2013|pt|11: Dom Bosco Educador: “Põe-te imediatamente a instruí-los sobre a fealdade do pecado e A preciosidade da virtude”

DOM BOSCO EDUCADOR

PASCUAL CHÁVEZ VILLANUEVA


DOM BOSCO CONTA

11.


Põe-te imediatamente a instruí-los sobre

a fealdade do pecado e

A preciosidade da virtude”


Falar de Jesus Cristo, nestes dias, fazê-lo “ver” é difícil, mas não impossível. Os jovens parecem distraídos por mil coisas, parecem quase inacessíveis sobre temas religiosos. Mas é uma impressão apenas superficial. No meu tempo, assim como hoje, o problema não era tanto falar de Jesus, mas o modo, o tom, a abordagem. Poderá parecer-te estranho, mas alguns dos meus contatos com os jovens não se deram na sacristia ou à sombra do campanário. Tudo diferente disso! Muitos encontros começaram nas praças de Turim ou em alguma dos muitos becos de seu centro histórico.

No início do meu apostolado sacerdotal, meu amigo padre Cafasso, que eu escolhera como diretor espiritual, tinha-me dado um conselho de ouro: “Caminha pela cidade, olha ao teu redor”. Eu devia encontrar os jovens no seu ambiente, encontrá-los aonde eles se reuniam. Se os tivesse esperado na igreja, teria perdido um tempo precioso e mil ocasiões. Devia encontrá-los no “território” deles, em campo aberto. Valia a pena tentar…


Uma batina preta

À primeira vista, eram grosseiros, levianos, às vezes violentos, levados facilmente à briga e ao uso da faca. “Olhando ao meu redor” encontrei muitos jovens. Parecia-me que andassem em busca de alguma forma de diversão porque, no fundo, não sabiam alegrar-se. Gargalhavam, mas não sorriam. Depois de um palavrão ou uma blasfêmia, depois de uma bravata que desencadeava momentâneos alvoroços de gritos e risadas, caía improvisamente um silêncio irreal, o vazio. Então, depois de um momento em que eu devia passar por cima de atitudes e palavras, cabia-me iniciar o bate-papo. Ficavam curiosos, mas não me pareciam aborrecidos pela presença de uma batina preta; muitas vezes, acabava-se num boteco diante de uma ou mais garrafas de vinho. Aquilo que, aos olhos dos “sábios” parecia falta de decoro eclesiástico, era para mim ocasião admirável que não podia perder por nada neste mundo. Interessava-me por suas vidas, perguntava sobre suas famílias, ficava sabendo se e onde trabalhavam; depois, lançava uma pergunta sobre a vida cristã e terminava convidando-os a irem ao oratório, quem sabe só para dar uma olhada. Na maioria das vezes, a coisa funcionava. No domingo seguinte encontrava a todos ou quase todos, um deles na fila para receber o pãozinho com a infalível fatia de salame, outro para cumprimentar-me ou dizer-me alguma coisa; outro ainda até mesmo para se confessar. Eu sabia que ia contra a corrente e criava algum mal-estar também entre alguns de meus colegas padres. Mas eu precisava dos jovens. Não porque – e alguns já o diziam no meu tempo – eles eram o futuro da sociedade, e nem sequer devido a um paternalismo aguado porque me davam pena e mereciam algo melhor. Eu tinha necessidade de amá-los, escutá-los, dedicar-lhes atenção e respeito.

Vivendo entre eles, convencia-me sempre mais de que os jovens buscavam respostas, queriam um encontro verdadeiro e sério com o mundo adulto; não queriam pessoas apenas com o dedo em riste contra eles, em sinal de desaprovação ou, pior, de condenação. Buscavam adultos capazes de “provocá-los”, de estimulá-los. Mas, sobretudo, capazes de entendê-los e amá-los. Por isso, queriam os adultos no seu cotidiano, não só por um momento; exigiam tempo, muito tempo. Sem pressa. Sem cerimônia. Com os jovens, eu aprendia a ser amigo deles, como aprendera a “ser padre” nos tempos do Colégio Eclesiástico. Trabalhar com e pelos jovens significava, para mim, realizar um ideal apaixonante que acariciava a vida toda. Entendia que a única nostalgia possível era a nostalgia do futuro, isto é, da esperança. Para alcançar esse ideal, eu dizia: “É preciso que procuremos conhecer os nossos tempos e nos adaptarmos a ele”. Não por fatalismo, não por falta de objetivos, mas porque lhes apresentava a vida como caminho de liberdade que deve ser conquistada dia a dia; e porque deviam saber aceitar e enfrentar a luta, o desafio. Recordava-o muitas vezes aos meus jovens: “A sabedoria é a arte de bem governar a própria vontade”.


Deus o queria

Aos melhores, aos mais generosos, eu acrescentava: “Não percam tempo, façam o bem, façam-no muito e jamais se arrependerão de tê-lo feito”. Com um pouco de desafio, dizia: “Se um pobre padre, com nada ou com menos de nada, perseguido por todos, pôde levar as coisas ao ponto em que estão agora, que bem o Senhor não esperará de 330 indivíduos saudáveis, robustos, de boa vontade, cheios de ciência e com os meios poderosos que agora temos nas mãos?”. Esta última frase merece uma explicação. Recordo-me muito bem de quando a pronunciei: foi no início de 1876, durante a reunião anual com os diretores das casas. Tinha ouvido estes meus colaboradores, salesianos que, ainda jovens, eu acolhera anos antes em Valdocco. E encantaram-me as muitas belas coisas que estavam fazendo em várias cidades da Itália, da França e da Argentina.

Tudo tinha começado 30 anos antes no pequeno telheiro Pinardi. Com o coração cheio de emoção e de reconhecimento, revivia a experiência iniciada tendo minha mãe ao lado: “O que havia aqui, onde nós estamos agora reunidos? Nada, realmente nada! Neste lugar e nos arredores havia campos semeados com milho, repolho, algum jardim, e nada mais. Um casebre, ou melhor, um tugúrio, ou uma taberna surgia no meio, miserável ao vê-la de fora, mais miserável dentro. E, além de tudo, era casa de imoralidade. Eu corria de um lado para o outro atrás dos jovens mais indóceis, mais dissipados; eles, porém, não queriam saber nem de ordem nem de disciplina, riam das coisas da religião, das quais eram muito ignorantes, blasfemando o nome santo de Deus, e eu nada podia fazer... Um pobre padre, sozinho, abandonado por todos, antes pior do que sozinho, porque desprezado e perseguido: tinha um pensamento vago de fazer o bem, aqui, justamente neste lugar, e fazer o bem aos pobres rapazes. Era este o pensamento que orientava todos os meus passos, todas as minhas ações. Eu queria fazer o bem, fazer muito bem, mas fazê-lo aqui. Parecia, então, um sonho o pensamento do pobre padre, mas Deus realizou, cumpriu os desejos daquele pobrezinho... Pessoalmente, eu não posso explicar como as coisas aconteceram. Isto eu sei: Deus o queria”. E foi esta a esperança, feita de confiança e de prudência, que me sustentou nos inícios tão delicados e difíceis.

Os jovens que conheci, os jovens que encontrei e que fizeram parte da minha vida pediam, sonhavam um ideal. Quem chegasse primeiro haveria de conquistá-los. Eu me convencia sempre mais de que se não conseguisse fazer alguma coisa por eles naquele exato momento, outros o haveriam de fazer amanhã e nos teriam roubado a juventude. Depois de ter gasto a vida por eles, posso afirmar que não se pode generalizar, acusando-os de falta de entusiasmo, como se todos fossem gente sem coração. Nós educadores não podemos fazer estas afirmações porque sabemos que não são verdadeiras. O jovem, de ontem como o de hoje, torna-se preguiçoso e se entorpece quando faltam os ideais. Eles não têm amor pelo sacrifício porque o sacrifício é-lhes apresentado sem amor. Ora, quem melhor do que um padre, quem melhor do que um educador com fé pode oferecer um ideal digno e suficiente aos jovens? Tudo o que há de bom, de justo, de nobre e de belo nas outras ideologias está sempre presente no cristianismo. Eis porque, apoiado em S. Francisco de Sales, tive a alegria de oferecer aos jovens uma forma de humanismo elevado ao infinito. Eles conseguiam entende por si mesmos a “fealdade do pecado” quando lhes era apresentada a “beleza da virtude”.




4