301-350|pt|321 - Os Ex-Alunos de Dom Bosco


Viganò Egídio



OS EX-ALUNOS DE DOM BOSCO



Atos do Conselho Geral

Ano LXVIII – abril-junho, 1987

N. 321



Roma, Solenidade de S. José, 19/03/1987


Introdução — O art. 5º das Constituições — A “educação recebida” 17 anos com Dom Bosco — Pe. Rinaldi inspirador e organizador — Ex-alunos “de Dom Bosco” — Os valores da educação salesiana — Vários graus de assimilação dos valores — Algumas modalidades de participação dos Ex-alunos na missão de Dom Bosco — A tarefa das Comunidades salesianas — Importância vital da espiritualidade — Conclusão.


Queridos irmãos,


tenho a alegria de vos transmitir uma especial saudação e a bênção apostólica do Santo Padre. De fato, na sexta-feira, 13 de fevereiro, o Reitor-Mor e todo o seu Conselho foram recebidos em audiência particular pelo Sumo Pontífice. Quisemos agradecer à Sua Santidade aquilo que nos concedeu para as celebrações centenárias do ‘88: de maneira particular pelo Breve Apostólico relacionado ao especial “Ano de graça” e pela promessa de uma sua viagem a Turim nos primeiros quinze dias do mês de setem­bro de 1988. A audiência desenvolveu-se num clima familiar de diálogo amigo, em que pudemos constatar novamente a predileção do Papa pelos jovens, a sua profunda admiração por Dom Bosco e o paterno apreço que tem pela nossa Congregação e toda a Família Salesiana. Ficou contente em conhecer o número dos membros da Família. Entre os vários comentários feitos sobre as pessoas e as atividades, lembrou-nos que nós somos “carismáticos dos jovens” e, na despedida, repetiu sorrindo que devemos sê-lo sobretudo no tempo atual de mudanças culturais. Foi uma signi­ficativa antecipação de forte espiritualidade e eclesialidade com que esperamos comemorar o acontecimento centenário.

Com esta encorajadora audiência concluiu-se também a sessão plenária do Conselho Geral, reunido desde o dia 1º de dezembro por mais de dois meses de trabalho. Pudemos, entre outras coisas, examinar, debater e aprovar mais de 40 Capítulos inspetoriais. Foi consolador constatar a seriedade e a consistência com que foram elaborados os Diretórios inspetoriais. Estou me conven­cendo cada vez mais que Deus nos quer bem e nos acompanha para lançar alicerces sólidos com vistas a um futuro melhor.

Preparar-nos-emos para expressar o nosso agradecimento a Deus Pai, todos juntos, com um ato particularmente significativo. No dia 14 de maio de 1988 — como está anunciado neste número dos Atos, à pág. 32 — renovaremos (nas Inspetorias e nas Casas) a nossa Profissão religiosa. É um sábado do Mês de Nossa Senhora Auxiliadora: lembra o aniversário da Profissão salesiana de Dom Bosco e dos seus primeiros jovens escolhidos de Val­docco. Naquele dia a Congregação sentir-se-á espiritualmente renovada e pronta para enfrentar os novos tempos com o mesmo ardor e a mesma audácia inventiva do Fundador. Tomemos conhe­cimento disto desde já e comecemos a trabalhar, pessoal e comunitariamente.1



O artigo 5º das Constituições



A Lembrança deste ano (espero que tenhais meditado o comentário) nos convida a intensificar a comunhão e a ação da Família Salesiana em preparação ao ‘88 (e mais além) como um verdadeiro “Movimento eclesial” de missionários dos jovens. Na Família, os vários grupos consagrados já possuem seus textos e subsídios, nascidos da renovação conciliar, e que poderão guiá-los a uma maior autenticidade. Recentemente os Cooperadores elabo­raram o novo texto do seu Regulamento de Vida Apostólica, do qual vós, queridos Irmãos, espero tenhais todos recebido uma cópia. Também já fostes animados com uma carta circular minha, dedicada a fazer compreender melhor o pensamento de Dom Bosco neste assunto e assumir pessoal e comunitariamente a responsa­bilidade da sua animação.2

Agora desejo refletir e aprofundar juntamente convosco a importância dos Ex-alunos, a natureza de sua Associação e a razão específica de sua pertença à Família e, portanto, à missão de Dom Bosco.

Considero este tema importante na renovação da nossa Con­gregação. Cada irmão precisa refletir sobre ele, e as comunidades inspetoriais e locais estão convidadas a rever e relançar a sua concreta corresponsabilidade para a animação e a revitalização desta imensa e prometedora Associação.

O coração e a atividade do salesiano não podem de fato se esgotar dentro da própria casa. As reflexões que vos apresento podem ser consideradas um aprofundamento e um desenvolvi­mento, seja da circular sobre a Família Salesiana3 seja da circular sobre a promoção do Leigo.4

Ponto de partida e de referência é o art. 5º das Constituições que afirma que os Ex-alunos fazem parte da Família Salesiana. Apresenta como base de sua pertença a educação recebida; esta educação faz nascer neles, de fato, níveis diferentes de participa­ção mais ou menos estreita com a missão salesiana no mundo. O recente “Guia à leitura das Constituições salesianas” observa que “os Ex-alunos estão particularmente preparados, justamente pela educação recebida, para assumir uma responsabilidade de colaboração de acordo com as finalidades próprias do projeto salesiano. A escolha evangelizadora feita por muitos deles não é alternativa ao título de “educação recebida”, mas uma sua expres­são privilegiada: não constitui, portanto, um título diferente para aplicar a uma espécie de novo Grupo”.5 Penso que a afirmação do art. 5º necessita de uma consideração mais atenta de nossa parte; servirá para nos lembrar alguns compromissos concretos que não podem ser esquecidos e que exigem de nossa parte clareza de visão, consciência e responsabilidade.



A Educação recebida



O título de pertença dos Ex-alunos à Família Salesiana “pela educação recebida” é denso de conteúdos e carregado de valores. Incentiva-nos a um amplo exame de consciência sobre a nossa atividade educativa e pastoral. Um olhar à história das origens revelar-nos-á sua importância, indicando-nos os vínculos que nas­cem de uma autêntica pedagogia salesiana.

A Associação dos Ex-alunos não teve diretamente um “fun­dador”; como escreve o Pe. Ceria, ela nasceu “com a força das coisas que têm origem e vida a partir de causas naturais e espon­tâneas”;6 brotou do espírito de família do Sistema Preventivo no Oratório de Valdocco. O próprio Dom Bosco escreveu que o seu estilo de educação “granjeia a amizade do menino, (e faz com que o educador possa) falar-lhe com a linguagem do coração, quer no tempo da educação, quer depois (também quando o antigo aluno) estiver em qualquer trabalho, emprego público ou no comércio”.7 É um método educativo que levou a profundas mudanças de comportamento (por ex., Miguel Magone), a buscar o ideal da santidade (por ex., Domingos Savio) e a uma perma­nente comunhão de ideais e de sentimentos com os educadores ao longo de toda a vida (eis, por ex., os Ex-alunos). A atmosfera de convivência, de alegria, de promoção e de amizade respirada por jovens de todas as culturas e condições sociais diferentes, possui em si a força de criar entre educadores e alunos uma espécie de parentesco espiritual com laços de mútuo apreço, de afeto, de ideais de vida que se prolongam no tempo.

Os alunos sentiam-se amados por Dom Bosco, não como simples discípulos, mas como filhos; e, portanto, uma vez adultos, nasceu entre eles o pensamento natural de voltar à casa paterna. Assim continua a se reproduzir esta volta espontânea às Casas de educação onde se planta aquele ‘sentido reverencial’ percebido pelos Ex-alunos e se trabalha com o mesmo espírito e método de Dom Bosco. O Movimento dos Ex-alunos não foi, portanto, insti­tuído pelos educadores como associação pós-escolar com elemen­tos escolhidos, com finalidade associativas, mas nasceu esponta­neamente”, pela vitalidade de um Carisma que está em suas raízes.8



17 anos com Dom Bosco



O Grupo dos Ex-alunos começou a se articular quando ainda vivia Dom Bosco. Os primeiros inícios podemos situá-los em 1870, no dia de sua festa, a 24 de junho. Naquele ano reuniram-se oficialmente uma dúzia de antigos alunos; escolheram como líder o simpático e generoso Carlos Gastini, que sempre considerou o Oratório a sua segunda família; comprometeram-se a buscar um maior número de participantes; escolheram depois uma comissão para melhor organizar aquelas manifestações anuais de afeto e gratidão.

Assim a festa aumentou de ano para ano, tornando-se um verdadeiro triunfo da gratidão. Alguns anos depois, foi preciso dividir a manifestação em dois encontros: no domingo para os Ex-alunos leigos, e na quinta-feira para os Ex-alunos sacerdotes. Estes últimos eram um bom número e com eles o bom Pai insistia continuamente para que cuidassem da juventude.9 Aos poucos, depois da morte de Dom Bosco, dividiram-se em grupos locais, em uniões e sociedades, e até numa verdadeira organização, promovida pelo Pe. Filipe Rinaldi.

O período de 1870 a 1888, ou seja, os 17 anos de relações diretas com Dom Bosco vivo, são para nós um momento privile­giado sobre o qual refletir; podemos perceber com maior clareza o significado do título de pertença à Família Salesiana “pela educação recebida”.

Sabemos o quanto Dom Bosco amava os seus alunos; termi­nado o seu currículo educacional, não os esquecia; seguia-os, ajudava-os, convidava-os, reunia-os, encorajava-os, orientava-os ainda, corrigia-os se fosse preciso, preocupava-se com o seu bem-estar sobretudo espiritual. “Vejo — disse ele num daqueles numerosos encontros — que muitos de vós já perderam os cabe­los e a fronte está enrugada. Não sois mais aqueles garotos que eu gostava tanto; mas sinto que vos amo mais do que no passado, porque com a vossa presença me assegurais que estão firmes em vossos corações aqueles princípios da nossa santa religião, que eu vos ensinei e que são orientação segura em vossas vidas. E depois vos amo ainda mais, porque me fazeis ver que o vosso coração é sempre de Dom Bosco... (e vos asseguro) que sou todo vosso no trabalho e no pensamento, em toda minha ação. Vós éreis um pequeno rebanho: este cresceu muito, mas multiplicar-se-á ainda. Vós sereis luz que brilha no meio do mundo, e com o vosso exemplo ensinareis aos outros como se deve realizar o bem e detestar e fugir do mal. Estou seguro de que vós conti­nuareis a ser a consolação de Dom Bosco”.10

E numa outra ocasião: “Uma coisa mais do que tudo vos recomendo, ó meus queridos filhos, e é esta: em qualquer lugar vos encontreis, sede sempre bons cristãos e honestos cidadãos... Muitos de vós já têm família. Então, aquela educação que recebestes no Oratório de Dom Bosco, comunicai-a aos vossos fami­liares”.11

Naquelas reuniões dos antigos alunos o querido Pai — asse­gura o cônego Berrone — “nunca deixava de exortá-los a serem perseverantes em alimentar no meio da sociedade o espírito do Oratório; e muitos o procuravam nessas ocasiões para lhe pedir conselhos”.12

Em 1883, durante a sua viagem a Paris, o próprio Dom Bosco, falando do seu método educativo, respondeu a quem manifestava algumas dúvidas com relação à perseverança dos jovens apren­dizes, uma vez saídos do Oratório e inseridos no exército ou no mundo do trabalho: “...em Turim — disse — no sábado à noite e no domingo de manhã, são muitos que vêm se confessar. No exército italiano todos sabem que os jovens vindos das nossas escolas são praticantes; de fato chamam-nos os ‘Bosco’. Encontram-se em todos os escalões do exército”.13

E no dia 26 de julho de 1884, quase como última lembrança, recomendava aos antigos alunos: “Em qualquer lugar onde fordes ou estejais, lembrai-vos sempre que sois os filhos de Dom Bosco, os filhos do Oratório... Felizes vós se nunca esquecerdes aquelas verdades que eu procurei esculpir em vossos corações quando éreis jovens”.14

Também nas outras casas salesianas recém-fundadas verificava-se aquela comunhão de vida, graças à educação recebida. Assim, por ex., lemos que na cidade de Montevidéu, sob a direção do Pe. Lasagna, que aí levou o espírito do Oratório, muitos jovens, “seja quando saíam de férias, seja quando deixavam o colégio, iniciavam em suas casas verdadeiros oratórios festivos”; e assim surgiu uma organização de oratórios, dirigida pelo ex-aluno Dr. Lenguas, com um pequeno Regulamento, cujo título sugestivo era “Oratórios festivos de Montevidéu, dirigidos pelos Ex-alunos do Colégio Pio”.15

Durante os anos de contato direto com Dom Bosco encontra­mos duas iniciativas particularmente significativas em favor dos antigos alunos.

A primeira é do ano de 1876, quando Dom Bosco pôde final­mente lançar a Pia União dos Cooperadores Salesianos, depois de longos anos de experiências e projetos. Ele dava muita impor­tância a este seu trabalho de Fundador e convidava os antigos alunos mais comprometidos a se filiarem nesta Pia União. Numa das manifestações dos antigos alunos que vieram depois daquela data, Dom Bosco dirá: “A proposta de incentivar alguém entre vós no incremento da Obra dos Cooperadores Salesianos, é uma proposta das mais bonitas, porque os Cooperadores são o sustento das obras de Deus, através dos Salesianos..., é (uma Obra) feita para sacudir do marasmo em que estão tantos cristãos e espalhar a energia da caridade”.16 Assim, em 1877 — como escreve o Pe. Favini (em: Dom Bosco e os Ex-alunos) — “os Cooperadores se apresentaram oficialmente pela primeira vez; ...e como os anti­gos alunos se esmeravam em filiar-se à Pia União (como afirma uma carta do cónego Anfossi: MB 13,612), estavam eles certamente entre os primeiros (na manifestação dos Ex-alunos)”.17

A segunda é do ano de 1878: Dom Bosco propõe aos antigos alunos uma “Sociedade de mútuo socorro” para enfrentar as difi­culdades: “fazei que esta vantagem não se limite somente a vós, mas se estenda a todos aqueles jovens de boa conduta que saem do Oratório, aos colegas que vós conheceis e a todos vós que estais aqui reunidos”.18 Carlos Gastini, chefe dos antigos alunos, preocupou-se logo com a organização, utilizando um estatuto esboçado anos antes pelo próprio Dom Bosco para uma instituição seme­lhante entre os jovens operários.19

Dom Bosco, portanto, oferecia aos seus jovens a possibilidade de fazer frutificar “a educação recebida”, no grupo comprometido dos antigos alunos, na Pia União dos Cooperadores, na Vida sacerdotal e religiosa, ou na sua Congregação salesiana. O que interessa sublinhar é a importância que ele dava à fecundidade operativa da educação no Oratório.



Pe. Rinaldi inspirador e organizador



Depois da morte de Dom Bosco os antigos alunos continua­ram, com o Pe. Rua, as suas manifestações anuais, fazendo da festa do Reitor-Mor o grande dia da gratidão. A partir da época em que o Pe. Rua chamou a Turim o Pe. Filipe Rinaldi, que era Inspetor na Espanha, confiando-lhe o importante cargo de Vigário ou Prefeito geral (isto a partir do dia 1º de abril de 1901), os vários grupos dos antigos alunos tiveram um extraordinário ani­mador e válido organizador.

Durante os vinte anos de seu serviço como Prefeito geral o Pe. Rinaldi conseguiu articular as coisas com humilde discrição, fazendo aparecer em primeiro plano os antigos alunos ou algum irmão íntimo colaborador; e assim foi dando estrutura orgânica a um movimento de afetos, de gratidão, de ideais de vida que fizeram da “educação recebida” uma força mais viva e atuante.

Em 1906 fundou com os antigos alunos em Turim o “Círculo João Bosco”, que em breve tempo floresceu numa das melhores companhias teatrais salesianas e foi exemplo a outras organizações semelhantes.

Em 1907 a um irmão enviado à Espanha dizia: “Cuida muito bem dos Ex-alunos: são a nossa coroa; ou, se queres, são a nossa razão de existir, porque sendo nós uma Congregação educadora, é claro que não educamos para o colégio, mas para a vida. Por­tanto, a verdadeira vida, a vida real começa para eles quando deixam as nossas Casas”.20

Mas o Pe. Rinaldi, junto com a animação, previa o futuro e sentia a necessidade de uma organização, inspirando assim con­cretamente as modalidades da Associação. No dia 25 de junho de 1909 lançou a ideia de uma Confederação internacional; para promovê-la valeu-se da benemérita “Comissão dos Antigos Alunos de Dom Bosco”, que organizava desde os tempos de Gastini as manifestações anuais em Valdocco. A estrutura nasceu formal­mente no 1º Congresso Internacional dos Ex-alunos, em 1911, como Federação das várias uniões locais, círculos e sociedades. Até aquela data eram chamados “Antigos Alunos”; daí por diante (e também antes com o Pe. Rinaldi) chamar-se-ão “Ex-alunos”.

No mês de junho de 1912 organizou-se o “Conselho de direção” e foi nomeado o primeiro Presidente na pessoa do Prof. Piero Gribaudi. “Escreveu-se e com razão — comenta o Pe. Ceria — que este foi um fato novo na história da pedagogia”.21

Naqueles anos o Pe. Rinaldi, confessor das irmãs e grande animador do seu Oratório feminino, preocupou-se também com a organização das Ex-alunas das Filhas de Maria Auxiliadora para que crescessem e se estruturassem também elas numa federação.

Como Reitor-Mor interessou-se constantemente pelo bom funcionamento e pela vitalidade da União dos Ex-alunos, e sofria ao saber que nem todos os irmãos tinham compreendido sua importância, por isso a recomendava aos cuidados dos Inspetores e dos Diretores: “Alguns acreditam — disse numa reunião de 25 Inspetores e 300 Diretores em Valsálice, no ano de 1926 — que a Organização dos Ex-alunos seja uma obra inútil, e por isso a marginalizam. Lembro a esses que os Ex-alunos são o fruto dos nossos trabalhos. Nós em nossas casas não trabalhamos para que nos paguem a mensalidade, ou para obter que os jovens sejam bons somente quando estão entre nós, mas para fazer deles bons cristãos. Portanto a Organização é obra de perseverança: com ela queremos reintroduzi-los se por acaso se desviaram... nos sacrificamos por eles e o nosso sacrifício não pode andar perdido”.22

Encontrando-se certa vez num Congresso de Ex-alunos — afirma o Sr. Arturo Poesio — e “tendo sabido que estes estavam muito preocupados em como pagar as despesas de 1.500 liras, que era o custo do banquete, para não pesar de maneira alguma sobre as finanças do Colégio, o Servo de Deus, elogiando a atitude dos Ex-alunos, declarou que se uma Casa salesiana tivesse em caixa só 1.500 liras ele teria aprovado que fossem gastas no banquete dos Ex-alunos, porque nenhum sacrifício teria sido mais agradá­vel ao seu coração do que este de reunir ao seu redor os seus filhos”.23

Observa o Pe. Ceria: “foi afirmado claramente e com verdade que o Pe. Rinaldi ‘disciplinou com genialidade de intuição o Movi­mento dos Ex-alunos e o quis como força viva organizada e operante no mundo do bem’”.24

Queridos irmãos, quis sublinhar, mesmo rapidamente, a obra e o pensamento do Pe. Rinaldi, porque sua figura hoje renasce nos nossos corações pela esperança de sua próxima beatificação. Dele testemunhou o Pe. Francesia (que viveu tantos anos com o nosso Fundador) que só lhe faltava a voz de Dom Bosco, mas que todo o resto ele tinha. Foi um fiel e apostólico discípulo do Pai, do qual intuiu o coração e a magnanimidade, e que desenvolveu algumas sementes preciosas ainda não desabrochadas. Conhece­mos, por exemplo, a história das Voluntárias de Dom Bosco; também a dos Ex-alunos é igualmente clara.

Escreve de fato o Sr. Arturo Poesio: “...a eloquência (do Pe. Rinaldi) era simples, espontânea, paterna e convincente. So­mente uma vez assumiu um aspecto e uma linguagem de autori­dade declarando, na qualidade de Reitor-Mor da Sociedade Salesia­na, que a organização dos Ex-alunos deve ser considerada na lista daquelas ‘novas famílias’ que por obra de Dom Bosco floresceram na Igreja, às quais faz alusão no Oremus próprio do Santo”.25

A intercessão do Pe. Rinaldi nos ajude hoje a promover, numa Igreja renovada pelo Vaticano II, a prometedora Associação dos Ex-alunos como Grupo dinâmico da Família Salesiana.



Ex-alunos “de Dom Bosco”



É bonito e estimulante notar que a denominação dada aos antigos alunos das nossas Casas não é a de Ex-alunos “salesianos”, mas sim de “Ex-alunos de Dom Bosco”. Considero isso uma escolha que, formulada historicamente pela primeira vez no Oratório e continuada depois em toda parte no tempo e no espa­ço, é para nós verdadeira e concretamente programática. Os Ex-alunos nasceram, podemos dizer, por autogeração (como vimos) da “educação recebida” de Dom Bosco e de seus primeiros colaboradores. Uma educação que foi criando relações vitais e que quis expressar-se sempre no nome daquele que a tinha inspirado com a doação de seu coração e com genialidade pedagógica, e que concentrara todas as suas qualidades e os seus dons extraordinários em transmiti-los aos seus: “basta que sejais jovens, para que eu vos queira muito; por vós estudo, por vós trabalho, por vós eu vivo, por vós estou disposto até a dar a vida”.26 Dom Bosco dedicou-se de verdade à educação dos jovens com toda a sensibilidade do seu coração oratoriano, “com firmeza e constância, por entre obstáculos e canseiras: ‘Não deu passo, não pronunciou palavra, não pôs mão em empreendimento que não visasse a salvação da juventude’.27 Os seus alunos experimentaram-no pessoalmente e sentiram nascer em si mesmos os profundos laços de filiação, de gratidão e de testemunho dos valores contidos na sua amorosa obra educativa.

É nele que encontramos o segredo original e as riquezas pedagógicas de uma educação que cria laços de família.

No 1º Congresso dos Ex-alunos de 1911 decidiu-se erguer um monumento à memória de Dom Bosco na praça de Maria Auxilia­dora, em Valdocco. A revista mensal Federazione, que apareceu em 1913, acolhia a adesão entusiasta e a colaboração de numerosos Ex-alunos e Ex-alunas que “aderiram sem distinção”.28 Entre os 62 modelos foi escolhido, sem não poucas dificuldades, o do artista Gaetano Cellini. O primeiro presidente dos Ex-alunos, Prof. Gribaudi, apresentou a motivação escrevendo que “num monu­mento nos campos de Valdocco Dom Bosco só podia ser repre­sentado no meio dos meninos. Assim o vimos, sempre assim. Eu mesmo, que só tinha doze anos quando entrei no Oratório, fiquei comovido em ver o grande número de crianças que quase se agarravam às suas mãos, quando ele passava pelo pátio. Todos corriam ao seu encontro, e ficávamos satisfeitos em tocar só um dedo de sua mão; e ele sorria-nos com aquele olhar vivo e pene­trante ... Aquele era Dom Bosco, o nosso pai, o pai de todos nós garotos”.29

Por causa da Primeira Guerra Mundial, a inauguração do monumento só foi possível no dia 23 de maio de 1920. Foi uma apoteose com três congressos internacionais dos Cooperadores, dos Ex-alunos e das Ex-alunas, que representavam 23 nações.

Quem desce para Valdocco e contempla o grande monumento deverá pensar no significado vivo e mundial da “educação rece­bida” nas casas de Dom Bosco.

Falar hoje da “educação recebida” para indicar o título de pertença dos Ex-alunos à Família Salesiana, significa lembrar o ambiente carismático das origens e considerar seu prolongamento e desenvolvimento homogéneo nestes mais de cem anos.

Encontramo-nos, portanto, na presença de um título de per­tença que faz parte integrante do carisma do Fundador. Para compreender melhor a natureza e para esclarecer as exigências operacionais e organizativas na atual mudança cultural e eclesial será preciso estudar o Sistema Preventivo.









Os valores da educação salesiana



A educação é algo mais e diferente de uma simples introdução ao ambiente e à cultura típica de uma sociedade. Certamente hoje, em qualquer lugar, é preciso ter em conta a profunda evolução humana que está acontecendo, seja no mundo, seja na Igreja, com os seguintes problemas: negativos, o pluralismo relativista, a desorientação doutrinal e ética, as ideologias políticas totalizantes, as situações econômicas injustas, os conflitos e os antagonismos, o laicismo e o ateísmo, a crise familiar, a marginalização e as novas formas de abandono da juventude; ou, positivos, um novo cresci­mento dos valores humanos promovidos pelos sinais dos tempos, as corajosas perspectivas eclesiais desejadas pelo Concílio, o grande trabalho para uma nova evangelização, um sentido mais concreto da busca da solidariedade e da paz, uma vontade deci­dida em abrir espaços para a civilização do amor etc. Tudo isto indica a extraordinária urgência para iluminar e formar melhor a liberdade do homem desde a sua juventude.

A hora histórica em que vivemos coloca em primeiro plano a educação, e ao mesmo tempo levanta numerosos problemas de revisão e de perspectiva relacionados com os fins, os conteúdos, os métodos, os meios e as instituições. É preciso ter uma visão renovada da educação que seja concreta e específica, não abstrata e genérica, integralmente humana e atual, respondendo às exigên­cias de cada País; comprometida em formular objetivos e estra­tégias à luz de uma autêntica visão antropológica e de fé; endere­çada em conseguir uma liberdade amadurecida e correta através de processos de crescimento diferenciados, de acordo com as várias idades e as condições existenciais; capaz de uma visão crítica na promoção da pessoa para que não seja cópia de modis­mos e ideologias; verdadeiramente libertadora de opressões e tabus; realista e criativa e portanto aberta a uma contínua autorrevisão para elaborar com ela um projeto de vida.

Não é possível entreter-nos, aqui, para aprofundar uma pro­blemática tão vasta e complexa. Porém, se quisermos relançar os Ex-alunos para que não sejam só “ex-escolares”, mas um verda­deiro Grupo da Família Salesiana, precisamos retomar o Sistema Preventivo de Dom Bosco para perceber seus grandes princípios e aprofundar com perspectivas de futuro as suas linhas mestras; só assim permanecerá vivo e fecundo, para os nossos Ex-alunos, o título de pertença “pela educação recebida”.

O Sistema Preventivo é considerado um dos elementos com­ponentes do carisma de Dom Bosco; neste sentido foi reestudado em profundidade nos nossos trabalhos pós-conciliares, especial­mente no CG 21.

A educação é para nós o caminho sobre o qual avança a consagração apostólica salesiana; nós evangelizamos “educando”; criamos cultura “educando”; participamos do compromisso em favor da justiça e da paz “educando”; promovemos a pessoa “educando”; construímos a Igreja “educando”; fazemos pastoral (juvenil, vocacional, popular) “educando”. Se fazemos pastoral “educando”, quer dizer, entre outras coisas, que os nossos Ex-alu­nos não virão somente das escolas, mas de todos os tipos de presenças e centros juvenis em que trabalhamos “educando”.

O Sistema Preventivo, nos disse o CG 21, “não indica somente um conjunto de conteúdos a serem transmitidos ou uma série de métodos e de procedimentos a serem comunicados; não é nem pura pedagogia nem só catequese. O Sistema Preventivo, como foi vivido por Dom Bosco e seus continuadores, apareceu sempre como síntese rica de conteúdos e métodos; de processos de pro­moção humana e ao mesmo tempo, de anúncio evangélico e de compreensão da vida cristã; nas suas metas, nos seus conteúdos, nos seus momentos de atuação concreta, ele lembra contempora­neamente as três palavras com as quais Dom Bosco o definia: razão, religião, carinho”.30

Esse trinômio atravessará os séculos. A nós hoje compete repensar sua aplicação de acordo com as diferentes culturas em que trabalhamos, mas olhando sempre para o Oratório de Dom Bosco como modelo ao qual nos inspirar.

Reflitamos, portanto, muito rapidamente, sobre alguns pontos que parecem já assimilados por todos nós, mas que questionam a nossa renovação pedagógica para relançar os Ex-alunos e as concretas finalidades de sua Associação.



  • A palavra “razão”, além do “bom senso” fundamental, apela hoje para as diferentes disciplinas antropológicas que cons­tituem o conjunto de “ciências da educação”; ao seu desenvolvi­mento, compreensão e ensino estão dedicadas também duas Faculdades salesianas em Roma, a da UPS e a do “Auxilium” das Filhas de Maria Auxiliadora. As diferentes culturas e as mudan­ças provocadas pelos sinais dos tempos exigem novas competên­cias por parte dos educadores e a capacidade de uma nova revisão do projeto educativo em ação. A visão humanista, no conjunto integral dos seus conteúdos, a formação da liberdade na busca e cuidado do bem (preventividade), a busca autêntica do amor e a visão objetiva da sexualidade, a proposta de ideais em que a vida apareça como missão, a responsabilidade de um competente profissionalismo, a iniciação no mundo do trabalho, o reto discer­nimento da consciência, o sentido da solidariedade, a projeção familiar e política da vida, as realidades da ordem temporal em sua autêntica dimensão laical, a dignidade e papel da mulher, os grandes horizontes da justiça e da paz, a iniciação em promover os valores humanos colaborando com as pessoas de boa vontade, uma adequada disciplina de vida etc., são todos desafios concretos para os educadores de hoje, a fim de que sua atividade pedagó­gica esteja, na verdade, em sintonia com a “razão”.



  • A palavra “religião” constitui para Dom Bosco um ele­mento absolutamente indispensável da educação. No núcleo cen­tral de toda cultura encontram-se sempre valores religiosos; até numa hipotética cultura ateia está no centro, como fermento da sua estruturação, a negação de Deus. Em Dom Bosco a religião é a motivação e o impulso de toda a sua opção pedagógica. Para ele “religião” significou de fato a Fé católica; ele educou para o Evan­gelho de Cristo, promovendo e ajudando a amadurecer pedagogi­camente a opção batismal nos seus jovens. Hoje o Vaticano II abriu amplas fronteiras de renovação; elas exigem de nós educa­dores uma capacidade evangelizadora e catequética comprovada. É preciso assumir a herança profética do Concílio. Em particular, a palavra “religião”, além de significar uma renovada sensibilidade ecumênica entre cristãos não católicos, exige de muitos de nós um conhecimento direto e a valorização daquelas Religiões não cristãs que são praticadas em numerosas regiões onde se locali­zam os nossos centros educativos. A abertura ao transcendente, a busca da verdade sobre Deus, a pedagogia da oração, o valor das celebrações litúrgicas, o significado da fraternidade humana, a sacralidade da vida, uma ética e uma espiritualidade do comporta­mento, uma concreta modalidade de ascese, a gratuidade do dom na maneira de viver e de trabalhar, os valores particulares e tam­bém os defeitos da religiosidade popular etc., são aspectos importantes para uma pedagogia que quer formar para a liber­dade na vida concreta. Neste campo bastante delicado, mas indispensável, é preciso ter prudência para saber individualizar objetivamente e evitar prudentemente certas atitudes supersti­ciosas e tabus religioso-culturais indignos da dignidade da pessoa humana e em evidente contradição com a história da salvação.



Por fim, a palavra “carinho” comporta aquele envolvimen­to afetivo na educação que constitui o aspecto mais característico da metodologia pedagógica de Dom Bosco. Criar um ambiente educativo marcado pelo espírito de família, pela confiança mútua, pelo diálogo fácil, pela amizade, pela alegria, por uma convivência interessada não só pelos aspectos escolares mas também pelas grandes possibilidades que o tempo livre oferece, pelo esporte, pelo teatro, pela música, pelo associacionismo, pelas iniciativas dos serviços sociais e apostólicos, ou seja, por aquele “clima oratoriano” em que a obra educativa torna-se para os jovens “casa que acolhe, paróquia que evangeliza, escola que encaminha para a vida, e pátio para se encontrarem como amigos e viverem com alegria”.31 Neste clima favorece-se e vai-se seguindo o protagonis­mo dos próprios jovens com iniciativas, grupos, associações que deem sentido, utilidade e atração para o tempo livre.



A construção de um semelhante “ambiente educativo”, em que se desenvolvem as relações de amizade entre educandos e educadores, é sem dúvida o elemento que mais assegura o nasci­mento e o crescimento daqueles laços de afeto e de vida (quase de parentesco), que, terminada a etapa da educação juvenil, permanecerão na vida dos Ex-alunos; é sobretudo por isto que eles continuarão a se sentir família com Dom Bosco e os seus.









Vários graus de assimilação dos valores



O artigo 5º das Constituições fala de educação “recebida”. Não é suficiente ter frequentado uma obra salesiana para ser depois um verdadeiro Ex-aluno. Aquele prefixo ou partícula “Ex” pode tornar-se ambíguo. Se de fato indicasse simplesmente a condição de quem durante a juventude esteve numa obra salesia­na e a deixou como se deixa um hotel ou como quem sai desilu­dido, não serviria para indicar exatamente a natureza da Associa­ção e a sua pertença à Família Salesiana: significaria somente um grupo de antigos companheiros (poucos ou muitos que sejam), pelos quais a Associação deveria interessar-se relançando entre eles alguns valores educativos que ficaram só num estado embrio­nário e que foram abafados pelo barulho e corre-corre da vida. No entanto aquele prefixo, unido à palavra aluno, quer indicar de fato a realidade da assimilação de tantos valores educativos, o seu amadurecimento e, portanto, a continuidade de uma atitude de “formação permanente” ao longo da vida. Isto constitui exata­mente a característica da natureza da Associação.

Os Ex-alunos unem-se e constituem a Associação porque sentem laços de gratidão e pensam que juntos com os Salesianos podem fazer crescer a “educação recebida” e fazê-la frutificar.

Evidentemente a assimilação dos valores terá graus e modali­dades diferentes de acordo com as culturas, as religiões, a quali­dade educativa da obra, a capacidade de assimilação de cada um.

Em particular: os valores da “razão” e da “religião” poderão ser desenvolvidos, em diferentes situações, com uma certa multiformidade; para o elemento “carinho”, no entanto, deve-se ter sempre um intenso grau de presença em toda obra salesiana, tornando-se assim a medida para julgar a fidelidade ao Sistema Pre­ventivo por parte dos Salesianos e dos seus colaboradores em cada uma das obras. É este o filão dourado que abre continuamente o caminho à toda ação formativa também na vida. Considero verda­deiramente inexplicável que existam obras salesianas que não possuem e não cuidam dos Ex-alunos; a história do Oratório de Valdocco é bem outra!

A consideração da variedade de modalidades e de graus de participação está assinalada no artigo constitucional, quando afirma que a pertença dos Ex-alunos à nossa Família “torna-se mais estreita quando se comprometem a participar da ação sale­siana no mundo”.32

Antes de mais nada é importante observar que cada Ex-aluno tem relações com a Família Salesiana através da sua Associação; isto é, também para ele (como para os Salesianos, as Filhas de Maria Auxiliadora e para os Cooperadores) existe um compro­misso assumido pessoalmente: o de se filiar à Associação, adqui­rindo assim em plenitude o título de pertença a um dos Grupos “instituídos”.33 O seu “Grupo instituído” é uma Associação que possui como característica fundamental, comum a todos os seus membros, a relação com a “educação recebida” e o propósito de fazê-la frutificar.

Mais estreita” intensidade de pertença expressa-se, pois, de fato com modalidades diversificadas, porque “a missão salesiana no mundo” pode ser vivida e assumida em situações religiosas e de acordo com convicções pessoais objetivamente diferentes, com a condição que nos Ex-alunos associados permaneça um núcleo real de valores comuns “através da educação recebida”.

No Estatuto próprio da Associação lê-se que eles “buscam consolidar o vínculo de amizade que os une aos seus educadores e os une entre si, e conservar e desenvolver os princípios que as tiveram na raiz da sua formação para traduzi-los em autênticos compromissos de vida”34 e falando da Conferência mundial afirma-se que “tem como finalidade que os sócios conservem, aprofundem e atuem os princípios educativos salesianos rece­bidos”.35

A Associação dos Ex-alunos, portanto, apresenta, como tal, uma característica marcadamente própria “sem distinções étnicas e de religião”.36 Por isso, não é fácil estabelecer, em nível mundial de Confederação, a possível variedade de graus para “mais estrei­ta” participação na missão salesiana; indicaremos mais adiante algumas modalidades concretas já experimentadas. Aqui parece importante sublinhar que a vida da Associação nasce da base, ou seja, das Uniões ou Centros locais onde as pessoas se conhecem e possuem uma visão mais concreta e homogênea da “educação recebida”, e podem, portanto, determinar na prática em que consiste para cada Centro ou União “mais estreita participação na missão salesiana” em sua região e no contexto da própria situação religiosa, cultural e social. Neste sentido ninguém deve ficar espantado se a situação dos Ex-alunos muda de lugar para lugar. A tentativa de estruturar demasiado em níveis mais altos pode resultar não benéfica. A animação mais apropriada e mais penetrante está ligada em primeiro lugar à vitalidade dos grupos locais. É ali que é preciso insistir como estratégia de encontro e de formação permanente. A vida das Uniões locais é percebida mais facilmente pelos associados e mais participada.

Certamente uma adequada organização no contexto inspetorial, nacional e mundial não só é útil, mas necessária; ela mesma, porém, deve ser dirigida para servir, animar, sugerir, estimular, apoiar (às vezes também suprir) as iniciativas próprias das Uniões locais para que saibam fazer frutificar concretamente “a educação recebida”.

Hoje, após o Vaticano II, uma participação “mais estreita” na missão salesiana pode ser iluminada também por orientações ecumênicas,37 pela abertura de diálogo com as Religiões não cristãs38 e pela atividade de serviço ao homem envolvendo tam­bém os não crentes de boa vontade.39

Um aspecto peculiar sublinhado pelo CG 2140 é o dos Ex-alunos católicos “que fizeram a escolha no campo da evangelização”. Sua participação “mais estreita” aproxima-se muito dos Coope­radores Salesianos. Exatamente por isso estão convidados a se filiar aos Cooperadores: “a comunidade — afirmam os nossos Regulamentos — ajude os mais sensíveis aos valores salesianos a amadurecer a vocação de Cooperador”.41 Todavia as duas Asso­ciações distinguem-se, enquanto tais, uma da outra. A dos Ex-alunos possui uma fisionomia peculiar, ligada à finalidade, à comunhão e às iniciativas inerentes à “educação recebida”.

A Associação dos Cooperadores não é, em si, alternativa à dos Ex-alunos; constitui mais um centro de referência espiritual e eclesial para aqueles que fizeram a escolha no campo da evange­lização. Os Ex-alunos “Cooperadores” assumem generosamente, como “leigos” convictos, as finalidades da própria Associação de Ex-alunos e colocam à disposição dela as riquezas da graça de Cristo no espírito de Dom Bosco para fazer frutificar entre os associados e entre os antigos colegas afastados “a educação recebida”.

Portanto: a assimilação dos valores do Sistema Preventivo apresenta um variado leque de possibilidades para maior ou menor participação na missão salesiana no mundo. Por aquilo que depende das nossas comunidades tem extraordinária importância o cuidado por parte dos Inspetores e dos Diretores (com os seus Delegados) na animação que assegure a fidelidade às finalidades da Associação e à autêntica inspiração de Dom Bosco. Deveríamos todos saber lembrar e imitar a compreensão, a acolhida, a dedi­cação e as iniciativas do nosso Fundador e do Pe. Rinaldi. Não é um trabalho fácil; há necessidade de pessoas competentes e com certa influência, que saibam se relacionar com pessoas ma­duras e que tenham claro e atualizado o patrimônio dos valores do Sistema Preventivo.



Algumas modalidades de participação dos Ex-alunos

na missão de Dom Bosco



O título da educação recebida não é, como vimos, algo de superficial que se sobrepõe artificialmente como a douradura ao metal. Trata-se de uma realidade vital de gratidão, de comunhão e de propósitos à luz mesma do projeto educativo vivido em novas experiências de vida, de trabalho, de estudo, de perspectivas pessoais e sociais.

A natureza e atividade da Associação está ligada intrinse­camente a este título de pertença. Deve saber perceber os vastos horizontes sem se confundir nem com a Associação dos Coope­radores, nem com qualquer associação profana, independente, enfraquecendo assim sua identidade.

De que maneira, portanto, a Associação dos Ex-alunos parti­cipa da vida e das atividades da Família Salesiana? Buscaremos apresentar uma resposta esclarecedora olhando a história e a realidade atual.



Uma primeira modalidade é a preocupação com a “forma­ção permanente” dos associados. É uma tarefa própria da “edu­cação recebida”, porquanto toda educação (sobretudo nesta hora de mudanças culturais) precisa crescer e adaptar-se às novas exigências de maneira contínua e renovada. O Estatuto da Confe­deração mundial afirma que os Ex-alunos buscam “conservar e desenvolver os princípios que estiveram na raiz da sua formação, para traduzi-los em autênticos compromissos de vida”,42 e que “veem no Reitor-Mor a figura do próprio Dom Bosco e reconhe­cem nele o guia; pedem a assistência dos salesianos para uma educação espiritual permanente, aprofundada e adequada”.43

Neste setor existe um aspecto bem concreto de serviço de animação próprio das nossas comunidades e dos irmãos para com os Ex-alunos. Saber programar e fazer funcionar inicia­tivas de formação permanente servirá para fortalecer a qualidade dos Centros ou Uniões locais e das Federações inspetoriais em sua participação à missão.



  • Uma outra atividade própria da Associação é a de realizar a exortação feita aos antigos alunos pelo próprio Dom Bosco: “de ficarem unidos e de se ajudarem” preocupados não só com o fortalecimento organizativo e funcional da Associação,44 mas também com o auxílio mútuo a cada um em suas necessidades e, sobretudo com o contato amigo entre os antigos colegas afasta­dos por mil razões diferentes. É bem verdade que aqueles que “não estão filiados a um determinado Centro local, não são sócios efetivos da Confederação, mas eles são considerados pertencentes ao ‘movimento Ex-alunos de Dom Bosco’”.45 Por isso seus nomes são conservados num fichário próprio para manter viva sua lem­brança e para procurar envolvê-los nas atividades de formação e de apostolado.

Eis um espaço natural para a expansão da Associação a que podem contribuir os irmãos que conheceram os antigos alunos atualmente afastados.



  • Uma outra importante tarefa da Associação é a que se relaciona com a vida familiar de cada um. Isto supõe o conheci­mento e a defesa dos direitos e deveres da família na sociedade. No Estatuto lê-se que os Ex-alunos se comprometem em promo­ver e defender os grandes valores da família humana,46 que enfrenta hoje um perigoso momento de crise. Aí, em sua família, têm eles a possibilidade, como já sugerira Dom Bosco, de praticar a metodologia pedagógica assimilada durante os anos da educação. Eis outra situação bem atual para medir o trabalho pedagógico, de ontem e de hoje, das nossas comunidades educadoras. Como se aplica o Sistema Preventivo (para expor depois nas famílias)? Que formação é dada aos jovens que se preparam ao matrimônio? Em que consiste programaticamente a formação ao amor? Como são enfrentadas as exigências de uma correta educação sexual? Que ética conjugal se apresenta? Como se insiste sobre a sacrali­dade da vida? etc. Estes aspectos nos fazem ver a necessidade urgente de uma concreta “pastoral familiar” a ser projetada e realizada (em sintonia com a pastoral juvenil) nas nossas Casas de acordo com as possibilidades próprias do tipo de presença educativa.

Lembro a acertada observação feita por um bispo na assem­bleia do Sínodo de ‘80 sobre a família; já falei disso numa circular, lembrando que “o tema da família, mais do que um setor sobre o qual convergir as nossas revisões programáticas, é uma dimen­são privilegiada para repensar e projetar mais realística e inteli­gentemente, de acordo com o projeto divino, toda a pastoral”:47 portanto a nossa pastoral juvenil e os projetos educativos con­cretos das Inspetorias e das Casas devem ter na devida conta esta ótica verdadeiramente estratégica. Disse na ocasião aquele bispo: “a família é minúscula, mas possui em si uma energia supe­rior à do átomo. Da humilde pequenez de milhões de lares, a Igreja pode relançar a força do amor necessário para torná-la Sacramento da unidade entre os homens”.48

Se a essência de toda verdadeira educação é o de saber con­duzir ao amor, será necessário que toda a pastoral da Igreja (e, portanto, também a nossa) concorra para que a família humana se torne efetivamente “a escola do amor”. Ajudemos os Ex-alunos a tornarem eficaz a educação salesiana no íntimo de suas famílias!



Um outro trabalho que caracteriza a atividade da Asso­ciação é o de compartilhar e de privilegiar o grande problema da educação da juventude. Os Ex-alunos afirmam que “considerando a urgência do problema da juventude do nosso tempo, (a Asso­ciação) busca desenvolver ao máximo as atividades aptas a interessar os jovens nos diferentes campos das ações socioapostólicas; encoraja as iniciativas e os ajuda para que assumam responsabilidades em todos os níveis”.49

Todos conhecemos a urgência deste problema e a necessidade de dar vida a múltiplas iniciativas para colaborar, mesmo que limitadamente, para uma solução. É um problema universal; encontramo-lo em todas as partes do mundo, em diferentes con­dições juvenis. Graças a Deus, também o espírito de Dom Bosco é universal, e se encontra vivo e operante em todos os continen­tes: um único espírito, uma mesma missão, na pluralidade das situações culturais, sociais e pastorais. Que valores deverão buscar os Ex-alunos em prol da juventude?

Na fidelidade ao carisma de Dom Bosco eles deverão saber analisar as necessidades juvenis na perspectiva das três dimensões do Sistema Preventivo. No âmbito da “razão”, os problemas rela­tivos aos valores humanos; no âmbito da “religião”, os problemas da fé e de uma espiritualidade da vida; no âmbito do “carinho”, o que se relaciona com o método considerando a pouca penetra­ção da escola e sobretudo da família e do amor: é urgente por­tanto apontar critérios para uma válida metodologia pedagógica a ser aplicada.

Este é um trabalho que abre um vastíssimo panorama de atividades. Evidentemente, também aqui é preciso rever toda a programação das nossas comunidades educativas e o significado atual das nossas obras com vistas a uma resposta prática aos desafios juvenis. Poder-se-á assim orientar melhor as iniciativas dos Ex-alunos fortalecendo ou complementando as nossas respos­tas com as deles e até chegar, de acordo com as exigências con­cretas dos lugares, a um plano de conjunto de toda a Família Salesiana que aí trabalha.



Uma outra finalidade à qual a Associação dos Ex-alunos se propõe é: “a defesa e promoção dos valores inerentes à pessoa humana e o respeito da dignidade do homem”; e “a promoção e elevação cultural, social, moral, espiritual e religiosa conforme a educação recebida”.50 No seu “Documento Adjunto” (para a apli­cação do Estatuto) os Ex-alunos esclarecem ainda mais este campo de tipo sociocultural tão característico: “estimular uma sadia e profunda preparação sociopolítica dos Ex-alunos — hoje, mais do que nunca, urgente e necessária — que não se limite somente à teoria, mas que também se comprometa em assumir o próprio dever político de bom cidadão e concretas realizações sociais, a criação de associações que tenham caráter de ajuda mútua etc.”; e “incrementar atividades apostólico-sociais, com particular inte­resse pela justiça, a paz, a fraternidade”.51

É necessário acrescentar a fundamental importância que tem hoje a comunicação social e como a utilização dos seus meios, também os mais sofisticados, pode ser utilizada e orientada por muitos Ex-alunos que adquiriram especial competência.

Também esta finalidade supõe uma “educação recebida” de especial clareza e qualidade com vistas à reta estruturação da ordem temporal. O Vaticano II e o ensinamento social do Magis­tério abriram aos educadores vastos horizontes de renovação que exigem competência e contínua renovação. A nossa maneira de educar necessita, queridos irmãos, de uma revisão neste setor, não para nos meter na política partidária, mas para colocar em prática o que nos propõe o importante art. 33 das Constituições. Precisamos promover a justiça e a paz “educando”; e na educação devemos testemunhar concretamente o nosso amor preferencial pelos pobres. Somos chamados a realizar uma “educação liberta­dora” haurindo os ideais a partir da práxis vivida por Dom Bosco na fonte da secular fé cristã, iluminada continuamente pelo Magis­tério vivo da Igreja. Os Ex-alunos esperam de nós orientações claras e esse respeito.



A participação da Associação na missão de Dom Bosco comporta ainda o propósito de incrementar a comunhão ativa com toda a Família Salesiana e com cada um dos Grupos, seja em nível mundial, seja em nível inspetorial e local, com as comu­nidades e pessoas presentes na região. O título de pertença pela educação une facilmente a Associação a todos os membros da Família, mas de maneira especial os três Grupos fundados por Dom Bosco: aos Salesianos, às Filhas de Maria Auxiliadora e aos Cooperadores.

A renovação do Carisma de Dom Bosco pede hoje aos Ex-alu­nos para que intensifiquem concretamente os vínculos de partici­pação e comunhão sobretudo com estes três Grupos, de várias maneiras e de acordo com a natureza e o papel de cada um deles.

Este seu propósito deve ser continuamente lembrado e faci­litado através da nossa animação.

O art. 5º das Constituições assegura a nós Salesianos, “por vontade do Fundador”, a não indiferente responsabilidade de “manter a unidade do espírito e a estimular o diálogo e a cola­boração fraterna por mútuo enriquecimento e maior fecundidade apostólica”.

Infelizmente alguns irmãos precisam ainda mudar a menta­lidade neste ponto e considerar este aspecto como uma das “grandes linhas sobre as quais concentrar toda a nossa atenção e endereçar os esforços concretos”; como dizia o Reitor-Mor, Pe. Luís Ricceri, na apresentação dos Atos do CG 20: “é urgente restituir às nossas comunidades a dimensão de núcleo animador de outras forças espirituais e apostólicas (as da Família Salesia­na!); disso tirarão elas mesmas (as nossas comunidades) grandes vantagens espirituais e apostólicas”.52

O saber cultivar e intensificar as relações dos Ex-alunos conosco, em primeiro lugar e depois com os outros Grupos (especialmente com os Cooperadores), é uma tarefa às vezes deli­cada, mas compensadora que torna na verdade possível a apresen­tação da nossa Família, em cada região, como um “Movimento eclesial” vivo e marcante, assim como é sugerido pela Lembrança deste ano.

Um sinal concreto da vontade política que os Ex-alunos têm de colocar em prática este propósito é o acordo que fizeram com a Associação das Ex-alunas das Filhas de Maria Auxiliadora para a realização de um comum e único Congresso Internacional no mês de novembro de ‘88 para comemorar solenemente Dom Bosco.



Por fim, uma outra tarefa não indiferente é a de cuidar dos alunos no final do currículo formativo mostrando-lhes as vantagens em serem membros da Associação. O fluxo de jovens é buscado pelos Ex-alunos, porque desejam ser um grupo “sempre juvenil”; “isto será possível se a Associação for continuamente estimulada por milhares e milhares de jovens que saem das obras salesianas”.53

Este compromisso louvável e vital, enquanto requer dos mesmos Ex-alunos uma dedicação prática para um envolvimento agradável dos jovens, exige das nossas comunidades locais um inteligente e planejado trabalho para orientar os alunos dos últi­mos anos na direção de possibilidades concretas com vistas a um maior crescimento salesiano nesses grupos da nossa Família mais próximos ao seu projeto de vida, em particular (geralmente para a maioria) na direção da Associação dos Ex-alunos.



Portanto: a modalidade com que a Associação dos Ex-alunos participa da missão de Dom Bosco no mundo não é indiferente. É múltipla nas possibilidades: apresentamos sete. Essa partici­pação constitui a prova operacional da sua pertença à Família Salesiana, que tornar-se-á “mais estreita” de acordo com o grau de compromisso demonstrado nas atividades concretas acima indicadas, sem excluir níveis diferenciados que se estendem tam­bém a modalidades ecuménicas de diálogo inter-religioso ou de simples boa vontade humana.



A tarefa das Comunidades salesianas



As reflexões até aqui feitas são um convite para os Inspetores e os Diretores, mas também para cada um dos Irmãos, a rever a própria sensibilidade, o trabalho pessoal e das comunidades e a validade e eficácia dos serviços a serem prestados aos Ex-alunos. Deve ser bem considerado o art. 39 dos Regulamentos.

Podemos distinguir dois momentos complementares do nosso compromisso de responsabilidade: — o que se refere à qualidade da educação dada em nossas obras; — e o que é exigido diretamente pela vida e pela atividade de sua Associação.



  • O primeiro momento (o da qualidade da educação) já o indicamos substancialmente, vez por vez, considerando algumas atividades que a Associação realiza. Aqui poderíamos novamente sublinhar o pensamento claro de Dom Bosco e do Pe. Rinaldi: os Ex-alunos representam no mundo o fruto dos nossos trabalhos. A educação em nossas obras é toda ela endereçada, com intuito social e eclesial, à vida madura do honesto cidadão e do bom cristão. Trabalhamos, portanto, para que se formem autênticos Ex-alunos; promovemos uma educação que garanta uma posterior pertença à Família Salesiana. Esquecer isto seria sentenciar supe­rado o Sistema Preventivo de Dom Bosco.



  • O segundo momento é do cuidado e animação da mesma Associação. Se pensarmos no número muito grande dos nossos Ex-alunos, se estamos convencidos (porque o constatamos dia após dia) que a herança do espírito de Dom Bosco é hoje muito viva e benéfica, se olharmos para a crescente e imensa massa de jovens necessitados em favor dos quais o nosso Fundador sentiu-se chamado por Deus a uma missão particular, ouviremos insistente o apelo para buscar e estimular todas as forças disponíveis da Família Salesiana; nela os Ex-alunos constituem sem dúvida uma grande força, rica de possibilidades. É uma providencial potencia­lidade salesiana a ser incrementada em cada um dos setores de atividades acima indicadas.



Podemos acrescentar, aqui, também o convite para favorecer o “voluntariado” (especialmente dos Ex-alunos jovens) com múl­tiplas perspectivas também missionárias.

Trata-se, porém, de saber dialogar e realizar a comunhão de espírito e de intenções com uma Associação de pessoas maduras, que é em si mesma multiplicadora da educação salesiana, e que traz consigo uma admirável possibilidade de colaboração e de elaboração de novas e benéficas iniciativas. Para isso será necessá­rio que as nossas comunidades tomem consciência e saibam colher as válidas perspectivas para o futuro, sempre que sejam comunidades abertas, acolhedoras, disponíveis e habilitadas ao diálogo.

Nos programas de animação e de formação permanentes dos irmãos será necessário planejar tempo e modalidades de sensibi­lização para que sejam envolvidos conscientemente na atuação das orientações dos últimos Capítulos Gerais sobre o assunto.

O Inspetor, particularmente, considere importante a escolha de um Delegado inspetorial qualificado e idôneo; planeje reuniões de Diretores em que compreendam com clareza as responsabili­dades de animação e de ação que correspondem às suas comuni­dades e saibam escolher, se for o caso, Delegados locais que inter­pretem e traduzam na prática esta tarefa em cada comunidade. Deve-se, porém, entender que os Delegados, nos diferentes esca­lões, não têm a tarefa de substituir os responsáveis da animação (que são o Inspetor, o Diretor e toda a Comunidade), mas sim de interpretá-la em sua vontade prática de ação. Será também opor­tuno cultivar um diálogo respeitoso e prático com as Filhas de Maria Auxiliadora em relação à Associação das Ex-alunas.

O Inspetor e os Diretores, no âmbito das suas responsabili­dades, valorizem a possibilidade de consultas periódicas para rever a realidade vital e para projetar na região atividades de comum interesse, sobretudo em favor da juventude.

Como vedes, prezados irmãos, esta tarefa que consta do man­dato constitucional nos lembra ainda uma vez que a verdadeira identidade de uma comunidade salesiana não é o de fazer tudo sozinha, mas o de ser um verdadeiro “núcleo animador” de tantas outras forças apostólicas e sociais.



Importância vital da espiritualidade



A Lembrança deste ano de ‘87 fala-nos da necessidade de alimentar e tornar operativas algumas “ideias-força” que possam apresentar a Família Salesiana como um Movimento eclesial que marque a história. Sem uma energia mística interior não se consegue atingir ninguém e nem poderemos ser “missionários” e “carismáticos” dos jovens.

Para que uma Comunidade salesiana seja realmente “núcleo animador” é preciso que seus membros sejam ricos de interiori­dade e que neles vibre uma espiritualidade e se respire comunita­riamente uma renovada atmosfera pentecostal. Nós a chamamos hoje de “espiritualidade juvenil”, porque está toda orientada à educação e à evangelização da juventude, mas é própria, antes e sobretudo, dos adultos da nossa Família para que deem vida em si mesmos à paternidade e maternidade educativas. Temos uma sintética descrição autorizada disso no capítulo 2 das nossas Constituições, que apresenta o “espírito salesiano” de Dom Bosco.

Trata-se de um estilo especial em ser discípulo de Cristo; é uma maneira característica de viver o Seu Espírito; é uma escuta contemplativa e operante da Palavra de Deus, como a de Maria; é um frequente encontro eucarístico e penitencial; é uma expe­riência de fé, esperança e caridade para transformar o cotidiano; é fazer da nossa existência um sacramento de salvação; é sinal escatológico “da força da ressurreição”54 em sintonia com as energias vivas da juventude; é uma irresistível paixão pelo Reino (“da mihi animas”) numa efetiva colaboração com os Pastores da Igreja; é amor capaz da doação de si mesmo no sacrifício; é alegria e otimismo mesmo na visão realista do pecado e do mal; é versatilidade, trabalho e temperança numa simplicidade de família; é argumento espontâneo de comunicação de quem possui no coração uma história de santidade para narrar aos outros, sobretudo aos jovens.

No último Capítulo Geral 22 declaramos guerra à superficia­lidade espiritual; para ‘88 nos propusemos interiorizar o novo texto da nossa Regra de vida e de relançar na vida a Profissão salesiana. Portanto: toda a Família Salesiana, e em particular os Cooperadores e os Ex-alunos, esperam de nós o contato vivo e salutar com o espírito de Dom Bosco; os jovens pedem de nós a atração de uma espiritualidade mais próxima deles e as energias simples e poderosas de uma santidade para a vida de todos os dias que envolva a realidade, mesmo a monótona do cotidiano, as dificuldades da existência e os pedidos das horas difíceis e mais exigentes com a vivificante transcendência do espírito das Bem-aventuranças.

Uma semelhante espiritualidade é necessária em todas as culturas e possui ricos elementos vitais para serem compartilhados também por cristãos não católicos, membros de Religiões não cristãs e até por não crentes de boa vontade.

A experiência mais do que secular da vitalidade do espírito de Dom Bosco e os resultados concretos da sua pedagogia em todos os continentes constituem um precioso apelo para nós para sermos como o Fundador verdadeiros “carismáticos dos jovens”.



Queridos irmãos, concluo.



Nós desejamos de todo o coração e quanto antes a beatifica­ção do Pe. Rinaldi. Ele é o grande inspirador da Associação dos Ex-alunos e do céu certamente cuida dela.

Invoquemos todos de Deus, autor de todo bem, o “dom” do reconhecimento oficial da sua santidade salesiana; será significa­tivo e benéfico para os jovens e para toda a nossa Família; mas sobretudo ficarão felizes as Voluntárias de Dom Bosco e os Ex-alunos.

Maria Auxiliadora apresente ao Pai, durante os próximos meses, esta nossa insistente oração: “ó Deus, que no venerável Filipe Rinaldi, imagem viva de Dom Bosco, destes novo vigor e melhor desenvolvimento ao Caris­ma da Família Salesiana, glorifica este teu Servo; fazei de nós seus generosos imitadores na capacidade de animação dos numerosos e válidos missionários dos jovens!”.

O Pe. Rinaldi interceda por nós, pelas Filhas de Maria Auxi­liadora, pelos Cooperadores, e, de maneira particular, pelas Volun­tárias de Dom Bosco e pelos Ex-alunos.

Na espera do ‘88, saúda-vos com afeto,

1 Cf. ACG 319.

2 Cf. ACG 318.

3 Cf. ACG 304.

4 Cf. ACG 317.

5 O projeto de vida dos salesianos de Dom Bosco – Guia à leitura das Constituições salesianas, p. 115. [NB.: as citações de “O projeto...” se referem à edição em língua italiana]

6 E. Ceria, Annali I, 715.

7 "O Sistema Preventivo", no texto das Const., p. 232.

8 Cf. U. Bastasi, Guida organizzativa del Movimento Exallievi di Don Bosco, Turim, 1965, p. 8.

9 Cf. MB 14, 512-514.

10 MB 17, 173-174.

11 MB 14, 511.

12 MB 9, 885-886.

13 MB 16, 167.

14 MB 17, 489.

15 MB 13, 164.

16 MB 18, 160-161.

17 Cf. U. Bastasi, Guida organizzativa del Movimento Exallievi di Don Bosco, Turim, 1965, p. 235.

18 MB 13, 758.

19 MB 13, 759.

20 U. Bastasi, o.c., p. 20.

21 E. Ceria, Annali I, 712.

22 ACS 36, p. 518.

23 Congregação para as Causas dos Santos, Positio, Roma, 1972, p. 32.

24 E. Ceria, Vita del Servo di Dio Sac. Filippo Rinaldi, SEI, Turim, p. 252.

25 Congregação para as Causas dos Santos, Positio, Roma, 1972, p. 28.

26 Cf. Const. 14.

27 Cf. Const. 21.

28 E. Ceria, o.c., p. 256.

29 E. Ceria, o.c., p. 256.

30 Atos do CG 21, 80.

31 Const. 40.

32 Const. 5.

33 Cf. O projeto de vida dos salesianos de Dom Bosco — Guia à leitura das Constituições salesianas, p. 114.

34 Estatuto, art. 1º.

35 Estatuto, art. 3º.

36 Estatuto, art. 1º, d.

37 Cf. Unitatis Redintegratio.

38 Cf. Nostra Aetate.

39 Cf. Instrução do Secretariado para os não-crentes da Cúria Romana.

40 Cf. CG 21, 69.

41 Regul. 39.

42 Art. 1º, b.

43 Art. 1º, e.

44 Cf. Documento Adjunto 5,1.

45 Documento Adjunto 2.

46 Cf. Estatuto 3, a.

47 ACG 299, Apelos do Sínodo ‘80, 8.

48 Mons. Francisco J. Cox: 14/10/1980.

49 Documento Adjunto 5,2.

50 Estatuto 3, a.

51 Documento Adjunto 5, d, c.

52 Pe. Luís Ricceri, CG 20, p. XVIII.

53 Documento Adjunto 1, b.

54 Const. 63.