2019|pt|11: O sonho missionário continua

A MENSAGEM DO REITOR-MOR

Pe. ÁNGEL FERNÁNDEZ ARTIME


O SONHO MISSIONÁRIO CONTINUA


Vi coisas que pareciam impossíveis: homens e mulheres dar quotidianamente a vida em florestas e desertos terríveis ou em periferias diariamente dilaceradas pela violência.

Anunciando Jesus com o evangelho simples e silencioso na vida quotidiana.


O sonho missionário do título, amigos do carisma salesiano, é o grande sonho missionário de Dom Bosco. Desde os primeiros anos da fundação da pequena e frágil Sociedade de S. Francisco de Sales (Salesianos), enviou os primeiros missionários para a Argentina (1875) para que se ocupassem dos milhares de emigrantes italianos que ali tinham chegado, mas com o profundo desejo de que, o mais depressa possível, fossem evangelizar as populações indígenas da Patagónia.

Em um dos seus maiores e proféticos sonhos missionários, Dom sobrevoa o mundo juntamente com alguns dos seus jovens, guiado por uma pastorinha. Os jovens leem os cartazes das cidades que desfilam por de baixo deles: Valparaíso, Santiago, depois montanhas, colinas e mares e Pequim!, gritam todos ao mesmo tempo.

«Bem», diz a Pastorinha, «Agora traça uma linha única de uma extremidade à outra, de Santiago a Pequim, marca-lhe um centro no meio da África e terás uma ideia exata daquilo que os Salesianos devem fazer». «Mas como posso fazer tudo isto?», exclama Dom Bosco, «As distâncias são imensas, os lugares difíceis e os Salesianos poucos». «Não te preocupes. Farão isto os teus filhos, os filhos dos teus filhos e os filhos deles».

Pois bem, aqueles filhos somos nós e aquele sonho missionário continua vivo, muito vivo. E nós estamos dentro do sonho.

Dom Bosco, se estivesse fisicamente presente no meio de nós, sentir-se-ia muito feliz, e mostrar-no-lo-ia com o seu longo e inesquecível sorriso, vendo como as suas duas grandes congregações – os Salesianos de Dom Bosco, e as Filhas de Maria Auxiliadora – continuam a ser missionárias e partem para os horizontes que ele tinha sonhado com levas sucessivas para os países mais distantes. Muitas vezes, até atingir este ano a expedição nº 150.


Dez mil missionários


No passado dia 29 de setembro, na Basílica de Maria Auxiliadora, em Turim, 36 Salesianos de Dom Bosco e 12 Filhas de Maria Auxiliadora, no decorrer de uma comovente Eucaristia, receberam o crucifixo, como distintivo de “enviados” para quatro continentes.

Na homilia partilhei com todos uma informação que não é apenas curiosa, mas que tem um grandíssimo valor carismático e de identidade salesiana. Informei que no Dicastério das Missões temos um livro em que estão registados todos os nomes dos missionários que partiram nas 150 expedições, e o primeiro nome é o de João Cagliero. O número total de salesianos até agora registados naquele livro é de 9.542 missionários, desde 1875. Mas sabemos que um milhar de outros foram enviados noutras circunstâncias, sem terem recebido oficialmente a cruz missionária em Valdocco. Não conheço o número das nossas irmãs missionárias Filhas de Maria Auxiliadora, mas são certamente vários milhares.

Poderá então haver a menor dúvida sobre o carisma missionário das duas Congregações fundadas por Dom Bosco? Certamente que não. Nascemos como religiosos e religiosas para os jovens, para os rapazes e as raparigas do mundo inteiro, especialmente para os mais pobres e necessitados dentre eles, mas também para ser evangelizadores e missionários onde há mais necessidade de nós.

Sabem-no bem os irmãos e as irmãs que receberam a cruz em Valdocco no mês passado, como missionários de Jesus onde houver necessidade deles. E esta certeza traz-me ao coração tantos rostos e tantos nomes de irmãs e irmãos missionários que encontrei em todo o mundo nestes quase seis anos. Sempre no meio dos mais pobres e humildes dos cinco continentes.

Vi coisas que pareciam impossíveis: homens e mulheres dar quotidianamente a vida em florestas e desertos terríveis ou em periferias diariamente dilaceradas pela violência. Anunciando Jesus com a palavra e muitas vezes sem a palavra, porque não podem anunciá-l’O, mas com um testemunho exemplar, com o Evangelho simples e silencioso vivido na vida quotidiana.

Encontrei irmãs e irmãos que, por motivos de fé, estiveram em várias prisões por mais de trinta ou quarenta anos. Encontrei irmãos que foram mártires da fé numa morte insensata e injusta, como os dois últimos mártires missionários salesianos espanhóis (P. César António Fernández, e P. Fernando Hernández, ambos mortos no Burkina Faso).

Hoje, os nossos irmãos e irmãs continuam a ser missionários em toda a América, na Amazónia e em toda a cordilheira montanhosa dos Andes; missionários na África. Missionários na Mongólia, na Europa de Leste, no Nepal e em tantos lugares da Ásia, em quase toda a Oceania… e continuamos a receber pedidos de todas as partes do mundo para ter a presença dos filhos e das filhas de Dom Bosco.

Graças também a vós pelo vosso afeto, a vossa simpatia e também pela vossa generosidade quando há necessidade de alguma coisa para os mais pobres. Juntos podemos ajudar muitos mais e alargar muito o âmbito da nossa caridade.

Que o bom Deus vos abençoe a todos.