351-400|pt|395 Ásia Sul
1. CARTA DO REITOR-MOR

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Nós te esperamos, te esperamos muito,

mas finalmente estás aqui; estás entre nós e não nos fugirás!"

 (MB XVIII, 72)

 
APRESENTAÇÃO DA REGIÃO ÁSIA SUL
21 de setembro de 2006

Festa de São Mateus Apóstolo
Introdução

1.         Um grande sonho realizado

2.         A Região Ásia Sul. Situação política, social e religiosa da Região: Índia, Sri Lanka, Mianmar, Nepal, Kuwait, Iêmen

3.         História da presença salesiana na Região

3.1       Atividade missionária na primeira metade do século

3.2       Dois grandes missionários: Dom Louis Mathias e Padre José Carreño

3.3       O rápido desenvolvimento da Congregação. Os salesianos na Índia, em Mianmar, no Sri Lanka, no Nepal, no Kuwait, no Iêmen

4.         A atual presença salesiana

4.1       Coordenação interispetorial

4.2       Formação. Formação permanente. Formação inicial

4.3       Pastoral juvenil. Instituições educativas, internatos e pensionatos, centros juvenis,  apostolado em favor dos jovens em situação de risco (YaR), serviço de orientação profissional, orientação vocacional

4.4       Família Salesiana

4.5       Comunicação social

4.6                   Atividade missionária. Missão de Arunachal. Paróquias. Programa de desenvolvimento social, parte integrante da atividade missionária

5.         A santidade dos primeiros missionários. Dom Estevão Ferrando e Padre Francisco Convertini

6.         Os grandes desafios da Região

6.1       Dar Deus aos jovens, prioridade absoluta

6.2       Viver apaixonados pela “missio ad gentes”

6.3       Robustecer a vida comum

6.4       Preocupar-se com a identificação carismática dos irmãos

Caríssimos irmãos,

há três meses, eu publiquei a carta de convocação para o CG26 que obteve, em todos os lugares, uma acolhida muito expressiva, como testemunham os inúmeros e-mails e cartas que recebi e continuo a receber, expressando a alegria dos irmãos pelo tema escolhido, o seu orgulho de serem filhos de Dom Bosco e a sua disponibilidade a atuar as mudanças pessoais, comunitárias e institucionais necessárias a fim de permanecerem sempre fiéis a Deus, a Dom Bosco e aos jovens.

Agora, nesta minha carta, quero continuar a apresentação das Regiões. E logo, enquanto começo a escrever a carta, minha mente se inunda de recordações ainda vivas das duas visitas que fiz à Região Ásia Sul: a primeira, em fevereiro de 2005, às Inspetorias de Kolkata, Guwahati e Dimapur, no nordeste da Índia, e a Nova Délhi, capital da Índia, para estar presente na inauguração das celebrações centenárias da presença salesiana naquele país e presidir em seguida a visita de conjunto; a segunda, em fevereiro de 2006, ao Sri Lanka para a celebração dos cinqüenta anos de presença salesiana naquela ilha-nação, e às Inspetorias indianas de Chennai, Bangalore e Hyderabad e, de modo particular, a Thanjavur, Inspetoria de Tiruchy, para encerrar as celebrações centenárias.

Aguardo a minha próxima visita em fevereiro de 2007 às outras Inspetorias da Região, Bangalore (especificamente ao Kerala, para o jubileu de ouro da presença salesiana naquele estado) e Mumbai, à Visitadoria de Panjim (para o jubileu de diamante da presença salesiana naquele território), à Visitadoria de Mianmar, e a Ranchi, na Inspetoria de Nova Délhi.

Impressionou-me, em minhas primeiras visitas à Região, a fecundidade com que o carisma salesiano viveu e se manifesta nas diversas Inspetorias. Ainda tenho diante dos olhos as faces dos milhares de jovens, cheios de vida e de entusiasmo, vistos nos vários encontros. Onde quer que fosse, ouvia crianças e jovens aclamarem e gritarem: "Viva Dom Bosco!". Como esquecer o encontro em Chennai, aonde mais de 15.000 jovens vindos de vários de nossos institutos se reuniram para um encontro de paz? Toda aquela exultação era expressão da alegria de terem sido educados pelos filhos de Dom Bosco, de pertencerem à Família Salesiana e de encontrarem o sucessor de Dom Bosco.

O primeiro centenário da presença salesiana na Região foi realmente um dom de Deus à Igreja e à Congregação. Para os salesianos, o que aconteceu foi um século para aprender, crescer e levar à realização o sonho de Dom Bosco em favor dos jovens, um século de bênçãos abundantes. A esta altura, devo expressar o reconhecimento da Congregação a todos os que foram instrumentos desse maravilhoso desenvolvimento. A vibrante presença salesiana na Região é, hoje, fruto do empreendimento pioneiro dos missionários estrangeiros que fizeram do “Da mihi animas” de Dom Bosco a razão e o motor de sua vida. Eles implantaram o carisma salesiano que está produzindo frutos em abundância. A todos esses missionários, de variadas línguas e nacionalidades, a grande maioria dos quais já passou à casa do Pai para receber a recompensa dos servos fiéis, vai a gratidão do Reitor-Mor e de toda a Congregação!

Como afirmei na homilia da missa inaugural das celebrações centenárias em Nova Délhi, no dia 28 de fevereiro de 2005, «não podemos deixar de ficar admirados pela enorme expansão do carisma de Dom Bosco, pelo florescimento das vocações, pelo desenvolvimento da Família Salesiana, a ponto de podermos dizer que hoje a Congregação tem um rosto indiano». Certamente; e desse rosto indiano e sul-asiático quero vos falar nas páginas seguintes.

1. Um grande sonho realizado

A história da presença salesiana na Região tem raízes muito distantes. Já em 1875 Dom Bosco falara da Índia como um dos possíveis futuros países para onde enviar os seus missionários. [1] Um ano depois mencionou o Ceilão (atual Sri Lanka) entre os futuros campos missionários. [2] Nesse mesmo ano Pio IX oferecia a Dom Bosco um Vicariato na Índia e, no ano seguinte, Dom Bosco escrevia ao P. Cagliero: «Vamos assumir o Vicariato Apostólico de Mengador (Mangalore)» e projetava ao mesmo P. Cagliero a possibilidade de ser o seu Vigário Apostólico. [3] Enfim, na noite entre 9 e 10 de abril de 1886, Dom Bosco teve em Barcelona o sonho missionário que «contou ao P. Rua (e a outros), numa voz interrompida pelos soluços».

Dom Bosco «viu uma imensa multidão de jovenzinhos que, correndo ao seu redor, diziam-lhe: "Nós te esperamos, te esperamos muito, mas finalmente estás aqui; estás entre nós e não nos fugirás!" [...]; enquanto estava como que atônito entre eles, contemplando-os, viu um imenso rebanho de cordeiros guiados por uma pastorinha que,  separando os jovens das ovelhas e colocando uns de um lado e os outros de outro, deteve-se junto de Dom Bosco e lhe disse: "Vês o quanto tens pela frente?". "Sim, estou vendo", respondeu Dom Bosco. "Pois bem, recorda-te do sonho que tiveste aos dez anos?". Em seguida, ela fez com que os jovens viessem para junto de Dom Bosco, dizendo a ele e a eles: "Eleva o teu olhar e elevai-o vós todos e lede o que está escrito". Um dos jovens leu: "Valparaíso", um outro "Santiago", outros "Pequim". Então, a pastorinha, que parecia ser a mestra dos jovens, disse: "Traça, agora, uma única linha de uma extremidade à outra, de Pequim a Santiago...". A pastorinha continuou falando a Dom Bosco, "…Vês aqui outros dez centros, desde o centro da África até Pequim. E também esses centros fornecerão missionários para todos esses outros lugares. Lá está Hong-Kong, ali Calcutá... Estes e mais outros terão casas, estudantados e noviciados"». [4]

Pois bem, vendo a multidão de jovens nos vários encontros que mantive com eles na Índia, eu me recordei das palavras dirigidas a Dom Bosco pelos jovens no sonho: “Nós te esperamos, te esperamos muito, mas finalmente estás aqui; estás entre nós e não nos fugirás!" e, com gratidão, as vi realizadas. O nosso trabalho na Ásia, especialmente na Ásia Sul, já foi então previsto por Dom Bosco, mostrado claramente a partir do céu a ele, pela pastorinha, como parte do futuro da Congregação, e o que vemos hoje é a realização daquele sonho.

Os bispos do Padroado de Mylapore ao sul da Índia foram, nas mãos de Deus, os instrumentos imediatos para levar os salesianos à Região. Desde 1896 D. Antonio de Souza Barroso pediu reiteradamente ao P. Rua que enviasse os salesianos a fim de trabalharem em sua diocese. O seu sucessor foi o bispo Teotônio Manuel Ribeiro Vieira de Castro, grande admirador de Dom Bosco. Em 1885, como jovem padre, ele estivera em Turim para encontrar-se com Dom Bosco e receber a sua bênção. Por isso, quando se tornou Bispo de Mylapore, demonstrou-se muito desejoso de ter os salesianos em sua diocese, e a partir de 1901 escrevia freqüentemente ao P. Rua, pedindo os salesianos. O P. Rua, enfim, anuiu em enviá-los, desde que sob certas condições (em sua maior parte, relativas às despesas, à residência e à manutenção). Um acordo formal foi preparado e assinado por D. Manuel de Castro e pelo P. Rua em Turim no dia 19 de dezembro de 1904. Concordou-se que os salesianos seriam enviados a Thanjavur, que então fazia parte da diocese de Mylapore, para assumirem um orfanato que já existente e uma escola profissional. Dessa forma, em 5 de janeiro de 1906, sob a guia do P. Jorge Tomatis, o primeiro grupo de cinco salesianos chegou à Índia.

2. A Região Ásia Sul

Até o CG25, a Ásia Sul fazia parte da Região Ásia e, mais tarde, da Australásia. Considerando o crescimento constante dos salesianos e das obras nessa Região, o Capítulo Geral 25 subdividiu a Região em duas: Ásia Leste - Oceania e Ásia Sul. Hoje, a Ásia Sul compreende 9 Inspetorias mais a Visitadoria de Konkan na Índia, as Visitadorias de Mianmar e do Sri Lanka, e as comunidades e presenças das Ilhas Andaman (pertencentes à Inspetoria de Chennai), do Nepal (pertencentes à Inspetoria de Kolkata), do Iêmen (pertencentes à Inspetoria de Bangolore) e do Kuwait (pertencente à Inspetoria de Mumbai).

No início do século vinte, no momento da chegada dos salesianos, Índia, Birmâmia (hoje Mianmar) e Ceilão (hoje Sri Lanka) eram colônias inglesas, enquanto o Kuwait era um protetorado britânico. A Índia obteve sua independência em agosto de 1947, Mianmar em janeiro de 1948, o Sri Lanka em fevereiro de 1948 e o Kuwait em setembro de 1961. O Nepal era um país independente desde a segunda metade do século dezoito.

Situação política, social e religiosa da Região

Como a Região Ásia Sul é muito vasta e as nações que a compõem muito diversas em culturas e línguas, consideraremos os países separadamente.

Índia

A Índia, situada geograficamente na parte sul da Ásia, com seus limites estendidos do Mar da Arábia ao Golfo de Bengala, encontra-se entre Mianmar e Paquistão.

Originariamente, a Índia foi povoada pelos dravidianos, cuja civilização é uma das mais antigas do mundo, indo ao menos há 5.000 anos. Por volta de 1.500 a.C. alguns grupos de arianos invadiram o subcontinente indiano a partir do noroeste; sua fusão com os habitantes originários deu início à atual cultura clássica indiana.

Mais tarde, árabes, turcos e mercantes europeus fizeram regularmente incursões pelo território indiano; enfim, durante o século dezenove a Grã Bretanha assumiu o controle político de quase todo o território indiano. Uma prolongada resistência ao colonialismo inglês desembocou na independência de 1947.

Com a independência, o subcontinente foi dividido em dois: o estado secular da Índia e o estado muçulmano, menor, do Paquistão. A guerra de 1971 entre os dois países fez com que o leste do Paquistão se tornasse uma nação separada, chamada Bangladesh.

As sucessivas ondas de invasores estrangeiros deixaram uma marca indelével na cultura do subcontinente indiano. Do total da população, cerca de 72% são de origem indo-ariana e 25% são de origem dravidiana. Um número considerável da população é identificado como dalit. Estes entram no elenco de “scheduled castes” do governo indiano e podem ter acesso a alguns benefícios sociais. Há ainda várias tribos que pertencem à lista de “scheduled tribes”.

A religião hindu (dharma) contempla quatro castas em ordem hierárquica: os brahmin (classe sacerdotal), os kshatriya (classe principesca), os vaishya (classe comercial) e os sudra (classe operária). Os membros dessas castas principais têm oprimido diversos grupos dos habitantes originários, reduzindo-os a uma classe de "fora de casta", os dalit, os párias. Durante e depois da luta pela independência, houve uma forte reação na Índia em relação a essa situação injusta, e hoje tanto o governo quanto a Igreja fazem muito pelo bem-estar dos "fora de casta". Mencionamos especificamente este grupo porque cerca de 70% dos cristãos na Índia pertencem aos dalit, e, em algumas de nossas Inspetorias indianas, eles são os principais destinatários e beneficiários do nosso apostolado.

Hoje, a Índia é a maior democracia no mundo, o segundo país mais populoso, com uma população que supera o bilhão (1.095.351.995), dos quais 80,5% são hindus, 13,4% muçulmanos, 2,3% cristãos. Há, no interior da nação, enormes desigualdades entre ricos e pobres. A taxa de alfabetização é de apenas 59,5%. A língua oficial é o hindi, enquanto o inglês goza de uma posição associada como língua nacional. Além dessas, existem outras 14 línguas oficiais, cada qual com sua própria escrita, e 200 outras línguas não oficiais, sem contar os milhares de dialetos. A Índia é, dessa forma, um verdadeiro mosaico de línguas, culturas e tradições que contribuem para sua desconcertante complexidade e para sua riqueza única.

Após as eleições parlamentares de maio de 2004 houve uma mudança de governo: do partido ultranacionalista de ideologia hindutva (isto é, exclusivamente hindu), passou-se a uma coalizão mais moderada de centro-esquerda, com o apoio externo do partido comunista. Os conflitos inter-religiosos (principalmente entre hindus e muçulmanos) explodem freqüentemente. A perseguição direta ou indireta dos cristãos também continua, com algum incidente violento de vez em quando. É preciso acenar aqui à promulgação em alguns estados de uma lei contra as conversões, que proíbe a assim chamada conversão "forçada" de uma religião a outra. O verdadeiro motivo da lei, porém, é impedir que o povo das castas inferiores e das tribos enunciadas se torne cristão. Muitas vezes os porta-vozes da Igreja têm esclarecido as coisas, ou seja, que a conversão, por sua natureza intrínseca, não é forçada e que não existem conversões forçadas na Igreja.

Em nível político, há um conflito desde longa data entre Índia e Paquistão sobre a questão da Caxemira, que por bem três vezes levou as duas nações à guerra, aos limites de uma guerra nuclear. Recentemente, porém, parece que há menos tensão e mais abertura ao diálogo e tem-se a impressão de que a situação está melhorando.

A globalização chegou à Índia de maneira notável mais ou menos no último decênio. O país está perto de se tornar uma superpotência econômica nos próximos decênios, com todos os males concomitantes, como o consumismo, o materialismo, o distanciamento sempre crescente entre os que possuem e os que não possuem. A população da Índia ainda é preponderantemente rural e agrícola, mesmo se no momento presente esteja sendo desenvolvida uma vasta gama de indústrias modernas e uma multiplicidade de serviços, que alimentam o crescimento econômico. A Índia tem condições de tirar vantagem do grande número de gente muito instruída e competente na língua inglesa, a ponto de ser um importante exportador de serviços e de habilidades em software. A enorme população em crescimento é, ao mesmo tempo, o seu principal recurso em termos de capital humano, junto aos seus prementes problemas sociais e econômicos, que se tornam ainda mais difíceis pelo sistema difuso das castas, especialmente nas zonas rurais.

 As origens do cristianismo na Índia podem ser referidas a São Tomé Apóstolo em 52 d.C.; a Igreja siro-malabarense reivindica sua origem justamente a São Tomé. Um grande impulso foi dado com a chegada de São Francisco Xavier em 1542 e pela atividade missionária dos jesuítas. Depois de sua supressão em 1776, foram para a Índia os missionários estrangeiros de Paris (M.E.P.) que trabalharam muito pela evangelização. Uma parte do grupo jacobita (que séculos antes tinha deixado a Igreja Católica devido à excessiva política latinizante dos missionários portugueses) retornou à plena comunhão com a Igreja Católica Romana em 1930. Dessa forma, além da Igreja de rito latino, existem outras duas Igrejas Católicas em plena comunhão com Roma: a Igreja siro-malabarense e a Igreja siro-malankarense, que são governadas pelos respectivos arcebispos maiores; o arcebispo maior da Igreja siro-malabarense é também cardeal. Atualmente há na Índia três cardeais em atividade, um dos quais (o cardeal Ivan Dias, de Mumbai) foi recentemente nomeado Prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos.

Os cristãos na Índia são mais de 24 milhões, correspondentes a 2,3% da população; entre eles, os católicos são 1,98% da população. Há 21.931 sacerdotes (12.207 diocesanos e 9.724 religiosos); as pessoas consagradas são 102.102 dos quais 12.802 são homens e 89.300 mulheres. [5] 68% do clero e dos religiosos provêem do sudeste do país, dos estados de Kerala, Tâmil Nadu, Mangalore e Goa. Algumas dioceses siro-malabarenses do Kerala têm um alto percentual de católicos (Palai, no Kerala, tem 50,64% de católicos), enquanto existem algumas dioceses no norte da Índia que têm menos de 0,02% de católicos.

A hierarquia católica foi erigida na Índia em 1886, a da Igreja siro-malabarense em 1923, e a da Igreja siro-malankarense em 1932. Além da Conferência Nacional dos Bispos (CBCI), há, desde 1987, outras três distintas conferências de bispos para os três ritos católicos (latino, siro-malabarense e siro-malankarense.

A comunidade cristã, e mais especificamente a comunidade católica, é uma força na Índia. Embora sendo uma minúscula minoria, os cristãos provêem a 20% da educação primária no país, a 10% dos programas de alfabetização e assistência sanitária comunitária, a 25% do cuidado com os órfãos e as viúvas, e a 30% do cuidado com os deficientes, leprosos e vítimas da AIDS.

O maior desafio que a Igreja da Índia deve enfrentar é o trabalho pelos mais pobres e oprimidos, com descortino e testemunho claro e evangélico, a promoção do diálogo ecumênico e inter-religioso entre os membros das várias religiões e seitas.

Sri Lanka

O Sri Lanka (chamado anteriormente de Ceilão) é uma ilha-nação tropical, a cerca de 31 quilômetros ao sul da Índia. Encontra-se no Oceano Índico em posição estratégica, na principal rota comercial marítima entre o Extremo Oriente e a África e a Europa.

O país tem uma história muito antiga: os especialistas atestam que houve colônias na ilha há pelo menos 130.000 anos. Um grande percentual da população de mais de 10 milhões è de origem indiana.  Entre eles, a maioria (o grupo cingalês) tem suas origens há milhares de anos e é considerado o povo nativo do país; constituem 73,8% da população, enquanto um número menor de tâmeis do sul da Índia forma o segundo maior grupo (mais de 8,5%) e vive principalmente na parte norte da ilha.

A guerra civil entre o povo cingalês e o povo tâmil, este último apoiado pelo grupo revolucionário LTTE, causou mais de 100.000 mortos nos últimos dois decênios além de deslocar mais de 200.000 tâmeis que buscaram refúgio no ocidente. Ultimamente, a ilha foi severamente atingida pelo tsunami de 26 de dezembro de 2004 que causou mais de 10.000 mortos e provocou danos ingentes. Nossos irmãos mobilizaram rapidamente os recursos para levar conforto aos parentes dos mortos, juntamente com alimento, teto e outras ajudas ao povo.

Da população total, os budistas constituem 69,1%, os muçulmanos 7,6%, os hindus 7,1%, os cristãos 8%, e os demais grupos não especificados cerca de 10%.

 Alguns sacerdotes portugueses chegaram à ilha já em 1505. O trabalho de evangelização teve início em 1543, e deu passos enormes na primeira metade do século dezessete, com a chegada de vários grupos de missionários. Entre eles estava o Beato José Vaz, sacerdote vindo de Goa. Durante a segunda metade do mesmo século, porém, quando a ilha-nação passou para o governo holandês (1650-1795), o trabalho de evangelização encontrou sérios obstáculos. Mais tarde, com a chegada dos ingleses, a situação melhorou, embora vários fatores tenham contribuído para criar obstáculos às atividades da Igreja até à independência do país em 1948.

A hierarquia católica foi erigida em 1886. Em 1893 foi aberto um seminário pontifício em Kandy a fim de prover à formação sacerdotal do clero da Índia e do Sri Lanka. Em 1955, o seminário pontifício de Kandy foi transferido para Pune, na Índia; em seu lugar foi criado em Ampitiya o seminário nacional de Nossa Senhora do Sri Lanka, para servir às dioceses daquele país. Hoje, a população católica soma 1.365.000 (6,8% da população total); há 11 dioceses com 1.080 sacerdotes (683 diocesanos e 397 religiosos) e um número total de 3.038 religiosos, dos quais 577 são homens e 2.461 são mulheres. [6]

O maior desafio da Igreja no Sri Lanka é trabalhar pela reconciliação entre tâmeis e cingaleses, e resolver o problema étnico; como também, trabalhar por um maior diálogo com os budistas.

Mianmar

Mianmar (antiga Birmânia) encontra-se no sudeste da Ásia, confinante com a China, Laos, Bangladesh e Tailândia, às margens do Mar de Andaman e do Golfo de Bengala. A população de Mianmar é de cerca de 48.000.000, dos quais os budistas constituem 89%, os cristãos 4% e os muçulmanos 4%.

Desde 1988 uma cruel junta militar governa o país. Ela não permite aos cidadãos usufruírem seus direitos humanos, liberdade de autodeterminação política, liberdade de imprensa e de expressão. Os grupos étnicos nos estados de Shan, Mon, Karen e Karenni (nos limites com a Tailândia) são reprimidos pelo governo por objetivos militares, seguindo um plano sistemático de "purificação étnica", como é chamado.

A origem da Igreja em Mianmar pode ser situada pela metade de 1500, e especificamente numa tentativa de evangelizar feita em 1544 por um franciscano francês. Quase um século mais tarde, os capuchinhos chegaram a Mianmar e, depois deles, os barnabitas. Após a primeira metade do século dezenove, como conseqüência da guerra entre ingleses e birmanes, a Igreja foi quase completamente exterminada, de modo que em 1866, ficaram apenas dois sacerdotes católicos. A situação foi melhorando gradualmente e, em 1955, foi erigida a hierarquia católica.

Hoje, em Mianmar há uma população católica de mais de 620.000 habitantes (1,16%); há 13 dioceses, com 574 sacerdotes (dos quais 540 são diocesanos e 34 religiosos) e 1.627 consagrados religiosos, dos quais 139 são homens e 1.488 mulheres. [7]

Em 1965-1966, o governo nacionalizou todos os institutos eclesiásticos. Contudo, apesar dos obstáculos provenientes da situação política, a Igreja é vibrante e dinâmica. Desde 1995 a Conferência Episcopal de Mianmar pressiona pela liberdade de religião, tendo como base a Constituição nacional.

Nepal

O Nepal, país do sul da Ásia, sem saída para o mar, encontra-se numa posição estratégica entre a China e a Índia; é um país que vai dos 70 aos 8.850 metros do monte Everest; nove das dez elevações mais altas do mundo estão no Nepal.

O Nepal está entre os países mais pobres e subdesenvolvidos do mundo, tendo um terço da população abaixo da linha de pobreza. O desenvolvimento econômico do Nepal é muito baixo, e isso se deve ao seu atraso, à sua localização geográfica remota e sem saída para o mar, à facilidade com que está sujeito a desastres naturais e, sobretudo, à luta civil interna, entre guerrilheiros maoístas e um número de grupos radicais antimonárquicos com os filos-esquerdistas. A situação precária reduziu também o turismo, que em tempos melhores era uma das fontes principais de moeda estrangeira.

 O país tem uma população de 29 milhões de habitantes e é governado por um rei, com um parlamento e alguns ministros. A situação política, porém, é mutável, se não até mesmo anárquica. Exemplo típico deu-se em 2001, com o massacre de dez membros da família real, inclusive o rei e a rainha, pelas mãos do príncipe herdeiro. A maior parte da população do país é hindu. A conversão a uma outra religião è proibida por lei.

 A fé católica foi levada ao Nepal em 1628 pelos missionários jesuítas, mas o trabalho de evangelização iniciado por eles foi muito incipiente. Hoje, os católicos são cerca de 8.000 (0,02%), com 50 sacerdotes (12 diocesanos e 38 religiosos), 164 consagrados religiosos, dos quais 40 são homens e 124 mulheres. [8]

As conversões do hinduísmo, que é a religião nacional, não são apenas proibidas, mas puníveis com prisão. É vedada a missão cristã entendida como proclamação explícita do Evangelho.

Kuwait

O Kuwait, um pequeno país do Oriente Médio, encontra-se entre Iraque e Arábia Saudita, confinante com o Golfo Pérsico. Embora rico em petróleo, é quase totalmente dependente da importação de alimentos e 75% da água potável devem ser destilados ou importados.

O Kuwait tem uma população de cerca de 2.650.000, incluindo 1.300.000 estrangeiros; 85% são muçulmanos, enquanto os outros 15% são formados por cristãos, hindus, seguidores do zoroastrismo e outros, quase todos expatriados.

A origem do cristianismo na região pode ser referida aos tempos apostólicos. No momento presente, os católicos são cerca de 158.500 (5,98%) da população total e pertencem a vários ritos. Há um bispo católico e uma catedral em Kuwait City, e três outros lugares para o culto; há 12 sacerdotes, dos quais 9 são religiosos. Os consagrados religiosos são 22, dos quais 13 são irmãs. [9]

Iêmen

O Iêmen é um outro país no Oriente Médio, com uma população de quase 21.000.000, praticamente toda muçulmana, com um número insignificante de judeus, cristãos e hindus. A região norte obteve sua independência do império otomano em 1918, enquanto os ingleses se retiraram da região sul somente em 1967. Quando o Iêmen do sul tomou uma orientação marxista, milhares de cidadãos do sul refugiaram-se no norte; esse êxodo levou ao conflito entre as duas regiões.  Enfim, em 1990, as duas regiões uniram-se formando a República do Iêmen. Agora, falando relativamente, o país goza de uma certa harmonia.

Os católicos são cerca de 4.000 numa população total de 21 milhões, e são em sua maioria expatriados filipinos e indianos, com um pequeno grupo de iraquianos, sudaneses, libaneses, jordanianos, americanos e ingleses. Há 5 sacerdotes salesianos que atuam como capelães das Missionárias da Caridade de Madre Teresa, provendo também às necessidades espirituais da pequena população católica. Há quatro comunidades das Missionárias da Caridade de Madre Teresa, com 24 irmãs de diversas proveniências. Em 1998 três delas foram mortas por um fundamentalista islâmico: foram as primeiras mártires das Missionárias da Caridade a darem a vida pela fé no serviço aos pobres. Em alguns centros, onde os salesianos trabalham, são realizados alguns programas de animação a fim de ajudar os expatriados a resistirem à atração dos fundamentalistas islâmicos e das seitas protestantes. A situação está melhor atualmente, a partir de 2000, quando o Presidente ordenou ao primeiro ministro que devolvesse à Igreja Católica no Iêmen os edifícios das igrejas com seus terrenos adjacentes.

3. História da presença salesiana na Região

 O primeiro grupo de salesianos era formado por três sacerdotes, um clérigo, um coadjutor e um aspirante; eram quatro italianos, um belga e um francês, sob a guia do P. Jorge Tomatis. Embarcaram em Gênova no dia 17 de dezembro de 1905 e chegaram a Bombaim no dia 5 de janeiro do ano seguinte. Hospedados primeiramente pelo bispo de Daman e depois pelo de Mylapore, chegaram a Thanjavur, sua destinação missionária, no dia 14 de janeiro de 1906.

Assumiram logo a responsabilidade do orfanato S. Francisco Xavier e da escola elementar da paróquia. No arco de três semanas desde a sua chegada, ativaram um grupo de cooperadores salesianos e deram início ao oratório festivo, onde à noite depois da recreação os meninos tinham uma hora de catecismo, ensinado pelos cooperadores e por alguns jovens mais velhos. Em fevereiro do mesmo ano deram início a duas oficinas.

Já em junho de 1906 eles administraram o primeiro batismo. Desde o início, procuraram desenvolver também as vocações indígenas. Dessa forma, em agosto de 1907 um jovem de 18 anos, Inácio Muthu, pediu para entrar entre os salesianos de Thanjavur. Em 1908, com um outro aspirante, foi enviado à Itália para fazer o noviciado. Depois do noviciado, e depois dos estudos filosóficos feitos em Portugal, os dois jovens salesianos retornaram à Índia. Inácio Muthu, ordenado no dia 31 de dezembro de 1916, foi o primeiro sacerdote salesiano indiano.

Enquanto completavam os dois primeiros anos de trabalho salesiano em Thanjavur, a morte inesperada, no dia 19 de novembro de 1907, do P. Ernest Vigneron, um dos missionários do primeiro grupo, foi um duro golpe para a comunidade salesiana. Deus, porém, proveu de modo singular. Outro missionário francês, P. Eugenio Mederlet, estava indo para a China a fim de encontrar-se com os missionários salesianos em Macau. Passando pela Índia, deteve-se a fim de visitar o seu amigo P. Vigneron. Enquanto ainda estava na Índia, o seu amigo morreu, e o P. Rua mandou um telegrama ao P. Mederlet pedindo-lhe que permanecesse ali para substituí-lo.

Em 1909 o P. Tomatis, deixando a missão de Thanjavur aos cuidados do P. Mederlet, foi a Mylapore (Chennai) para iniciar uma segunda fundação. Também ali se começou com o trabalho pelos órfãos num orfanato já existente. O P. Tomatis morreu inesperadamente em 1925.

Entretanto, a Santa Sé pressionava os salesianos para que aceitassem a vasta missão do Assam. Enfim, no dia 13 de janeiro de 1922, o primeiro grupo de 11 missionários (6 sacerdotes e 5 coadjutores), tendo o P. Luís Mathias como chefe, chegou em Shillong, então capital do Assam. Em dezembro de 1922, o P. Mathias foi nomeado Prefeito Apostólico do Assam. A partir daquele momento não se voltou mais o olhar para trás. Em 1923, os salesianos da Índia formavam uma Visitadoria com sede em Shillong, e o P. Mathias foi nomeado seu primeiro superior. Em 18 de maio de 1926, a Visitadoria indiana foi elevada a Inspetoria: o P. Mathias tornou-se o seu primeiro Inspetor, a sede continuou em Shillong, e São Tomé Apóstolo foi escolhido como patrono.

Enquanto a obra salesiana ia muito bem no norte, a situação no sul não era tão encorajadora. Os salesianos tiveram alguns problemas com a administração diocesana local. O bispo local tinha-se demonstrado muito amigo e paterno para com os salesianos; o mesmo não aconteceu, porém, com o Vigário Geral que governou a diocese durante a longa ausência do bispo na Europa. Por isso, o Visitador extraordinário, P. Pedro Ricaldone, retirou os salesianos de Thanjavur e Mylapore e mandou-os para Mumbai e Vellore. Em 1928, a missão de Norte Arcot, com sede em Vellore, foi unida à arquidiocese de Madras que, por sua vez, foi entregue aos salesianos, enquanto o P. Eugenio Mederlet foi nomeado arcebispo.

Em 1934, o P. Luís Mathias e o P. Estevão Ferrando foram ordenados bispos respectivamente de Shillong e de Krishnagar. Em 1935 D. Mederlet morreu improvisamente. D. Mathias foi então transferido para a arquidiocese de Madras e D. Ferrando para Shillong. Em 1939 os salesianos do norte entraram na Birmânia (Mianmar) e começaram a trabalhar  em Mandalay; em 1956 os do sul iniciaram a obra salesiana em Negombo, no Sri Lanka.

3.1 Atividade missionária na primeira metade do século

A partir de 1922 e até à segunda guerra mundial houve um fluxo constante de missionários salesianos, que foram do exterior à Índia. Depois da proclamação da independência, em 1947, tornou-se sempre mais difícil aos missionários estrangeiros entrarem na Índia. Enfim, em 1966, o governo pôs fim à entrada de missionários estrangeiros. Dessa forma, de 1906 até 1966, um período de 60 anos, mais de 450 salesianos de vários países foram para Índia como missionários – a maior parte deles da Europa, especialmente da Itália, mas alguns também da Austrália e das Américas. A imensa maioria deles morreu na Índia, terra de sua adoção missionária; alguns poucos retornaram ao país de origem por motivos de saúde ou por outros motivos conexos. Hoje restam na Índia apenas 31 missionários estrangeiros.

Desde o início, as missões foram uma expressão privilegiada do carisma salesiano entre a juventude. Partir da educação dos jovens para chegar à evangelização da gente local: essa, pode-se dizer, foi a estratégia missionária específica adotada pelos salesianos em todas as suas missões. A obra missionária na Índia apresenta, porém, algumas características próprias, que a distinguem da obra missionária em outros lugares da Congregação.

Deve-se sublinhar, primeiramente, que os missionários foram, desde o início, um grupo internacional proveniente de diversos países, apresentando assim a realidade de uma Igreja universal. Também servia de auxílio, o fato de esses missionários manterem contato com os países de origem, para apoio econômico e psicológico, tão necessário ao desenvolvimento rápido da missão. Onde quer que uma obra missionária salesiana tivesse início, via-se  a transformação, o crescimento, o progresso em toda a zona circunstante.

Igualmente, a presença de um número consistente de coadjutores salesianos, que trabalhavam ao lado dos sacerdotes e punham as mãos em qualquer tipo de trabalho qualificado, causou uma impressão muito favorável, porque dizia da igualdade fundamental das pessoas num país dominado por divisões de tribos e de castas, e onde cada casta está ligada a um determinado tipo de trabalho. O papel do coadjutor salesiano nas missões foi decisivo para a qualidade e profundidade do seu testemunho leigo.

Dessa forma, a proclamação do evangelho e a celebração dos sacramentos caminharam ao lado da educação e do trabalho profissional, dando um forte testemunho da dignidade da pessoa humana e do trabalho humano. A rede de escolas, centros de treinamento profissional, internatos e escolas para meninos e meninas, surgidas rapidamente em todos os lugares no território missionário, teve um profundo impacto transformador sobre uma sociedade que há tempo estava estagnada e isolada, e abriu-a ao vasto mundo circunstante, dando um testemunho crível do poder do Evangelho e das suas implicações sociais de largo alcance.

 Uma segunda característica do trabalho missionário na Índia foi a formação dos missionários in loco. D. Mathias insistiu com os superiores para que enviassem jovens à Índia, aonde teriam iniciado o noviciado, passando depois através das fases formativas nos lugares do seu futuro missionário, aprendendo a língua, os costumes e as tradições da gente local, que haveriam de servir. Sua juventude, energia e zelo fizeram com que se adaptassem muito rapidamente às condições locais e se demonstrassem depois líderes e pioneiros excepcionais nas áreas às quais foram indicados. Juntamente com a opção em favor dos missionários jovens do exterior, ouve também, desde o início, a de recrutar vocações locais. Essa opção corajosa que ia contra a tendência então praticada em outros lugares, de contar exclusivamente com missionários estrangeiros, demonstrou-se sábia e clarividente, porque preparou os salesianos indianos, que cresceram e trabalharam ombro a ombro com os irmãos de origem estrangeira, para assumirem as rédeas do governo e da administração quando os missionários estrangeiros foram internados nos campos militares durante a guerra, ou não mais puderam entrar no país depois da proclamação da independência. O trabalho missionário não cessou, portanto, quando faltou o afluxo de missionários estrangeiros. Continuou, mas em mãos diversas, longamente amestradas pelo espírito e pelo zelo dos primeiros pioneiros.

Poderíamos dizer que a terceira característica significativa da estratégia missionária na Índia foi a fundação, feita por bispos salesianos, de institutos missionários de irmãs. As Irmãs Missionárias de Maria Auxiliadora, as Irmãs Catequistas de Maria Imaculada, as Irmãs Visitadoras de Dom Bosco, e outros institutos fundados recentemente, puseram à disposição das jovens igrejas do nordeste grupos zelosos e dedicados de irmãs locais, que giravam pelas aldeias e pelas pequenas cidades catequizando, provendo às necessidades sanitárias e, em geral, cuidando das mulheres e das crianças. Nos postos missionários, nos dispensários, nas escolas e nos internatos, essas valentes irmãs integravam admiravelmente o trabalho dos sacerdotes e dos coadjutores nos ângulos mais distantes do campo missionário.

É preciso evidenciar, ainda, o intrépido grupo de catequistas leigos em todo posto missionário. Nas aldeias mais distantes e inacessíveis, que os sacerdotes ou as irmãs só podiam visitar poucas vezes por ano, esses humildes catequistas, embora não sendo muito instruídos e escassamente retribuídos, constituíam a face visível da Igreja, reunindo o povo para a oração aos domingos, dando-lhes instrução, visitando os doentes, preparando os fiéis para os sacramentos, acompanhando os missionários em suas visitas, traduzindo os discursos nas línguas locais e fazendo os primeiros contatos em novos territórios. As Igrejas missionárias devem muito a esses catequistas pobres e simples, que foram a vanguarda do impulso missionário ad gentes.

De apenas 5.000 católicos no Assam, quando os primeiros missionários chegaram ao nordeste da Índia e aceitaram a missão do Assam dos Padres Salvatorianos, a Igreja Católica cresceu a 1.300.000 fiéis hoje, no espaço de pouco mais de 80 anos.

Isso que eu disse da atividade missionária no nordeste da Índia pode ser dito igualmente, com as devidas proporções, das demais partes da Região.

3.2 Dois grandes missionários

A esta altura, sinto a necessidade de fazer um parêntesis para prestar homenagem a dois eminentes missionários, a cujo zelo missionário, entusiasmo, capacidade administrativa e descortino de visão podem-se atribuir a implantação e o desenvolvimento do carisma salesiano. Durante minhas recentes visitas à Região, ouvi falar deles com grande respeito e estima.

Dom Luis Mathias (1887-1965)

O primeiro é o P. Luís Mathias, chefe da primeira expedição missionária ao norte da Índia, um salesiano francês, uma pessoa muito dinâmica. É, sem dúvida, o salesiano mais ilustre da Índia do século passado.

Ele pôs em ação, desde o início, aquele que mais tarde seria o lema oficial do seu episcopado, “Aude et spera”. Ousando e esperando, a despeito das circunstâncias adversas, ele levou a um rápido crescimento o número dos salesianos e de suas atividades, no período de sua responsabilidade como Inspetor da Índia. [10]

O P. Mathias não foi apenas um líder entusiasta, mas também uma pessoa capaz de despertar o mesmo entusiasmo nos outros. Ele demonstrou grande engenhosidade na superação dos sérios problemas que a nova missão do Assam teve que enfrentar, devido à falta de homens e de meios suficientes. Um de seus empreendimentos no Assam foi criar e manter o "espírito de família", especialmente nas casas de formação. Foi um organizador formidável e o cérebro de toda a programação nas missões. Tinha o controle de tudo, mas ao mesmo tempo deixava espaço à iniciativa local, para que os missionários não se sentissem sufocados, mas apoiados. O P. Ricaldone, Visitador extraordinário descreveu-o, em 1927, como alguém que «possuía capacidades extraordinárias para o seu ofício. Era inteligente: sabia como obter o apoio de outros. Mas, sobretudo, foi um homem de piedade e de observância religiosa exemplar». Graças ao seu grande amor por Dom Bosco, deu os passos necessários para implantar a Congregação não só no Assam, como também em Calcutá, Bombay, Madras, Norte Arcot e Krishnagar. O desenvolvimento da missão do Assam sob a sua liderança foi tal que a Santa Sé em 1934 constituiu Shillong como diocese, nomeando o P. Mathias seu primeiro bispo.

No mesmo ano, porém, tendo morrido o arcebispo salesiano de Madras, D. Mathias foi transferido para aquela diocese a fim de tomar o seu lugar. Madras era todo um outro mundo, mas ele adaptou-se à nova situação. Quando, depois, a Santa Sé uniu a Arquidiocese de Madras com a de Mylapore, criando assim a nova Arquidiocese de Madras-Mylapore, ele foi nomeado seu primeiro Arcebispo. Durante os trinta anos passados em Madras, demonstrou-se como um dos mais dinâmicos bispos da Índia. Sempre que os interesses da Igreja eram atacados pelo governo em qualquer parte da Índia, ele elevava sua voz de protesto, e freqüentemente com sucesso. Com muita justiça foi dito que a hierarquia, o clero e o laicato da Índia são devedores a D. Mathias pelos enormes serviços que ele prestou à Igreja naquele país. O trabalho que realizou na Arquidiocese de Madras-Mylapore é simplesmente monumental.

Ele permaneceu sempre um filho devoto de Dom Bosco. Foi extremamente generoso para com a Congregação. Algumas das melhores paróquias e escolas salesianas de Madras (agora Chennai) são dons do Arcebispo D. Mathias à Congregação.

P. José Carreño (1905-1986)

Outro salesiano significativo, que deixou uma forte marca no sul da Índia, foi o P. José Carreño, originário da Espanha. Se D. Mathias foi o salesiano mais ilustre da Índia durante o século passado, pode-se dizer que o P. Carreño foi o salesiano mais amado no sul da Índia durante o mesmo século. [11]

Quando os salesianos tiveram que se retirar de Thanjavur, o Norte Arcot tornou-se o campo do seu apostolado enquanto Tirupattur no Norte Arcot foi o coração do mundo salesiano ao sul da Índia. O P. Carreño fez palpitar esse coração de amor por Cristo. Foi dito que como mestre dos noviços, encargo que lhe fora confiado quando ainda não tinha trinta anos, fazia os noviços se enamorarem do Sagrado Coração de Jesus.

Reproduzo aqui duas cartas de dois de seus noviços, porque apresentam um quadro nítido do P. Carreño. A primeira é de Hubert D'Rosario, que mais tarde foi Arcebispo de Shillong-Guwahati. Ele escreveu: «O meu mestre de noviciado foi o P. Carreño. Ele se preocupava conosco como um pai... Nós nos sentíamos atraídos a ele e procurávamos imitá-lo. Ele nos inculcava alguns valores duradouros... Era um professor brilhante, um pregador convincente... Tínhamos sempre muita vontade de ouvir suas conferências, tão bem preparadas por ele. Éramos conquistados pelo seu coração paterno. A alegria, o amor, a paz e a esperança eram as coisas que se respiravam naquela casa... Aquela casa era como o paraíso». [12] O segundo testemunho é do P. Luís Di Fiore, que mais tarde foi Inspetor de Madras: «Sem dúvida, a herança mais preciosa que o P. Carreño nos transmitiu foi o espírito salesiano em suas características: sede pelas almas, caridade fraterna e espírito de família, apoiado na oração, no trabalho, na alegria, num sadio otimismo e na hospitalidade». [13]

Em 1944, o P. Carreño foi nomeado Inspetor da Inspetoria do sul da Índia, e na primeira reunião do Conselho foi tomada a decisão de consagrar a Inspetoria ao Sagrado Coração de Jesus. Muitos salesianos do sul da Índia atribuem o fenomenal crescimento da Inspetoria do sul ao amor do P. Carreño pelo Sagrado Coração e à consagração da Inspetoria ao Sagrado Coração de Jesus. A contribuição mais notável do P. Carreño à Índia salesiana foi o esforço de aumentar o número dos candidatos indígenas à vida salesiana. Já em 1893 o Papa Leão XIII escrevera: «... a sorte da Igreja na Índia jamais poderia ter raízes sólidas sem a dedicação contínua de um clero indígena na Índia, piedoso e zeloso». [14] O P. Carreño estava plenamente de acordo com o Papa sobre a importância das vocações indígenas à vida salesiana.

Com o início da segunda guerra mundial, cessou o fluxo de pessoal vindo da Europa. O pior, entretanto, foi que os salesianos italianos e alemães foram internados nos campos de concentração, e a Inspetoria ficou, então, com pouquíssimos salesianos. O P. Carreño em 1943 abriu um aspirantado em Tirupattur. De início, acolheu apenas os jovens que tinham concluído a escola secundária, mas, depois, percebendo que eram muito poucos em vista de tanto trabalho no futuro, começou a acolher também meninos mais jovens. Essa orientação permaneceu até o presente na Índia, e se hoje os salesianos indianos são tão numerosos, isso se deve ao descortino e à coragem do P. Carreño.

3.3. O rápido desenvolvimento da Congregação

A Visitadoria indiana, com sede em Shillong foi erigida em 1923; em 18 de maio de 1926, foi elevada ao grau de Inspetoria, sob o patrocínio de São Tomé Apóstolo. Sucessivamente, em 14 de janeiro de 1934, a Inspetoria salesiana da Índia foi dividida em duas: Inspetoria do norte da Índia, tendo como patrono São João Bosco, com sede em Shillong, que mais tarde foi transferida para Calcutá (Kolkata); e a Inspetoria do sul da Índia, tendo como patrono São Tomé Apóstolo, com sede em Vellore, mais tarde foi transferida para Madras (Chennai).

Em 17 de outubro de 1959, a Inspetoria de Guwahati, tendo como patrona Maria Auxiliadora, foi separada de Kolkata. Em 31 de janeiro de 1972 a Visitadoria de Mumbai foi erigida como Inspetoria, tendo como patrono São Francisco Xavier. Em 19 de março de 1979 a Inspetoria de Bangalore foi separada da Inspetoria de Chennai e assumiu como patrono o Sagrado Coração de Jesus, enquanto em 8 de dezembro de 1981, a Inspetoria de Dimapur foi separada de Guwahati e tomou  São Francisco de Sales como patrono. Em 24 de abril de 1992, Hyderabad, que até então fazia parte da Inspetoria de Bangalore, foi erigida como Inspetoria e dedicada a São José, enquanto a Delegação de Nova Délhi, que fazia parte da Inspetoria de Kolkata, foi canonicamente erigida como Inspetoria em 24 de janeiro de 1997, sob o patrocínio de Jesus Bom Pastor. Em 5 de agosto de 1999, a Inspetoria de Chennai foi dividida em duas, com a parte sul formando uma Inspetoria com sede em Tiruchy, tendo Nossa Senhora da Saúde como patrona. Enfim, em 2004, três delegações forma elevadas ao grau de Visitadorias, ou seja: em 6 de agosto, a de Mianmar, separada de Kolkata, tendo Maria Auxiliadora como patrona; em 15 de agosto, a do Sri Lanka, separada de Chennai, tendo São José como patrono; e em 31 e agosto, a da região de Konkan, separada de Mumbai, com o Beato José Vaz como patrono.

Os salesianos em Mianmar

Em 1894, o P. J. L. Lafon fundou em Mandalay um orfanato para meninos chineses, que depois foi ampliado para acolher órfãos de diversas nacionalidades que estavam na Birmânia, e ao qual foi acrescentada mais tarde uma escola. Dado o crescimento contínuo da escola e do internato, e considerando sua idade avançada, o P. Lafon, sozinho, não podia conduzir a obra. Em 1928, então, com a aprovação do bispo D. Falière, escreveu ao Inspetor salesiano, P. Mathias, pedindo que os salesianos assumissem a responsabilidade da obra. Enfim, em 1939, um grupo de seis salesianos, tendo como chefe o P. Antonio Alessi, chegou a Mandalay para assumir a direção do internato e da escola.

Como sempre acontece nos inícios de uma obra, também em Mianmar, os salesianos tiveram que passar por um período muito difícil devido a várias dificuldades, sobretudo econômicas. Logo em seguida, Mandalay tornou-se um campo de batalha entre japoneses e ingleses. Durante a guerra, os salesianos perderam praticamente tudo o que tinham, mas graças a Deus nenhum deles perdeu a vida. Entretanto, eles alojaram muitas pessoas, entre as quais dez seminaristas e órfãos e famílias de refugiados. Depois da guerra foi-se retornando gradualmente à vida normal, graças à ajuda das autoridades inglesas. Pouco tempo depois, porém, estourou uma guerra civil em Mianmar, e também desta vez os salesianos tiveram que sofrer muito.

Em 1952, os salesianos aceitaram a paróquia de Thingangyung, a cerca de 5 km de Yangon. Em 1957 abriram o aspirantado de Anisakan. Em 1964, o primeiro grupo de três noviços iniciou o noviciado em Anisakan continuando, depois da profissão, a formação do pós-noviciado na mesma casa. Veio em seguida a revolução socialista de 1965, e todos os missionários estrangeiros foram expulsos e as escolas privadas nacionalizadas. Somente o P. Fortunato Giacomin, missionário italiano, conseguiu ficar no país e manteve juntos os novos professos, agindo como seu superior, professor de filosofia e teologia, tudo junto.

Em 1975 foi aberta a missão de Lashio, graças ao zelo missionário de D. Jocelyn Madden; a missão continuou a florescer até transformar-se enfim numa diocese, com D. Charles Bo, SDB, como seu primeiro bispo. Em 1977 foi aberta uma casa de formação em Yangon para os estudantes de teologia, que freqüentavam o seminário maior interdiocesano. Em 1988 deu-se início ao aspirantado de Hsipaw e à missão dos estados Wa.

Desde os inícios, Mianmar fazia parte da Inspetoria de Kolkata. Em 1964 tornou-se Delegação com o próprio Delegado. Enfim, considerando a necessidade de ajudar a Delegação de Mianmar a se desenvolver, e visto também o crescimento contínuo embora lento do número dos irmãos, o número constante de pré-noviços e noviços, a possibilidade de um desenvolvimento integrado da região, a estima e o encorajamento dos bispos e, sobretudo, a fidelidade indefectível e o apego dos irmãos a Dom Bosco, especialmente durante os anos de provação, o Reitor-Mor decidiu em 2002 elevar a Delegação de Mianmar ao grau de Visitadoria. A ereção canônica aconteceu sucessivamente em 13 de junho de 2004.

Os Salesianos no Sri Lanka

O P. Enrique Remery, salesiano francês da Inspetoria de Chennai, deu início à presença salesiana na ilha em 1956 nas proximidades da cidade de Colombo; em 1962 foi aberto um instituto em Ettukal-Negombo. Embora a obra progredisse gradualmente, o P. Remery ficou ali apenas por poucos anos, porque o governo do Sri Lanka não permitia a entrada de indianos.

Por muitos anos, os jovens irmãos do Sri Lanka eram enviados à Índia para a formação inicial, o que também se tornou impossível por motivos políticos. Depois disso, em 1976, deu-se início em Kandy a um centro de formação para os jovens irmãos que se encaminhavam ao sacerdócio. Hoje, no Sri Lanka, existem diversas casas de formação: aspirantado, pré-noviciado, noviciado e pós-noviciado. Para os estudos teológicos os candidatos são enviados aos estudantados de teologia da Índia ou de outros lugares.

Em 1993, o Sri Lanka tornou-se Delegação da Inspetoria de Chennai. No arco de um decênio, a Delegação desenvolveu-se, dotando-se de uma infra-estrutura quase completa para a animação e a administração. Por isso, em 2003, o Inspetor de Chennai, com o consenso do seu Conselho e consultando o Delegado do Sri Lanka, pediu ao Reitor-Mor que separasse a Delegação do Sri Lanka da Inspetoria de Chennai e a erigisse como Visitadoria.  A Visitadoria do Sri Lanka foi canonicamente erigida em 13 de junho de 2004.

Os salesianos no Nepal

A presença salesiana no Nepal teve início em 1992. O P. Antonio Sharma, SJ, Prefeito Apostólico, adquiriu um terreno em Dharan e convidou os salesianos para cuidarem da missão, que consistia em cerca de 300 católicos ou 93 famílias na localidade e em seus centros próximos. Em 2000, os salesianos deram início a uma escola na capital Kathmandu. Temos atualmente uma comunidade e uma presença no Nepal, que faz parte da Inspetoria de Kolkata, com dois irmãos emprestados da Inspetoria de Bangalore.

Os salesianos no Kuwait

A presença salesiana no Kuwait teve início em 2000, quando o Reitor-Mor, P. Juan Vecchi, confiou o país aos salesianos da Inspetoria de Mumbai, para que iniciassem uma escola para os filhos de trabalhadores, empregados sobretudo no trabalho das construções. A maioria deles é de origem indiana ou filipina.

Os salesianos no Iêmen

O governo do Iêmen pediu a Madre Teresa de Calcutá que abrisse uma obra no país que se ocupasse de idosos e abandonados. Ela aceitou a proposta com a condição de que suas Irmãs tivessem um capelão para prover-lhes as necessidades espirituais. Quando o governo assentiu ao seu pedido, ela solicitou ao Reitor-Mor, P. Egídio Viganò, que pediu à Inspetoria de Bangalore o envio de alguns salesianos ao Iêmen como capelães para as Irmãs de Madre Teresa.

A primeira presença salesiana foi estabelecida em Sana'am capital do Iêmen; trabalho semelhante de capelania foi atuado também em outros lugares: em 1988, em Hodeidah, em 1989, em Taiz e em 1991, em Aden. Em todos esses centros, além de serem capelães oficiais das Missionárias da Caridade, os salesianos atendem a grupos significativos de católicos, em sua maior parte trabalhadores expatriados.

4. A atual presença salesiana

Hoje, a Região Ásia Sul conta com 9 Inspetorias e 3 Visitadorias, com cerca de 2.400 irmãos e 170 noviços, em 359 centros; destes, 270 são casas canonicamente erigidas e 89 presenças aprovadas, ainda não erigidas canonicamente. Há na Região 5 arcebispos e 6 bispos salesianos. A idade média dos irmãos é de 40,3 anos. São muitos também os missionários que partiram da Índia para diversas partes do mundo, a fim de levar o Evangelho e implantar o carisma salesiano. A pequena semente semeada há cem anos no território indiano cresceu e é hoje uma grande árvore, produzindo frutos de evangelização e atividade missionária em todo o mundo.

4.1 Coordenação interinspetorial

Foi constituída na Região uma Conferência interinspetorial com estatuto próprio, que se reúne duas vezes por ano: uma em sessão plenária e outra com reunião de caráter executivo. A Conferência salesiana da Ásia Sul (SPCSA) tem o seu centro em Nova Délhi e age como instrumento de comunicação e colaboração interinspetorial, como também para a animação e as relações públicas. O secretário da Conferência é o encarregado do centro e cuida da publicação de um boletim bimestral (SPCSA Bulletin).

São quatro as comissões interinspetoriais sob a responsabilidade da Conferência, guiadas por delegados interinspetoriais nomeados pela própria Conferência e que acompanham os quatro principais setores do nosso apostolado: formação, pastoral juvenil, Família Salesiana e comunicação social, animação missionária. A Conferência Regional elabora um projeto para o sexênio, tendo por base o projeto de governo e animação do Reitor-Mor e do seu Conselho. Da mesma forma, cada uma das quatro comissões interinspetoriais tem o seu programa, inspirado no mesmo modelo. Há uma interação suficiente entre as comissões, que se encontram regularmente. Suas atividades são acompanhadas pela Conferência que aprova e avalia todos os anos os seus programas e balanços, e provê às despesas necessárias. A dificuldade está em criar uma visão comum da Região e empenhar o pessoal adequado e os recursos financeiros para realizar e sustentar obras e atividades significativas em nível de Região.

4.2 Formação

Formação permanente

Em nível interinspetorial, a Conferência Regional mantém um centro de formação permanente em Bangalore, Don Bosco Yuva Prachodini, e o provê de salesianos qualificados das diversas Inspetorias. Ali são realizados regularmente programas de renovação para os líderes das comunidades, formadores e animadores da pastoral juvenil, tanto salesianos como outros religiosos. O centro administra também um curso (que se conclui com os exercícios espirituais) com duração de um mês para todos os diáconos das diversas Inspetorias antes da ordenação. Realiza também um curso para os irmãos que se preparam para a profissão perpétua.

Formação inicial

Mais de 40% dos salesianos da Região estão nas etapas da formação inicial. Esse é um fato que reconhecemos com alegria e gratidão. Mas é também um chamado à responsabilidade a fim de garantir uma qualidade elevada de formação, que é de importância fundamental para o futuro da Região.

Há na Região dois estudantados de teologia, ambos agregados à Faculdade de Teologia da UPS. O do sul (“Kristu Jyoti College”, em Bangalore) oferece especialização em catequética e pastoral juvenil (Viswadeep), conferindo bacharelado em teologia e licença em teologia, pastoral juvenil e educação na fé; desde 1984 publica uma revista trimestral intitulada Kristu Jyoti. O outro, do norte (“Sacred Heart Theological College”, em Shillong), oferece especialização em missiologia; desde 1979, publica uma revista de missiologia que trata de temas teológicos conexos à missão da Igreja na sociedade contemporânea da Índia; desde 2000 o nome da revista é Mission Today. Os dois teologados e as especializações que oferecem estão abertos a religiosos e religiosas de outras Congregações.

Há, ainda, quatro comunidades formadoras para estudantes de teologia, que freqüentem os seminários de outros religiosos ou da diocese. Temos neste ano um número total de 206 estudantes de teologia. No ano passado as ordenações sacerdotais foram 44. Há, também, no Sacred Heart Theological College de Shillong um centro de formação específica para os salesianos coadjutores: o curso de dois anos confere diploma reconhecido pela UPS e está aberto a outros religiosos e religiosas.

A Região possui ainda nove casas de pós-noviciado, uma das quais, pertencente à Inspetoria de Kolkata, é exclusiva para os salesianos coadjutores. O pós-noviciado de Nashik, na Inspetoria de Mumbai, está agregado à faculdade de filosofia da UPS e publica uma revista trimestral de natureza científica intitulada Divyadaan. Todas as casas de pós-noviciado possuem estruturas adequadas, bibliotecas bem providas e com pessoal dedicado, embora falte em algumas o número suficiente de professores qualificados; nesses casos são apoiadas com pessoal preparado de outras Inspetorias. Quatro estudantados são também afiliados a universidades estatais a fim de se obter o bacharelado. Globalmente, os estudantes pós-noviços são 295. Depois dos estudos filosóficos, os jovens salesianos fazem o tirocínio ou continuam o treinamento acadêmico e profissional. Neste ano, 84 deles emitiram a profissão perpétua.

São nove as casas de noviciado na Região. Em 24 de maio de 2006, 138 noviços emitiram a primeira profissão, enquanto 171 noviços entraram no noviciado. A Região conta também com 10 casas de pré-noviciado que fornecem todos os anos um grupo bem preparado de noviços. Gostaríamos de notar, ainda, que na Região há apenas 163 salesianos coadjutores em relação aos 2.247 sacerdotes e clérigos. A proporção é de 1 coadjutor para cada 14 sacerdotes e clérigos.

Há, depois, outros aspectos que parecem precisar de revigoramento, como, por exemplo, a formação dos formadores, o que comporta a instituição de um programa sério, a formação salesiana específica, que exige cursos sólidos de salesianidade nas várias fases formativas com textos apropriados e professores qualificados, e o Curatorium, que funcione bem, para as casas de formação abertas a estudantes de diversas Inspetorias. É preciso partir da consciência de que a formação é, antes de tudo, responsabilidade de toda a Congregação como tal, que tem a primeira responsabilidade de garantir a identidade carismática dos salesianos.

4.3 Pastoral juvenil

A pastoral em favor dos jovens é bem organizada. Em nível regional, há um delegado para a animação juvenil, nomeado pela Conferência inspetorial. Ele é também delegado para o setor de educação e cultura da Região. Além disso, cada Inspetoria tem o próprio delegado, assistido por comissões e subcomissões para as cinco dimensões da pastoral juvenil. A maior parte dessas comissões funciona organizando programas nas escolas, centros juvenis e paróquias. As Inspetorias em sua maioria possuem um projeto educativo-pastoral próprio e procuram mantê-lo atualizado. Em geral, percebe-se a tendência de dar mais ênfase às atividades e iniciativas do que à formação e animação progressivas. Há necessidade de um sentido maior de projeto e de uma pastoral juvenil mais unificada.

Instituições educativas

O apostolado salesiano pela juventude na Região assume várias formas. A mais importante, tendo também o maior número de beneficiários, é a educação. Falando do cenário educativo na Índia, eu já indicara que os cristãos são responsáveis por 20% dos institutos de educação primária na Índia. Podemos afirmar também que os salesianos possuem um papel significativo no trabalho educativo do país através de suas instituições educativas.

Os primeiros missionários levaram a sério a missão de evangelizar educando, e a obra missionária sempre esteve ligada à educação. A atenção foi centrada nas escolas, primárias e secundárias, acadêmicas e profissionais, porque a educação de base era a necessidade fundamental dos jovens. Logo, porém, os salesianos deram início também a alguns colégios universitários. Com efeito, o primeiro colégio universitário da Congregação, St. Anthony’s College, foi aberto em 1934 em Shillong, Inspetoria de Guwahati. Hoje há colégios universitários também em outras partes da Região, e eles conferem os graus universitários de láurea e pós-láurea. Agora que a educação de base está se tornando muito expandida e acessível, há uma mudança de ênfase da educação primária à educação superior e, sente-se, então, nas várias Inspetorias, uma necessidade maior de se abrirem mais colégios universitários.

Observa-se que nas principais cidades as nossas escolas e os nossos colégios têm muita dificuldade para enfrentar as inscrições para a admissão, tal a multidão de pedidos por uma educação de boa qualidade, de modo que se organizam dois turnos nas escolas – pela manhã e pela tarde – e os colégios universitários são diurnos e noturnos. Há, na Região, 196 escolas e colégios universitários, com um total de 230.375 estudantes. Essas instituições educativas são bem conhecidas e apreciadas pelo bom nível de disciplina, pela educação integral e pelos excelentes resultados. Se Dom Bosco é, em geral, conhecido e respeitado em toda a Índia, isso se deve muito à rede de sólidas instituições educativas que temos no país.

Há, porém, muitos jovens que não podem freqüentar a escola ou o colégio universitário por motivos variados: falta de meios, trabalho em tempo parcial, idade superada, falta de lugares nas instituições formais, etc. A fim de ajudar esses jovens em dificuldade, muitas Inspetorias organizam escolas noturnas, lugares para estudar à noite, escolas e colégios para aprenderem à distância.

Há, ainda, o fato do desemprego, que é um sério problema na Índia. Mesmo quando se fala de boom econômico, os postos de trabalho são escassos e difíceis de se encontrar. A educação sozinha não prepara a pessoa para um trabalho decoroso. Ocorrem, portanto, instituições profissionais e agrícolas que ofereçam aos jovens as capacidades exigidas. Os salesianos da Região preocuparam-se com esse problema. Administram 85 instituições profissionais e 2 instituições agrícolas, servindo um total de 14.030 jovens. Entre essas instituições há colégios universitários de engenharia e de informática, e outros que oferecem formação técnica e profissional para preparar mão-de-obra qualificada. Em ambas as categorias, junto às instituições que oferecem educação formal, há muitas também que provêem à educação não-formal dos estudantes que, de um modo ou de outro, não se qualificam para a admissão às instituições formais. Essa é também uma notável ajuda para reduzir a desocupação.

Internatos e pensionatos

No conjunto das instituições educativas, os internatos e pensionatos merecem uma palavra como meios atuais de pastoral juvenil. Os internatos são para jovens de proveniência diversa que freqüentam a escola: jovens das aldeias aonde não há escolas, jovens de famílias nas quais não existem as mínimas facilidades para o estudo, jovens órfãos ou de famílias separadas; esse tipo de internato, especialmente nas zonas missionárias e pobres, serve para evangelizar e inculcar os valores cristãos igualmente aos cristãos e não cristãos, e dar uma boa educação. Os pensionatos são em geral para os estudantes universitários e jovens trabalhadores, e são considerados como um meio atual de apostolado e de transmissão de valores cristãos. Há na Região 214 internatos e pensionatos, com um total de 20.440 internos.

Centros juvenis

Em todas as Inspetorias da Região há oratórios diários e festivos, que na Região são chamados geralmente de centros juvenis. Há 168 desses centros, para os quais afluem quase 59.000 jovens (mais rapazes do que moças), com alguma variação na regularidade da freqüência. A maior parte deles está ligada a uma escola ou paróquia salesiana. É preciso dizer que, antes, havia uma média mais alta de freqüência; mas o número dos centros juvenis ainda está em crescimento, e os métodos de animação e os programas estão sendo atualizados. Os oratórios/centros juvenis de Shillong, Panjim, Chennai e Kochi, com uma longa história e experiência, têm um grande impacto no território; os centros mais recentes de Guwahati, Ranchi, Hyderabad, Mumbai e Tiruchy oferecem aos jovens uma maior variedade de serviços e talvez atinjam um número maior deles.

Quanto aos grupos e movimentos, deve-se reconhecer que eles não têm tido muito sucesso na Região, embora o grupo juvenil Friends (Amigos) tenha funcionado bem por um certo período de tempo. O escoteirismo, porém, recebe grande atenção em muitíssimas escolas, e a cada três anos celebra-se, a turno nas diversas Inspetorias, o jamboree dos escoteiros (chamado de Boscoree) que atrai mais de dois mil jovens exploradores e exploradoras de toda a Índia. Esse evento é preparado minuciosamente ao longo do ano todo, com um projeto e um tema, e é celebrado no estilo e com elementos típicos do folclore multicultural da Índia. É uma experiência alegre e formativa, uma miscelânea de espiritualidade juvenil salesiana e um contexto religiosamente pluralista.

Apostolado em favor dos jovens em situação de risco (YaR)

Os irmãos da Região Ásia Sul caminharam muito nos últimos decênios na intervenção em favor dos jovens em situação de risco (Youth at Risk). Os irmãos empenhados nesse trabalho fazem um apostolado tipicamente salesiano, e merecem todo apoio, apreço e ajuda.

Os "jovens em situação de risco" incluem diversos grupos de jovens, meninos ou meninas. O primeiro grupo é formado pelos assim chamados meninos de rua, que são milhares nas principais cidades da Índia. Muitos deles não têm casa ou pais; outros fogem de casa e giram pelas cidades recolhendo das lixeiras os restos recicláveis; alguns trabalham como carregadores não autorizados de bagagens nas estações ferroviárias ou nos terminais de ônibus. Como vivem sob o controle dos líderes de algum bando, um bom percentual de seus ganhos são entregues forçosamente aos chefes. Os recolhedores de restos são freqüentemente perseguidos pela polícia e, algumas vezes, abusados sexualmente por pessoas adultas, enquanto as meninas são forçadas à prostituição; alojam-se sob pontes, nas tubulações abandonas de esgoto, ou em barracas improvisadas.

O trabalho em favor desses meninos de rua foi iniciado em 1980 por um grupo empreendedor de estudantes de teologia de Bangalore. Hoje suscita entusiasmo nos corações dos salesianos praticamente em todas as Inspetorias da Índia. A esses meninos oferece-se uma casa onde encontram o sentido de pertença e onde se sentem amados. Os nomes que damos a essas casas dizem tudo: Sneha Bhavan, Valsalya Bhavan, Anbu Illam (os três significam casa de amor), Asha Alayam (casa de esperança), Don Bosco Veedu (refúgio Dom Bosco), Don Bosco Veedu (casa de Dom Bosco), etc. Em muitas cidades da Índia, nas estações ferroviárias e nos principais terminais de ônibus, os salesianos instalaram com a ajuda das autoridades municipais uma rede telefônica gratuita chamada Child Line. Através dessa facilitação qualquer jovem em dificuldade, ou quem quer que encontre um jovem em dificuldade, pode chamar o número especificado e, dessa forma, encontrar ajuda.

Outro grupo de jovens em situação de risco é o dos jovens trabalhadores, meninos e meninas. A Constituição da Índia estabelece que a educação é obrigatória para todos até aos 14 anos de idade, e que o emprego de jovens com menos de 14 anos é punível por lei; entretanto, milhares de jovens são obrigados a trabalhar, até mesmo desde os cinco anos. Os salesianos intervêm em favor desses jovens: muitas vezes, com a ajuda da polícia, salvam-nos da prepotência dos patrões, levam-nos para centros de reabilitação e, com a assistência do departamento de educação, oferecem-lhes um curso de recuperação, inserindo-os no sistema escolar de acordo com a idade.

Em algumas Inspetorias da Região, os salesianos intervêm também em favor dos dependentes de drogas, especialmente jovens, e ajudam a desintoxicá-los e reabilitá-los para vida social; alguns membros da Família Salesiana ajudam a salvar as meninas da prostituição e oferecem assistência às assim chamadas "sex workers". É muito significativa nesse campo a ação dos salesianos do Sri Lanka para a reabilitação das jovens vítimas de abusos sexuais, que provêm do turismo sexual feito por estrangeiros que vão à Ilha.

Foi criado no centro SPCSA de Nova Délhi um fórum para enfrentar as necessidades dos jovens em situação de risco, com um salesiano adido exclusivamente para isso. Muitos salesianos e membros da Família Salesiana são qualificados para trabalhar com os jovens em perigo. Há, na Região, um total de 207 centros nos quais os jovens em situação de risco encontram alojamento todos os dias ou que servem como centros de reabilitação para eles. Cerca de 34.000 jovens dessa categoria são ajudados todos os anos de várias maneiras.

Serviço de orientação profissional

Praticamente em todas as Inspetorias da Região existem serviços especiais para os jovens: serviços de orientação profissional e centros de consultoria psicológica. Esses centros ou serviços de aconselhamento psicológico em nível inspetorial são efetuados por pessoal qualificado.

São 33 os centros deste tipo, que assistem a um notável número de jovens; entre eles, são dignos de nota os Vazhikaatti, nas Inspetorias de Chennai e Tiruchy, porque preparam os jovens para um emprego no campo de trabalho.

Orientação vocacional

Toda Inspetoria, em geral, tem um plano de promoção vocacional e um promotor vocacional. Em seu conjunto, o processo de seleção dos candidatos mediante entrevistas e acampamentos escolares é muito sólido, e como conseqüência conseguimos ter boas vocações.

Apesar disso, já que o recrutamento dos jovens é feito na idade da adolescência, há também um bom percentual de abandonos da vida salesiana durante o período da formação inicial. Nota-se, também que a maior parte das vocações não vem das nossas paróquias e escolas. Talvez falte um plano de orientação vocacional em nível local, mediante o qual cada comunidade e cada irmão sintam-se responsáveis pelo discernimento e orientação dos jovens que demonstram sinais de vocação e, através da oração, do testemunho radiante da vida consagrada e da presença evangelizadora entre os jovens, plante em seus corações a semente da vocação salesiana.

Entendemos por escolas apostólicas e aspirantados os internatos junto a escolas ou pensionatos, nos quais se cuida dos possíveis candidatos ao sacerdócio ou à vida religiosa salesiana e nos quais eles são preparados para o pré-noviciado. A Região é abençoada, tendo 26 desses centros florescentes, verdadeiros viveiros de vida salesiana para centenas de vocações salesianas que desabrocham todos os anos.

Concluindo esta visão sobre as instituições em favor dos jovens, deve-se dizer que a pastoral juvenil, para ser mais eficaz e duradoura na Região, precisa ser mais unificada e centrada no objetivo primário da educação dos jovens à fé; deverá acompanhar o processo de crescimento dos jovens, em vez de multiplicar as atividades; precisará servir-se de um maior sentido de projeto e de coordenação, e envolver os colaboradores leigos na visão comum e no trabalho compartilhado. Entretanto, a opção preferencial salesiana pela juventude pobre encontra expressões privilegiadas e criativas em toda a Região, do que ela pode estar legitimamente orgulhosa.

4.4. Família Salesiana

Falando de Família Salesiana na Região, deve-se certamente mencionar por primeiro as Filhas de Maria Auxiliadora (FMA), que trabalharam e trabalham ao lado dos salesianos pelo desenvolvimento do carisma e da missão salesiana. Sua presença na Índia remonta ao ano de 1922, quando o P. Tomatis, ao retornar à Índia depois de um período de férias na Itália, levou consigo seis irmãs salesianas. De início, elas trabalharam ao lado dos salesianos em todos os lugares, principalmente cuidando das meninas e das mulheres pobres. Depois, vieram regularmente da Europa sucessivos grupos de missionárias FMA, que começaram a acolher as vocações locais, de modo que o Instituto foi se robustecendo e enriquecendo de irmãs indianas. Durante a segunda guerra mundial, as FMA enfrentaram os mesmos problemas e as mesmas privações dos salesianos e, mais tarde, estiveram sujeitas às mesmas restrições impostas à entrada de missionários do exterior. Hoje, na Região, as irmãs professas são 1.208 e as noviças 80, sem contar as 11 irmãs e 5 noviças nas duas comunidades de Mianmar, que pertencem à Inspetoria do Camboja. A Região das FMA está dividida em 6 Inspetorias e possui 150 centros.

Os salesianos, pouco tempo depois de sua chegada a Thanjavur, sentiram a necessidade de terem colaboradores leigos para o trabalho missionário. No giro de três semanas, o P. Tomatis deu início ao centro da Associação dos Cooperadores Salesianos em Thanjavur. No século passado, para onde quer que fossem, os salesianos e as Filhas de Maria Auxiliadora providenciaram com entusiasmo a formação de centros locais de Cooperadores. Especialmente depois do impulso dado pelo Vaticano II ao apostolado leigo, e depois da redescoberta da Família Salesiana pelo Capítulo Geral Especial, os Cooperadores salesianos na Região cresceram em número, chegando ao mesmo tempo a compreender mais claramente a sua vocação salesiana, o seu papel indispensável na missão salesiana e a sua justa colocação na Família Salesiana e na Igreja. Hoje, na Região, existem 133 centros e 2.507 Cooperadores que fizeram a promessa. Os centros locais são animados pelos respectivos delegados locais SDB/FMA, e em nível inspetorial e interinspetorial por um Conselho conjunto dos centros SDB/FMA e seus Delegados.

Os Ex-alunos/as de Dom Bosco e das FMA são encontrados praticamente em todos os lugares da Índia. Muitos deles ocupam posições de relevo na sociedade, também nos escritórios governamentais. Em alguns estados há também ministros que são ex-alunos. Os centros de Ex-alunos de Dom Bosco são 102 e os membros inscritos na Associação somam 26.025.

 O número das Voluntárias de Dom Bosco é exíguo: menos de uma dúzia, e todas nas Inspetorias de Chennai e Kolkata. O grupo das VDB ainda deve ser relançado.

Existem na Região outros grupos da Família Salesiana, fundados por salesianos:

• As Irmãs Missionárias de Maria Auxiliadora (MSMHC) foram fundadas em 1942 pelo Servo de Deus D. Estevão Ferrando, arcebispo de Shillong, na Inspetoria de Guwahati. O motivo que o levou a dar origem a esse grupo de irmãs foi o fato de os missionários estrangeiros terem sido internados em campos de concentração durante a segunda guerra mundial e o trabalho de evangelização começar a diminuir. Enquanto pensava no envolvimento das mulheres como evangelizadoras nas aldeias, aconteceu-lhe conhecer um grupo de ex-alunas das FMA em Guwahati, que ajudavam o povo em geral e cuidavam dos soldados feridos. Elas desejavam ser religiosas e dedicar a vida às obras de caridade. D. Ferrando fundou o Instituto a partir desse grupo. Hoje são 931 irmãs em 156 comunidades e trabalham em 48 dioceses da Índia, Itália, África e Brasil. Na maioria dessas dioceses fazem trabalho de evangelização nas aldeias, enquanto outras dirigem escolas, oratórios, orfanatos, casas para idosos e clínicas gratuitas.

• As Irmãs Catequistas de Maria Imaculada Auxiliadora (SMI) foram fundadas em 1948 pelo bispo D. Luís LaRavoire Morrow em Krishnagar, Inspetoria de Kolkata. Sua espiritualidade baseia-se na de Santa Teresinha de Lisieux e no sistema preventivo de Dom Bosco. Manter contato estreito com as famílias é uma de suas principais atividades apostólicas, além da gestão de oratórios, escolas primárias, centros de trabalho, casas para idosos, etc. São mais de 500, e têm comunidades também fora da Índia.

Estes dois institutos de mulheres consagradas são oficialmente reconhecidos como membros da Família Salesiana, enquanto outros esperam para serem reconhecidos e aceitos. Entre eles estão:

• Os Discípulos (Instituto Secular Dom Bosco), fundado em 1973 pelo P. Joe D'Souza, da Inspetoria de Nova Délhi. Trata-se de um grupo de homens e mulheres. As 313 irmãs e os 87 irmãos trabalham em 194 centros em 46 dioceses (41 dioceses indianas e 5 italianas). Como os discípulos enviados dois a dois pelo Senhor, também eles trabalham em pequenos grupos, levando a mensagem do Evangelho ao povo e vivendo como os primeiros discípulos, não possuindo nenhuma propriedade, nem terra nem instituições, mas vivendo entre o povo e como o povo vive, aceitando alimento e alojamento que lhes são oferecidos pelo povo. Em cada diocese eles estão sob os cuidados do bispo local.

•As Irmãs de Maria Auxiliadora (SMA), fundadas em 1976 pelo recentemente falecido P. Antonio Muthamthotil, têm 91 membros, vivem em 21 comunidades e trabalham em 7 dioceses da Índia. O seu apostolado estende-se da evangelização direta ao trabalho com meninos de rua. Em muitos lugares ajudam os salesianos em seu apostolado.

• As Irmãs Visitadoras de Dom Bosco (VSDB), fundadas em 1983 por D. Hubert D'Rosario, arcebispo de Shillong, na Inspetoria de Guwahati, têm 81 religiosas e 17 noviças, que trabalham em 15 comunidades em 4 dioceses do nordeste da Índia. Seu principal apostolado é a evangelização através das visitas às famílias, particularmente nas aldeias, e através de programas de desenvolvimento social.

•A Sociedade Missionária de São Paulo, fundada em 1990 por D. Charles Bo, arcebispo de Yangon (Mianmar), tem dois ramos: o ramo masculino, chamado de Irmãos Missionários de São Paulo, compreende dois sacerdotes, outros membros professos e dois noviços, que trabalham em 6 comunidades em três dioceses; o ramo feminino, chamado de Irmãs Missionárias de São Paulo, tem 74 professas e 12 noviças, que trabalham em 22 comunidades em 5 dioceses.

•As Irmãs Adoradoras do Coração Imaculado de Maria foram fundadas em 1991 por D. Lucas Sirkar, quando era bispo de Krishnagar. São 60 irmãs professas e 11 noviças, e trabalham em 6 comunidades em 2 dioceses. Como o próprio nome sugere, o seu apostolado principal é a adoração perpétua do Santíssimo Sacramento. Elas trabalham também em qualquer atividade apostólica que o bispo lhes peça.

Há, praticamente, em todas as Inspetorias um salesiano Delegado para a Família Salesiana. Em algumas Inspetorias, os Conselhos inspetoriais SDB e FMA fazem reuniões conjuntas para intercâmbio da visão sobre a missão comum e a projeção de iniciativas conjuntas, e celebram a Jornada da Família Salesiana uma vez por ano.

4.5 Comunicação social

Diante da vastidão do subcontinente indiano, com sua imensa população, grande variedade de línguas e completa extraordinariedade de culturas e costumes, os primeiros missionários começaram logo o exaustivo trabalho de aprender línguas diversas, o inglês, falado pelo governo e pela elite indiana, e também a língua local da gente à qual pretendiam servir. A tarefa mais difícil, porém, era compreender um contexto tão diverso daquele da Europa cristã e nele aculturar-se.

Os salesianos da Região serviram-se de todos os meios que Dom Bosco usava para conquistar as almas e difundir os valores do Evangelho: aulas escolares animadas e cheias de narrações e brincadeiras com temas educativos e catequéticos, juntamente com o esporte, os jogos, a música, as recitações e as excursões. Apenas sete anos depois de sua chegada, os salesianos organizaram em Mylapore uma banda musical, totalmente completa. [15] Em Mumbai, a banda foi considerada um "bom meio para fazer propaganda". [16] Em Goa, colônia portuguesa, deu-se início à obra salesiana com futebol e com o oratório. [17] Em Thanjavur, mais de 30.000 pessoas, na maioria hindu, foram assistir à representação sacra da Paixão de Cristo. [18] O novo ambiente salesiano ofereceu à Índia sinais e símbolos para exprimir a alegria e o otimismo cristão.

Em breve, os salesianos criaram um "ambiente comunicativo", no qual os valores evangélicos podiam ser transmitidos e o carisma salesiano implantado. À raiz do seu potencial comunicativo havia o ímpeto do zelo pastoral que os estimulava a superar as próprias limitações. Alguns salesianos aprenderam tão bem as línguas locais que se tornaram promotores ilustres de suas culturas, produzindo gramáticas e livros naquelas línguas. [19]

Não muito depois deram início a iniciativas maiores de comunicação com a abertura de oficinas gráficas: em 1922 (isto é, no mesmo ano da chegada ao Assam), em Shillong; em 1924, em Tanjore; em 1925, em Calcutá; e em 1948, em Tirupattur. Há ao menos oito dessas oficinas gráficas na Região que, além de publicarem boa literatura, treinam os jovens trabalhadores na gráfica profissional. O inicio do centro cultural de Vaduthala em 1975 e do centro catequético em Kolkata em 1977 deu um impulso à produção de subsídios catequéticos e audiovisuais. Atualmente, na Região, há cerca de uma dúzia de casas editoras, centros de cultura e de comunicação, com nomes diversos e em línguas diversas, cada qual com os próprios objetivos: a Inspetoria de Mumbai possui dois centros, Kolkata um, Guwahati três, Bangolore dois, Chennai dois, e Tiruchy um. Além da publicação de livros, esses centros produzem também revistas, fitas cassete e subsídios audiovisuais.

Os salesianos iniciaram em 1930 a publicação de uma revista intitulada Don Bosco na Índia. A partir de 1951 foi impresso na Índia o Boletim Salesiano, que depois de 1976 foi chamado de Don Bosco Salesian Bulletin. Hoje, o Boletim Salesiano é impresso não só em inglês, mas também em  seis línguas vernáculas. Em 1937, quando D. Mathias começou a publicar o periódico The Clergy Monthly (Mensal para o Clero), havia cerca de 20 publicações na Região, mas por várias razões quase todas deixaram de ser publicadas. A única que ainda existe em língua tâmil, Arumbu, tem uma tiragem de 20.000 exemplares.

Desde 1933 foi publicado um noticiário inspetorial único para a Índia salesiana. A criação de novas Inspetorias deu origem a novos noticiários. Hoje, onze das 12 circunscrições têm os próprios noticiários. Além disso, várias organizações e instituições da Região também publicam noticiários para seus leitores específicos. A Região não deixa de ter também publicações de livros científicos, principalmente pelos dois teologados de Bangalore e Shillong.

Subsídios catequéticos e publicações religiosas, produções em áudio e vídeo, programas para rádio e televisão e filmes são produzidos regularmente. Dignos de nota são Catechetics India, revista publicada trimestralmente, e Johnny, um filme produzido em 1994 na língua Malayalam sobre os primeiros anos da vida de Dom Bosco e, na sua continuação, um segundo filme, Bosco, realizado em 1999; os dois filmes estão reproduzidos em inglês e em algumas línguas indianas.

Também fez progressos a tarefa de despertar os jovens para o uso crítico da mídia através de media education. Alguns salesianos empenhados no ministério rural usam folk media para conscientizar a gente oprimida nas aldeias distantes a lutar pela sua dignidade e pelos seus direitos. Também aqui, é digno de nota o filme Mathia, realizado com poucos recursos financeiros na língua Kokborok, que venceu um prêmio internacional pelo valor social.

Tiveram início os cursos universitários de láurea em mídia da comunicação no St. Anthony’s College de Shillong (Inspetoria de Guwahati) e no Don Bosco College de Angadikadavu (Inspetoria de Bangalore) para oferecer uma gama de treinamento profissional na mídia e na tecnologia informática. A contribuição dos salesianos para a comunicação social na Igreja e na sociedade foi reconhecida pelo fato de dois salesianos terem sido eleitos presidentes de SIGNIS-INDIA e de ICPA (Associação da Imprensa Católica na Índia).

A reviravolta decisiva no campo da comunicação aconteceu em março de 1993, quando a Conferência inspetorial salesiana da Índia criou BOSCOM-INDIA, um organismo executivo nacional para coordenar as iniciativas de comunicação das Inspetorias. As mais significativas foram dois subsídios concluídos em vista do novo milênio: o plano de formação dos salesianos na comunicação social, intitulado Shepherds for an Information Age (Pastores para uma época informática) e Don Bosco Multimedia India, o primeiro catálogo completo de todos os centros de produção da Índia.

Porquanto pareça encorajador esse progresso na comunicação social, as iniciativas salesianas na Ásia Sul são apenas uma gota no vasto oceano que é o complexo midiático. [20] O desafio é fazer do Da mihi animas a base de todo o projeto comunicativo em nível inspetorial e regional, procurar ser atuais e eficientes no contexto local e, ao mesmo tempo estar abertos à partilha e sinergia no interior da Região mais ampla da Ásia Sul e até com o resto do mundo salesiano. Tudo isso exigirá dos salesianos uma estreita colaboração com os especialistas leigos das diversas culturas e dos panos de fundo religiosos da realidade sul asiática.

4.5. Atividade missionária

Os salesianos indianos seguiram as opções feitas pelos primeiros missionários que levaram o carisma salesiano à Índia. Devido à estratégia de recrutamento vocacional dos primeiros missionários (especialmente do P. Carreño), muitos jovens de diversas partes do país entraram entre os salesianos e levaram avante a missão a partir do ponto em que os missionários a tinham deixado. A ação do governo que deteve o fluxo de missionários estrangeiros não pôde, por isso, diminuir o impulso missionário e suas atividades dos tempos precedentes. Os irmãos indianos mantiveram o passo com zelo e coragem iguais.

Os superiores (eclesiásticos e salesianos) encontraram-nos bem formados e prontos para assumirem responsabilidades de animação e de liderança nos níveis diocesanos, inspetoriais e locais. Hoje, os dez arcebispos e bispos e os 12 superiores das circunscrições jurídicas salesianas são de origem indígena; como também quase todos os superiores locais.

Da mesma forma que os primeiros missionários tinham encorajado e promovido as vocações indianas, os próprios irmãos indianos cuidaram das vocações locais. Dessa forma, também os estados que tinha muitas vocações locais na primeira metade do século, como Karnataka ao sul e os estados da Índia central e nordeste, agora recolhem uma messe abundante de vocações, especialmente dos grupos tribais e adivasi.

A história da evangelização progrediu de modo contínuo e seguro, sem muita propaganda, pelo temor de mal-entendidos e pelos obstáculos dos fundamentalistas. Contra a crítica que se faz, de que as missões salesianas tenham destruído as ricas culturas tribais da região não deixando nenhum traço delas, temos o magnífico Centro Dom Bosco para as Culturas Indígenas de Shillong, aonde, em 13 salas de exposição, são preservados e expostos os vários manufaturados e produtos tradicionais de todas as tribos do nordeste. Com uma biblioteca especializada com cerca de 10.000 volumes, o centro facilita a pesquisa, os seminários e os encontros sobre as culturas tribais do nordeste e o desenvolvimento cultural do povo.

Outro aspecto muito consolador da atividade missionária na Região é que, depois de ter recebido missionários estrangeiros por cerca de seis decênios, agora está pagando o débito que tem diante da Igreja e da Congregação. Desde 1980, a Região está enviando missionários a outras partes do mundo a fim de implantar o evangelho e disseminar o carisma de Dom Bosco. Quando o P. Egídio Viganò lançou o Projeto África 25 anos atrás, a Região deu uma resposta muito positiva ao seu apelo. A circunscrição da África Leste, primeiramente Delegação e depois Inspetoria, sempre teve à frente salesianos da Índia, e hoje 65 salesianos indianos lá estão como missionários; alguns retornaram à Índia por um motivo ou outro, um foi assassinado e outro morreu na África Leste. Há, ainda, 16 salesianos indianos que trabalham em outras Inspetorias da África, 16 na Região Ásia Leste, 4 na Região Itália – Oriente Médio e nos países europeus e 3 na América do Sul. Dessa forma, o número total dos missionários da Região que trabalham no exterior é de 107 [21] , incluídos os 24 que me foram oferecidos como um presente do Centenário.

Menção especial merece a Missão de Arunachal, que é algo muito especial na atividade missionária da Região. Arunachal Pradesh é um dos estados indianos, na extremidade nordeste da Índia, confinando com a China. Sua população é completamente tribal; esses tribais viveram durante séculos em virtual ignorância, superstição, pobreza absoluta, esquecimento e isolamento, oprimidos por costumes sociais nocivos, cortados para fora em relação ao resto do mundo. Os salesianos do nordeste foram os pioneiros no levar a fé cristã e a educação a essa belíssima terra e ao seu povo.

O governo indiano promulgara uma lei proibindo que os missionários entrassem em Arunachal Pradesh, com o pretexto de preservar incontaminada a cultura das tribos. A educação e a evangelização no Arunachal teve início em 1978, quando um certo senhor Wanglat Lowangcha, jovem chefe de uma das tribos, foi a Shillong em busca de uma escola para onde enviar os seus jovens. Ali se encontrou com o P. Tomás Menamparampil (atual arcebispo de Guwahati), que recebeu os jovens muito cordialmente; a amizade instaurada abriu caminho para uma visita do P. Tomás a Arunachal alguns meses depois. A visita podia ter-se concluído tragicamente pois o jipe em que viajava bateu num outro jipe militar. O P. Tomás ficou ferido, e enquanto se restabelecia na casa de Wanglat, o chefe da tribo pediu-lhe que o batizasse juntamente com sua família. Aquela trágica noite transformou-se na aurora de uma época gloriosa para o povo de Arunachal.

A narração do encontro e do batismo clandestino do chefe da tribo difundiu-se rapidamente na Inspetoria de Guwahati (atualmente Dimapur e Guwahati) e os salesianos abriram as portas de suas escolas à juventude tribal de Arunachal. Quando os estudantes voltavam para casa para as férias, o povo ficava surpreendido aos vê-los educados e bem instruídos. Isso levou ao envio de um maior número de seus jovens às escolas católicas; e finalmente eles mesmos abraçaram o catolicismo e receberam o batismo. Wanglat tornou-se um apóstolo de sua gente. Um ano depois de seu batismo ele preparou 600 pessoas da sua aldeia para o batismo. O governo não permitiu ao bispo salesiano, D. Robert Kerketta, e outros a entrarem no território. O povo, porém, manteve-se firme e obrigou as autoridades a permitirem a entrada dos missionários em seu território.

Mais e mais jovens foram estudar em nossas escolas e retornaram como apóstolos e evangelizadores da sua própria gente. O processo continuou até que finalmente hoje, depois de um quarto de século, a Igreja no Arunachal Pradesh está bem estabelecida, com duas dioceses, tendo como chefe de uma delas um bispo salesiano. A educação foi um meio poderoso para levar esse povo à luz!

Paróquias

A maior parte do trabalho missionário feito pelos salesianos da Região durante o último século foi realizado através das paróquias. Acrescentavam-se a elas as estações missionárias, algumas das quais, nos primeiros tempos, eram tão distantes que para chegar até elas era preciso uma viagem de muitos dias a pé. Em algumas zonas missionárias do Assam, o missionário empregava o ano todo para visitar as aldeias e os postos de missão. No centro paroquial havia, em geral, uma escola e um internato, para os meninos, dirigida pelos salesianos, e para as meninas, dirigida pelas irmãs. Assim, através da paróquia e da escola, a obra de evangelização e a educação do povo e dos jovens receberam uma certa sistematicidade e consistência.

Gradualmente, as estações missionárias se desenvolveram tornando-se paróquias maduras, com variedade de serviços e, mais tarde, à medida que o número dos fiéis aumentava, as paróquias iam se unindo formando uma diocese. Temos hoje um número total de 207 paróquias e centros missionários, que provêem às necessidades espirituais de 705.530 fiéis.

Programa de desenvolvimento social, parte integrante da atividade missionária

Na situação de pluralidade religiosa da Índia, a evangelização direta e o trabalho missionário nem sempre são possíveis. Então, os programas de desenvolvimento social, em algumas regiões, são o único método possível de evangelização.

Outra razão da grande importância dada aos programas de desenvolvimento social na Região é o fato de a grande maioria da população da Índia ainda viver em condições de subdesenvolvimento. Falta freqüentemente a educação, início do verdadeiro desenvolvimento, sobretudo nas zonas rurais. E, além disso, existem problemas sociais urgentes, que o missionário deve enfrentar se quiser garantir que o seu trabalho evangelizador seja eficaz e significativo para o povo – problemas como pobreza econômica, distribuição desigual dos bens, opressão dos pobres pelos ricos e poderosos, etc.

Os salesianos da Região enfrentam esses problemas com verdadeira competência e visão evangélica, e estão decididos a defender os oprimidos, esmagados e explorados, os ignorantes e iletrados. Em todas as Inspetorias da Região, muitos salesianos e um time de pessoal qualificado produzem programas e dispensam fundos e forças de trabalho para alcançar essas finalidades. Apoiados plenamente pelas Inspetorias, contam com escritórios de desenvolvimento bem equipados e dotados de pessoal salesiano e leigo; os projetos são financiados por fundos locais e, em larga escala, pelo Reitor-Mor e pelas agências estrangeiras que coletam fundos para as populações necessitadas.

Há, na Região, ao menos 138 obras de desenvolvimento social e seus beneficiários chegam a 80.000 pessoas de várias categorias e com diversas necessidades. Entre as mais significativas dessas iniciativas para a elevação social dos mais pobres estão: a rede Bosco Reach Out no nordeste, o Bosco Gramin Vikas Kendra no distrito de Ahmednagar, Inspetoria de Mumbai, o Peoples’ Action for Rural Awakening (Ação do povo para o despertar rural) em Andhra Pradesh, o Peoples’ Movement (Movimento Popular) nas colinas de Jawadhi, Inspetoria de Chennai, e o Fishermen Community Development Programme (Programa de desenvolvimento para a comunidade de pescadores) em Kollam, Inspetoria de Bangalore. Não se pode deixar de mencionar a extraordinária obra de socorro prestada pelos salesianos no Sri Lanka e nas zonas litorâneas pelas Inspetorias de Chennai e Tiruchy no período pós tsunami de dezembro de 2004, e o trabalho paciente para restabelecer os pescadores e órfãos deslocados pela desastrosa onda de maremoto.

5. A santidade dos primeiros missionários

A verdadeira implantação do carisma comporta também frutos de santidade. Gostaria de recordar aqui dois missionários, que levaram a sério a própria vocação de serem missionários e o seu chamado à santidade. Seus nomes estão entre os Servos de Deus da nossa Sociedade.

Dom Estevão Ferrando (1895-1978)

 Estevão Ferrando nasceu em 28 de setembro de 1895 de uma família muito religiosa de Rossiglione, província de Gênova. Ele dirá mais tarde: «da minha família recebi a rica herança de um grande amor por Deus e por Nossa Senhora, o espírito de sacrifício e a natureza alegre». [22]

Logo após sua primeira profissão em 1912, quando lhe foi perguntado pelos superiores qual era a sua opção para o futuro apostolado, sem hesitação, ele escolheu ser missionário. Depois de fazer o serviço militar durante a guerra, quando recebeu atestados e medalhas pelo seu valor e pela sua coragem, ele foi ordenado sacerdote em 1923. Seu sonho missionário foi realizado quando lhe foi permitido partir para a Índia, junto com um clérigo e oito jovens noviços. Chegou a Shillong em 22 de dezembro daquele ano.

Tendo chegado à terra de seu sonho missionário, o seu zelo apostólico não teve limites. De início, foi "sócio", depois mestre dos noviços e diretor da casa de formação. Durante esse tempo devia também substituir o Prefeito Apostólico, D. Mathias em suas ausências. Mesmo quando cumpria essa responsabilidade, era um missionário no profundo do coração e jamais perdeu qualquer ocasião para visitar as aldeias e pregar o Evangelho.

Em 1934 foi consagrado bispo de Krishnagar e um ano depois, em 1935, foi transferido para Shillong. O seu lema episcopal foi: Apóstolo de Cristo. Como um apóstolo de Cristo, enquanto a saúde lhe permitia, visitou a pé as zonas missionárias e as aldeias. Costumava dizer aos sacerdotes: «Não podeis girar com os carros para converter as almas; para aproximar-se do povo e resolver seus problemas, deveis ir a pé», [23] e, então, mesmo como bispo, caminhava milhas e milhas em busca de almas. Seguindo o exemplo do Apóstolo dos gentios, ele se fez tudo para todos, aprendendo as línguas da sua gente, os seus costumes e usos a fim de compreender o seu etos e pregar-lhes Cristo mais eficazmente.

D. Ferrando foi bispo de Shillong por 35 longos anos, no decurso dos quais desenvolveu bem a diocese. Rezava com freqüência: «Senhor, como pastor do rebanho, eu ofereço a minha vida como sacrifício pelo bem das ovelhas, pela salvação das almas confiadas aos meus cuidados». O Senhor realmente ouviu a sua oração e abençoou a sua diocese de Shillong, que se multiplicou a ponto de hoje no nordeste da Índia existirem 3 arquidioceses e 10 dioceses.

Com o mesmo zelo apostólico, ele cuidou das vocações locais e fundou a congregação religiosa das "Irmãs Missionárias de Maria Auxiliadora", da qual já falamos acima. Era conhecido e apreciado pela simplicidade, jovialidade e, sobretudo, santidade. Morreu em 1978 e foi inicialmente sepultado no túmulo da família em Rossiglione. Mais tarde, aderindo ao desejo de ter seus ossos sepultados no solo das colinas khasi, seus restos mortais foram transferidos para a capela do convento da Casa Geral das Irmãs. Em 1998 foi introduzida a causa de sua beatificação e canonização.

Padre Francisco Convertini (1898-1976)

Francisco Convertini nasceu em 1898, em Papariello, uma aldeia da Murgia, província de Brindisi, Itália. Perdeu o pai com menos de dois meses de idade, e sua mãe, depois de se ter casado novamente, morreu quando Francisco tinha 11 anos. Foi então o padrasto quem cuidou do órfão. Ainda menino, trabalhou prestando serviço com modesto salário, para duas famílias de agricultores, que eram gentis para com ele. Aprendeu a ler e escrever, enamorou-se também de uma jovem, dizendo-lhe estar disposto a se casar com ela. Depois do serviço militar prestado durante a guerra, insatisfeito com o trabalho de agricultor, encontrou trabalho como funcionário em Turim.

Em Turim aconteceu uma reviravolta decisiva em sua vida. Entrando na Basílica de Maria Auxiliadora para se confessar, Francisco encontrou o P. Amadei, que lhe perguntou sem meios termos: «Gostarias de ser missionário?». Por algum tempo, ele se esqueceu do incidente, entretanto mais tarde encontrou novamente o P. Amadei e, afinal, decidiu ser missionário. Criou coragem e explicou as coisas à sua jovem.

Entrou no Aspirantado Missionário Dom Cagliero de Ivréia, aonde teve que estudar junto com colegas que eram onze anos mais jovens do que ele. Não era muito inteligente, mas o desejo de ser missionário estimulou-o. Um de seus professores disse: «Francisco aprendeu mais sobre os joelhos do que sentado na sala de aula», [24] tal era o seu amor por Jesus Eucarístico, em cuja presença passava longas horas em oração.

Em 1927 recebeu o hábito clerical do Reitor-Mor P. Filipe Rinaldi, que já o tinha indicado para as missões do Assam. Chegando ao Assam, fez o noviciado e os estudos para o sacerdócio e foi ordenado padre em 1935. Durante seus anos de formação,  tinha aprendido algumas noções de khasi, a língua falada em Shillong. Depois da ordenação foi enviado a Krishnagar e, pobre como era nas línguas, teve que aprender uma nova língua, o bengalês. Na verdade, jamais aprendeu o bengalês suficientemente para poder conversar com facilidade, ainda menos para fazer homilias dominicais eloqüentes. Entretanto, o povo o amou pela sua simplicidade e apegou-se a ele muito facilmente. Apreciavam suas pregações, feitas num bengalês um tanto desconexo, porque viam a convicção com que falava. Compreenderam que o pregador era um exemplo vivo da mensagem que comunicava.

O P. Convertini conquistou almas para Cristo mediante a oração, a pregação e o sacrifício. Fazendo-se um com o povo indiano, ele exultou quando a Índia obteve a independência em 1947, e chorou com a morte do Mahatma Gandhi; embora sendo italiano de nascimento, era indiano no coração: pediu e obteve a cidadania indiana. O bispo e os sacerdotes, as irmãs e os leigos queriam-no como confessor, porque encontravam nele a personificação da misericórdia de Deus. A sua pobreza era proverbial: tendo nascido pobre, pobre por vocação e por opção, ele permaneceu pobre como o seu povo, e muitas vezes andava com os pés descalços.

Era um amigo para todos, grandes e pequenos, ricos e pobres. Entrando em contato com a simplicidade do P. Convertini, algumas pessoas importantes de Bengala converteram-se ao catolicismo; outros ficavam impressionados e chamavam-no «um profeta e um santo»; outros, ainda, ficavam «fascinados pelo modo com que fazia o sinal da cruz», enquanto havia aqueles que declaravam que «a mesma presença desse santo sacerdote era uma inspiração». [25]

Consumado pelo trabalho e atormentado por vários achaques , morreu no dia 11 de fevereiro de 1976. Todos que conheciam o P. Convertini podiam confirmar que ele foi um testemunho vivo do Evangelho que pregava. A causa da sua beatificação foi introduzida oficialmente em 1997.

6. Os grandes desafios da Região

A Região Ásia Sul, pululante de milhões de jovens que se esforçam por construir um futuro melhor para si mesmos e, ao mesmo tempo, são dotados de ricos recursos humanos, de talentos, criatividade e energia, é um vasto campo, ainda muito prometedor, para a missão salesiana.

Os primeiros cem anos da presença e atividade salesiana na Região viram um exuberante florescimento de iniciativas e de obras que bem se harmonizam com as diversas e prementes necessidades dos jovens e dos pobres. O futuro lança um sério desafio e é muito encorajador, com a condição, porém, de os salesianos serem fiéis ao próprio carisma salesiano e aos destinatários da sua missão: se evangelizar é o principal desafio, será prioritário viver o evangelho, em nível pessoal e comunitário.

6.1 Dar Deus aos jovens, prioridade absoluta

O clima natural da Região respira Deus. A alma da Índia, do Sri Lanka e de Mianmar é profundamente religiosa. Mesmo quando parece esmagada por uma pobreza oprimente, pelas rígidas divisões de castas e por uma miríade de outras contradições sociais, sua busca milenar de Deus é incansável e profunda. Se, de diversas formas, sofre pela fome de bens essenciais para a vida das pessoas, ela tem fome ainda mais intensa de uma experiência de Deus. E, quando entra em cena uma pessoa autenticamente religiosa, ela toca a alma do povo imediatamente. Pensai no impacto profundo que teve um Mahatma Gandhi ou uma Madre Teresa sobre o povo do subcontinente indiano.

Por esse motivo, Deus é a oferta mais eficaz que os salesianos da Região podem fazer aos pobres e aos jovens, revelando-lhes o seu verdadeiro nome e o seu rosto na pessoa de Jesus Cristo, mediante o testemunho de sua vida pessoal e comunitária. Eis então a necessidade de dar o primado absoluto a Deus, e de manter viva a paixão por Deus e pelos jovens. «Como Dom Bosco, somos chamados todos e em qualquer ocasião, a ser educadores da fé. Nossa ciência mais eminente é, pois, conhecer Jesus Cristo; e a alegria mais profunda, revelar a todos as insondáveis riquezas do seu mistério» (Const. 34).

Isso comporta que qualquer atividade deve mirar com clareza a evangelização e a educação à fé dos jovens. Trata-se de ser claros a respeito do que nós somos, para onde estamos caminhando e o que queremos fazer pelos jovens. Nossas Constituições exprimem-no com muita franqueza: «Caminhamos com os jovens para conduzi-los à pessoa do Senhor ressuscitado, a fim de que, descobrindo nEle e em seu Evangelho o sentido supremo da própria existência, cresçam como homens novos» (Const. 34).

6.2 Viver apaixonados pela "missio ad gentes"

Missão não quer dizer simplesmente atividades, iniciativas, obras, estruturas. É, antes de tudo, paixão pela salvação dos jovens, paixão que tem sua fonte «no próprio coração de Cristo, apóstolo do Pai» (Const. 11). É a paixão que ecoava no coração de Dom Bosco, o motor secreto nas profundezas do seu ser que infundia energia e dava vitalidade a tudo o que fazia ou dizia. Dom Bosco vivia e respirava o Da mihi animas com todas as fibras da sua existência. Esse lema sintetizou de modo maravilhoso a essência da sua espiritualidade. A mesma paixão pela salvação dos jovens apossou-se dos primeiros missionários e os impulsionou para fazerem as coisas mais incríveis que explicam o maravilhoso crescimento e a variedade da presença salesiana na Região.

Naturalmente, num contexto de pluralidade religiosa, esse processo é delicado e cheio de dificuldades, especialmente em algumas situações e zonas, onde poderia ser facilmente considerado como proselitismo. Isso, porém, não nos deveria deter, porque é direito inalienável de qualquer pessoa conhecer Deus e o seu Filho Jesus Cristo, embora no total respeito de sua liberdade. Nem pode ser simplesmente um processo improvisado. Num contexto de pluralidade religiosa como o da Ásia Sul, a evangelização e a educação à fé devem ser projetadas com cuidado, buscadas com diligência e executadas com firmeza, com objetivos, estratégias e linhas de ação apropriadas a cada situação e a cada contexto. Nesta área – é preciso admiti-lo, caros irmãos – ainda há muito trabalho a fazer, e exige-se capacidade de imaginação e criatividade.

Isso tudo implica que o zelo missionário, expressão concreta da paixão apostólica do Da mihi animas, deva continuar sem pausa. Longe de permitir que possa diminuir ou esfriar-se com o passar do tempo, ele deve antes se intensificar e crescer sempre mais. Não podemos ser simplesmente complacentes com o passado glorioso. Cristo ainda deve ser proclamado, o Evangelho deve ser pregado e a Igreja e o carisma salesiano devem enraizar-se em muito mais áreas e em muito mais jovens que esperam a Boa Nova. O amor de Cristo nos impele (2Cor 5,14) a disseminar o Evangelho.

 A Região recebeu muito nos últimos cem anos através de missionários intrépidos, de grande calibre humano e indiscutível santidade. Agora deverá fazer pela missão salesiana no mundo aquilo que os missionários italianos e europeus fizeram nos primeiros cem anos de vida da Congregação, isto é, encher o mundo de jovens missionários, ardentes e corajosos, que sintam a missio ad gentes como tarefa apostólica que não se pode evitar. A Ásia Sul deve, portanto, elevar os olhos, abrir o coração, alargar os horizontes e enviar pessoal a novos campos de missão na própria Região e no mundo todo. As missões salesianas do mundo inteiro precisam disso, hoje mais do que nunca! Causa-me profunda emoção encontrar missionários da Região já em várias partes do mundo, particularmente na África, onde estão escrevendo páginas de ouro de gesta missionária. Creio sinceramente, porém, e o peço com urgência, que se possa fazer mais. A Ásia Sul pode e deve continuar missionária! Essa é a sua hora, porque é forte no espírito, rica de entusiasmo apostólico e abençoada com muitas jovens vocações. Em nome da Congregação e dos jovens do mundo eu vos peço: «nós vos esperamos, vinde entre nós, não nos podeis fugir».

6.3 Robustecer a vida comum

O carisma salesiano gera uma vida fraterna apostólica que Dom Bosco sintetizava em três elementos: viver e trabalhar in unum locum, in unum spiritum, in unum agendi finem (CGE, 498). Nossas Constituições recolheram essa inspiração com um indicativo imperativo: «Viver e trabalhar juntos é para nós salesianos exigência fundamental e caminho seguro para realizarmos a nossa vocação» (Const. 49). Há hoje uma sentida necessidade de ajudar as comunidades salesianas a realizarem e aprofundarem esse estilo comum de vida e presença entre os jovens, que supere o individualismo, o ativismo, o setorialismo.

A consistência numérica e qualitativa das comunidades é uma tarefa que não deve ser descurada; ela, de fato, garante a presença educativa entre os jovens e a eficácia evangelizadora da missão apostólica. Isso exige do governo em nível inspetorial chegar a um mirado equilíbrio entre expansão e consolidação das obras; os salesianos não podem – nem devem – senti-se responsáveis por responder a todas as necessidades dos jovens mais pobres, mesmo que sejam urgentes; um ministério eficaz não deve ser identificado com a multiplicidade das ofertas, mas com a qualidade do serviço prestado. Justamente por isso, o número de irmãos em cada comunidade deve adequar-se à complexidade da missão apostólica comum.

No contexto de multiplicidade étnica e pluralidade cultural característico da Região Ásia Sul, a presença de comunidades apostólicas que sejam testemunhas transparentes de fraternidade, aceitação sincera e estima recíproca favorece a implantação do evangelho e o saneamento da sociedade. Construir comunidades fraternas já é evangelização em ato, o modo mais eficaz de transmitir o evangelho hoje. Dever-se-á, portanto, garantir nas comunidades uma forma de vida fraterna que evite qualquer tipo de discriminação; qualquer desigualdade, consentida ou simplesmente suportada, danificaria a qualidade do nosso testemunho e colocaria em risco a evangelização.

Deve-se, pois, encorajar que nas comunidades, locais ou inspetoriais, aonde haja uma presença marcante de culturas, etnias e castas diversas, sejam estudados e se coloquem em ação processos e iniciativas para ajudar os irmãos a enfrentarem e apreciarem as diferenças e superarem possíveis insatisfações ou mal-entendidos. Não se deveria excluir o fato de tratar dessas questões em nível regional a fim de se chegar, através de um maior discernimento, a fazer opções compartilhadas e comuns na Região.

6.4 Cuidar da identificação carismática dos irmãos

Devido aos números em crescimento, a formação é indispensável para manter e aprofundar a identificação carismática; ela continua um ponto crucial para garantir que o crescimento não seja apenas em números, mas sobretudo na qualidade. A formação, inicial e permanente, deve manter vivo o espírito, o zelo e o impulso missionário que caracterizam atualmente a Região. Precisamos de salesianos de qualidade, salesianos de densa identidade carismática, salesianos inflamados de paixão apostólica.

A formação deve ser dirigida, em primeiro lugar, a incendiar e manter viva e eficaz a paixão apostólica do Da mihi animas em seu dúplice ponto de referência: a paixão por Deus e a paixão pelos jovens e pobres. Sem essa chama no coração, somos inúteis, sem alma, sem meta, sacudidos por qualquer capricho e fantasia, sem uma idéia clara de para onde caminhamos. Essa dúplice paixão é antes de tudo um dom de Deus, dado em germe com a vocação salesiana. Esse dom inicial, porém, é também uma responsabilidade e uma tarefa: atiçar a chama, fazê-la crescer, mantê-la sempre acesa e luminosa. Esta é a principal tarefa da formação inicial e permanente: fazer com que a paixão apostólica do Da mihi animas se torne o centro, a síntese, o ponto focal da própria existência, o coração da própria espiritualidade.

A formação, para ser atual, deve ser profundamente aculturada, isto é, enraizada antes de tudo no evangelho, vivido segundo o carisma salesiano, e não menos na cultura, nas tradições e no etos do povo que somos chamados a servir.

Através dos salesianos da Ásia Sul, Dom Bosco deve ter uma face indiana, birmane, nepalesa, cingalesa. O Evangelho e o carisma salesiano, plantados no solo fértil da Ásia Sul, devem aprofundar suas raízes, crescer e florescer. Isso significa aprender a língua, assimilar a cultura, adotar as tradições sadias do povo, especialmente dos jovens e dos pobres.

 Ao mesmo tempo, será preciso ter consciência, e agir em conseqüência, de que nenhuma cultura é absoluta, porquanto antiga e nobre que seja. Como qualquer empresa humana, ela tem suas limitações e seus defeitos, às vezes até mesmo sérios. Toda cultura precisa ser purificada e aperfeiçoada pelo Evangelho. Toda cultura, para ser fiel a si mesma, deve abrir-se a outras culturas. Fechando-se, ela estagna, fenece e morre. Ao contrário, abrindo-se e interagindo com outras culturas revigora-se e floresce.

Uma formação que dura a vida inteira, que é assumida como projeto pessoal e vivida na comunidade, ajuda a ter os pés firmemente plantados na realidade sócio-cultural do povo, de modo porém a manter a mente aberta a tudo que seja verdadeiro e bom aonde quer que se encontre, levando – como se diz hoje – a pensar globalmente, mas a agir localmente.

Ainda há muito a fazer! A Ásia Sul não pode repousar sobre os louros, por assim dizer, contemplando o passado glorioso. As celebrações centenárias devem estimular a levar o olhar adiante e fazer progredir a grande missão do Senhor e o sonho de Dom Bosco na Região.

Que o Senhor, mediante a assistência materna de Maria e a intercessão de Dom Bosco, abençoe essa nobre tarefa e a faça florescer para a sua glória e para a salvação dos jovens.

Cordialmente,

P. Pascual Chávez Villanueva            



[1] Cf. Memorie Biografiche di San Giovanni Bosco (MB) XI, p. 408.

[2] Cf. MB XII, p. 315.

[3] Cf. MB XIII, p. 36.

[4] MB XVIII, p. 72-73.

[5] Cf. Annuarium Statisticum Ecclesiae 2004, Secretaria Status, Rationarium Generale Ecclesiae, Libreria Editrice Vaticana, 2006, pp. 174, 205, 212, 221.

[6] Ibid.

[7] Ibid.

[8] Ibid.

[9] Ibid.

[10] Cf.. Thekkedath, J. A History of the Salesians of Don Bosco in India, Vol. II, pp. 1368-1375.

[11] Ibid. pp. 1375-1379.

[12] Ibid. p. 1375.

[13] Ibid. pp. 1375-76.

[14] Leo XIII, Ad Extremas, n. 4, 24 giugno 1893.

[15] Cf. Thekkedath, A History I, p. 29.

[16] Cf. Thekkedath, A History I, p. 271.

[17] Cf. Thekkedath, A History I, p. 720.

[18] Cf. Thekkedath, A History I ,p. 65.

[19] Cf. Sebastian Karotemprel (ed.), The Catholic Church in Northeast India, 1890-1990, Shillong Vendrame Institute, 1993, p. 503.

[20] As cifras são incríveis na Índia: 55.780 jornais; uma rádio sob o controle do governo com 213 centros de transmissão em 24 línguas e 146 dialetos; uma indústria cinematográfica que é a maior do mundo, com produção média anual de 800 filmes de longa metragem e 1.200 filmes de curta metragem.

[21] Um deles, que trabalha na América do Sul, P. Jorge Puthenpura, fundou uma congregação religiosa para mulheres, denominada "Irmãs da Ressurreição". Sua fundação oficial deu-se em 1987 e elas foram aceitas na Família Salesiana em 2004. Com o lema "Cristo ressuscitou; também nós ressuscitemos com Ele", elas pregam a Palavra aculturando o Evangelho e ensinando a fé aos pobres através da catequese.

[22] J. Puthenkalam & A. Mampra, Sanctity in the Salesian Family, p. 529.

[23] Ibid., p. 533.

[24] Ibid., p. 551.

[25] Ibid. 558-559.