2017|pt|10 Com raízes, flexíveis e enchendo-nos do essencial

Saudação do Boletim Salesiano


COM RAÍZES, FLEXÍVEIS E ENCHENDO-NOS DO ESSENCIAL


Amigos leitores e membros da querida Família Salesiana, recebam as minhas cordiais saudações.

A acompanhar a apresentação deste número do Boletim Salesiano, quero partilhar convosco uma reflexão que me surgiu da realidade da vida e, mais em concreto, como lição da natureza.


Trata-se do seguinte. No mês de julho tive ocasião de viver uma semana de serenidade e de paz num retiro espiritual (exercícios espirituais), juntamente com os restantes membros do Conselho Geral. O lugar em que nos encontrávamos era o mosteiro vallombrosiano de -justamente- VALLOMBROSA. Um lugar muito simples, sóbrio, situado em plena montanha, a mil metros de altitude. Um lugar fresco que convidava à oração, no meio de uma floresta de abetos, muitos deles com mais de vinte metros de altura. De facto, é uma das massas florestais mais importantes da Itália.


Ali aprendi uma lição de biologia que me impressionou. Já tinha reparado que aqueles abetos eram muito altos, quase poderia dizer-se que eram descomunalmente altos e muito direitos. E a copa deles é muito reduzida, com pouca rama e pouca folha. Quase me atreveria a dizer que tinham o essencial para poder viver realizando as funções próprias das folhas e continuar a crescer.


Perguntando a um especialista as razões de tal singularidade, disse-me que aqueles abetos e naquele lugar tinham três caraterísticas muito especiais. São estas: eram árvores que tinham raízes muito profundas, tronco muito flexível e copa (ramagem e folhas) muito pequena.

Perguntando-lhe a razão disto, deu-me uma explicação que me encantou.

- As raízes profundas são muito necessárias a cada abeto para poder encontrar humidade e água, por maior que seja a seca à superfície, por vezes com verões abrasadores, mesmo na montanha.

- O tronco alto (mesmo com 25 metros de altura em muitos deles, segundo me dizia), tem de ser muito flexível para poder bambolear, oscilar ao sabor do vento. Sem essa flexibilidade, sobretudo com tanta altura, facilmente se partiriam se fossem mais rígidos.

- Por último, ter a copa tão pequena é, poder-se-ia dizer, um elemento de evolução natural para que nas grandes nevadas os ramos não se quebrem. Se fosse muito larga e com muita ramagem, sem dúvida que o peso da neve quebraria muitos ramos pondo em perigo todo o abeto.


Fiquei maravilhado. Com esta explicação e mais que evidente.

E disse comigo: Que metáfora incrível, que lição de vida da natureza para nós humanos!

Pensei de imediato em nós. Se conseguirmos viver com estas três caraterísticas, isto é, com grande profundidade e interioridade que nos permita encontrar a ‘água fresca’ da serenidade, da calma, da paz, mesmo nos dias mais difíceis, nos momentos de dor ou de desgosto, não ficaremos arrasados.

Se formos capazes de ser flexíveis no essencial, de ser versáteis quando o que está em jogo é importante, quando substituímos a intransigência pelo diálogo, pela escuta, pela paciência e pela proximidade que nascem do amor, não quebraremos facilmente.

E se de verdade buscarmos o essencial, isto é, o autêntico, o que nos é mais imprescindível e que mais nos enche, muitas outras coisas passarão a ser absolutamente relativas e sentir-nos-emos mais realizados, mais enriquecidos e mais cheios em todos os sentidos.


Parece-me que esta lição da natureza é muito oportuna neste ano em que tanto convidamos as famílias a ser, justamente, famílias que hão de ser escola de vida e de amor. Isto é válido para as relações pessoais, para os vínculos no seio da família, para a educação e acompanhamento dos filhos. É válido para todas as relações de afeto e de amizade. Parece-me até oportuno para os espaços de trabalho. Enfim… para onde estiver em jogo quem somos e como somos e como nos desenvolvemos.

Creio que não esquecerei facilmente esta lição sempre que olhar para um bosque, especialmente de abetos altos e direitos.

Ao mesmo tempo que renovo as minhas cordiais saudações, convido-os a deixar-se surpreender, se não levam a mal, por esta bela lição da natureza. Que linda marca o Criador deixou nisto!

Sejam felizes.