas sobre o que é Inculturação do Evangelho.

* Foram muitos exemplos da cultura Xavante (é que o assessor estudou só cultura Xavante e não Bororo).

* Faltou falar mais sobre temas específicos de religião, por exemplo, os sete sacramentos, trechos bíblicos, etc.

*Faltou esclarecer mais o que é Pastoral.

*Faltou um tema, havia muita mudança de assuntos.

Essa avaliação mostra os maiores interesses dos Agentes de Pastoral Bororo, suas expectativas para um próximo curso e os temas a serem tratados.


4.Área Indígena Raposa/Serra do Sol

Manaus-AM, 15 de junho de 2003 CIMI Regional Norte I


A visita do Ministro da Justiça ao Estado de Roraima, nos dias 10 a 12 de junho/O3, serviu para imobilizar a elite política e econômica local, em mais uma tentativa, para restringir os direitos dos povos indígenas sobre as terras que tradicionalmente ocupam. Com o apoio da imprensa buscou, de todas as formas, desmerecer a luta indígena e desqualificar aqueles que os apóiam.

No Encontro do Ministro Márcio Thomaz Bastos com a sociedade civil no dia 12/06, pecuaristas e arrozeiros (latifundiários do arroz) apresentaram seus argumentos contra a homologação da Terra Indígena Raposa/Serra do Sol, que se baseiam, sobretudo, na pretensão de expandir suas propriedades no interior das terras indígenas. Fizeram questão de destacar que as terras indígenas, uma vez garantidas aos índios, inviabilizam o desenvolvimento do Estado, pois a única forma de produção que conseguem vislumbrar, é aquela baseada na propriedade privada e na monocultura. Quiseram mostrar ao Ministro o quanto são indispensáveis ao futuro de Roraima e o quanto os índios são descartáveis. Por isso, a necessidade de apresentar altos índices de produtividade e a tecnologia de que dispõem para tentar demonstrar os possíveis prejuízos com a indisponibilidade das terras indígenas às suas pretensões capitalistas. Evidentemente não fizeram referência nenhuma aos impactos sócio-ambientais que provocam com a poluição do ar, da água e da terra com o uso indiscriminado de agrotóxicos.

Não faltaram também as referências saudosistas ao tempo em que "existia a paz" em Roraima. Tempo esse em que os índios haviam sido expropriados de suas terras e eram peões das fazendas.

A classe política esqueceu as suas divergências, para afinar seu discurso contra os índios. Curiosamente começaram a falar que são a favor da demarcação de Raposa/Serra do Sol em área única, irias desde que sejam excluídas as vilas, estradas, os arrozeiros (que entraram na área indígena em 1993 de má fé), e as terras necessárias para a construção de uma hidrelétrica no rio Cotingo. O que chama a atenção é que, o que fazem tanta questão para ser excluído da terra indígena em termos da concepção de desenvolvimento que defendem significa muito pouco, senão vejamos:

- As vilas (ou "corrutelas" de garimpo como são chamadas pelos índios) produzem muito pouco. Na sede do município de Uiramutã que ocupou a aldeia indígena de Uiramutã, vivem 115 não índios (garimpeiros e outros invasores) rodeados por uma 380 indígenas; em Água Fria aproxi-madamente 36 não índios e 224 índios; em Mutum em tomo de 250 pessoas entre índios (existem 15 casas de índios), e não índios, estes em sua maioria garimpeiros, sem casa fixa; em Socó têm nove casas de índios e 50 invasores; e em Surumu, tem 118 indígenas e 60 não indígenas (Fonte CIR);

- As estradas são as vias de acesso às malocas indígenas, a Uiramutã, Normandia e as outras "corrutelas";

- São seis os fazendeiros que produzem arroz ilegalmente dentro da Raposa Serra do Sol;

- A hidrelétrica de Cotingo, caso construída certamente não produziria mais do que 150 MW hora de energia.

Esse empenho todo só pode ser explicado por que a classe política, a partir, sobretudo, das "corrutelas" e da sede municipal de Uiramutã, pretende criar as condições para descaracterizar qualquer demarcação que venha a ser feita. Pouco lhe importa o quanto de violência e de vítimas tal situação continuará provocando.

Essa irracionalidade advem de um profundo preconceito e faz parte da tentativa desesperada de

uma classe, que historicamente se valeu dos índios como mão-de-obra barata, em afirmar a sua superioridade, questionada diante do processo de afirmação étnica e de reconquista de suas terras, iniciada pelos povos indígenas de Roraima a partir da década de 70.

Podemos afirmar com toda a segurança, que nos últimos 20 anos, o governo de Roraima e sua classe política gastaram mais tempo, energia, esforços e provavelmente dinheiro tentando evitar a demarcação das terras indígenas do que com algum projeto em favor da população do Estado.

Surpreendentemente, no entanto, mesmo com toda a violência, alimentada pela impunidade, que esta postura do governo provocou, sustentando a permanência de invasores e mesmo estimulando novas invasões nas terras indígenas, os povos Macuxi, Wapichana, Ingaricó, Taurepang e Patamona mostraram para o Ministro em Maturuca, na região das serras, no dia 11/06, o quanto estão unidos, conscientes, organizados e determinados em sua luta pela garantia da integralidade da terra indígena Raposa/Serra do Sol.

Com a presença de mais de 2/3 dos tuxauas das 151 comunidades indígenas que compõem Raposa/Serra do Sol as lideranças relataram ao Ministro, em detalhes, a verdadeira história indígena da região.

A visita do Ministro da Justiça a Roraima, com a missão exclusiva de se informar sobre a Terra Indígena Raposa/Serra do Sol, escancarou uma luta a semelhança daquela descrita na Bíblia entre Davi e Golias. Por mais poderosas que sejam as forças contrárias aos povos indígenas, estes não serão vencidos, pois a sua luta é justa. Justa porque é a favor da vida, da verdade e do direito.

A promessa do Ministro de "uma solução a favor dos índios", só poderá se dar, através da homologação da Raposa Serra do Sol, assegurando a garantia total das terras indígenas.

Essa solução também será a favor de toda a sociedade roraimense, pois evitará a degradação ambiental, sobretudo do lavrado (cerrado), ameaçado pela monocultura extensiva, resguardando assim, as condições para um desenvolvimento sustentável.


5.Noviços visitam as Missões de Mato Grosso

Pe. João Bosco Monteiro Maciel, Mestre de Noviços


No primeiro semestre de cada ano, os noviços refletem sobre a realidade missionária da Inspetoria, com a assessoria do Pe.Georg Lachnitt. Nesse ano surgiu um interesse particular pelo estudo das línguas indígenas, em diversas modalidades, tudo em vista do futuro encontro com os indígenas. Cantos em língua bororo foram ensaiados. Os primeiros passos para uma conversa com os Xavante foram meticulosamente decorados e serviram na Aldeia Dom Bosco tipicamente. Surgiu um clima típico da juventude salesiana: a abertura para novas culturas e línguas, além do programa próprio do noviciado.

Com os preparativos em dias, o grupo liderado pelo Mestre e o assistente planejou a viagem de 09 a 20 de julho pelas Missões, dia este em que a comitiva deverá chegar a Chapada dos Guimarães para o retiro pregado pelo inspetor, Pe. Afonso de Castro.

Foi importante a visita à Aldeia Dom Bosco. Dois anos atrás, os noviços visitantes tiveram que levar tudo. Os meninos se mantiveram à distância. Mas a presença simpática foi conquistando espaço. No ano passado, os visitantes partilharam a comida e as diversões com os indígenas. Neste ano, se inverteu a ordem. O cacique Domingos com sua comunidade prepararam detalhadamente a recepção. A missa foi celebrada à beira do poético Rio Cristalino, perto da barra do Rio das Mortes. As crianças pintadas e lideradas pelo professor entoaram cânticos e danças durante a celebração; após a comunhão os noviços cantaram em homenagem à comunidade Xavante. A comunidade missionária de Sangradouro ofereceu o almoço partilhado com alegria por todos. Depois o Rio Cristalino foi o palco da festa nas águas transparentes: noviços e meninos se misturaram nesse ambiente único da região.

O programa de visita em Merúri foi muito exigente para os visitantes. Chegando à Aldeia Garças, a visita coincidiu com os ritos finais de um solene funeral Bororo. Deve-se observar que entre os Bororo o funeral tradicional é realizado durante até três meses. Tinham acorrido os Bororo não só de Merúri, mas também da região de Rondonópolis. Detalhes rituais raros puderam ser observados. O sepultamento final foi feito no meio de duas estaca altas após a celebração da santa missa em língua Bororo. Por isso os noviços já vieram sabendo cânticos litúrgicos em Bororo. Ponto alto em Merúrí foi a visita à região dos Tachos palco da primeira missão entre os Bororo e a missa comemorativa dos 27 anos do martírio do P. Rodolfo e Simão Bororo.

Em Barra do Garças, duas famílias dos noviços prepararam as refeições e as Águas Quentes deixaram o campo aberto para se divertir e cansar fisicamente também Um jogo com os Bororo serviu para medir as forças em competição. Para rematar e garantir um repouso tranqüilo, a subida ao morro exigiu preparo físico, sobretudo para os mais apressados na subida.

O tempo seco em São Marcos com a poeira não eram tão familiares aos noviços. Nada melhor do que as águas da Cachoeira do Salvador para passear e tornar banho na piscina natural.

Assim a passagem-peregrinação por essas históricas regiões serviu para reforçar e animar mais ainda a dimensão missionária da nossa vocação salesiana.


6.Conceitos de Cultura (1)

Pe. Georg Lachnitt SDB

Muitos são os conceitos e o uso da palavra "cultura". Li num colégio: "Paz não é cultura. Um analfabeto pode ter muita paz". Ou então: A universidade é uma instituição de cultura. Dizia certa autoridade referindo-se aos indígenas: "eles são de um nível inferior de cultura. É pois importante ter uma visão mais exata do que seja cultura, sobretudo para o trabalho missionário ad gentes.

O termo "cultura", etimologicamente, vem do latim. O verbo colere sendo intransitivo significa habitar, morar e sendo transitivo significa cultivar, praticar, cuidar de, tratar de, ocupar-se de, proteger, querer bem a, agradar a, e por extensão, honrar, cultuar, venerar, respeitar1. O particípio passado é cultum, o que foi cultivado, o que foi trabalhado, transformado.

"Cultura" então significa o cultivo de algo, o zelo por algo, a atividade de trabalhar com algo e de transformá-lo. A cultura é resultado (=cultum) da atividade do homem a respeito de, em referência de ou com algum objeto.

O homem pode exercer atividade transformadora com a terra para fazêIa produzir: "agricultura"; com os peixes para fazê-los aumentar para o consumo: "piscicultura"; com as crianças para um sadio crescimento: "puericultura" e assim por diante.

Primeiras Tentativas de Definição, no Contexto do Evolucionismo

No sentido bastante amplo, o termo cultura pode ser aplicado a todas as atividades do homem, abrangendo tudo o que o homem está produzindo2 Neste sentido, abrangendo todas as possibilidades de realização humana, é que vemos uma das primeiras definições apresentada por Edward Burnett Tylor (l832-1917), em 1871: Cultura é todo este complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes e qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade3.

Esta definição tornou-se clássica e consta em muitos estudos antropológicos, mesmo que Geertz, não contestando sua força criadora, faça restrições quanto ao valor dela, classificando-a de mais confundiva do que esclarecedora4

Realmente, esta definição é muito ampla, não só se limitando à dimensão cognitiva, mas igualmente a uma série de outros campos da vida humana. A aquisição é outra dimensão fri-sando que o homem não nasce com sua cultura por hereditariedade, mas por transmissão, informação ou educação, dentro de sua sociedade. E é a sociedade que é depositária deste capital que se chama "cultura". Ainda ao chamá-lo de complexo" afirma ele que não se trata de uma justaposição de variados elementos quaisquer, mas que todos eles são interdependentes reciprocamente.

Tylor apresentou suas teorias no contexto do evolucionismo divulgado pouco tempo antes pelo naturalista inglês Charles Darwin (l809 - 1882) aplicando os conceitos biológicos ao campo da cultura. O próprio título do seu livro Primitive Culture, usando o adjetivo "primitivo" em oposição a "evoluído", declara uma evolução da cultura, porém no sentido claro de passagem a partir do selvagismo, passando pela barbárie para alcançar a civilização5. Esta seria a expressão mais adiantada de cultura. De maneira semelhante ele declara a evolução no campo religioso, vendo no animismo o estágio primitivo, para passar pela mitologia rumo à verdadeira religião, o monoteísmo6.

Para estas teorias, naquele tempo, não se dispunham de pesquisas de campo a rigor, mas apenas de relatos de missionários, viajantes, exploradores e comerciantes entre os povos primitivos da época. A arqueologia de então pouco tinha a comprovar a teoria evolucionista a nível biológico e muito menos a nível cultural. Era uma teoria simplesmente. Antropólogos que seguiram os estudos iniciados por Tylor foram Lewis H. Morgan (l8l8-1881) que em seu livro da Sociedad Antiga desenvolveu a teoria da evolução da sociedade desde estágios mais primitivos, e James George Frazer (l854-1941) que estudou mais a religião entre os primitivos, entre outros assuntos7. Como já anteriormente Adolf Bastian (1826-1905), Tylor acreditava na unidade psíquica da humanidade8. Com isso, como conseqüência, admitia também um desenvolvimento único e, de certa maneira, uniforme de toda a humanidade, apenas se distinguindo por um maior ou menor progresso na escala da evolução onde existem sociedades primitivas, médias e bem evoluídas ou civilizadas. Não haveria, pois, caminhos culturais diversificados, mas uma única cultura assumida diferentemente dentro de uma escala evolutiva. Mais ainda, haveria os mais evoluídos e os atrasados, o que abertamente justifica o etnocentrismo dominativo das nações mais evoluídas sobre as primitivas, para promovê-las9.

É verdade que todo o homem vê o mundo através de sua cultura"10 e com isso um certo etnocentrismo é espontâneo. Mas isto não exclui de por si a possibilidade de existirem outros caminhos culturais de realizar a vida humana. Urna coisa é cada um considerar a própria cultura como a melhor maneira, a partir da visão original da própria cultura, outra coisa é não admitir a diversidade cultural como um fato. - Esta é uma crítica inicial que faríamos ao evolucionismo que degenera no etnocentrismo! - Admitindo como válida a unidade psíquica da humanidade, igualmente se impõe a diversidade cultural como maneiras diferentes de realizar a mesma unidade psíquica humana11.

Referindo-se a esta Doutrina da unidade psíquica da humanidade, Geertz afirma que ela não é mais questionada, hoje em dia, por nenhum antropólogo de reputação12, pelo que a aquisição e posse universal da cultura, por si, não expressam nada de incomum, isto é, são uma tautologia, que atesta a validade do fato da existência da cultura.


- No próximo número: uma crítica ao evolucionismo! -




7.XXIX Assembléia Regional do CIMI-MT e nova Coordenação

Pe. Georg Lachnitt


Nos dias 21 a 26 de julho de 2003 foi realizada a XXIX Assembléia Regional do CIMI-MT, na Casa de Encontros do CIMI em Chapada dos Guimarães MT. O tema da Assembléia foi "Autonomia Indígena frente às Políticas lntegracionistas e de Terceirização". De início foi feita urna reflexão sobre a conjuntura atual pelo Prof. Eudson, nosso Tião, secretario adjunto do CIMI Nacional, e pelo indígena Marcos Xucuru, filho de Chicão Xucuru, assassinado. Depois dessa introdução fomos assessorados pelo Pe. Paulo Suess que não deixou de oferecer sólidos elementos de espiritualidade para a postura dos missionários diante dos desafios que nos cercam. Foram dois dias muito proveitosos para todos. Um dia foi dedicado a um passeio na Chácara dos salesianos rio Mutuca. Assim as equipes tiveram oportunidade de articular-se mais fraternalmente para as atividades missionárias entre os indígenas,

A CNBB mudou seu estatuto e, com isso, sua organização. Diante disso, como "órgão anexo" no antigo estatuto, o CIMI precisou, por sua vez fazer uma revisão e atualização do próprio estatuto. Diante da proposta nova apresentada pela diretoria, foram feitas emendas pela assembléia reunida, por grupos e por indivíduos que serão encaminhados para a próxima Assembléia Nacional.

A assembléia também foi eletiva, em caráter extraordinário, devido à renúncia da Coordenadora Maria Regina Rodrigues e de Tarley da Gula Nunes da Mata. Após prolongado discernimento das equipes do Regional, cada equipe apresentou o que podia oferecer e o quanto "de sua pobreza". Após ouvir os candidatos indicados, procedeu-se à eleição, de que resultou:

Coordenador:Pe. Felício Luiz Fritsch, SJ

Articulador: Raimundo Nonato Carlos Arruda

Articuladora que continua por mais dois anos: Maristela Souza Torres.

Esta coordenação continua por mais dois anos para completar o mandato de quatro anos, interrompido pela renúncia de dois membros.

À nova Coordenação os melhores votos pela nova missão em favor dos indígenas do Mato Grosso.


8. Conflitos entre Xavante e Fazendeiros em Sangradouro


Pelas informações seguintes pode-se medir o tamanho do conflito que envolve os Xavante com os vizinhos fazendeiros, na quase totalidade migrantes dos estados do Sul. O CIMI-MT decidiu não responder publicamente às acusações "para não pôr mais lenha no fogo". Quem leu a GAZETA, certamente ficou muito perplexo. Julgamos prestar um serviço de informação de caráter interno, para informar os leitores sobre os fatos mais amplamente. Por isso, segue antes o artigo da GAZETA, em seguida os depoimentos colhidos pelo Ir. Tarley entre os Xavante e um comentário pelo Pe. Georg, depois de entrevistar vários Xavante da mesma aldeia.


8.1. Do jornal A Gazeta de hoje, 09 de julho de 2003

Índios: para a guerra, só falta o primeiro cadáver

Onofre Ribeiro- jornalista

Neste sábado estive, no município de Santo Antônio do Leste, a cerca de 100 km a leste de Primavera do Leste, onde pude constatar o clima de guerra que está armado entre os fazendeiros da região, em relação aos índios xavante das reservas vizinhas de Volta Grande e de Sangradouro. Os fazendeiros estão armados até os dentes e revoltados desde o dia 2 de abril último, quando os índios seqüestraram cinco tratores e cinco veículos de uma fazenda, e se recusam a devolver. A fazenda está abandonada e o medo é muito forte na região. Dísseram-me: A quem der o primeiro tiro começa a guerra. Mas sabem que essa guerra não interessa a eles e, muito menos, aos índios. Então, o que está por detrás do clima incendiário na região?

A opinião geral entre todos os produtores é a de que o motivo é a retaliação contra a expansão da produção econômica no estado. Começando pelos índios. Eles, na verdade, tomaram-se massa de manobra de organizações não-governamentais nacionais e estrangeiras, financiadas por capital estrangeiro interessado em prejudicar a evolução da agricultura mato-grossense. Os índios, de fato, vivem e certamente permanecerão no mesmo clima de miséria atual, e não fazem parte dos planos das Ongs, exceto como matéria prima para a captação de recursos no exterior.

E neste momento, no caso específico dos xavante, elas instigam urna guerra, sonhando com o primeiro cadáver, para criarem um clima mundial de terrorismo, usando os índios como argumento. Neste momento há 9 áreas indígenas em processo de ampliação em Mato Grosso, toda com possibilidades de gerar conflitos em regiões ocupadas economicamente. Os, critérios são nebulosos como, aliás, é nebulosa a Funai. Nos próximos dias deverá ser anunciada, de surpresa, a ampliação de 400 mil hectares de reservas que engolirão municípios inteiros na região de Canarana, em Mato Grosso. As medições foram feitas às escondidas pelos famosos grupos de trabalho, contratados pela Funil. Nesse caso, a ampliação foi demarcada às escondidas e, certamente, será acatada pela Funai, como têm sido acatadas todas as demais.

A presença de estrangeiros nas aldeias indígenas de Mato Grosso chega a ser escandalosa. Em Aripuanã, no norte no estado, como em toda a Amazônia, causa indignação tanta presença inexplicável, embora todos conheçam as razões.

Há duas semanas a sociedade de Primavera do Leste soube que um Agrupo de trabalho ia para região medir a ampliação das duas reservas xavante de Sangradouro e de Volta Grande, que, juntas somam 117 mil hectares. Reuniram-se e decidiram avisar que os técnicos seriam detidos e mortos, se chegassem à cidade. Eles voltaram do caminho.

Nesses casos, a pressão da sociedade já surtiu efeitos anteriormente. Em Mato Grosso, o clima é artificialmente acirrado por ongs e outros grupos de interesses que buscam um conflito armado para desencadearem a guerra mundial de mídia em favor dos índios e ferir a produção econômica.

E urgente o governador do estado se articular com a bancada federal, com os produtores e iniciar uma contra-ofensiva. A Assembléia Legislativa precisa realizar audiência pública em Primavera do Leste para que a pressão intimide os alimentadores de uma possível guerra e restabeleça a confiança na região. Os produtores estão no limite, e os índios estão exaltados diante da possível ampliação das reservas que, na prática, nada lhes adiantará, porque continuarão na mesma miséria atual. A política é mantê-los atrasados para que o discurso arrecadatório de dinheiro estrangeiro continue alimentando ongs nacionais e estrangeiras.



O grande apelo neste momento, é evitar o primeiro cadáver de qualquer uma das partes. Depois dele, será guerra na certa! E, o pior, nenhum dos dois ganhará nada a não ser os cadáveres.


8.2. Relatório dos Acontecimentos sobre o Assassinato de Joaquim Xavante - Área de Sangradouro/Volta Grande - MT

No dia dois de Abril de Dois Mil e Três, um Xavante, Joaquim Marãdzuhõ, da aldeia Volta Grande, município de São Joaquim - MT, saiu de sua aldeia para pescar na lagoa da mesma terra. Eram 6 horas da manhã. Ele esclareceu a localização onde ia pescar à sua mulher, dizendo o ponto de referência, para ela ter o conhecimento.

Não conseguiu pescar peixe. Mas, ao voltar para casa, ele foi ainda para a lavoura de um vizinho, para caçar o tatu na fazenda Rica. Os funcionários estavam colhendo a soja, e o senhor Joaquim Marãdzuhö Xavante foi ao encontro de um funcionário pedir matula, pois, ele estava passando fome. De generosidade o funcionário da fazenda ofereceu-lhe um pedaço de pão.

Depois de dar o pão, avisou para ir diretamente para casa, porque sabia o plano do proprietário da fazenda, o que iria acontecer. O fazendeiro não gostava dos índios Xavante de Volta Grande que eram vizinhos dele. Antes de acontecer, ele já falava que iria matar um dia qualquer índio, e ameaçava quando os índios iam pescar no rio Ambuco, dentro da fazenda. O proprietário da fazenda Rica é o Luiz Carlos.

Joaquim Marãdzuhö tinha desaparecido no dia dois de abril e não voltou mais para casa. E a comunidade da aldeia Volta Grande procurava e percorria a área indígena, pensando que algum bicho o tinha devorado. E não o encontravam.

Depois, a comunidade da aldeia Sangradouro ficou sabendo disso tudo através de informação conseguida na cidade de Primavera do Leste, onde se encontraram com os índios de Volta Grande.

No dia cinco de abril, homens da comunidade Sangradouro se deslocaram para a aldeia Volta Grande. Eram 80 índios para procurar o desaparecido Joaquim Marãdzuhö Xavante. Procuravam em qualquer canto no cerrado, na lagoa, na mata e no barranco. Porém, não achavam o corpo e nem instrumentos, e sim só o rastro dele.

No mesmo dia outra turma tinha chegado até a divisa da fazenda acharam o chinelo no rastro dele, onde o desaparecido tinha descansado. Os espaços ocupados pelos índios da área de Volta Grande foram vistoriados e nada de encontrar o corpo.

No dia sete de abril a comunidade de Sangradouro resolveu atacar a fazenda Rica, que se situa na divisa da área indígena e onde foi visto o rasto dele. O objetivo do ataque na fazenda era que os fazendeiros e os funcionários mostrassem o corpo e a direção onde foi escondido o corpo. Não foi invasão para fazer o mal, e sim para que eles se manifestassem e falassem a verdade. E foram pegos os funcionários e o proprietário da fazenda na marra, como conta o informante. E as maquinas que foram tornadas são: dois (O2) RANGER, um D-20, dois (O2) FIAT e três tratores. Seriam devolvidos se aparecesse o corpo de Joaquim Marãdzuhö disseram as lideranças e a comunidade.

No mesmo dia era 5:00 hs da tarde voltaram os xavante para casa. Mas, um xavante chamado de João Cassiano Xavante tinha ficado para trás em procura do corpo de Joaquim Marãdzuhö na fazenda. Já era 6:00 hs da noite, João Cassiano encontra o corpo de Joaquim Marãdzuhö que estava dentro de manilha tampada de pedras, barro e era difícil de tirar. Só conseguiu tirar urna camisa dele. Ele sentia fome e não agüentava de tirar tudo, tirava só a camisa onde foi colocado pelo fazendeiro. João Cassiano resolveu sair para a estrada e esperar carona, parece que ficou perdido e consegui carona, só que o fazendeiro o levou para a sede da fazenda.

Os funcionários falavam sobre os acontecimentos feitos pelos índios, pancada em branco e João Cassiano estava no meio deles, não percebiam se era índio, só depois foi descoberto que era índio. Depois de ter percebido, um dos funcionários foi até no lugar onde foi colocado o corpo para tirar e levar para outro lugar e dificultar a procura. Foram de caminhonete. João Cassiano seguia a saída de carro e foi parar no mesmo lugar onde a manilha ficou tampada. Certamente, tiraram o corpo e levaram para outro lugar. Assim, o fazendeiro levou a Primavera do Leste o João Cassiano e deu o dinheiro para a passagem e ele foi de Barratur para Sangradouro. Chegou na aldeia às duas horas da madrugada.

No dia oito de abril a comunidade retornou na fazenda onde foi encontrado o corpo, junto com policia federal e João Cassiano para confirmar se é verdade. Mas quando chegaram até local, não estava mais, e a manilha estava aberta e vazia. Levaram para outro lugar. Segundo os funcionários dizem que o dono da fazenda é quem matou o Joaquim Marãdzuhö com três tiros.

Houve também a reunião no dia catorze de abril em Primavera do Leste MT, com a Funai, fazendeiros e lideranças na câmara dos vereadores. O assunto de tratar era de liberar para continuar a colher a soja e as lideranças liberaram para os fazendeiros de colher a soja e proibiram de gradear e não entregar as máquinas.

No dia dezenove de abril às lideranças foram em Brasília para reivindicar a demarcação de terra onde foi assassinado o Joaquim Marãdzuhö. O presidente da Funai, Eduardo, atendeu as lideranças e sua reivindicação sobre a ampliação de terra que já existia e vários anos os caciques vem insistindo na demarcação dessa terra. O presidente prometeu de mandar o grupo de G.T. para realizar o levantamento das áreas onde será demarcado. Até hoje não apareceram e não cumpriu a sua promessa o Presidente da Funai.

No dia vinte e dois de abril chegou uma Equipe de Cuiabá e de Rondonópolis, polícia Federal, corpo de bombeiro, polícia militar e civil. O trabalho será feito por eles, é, procurar o corpo do assassinado. Por duas semanas que eles fizeram o seu trabalho em beneficio da comunidade Xavante. Eram acompanhados pela Funai e dois índios Xavante na realização do trabalho.

No dia trinta de abril houve a reunião em Primavera do Leste com a Funai e procuradoria do governo do Estado de Mato Grosso e assessor de ministro de Brasília, Carmem, que trabalha no assunto indígena em Cuiabá. As lideranças estavam presentes e os indígenas estavam pintadas de guerra. Eram 200 (duzentas pessoas). As lideranças se manifestaram diante do representante do governo federal e do estado, reivindicando a demarcação de terra. As lideranças pronunciavam que não entregariam as máquinas enquanto não sair a demarcação de terra. O ex-cacique Alexandre, irmão do assassinado pelo fazendeiro Luiz Carlos Ruaro, falou com o assessor do ministro que "as lideranças querem só a demarcação da terra onde que derramou o sangue do meu irmão".

E, no mês de junho no dia10, houve a reunião na aldeia S angradouro, no Centro Comunitário, com o superintendente de polícia federal de Cuiabá, às quinze horas. Então, a discussão com as lideranças era negociar de máquinas. A proposta da polícia federal é negociar de carro em carro, isto é, eles arrumariam os carros da receita federal ou em dinheiro no valor de 4.000,00 reais. Mas as lideranças não aceitaram As lideranças querem só a demarcação de terra, Só depois de haver a demarcação é que poderão entregar as máquinas. E, mandar o grupo G.T.

Assim, o superintendente prometeu de esperar quinze dias que chegaria o grupo de G.T. Já passou mais de quinze dias e nunca apareceram. E até agora as lideranças estão aguardando e pronto. E termina o relato até aqui.

Povo Xavante da aldeia Sangradouro.


8.3.Resposta e Esclarecimentos

Pe. Georg Lachnitt

Antes do 02 de abril de 2003

Para o jornalista, toda a história começa no dia 02/04/03. Por isso, o vilão de toda a situação de revolta é o Xavante. O jornalista se esquece de citar elementos importantes que levaram a esta situação e reação, por parte dos Xavante.

Poucos dias antes, "desapareceu" na fazenda o Sr. Joaquim, Xavante de mais de 70 anos de idade. Os xavante seguiram o rasto dele pela fazenda até que o roupa de Joaquim foi encontrada num bueiro. O bueiro estava entupido, quando um Xavante o encontrou. No dia seguinte, voltando com mais gente, na esperança de encontrar o corpo do "desaparecido", encontraram o bueiro remexido, desentupido e todas as pedras viradas. Certamente foi feito por mão desconhecida. E o corpo do desaparecido? Quem sabe, não fala e não pode falar.. É claro que a morte de um ente querido, em qualquer povo, provoca revolta e reação, não somente entre os Xavante. Eles querem o corpo para o devido sepultamento.

Deve-se lembrar outro fato. Em abril de 1993, segundo o ex-cacique e ex-candidato a deputado estadual Augusto, o filho de Joaquim, Agostinho, "desapareceu" da mesma maneira misteriosa, na mesma fazenda.

Em agosto do mesmo ano, o caçador Henrique, aliás com uma longa história de maus tratos sofridos, foi levado por fazendeiro à fazenda, onde foi ameaçado. O mesmo lhe mostrou seu arsenal de armas, prontas para matar todos os índios. Como Henrique se fingiu de bobo, foi solto. Só que voltou dias depois com muita gente, é certo, como reação. Só encontraram parte das armas. Na FUNAI há amplo depoimento desse fato, pois o fazendeiro deu queixa na FUNAI, não citou porém a falta das armas.

Mas afinal, quem é dono daquelas terras, que os índios hoje "estão querendo ampliar". Até 1970, não havia nenhum "branco" naquela área. Somente os Xavante passaram por lá regularmente em suas expedições de caça, aliás, para garantir o sustento a suas numerosas famílias. Para isso, e somente para isso é que eles vão caçar.

Quando da demarcação da área de Volta Grande, a área anexa foi interditada para futuros procedimentos, Mas ainda não havia "brancos". Posteriormente, Moacir de tal, Ernest Roaro e o filho dele Luiz Carlos invadiram ilegalmente a área interditada, infringindo a legislação em vigor. Se hoje um novo GT vem fazer levantamento, é apenas um procedimento repetitivo, pois isso já foi feito.

Quem fica mal nesta situação, são os invasores, que se dizem prejudicados. Mas prejudicados estão os índios, pois a estes foi vetado fazer aldeia nesse território, proibição esta que os invasores, indevidamente, não respeitaram.

Podemos perguntar-nos, até quando a prepotência dos invasores ainda pode merecer reconhecimento legal? Quando é que o estado de direito vai prevalecer, e os direitos garantidos pela Constituição de 1988?

Quem está fazendo pressão encima do governo, precisa afirmar-se contra a lei. Honestamente, a reação dos índios é muito pequena em comparação com a agressão havida. Os tais fazendeiros fariam muito mais estrago do que até agora, se por acaso fossem lesados em seus direitos legítimos. Mas existe ainda a justiça legal nesta região, neste Estado, neste País? A interceptação do GT, citada como triunfo pelo jornalista, mostra o estado de ilegalidade em que se move o movimento de alguns fazendeiros da região, sua prepotência acima de qualquer lei.

O clima de miséria atual

Por duas vezes, o jornalista fala do "clima de miséria atual". É verdade, só quem não conhece os Xavante, pode afirmar isso, fruto de seus preconceitos muito bem nutridos. O Xavante não vive na miséria em seu território, mas do seu trabalho, feito com muito sacrifício. Basta ver os filhos pequenos com sua saúde, fruto de uma alimentação tradicional. A miséria começa quando os índios são obrigados a viver da miserável alimentação adquirida por preços exorbitantes nas cidades vizinhas. Aí começa sua miséria.

Aliás, os Xavante tem um grupo de 60 acadêmicos na universidade estadual em Barra do Bugres e II acadêmicos na UCDB de Campo Grande MS. Isso só para mostrar o nível avançado de seus estudos, sem contar com as escolas de primeiro e segundo graus nas hoje já 130 aldeias. Esse fato comprova que a atuação de ONGs não consiste em mantê-los na miséria, se é que assim se pode falar. Antes, seu alto nível de escolarização só pode ser expressão da melhoria da qualidade de vida. Duvido que os vizinhos podem competir com esse nível de escolarização.

O índio vive bem, se pode trabalhar para o seu sustento em seus territórios tradicionais. Na miséria, na verdade, está a grande maioria da população regional, que está progressivamente sendo excluída a posse de um pedaço de terra para prover o seu sustento. Esta miséria, aliás, é resultado da ganância de uns poucos latifundiários.

O fantasma das ONGs

O distinto jornalista está falando de fantasmas ou de fatos? Se há ONGs do tipo citado, deveriam ser nomeadas explicitamente, pois os genérico é fantasioso. Aliás mais uma vez se manifesta um preconceito nesta afirmação, pois se ele conhecesse de perto algumas dessas ONGs que não vivem na clandestinidade, mas têm registro em cartório e agem legalmente, e as atividades promocionais desenvolvidas, poderia fazer muitos artigos de teor bem diferente.

O verdadeiro perigo não vem do apoio sem interesses políticos e fundiários de ONGS, sejam elas nacionais ou estrangeiras. Mas vem certamente da destruição gananciosa das riquezas da Amazônia, que faz converter o ar 2/3 da poluição nacional, pelas derrubadas sempre mais consistentes das inatas amazônicas. Esses latifundiários não calculam a vida daqui a 10 e vinte anos, sem para seus filhos e netos. O nível das águas da Amazônia mostra os enormes prejuízos causados. Acusar ONGs nacional e estrangeiros é apenas uma tentativa de ocultar os verdadeiros desastres ecológicos e humanos, O rombo está sendo encoberto na caça de migalhas.

Falta o primeiro cadáver, de uma ou outra parte

Na verdade, na história comentada, já houve duas vítimas fatais, em clima de crime perfeito. Mais uma vez, o índio, o mais fraco levou a pior, e os poderosos envolvidos ainda se fazem passar por pessoas de direito. A guerra já foi começada, não pelos indígenas, mas pelos invasores, desde que começaram a usurpar direitos seculares. Não vale apagar o passado, para dizer que a partir de 1980 começa a história, quando muitos deles chegaram a esta região.

A presença estrangeira

É verdade, que há estrangeiros nas áreas indígenas, movidos por sentidos humanos e em defesa de quem não tem direito. Graças a estas pessoas, muitos povos indígenas não foram extintos.

Mas presença estrangeira? Para onde que vai a soja do latifúndio? Não vai para o estrangeiro? Para onde vai o muito gado? Não vai para o estrangeiro, para o Brasil comprar a carne importada para sua alimentação? Com um pouco de senso crítico poderíamos concluir que estamos sendo escravizados em beneficio do estrangeiro. Esta presença estrangeira, que nos submete aos seus critérios, até de transgênicos, para ficarmos cada dia mais dependentes, essa presença é escandalosa de verdade.

Estado de direito

Falando dos mesmos Xavante, podemos lembrar a área Marãiwatsédé, legalmente requerida, contestada diante dos tribunais, demarcada e..... e.... os verdadeiros donos legais estão proibidos de ocupar o seu território, ... "pelos poderosos". Até que os Xavante mostraram muita paciência em aguardar a burocracia dos brancos, que beira à mais clamorosa injustiça. Não é preciso que a área reconhecida e demarcada era do seu domínio incontestado antes da invasão dos novos ocupantes. Ainda há justiça? Ainda há esperança? Ainda há homens religiosos e tementes a Deus? Ou vale o princípio adotado para invadir o Afganistão e o Iraque, em base a fantasmas e mentiras. Não estamos longe disso.




9. Agenda


04-08 agosto 2003, em Luziânia: Assembléia Nacional do CIMI


22-24 agosto 2003, em Luziânia: Seminário de inculturação da Liturgia

entre os Indígenas, pela CNBB e CIMI = transferido para 06-08/04/04


27 agosto 2003, em Barra do Garças (9oohs a 12oohs): Pastoral Indígena

Diocesana


28 agosto 2003, em São Marcos (8oohs a 17oo hs): Reunião da Pastoral

Indígena da Região 111 da Diocese de Barra do Garças


29 agosto 2003, em Marcos (8oohs a 17oo hs): Reunião de Missionários

SDBEFMA.


08-12 setembro 2003, em Luziânia: Encontro de Teologia Índia, ANDRI-CIMI.


14-17 setembro 2003, em Luziânia: Encontro sobre Auto-sustentação, ANAS-ANDRI.


24-27 novembro 2003, em Luziânia: Encontro sobre índios na Cidade, CIMI.


14-21 dezembro 2003, em Luziânia: Atualização de Missionários, CIMI-Nacional

1Cf. Ernesto FARlA. Dicionário escolar latino-português. verbete colere.

2Cf. Waldenyr CALDAS. Cultura p.11.

3Edward Burnett TYLOR PRIMITIVE CULTURE in: Mauricie FREEDMAN. Antropologia Social e cultural. p. 38; cf. ainda: Roque LARAIA. Cultura, um conceito antropologico; cf. Roque LARAIA. O conceito antropológico de cultura p. 776; cf. ainda Paulo Menezes. As origens da cultura, in: Sintese N.f. XV/542 jun.abr.1998, p. 16 cita o texto no original inglês; cf.ainda: Adolfo COLOMBRES. La colonizaciòn cultural de la América indígena, p.10.

4Cf. Clifford GEERTZ. A interpretação das culturas. p.14

5Cf. Luis Campos MARTINEZ. Utopia somos nosotros-antropologia.p.127; cf.ainda Adolfo COLOMBRES. La colonizaciòn cultural de la América Indigena. p. 11: segundo este autor, foi Morgan que evoluiu mais neste sentido cultural.

6Cf. Reinholdo Aloysio ULLMANN. Antropologia: o homem e a cultura.p. 19.

7Cf. ibidem p.19-20.

8Cf.Roque LARAIA.Cultura,um conceito antropológico.p.36.

9Cf. ibidem.cf. Waldenyr CALDAS, cultura.p.12

10Roque LARAIA. Cultura, um conceito antropológico.p. 75

11Cf. ibidem p.69, 34-35, 18, 19; cd. Adolfo COLOMBRES. La colonizaciòn cultural de la América Indígena. p. 19, 34-35, como a prática latino-americana de colonialismo levou a efeito tal teoria; cf. Ralph LINTON. O homem, uma introdução à antropologia p. 328; cf. Aldo Natale TERRIN.in: NDL.p 114.

12Clifford GEERTZ. A interpretação das culturas.p. 75.