401-450|pt|433 “Quais Salesianos para os jovens de hoje?” CG28

CAPÍTULO-GERAL XXVIII

SALESIANOS DE DOM BOSCO














Quais salesianos

para os jovens de hoje?”





Reflexão pós-capitular







CG28








Roma, 16 de agosto de 2020


atos

do Conselho-Geral da

Sociedade Salesiana

de São João Bosco



ÓRGÃO OFICIAL DE ANIMAÇÃO E DE COMUNICAÇÃO PARA A CONGREGAÇÃO SALESIANA



N. 433

ano CII

setembro de 2020







Quais Salesianos

para os jovens de hoje?”





REFLEXÃO PÓS-CAPITULAR

DA SOCIEDADE DE SÃO FRANCISCO DE SALES












ÍNDICE


Apresentação



LINHAS PROGRAMÁTICAS DO REITOR-MOR PARA A CONGREGAÇÃO SALESIANA APÓS O CAPÍTULO-GERAL 28


1.

SALESIANO DE DOM BOSCO PARA SEMPRE. Um sexênio para crescer na identidade salesiana


2.

Numa Congregação à qual somos convidados pelo “DA MIHI ANIMAS, COETERA TOLLE”


3.

A viver o “SACRAMENTO SALESIANO DA PRESENÇA”


4.

A formação para ser SALESIANOS PASTORES HOJE


5.

PRIORIDADE ABSOLUTA pelos jovens, os mais pobres e os mais abandonados e indefesos


6.

COM OS LEIGOS NA MISSÃO E NA FORMAÇÃO. A força carismática que nos é oferecida pelos leigos e pela Família Salesiana


7.

É A HORA DE UMA MAIOR GENEROSIDADE NA CONGREGAÇÃO. Uma Congregação universal e missionária.


8.

Acompanhando os jovens para um FUTURO SUSTENTÁVEL



MENSAGEM DE SUA SANTIDADE O PAPA FRANCISCO AOS MEMBROS DO CG28

Reavivai o dom que recebestes

A “opção Valdocco” e o dom dos jovens

A “opção Valdocco” e o carisma da presença

A “opção Valdocco” na pluralidade das línguas

A “opção Valdocco” e a capacidade de sonhar


QUAIS SALESIANOS PARA OS JOVENS DE HOJE?”


1. Prioridades da missão salesiana entre os jovens de hoje

Reconhecer

Interpretar

Escolher


2. Perfil do Salesiano hoje

Reconhecer

Interpretar

Escolher


3. Com os leigos na missão e na formação

Reconhecer

Interpretar

Escolher


DELIBERAÇÕES DO CG28


1. Modificações das Constituições

Eleição do Reitor-Mor (Const. 128)

Eleição do Vigário do Reitor-Mor e dos Conselheiros-Gerais (Const. 142 §1)


2. Modificações dos Regulamentos-Gerais

Tarefas do Conselheiro-Regional (Reg. 125)

Uso do sistema informático nas votações eletivas (Reg. 131)


3. Deliberação

Modalidades de realização da visita extraordinária (Reg. 104)


ANEXOS

1.

Discurso do Reitor-Mor, P. Ángel Fernández Artime, na abertura do CG28

2.

Alocução do Card. João Braz de Aviz,

Prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica

3.

Carta dos jovens ao CG28

4.

Discurso do Reitor-Mor, P. Ángel Fernández Artime, no encerramento do CG28

5.

Crônica dos trabalhos do CG28


ELENCO DOS PARTICIPANTES DO CG28






APRESENTAÇÃO DO REITOR-MOR




Meus caros Irmãos,

passaram-se quatro meses desde o encerramento do Capítulo Geral 28, concluído com antecipação de três semanas em relação ao que fora programado devido à pandemia, que tornou impossível a nossa permanência em Valdocco. Dirijo-vos hoje esta apresentação, com um sentimento de profunda alegria pelo que vivemos em Valdocco e com a satisfação pelo que foi – acredito – um trabalho frutuoso, realizado por todos nós Capitulares e concluído, depois, no Conselho-Geral. De fato, a Assembleia capitular confiou ao Reitor-Mor e ao seu Conselho o encargo de concluir aquilo que ficara incompleto no momento do encerramento antecipado.

O documento que, com esta publicação, chega agora a todos os Irmãos tem como subtítulo “Reflexão pós-capitular” e não “Documentos capitulares”, como acontecia habitualmente no passado. Isso, porque, a Assembleia capitular não chegou com votação à aprovação final do texto. Apenas algumas deliberações capitulares, especialmente as de caráter jurídico, foram a termo nas primeiras quatro semanas dos nossos trabalhos.

Como disse em outras ocasiões, devido às circunstâncias que fomos obrigados a viver, o CG28 foi uma Capítulo “especial”. Todavia, não foi um Capítulo sem orientações e linhas programáticas. Com efeito, o documento que vos apresento contém a sua primeira parte que, tanto eu como os irmãos do Conselho-Geral, consideramos muito importante para a animação, o governo e a vida da Congregação no próximo sexênio.

São as linhas programáticas que o Reitor-Mor oferece à Congregação para o sexênio 2020-2026. Encontrareis nesta ampla proposta, caros Irmãos, a reflexão pós-Capítulo-Geral, fruto do mesmo Capítulo e da síntese do caminho percorrido em nossa Congregação nos precedentes seis anos. É uma rica e ampla reflexão que recolhe antes de tudo o espírito do que está contido na Mensagem que o Santo Padre Francisco enviou ao Capítulo-Geral; recolhe, também, os elementos que o Papa indicou como essenciais e já presentes na reflexão desenvolvida pela Assembleia capitular sobre os dois núcleos temáticos. O terceiro núcleo – como sabeis – foi elaborado pelo Conselho-Geral.

Estas linhas programáticas deverão ser, certamente, motivo de estudo, análise e aprofundamento tanto pelas Inspetorias como pelos irmãos, especialmente pelos diretores, para o seu serviço de animação e governo das comunidades locais. Dou por pressuposto que sejam objeto de estudo do Inspetor e do seu Conselho.

Acredito que, embora com velocidades diversas, relacionadas com a particularidade de cada Inspetoria, toda a Congregação deva percorrer este caminho que é identitário, carismático e oferece linhas-guia e linhas de ação para o nosso presente.

Acompanha o texto programático do sexênio a Mensagem do Santo Padre que, sem dúvida, chegará ao coração de cada Salesiano, e será, antes de tudo, motivo de meditação, estudo, aprofundamento e confronto pessoal.

Os três núcleos propostos como temas do trabalho capitular tiveram um desenvolvimento amplo, embora não tenham passado pelas fases de estudo e elaboração pensadas inicialmente. Os textos oferecem reflexões ricas, propostas precisas e oportunas para a vida das Inspetorias e das nossas presenças no mundo.

Enfim, são recolhidas no documento as deliberações capitulares e, como em todos os Capítulos-Gerais, alguns anexos com mensagens e discursos.

Acredito que o documento que tendes agora nas mãos permitirá aprofundar as motivações eclesiais, carismáticas e identitárias que nos ajudarão a prosseguir no caminho de fidelidade que, como Congregação e pessoalmente, desejamos continuar. Hoje, como ontem, o nosso mundo, a Igreja e os jovens com suas famílias, precisam de nós para continuarem a viver o caminho de fidelidade ao Senhor Jesus. Precisam de nós como pessoas significativas e corajosamente proféticas. O Senhor conceda-nos este dom. Com mediocridade e temores poderemos oferecer poucas coisas aos jovens, que não serão capazes de transformar suas vidas e enchê-las de sentido.

Estou muitíssimo convencido que todos nós desejamos pertencer a uma Congregação que se sente muito viva e na qual cada irmão renova a própria entrega de si todos os dias: não de qualquer modo, mas sentindo que isso vale a pena.

Desejo profundamente que este CG28 “especial” ajude cada um dos irmãos a reavivar a paixão apostólica que caracterizou o nosso Pai Dom Bosco, para ser outro Dom Bosco hoje, em todas as partes do mundo, em todas as culturas e em todas as situações.

Acrescento um pedido. Enquanto entrego este documento, com uma visão de fé e com grande confiança, peço que cada um de vós, caros Irmãos, faça dele motivo de oração, objeto de estudo paciente, de leitura atenta e meditada, para que ele possa tocar o vosso coração. Peço-vos para interiorizar a espiritualidade que encontrareis nestas reflexões capitulares e entrar em diálogo com as propostas que desejam ser significativas e proféticas no nosso modo de assumi-las e traduzi-las na vida. Acredito que um tempo significativo de estudo, conhecimento, interiorização e diálogo, coração a coração, diante do Senhor, deva ser a principal tarefa confiada a cada irmão, a cada Inspetoria e Visitadoria, a cada Região e Conferência interinspetorial.

Meus caríssimos Irmãos, a promulgação desta Reflexão pós-capitular acontece em 16 de agosto de 2020, duzentos e cinco anos após nascimento de Dom Bosco e cento e sessenta e dois anos desde o início da nossa Congregação. Até hoje, o caminho da nossa Congregação e da Família Salesiana foi belíssimo. Se a nossa resposta continuar a ser fiel ao Senhor, não resta dúvida de que será muito mais o que se escreverá pelo bem dos jovens mediante a entrega quotidiana de nós mesmos, onde quer que haja um jovem que precise de Salesianos capazes de ser amigos, irmãos e pais.

A nossa Mãe Auxiliadora acompanha-nos neste caminho e, como com Dom Bosco, Ela continuará a fazer tudo. D’Ela aprendemos o que significa escutar atentamente a voz do Espírito Santo e ser dóceis a Ele; aprendemos a cultivar a profundidade da vida em Deus e a dedicação simples e convicta de todos os dias. Isto nos tornará sempre mais autênticos sinais e portadores do Amor de Deus aos jovens.

Entreguemo-nos confiantes a nossa Mãe Auxiliadora «para nos tornarmos, entre os jovens, testemunhas do amor inexaurível do seu Filho» (C. 8).

P. Ángel Fernández Artime, sdb

Reitor-Mor

Roma, 16 de agosto de 2020

205º Aniversário do nascimento de Dom Bosco



LINHAS PROGRAMÁTICAS DO REITOR-MOR

PARA A CONGREGAÇÃO SALESIANA APÓS O CAPÍTULO-GERAL 28




Meus caríssimos irmãos Salesianos do mundo todo,

dirijo-me a todos vós com muito prazer após o Capítulo-Geral e a conclusão da primeira sessão plenária do novo Conselho-Geral. Com esta carta, que compartilhei com o Conselho-Geral, quero oferecer-vos, caros Irmãos, uma “tabela de marcha” adequada ao próximo sexênio, desde que a interrupção do Capítulo-Geral, bem no meio da sua realização, não nos permitiu ter os documentos capitulares que deveriam servir de norma e guia para os próximos seis anos.

Diante da dolorosa realidade da pandemia causada pelo vírus COVID-19, que atingiu e continua a afligir gravemente o mundo, vivemos uma experiência única: a interrupção de um Capítulo-Geral. É a primeira vez que acontece um caso assim na história de nossa Congregação, se excluirmos o trágico acontecimento da Primeira Guerra Mundial, que impossibilitou a celebração do XII Capítulo-Geral durante a Reitoria do P. Paolo Albera; a celebração daquele Capítulo precisou esperar quase doze anos.

Em nosso caso, contudo, a interrupção dos trabalhos capitulares não significa de modo algum que o Capítulo-Geral 28 tenha sido pobre de significado e nem tenha produzido uma riqueza de conteúdo. Ao contrário, os capitulares retornaram às suas Inspetorias (alguns depois de vários meses de espera em Valdocco) enriquecidos da experiência acumulada e da sensibilidade salesiana nutrida e reforçada nas “fontes de Valdocco”, fontes do nosso nascimento carismático.

Não obstante a ameaça da pandemia e o risco da suspensão da Assembleia, durante a última semana, o Capítulo-Geral pôde eleger o Reitor-Mor e os membros do Conselho-Geral, e confiar-nos a tarefa de continuar a reflexão sobre os pontos que não foram tratados.

Esta carta e todo o conteúdo do volume intitulado “Reflexão pós-capitular” quer ser uma resposta fiel ao mandato recebido da Assembleia capitular.

Acrescente-se a isso o sentimento de profunda gratidão ao Senhor pelo que vivemos, sobretudo por tê-lo vivido em Valdocco. O nosso CG28 ficou marcado de modo especial por ter acontecido em Valdocco, berço do nosso carisma, lugar santo onde o nosso Pai Dom Bosco respondia «à vida dos jovens com um rosto e uma história».1 Vivemos, assim, o nosso Capítulo-Geral em Valdocco com a clara consciência de que é a casa de todos. Foi o que nos recordou o Santo Padre Francisco, que desejava fazer a Dom Bosco, na pessoa dos seus filhos reunidos em Assembleia capitular, o belíssimo presente de ir encontrar-se conosco.

O Papa já me antecipara há alguns meses o seu desejo de ir pessoalmente a Valdocco. No início do Capítulo-Geral os diálogos mantidos com os responsáveis das visitas do Papa confirmaram a visita prevista para os dias 6 e 7 de março. Estava tudo preparado. Nós o esperávamos ao meio-dia de sexta-feira 6 de março. Ficaria conosco até a manhã do dia 7 e, depois, visitaria seus familiares. Infelizmente, a pandemia do coronavírus e as restrições impostas em todo o Estado italiano tornaram a visita impossível; teria sido um evento único na história, ao menos pelo tempo da presença do Santo Padre e da sua participação direta no Capítulo-Geral, como era seu desejo.

Por telefone, o Papa deixou-nos uma saudação que compartilhei com a Assembleia capitular; e no dia seguinte tivemos nas mãos a Mensagem enviada por ele ao CG28, que encontrareis ao longo desta publicação.

Vivemos, desde o início do CG28, com uma forte consciência que nos levou a colocar-nos na disposição mediante a qual «o Espírito faz reviver o dom carismático do [nosso] Fundador». Era o que o Santo Padre desejava, evocando o primeiro Oratório, ao convidar-nos a não fechar as janelas ao vozerio e aos alaridos que subiam do pátio de Valdocco. Esse «rumor de fundo» deve acompanhar-nos, deixar-nos inquietos e intrépidos no nosso discernimento.

Disso nos ocuparemos nos próximos seis anos pelo bem dos jovens do mundo. Jovens que tiveram um rosto concreto e visível no esplêndido grupo que durante alguns dias viveu o Capítulo-Geral conosco, nos desafiou, nos falou com o coração e com a mente, e nos comoveu.

E como em Valdocco tudo nos fala de Dom Bosco e dos seus jovens, e como os jovens de hoje nos chamam, falam conosco e esperam por nós, propomos como Congregação algumas metas que nos colocarão na posição de responder à realidade atual, fazendo-nos sair dos nossos temores e das nossas “zonas de conforto”, onde quer que estejam e o que quer que sejam.

Estas linhas programáticas, caros Irmãos, têm o objetivo de ser um programa de ação para o próximo sexênio, em absoluta continuidade com o caminho percorrido anteriormente pela Congregação e que, também por este motivo, infunde-nos força e coragem.

São vários os desafios que devemos enfrentar nos próximos seis anos. Apresento-os como fruto da reflexão feita durante o Capítulo-Geral e depois dele. E ofereço-os à Congregação, tendo conhecido detalhadamente nos seis anos passados a realidade que estamos a viver e, ultimamente, o caminho da Igreja. Proponho-os a todas as Inspetorias, depois de tê-los compartilhado com os membros do Conselho-Geral, porque estes desafios devem ser o espelho diante do qual cada Inspetoria do mundo é chamada a confrontar-se e devem ser os critérios para definir as finalidades, os objetivos, os processos e as ações concretas para o próximo sexênio, em todos os lugares onde o carisma dos filhos de Dom Bosco se enraizou.

Os desafios aos quais dar a nossa resposta e os objetivos a perseguir são estes:

  • 1. SALESIANO DE DOM BOSCO PARA SEMPRE. Um sexênio para crescer na identidade salesiana

  • 2. Numa Congregação à qual somos convidados pelo “DA MIHI ANIMAS, COETERA TOLLE”

  • 3. A viver o “SACRAMENTO SALESIANO DA PRESENÇA”

  • 4. A formação para ser SALESIANOS PASTORES HOJE

  • 5. PRIORIDADE ABSOLUTA pelos jovens, os mais pobres e os mais abandonados e indefesos

  • 6. COM OS LEIGOS NA MISSÃO E NA FORMAÇÃO. A força carismática que os leigos e a Família Salesiana nos oferecem

  • 7. É TEMPO DE UMA MAIOR GENEROSIDADE NA CONGREGAÇÃO. Uma Congregação universal e missionária

  • 8. Acompanhando os jovens para um FUTURO SUSTENTÁVEL





1. SALESIANO DE DOM BOSCO PARA SEMPRE: «Frade ou não frade, eu fico com Dom Bosco» (Cagliero). UM SEXÊNIO PARA CRESCER NA IDENTIDADE SALESIANA.

« O Senhor nos deu Dom Bosco como pai e mestre.

Nós o estudamos e imitamos, admirando nele esplêndida harmonia de natureza e graça. Profundamente homem, rico das virtudes do seu povo, era aberto às realidades terrenas; profundamente homem de Deus, cheio dos dons do Espírito Santo, vivia “como se visse o invisível”» (C. 21).



Em minha última fala na aula capitular, durante o discurso de encerramento do CG28, referi-me a um diálogo que tive com um irmão no primeiro dia. Ele pediu para conversar comigo e disse-me: «Não nos deixeis sozinhos. Precisamos de ajuda para ser verdadeiramente Salesianos, para não perder a nossa identidade».

Senti profundamente que o Senhor nos falava naquele momento também através daquele nosso irmão. E fazia-nos entender a importância e a urgência de crescer e consolidar a identidade carismática em nossa Congregação.

A nossa condição de consagrados é o ponto de partida essencial e fundamental. O futuro da vida consagrada, e a vida salesiana para nós consagrados, tem a sua razão de ser no seu fundamento que é Jesus Cristo. Como consagrados, a sequela de Cristo plasma a nossa identidade integrando nela a nossa formação pastoral. Como consagrados, como Salesianos de Dom Bosco, Deus faz de nós «memória viva da forma de existir e atuar de Jesus».2 E o desafio vocacional, para toda a vida consagrada, e para nós de modo particular como Salesianos de Dom Bosco, é «retornar sempre a Jesus», renunciando a tudo que não seja Ele ou que nos afasta d’Ele.

Com muita humildade e clareza de visão devemos reconhecer que a saída da crise da vida religiosa, da vida salesiana, das dificuldades de todas as Inspetorias, não será encontrada em novos projetos nem em planos estratégicos nem numa “programação 3.0”. Na maior parte das vezes, diante da decepção, do cansaço existencial, da falta de motivação..., trata-se de retornar a Cristo, à vida religiosa, à vida consagrada salesiana, porque podemos viver acreditando erroneamente que tudo encontra seu sentido em fazer coisas. Não, caros Irmãos, sem Jesus Cristo no centro do nosso pensar, sentir, viver, sonhar, trabalhar... não há futuro, e não podemos oferecer nada de significativo. Nas palavras do Papa Francisco: «O Senhor pede tudo e, em troca, oferece a vida verdadeira, a felicidade para a qual fomos criados. Quer-nos santos e espera que não nos resignemos com uma vida medíocre, superficial e indecisa».3

Não esqueçamos que a missão salesiana e a mesma Congregação nasceram de Deus, suscitadas pelo seu Espírito: «Com sentimento de humilde gratidão, cremos que a Sociedade de São Francisco de Sales não nasceu de simples projeto humano, mas por iniciativa de Deus» (C. 1); e que cada um de nós, Salesianos de Dom Bosco, é enviado aos jovens pelo próprio Deus (cf. C. 15).

Depois do Capítulo-Geral 28 “especial”, creio que se espera de nós Salesianos, 162 anos após o início da nossa Congregação, que vivamos prontos e sejamos ágeis na escuta do sopro do Espírito de Deus, o Espírito Santo, para continuar a ter Jesus Cristo Senhor como fundamento e centro da nossa vida, renovar a profecia que deve caracterizar a nossa vida e continuar a crescer em humanidade até sermos os “especialistas em humanidade” que sabem olhar e contemplar, até deixar-se comover, pela dor e pelas necessidades dos nossos irmãos e irmãs (a começar daqueles de nossas comunidades), dos adolescentes, dos jovens e das jovens e suas famílias. Devemos assumir com seriedade o nosso serviço profético. A nossa contribuição específica é sermos ícones do estilo de vida de Jesus, totalmente consagrado ao Pai e ao Seu projeto para a humanidade: o Reino. Espera-se de nós, então que sejamos sinais e testemunhas da presença paterna de Deus – que é uma presença afetuosa, capaz de um olhar de ternura e com os braços abertos, alargados sobretudo aos mais pobres, aos nossos jovens –, fazendo ser realidade a nossa fraternidade, tornando-a atraente, fascinante, e vivendo com simplicidade e sobriedade.

O Senhor ressuscitado convidava os seus discípulos a voltarem à Galileia para encontrá-Lo e revê-Lo. Esse convite é extremamente atual para nós e, expressando-me em chave salesiana, gostaria de dizer que hoje a nossa Galileia, para o encontro com o Senhor, como Salesianos de Dom Bosco, passa por Valdocco, pelos inícios de Valdocco, também frágeis, mas com a força e a paixão da frase que o jovem João Cagliero expressou com tanto ardor e entusiasmo juvenil: «frade ou não frade, eu fico com Dom Bosco». Valdocco é, de fato, a atmosfera espiritual e apostólica em que cada um de nós respira o ar do Espírito, onde alimentamos e reforçamos a nossa identidade carismática. É o lugar da “transfiguração” para cada Salesiano que, dando atenção a todos os elementos da nossa espiritualidade, poderá contribuir para tornar cada uma de nossas casas um autêntico Valdocco, onde seja possível encontrar, face a face, na vida quotidiana, o nosso Senhor Jesus Cristo.

Jesus passa, olha para nós com amor e chama-nos a segui-Lo. No mistério desse chamado, no olhar que não nos julga, mas nos sonda por dentro e nos observa, na aventura de caminhar nos seus passos, todos nós podemos descobrir o projeto que Deus concebeu para cada um de forma original. Hoje, muitos dos que decidem abandonar a Congregação sofrem de uma mesma coisa: não ter entrado em contato com o Senhor Jesus e não ter tido a mesma paixão do jovem Cagliero de ficar com Dom Bosco para seguir Jesus. Eis porque, às vezes, qualquer outra oferta pastoral que tenha indícios de autonomia, de autogestão, de independência, de gestão de si e dos próprios recursos econômicos, exerce em alguns irmãos um fascínio suficiente que os leva a pedir para ir a outros lugares. Precisamos reconhecer honestamente que é esse o caso. Às vezes, o dom do ministério presbiteral também não é compreendido plenamente e é instrumentalizado e vivido como “poder”. Isso ofusca a aliança que Deus estabeleceu conosco com o dom da consagração religiosa, centro da nossa vida pessoal e comunitária.

PROPOSTA

Este sexênio deverá distinguir-se na Congregação por um profundo trabalho de crescimento na profundidade carismática, na identidade salesiana, em todas as fases da vida, com um empenho sério em todas as Inspetorias e em cada comunidade salesiana, para chegar a dizer como Dom Bosco: «Prometi a Deus que até meu último alento seria para meus pobres jovens».4

Por isso:

  • Em todas as etapas da formação, com a profundidade que lhe corresponde, cuidaremos como urgência e necessidade imprescindíveis dos elementos que dão identidade carismática a cada Salesiano e nos fazem enamorar-nos de Dom Bosco e dos jovens com o coração de Jesus Bom Pastor.

  • Daremos prioridade às características da nossa identidade carismática de pessoas consagradas que fazem de nós sinais proféticos: a vida feliz com raízes no Evangelho, a fé viva ancorada em Deus, a comunhão que torna atraente a vida comunitária, a atitude profética diante da injustiça e do mal e a visão de esperança com o desejo de conversão.

  • Nas Inspetorias, será necessário um prudente discernimento em relação às obediências dadas aos irmãos, para não correr o risco de se perder o sentido autêntico e a paixão do coração salesiano e não cair em formas de genericismo carismático ou orientar-se para realidades pastorais diocesanas que levam ao afastamento da Congregação.

  • Como Congregação, continuemos a ter muita atenção para não contrairmos o «vírus do clericalismo e do carreirismo».5

  • Em todas as comunidades valorizemos, na reflexão e na partilha, a primeira parte do documento «Animação e governo da comunidade. O serviço do diretor salesiano», que apresenta a “identidade consagrada salesiana”.



2. Numa Congregação em que é URGENTE o “DA MIHI ANIMAS COETERA TOLLE”



«Com sentimento de humilde gratidão, cremos que a Sociedade de São Francisco de Sales não nasceu de simples projeto humano, mas por iniciativa de Deus. Para colaborar na salvação da juventude, “a porção mais delicada e preciosa da sociedade humana”, o Espírito Santo, com a maternal intervenção de Maria, suscitou São João Bosco.

Formou nele um coração de pai e mestre, capaz de doação total: “Prometi a Deus que até meu último alento seria para meus pobres jovens» (C.1).



Os testemunhos dos primeiros tempos da nossa história congregacional e a reflexão que a Congregação desenvolveu ao longo dos anos, evidenciam um fato muito significativo: a expressão que melhor exprime o zelo e a caridade pastoral dos Salesianos de Dom Bosco é “Da mihi animas, coetera tolle”.

O menino, Domingos Sávio, que, na presença do jovem sacerdote de 34 anos, que era Dom Bosco, viu essa frase escrita no ingresso do seu escritório e compreendeu-a perfeitamente: «Compreendi: aqui não se trata de dinheiro, mas de almas».6 Contemplando Dom Bosco, compreendemos a sua profunda espiritualidade e as qualidades especiais de educador que marcaram o seu modo de relacionar-se com os adolescentes e os jovens. Em Dom Bosco e na sua história encontramos a base da nossa ação educativo-pastoral, que se caracteriza pela proposta de vida cristã muito concreta, pela atenção diante de cada jovem com o interesse de oferecer respostas concretas às suas exigências, pela confiança na presença de Deus.

A nossa missão, sobretudo no acompanhamento dos jovens, deve caracterizar-se pela capacidade pedagógica e espiritual criativa típica do nosso Pai Dom Bosco, com que podemos superar as distâncias em relação à sensibilidade das novas gerações, oferecendo-lhes uma escuta amável e uma compreensão misericordiosa, suscitando os grandes questionamentos sobre o mistério da vida e ajudando-os a buscar o Senhor e encontrar-se com Ele.

O Capítulo-Geral 26 enfrentava precisamente isso tudo ao refletir sobre o lema de Dom Bosco: “Da mihi animas, coetera tolle”. Pois bem, com a visão de hoje e com o conhecimento da nossa realidade, creio que posso dizer: é necessário e urgente para nós que a nossa Congregação viva, respire e caminhe procurando fazer do “Da mihi animas, coetera tolle” uma realidade no anúncio do Evangelho, para vantagem dos nossos jovens e para o nosso próprio bem.

A nossa missão coloca-nos com frequência na fronteira, onde entramos habitualmente em contato com cristãos de outras confissões, com membros de outras religiões, com não crentes ou crentes afastados: também com eles e para eles queremos realizar a missão. Todos os tempos e todos os lugares são adequados ao Evangelho.

Meus caros Irmãos, agora, após o CG28:

  • É urgente dar prioridade absoluta ao trabalho pela evangelização dos jovens com propostas conscientes, intencionais e explícitas. Somos convidados a levá-los a conhecer Jesus e a Boa Nova do Evangelho para suas vidas.

  • É urgente ajudar os jovens (e suas famílias) a descobrirem a presença de Cristo em suas vidas como chave para a felicidade e o significado da existência.

  • É urgente acompanhar as crianças, os adolescentes e os jovens em seu processo de educação à fé, para poderem aderir pessoalmente à pessoa de Cristo.

  • É urgente ser “verdadeiros educadores” que, por experiência pessoal, acompanham o jovem no diálogo com Deus na oração e na celebração dos sacramentos.

Sem isso, caros Irmãos, outros esforços titânicos da Congregação tenderão à bondade da promoção humana e à assistência social – que sempre são muito necessárias e pertencem à nossa identidade carismática – mas não nos levarão à primeira razão pela qual o Espírito Santo suscitou o carisma salesiano em Dom Bosco: «Fiéis aos compromissos que Dom Bosco nos transmitiu, somos evangelizadores dos jovens» (C. 6). A primeira finalidade da nossa pastoral juvenil é a conversão das pessoas ao Evangelho de Jesus Cristo.

Com todas as tonalidades da sensibilidade histórica, que queremos ter presentes, e a compreensão linguística da época, que acreditamos ser necessária, não podemos prescindir do elemento essencial e constitutivo que caracterizou a ação educativo-pastoral de Dom Bosco, como foi expressada pelo Reitor-Mor P. Vecchi: «A pedagogia de Dom Bosco é uma pedagogia da alma, da graça, do sobrenatural. Quando se chega a ativar essa energia, começa o trabalho mais profícuo da educação. O outro, válido em si, é propedêutico e concomitante a ele, que o transcende».7

O “coetera tolle” faz com que vivamos disponíveis para deixar tudo o que nos impede de ir ao encontro de quem mais precisa de nós. É a ascese que emana da opção anterior, renunciando a muitas coisas (gostos pessoais, preferências e mesmo ações e serviços legítimos), ao que não nos permite dedicar todas as energias do coração pastoral àquilo a que damos prioridade.

PROPOSTA

  • Então, proponho à nossa Congregação para o próximo sexênio que sejamos exigentes conosco mesmos ao responder à «URGÊNCIA DE REPROPOR O PRIMEIRO ANÚNCIO COM MAIS CONVICÇÃO porque “nada há de mais sólido, mais profundo, mais seguro, mais consistente e mais sábio que esse anúncio” (ChV, 214)».8

Por isso:

  • O Reitor-Mor e seu Conselho, com todas as Inspetorias, estão empenhados neste sexênio em tomar as decisões oportunas para qualificar a presença salesiana na evangelização e na educação à fé. Trata-se de uma autêntica conversão pastoral, pessoal e comunitária, a que somos chamados.

  • Promoveremos uma pastoral juvenil que acompanhe os jovens em vista do seu amadurecimento pessoal, do crescimento na fé, e tenha como princípio unificador a dimensão vocacional (DF 140, ChV 254).9

  • Continuaremos a empenhar-nos em todos os níveis da nossa Congregação para concretizar «uma mudança de mentalidade diante da missão a realizar» (Papa Francisco ao CG28).10

  • Daremos a conhecer e faremos estimar como coluna fundamental da nossa obra de evangelização e educação o que foi essencial para Dom Bosco e para muitas gerações de Salesianos: a belíssima presença da nossa Mãe Auxiliadora nas nossas propostas educativas e na oração com os jovens.



3. VIVER O “SACRAMENTO SALESIANO” DA PRESENÇA



«Nossa vocação é marcada por um dom especial de Deus, a predileção pelos jovens: “Basta que sejais jovens para que eu vos queira muito”. Esse amor, expressão da caridade pastoral, dá sentido a toda a nossa vida.

Pelo bem deles oferecemos generosamente tempo, dotes pessoais e saúde: “Por vós estudo, por vós trabalho, por vós eu vivo, por vós estou disposto até a dar a vida”» (C. 14)



O Papa Francisco, em sua Mensagem ao Capítulo, falou-nos da “opção Valdocco e do carisma da presença”, carisma que me permito qualificar livremente como “sacramento salesiano” da presença. O Papa escreve que «antes ainda de o que fazer, o Salesiano é memória viva de uma presença em que a disponibilidade, a escuta, a alegria e a dedicação são as notas essenciais para suscitar processos. A gratuidade da presença salva a Congregação de todas as obsessões ativistas e de todos os reducionismos técnico-funcionais. O primeiro chamamento é ser uma presença alegre e gratuita entre os jovens». O nosso ser discípulos do Senhor, o nosso modo autêntico e profundo de ser apóstolos dos jovens passa antes de tudo pelo nosso viver entre o povo e, de modo especial, entre os jovens e as jovens.

O que foi dito de modo coloquial não pode ser expressado de modo melhor. Trata-se, caros Irmãos, de recuperar o primeiro amor vocacional, aquele que todos nós experimentamos quando sentimos que o Senhor nos chamava a ser presença alegre e gratuita entre os jovens. Ouso dizer que não existe um só Salesiano que, de uma maneira ou de outra, não tenha sentido isso no seu coração.

Refletimos sobre esse aspecto durante o CG28. Tomamos ciência de que muitos jovens vivem uma verdadeira situação de orfandade mesmo quando têm os pais. Os próprios jovens nos disseram em sua mensagem ao CG28: «Temos medo, vivemos confusos, frustrados, e temos grande necessidade de ser amados... Um resultado do nosso temor é a dificuldade que sentimos diante do comprometimento... Acreditamos que a nossa sociedade é individualista e que, muitas vezes, também nós somos individualistas... queremos ser capazes de retornar ao primeiro amor que é Cristo, àquele ser companheiro e amigo dos jovens que é próprio dele. Temos um desejo intenso de realização espiritual e pessoal. Queremos caminhar no crescimento espiritual e pessoal e queremos fazê-lo convosco, Salesianos».11

Não ponhamos em dúvida essa verdade dos próprios jovens, que também reconhecemos na aula capitular: «Pedem-nos tempo e nós lhes damos espaço; pedem-nos relação e nós lhes prestamos serviços; pedem-nos vida fraterna e nós lhes oferecemos estruturas; pedem-nos amizade e nós lhes proporcionamos atividades. Tudo isso nos empenha a redescobrir as riquezas e as potencialidades do “espírito de família”».12

Os próprios jovens que nos acompanharam durante o Capítulo-Geral dirigiram-nos um forte apelo a sermos presença significativa para eles. Disseram-nos explicitamente: «Temos um desejo intenso de realização espiritual e pessoal. Queremos caminhar no crescimento espiritual e pessoal e queremos fazê-lo convosco, Salesianos... Gostaríamos que fosseis aqueles que nos orientam, no interior da nossa realidade, com amor... Salesianos, não vos esqueçais de nós jovens porque nós não nos esquecemos de vós e do Carisma que nos ensinastes! Queremos vos dizer com força, de todo o coração: estar aqui foi para nós um sonho que se tornou realidade, neste lugar especial que é Valdocco, onde a missão salesiana começou, com Salesianos e jovens para a missão salesiana, com a nossa vontade comum de juntos sermos santos. Tendes os nossos corações em vossas mãos. Cuidai desse vosso tesouro precioso. Por favor, jamais vos esqueçais de nós e continuai a escutar-nos».13

Caros Irmãos, é um grande privilégio sentir a pulsação de vida do coração dos jovens! E não tenho nenhuma dúvida de que, em toda a Congregação, são muitos os irmãos que vivem hoje para os jovens como verdadeiros Dom Bosco. Todavia não me satisfaço com isso. Todos nós devemos viver assim. Devemos continuar o caminho de conversão. Esse esforço exige de nós uma mudança de mentalidade e de ritmos de vida, abertura de mente e de coração, superação de hábitos enraizados e cristalizados. Os jovens dizem que nos amam, que precisam de nós, que nos esperam. A expressão de Dom Bosco «procura fazer-te amar» é plenamente atual hoje. Estar presente não consiste unicamente em passar algum tempo com os jovens como grupo, mas em encontrá-los individualmente, de modo pessoal, para criar uma relação que permita conhecer e escutar os seus desejos, as suas dificuldades e cansaços e, às vezes os seus medos e os seus receios. Trata-se de uma relação que quer ir além do conhecimento superficial, oferecendo uma amizade caracterizada pela confiança mútua e a partilha recíproca. A amorevolezza ou bondade tornou-se assim a forma substancial da caridade de Dom Bosco. Ele pede-nos hoje, como na carta de Roma de 1884, a capacidade de encontrar-nos, a disponibilidade para o acolhimento, a familiaridade. Como Dom Bosco, precisamos cultivar também a arte de dar o primeiro passo, eliminando distâncias e barreiras e fazendo brotar a alegria e o desejo de encontrar-se, de ser amigo. Esta arte consiste em criar, com paciência e dedicação, uma atmosfera rica de humanidade, um clima familiar em que adolescentes e jovens se sintam muito livres e capazes de se exprimirem e serem eles mesmos, assimilando com alegria os valores que lhe são propostos. Esta pedagogia do espírito de família é também uma escola de fé para os jovens. Oferecemos amor e acolhida incondicionada, para que possam descobrir progressivamente, a partir da opção de liberdade pessoal, a confiança e o diálogo, assim como a celebração e a experiência comunitária da fé.

Não esqueçamos que a presença salesiana é uma presença especial, que leva o Salesiano a tratar os jovens com profundo respeito, encontrando-os no seu nível de liberdade e tratando-os como sujeitos ativos e responsáveis da comunidade educativo-pastoral. Salesiano aprende, portanto, o estilo de escuta, diálogo e discernimento pessoal e comunitário. Isso vale não só na pastoral entre os jovens, mas também nas nossas casas de formação, onde “se aprende a ser Salesianos”.

Contudo, esta modalidade de presença não é possível vivendo distantes dos jovens: distantes deles fisicamente e distantes da sua psicologia e do seu mundo cultural. Esse é o perigo. A alternativa adequada é viver como Salesianos, como filhos de Dom Bosco, a mesma experiência de paternidade que ele viveu com os seus meninos, traduzida num verdadeiro amor e, ao mesmo tempo, numa “admiração” real em relação aos próprios jovens. A partir do grande valor que tem para nós a presença entre os jovens. Lemos na Mensagem do Papa ao CG28: «A vossa consagração é, antes de mais, sinal de um amor gratuito do Senhor e ao Senhor nos seus jovens, que não se define principalmente como um ministério, uma função ou um serviço particular, mas através de uma presença. Antes ainda de o que fazer, o Salesiano é memória viva de uma presença em que a disponibilidade, a escuta, a alegria e a dedicação são as notas essenciais para suscitar processos. A gratuidade da presença salva a Congregação de todas as obsessões ativistas e de todos os reducionismos técnico-funcionais. O primeiro chamamento é ser uma presença alegre e gratuita entre os jovens».

Permito-me recordar que a presença toca hoje também o mundo digital, um novo verdadeiro areópago para nós, um habitat dos jovens de hoje. Também nele, devemos estar presentes, com uma clara identidade salesiana, com o desejo de levar o anúncio da boa-nova e simplesmente com a alegria e a sensibilidade dos discípulos do Senhor.14

PROPOSTA

Proponho para este sexênio, como expressão da nossa CONVERSÃO, o que já fora pedido pelo CG26, ou seja: «todo Salesiano encontre tempo para estar no meio dos jovens como amigo, educador e testemunha de Deus, qualquer que seja o seu papel na Comunidade».15

Embora possa parecer estranho pedir a um Salesiano que encontre tempo para estar no meio dos jovens, acredito que é muitíssimo necessário.

Por isso proponho

  • Promover uma presença eficaz e afetiva entre e com os jovens, em comunhão de vida e de ação. Valorizar e relançar a bela experiência e a renovada figura do assistente, não só para os tirocinantes, mas para a vida inteira do Salesiano de Dom Bosco.

  • Dar atenção, em todas as presenças, ao estilo do ambiente oratoriano: atmosfera familiar, acolhimento, espiritualidade e a dimensão da alegria profunda.

  • Acompanhar o dinamismo dos jovens promovendo o seu protagonismo e liderança em todas as casas e na missão salesiana que ali se realiza.

  • Assegurar a presença dos formadores nas comunidades de formação, onde se comunica o espírito salesiano antes de tudo com o exemplo: viver entre eles, ajudando intensamente os jovens irmãos a serem os primeiros responsáveis da própria formação.

  • Empenhar o Dicastério para a Comunicação Social, nos vários níveis, na oferta de instrumentos e estímulos para um processo constante de revisão, atualização, inculturação da missão salesiana no habitat digital, onde os jovens vivem, envolvendo as nossas universidades em rede com os demais centros e agências que mais de perto acompanham e estudam as transformações que o mundo digital está trazendo às novas gerações.



4. A FORMAÇÃO PARA SER SALESIANOS PASTORES HOJE



«Iluminado pela pessoa de Cristo e pelo seu Evangelho, vivido segundo o espírito de Dom Bosco, o Salesiano se empenha num processo formativo que dura toda a vida e lhe respeita os ritmos de amadurecimento. Faz experiência dos valores da vocação salesiana nos diversos momentos de sua existência e aceita a ascese que esse caminho implica.

Com a ajuda de Maria, Mãe e Mestra, tende a tornar-se educador-pastor dos jovens na forma laical ou sacerdotal que lhe é própria» (C. 98).



A formação é realmente uma dádiva preciosa do Senhor, que faz amadurecer em nós, como Salesianos de Dom Bosco, o dom inestimável do chamado do Pai à vocação cristã e consagrada. Apesar de a realidade numérica das vocações não ser homogênea no mundo todo, a Congregação é abençoada todos os anos com o ingresso de 450 noviços em média. Agradeçamos a Deus porque, como dizem as nossas Constituições, cada vocação manifesta o quanto o Senhor ama a Igreja e a nossa Congregação (cf. C. 22).

Entretanto, a Assembleia capitular também reconheceu algumas fragilidades nossas e assim se exprimiu: «Notamos que, às vezes, a identidade consagrada salesiana parece frágil e pouco enraizada: o primado de Deus na vida pessoal e comunitária nem sempre emerge com clareza; algumas formas de clericalismo e de secularismo correm o risco de fazer entrar na Congregação a “mundanidade espiritual”; a promoção do Salesiano leigo em algumas Regiões é escassa; a falta de pessoal preparado no âmbito da salesianidade, não obstante a grande quantidade de material à disposição, é sinal de insuficiente atenção ao aprofundamento do carisma».16 Este âmbito emergiu, realmente, de modo muito intenso durante os trabalhos do nosso Capítulo Geral 28.

Ousaria dizer que se isso acontece em todas as congregações religiosas e também na formação dos seminários diocesanos, a distância abissal que se percebe entre a formação e a missão salesiana é, sem dúvida, para nós um grande desafio. Talvez essa distância se deva à grande diferença existente entre a realidade das casas de formação inicial e a vida nas comunidades apostólicas (as comunidades ordinárias de todas as Inspetorias); talvez o fenômeno dependa também do fato de a formação nem sempre conseguir chegar ao coração do jovem Salesiano em formação; talvez no currículo formativo sejam transmitidos conhecimentos e informações que não conseguem tocar a vida e a missão salesiana. O crescimento é um processo lento de unificação da pessoa, que põe em relação experiências de vida, necessidades existenciais, conhecimentos, missão, relações, vocação, projeto de vida... Nesse processo de unificação nós nos formamos para ser educadores e pastores num mundo novo e numa missão renovada. Qualquer que seja a razão dos limites formativos que constatamos, vemo-nos diante de um grande desafio, evidenciado pela Congregação, e que precisamos enfrentar com decisão no sexênio.

Por outro lado, não podemos negar a existência da perigosa persuasão de que a formação termina quando terminam as fases iniciais, e, no caso dos candidatos ao sacerdócio, quando se chega ao ministério. Essa ideia errada faz-nos muito mal e leva-nos a pagar preços elevados no ministério pastoral. Trata-se, pois, de entender a formação como um processo de transformação pessoal que dura a vida inteira, embora seja caracterizada por uma intensidade especial e com atenções específicas nas primeiras etapas. Resumindo, a formação é o caminho necessário para construir e conservar a nossa vocação.

Frequentemente não sabemos transformar a vida pastoral quotidiana numa oportunidade permanente para a nossa formação e, por isso, «a comunidade, tanto religiosa como educativo-pastoral, não consegue ser o ambiente natural em que somos formados».17 Estamos cientes de algumas possíveis fragilidades pastorais: superficialidade, improvisação, ativismo. O perigo do individualismo não é menos importante. Tudo isso requer humildade, lucidez, autenticidade e um novo impulso na compreensão comunitária da nossa vida e da nossa missão.

Como se disse no Capítulo-Geral, a formação inicial é uma realidade poliédrica, positiva e prometedora. Diante dessa situação, a formação dos formadores, isto é, dos irmãos que acompanham com uma «vocação particular no interior da própria vocação» a formação dos jovens Salesianos, e a criação de boas equipes de pessoas que possam acompanhar as etapas da formação, são uma verdadeira urgência e uma verdadeira prioridade, uma vez que a comunidade é o primeiro lugar de formação.

Deveremos falar, quiçá, da necessidade de assumir um novo estilo de formação? Em sua mensagem ao Capítulo-Geral, o Papa Francisco diz-nos sobre isso: «pensar na figura do Salesiano para os jovens de hoje implica aceitar que estamos imersos num momento de mudanças».18 É preciso, então, renovar o nosso estilo formativo a ser pensado sempre mais de forma personalizante, holística, relacional, contextual e intercultural.19 Devemos continuar a dar novos passos para organizar e viver realmente a formação no horizonte da vocação e, portanto, bem longe de ser entendida, como às vezes se pretende fazer, apenas como um dever que dura alguns anos e deve ser necessariamente superada para se chegar à “vida real”, à vida concreta, aquela que se buscava. Trata-se de um conceito formativo perigoso o que opõe a vida real à formação do Salesiano educador e pastor!

A formação, enfim, é um verdadeiro e próprio trabalho artesanal, tanto de quem acompanha os irmãos como de cada um no próprio processo formativo. Nesse campo, hoje, não há espaço para a “produção em série”. O artesanato fala de obras de arte únicas, feitas à mão, uma a uma. Discorrendo sobre esse trabalho artesanal, não podemos preterir a figura da mulher nos ambientes educativos salesianos. De fato, «a presença da mulher em muitas de nossas obras é um dado de fato, seja no que diz respeito aos destinatários como aos corresponsáveis da educação».20 Nesse sentido, o Papa Francisco dirigiu-nos um forte apelo em sua Mensagem dizendo: «Que seria de Valdocco sem a presença de Mamãe Margarida? Teriam sido possíveis as vossas casas sem esta mulher de fé? [...] Sem uma presença real, efetiva e afetiva das mulheres, às vossas obras faltaria coragem e capacidade para declinar a presença como hospitalidade, como casa. Diante do rigor que exclui, é preciso aprender a gerar nova vida do Evangelho. Convido-vos a levar por diante dinâmicas nas quais a voz da mulher, a sua visão e o seu agir – apreciado na sua singularidade – encontrem eco ao serem tomadas decisões; como um ator não auxiliar, mas constitutivo das vossas presenças».

Um estilo e modelo renovado de formação, também com a forte ênfase dada pelo Papa Francisco, não será possível esquecendo o único e mais importante protagonista, que não é nem o formador nem o formando, mas o Espírito Santo, o Espírito de Deus a quem cada um de nós deve ser dócil. As nossas Constituições recordam-nos que «cada Salesiano assume a responsabilidade pela própria formação» (C. 99). Permito-me acrescentar que cada irmão deve fazer com que o Espírito Santo transforme o seu coração ao longo da vida e nos seus diversos momentos.

O itinerário formativo assim vivido permitirá que consolidemos na Congregação o que afirmei nas páginas precedentes: o “Da mihi animas” deve ser o motor da paixão educativa e evangelizadora, e também a “energia” de todo o processo formativo.

A natureza apostólica do nosso carisma, de fato, qualifica de modo determinante a nossa formação. Como nos recorda o Papa Francisco em sua Mensagem, «é importante dizer que não somos formados para a missão, mas que somos formados na missão, a partir da qual se articula toda a nossa vida, com as suas escolhas e as suas prioridades. A formação inicial e a permanente não podem ser uma instância prévia, paralela ou separada da identidade e da sensibilidade do discípulo».

É evidente que temos diante de nós um dos núcleos essenciais do caminho da Congregação nos próximos seis anos: cuidar da vocação de cada irmão em particular e dos jovens irmãos em formação, de tal modo que todos nós consigamos ser os Salesianos de Dom Bosco de que os nossos adolescentes, os nossos jovens e suas famílias precisam hoje.

PROPOSTA

Empenhemo-nos em superar a distância entre formação e missão, favorecendo na Congregação uma renovada cultura da formação na missão para estes dias em todo o mundo salesiano com medidas e decisões de grande significatividade.

Por isso:

  • Promovamos um esforço renovado para o acompanhamento formativo dos irmãos, que possa tocar o coração e fazer com que vivamos disponíveis para uma verdadeira e radical entrega de nós mesmos. Para tanto valorizemos o subsídio “Jovens Salesianos e acompanhamento. Orientações e diretrizes”; nele se reafirma que o nosso modelo de formação só pode ser o Sistema Preventivo.

  • As comunidades de formação inicial mantenham um estilo de vida sóbrio e caracterizado pela profundidade espiritual e a grande capacidade de serviço e trabalho, que preserve do aburguesamento e forme para as exigências da missão. Garanta-se o acompanhamento pastoral como estratégia da formação para a missão e na missão.

  • Invistamos energias na busca e na formação dos formadores e enfrentemos com coragem o repensamento das referências institucionais e das estruturas formativas.

  • O Setor da formação fará um sério e exigente trabalho de atualização da Ratio, potencializando o que favorece a integração entre formação e missão e impede a formação do distanciamento entre as duas dimensões. O Setor garantirá processos de verdadeiro amadurecimento e personalização e de acompanhamento.





5. PRIORIDADE ABSOLUTA PELOS JOVENS, OS POBRES E OS MAIS ABANDONADOS E INDEFESOS



«O Senhor indicou a Dom Bosco os jovens, especialmente os mais pobres, como primeiros e principais destinatários da sua missão.

Chamados à mesma missão, tomamos consciência da sua extrema importância: os jovens vivem uma idade em que fazem opções fundamentais de vida que preparam o futuro da sociedade e da Igreja.

Com Dom Bosco reafirmamos a preferência pela “juventude pobre, abandonada, em perigo”, que tem maior necessidade de ser amada e evangelizada, e trabalhamos especialmente nos lugares de mais grave pobreza» (C. 26)



Começo a desenvolver esta prioridade a partir das poucas frases que pude dedicar a este tema na minha última intervenção na Aula Capitular, antes da conclusão antecipada do nosso CG28. Posso garantir-vos, caros Irmãos, que eram poucas as palavras, mas forte e grande a convicção.

Eu disse: «Sonho que dizer hoje “Salesianos de Dom Bosco” signifique consagrados “loucos”, isto é, Salesianos que amam com verdadeiro coração salesiano, quem sabe também “um pouco louco”, orientado para os mais pobres. Caríssimos, se nos afastarmos dos mais pobres será a morte da Congregação. Disse-o Dom Bosco ao falar da pobreza e da riqueza. Permito-me especificar mais: se nós um dia abandonarmos os jovens, e entre eles os mais pobres, começará o declínio da Congregação. Uma Congregação que, graças a Deus, goza hoje de boa saúde, para além das nossas fragilidades! Prestemos atenção então àquela que considero uma autêntica “deliberação” capitular, embora não em sentido próprio, pois o seu conteúdo já está nas nossas Constituições: opção radical, preferencial, pessoal, institucional e estrutural – enfim, de todos os pontos de vista – pelos jovens mais necessitados, pobres e excluídos. É uma opção que se manifesta de modo especial na defesa dos adolescentes e jovens explorados e vítimas de toda forma de abuso: do abuso sexual à violência, da injustiça ao abuso de poder. Este quarto ponto é um belíssimo compromisso que devemos trazer no coração. Um sexênio guiado por essa luz produzirá muita vida».

Estou convencido de que assumir esta perspectiva como irrenunciável, será muito significativo em toda a Congregação e em todos os contextos, culturas e continentes. Hoje, existem muitas pobrezas juvenis que exigem da família humana, e sem dúvida de nós Salesianos de modo particular, uma atenção urgente. De fato, a história da nossa Congregação é marcada por apelos para ir ao encontro dos jovens mais pobres. «Como filhos de Dom Bosco, assumimos um compromisso histórico de servir os jovens pobres».21

O nosso próprio Pai Dom Bosco disse-nos: «Seremos vistos e acolhidos por todos com simpatia, desde que as nossas preocupações e os nossos pedidos tenham em vista os filhos dos pobres, aqueles de maior risco da sociedade. Esta deve ser para nós a maior satisfação que ninguém nos pode tirar».22

Há muitos anos, o CG19 declarava: «Hoje, mais do que nunca, Dom Bosco e a Igreja nos enviam para trabalhar entre os pobres, os menos afortunados e o povo».23 O CG20 também falou da prioridade absoluta dos “jovens” e, dentre eles, os “pobres e abandonados” quando pediu que fossem os destinatários concretos da nossa missão.24

Nós mesmos dissemos em nosso recente Capítulo que somos consagrados a Deus para os jovens mais pobres. Como Dom Bosco, também nós prometemos na nossa Profissão religiosa oferecer-nos a Deus comprometendo todas as nossas forças a serviço dos jovens, especialmente os mais pobres; devemos, pois, «escutar juntos o apelo que Deus nos dirige nas pobrezas juvenis. Também requer, portanto, profundidade espiritual, para não cair no ativismo ou numa mentalidade empresarial; preparação cultural, para compreender os fenômenos em que estamos imersos e as novas pobrezas juvenis; disponibilidade para trabalhar em conjunto, abandonando todo individualismo pastoral; flexibilidade para repensar o nosso estilo de vida e as nossas obras, sobretudo quando elas não exprimem mais a energia missionária do carisma e respondem prevalentemente a lógicas de manutenção».25

Enfim, o apelo que dirijo a todos é de realmente contemplar o rosto dos nossos adolescentes e dos nossos jovens até conhecer as suas histórias de vida, que frequentemente são atravessadas por verdadeiras e próprias tragédias. Se isso acontece é porque realmente amamos os jovens e nos causará sofrimento e dor por eles. O Papa Francisco ao falar da opção Valdocco e do dom da juventude disse-nos algo de precioso, que não me deixou indiferentes. Escreve: «O Oratório salesiano e tudo aquilo que nasce a partir dele, como narra a Biografia do Oratório, nasce como resposta à vida dos jovens com um rosto e uma história, que colocam em movimento aquele jovem sacerdote incapaz de permanecer neutral e imóvel diante daquilo que acontecia. Foi muito mais do que um gesto de boa vontade (...). Penso nisso como um ato de conversão permanente e de resposta ao Senhor que, “cansado de bater” às nossas portas, espera que o procuremos e o encontremos... Ou o deixemos sair, quando bate de dentro. Conversão que implica (e complica) toda a sua vida e a vida daqueles que estavam à sua volta. Dom Bosco não só não escolhe separar-se do mundo para buscar a santidade, mas deixa-se interpelar e escolhe como e que mundo habitar».26

PROPOSTA

A Congregação, durante o sexênio, em todas as Inspetorias, faz a opção radical, preferencial, pessoal – isto é, de cada Salesiano – e institucional em favor dos mais necessitados, dos adolescentes, das adolescentes e dos jovens pobres e excluídos, com atenção especial à defesa daqueles que são explorados e vítimas de todo abuso e violência (“abuso de poder, econômico, de consciência, sexual”27).

Por isso:

  • Em todas as presenças salesianas no mundo e em todas as Inspetorias, devem ser tomadas as decisões necessárias para que as crianças e os jovens mais pobres, nos lugares onde estamos presentes, jamais sejam excluídos de nenhuma casa salesiana, qualquer que seja o sacrifício a fazer. Pensar, decidir, criar modos para tornar essa opção possível (como sempre fez o nosso Pai Dom Bosco).

  • Em todas as Inspetorias e casas salesianas haverá um código de conduta para o cuidado, a prevenção e a defesa dos menores que nos são confiados, com o compromisso de protegê-los de todo tipo de abuso, venha de onde vier. Para nós, os adolescentes, as adolescentes e os jovens são sagrados em nome de Deus.

  • Em nível mundial, inspetorial e local, empenhemo-nos com a promoção das várias redes, ações e boas práticas que se referem à nossa ação e a nossa presença entre os adolescentes, as adolescentes e os jovens mais pobres, em especial também entre os refugiados e imigrados. As organizações salesianas como DBnetwork, DBGA e RASS devem contribuir para garantir a tutela dos menores e caminhar em sempre maior comunhão com o Dicastério (Setor) da Pastoral Juvenil da Congregação.







6. COM OS LEIGOS NA MISSÃO E NA FORMAÇÃO



«Realizamos em nossas obras a comunidade educativa e pastoral. Ela envolve, em clima de família, jovens e adultos, pais e educadores, até poder tornar-se uma experiência de Igreja, reveladora do plano de Deus.

Nessa comunidade, os leigos, associados ao nosso trabalho, dão a contribuição original de sua experiência e modelo de vida.

Acolhemos e despertamos a sua colaboração e oferecemos a possibilidade de conhecer e aprofundar o espírito salesiano e a prática do Sistema Preventivo.

Favorecemos o crescimento espiritual de cada um e propomos, a quem se sente chamado, que participe de maneira mais estreita da nossa missão na Família Salesiana» (C.47).



Este artigo das nossas Constituições contém os elementos mais essenciais da nossa missão compartilhada com os leigos. Com essa visão, devemos confrontar-nos e examinar até que ponto o caminho da Congregação, de cada Inspetoria e de cada Irmão vai nessa direção, que exprime bem a nossa identidade carismática. Empenhemo-nos na formação dos leigos que participam conosco da missão, garantindo o seu crescimento pessoal, o seu itinerário de fé e a sua identificação vital com o espírito salesiano. Também devemos oferecer os meios que lhes permitam realizar as tarefas a eles confiadas. «A (re)descoberta da vocação e da missão dos leigos é uma das grandes fronteiras da renovação proposta pelo Concílio Vaticano II e refletida no Magistério sucessivo».28 O nosso CG24 foi certamente uma resposta carismática à eclesiologia de comunhão do Vaticano II. Bem sabemos que Dom Bosco, desde o início da sua missão em Valdocco, envolveu muitos leigos, amigos e colaboradores para participarem da sua missão entre os jovens. Logo no início «suscita participação e corresponsabilidade de eclesiásticos, leigos, homens e mulheres».29 Trata-se, pois, não obstante as nossas resistências, de um ponto de não retorno porque, além de corresponder à ação de Dom Bosco, o modelo operativo da missão compartilhada com os leigos proposto pelo CG24 é de fato «o único praticável nas condições atuais».30

Vinte e quatro anos depois da celebração daquele Capítulo-Geral, devemos reconhecer que a aceitação e a atuação do que foi decidido foram muito diferentes. Em algumas regiões a presença dos leigos na missão salesiana tornou-se mais evidente. Em outras regiões da Congregação, o caminho é muito mais lento. Em outros casos, a experiência de comunhão ainda está nos inícios – como um caminho apenas iniciado – e, às vezes, encontramos também fenômenos de verdadeira e real resistência.

Nestes anos, embora nas mais diversas realidades culturais, certamente foram feitos progressos. É comum que as relações entre Salesianos e leigos sejam marcadas por cordialidade, apreço recíproco, respeito, colaboração e, quando há uma clara identidade, a realidade das comunidades educativo-pastorais apresenta-se muito rica, mesmo se nem sempre se perceba o valor da vocação e da missão dos leigos. Tendemos, na verdade, a reconhecer mais facilmente o que fazem e não tanto a sua identidade laical.

É verdade que há uma grande variedade entre os leigos das presenças salesianas nas 134 nações em que nos encontramos: muitos trabalham em base contratual e muitos outros, sobretudo os mais jovens, como voluntários. Há leigos com forte identidade cristã e carismática, e outros que estão longe dessa realidade. Há católicos, há cristãos de outras confissões ou leigos que professam outras religiões, e também pessoas indiferentes ao fato religioso.

De modo semelhante, as modalidades de relação entre as comunidades e as obras são diversas conforme a realidade existente, contextos, etc. Na reflexão feita no Conselho-Geral tomamos ciência dessa grande diversidade, como se reflete em nossa contribuição para o núcleo 3 do Capítulo, que não foi desenvolvido na Assembleia capitular devido ao Covid-19.31

Como dizia anteriormente, o nosso Fundador preocupou-se desde o início em envolver o maior número possível de colaboradores no seu projeto operativo: de Mamãe Margarida aos empregadores dos meninos, da gente boa do povo aos teólogos, dos nobres aos políticos da época. Nós nascemos e crescemos historicamente em comunhão com os leigos, e eles conosco. Até mesmo devemos ressaltar a importância que os jovens tiveram no desenvolvimento do carisma e da missão salesiana: Dom Bosco encontrou nos jovens os seus primeiros colaboradores que se tornaram cofundadores da Congregação.

Eu mesmo, muitas vezes – e certamente também outros Reitores-Mores – exprimi com grande convicção que a participação dos leigos no carisma salesiano e na missão não é uma concessão da nossa parte, um favor que lhes fazemos e nem mesmo um caminho de sobrevivência – como muitos irmãos pensaram tantas vezes. É um direito ligado à sua vocação específica. Surge aqui evidente a diferença entre ser simples empregado numa casa salesiana e participar, ao mesmo tempo, do trabalho, da missão e da vocação. É uma relação radicalmente diferente, exigindo de nós, em muitos casos, uma decidida mudança de perspectiva. Como consagrados somos a encarnação específica do carisma salesiano, mas não somos seus únicos depositários.

Disso decorre uma prioridade absoluta: «A participação no espírito salesiano e o crescimento na corresponsabilidade requerem a participação de alguns itinerários e experiências formativas que tenham em vista a missão, obviamente sem descuidar dos itinerários formativos específicos aos Salesianos consagrados e aos leigos. A formação conjunta na missão compartilhada é uma prioridade absoluta e deve ser endereçada sobretudo ao núcleo animador».32

Os leigos são companheiros de caminho, não substitutos ou representantes dos religiosos: eles e nós temos identidades e tarefas específicas para a missão. Em decorrência disso, os nossos colaboradores leigos precisam conhecer e experimentar muito de perto Dom Bosco e o que se vive nas casas salesianas onde eles se encontram. Esse conhecimento e formação não são recebidos apenas através de cursos acadêmicos, mas de modo muito especial refletindo, revendo e programando o que se vive em comum numa determinada presença. É essencial dar novos passos na formação comum e conjunta, especialmente nos aspectos que se referem ao conhecimento e a vivência do nosso carisma compartilhado. Sabemos, com efeito, que «o primeiro e melhor modo para formar-se e para formar para a partilha e para a corresponsabilidade é o correto funcionamento da comunidade educativo-pastoral».33

Resta-me evidenciar de modo muito especial e firme que a missão compartilhada com os leigos tem o seu desenvolvimento mais pleno e autêntico quando são membros de um dos 32 grupos da Família Salesiana, dos quais, como é sabido, doze são grupos laicais. No caso dos membros pertencentes à Família Salesiana o grau de identidade carismática é, com frequência, muito elevado, e juntos vivemos uma verdadeira vocação no carisma. É uma razão a mais para dar prioridade à presença dos membros da Família Salesiana em nossas presenças, também como funcionários, quando a sua profissionalidade satisfaz as mesmas condições dos outros.

Enfim, não podemos esquecer que o futuro deste elemento carismático – a missão e a formação compartilhada com os leigos – passa através da formação dos futuros Salesianos. Não vos escondo, caros Irmãos, que me preocupa a tendência de uma parte dos nossos jovens irmãos desejosos e, ousaria dizer, também com impetuosidade, de terminar as etapas formativas para se verem com autoridade, posições e responsabilidades diante dos leigos. Trata-se de uma tendência totalmente contrária ao caminho que queremos trilhar como Congregação. Portanto, «a formação na e para a missão compartilhada deve tocar também a formação inicial dos Salesianos, não só como objeto de estudo, mas também através de experiências pastorais semanais e de férias. A experiência de trabalhar com e sob a direção de leigos durante o tirocínio, assim como a participação no Conselho da comunidade educativo-pastoral, são momentos preciosos de formação, sobretudo se acompanhados pelos membros do grupo de animadores tanto Salesianos como leigos».34

PROPOSTA

A Congregação inteira e todas as Inspetorias do mundo deem “novos passos” no testemunho da missão compartilhada e da formação comum, melhorando a realidade e o funcionamento das CEP em todas as presenças da Congregação. Pode-se estar mais à frente ou mais atrás na vivência da missão e da formação na e da CEP, mas não se pode deixar de caminhar nessa direção. Continua a ser uma prioridade e uma urgência o que é pedido no CG27: «A missão compartilhada entre sdb e leigos deixou de ser opcional – se alguém ainda pensasse assim».35

Caminhemos para inserir leigos nas equipes formativas das comunidades de formação inicial.

Nestes seis anos, em todas as Inspetorias e presenças salesianas, será levada adiante, em conjunto entre Salesianos e quem participa da missão e faz parte do núcleo animador, um processo de discernimento para:

  • Evidenciar com realismo a situação da missão e formação compartilhada (reconhecer).

  • Pôr-se em sintonia com o caminho trilhado pela Igreja e a Congregação (interpretar)

  • Projetar e ativar processos de crescimento e transformação, em sinergia com as demais realidades inspetoriais, regionais, de Congregação (escolher).

Por isso:

Os leigos com forte identidade carismática sejam inseridos gradualmente nas equipes inspetoriais, assumindo também tarefas de responsabilidade, coordenação e liderança.

A formação será realizada nas Inspetorias segundo o modelo operativo de animação e governo das casas, já decidido no CG24.

Faremos com que nas Inspetorias e nas presenças salesianas seja significativo o testemunho evidente e intenso da Família Salesiana no interior da CEP.

Os Centros Regionais de Formação Permanente, com apoio dos Dicastérios para a Pastoral Juvenil e para a Formação, preparem subsídios adaptados aos diversos contextos regionais e favoreçam esse processo em nível inspetorial e local. Tornam-se, assim, receptores e difusores de boas práticas e de materiais, que servirão como exemplo e estímulo para outras realidades salesianas.

Em nível de CEP locais valorize-se como itinerário de formação permanente a terceira parte de “Animação e governo da comunidade. O serviço do diretor salesiano”, dedicada à “Comunidade educativo-pastoral”.

Este processo será um dos campos a se dar atenção prioritária nas visitas inspetoriais, nos Capítulos inspetoriais em meados do sexênio, nas visitas extraordinárias e nas visitas de conjunto.



7. É TEMPO DE GENEROSIDADE NA CONGREGAÇÃO. Numa Congregação sempre missionária



«Cada um de nós é chamado por Deus a fazer parte da Sociedade Salesiana. Para tanto recebe d’Ele dons pessoais e, respondendo fielmente, encontra o caminho da sua plena realização em Cristo.

A Sociedade reconhece-o em sua vocação e ajuda-o a realizá-la. Como membro responsável, ele coloca sua pessoa e os próprios dons a serviço da vida e da ação comum.

Cada vocação manifesta que o Senhor ama a Congregação, deseja-a viva para o bem da sua Igreja e não cessa de enriquecê-la com novas energias apostólicas» (C.22)



Disse na sessão conclusiva do CG28 que, no meu modo de ver, este «é o tempo de generosidade na Congregação». Não tenho dúvidas de que temos uma história de 162 anos marcada por grande generosidade, iniciada ainda com Dom Bosco. Todavia, parece-me que hoje a generosidade é mais do que necessária. Procurarei explicar-me claramente.

Hoje, não menos do que no passado, a realidade fala-nos da necessidade de evangelização, de necessidades pastorais e de promoção humana das quais tomamos conhecimento em contato com diversos contextos. Recebemos frequentemente de muitas partes do mundo apelos, convites, pedidos para assumirmos este ou aquele serviço. Vemos adolescentes, jovens e famílias em dificuldade em todos os continentes.

  • Deus continua a chamar-nos no mundo todo como “testemunhas-sinais” do seu Amor salvífico pelos jovens mais pobres.

  • Há necessidade da nossa ajuda como evangelizadores e educadores para os jovens e os adultos das classes populares, nos mais diversos contextos culturais e religiosos.

  • Há, também, uma necessidade urgente de educação e da nossa ação para testemunhar e promover a justiça no mundo.

  • A pobreza e as pobrezas continuam a ser para nós um clamor, o mais das vezes silencioso, sem voz: jovens com suas pobrezas materiais e emocionais, verdadeiros órfãos mesmo tendo pais ou famílias, pobrezas culturais (sem acesso à escola, à instrução), pobrezas espirituais (sem qualquer conhecimento dos valores transcendentes, nem de Deus).

A esperança de poder trabalhar (e às vezes também estudar) continua a provocar com maior facilidade migrações maciças para as grandes cidades (e também para outros países) com as consequências naturais da falta de adaptação e da marginalização social. Acrescenta-se a isso a terrível realidade dos refugiados e dos acampamentos onde vivem; em muitos deles, os nossos irmãos compartilham a vida com os próprios refugiados (Kakuma-Quênia, Juba-Sudão do Sul, Palabeck-Uganda). Poderia ampliar o elenco desse conjunto de situações.

Caros Irmãos, todos nós pertencemos a Deus e à nossa única Congregação, da qual com alegria somos membros. Somos todos Salesianos de Dom Bosco no mundo. O nosso afeto será sempre dirigido aos irmãos da nossa Inspetoria de origem, onde “nascemos vocacionalmente”, mas a nossa pertença mais verdadeira e profunda é à Congregação, e ela começa com a nossa profissão religiosa.

Nos próximos seis anos a abertura de horizontes deve ser, então, ainda mais efetiva e real, graças à disponibilidade dos irmãos e à resposta generosa das Inspetorias com maiores possibilidades de oferecer uma ajuda aos outros irmãos. Às vezes, com acordos entre os mesmos Inspetores, outras vezes com a mediação do Reitor-Mor e seu Conselho quando se tratar de novas fundações, de novos desafios missionários, de novas presenças em outras nações ou de novas fronteiras missionárias.

Felizmente as Inspetorias mais pobres do ponto de vista econômico são as mais ricas de vocações, e a formação de todos esses irmãos é possível graças à generosidade de toda a Congregação. Novamente, demonstra-se que a generosidade torna possíveis todos os sonhos.

Vivemos tempos em que precisamos enfrentar a realidade com mentalidade renovada, que nos permita “superar as fronteiras”. Num mundo em que as fronteiras são sempre mais “uma defesa contra os outros”, a profecia da nossa vida de Salesianos de Dom Bosco consiste também nisto: demonstrar que, para nós, não existem fronteiras. A única realidade à qual respondemos é Deus, o Evangelho e a missão que nos é confiada. Justamente por isso, as nossas comunidades internacionais e interculturais têm hoje um grande valor profético, sem esconder o fato que construir a fraternidade na diversidade requer visão de fé e empenho pessoal.

A realidade missionária da nossa Congregação continua a interpelar-nos e apresentar-nos alguns belos desafios, as missões impelem-nos e fazem-nos sonhar belos sonhos que se tornam realidade.

Quando nos anos 80’ do século passado continuávamos, anos após ano, a perder irmãos de modo significativo, o Reitor-Mor P. Egídio Viganò lançou profeticamente o Projeto África, que hoje é uma belíssima realidade. Quando em 2000, diante do novo milênio, se constatava a dura realidade pastoral e a necessidade de uma nova evangelização para a Europa, o P. Pascual Chávez promoveu convictamente o Projeto Europa. Estes não são tempos para se preocupar com a sobrevivência, mas ocasiões para ser mais significativos.

O Papa Francisco, em sua mensagem ao CG28, convidava-nos a estar atentos aos temores que acabam «por fixar-nos numa inércia paralisante que priva a vossa missão da parrésia própria dos discípulos do Senhor. Tal inércia pode também manifestar-se num olhar e numa atitude pessimista diante de tudo aquilo que nos circunda e não só no que se refere às transformações que acontecem na sociedade, mas também em relação à própria Congregação, aos irmãos e à vida da Igreja. Esta atitude que acaba por “boicotar” e impedir qualquer resposta ou processo alternativo».36

PROPOSTA

Proponho a toda a Congregação a concretização deste tempo de generosidade, assumindo de modo natural a disponibilidade de irmãos de todas as Inspetorias (transferências, intercâmbio, ajuda temporária) para serviços internacionais, novas fundações, novas fronteiras que queiramos alcançar.

Por isso:

As Inspetorias estarão atentas e disponíveis aos apelos do Reitor-Mor para as necessidades e os desafios que assumiremos.

O 150º aniversário da primeira expedição missionária de Dom Bosco à Argentina (que ocorrerá em 2025) e o primeiro centenário da presença missionária no Nordeste da Índia (em 2022), serão ocasiões para continuar o projeto missionário da nossa Congregação.

Fizemos durante o sexênio precedente um apelo missionário convidando todas as Inspetorias a iniciarem em seu interior um projeto missionário (refugiados, migrantes, fronteiras, crianças exploradas...), dando prioridade à significatividade e às exigências reais dos jovens de hoje.

O Reitor-Mor e seu Conselho indicarão os passos oportunos para consolidar no Dicastério (Setor) da Pastoral Juvenil da Congregação a seção que se ocupa prioritariamente da realidade dos refugiados e migrantes (especialmente de menores não acompanhados e jovens).



8. ACOMPANHANDO OS JOVENS A UM FUTURO SUSTENTÁVEL



Reconhecemos que a atenção a um futuro sustentável é uma conversão cultural, não uma moda e, como toda conversão, precisa ser fortemente chamada com seu novo nome.

A Assembleia capitular expressou-se com total unanimidade quando se propôs que uma pequena comissão assumisse a sensibilidade que existe entre nós diante dessa emergência. O cuidado do criado não é uma moda. Está em jogo a vida da humanidade, mesmo se muitos agentes públicos, reféns de interesses econômicos, olham para o outro lado ou negam o que é inegável. Essa sensibilidade concretizou-se numa deliberação do Capítulo aprovada pela Assembleia. O Papa Francisco insistiu que devemos evitar uma «emergência climática» que corre o risco de «perpetrar um ato brutal de injustiça em relação aos pobres e às gerações futuras».37

O nosso empenho por uma ecologia humana integral nasce da convicção de fé segundo a qual «tudo está inter-relacionado e o cuidado autêntico da nossa própria vida e das nossas relações com a natureza é inseparável da fraternidade, da justiça e da fidelidade aos outros».38 No interior da vida social dos seres humanos não podemos olvidar a atenção ao ambiente. Para tanto, a ecologia deve ser integral, humana. E, como consequência, somos convidados à conversão ecológica que não se refere apenas à economia e a política, mas também à vida social, as relações, a afetividade e a espiritualidade.

Assistimos nos últimos anos aos desacordos dos políticos de várias nações diante dessa emergência. O último encontro dos líderes dos Países em Santiago do Chile (mas realizado em Madri – Espanha) teve como único resultado o acordo de encontrar-se novamente dentro de um ano. Nenhum acordo operativo significativo.

Ao mesmo tempo, milhões e milhões de pessoas, em sua maioria jovens, elevaram um clamor global. O Papa Francisco, sensível a esta realidade, como bem demonstrou, recorda que os próprios jovens exigem uma mudança radical e que «se interrogam como se pode pretender construir um futuro melhor, sem pensar na crise do meio ambiente e nos sofrimentos dos excluídos».39

A proposta de deliberação capitular assim se exprime: «Reconhecemos com o Papa Francisco a evidência dada pela ciência de que a aceleração da mudança climática que deriva da atividade humana é real. Estão em aumento a poluição do ar, a poluição da água, o descarte inadequado de resíduos, a perda da biodiversidade e outras questões ambientais que têm um impacto negativo sobre a vida humana. A produção e o consumo não sustentável estão levando o nosso mundo e os seus ecossistemas além de seus limites, minando a sua capacidade de fornecer recursos e ações vitais para a vida, o desenvolvimento e a sua regeneração».40

No momento em que escrevo estas linhas programáticas, o planeta Terra e todos os países do mundo foram atingidos em maior ou menor medida, pelo coronavírus que, até hoje, causou a morte de 624.000 pessoas e infectou outros 15.300.000. Bem sabemos que a vida de uma única pessoa é sagrada, e há muito sofrimento devido a tantas mortes. Mas não é menos verdade que o planeta Terra sangra há decênios, e que a poluição causa todos os anos muito mais vítimas humanas das que não tenham sido provocadas pela COVID-19. Trata-se de um dado de fato infelizmente não levado muito a sério.

Não é menos verdade que os mais pobres – sempre os mais pobres! – sofrem os efeitos desastrosos do desflorestamento e das mudanças climáticas, da destruição das suas paupérrimas colheitas, seu único recurso de sobrevivência. Também isso não é denunciado.

Poderia fazer ainda um elenco dessas situações. Não é necessário. Basta sublinhar que, como educadores e pastores, não podemos ser indiferentes a essa realidade. Precisamos fazer alguma coisa.

PROPOSTA

Ouvindo o clamor que se eleva, em nível mundial, de muitos jovens de hoje, NÓS SALESIANOS NOS EMPENHAMOS PARA SER TESTEMUNHAS CREDÍVEIS, pessoal e comunitariamente, de CONVERSÃO no cuidado do Criado e na Espiritualidade Ecológica.41

Por isso:

Cada Inspetoria do mundo responderá, através do Delegado Inspetorial para a Pastoral Juvenil, ao pedido de fazer de nossas escolas, centros educativos, campi universitários, oratórios, paróquias, modelos educativos no cuidado do ambiente e da natureza. Na educação, devemos incluir como opção salesiana a ação em favor do Criado: o cuidado da natureza, do clima e do desenvolvimento sustentável.

Ampliemos, o quanto possível, a rede de instituições salesianas inseridas na Dom Bosco Green Alliance, promovendo a participação dos jovens em campanhas globais em favor da sustentabilidade das causas ambientais e ecológicas para o cuidado do Criado e da vida humana.

Acolhamos o pedido feito ao CG28 pela Conferência Salesiana Sobre Energias Renováveis de novembro de 2019, para que a Congregação assuma 100% das energias renováveis em todas as Inspetorias do mundo antes de 2032. Mesmo que a realidade da Congregação seja muito desigual nos diversos países, aceitemos esse desafio em colaboração com os PDO das Inspetorias, as ONG salesianas, a DBN.









CONCLUSÃO



Meus caros Irmãos: concluo estas linhas programáticas convidando-vos a acolhê-las não como uma simples carta, mas como uma mensagem e um programa que deseja ser hoje expressão da palpitação do coração da Congregação no mundo todo.

E proponho dois elementos importantes como atitude com que enfrentar a bela oportunidade dos próximos seis anos:

  • O primeiro deles tem a ver com uma virtude: a esperança. Só com a esperança podemos enfrentar o futuro, confiando que o Senhor levará a cumprimento, com a nossa humilde contribuição, o que propomos aqui.

  • O segundo tem a ver com o a nossa atitude diante do próprio Deus. Gostaria de pedir à nossa Congregação que neste sexênio nos deixemos guiar muito mais pelo Espírito Santo; que seja Ele a mover realmente os nossos corações e as nossas capacidades humanas na animação e no governo da Congregação e das Inspetorias e Comunidades, para que cada um de nós consiga fazer de todas as Casas salesianas do mundo outros Valdocco, dando uma resposta aos adolescentes e aos jovens de hoje, como fez Dom Bosco no seu tempo.

Sobre a esperança, quero sublinhar que, como bem sabemos, é uma virtude que tem muito a ver com a nossa fé cristã; é um modo diferente de ver o futuro. A esperança cristã é um modo de viver, um modo de caminhar, um modo de ver.

A esperança é fruto do encontro com o Senhor Jesus e é fruto da acolhida do seu Espírito em nós. A esperança não resulta de cálculos e previsões. «Nem pessimista nem otimista, o salesiano do séc. XXI é um homem cheio de esperança porque sabe que o seu centro está no Senhor, capaz de fazer novas todas as coisas (cf. Ap 21, 5). Só isto nos salvará de viver numa atitude de resignação e sobrevivência defensiva. Só isto tornará fecunda a nossa vida».42

Sobre a necessidade deixar-nos guiar mais pelo Espírito Santo de Deus, Ele que é o verdadeiro Mestre interior, faço minhas as palavras do Patriarca de Constantinopla, Atenágoras I, que encontrou o Papa Paulo VI (hoje Santo) em Jerusalém em janeiro de 1964. O fruto daquele encontro no Espírito de Deus foi o cancelamento das excomunhões recíprocas que até aquele momento tinham existido e ferido profundamente o coração de Cristo na sua Igreja.

Este é o pensamento:



«Sem o Espírito Santo,

Deus está distante,

Cristo permanece no passado,

o Evangelho é uma letra morta,

a Igreja uma, simples organização,

a autoridade, um poder,

a missão, uma propaganda,

o culto, uma lembrança,

e o agir cristão, uma moral de escravos.



Mas no Espírito Santo

o cosmo movimenta-se para a geração do Reino,

o Cristo ressuscitado se faz presente,

o Evangelho se faz potência e vida,

a Igreja realiza a comunhão Trinitária,

a autoridade transforma-se em serviço,

a liturgia é memorial e antecipação,

o comportamento humano é deificado».43

Acolhamos esta mensagem em nossa oração.

Meus caros Irmãos salesianos, era o que sentia o dever de comunicar e pedir a todos vós. Convido-vos a acolher estes desafios, esta tabela de marcha para o caminho do sexênio com todo o coração e com o profundo desejo de torná-la realidade nas comunidades e Inspetorias. Serão, certamente, com a graça de Deus e a presença materna da nossa Mãe Auxiliadora, anos de fidelidade da parte da Congregação e de resposta corajosa e também profética aos sinais dos tempos de hoje. Nossa Mãe Auxiliadora continue a cuidar da nossa Congregação e a “fazer tudo”, como com Dom Bosco.

A sua mediação e a de toda a santidade salesiana da nossa Família seja para nós uma bênção na única coisa importante da nossa missão da parte de Deus: «ser na Igreja sinais e portadores do amor de Deus aos jovens, especialmente aos mais pobres» (C. 2).

Acompanho-vos, a todos e a cada um, com a lembrança e a oração.

P. Ángel Fernández Artime, sdb

Reitor-Mor

Roma, 16 de agosto de 2020

205° Aniversário do nascimento de Dom Bosco



MENSAGEM DE SUA SANTIDADE O PAPA FRANCISCO

AOS MEMBROS DO CG28






Queridos irmãos!

Saúdo-vos com afeto e agradeço a Deus por poder, mesmo à distância, partilhar convosco um momento do caminho que estais a percorrer.

É significativo que, depois de algumas décadas, a Providência vos tenha conduzido a celebrar o Capítulo Geral em Valdocco – o lugar da memória onde o sonho-fundador se concretizou e deu os primeiros passos. Estou certo que o rumor e as vozes dos oratórios serão a melhor música, a mais eficaz, pela qual o Espírito faz reviver o dom carismático do vosso fundador. Não fecheis as janelas para o rumor de fundo... Deixai que vos acompanhe e vos mantenha inquietos e intrépidos no discernimento; e permiti que estas vozes e estes cânticos, por sua vez, evoquem em vós os rostos de tantos outros jovens, que, por várias razões, se encontram como ovelhas sem pastor (cf. Mc 6, 34). Este rumor e esta ansiedade manter-vos-ão atentos e em alerta a qualquer tipo de anestesia autoimposta e ajudar-vos-ão a permanecer em fidelidade criativa à vossa identidade salesiana.



Reavivar o dom que recebestes



Pensar a figura do Salesiano para os jovens de hoje, implica aceitar que estamos imersos num momento de mudanças, com tudo aquilo que esta incerteza gera. Ninguém pode dizer com certeza e precisão (se alguma vez foi possível fazê-lo) o que irá acontecer no futuro próximo a nível social, econômico, educativo e cultural. A inconsistência e a “fluidez” dos acontecimentos, mas sobretudo a rapidez com que se sucedem e comunicam as coisas, faz com que todo o tipo de previsão se torne uma leitura condenada a ser reformulada muito em breve (cf. Constituição Apostólica Veritatis gaudium, 3-4). Esta perspectiva é ainda mais acentuada pelo fato de as vossas obras estarem particularmente orientadas para o mundo dos jovens, que em si mesmo é um mundo em movimento e em contínua transformação. Isto exige uma dupla docilidade: docilidade aos jovens e às suas exigências e docilidade ao Espírito e a tudo aquilo que Ele deseja transformar.

Assumir responsavelmente esta situação – quer a nível pessoal, quer a nível comunitário – comporta sair de uma retórica que nos leva a dizer continuamente “tudo está em mudança” e que, à força de o repetir, acaba por fixar-nos numa inércia paralisante que priva a vossa missão da parrésia própria dos discípulos do Senhor. Tal inércia pode também manifestar-se num olhar e numa atitude pessimista diante de tudo aquilo que nos circunda e não só no que se refere às transformações que acontecem na sociedade, mas também em relação à própria Congregação, aos irmãos e à vida da Igreja. Esta atitude que acaba por “boicotar” e impedir qualquer resposta ou processo alternativo, ou por fazer emergir a posição oposta: um otimismo cego, capaz de dissolver a força e a novidade evangélica, impedindo aceitar concretamente a complexidade que as situações exigem e a profecia que o Senhor nos convida a levar por diante. Nem o pessimismo nem o otimismo são dons do Espírito, pois ambos provêm de uma visão autorreferencial capaz de ser medida só com as próprias forças, capacidades ou competências, impedindo de olhar àquilo que o Senhor atua e quer realizar entre nós (cf. Exortação Apostólica pós-sinodal Christus vivit, 35). Nem se adaptar à cultura da moda, nem se refugiar num passado heroico, mas já desencarnado. Nos tempos de mudança, faz bem ater-se às palavras de S. Paulo a Timóteo: “Por isso, recomendo-te que reanimes o dom de Deus que se encontra em ti, pela imposição das minhas mãos, pois Deus não nos concedeu um espírito de timidez, mas de fortaleza, de amor e de sabedoria” (2Tm 1,6-7).

Estas palavras convidam-nos a cultivar uma atitude contemplativa, capaz de identificar e discernir os pontos nevrálgicos. Isto ajudará a entrar no caminho com o espírito e o contributo próprio dos filhos de Dom Bosco e, como ele, desenvolver uma “válida revolução cultural” (Encíclica Laudato si’, 114). Esta atitude contemplativa haverá de permitir-vos superar e ultrapassar as vossas próprias expectativas e os vossos programas. Somos homens e mulheres de fé, o que supõe ser apaixonados por Jesus Cristo; e sabemos que tanto o nosso presente como o nosso futuro estão impregnados desta força apostólico-carismática chamada a continuar a permear a vida de tantos jovens abandonados e em perigo, pobres e necessitados, excluídos e descartados, privados dos seus direitos, de casa... Estes jovens esperam um olhar de esperança capaz de contrariar todo tipo de fatalismo ou determinismo. Esperam cruzar-se com o olhar de Jesus que lhes diz que “em todas as situações escuras ou dolorosas […] há uma via de saída” (Exortação Apostólica pós-sinodal Christus vivit, 104). É ali que habita a nossa alegria.

Nem pessimista nem otimista, o salesiano do séc. XXI é um homem cheio de esperança porque sabe que o seu centro está no Senhor, capaz de fazer novas todas as coisas (cf. Ap 21, 5). Só isto nos salvará de viver numa atitude de resignação e sobrevivência defensiva. Só isto tornará fecunda a nossa vida (cf. Homilia, 2 de fevereiro de 2017), porque tornará possível que o dom recebido continuará a ser experimentado e expresso como uma boa notícia para e com os jovens de hoje. Esta atitude de esperança é capaz de instaurar e inaugurar processos educativos alternativos à cultura imperante que, em não poucas situações – quer pela indigência ou pobreza extrema quer por abundância, em alguns casos também extrema –, acabam por asfixiar e matar os sonhos dos nossos jovens condenando-os a um conformismo ensurdecedor, adulador e não poucas vezes narcotizado. Nem triunfalistas nem alarmistas, homens e mulheres alegres e com esperança, não automatizados, mas artesãos; capazes de “mostrar outros sonhos que este mundo não oferece, de testemunhar a beleza da generosidade, do serviço, da pureza, da fortaleza, do perdão, da fidelidade à própria vocação, da oração, da luta pela justiça e o bem comum, do amor aos pobres, da amizade social” (Exortação Apostólica pós-sinodal Christus vivit, 36).

A “opção Valdocco” do vosso 28º Capítulo-Geral é uma boa ocasião para se confrontar com as fontes e pedir ao Senhor: “Da mihi animas, coetera tolle”.44 Tolle, sobretudo aquilo que durante o caminho se foi incorporando e perpetuando e que, ainda que noutro tempo tivesse sido uma resposta adequada, hoje vos impede de configurar e plasmar a presença salesiana de maneira evangelicamente significativa nas diversas situações da missão. Isto pede, da nossa parte, superar os medos e as apreensões que podem surgir por ter acreditado que o carisma se reduzisse ou identificasse com determinadas obras ou estruturas. Viver fielmente o carisma é qualquer coisa mais rica e estimulante que o simples abandono, remedeio ou readaptação das casas ou das atividades; comporta uma mudança de mentalidade diante da missão a realizar.45



A “opção Valdocco” e o dom dos jovens



O Oratório salesiano e tudo aquilo que nasce a partir dele, como narra a biografia do Oratório, nasce como resposta à vida dos jovens com um rosto e uma história, que colocam em movimento aquele jovem sacerdote incapaz de permanecer neutral e imóvel diante daquilo que acontecia. Foi muito mais do que um gesto de boa vontade ou de bondade, e muito mais do que o resultado de um projeto de estudo sobre a “viabilidade numérico-carismática”. Penso nisso como um ato de conversão permanente e de resposta ao Senhor que, “cansado de bater” às nossas portas, espera que o procuremos e o encontremos... Ou o deixemos sair, quando bate de dentro. Conversão que implica (e complica) toda a sua vida e a vida daqueles que estavam à sua volta. Dom Bosco não só não escolhe separar-se do mundo para buscar a santidade, mas deixa-se interpelar e escolhe como e que mundo habitar.

Escolhendo e acolhendo o mundo das crianças e dos jovens abandonados, sem trabalho, nem formação, permitiu-lhes experimentar de modo tangível a paternidade de Deus e deu-lhes os instrumentos para narrar a sua vida e a sua história à luz de um amor incondicional. Eles, por sua vez, ajudaram a Igreja a reencontrar-se com a sua missão: “A pedra rejeitada pelos construtores tornou-se pedra angular” (Sl 118, 22). Longe de serem agentes passivos ou espectadores da obra missionária, tornaram-se, a partir da sua própria condição – em muitos casos “analfabetos religiosos” e “analfabetos sociais” – os principais protagonistas de todo o processo de fundação.46 A salesianidade nasce precisamente deste encontro capaz de suscitar profecias e visões: acolher, integrar e fazer crescer as melhores qualidades como dom para os outros, sobretudo para os marginalizados e abandonados de quem não se espera nada. Disse-o Paulo VI: “Evangelizadora como é, a Igreja começa por se evangelizar a si mesma... Numa palavra, é o mesmo que dizer que ela tem sempre necessidade de ser evangelizada, se quiser conservar frescor, alento e força para anunciar o Evangelho (Exortação apostólica Evangelii nuntiandi, 15). Todo carisma precisa ser renovado e evangelizado e no vosso caso sobretudo pelos jovens mais pobres.

Os interlocutores de Dom Bosco ontem e do Salesiano hoje não são meros destinatários de uma estratégia antecipadamente projetada, mas protagonistas vivos do Oratório a realizar.47 Por meio deles e com eles o Senhor mostra-nos a sua vontade e os seus sonhos.48 Poderíamos chamar-lhes cofundadores das vossas casas, onde o Salesiano será especialista em convocar e em gerar este tipo de dinâmicas sem se sentir o patrão. Uma união que nos recorda que somos “Igreja em saída” e que nos mobiliza para isto: Igreja capaz de abandonar posições cômodas, seguras e em certas ocasiões privilegiadas, para encontrar nos últimos a fecundidade típica do Reino de Deus. Não se trata de uma escolha estratégica, mas carismática. Uma fecundidade suportada com base na Cruz de Cristo, que é sempre injustiça escandalosa para os que bloquearam a sensibilidade diante do sofrimento ou que desceram a pactos com a injustiça diante do inocente. “Não podemos ser uma Igreja que não chora à vista destes dramas dos seus filhos jovens. Não devemos jamais habituar-nos a isto, porque, quem não sabe chorar, não é mãe. Queremos chorar para que a própria sociedade seja mais mãe” (Exortação Apostólica pós-sinodal Christus vivit, 75).



A “opção Valdocco” e o carisma da presença



É importante dizer que não somos formados para a missão, mas que somos formados na missão, a partir da qual se articula toda a nossa vida, com as suas escolhas e as suas prioridades. A formação inicial e a permanente não podem ser uma instância prévia, paralela ou separada da identidade e da sensibilidade do discípulo. A missão inter gentes é a nossa melhor escola: a partir dela rezamos, refletimos, estudamos, repousamos. Quando nos isolamos ou nos afastamos do povo que somos chamados a servir, a nossa identidade como consagrados começa a desfigurar-se e a tornar-se uma caricatura.

Neste sentido, um dos obstáculos que podemos identificar não tem tanto a ver com uma qualquer situação externa às nossas comunidades, mas é aquilo que nos toca diretamente por uma experiência distorcida do ministério..., e que nos faz tanto mal: o clericalismo. É a procura pessoal de querer ocupar, concentrar e determinar os espaços minimizando e anulando a unção do Povo de Deus. O clericalismo, vivendo o chamamento de forma elitista, confunde a eleição com o privilégio, o serviço com o servilismo, a unidade com a uniformidade, a discrepância com a oposição, a formação com a doutrinação. O clericalismo é uma perversão que favorece as ligações funcionais, paternalistas, possessivas e até manipuladoras com o resto das vocações na Igreja.

Outro obstáculo que encontramos – difundido e até justificado, sobretudo neste tempo de precariedade e fragilidade – é a tendência ao rigorismo. Confundindo autoridade com autoritarismo, pretende-se governar e controlar os processos humanos com uma atitude escrupulosa, severa e até mesquinha perante os limites e as fragilidades próprias ou dos outros (sobretudo dos outros). O rigorista esquece que o trigo e o joio crescem juntos (cf. Mt 13, 24-30) e que “nem todos podem tudo”, e que, nesta vida, as fragilidades humanas não são curadas, completamente e duma vez por todas, pela graça. Em todo caso, como ensinava Santo Agostinho, Deus convida-te a fazer o que podes e “a pedir o que não podes” (Exortação apostólica Gaudete et exsultate, 49). São Tomás de Aquino com grande finura e sutileza espiritual recorda-nos que “o diabo engana muitos. Alguns atraindo-os a cometer pecados, outros a um excessivo rigor para com os que pecam, de modo que, se não pode tê-los por comportamento vicioso, leva à perdição os que já tem, usando o rigor dos prelados, que, não os corrigindo com misericórdia, os induzem ao desespero, e assim se perdem e caem na rede do diabo. E isto acontece conosco, se não perdoarmos aos pecadores”.49

Aqueles que acompanham outros a crescer devem ser pessoas de grandes horizontes, capazes de colocar juntos limites e esperança, ajudando assim a olhar sempre em perspectiva, numa prospectiva salvífica. Um educador “que não teme pôr limites e, ao mesmo tempo, se abandona à dinâmica da esperança expressa na sua confiança na ação do Senhor dos processos, é imagem de um homem forte, que guia o que não lhe pertence, mas ao seu Senhor”.50 Não nos é lícito sufocar e impedir a força e a graça do possível, cuja realização esconde sempre uma semente de Vida nova e boa. Aprendamos a trabalhar e a confiar nos tempos de Deus, que são sempre maiores e mais sábios que as nossas míopes medidas. Ele não quer destruir ninguém, mas salvar a todos.

É urgente, por isso, encontrar um estilo de formação capaz de assumir de modo estrutural o fato de que a evangelização implica a participação plena, e de pleno direito, de cada batizado – com todas as suas potencialidades e os seus limites – e não apenas os assim chamados “atores qualificados” (cf. Exortação apostólica Evangelii gaudium, 120); uma participação em que o serviço, e o serviço ao mais pobre, seja o eixo portante que ajuda a manifestar e a testemunhar melhor nosso Senhor, “que não veio para ser servido, mas para servir e dar a própria vida em resgate de muitos” (Mt 20,28). Encorajo-vos a continuar a empenhar-vos em fazer das vossas casas um “laboratório eclesial” capaz de reconhecer, apreciar, estimular e encorajar os diversos chamamentos e missões na Igreja.51

Neste sentido, penso concretamente em duas presenças da vossa comunidade salesiana, que podem ajudar como elementos a partir dos quais confrontar o lugar que ocupam as diferentes vocações entre vós; duas presenças que constituem o “antídoto” contra todo o tipo de tendência clericalista e rigorista: o Irmão Coadjutor e as mulheres.

Os Irmãos Coadjutores são expressão da vida de gratuidade que o carisma vos convida a conservar. A vossa consagração é, antes de mais, sinal de um amor gratuito do Senhor e ao Senhor nos seus jovens, que não se define principalmente como um ministério, uma função ou um serviço particular, mas através de uma presença. Antes ainda de o que fazer, o Salesiano é memória viva de uma presença em que a disponibilidade, a escuta, a alegria e a dedicação são as notas essenciais para suscitar processos. A gratuidade da presença salva a Congregação de todas as obsessões ativistas e de todos os reducionismos técnico-funcionais. O primeiro chamamento é ser uma presença alegre e gratuita entre os jovens.

Que seria de Valdocco sem a presença de Mamãe Margarida? Teriam sido possíveis as vossas casas sem esta mulher de fé? Nalgumas regiões e lugares “há comunidades que se mantiveram e transmitiram a fé durante longo tempo, mesmo decênios, sem que algum sacerdote passasse por lá. Isto foi possível graças à presença de mulheres fortes e generosas, que batizaram, catequizaram, ensinaram a rezar, foram missionárias, certamente chamadas e impelidas pelo Espírito Santo. Durante séculos, as mulheres mantiveram a Igreja de pé nesses lugares com admirável dedicação e fé ardente” (Exortação apostólica pós-sinodal Querida Amazônia, 99). Sem uma presença real, efetiva e afetiva das mulheres, às vossas obras faltaria coragem e capacidade para declinar a presença como hospitalidade, como casa. Diante do rigor que exclui, é preciso aprender a gerar nova vida do Evangelho. Convido-vos a levar por diante dinâmicas nas quais a voz da mulher, a sua visão e o seu agir – apreciado na sua singularidade – encontrem eco ao serem tomadas decisões; como um ator não auxiliar, mas constitutivo das vossas presenças.



A “opção Valdocco” na pluralidade das línguas



Como noutros tempos, o mito de Babel procura impor-se em nome da globalidade. Inteiros sistemas criam uma rede de comunicação global e digital capaz de interconectar os diferentes ângulos do planeta, com grave perigo de uniformizar monoliticamente as culturas, privando-as das suas caraterísticas essenciais e dos seus recursos. A presença universal da vossa Família Salesiana é um estímulo e um convite a guardar e preservar a riqueza de muitas culturas em que estais imersos sem procurar “homologá-las”. Por outro lado, esforçai-vos para que o cristianismo seja capaz de assumir a língua e a cultura das pessoas do lugar. É triste ver que em muitos lugares se sente ainda a presença cristã como uma presença estrangeira (sobretudo europeia): situação que se verifica também nos itinerários formativos e nos estilos de vida (cf. ibid., 90).52 Pelo contrário, agiremos como nos inspira aquele episódio em que Dom Bosco, à pergunta sobre que língua gostava de falar, responde: “Aquela que me ensinou a minha mãe: é aquela com que posso comunicar mais facilmente”. Seguindo esta certeza, o salesiano é chamado a falar na língua materna de todas as culturas em que se encontra. A unidade e a comunhão da vossa Família estão em condições de assumir e acentuar todas estas diferenças, que podem enriquecer todo o corpo numa sinergia de comunicação e interação em que cada um possa oferecer o melhor de si para o bem de todo o corpo. Assim a salesianidade, em vez de se perder na uniformidade das tonalidades, conquistará uma expressão mais bela e atrativa... saberá expressar-se “em dialeto” (cf. 2Mac 7,26-27).

Ao mesmo tempo, a irrupção da realidade virtual como linguagem dominante em muitos dos Países em que realizais a vossa missão, exige, em primeiro lugar, reconhecer todas as possibilidades e as coisas boas que produz, sem subvalorizar ou ignorar a incidência que possui para criar ligações, sobretudo afetivas. Disto não estamos imunes nem sequer nós adultos consagrados. A tão difundida (e necessária) “pastoral do monitor” pede-nos que habitemos a rede de forma inteligente reconhecendo-a como um espaço de missão53 que requer, por sua vez, colocar todas as mediações necessárias para não permanecer prisioneiros da sua circularidade e da sua lógica particular (e dicotômica). Esta armadilha – mesmo em nome da missão – pode-nos fechar sobre nós próprios e isolar-nos numa virtualidade cômoda, supérflua e pouco ou nada empenhada na vida dos jovens, dos irmãos da comunidade ou dos trabalhos apostólicos. A rede não é neutra e o poder que possui para criar cultura é muito alto. Sob o avatar da proximidade virtual podemos ficar cegos ou distantes da vida concreta das pessoas, sufocando ou empobrecendo o vigor missionário. O dobrar-se individualista sobre si mesmo, tão difundido e proposto socialmente nesta cultura amplamente digitalizada, exige uma atenção especial não apenas no que se refere aos nossos modelos pedagógicos, mas também ao uso pessoal e comunitário do tempo, das nossas atividades e dos nossos bens.



A “opção Valdocco” e a capacidade de sonhar



Um dos “gêneros literários” de Dom Bosco eram os sonhos. Com eles o Senhor fez-se caminho na sua vida e na vida de toda a vossa Congregação alargando a imaginação do possível. Os sonhos, longe de o adormecerem, ajudaram-no, como aconteceu a São José, a assumir uma outra espessura e uma outra medida de vida, que nascem das entranhas de compaixão de Deus. Era possível viver concretamente o Evangelho... sonhou-o e deu-lhe forma no Oratório.

Gostaria de vos oferecer estas palavras como os “boas-noites” em toda boa casa salesiana ao terminar o dia, convidando-vos a sonhar e a sonhar em grande. Sabeis que o resto vos será dado como acréscimo. Sonhai casas abertas, fecundas e evangelizadoras, capazes de permitir ao Senhor mostrar a tantos jovens o seu amor incondicional, e a vós gozar a beleza a que fostes chamados. Sonhai... E não só para vós e para o bem da Congregação, mas para todos os jovens privados da força, da luz e do conforto da amizade com Jesus Cristo, privados de uma comunidade de fé que os sustenha, de um horizonte de sentido de vida (cf. Exortação apostólica Evangelii gaudium, 49). Sonhai... e fazei sonhar!

Roma, São João de Latrão, 4 de março de 2020.




salesianos de dom bosco



capítulo-geral xxviii



Quais salesianos

para os jovens de hoje?





















Documento Pós-capitular

aprovado pelo reitor-mor

E pelo conselho-geral









16 de agosto de 2020

PRIMEIRO núcleo


PRIORIDADE DA MISSÃO SALESIANA

ENTRE OS JOVENS DE HOJE



O primeiro núcleo foi apresentado durante o CG28 e aprovado substancialmente pela Assembleia capitular.

O Conselho-Geral, na sessão de verão de 2020 apenas o reviu à luz das observações das comissões capitulares.





RECONHECER



  1. Com um olhar de fé

Como membros do 28º Capítulo-Geral estamos convencidos de que Deus, mediante o seu Espírito, está presente na vida de todos os jovens do nosso tempo. Através do discernimento procuramos reconhecer, antes de tudo, a Sua ação, procurando entrar no ritmo de «uma dupla docilidade: docilidade aos jovens e às suas exigências e docilidade ao Espírito e a tudo aquilo que Ele deseja transformar» (da Mensagem do Papa Francisco ao CG28).

Isso nos levou, desde o início, a ter um olhar positivo, plasmado pela humildade, simpatia, coragem, inteligência, fé e esperança, na certeza de que é justamente esse «o olhar de Deus Pai, capaz de valorizar e nutrir os germes de bem semeados no coração dos jovens», que devem ser, portanto, considerados por nós como “terra santa” (cf. Christus Vivit, n. 67).

Chamados a ser amigos, pais e pastores dos jovens queremos fazer nosso esse olhar divino, conscientes de assim seguir os passos do nosso amado Pai Dom Bosco que, guiado pela mão da Auxiliadora concretizou a sua obra precisamente em Valdocco.



  1. À escuta do grito dos jovens

Quem são os jovens de hoje? Qual é a condição deles? O que buscam? O que nos pedem? Para responder a essas questões pusemo-nos primeiramente à escuta.

Tivemos a graça de ter entre nós alguns jovens provenientes do mundo todo, que representaram os muitíssimos jovens que se fizeram presentes nos nossos Capítulos inspetoriais durante a preparação do CG28. Escutamos a sua voz com atenção e comoção. Eles comunicaram-nos a sua ansiedade espiritual e fome de Deus, o seu desejo de ser protagonistas e artífices de um mundo melhor, o seu esforço para crer e ir contracorrente em relação às lógicas do nosso tempo. Pediram-nos para ser menos “gestores” e mais “pastores”, viver entre eles e encontrar tempo para acompanhá-los.

Nos muitos momentos de trabalho em comum também tomamos conhecimento das muitas pobrezas dos jovens, que nos deixaram horrorizados como Dom Bosco em sua primeira visita às prisões de Turim. O clamor de tantos jovens toca também hoje o nosso coração: pobreza econômica, social e cultural; pobreza afetiva, relacional e familiar; pobreza moral e espiritual. Em muitos contextos o desemprego e a impossibilidade de estudar penalizam largas faixas de jovens.

Os jovens, de muitos modos, apresentaram-se como profetas: com a presença deles, o Senhor nos faz conhecer continuamente as suas expectativas e os seus apelos à renovação da nossa missão. Como Dom Bosco «não descobriu a sua missão diante de um espelho, mas no sofrimento de ver jovens que não tinham futuro, também o Salesiano do século XXI não descobrirá a sua própria identidade, se não for capaz de sofrer com “a quantidade de jovens saudáveis e fortes, de espírito vivo, que estavam na prisão atormentados e completamente despojados de alimento espiritual e material... Neles estava representada a odiosidade da pátria, a desonra da família”; e nós poderíamos acrescentar: da nossa própria Igreja» (da Mensagem do Papa Francisco ao CG28).



  1. No interior de uma mudança de época

Vivemos uma mudança de época: hoje, mais do que nunca, «ninguém pode dizer com certeza e precisão (se alguma vez foi possível fazê-lo) o que irá acontecer no futuro próximo a nível social, econômico, educativo e cultural» (da Mensagem do Papa Francisco ao CG28). É evidente, então, que não é mais possível pensar a nossa missão na forma do “sempre se fez assim”. Se de um lado, essa situação nos desorienta, de outra, pede que nos envolvamos nela com humildade e coragem, pedindo-nos para recuperar os dinamismos juvenis que eram tão vivos em Dom Bosco. Estamos convencidos mais do que nunca do que nos disse o Papa Francisco, aqui em Valdocco, na Basílica de Maria Auxiliadora, em 21 de junho de 2015: «O vosso carisma é de uma grandíssima atualidade. Olhai para as ruas, olhai para os jovens e tomai decisões difíceis. Não tenhais medo. Como ele fez».

Com alguns desafios perenes que continuam a questionar-nos, o nosso tempo apresenta algumas novidades com as quais é inevitável confrontar-nos. A revolução digital pede-nos para compreender as profundas transformações que acontecem não só no campo da comunicação, mas sobretudo no modo de determinar e administrar as nossas relações humanas. O campo da afetividade, com todas as questões ligadas ao gênero e à identidade sexual, desafia a nossa visão antropológica. A condição da mulher e o seu papel na sociedade e na Igreja pedem-nos uma reflexão mais atenta e profunda. A sensibilidade ecológica, que está em rápido crescimento no mundo juvenil pede para sermos proféticos neste campo através de opções claras e coerentes. O contato com os jovens migrantes, refugiados e muitos outros jovens privados de seus direitos fundamentais torna-se para nós um apelo urgente à ação. Enfim, a dolorosa experiência dos abusos, que toca também a nossa Congregação, é um forte apelo à conversão.



  1. A transmissão da fé

A rápida mudança em curso toca os processos ordinários de transmissão da fé. Sobre isso, encontram-se grandes diferenças: se em alguns contextos a vida de fé não apresenta nenhum problema e os jovens vivem com naturalidade a sua pertença à Igreja, em outros profundamente secularizados a fé cristã tornou-se uma questão que não tem qualquer relevância pessoal e social. Em alguns territórios onde estamos presentes há fundamentalismo, discriminação e até mesmo perseguição; em outros, pode-se propor o Evangelho livremente. Trabalhamos também em muitos contextos plurirreligiosos em que a maioria dos jovens que frequentam as nossas obras pertencem a outras religiões ou outras confissões cristãs.

Diante da crise global da autoridade, da tradição e da transmissão da fé somos desafiados sobre os estilos, conteúdos e modalidade de anunciar Jesus Cristo, enquanto nos sentimos todos chamados a ser “missionários dos jovens”. Convencidos da necessidade de alcançar o coração deles, sentimos a urgência de repropor com mais convicção o primeiro anúncio, porque «Nada há de mais sólido, mais profundo, mais seguro, mais consistente e mais sábio que esse anúncio» (Christus Vivit, n. 214).



  1. O desejo de caminhar juntos

Os jovens são portadores do ardor vivo do carisma salesiano e ajudam-nos a conhecer, aprofundar e assumir de modo melhor a missão a nós confiada. Desde o início «longe de serem agentes passivos ou espectadores da obra missionária, tornaram-se, a partir da sua própria condição – em muitos casos “analfabetos religiosos” e “analfabetos sociais” – os principais protagonistas de todo o processo de fundação. A salesianidade nasce precisamente deste encontro capaz de suscitar profecias e visões», na convicção de que «todo carisma precisa ser renovado e evangelizado e no vosso caso sobretudo pelos jovens mais pobres» (da Mensagem do Papa Francisco ao CG28).

Sentimos, pois, como dever nosso envolver os jovens, e acreditamos que é um direito deles de serem envolvidos, na comunidade educativo-pastoral que é, antes de tudo uma família em que se partilha tudo em clima de amizade, escuta, respeito e colaboração. Reconhecemos que muitos deles «encontram-se numa situação profunda de orfandade... à qual devemos responder criando espaços fraternos e atraentes onde haja um sentido para viver» (cf. Christus Vivit, n. 216). É justamente nessa direção que os recentes caminhos sinodais nos ajudaram a redescobrir a índole familiar da Igreja, tanto que ela pode ser pensada como «família de famílias, constantemente enriquecida pela vida de todas as igrejas domésticas» (Amoris Laetitia, n. 87).

Estamos cientes, enfim, de que muitas vezes não conseguimos captar a verdadeira e própria “nostalgia comunitária” dos jovens e das famílias: pedem-nos tempo e nós lhes damos espaço; pedem-nos relação e nós lhes prestamos serviços; pedem-nos vida fraterna e nós lhes oferecemos estruturas; pedem-nos amizade e nós lhes proporcionamos atividades. Tudo isso nos empenha a redescobrir as riquezas e potencialidades do “espírito de família”.





INTERPRETAR



  1. Acompanhados por Dom Bosco

Para interpretar o que reconhecemos até aqui, queremos orientar-nos por uma das passagens mais significativas da “Carta de Roma” de 1884. Dom Bosco vê que no Oratório de Valdocco foi levantada, entre os Salesianos e os jovens, uma barreira física e espiritual, criando obstáculo à ação educativa e traindo o carisma. Ao dialogar com um dos jovens do sonho, ele procura interpretar a situação para encontrar o modo de resolvê-la: «Como fazer então para romper a barreira?» A resposta que recebe é iluminadora também para nós: «Familiaridade com os jovens especialmente no recreio. Sem familiaridade não se demonstra afeto e sem essa demonstração não pode haver confiança. Quem quer ser amado deve demonstrar que ama. Jesus Cristo fez-se pequeno com os pequenos e carregou as nossas fraquezas. Aí está o mestre da familiaridade»

Este texto ilumina as três questões fundamentais ao redor da quais recolhemos a interpretação deste núcleo: ir ao encontro dos jovens onde eles se encontram e se exprimem espontaneamente; a proximidade que cria confiança e torna possível o acompanhamento; o tom afetivo da relação educativa que Dom Bosco chama com um termo derivado da experiência familiar. É nessa perspectiva de fé que queremos buscar as razões do que vivemos, com suas luzes e sombras, fazer emergir os desafios que nos esperam e identificar os critérios para enfrentá-los.







COMUNIDADE EM SAÍDA VOLTADA PARA OS JOVENS POBRES



  1. Duas faces de um único problema

Muitas vezes a pobreza afasta os adolescentes e jovens da oportunidade de crescer serenamente, ter uma educação adequada, decidir sobre o próprio futuro. Não raramente a pobreza afasta também da comunidade cristã e da possibilidade de encontrar a alegria do Evangelho, que, contudo, é destinada justamente aos últimos: «O Espírito do Senhor está sobre mim... enviou-me para anunciar a Boa-Nova aos pobres» (Lc 4,18). A pobreza, então, torna-se hoje uma barreira excludente, que deve ser superada.

O magistério profético do Papa Francisco está ajudando a Igreja a tomar sempre mais consciência de que o distanciamento em relação aos pobres trai o Evangelho e gera numerosas “doenças” na comunidade cristã. Também nós sentimos a necessidade de aprofundar-nos na interpretação do tempo que estamos a viver, para reconhecer que os fenômenos sociais e os desafios espirituais, os apelos dos jovens e os movimentos do Espírito estão intimamente relacionados entre si, sem qualquer possibilidade de dissensão. Foi essa a experiência de Dom Bosco, que o tornou capaz de responder às necessidades mais urgentes dos seus meninos e fazer com que sentissem a ternura de Deus que aquece o coração e infunde esperança. Ainda hoje, onde isso acontece, com trabalho generoso e criatividade pastoral, vemos um verdadeiro florescimento do carisma. Onde, porém, as comunidades perdem a “familiaridade” com os pobres, a vida religiosa torna-se morna, correndo o risco de ser sal que perde o sabor, lâmpada colocada debaixo do alqueire (cf. Mt 5,13.15).



  1. Consagrados a Deus para os jovens mais pobres

Viver em saída para os jovens pobres e fazê-lo como comunidade de crentes é, certamente, um desafio sempre novo, mas também uma perspectiva que nos enche de entusiasmo. Como nosso Pai Dom Bosco, também nós no dia da nossa profissão religiosa dissemos a Deus: «Ofereço-me totalmente a Vós, comprometendo-me a dar todas as minhas forças àqueles a quem me enviardes, especialmente aos jovens mais pobres» (Constituições, art. 24).

Isso requer de nós, primeiramente, capacidade de discernimento comunitário: não se trata de entregar a um determinado irmão a ativação de novos projetos, mas de escutar juntos o apelo que Deus nos dirige nas pobrezas juvenis. Isso, porém, requer profundidade espiritual, para não cair no ativismo ou numa mentalidade empresarial; preparação cultural, para compreender os fenômenos em que estamos imersos e as novas pobrezas juvenis; disponibilidade para trabalhar juntos, abandonando todo individualismo pastoral; flexibilidade no repensamento do nosso estilo de vida e das nossas obras, sobretudo quando elas não exprimem mais a energia missionária do carisma e responde prevalentemente a lógicas de manutenção.

AcOMPANHAMENTO DOS JOVENS EM CHAVE VOCACIONAL



  1. Uma rica tradição

«Sem familiaridade não se demonstra afeto e sem essa demonstração não pode haver confiança». Bastam estas palavras de Dom Bosco para fazer-nos entender o valor que tinha para ele alcançar o coração do jovem, permitindo-lhe uma abertura confiante e uma confiança sincera. Dom Bosco não usava a palavra “acompanhamento”, mas todo o seu agir visava justamente isso. Seu trabalho educativo, rico de propostas e atento às diversas dimensões do desenvolvimento, tendia a acompanhar os jovens de modo simples e concreto à santidade. Descurar essa dimensão do Sistema Preventivo significa desnaturá-lo.

Enquanto a Igreja inteira, no Sínodo sobre os jovens, redescobriu o valor do acompanhamento para o discernimento, também nós somos convidados a reler as riquezas da nossa tradição sobre isso. Ela nos oferece três níveis de acompanhamento estritamente interligados: ambiental, grupal e pessoal. O primeiro é realizado mediante a oferta de um clima acolhedor, alegre, rico de propostas diferenciadas e capaz de ativar caminhos de crescimento. O segundo favorece um maior empenho no amadurecimento pessoal e no itinerário de fé, valoriza as aptidões de cada um, promove a espiritualidade do Movimento Juvenil Salesiano e a pertença a ele. O terceiro leva o jovem a discernir com maior profundidade o sentido da própria existência diante de Deus. Nesse sentido, o Sínodo sobre os jovens falou de acompanhamento “em chave vocacional” (Documento final do Sínodo, n. 138-143; Christus Vivit, cap. VIII), ajudando a pensar a vida não como projeto de autorrealização individual, mas como caminho para descobrir e responder ao chamado divino. A expressão do Papa Francisco «eu sou uma missão» (Christus Vivit, n. 254) indica claramente a meta que o acompanhamento tem à sua frente: ajudar cada um a descobrir a própria unicidade como dom para os outros.



  1. Sujeitos e meta do acompanhamento

Uma vez nascido da familiaridade no quotidiano, o acompanhamento envolve uma pluralidade de sujeitos e não é tarefa exclusiva de alguém. A comunidade educativo-pastoral inteira envolve-se nela, mesmo se nem todos tenham a mesma aptidão e preparação para guiar o discernimento pessoal. De qualquer forma, o protagonista de todo acompanhamento é o Espírito Santo, que nos enche de dons e carismas; nós somos simplesmente servos e mediadores da obra de Deus.

É muito importante sublinhar que o bom acompanhamento não põe o jovem numa posição passiva ou subalterna, mas, ao contrário, promove a sua participação ativa na vida da comunidade e a corresponsabilidade no serviço aos mais pobres. Trata-se, então, de acompanhamento para o envolvimento, para a presença ativa e responsável na sociedade e na Igreja. Neste sentido, ainda tem muito a dizer-nos o protagonismo dos jovens na fundação da nossa Congregação e a ação dinâmica das Companhias no Oratório de Valdocco.

Cientes de que «aqueles que acompanham outros a crescer devem ser pessoas de grandes horizontes, capazes de colocar juntos limites e esperança, ajudando assim a olhar sempre em perspectiva, numa prospectiva salvífica» (da Mensagem do Papa Francisco ao CG28), somos chamados a promover um empenho renovado no acompanhamento, que requer, antes de tudo, cuidar mais da preparação de irmãos e leigos nesse delicado âmbito e viver nós mesmos a experiência de ser acompanhado. A perspectiva do envolvimento ativo dos jovens supõe, ainda, uma confiança maior nos seus recursos: não devemos ter medo da sua sadia inquietação, dos seus questionamentos e das suas sensibilidades por temas novos, que nem sempre estamos preparados para enfrentar. Aprendamos, portanto, todos os dias, a escutar com empatia e oferecer com humildade a nossa ajuda. A verdadeira autoridade de um educador não consiste em poder dirigir, mas na força de promover a liberdade: essa é a paternidade de Dom Bosco.









CaMINHO COM AS FAMÍLIAS E EDUCAÇÃO AFETIVA



  1. Proximidade das famílias

Estamos cientes de que a família é a escola do amor, onde se aprende a gramática dos afetos através dos quais Deus se faz conhecer e encontrar. Os recentes Sínodos sobre a família e a exortação apostólica pós-sinodal Amoris Laetitia ofereceram muitas orientações pastorais sobre o acompanhamento das famílias e a educação afetiva, que também nós somos chamados a acolher e assimilar.

Para nós Salesianos, o interesse pela família brota espontaneamente do nosso carisma educativo. Sabemos o quanto Dom Bosco aprendeu de Mamãe Margarida, a ponto de querê-la consigo em Valdocco como presença preciosa para fazer do Oratório uma verdadeira “casa”. O menino João Bosco, por sua vez, não cresceu numa família perfeita: experimentou o sofrimento de ser órfão de pai, a incompreensão do irmão Antonio, a humilhação da pobreza, a necessidade de afastar-se de casa em busca de trabalho. Isso tudo contribuiu para amadurecer nele um coração de pai, rico de misericórdia e acolhimento.

Também nós sentimos hoje a exigência de uma grande proximidade com as famílias, acolhendo-as com as suas dificuldades, mas sobretudo promovendo-as com as suas riquezas. Encontramos, de fato, através das nossas obras, muitíssimas famílias nas mais diversas situações: algumas vêm a nós pelas nossas propostas educativas, outas compartilham a opção religiosa e a inspiração carismática, outras ainda estão nos primeiros anos de matrimônio e solicitam o nosso acompanhamento. Não poucas vivem em situação de pobreza, de insatisfação, ou são famílias feridas e fruto de segundas uniões. Há, também, jovens que cresceram conosco e pedem-nos para acompanhá-los na vida matrimonial, ao mesmo tempo em que também se apresentam, em nossos ambientes, pessoas que vivem em novas configurações relacionais. Essa complexidade constitui, sem dúvida, um desafio que requer preparação adequada.

A presença, também, de muitas famílias inseridas nos grupos da Família Salesiana e de outras que colaboram conosco constitui, enfim, um grande recurso, sobretudo se formos capazes de escutar a sua experiência e valorizar o seu testemunho.



  1. Pastoral juvenil, família, educação afetiva

O critério fundamental para o nosso trabalho com as famílias deve ser individualizado na natureza educativa da nossa missão. Não queremos ativar uma pastoral familiar paralela à pastoral juvenil, mas apresentar a comunidade educativo-pastoral como lugar e forma do nosso caminho com as famílias.

Deriva desse critério também a exigência de assumir com maior coragem o desafio da educação afetiva e sexual dos jovens. Trata-se de uma exigência que o Concílio já dirigira às instituições educativas da Igreja (cf. Gravissimum educationis, n.1) e em que ainda caminhamos muito pouco. Não se trata simplesmente de dar informações, mas de acompanhar no caminho do conhecimento de si e da descoberta da vocação ao amor. Conhecemos a importância que Dom Bosco atribuía à pureza no desenvolvimento dos jovens e a delicadeza com que falava dela. Num contexto que não raramente banaliza a sexualidade, somos chamados a apresentar uma visão serena, positiva e equilibrada do tema afetivo e, em conformidade com a Palavra de Deus, a iluminar as linguagens do corpo e o sentido da reciprocidade entre homem e mulher. Os instrumentos que a nossa tradição nos transmite e somos chamados a repensar nos atuais novos contextos são a atenção aos ambientes propositivos e “preventivos”, a animação que sabe envolver os jovens em todas as suas dimensões (teatro, esporte, arte, diversão, música...), o acompanhamento pessoal que se preocupa com as dinâmicas profundas da pessoa.





ESCOLHER



  1. Comunidade em saída que se dirige aos jovens pobres



Saiamos dirigindo-nos aos jovens pobres superando uma pastoral de manutenção e renovando os nossos dinamismos comunitários.



Atitudes e mentalidades a converter

  1. De uma pastoral de conservação à pastoral missionária que tenha as necessidades dos jovens como critério de escolha.

  2. De uma pastoral elitista e excludente à pastoral popular e inclusiva.

  3. De uma comunidade voltada sobre si mesma em zonas de conforto ao testemunho de evidente fraternidade na partilha com os jovens.

Processos a ativar

  1. Os Setores da Pastoral Juvenil e das Missões propõem projetos específicos de atenção e acolhimento das pobrezas juvenis.

  2. No redesenho das presenças, as Inspetorias preveem comunidades que possam acolher, com os Salesianos, adolescentes e jovens em dificuldade (migrantes, refugiados, meninos de rua, etc.) para oferecer-lhes oportunidades de estudo, formação profissional e inserção no mundo do trabalho.

  3. A Congregação, em todos os níveis, interessa-se para que sejam garantidas as condições de promoção e defesa dos direitos dos jovens, sobretudo na tutela dos menores e adultos vulneráveis.

Condições estruturais a garantir

  1. Faça-se em nível central uma coordenação em rede com outros religiosos e Organizações nacionais e internacionais a serviço dos jovens mais pobres.

  2. Elabore-se em nível inspetorial e local um Código de Comportamento que permita o contato real, seguro, garantido com os jovens, especialmente os pobres.

  3. As comunidades tenham momentos específicos e condições permanentes de acolhimento de jovens: revejam horários, estruturas, ambientes e estilos relacionais para ser autenticamente comunidades abertas e acolhedoras.



  1. Acompanhamento dos jovens em chave vocacional



Promovamos um renovado esforço para o acompanhamento em perspectiva vocacional, cuidando da adequada formação de Salesianos e leigos nesse âmbito.



Atitudes e mentalidades a converter

  1. Da pastoral de iniciativas e atividades a uma atenção aos itinerários pessoais de crescimento.

  2. Da fragmentação da pastoral em muitos setores à sua integração em perspectiva vocacional.

  3. De uma mentalidade de autossuficiência pastoral ao envolvimento dos jovens segundo o seu grau de maturidade.

Processos a ativar

  1. Os Setores da Pastoral Juvenil e da Formação propõem itinerários de habilitação ao acompanhamento para Salesianos e leigos.

  2. O Setor da Pastoral Juvenil anima, apoia e orienta o trabalho das Inspetorias sobre os temas vocacionais.

  3. As Inspetorias ofereçam aos jovens um “tempo destinado ao amadurecimento da vida cristã adulta” a ser vivido em nossas Casas, mediante um projeto preciso de partilha de vida, fraternidade, apostolado e espiritualidade (cf. Documento final do Sínodo, n. 161).

Condições estruturais a garantir

  1. O Reitor-Mor com seu Conselho avalia a oportunidade de instituir uma coordenação central para a animação vocacional.

  2. As Regiões intensificam o desenvolvimento ou a criação de Centros Regionais de Formação sobre o acompanhamento para Salesianos e leigos.

  3. As Inspetorias favorecem a inserção de jovens na equipe de pastoral juvenil, nas comissões inspetoriais e nas demais estruturas de animação pastoral.



  1. Caminho com as famílias e educação afetiva



Consolidemos o caminho com as famílias na comunidade educativo-pastoral e proponhamos itinerários mais bem-cuidados de educação afetiva.



Atitudes e mentalidades a converter

  1. Da família considerada apenas como destinatária da pastoral a uma família sujeito ativo da missão a ser envolvida na comunidade educativo-pastoral.

  2. De um esquema mental rígido e simplista ao acolhimento e acompanhamento das experiências familiares no respeito da sua complexidade.

  3. Da consideração da nossa afetividade como conquista feita uma vez por todas à formação salesiana que a entende como caminho de crescimento e amadurecimento do coração.

Processos a ativar

  1. Os Setores da Pastoral Juvenil e da Formação, valorizando a experiência e a contribuição das famílias, oferecem orientações para a elaboração de propostas adequadas de educação afetiva e sexual e dão atenção à formação de Salesianos e leigos nesse âmbito.

  2. As Inspetorias promovem grupos familiares inspirados na espiritualidade salesiana, favorecendo o seu protagonismo apostólico e o seu envolvimento ativo na comunidade educativo-pastoral.

  3. As Inspetorias valorizam a reflexão iniciada pela Congregação no Congresso Internacional “Pastoral Juvenil e Família” (Madri, 2017) e elaboram instrumentos e itinerários de apoio às famílias em sua missão educativa.

Condições estruturais a garantir

  1. As Inspetorias investem na formação de pessoal para o acompanhamento das famílias e a educação afetiva.

  2. As Inspetorias favorecem a inserção de algumas famílias no Conselho da comunidade educativo-pastoral, promovendo momentos regulares de comunhão e formação.

  3. As Inspetorias favorecem o trabalho apostólico dos grupos laicais da Família Salesiana a serviço da família.





Segundo núcleo



PERFIL DO SALESIANO HOJE





O segundo núcleo foi elaborado na sua primeira versão durante o CG28, mas não foi possível apresentá-lo à Assembleia capitular.

Foi completado na sessão de verão de 2020 do Conselho-Geral.





RECONHECER



  1. Vocação e formação: a formação do carisma nos interpela

A Virgem Maria, no sonho dos nove anos, depois de indicar a João Bosco o campo em que deverá trabalhar, convida-o a ser “humilde, forte e robusto”. Com essas palavras, Ela lhe propõe um itinerário exigente de formação estritamente ligado à vocação recebida e à missão confiada. Nós também reconhecemos que a formação é dom precioso do Senhor e exigência irrenunciável do itinerário vocacional. O trabalho formativo toca todas as dimensões da nossa consagração apostólica; por isso, o Capítulo-Geral 27 traçou coerentemente o perfil do Salesiano como místico no Espírito, profeta de fraternidade e servo dos jovens.

Ao examinar as estatísticas da Congregação percebemos que no último decênio tivemos uma média anual de cerca de 2.600 jovens em formação, o que nos enche de alegria e esperança, porque demonstra que o nosso carisma continua a ser fecundo. Esse dado, ao mesmo tempo, nos interpela e responsabiliza, pedindo para examinarmos a qualidade da nossa formação inicial e permanente.

Notamos, com efeito, que às vezes a identidade consagrada salesiana parece frágil e pouco enraizada: o primado de Deus na vida pessoal e comunitária nem sempre emerge com clareza; formas de clericalismo e secularismo correm o risco de fazer entrar na Congregação a “mundanidade espiritual”; a promoção do Salesiano leigo continua escassa em algumas regiões; a falta de pessoal preparado no âmbito da salesianidade, não obstante o abundante material à disposição, é sinal de uma atenção insuficiente ao aprofundamento do carisma.



  1. Formação e missão: uma lacuna da qual tomar consciência

A reflexão capitular sobre o atual perfil do Salesiano fez emergir claramente uma preocupação: o distanciamento entre o caminho formativo, em suas diversas fases, e a realidade da missão educativo-pastoral ordinária. Há quem fale de lacuna entre formação e missão, outros de afastamento entre formação inicial e formação permanente, outros ainda de certa incoerência entre o que a Congregação propõe para a formação inicial e o que se vive de fato nas comunidades apostólicas.

A atual formação, com suas estruturas, estilos e métodos parece, às vezes, mais informativa do que performativa, porque nem sempre chega a transformar o coração. A missão apostólica, por outro lado, nem sempre consegue colher da realidade dos jovens e da concretude da vida os elementos para uma formação permanente: a “cátedra da realidade” tem dificuldade em se tornar leitura crente da história (lectio vitae), oferecendo elementos para uma renovação contínua do nosso ser e do nosso agir.

Reconhecemos também como urgente o aprofundamento de alguns temas que devem entrar plenamente no itinerário formativo: a habilitação para o acompanhamento espiritual dos jovens, que requer o amadurecimento de sensibilidades específicas; a clara tomada de consciência de que a nossa missão é compartilhada com leigos e precisa, por isso, de novas capacidades relacionais; a atenção crescente aos temas ecológicos, comportando uma preparação específica nesse âmbito. Enfim, o novo mundo digitalizado impõe o repensamento do modo de organizar a nossa vida fraterna e a missão apostólica em seu conjunto, porque «o dobrar-se individualista sobre si mesmo, tão difundido e proposto socialmente nesta cultura amplamente digitalizada, exige uma atenção especial não apenas no que se refere aos nossos modelos pedagógicos, mas também ao uso pessoal e comunitário do tempo, das nossas atividades e dos nossos bens» (da Mensagem do Papa Francisco ao CG28).



  1. Formação permanente: viver a existência em ótica formativa

Somos agradecidos pela presença de um bom número de Salesianos que reavivam continuamente o dom de Deus que receberam (cf. 2Tm 1,6), através de uma «atitude contemplativa, capaz de identificar e discernir os pontos nevrálgicos» (da Mensagem do Papa Francisco ao CG28). Só assim se supera a ideia, infelizmente enraizada, de que a formação termina com a conclusão das etapas iniciais e com o acesso ao ministério.

Na verdade, falta em alguns irmãos a convicção de que o compromisso com a própria formação é o estilo perfeito de aceitação da missão e, por isso, torna-se difícil acender o desejo e a paixão pela formação permanente. Reconhecemos que, tanto em nível central como em nível inspetorial, houve um esforço de oferecer instrumentos e itinerários de formação, que, contudo, nem sempre trazem os frutos esperados. Resulta difícil, de modo particular, transformar a mesma experiência pastoral quotidiana em ocasião formativa, porque não fomos iniciados para discernir a partir da concretude da realidade. Por isso, a comunidade, tanto religiosa como educativo-pastoral, não consegue ser o ambiente natural e ordinário da nossa formação.

Contudo, é preciso reconhecer ainda que há certa confusão em relação aos sujeitos responsáveis e os itinerários de formação permanente: com frequência, faltam irmãos preparados para acompanhar esse itinerário, enquanto se nota uma pluralidade e fragilidade de referências formativas em nível inspetorial e local. Alguns assinalam o risco de reduzir a formação permanente a algum curso esporádico de atualização ou de confiá-la à entrega de algum novo manual. Há, enfim, num mundo sempre mais fluido, o desafio da “laboriosidade cultural” na Congregação, porque sem o estudo, a leitura e a atualização contínua não se conseguirá sair de uma pastoral de manutenção e repetição.



  1. Formação inicial: uma realidade em evolução que deve ser acompanhada

Dos dados e das discussões emersos no Capítulo, reconhecemos que a formação inicial em seu conjunto é uma realidade poliédrica, positiva e encorajadora. Trata-se de um grande mosaico de diversas situações, em que reconhecemos a presença de novos dinamismos na Congregação.

Quem são hoje os jovens em formação? Sinteticamente, podemos afirmar que a maior parte deles provém da Ásia e da África; em seu conjunto são “jovens adultos” e não “adolescentes” como em tempos passados; são jovens do nosso tempo, que trazem consigo todas as potencialidades e fragilidades dos jovens de hoje; estão em busca de uma vida autêntica e de uma fraternidade profética, mesmo se, às vezes, as motivações que os trazem à vida salesiana precisam amadurecer; estando mais próximos da geração juvenil, têm facilidade de contato e uma comunhão natural de linguagem com o mundo juvenil. Isso tudo envolve uma abordagem formativa totalmente diferente em nossas casas de formação e centros de estudo.

A partir desta metamorfose epocal compreende-se que é uma verdadeira e própria urgência a busca e a formação de formadores a ser enfrentada da melhor forma possível. Reconhecendo que ser formador é uma “vocação na vocação”, será necessário passar da improvisação ao verdadeiro discernimento para a escolha qualificada dos formadores e docentes: não se trata de “recrutamento”, mas de verdadeiro diálogo vocacional. Ao reconhecer a comunidade como primeiro espaço formativo, os capitulares sublinharam o quanto seja decisiva a equipe dos formadores, que atuam em sinergia e sob a supervisão do Diretor; ele, mais que todos, tem a tarefa de acompanhar e coordenar o trabalho de todos.



  1. A necessidade de assumir um novo estilo formativo

Como nos diz o Papa Francisco, «pensar a figura do Salesiano para os jovens de hoje, implica aceitar que estamos imersos num momento de mudanças» (da Mensagem do Papa Francisco ao CG28). É preciso renovar, então, o nosso estilo formativo, a ser pensado sempre mais de forma personalizante, holística, relacional, contextual e intercultural.

É necessário, sobretudo, um estilo capaz de assumir os registros fundamentais da missão, porque é a missão que «dá a toda a nossa existência o seu tom concreto, especifica a tarefa que temos na Igreja e determina o lugar que ocupamos entre as famílias religiosas» (Constituições, art. 3) e também porque estamos convencidos de que «quando nos isolamos ou nos afastamos do povo que somos chamados a servir, a nossa identidade como consagrados começa a desfigurar-se e a tornar-se uma caricatura» (da Mensagem do Papa Francisco ao CG28).

O novo estilo formativo que sonhamos deveria fazer resplandecer a unidade da Congregação na pluralidade das suas expressões: é muito importante, contra o «grave perigo de uniformizar monoliticamente as culturas» reconhecer que a presença mundial da nossa realidade carismática «é um estímulo e um convite a guardar e preservar a riqueza de muitas culturas em que estais imersos sem procurar “homologá-las”» (da Mensagem do Papa Francisco ao CG28).





INTERPRETAR



  1. A experiência formativa de Dom Bosco

Para um discernimento sadio da nossa formação, é útil refletir sobre a experiência formativa vivida por Dom Bosco. Ele mesmo narra seus momentos principais nas Memórias do Oratório, com muitas observações que deixam entrever claramente a sua visão sobre o tema. Detemo-nos aqui em particular sobre uma das etapas formativas pelas quais Dom Bosco demonstrou maior apreço, a do Colégio Eclesiástico. Dessa instituição, Dom Bosco diz: «Nele aprende-se a ser padre» (J. Bosco, Memórias do Oratório de São Francisco de Sales, Edebê, Brasília, 2012, p. 117).

A formação no Colégio Eclesiástico unia uma sólida proposta espiritual e cultural («Meditação, leitura, duas conferências por dia, aulas de pregação, vida recolhida, toda comodidade para estudar...») e o acompanhamento no encontro pessoal com «a malícia e a miséria dos homens» nos lugares de maior pobreza. O ponto forte que orientava os jovens padres a fazer a síntese entre oração e ministério, entre reflexão e prática pastoral era um grupo de formadores de perfil elevadíssimo, entre os quais sobressaía o Padre Cafasso. Dom Bosco encontrava-os na cátedra enquanto davam aulas, mas via-os também empenhados pessoalmente nas formas mais variadas e difíceis do ministério. Para ele e para seus companheiros, eles eram mestres sólidos de doutrina, apóstolos empreendedores e verdadeiros modelos de vida. Diríamos, hoje, uma equipe exemplar e coesa que acompanha de modo integral a aceitação da missão.

Os anos do Colégio Eclesiástico foram decisivos para o amadurecimento apostólico de Dom Bosco, e é belo notar que fora uma opção sua, a que não estava vinculado por nenhuma obrigação. Ele assumiu esse empenho quando já era padre e poderia ter iniciado logo a atividade com total dedicação. Aconselhado, porém, por Cafasso percorreu outro caminho, mais exigente, mas imensamente mais frutuoso. Seu exemplo nos ensina que a formação não termina com o fim dos estudos, com a profissão perpétua ou com a ordenação sacerdotal, mas permanece um processo aberto a cultivar com atenção por toda a vida. Recorda-nos, também, que o verdadeiro apóstolo não amadurece queimando etapas e que o investimento mais fecundo para a missão é o da boa formação.



FormaÇÃO E VOCAÇÃO: O ACOMPANHAMENTO À LUZ DO CARISMA



  1. O dom da formação

A formação na vida consagrada não se reduz apenas a um conjunto de técnicas e metodologias, mas é uma experiência de fé que afunda suas raízes no próprio mistério da vocação. Deus Pai, que nos escolheu antes da criação do mundo, continua a agir em nós com a força do seu Espírito, para sermos sempre mais conformados a Cristo. A meta do itinerário formativo é, de fato, chegar a ter em si os sentimentos do Filho, ou seja, sentir, pensar e agir n’Ele (cf. Fl 2,5).

Entender a formação no horizonte da vocação ajuda-nos a não a ver como um dever imposto de fora – das normas da Igreja ou da Congregação – mas como um dom da graça que nos ajuda a fazer realmente nossa a “forma” de vida consagrada salesiana, evitando que ela fique uma espécie de hábito exterior.

A existência de fracassos vocacionais lembra-nos o quão delicado é esse processo e como a acolhida inicial do chamado não nos protege automaticamente do risco de perder o rumo ou de voltar atrás. O que são, de fato, o clericalismo, o secularismo e o individualismo a não ser desvios da energia vocacional, que extinguem a sua beleza e impedem o seu crescimento por ausência de profundidade, falta de motivações ou pouca generosidade? A vocação sem uma formação adequada acaba confundindo-se com uma espécie de “voluntariado definitivo” em que realmente não se entrega o coração a Deus e aos jovens e não se aceita a conversão formativa que isso comporta.



  1. O Sistema Preventivo como sistema formativo

Visto que a formação é uma pedagogia da graça, nunca pode ser primeiramente uma questão de regras e normas. Sem dúvida, elas são necessárias, porque preservam de erros e indicam caminhos consolidados, mas sozinhas não bastam para criar as condições de uma autêntica experiência formativa. Devemos, portanto, ter o cuidado de não dar soluções principalmente normativas a um desafio que é acima de tudo carismático e generativo. A formação é artesanato quotidiano, sabedoria prática, qualidade de testemunho, capacidade de ler as situações e tocar os corações: coisas todas que nenhuma lei pode assegurar e nenhum manual é suficiente para garantir. Como nos recorda o venerável P. José Quadrio, modelo extraordinário de formador e professor, essas qualidades são, antes de tudo, fruto da docilidade interior ao Espírito que suscita na nossa família carismática verdadeiros mestres de vida.

Valem, portanto, para a nossa proposta formativa todas as orientações de sabedoria prática que Dom Bosco ativava na educação. O Sistema Preventivo deve ser sempre redescoberto como o princípio inspirador e a alma profunda do nosso sistema formativo. Isso significa afirmar o primado da caridade teológica e da confiança sobre todo legalismo e formalismo; transmitir os valores vocacionais através de um autêntico espírito de família; envolver ativamente os irmãos mais jovens e torná-los corresponsáveis das opções formativas. A pedagogia do Sistema Preventivo é, de fato, pedagogia da confiança, que acredita nos recursos dos jovens e os incita à generosidade do empenho, sem nunca mortificar as suas intuições nem impedir a sua criatividade. É nesta lógica que o artigo 99 das nossas Constituições afirma: «Cada salesiano assume a responsabilidade da própria formação». Mediante a fidelidade a essa inspiração, a Congregação apresenta-se como mãe para cada irmão e ajuda-o a amadurecer no seu itinerário vocacional.



formaÇÃO E MISSÃO: UM PROCESSO UNITÁRIO



  1. O “da mihi animas” como energia do processo formativo

A natureza apostólica do nosso carisma qualifica de modo determinante a nossa formação. Como nos recorda o Papa Francisco, «é importante dizer que não somos formados para a missão, mas que somos formados na missão, a partir da qual se articula toda a nossa vida, com as suas escolhas e as suas prioridades. A formação inicial e a permanente não podem ser uma instância prévia, paralela ou separada da identidade e da sensibilidade do discípulo» (da Mensagem do Papa Francisco ao CG28). Estas palavras indicam com muita clareza que formação e missão estão estreitamente entrelaçadas e uma não pode existir sem a outra.

Compreender a formação no horizonte da missão significa antes de tudo ressaltar o Da mihi animas como energia profunda do processo formativo. Se essa energia se extingue e não libera mais ardor pelo bem dos jovens, a evolução vocacional fica seriamente comprometida. Se, porém, a paixão apostólica continua viva, alimenta o crescimento humano, o empenho no estudo, o cuidado com a vida espiritual, o amadurecimento pastoral. O Da mihi animas é, com efeito, o modo com que Deus nos faz participantes do seu amor pelo mundo.

Dom Bosco, afirma ainda o Papa, «não só não escolhe separar-se do mundo para buscar a santidade, mas deixa-se interpelar e escolhe como e que mundo habitar». Assumir a missão como princípio formativo requer desenvolver um olhar de pastor e uma coragem de profeta, que sabe estar com os jovens pobres e sonhar um mundo diferente com eles e para eles. Por isso «a missão inter gentes é a nossa melhor escola: a partir dela rezamos, refletimos, estudamos, repousamos» (da Mensagem do Papa Francisco ao CG28).



  1. Para uma maior integração

A fim de superar a separação entre formação e missão é necessário primeiro abandonar a mentalidade de delegação, que não raramente tende a descarregar a responsabilidade deste delicado âmbito sobre as comunidades formadoras. A transmissão do carisma não ocorre, de fato, principalmente em comunidades especialmente estruturadas para isso, mas no frescor da partilha quotidiana do serviço aos jovens. A primeira fonte de formação na Congregação está no tesouro da vida generosa dos irmãos. Onde as comunidades são vivas no serviço, sólidas na espiritualidade e capazes de reflexão, os itinerários propostos pelas casas de formação são mais incisivos, porque introduzem num modo de viver a salesianidade encontrado pelos jovens irmãos na realidade ordinária das casas. Isso explica a importância que a nossa tradição sempre atribuiu ao tirocínio, etapa formativa tipicamente salesiana. Onde, por outro lado, a missão se confunde com o trabalho e não se cuida da formação permanente nas comunidades, todo o processo formativo fica empobrecido.

A maior integração requer, então, «encontrar um estilo de formação capaz de assumir de modo estrutural o fato de que a evangelização implica a participação plena, e de pleno direito, de cada batizado», fazendo das nossas casas «um “laboratório eclesial” capaz de reconhecer, apreciar, estimular e encorajar os diversos chamamentos e missões na Igreja» (da Mensagem do Papa Francisco ao CG28). É o que procuramos fazer ao ativar o modelo de comunidade educativo-pastoral. De que modo esse modelo possa e deva incidir na formação inicial é uma questão que ainda não tem respostas claras. O Sínodo sobre os jovens falou, por exemplo, da importância de formar equipes formativas diferenciadas, que também incluam figuras femininas, com a interação de diversas vocações (cf. Documento final do Sínodo, n. 163). O diálogo entre as comunidades inspetoriais e as casas de formação pode favorecer, além disso, uma interação mais significativa com o caminho das comunidades educativo-pastorais e permitir aos formadores uma maior presença ao lado dos jovens irmãos em suas exercitações pastorais. Mais do que uma única solução estrutural, que não levaria em conta a notável diversidade dos contextos, é preciso trabalhar, então, para um renovado projeto formativo em sentido missionário, que buscará a sua atuação mais adequada em todos os ambientes.

formação e estruturas: uma renovação necessária



  1. Referências institucionais e atenção aos processos formativos

Um dos riscos do nosso processo formativo, denunciado várias vezes na Congregação, é certa fragmentação entre as diversas etapas. Sem dúvida, a passagem de uma fase a outra da formação inicial oferece a riqueza de novos estímulos e ajuda a abrir horizontes, mas traz consigo o esforço de recomeçar várias vezes o caminho do acompanhamento. Esse esforço se torna mais cansativo quando a formulação das opções formativas e os instrumentos oferecidos para o acompanhamento não são adequadamente coordenados.

Fica evidente, então, a necessidade de a Congregação caminhar para esclarecer e, onde possível, simplificar as referências institucionais e determinar com maior exatidão as tarefas e as responsabilidades das estruturas de coordenação entre as diversas fases e entre os diversos níveis da formação. Muitas vezes, de fato, decisões importantes para os itinerários formativos são adiadas ou permanecem sem resposta devido a incertezas do sistema.

Não faltam na Ratio e em seus anexos orientações preciosas para o trabalho formativo, sobretudo em relação aos objetivos a alcançar e aos critérios de admissão. Mais frágil, contudo, é o aspecto da metodologia e dos instrumentos. Por isso, é importante concretizar o caminho de revisão do acompanhamento formativo que se iniciou na Congregação e verificar seus resultados. A clareza nesse tema e a participação nele são a primeira condição para uma formação mais sólida e personalizada.



  1. Formadores e centros de formação

Todo processo de crescimento requer condições estruturais que o facilitem. Nessa lógica, a vontade de promover um melhor acompanhamento deve traduzir-se em generoso investimento da Congregação na busca e na formação adequada de formadores, que saibam trabalhar em equipe, sob a guia e a responsabilidade do Diretor.

Não menos importante é a renovação dos nossos centros de estudo, chamados a assumir com determinação as indicações da Constituição Apostólica Veritatis Gaudium. Eles prestam um serviço indispensável não só aos jovens irmãos que os frequentam, como também à solidez cultural das nossas Inspetorias. Entre estes centros sobressai de modo particular a Universidade Pontifícia Salesiana, a voz cultural de maior autoridade da Congregação na Igreja. A renovação necessária requer reencontrar as razões que levaram à sua fundação há oitenta anos.

Os Centros Regionais de Formação oferecem um serviço apreciado para a formação permanente dos irmãos e são chamados sempre mais a assumirem também a formação conjunta com os leigos. As Regiões que ainda não os possuem deverão identificar as formas mais adequadas de garantir esse tipo de serviço.







ESCOLHER



  1. Formação e vocação: o acompanhamento à luz do carisma



Promovamos um renovado empenho para o acompanhamento formativo dos irmãos à luz do carisma.



Atitudes e mentalidades a converter

  1. Da concepção de formação como “dever institucional” a uma visão de fé, que a acolhe como dom e exigência vocacional.

  2. Do formalismo exterior à preocupação com o acompanhamento na lógica da confiança sincera e do espírito de família do Sistema Preventivo.

  3. Da subestima da formação permanente ao cuidado pessoal e comunitário do próprio crescimento espiritual e apostólico.

Processos a ativar

  1. O Reitor-Mor com seu Conselho estuda o problema da descontinuidade entre as etapas da formação inicial para facilitar um itinerário mais unitário de acompanhamento.

  2. O Setor para a formação promove a atuação e a revisão das Orientações e Diretrizes “Jovens salesianos e acompanhamento”.

  3. As comunidades de formação assumem uma organização formativa coerente com as grandes orientações espirituais e pedagógicas do Sistema Preventivo: espírito de família, envolvimento ativo dos irmãos, pedagogia da confiança e da confidência; o curatorium verifica e promove tal organização.

  4. As Inspetoria e as comunidades promovem uma renovada cultura de acompanhamento, ajudando os irmãos a redescobrirem a sua importância e o seu valor.



Condições estruturais a garantir

  1. Nas comunidades de formação inicial é garantida a presença de equipes capazes de transmitir vitalmente o Sistema Preventivo; os formadores propõem o acompanhamento espiritual pessoal em coerência com a proposta formativa da comunidade; cuida-se da presença de confessores adequadamente preparados.

  2. Os Inspetores e os delegados inspetoriais dão atenção ao diálogo e ao encontro com as comunidades formativas, para favorecer a continuidade do acompanhamento na formação inicial.

  3. Os irmãos em formação inicial são ajudados a descobrir o valor do acompanhamento espiritual pessoal.



  1. Formação e missão: um processo unitário



Empenhemo-nos para superar a separação entre formação e missão, favorecendo uma renovada cultura da formação na missão em todos os níveis.



Atitudes e mentalidades a converter

  1. Da delegação às casas de formação à consciência de que o estilo de vida das comunidades incide fortemente na formação dos jovens irmãos.

  2. Da formação entendida como momento prévio à missão à preocupação com a solidez cultural e espiritual como condição permanente da vida apostólica.

  3. De um estilo formativo elitista ao esforço de valorizar a contribuição formativa dos leigos e a responsabilidade missionária de todo batizado.

Processos a ativar

  1. As Inspetorias preocupam-se com a qualidade formativa do tirocínio, garantindo as condições para a assimilação prática da pedagogia salesiana e do acompanhamento formativo.

  2. As comunidades de formação inicial conservam um estilo sóbrio de vida, que preserve do aburguesamento e forme para as exigências da missão, e aumentam o acompanhamento das exercitações pastorais.

  3. As Inspetorias investem na qualificação dos irmãos em salesianidade e dão atenção a uma maior solidez cultural; as comunidades locais verificam e potencializam o seu empenho para a formação no quotidiano.

Condições estruturais a garantir

  1. O Setor para a formação oferece orientações para que o modelo da comunidade educativo-pastoral encontre uma atuação adequada também nas comunidades de formação, através do envolvimento de leigos e famílias no processo formativo.

  2. As comunidades de tirocínio garantem o acompanhamento formativo dos tirocinantes, ajudam-nos a inserir-se na comunidade educativo-pastoral, empenham-se na avaliação do seu crescimento vocacional.

  3. As comissões inspetoriais de formação ajudam as comunidades a verificar e potencializar a sua ação formativa na missão.



  1. Formação e estruturas: uma renovação necessária



Invistamos energias na busca e na formação dos formadores e enfrentemos com coragem o repensamento das referências institucionais e das estruturas formativas.



Atitudes e mentalidades a converter

  1. Do debruçar-se sobre as urgências ao corajoso investimento na formação dos irmãos.

  2. Do atendimento às necessidades locais à disponibilidade para oferecer irmãos e recursos às exigências formativas da Congregação e à colaboração entre Inspetorias.

  3. Do risco da superficialidade à preocupação com o estudo sério e a solidez cultural dos irmãos.

Processos a ativar

  1. O Reitor-Mor com seu Conselho promove o generoso esforço da Congregação para a busca e a formação dos formadores; as Inspetorias investem na formação dos irmãos e na preparação de formadores.

  2. O Reitor-Mor com seu Conselho verifica a estrutura de governança da formação para torná-la mais clara, simples e funcional.

  3. O Reitor-Mor com seu Conselho revê a quantidade e a distribuição das comunidades de formação inicial no interior de um projeto unitário; promove a renovação da Universidade Pontifícia Salesiana, a potencialização dos centros de estudo, o cuidado dos Centros Regionais de Formação.

Condições estruturais a garantir

  1. O Setor para a formação revê as partes da Ratio que precisam ser adequadas às circunstâncias atuais, potencializando as orientações concretas de métodos e instrumentos compartilhados.

  2. O Setor para a formação estuda as melhores modalidades para acompanhar as comunidades formativas interinspetoriais; define as funções do curatorium e acompanha a sua prática em diálogo com os Conselheiros-Regionais; acompanha os Inspetores ao aceitarem a sua responsabilidade formativa.

  3. As Regiões promovem os Centros Regionais de Formação, examinam as suas propostas e criam-nos aonde ainda não existem.



Terceiro núcleo



COM OS LEIGOS

NA MISSÃO E NA FORMAÇÃO





Durante a sessão de verão de 2020, o Conselho-Geral trabalhou sobre o terceiro núcleo do CG28, que não fora levado em consideração durante o Capítulo-Geral pela sua interrupção forçada por causa da pandemia.

O Conselho-Geral, a partir do “Instrumento de trabalho”, serviu-se da mesma metodologia de discernimento do CG28 e trabalhou com as mesmas modalidades das comissões capitulares. Para a redação do texto, procurou-se manter a mesma forma do primeiro e do segundo núcleos como foram elaborados pelo CG28.



RECONHECER



  1. Realizações e resistências na missão compartilhada com os leigos

Reconhecemos que o CG24 é para todos “um ponto de não retorno” para a renovação do nosso modo de viver e trabalhar juntos. Ele está no centro do magistério salesiano pós-conciliar e, ao mesmo tempo, marca um retorno às origens do carisma salesiano: Dom Bosco, de fato, envolveu desde o início muitos leigos na sua missão juvenil e popular.

Reconhecemos que muitos passos foram dados em toda a Congregação, embora com velocidades e modalidades diferentes: envolvimento da comunidade educativo-pastoral; formação espiritual, pedagógica e pastoral dos leigos; inserção dos jovens nas equipes de animação; entrega de algumas obras aos leigos. Esta percepção de crescente envolvimento recíproco, de riqueza compartilhada, de força da ajuda conjunta e de fecundidade do carisma vai sendo concretizada gradualmente, passando da perspectiva de envolver os leigos na atividade educativo-pastoral à de compartilhar com eles a nossa espiritualidade.

Ao mesmo tempo, tomamos ciência de que ainda permanecem algumas dificuldades, porque nem sempre conseguimos fazer dos leigos participantes do espírito e da missão salesiana: muitas Inspetorias ainda precisam passar do envolvimento utilitarista dos leigos à estratégia da corresponsabilidade evangélica. Às vezes, também encontramos fenômenos de verdadeira e própria resistência: alguns religiosos lamentam o excessivo protagonismo dos leigos enquanto alguns leigos demonstram motivações oportunistas na sua oferta de colaboração. Também não é fácil, para os leigos mais compromissados na atividade educativo-pastoral, conciliar as exigências da missão salesiana com a vida pessoal e familiar. Ainda notamos em algumas situações certa tendência ao nivelamento dos diversos estados de vida, levando alguns a pensarem que os consagrados não são mais necessários para manter vivo o carisma.



  1. Reciprocidade de relações entre Salesianos e leigos

As relações entre Salesianos e leigos são inspiradas muitas vezes na estima, no respeito, na cordialidade e na colaboração, sobretudo onde há clara identidade vocacional, uma proposta orgânica de formação e um caminho compartilhado com os devidos organismos e instrumentos como o Conselho da comunidade educativo-pastoral e o projeto educativo-pastoral salesiano.

Nem sempre, porém, se aceita e valoriza a contribuição peculiar dos leigos, levando em conta a sua identidade e experiência vocacional: sabe-se o que fazem, mas não se valoriza o que são. Onde falta clareza sobre as respectivas identidades, assiste-se a uma espécie de “clericalização dos leigos” e “laicização dos consagrados”. Neste caso, a colaboração quotidiana, em vez de fazer emergir a especificidade de cada um, leva ao nivelamento das identidades. Às vezes, os leigos são simplesmente classificados e posicionados no interior de um modelo hierárquico e piramidal de “obra salesiana”.

Às vezes, nós Salesianos sentimos certo desconforto com a gestão de obras complexas que exigem capacidades empresariais e a falta de preparação para os desafios que surgem do modelo pastoral de participação com os leigos. Reconhecemos que diante da mudança de época não somos realmente capazes de “discernir”, e, portanto, corremos o risco de ficar presos a lógicas de manutenção pastoral que se baseiam no “sempre se fez assim”.

Notamos que há diversas tipologias de leigos: funcionários, voluntários, jovens adultos, cristãos católicos ou de outras confissões, praticantes ou mais distantes da Igreja. Às vezes, com a mesma palavra “leigos”, que na linguagem eclesial indica os batizados (Christifideles laici), referimo-nos também a pessoas que trabalham em nossas obras, mas pertencem a outras religiões. Para evitar confusões ou rigorismos é importante enfrentar com seriedade as questões teológicas e pastorais subjacentes a essa complexidade. Será possível, então, esclarecer melhor o formato que a comunidade educativo-pastoral é chamada a assumir em contextos plurirreligiosos ou secularizados.



  1. Formação conjunta de Salesianos e leigos

Nestes anos, amadureceram boas iniciativas de formação conjunta de Salesianos e leigos. Quanto aos cursos de formação, existem ótimas propostas em nível local, inspetorial e regional. Às vezes, há uma carência de sistematização nos itinerários formativos, que, depois, se manifesta na fragilidade da programação educativo-pastoral. Falta, de fato, uma formação mais orgânica, que tenha em vista a integração de todos os aspectos do carisma salesiano (espiritual, pedagógico, pastoral e profissional). Permanece aberto o tema da formação dos colaboradores de outras religiões e convicções.

A formação conjunta na vida quotidiana é feita principalmente mediante os itinerários da comunidade educativo-pastoral, com seus organismos e processos de animação, discernimento e governo. A vida da comunidade educativo-pastoral é um dos espaços mais eficazes para a formação conjunta entre Salesianos e leigos e ótimo exemplo de “formação na missão”.

Nota-se, em alguns irmãos, certa resistência a serem envolvidos na formação com os leigos e a dificuldade de abandonar uma atitude de presumida superioridade. Outra fonte de dificuldade à formação conjunta é o cansaço, o excesso de atividades e o acúmulo de tarefas e papéis. Em alguns leigos não há grande consciência do seu papel na Igreja e, portanto, pouca vontade de assumir as responsabilidades formativas que decorrem desse papel.



  1. As diversas formas de relação entre a comunidade religiosa e a obra salesiana

Existem atualmente na Congregação diversas formas de relação entre comunidade religiosa e obra salesiana: obras ou setores de obras confiados conjuntamente à comunidade salesiana e aos leigos; obras confiadas a leigos no interior do projeto inspetorial; obras em que a animação pastoral, mas não a gestão, é confiada a uma comunidade salesiana próxima. E persistem obras em que o número dos irmãos permite assumir todos os papéis de responsabilidade; neste caso, há muitos colaboradores leigos com pouca ou nenhuma responsabilidade; aqui as estruturas de animação da comunidade educativo-pastoral são muito frágeis ou ausentes.

Quando se trata de uma obra confiada conjuntamente a Salesianos e leigos, nem sempre se fez o que afirma o CG24 nos números 149-159. Quando se trata de uma obra com gestão laical sob a direção da Inspetoria, em muitos casos, as Inspetorias fizeram grande esforço de reflexão e criatividade para enfrentar o desafio do acompanhamento.

Embora reconhecendo aspectos positivos, registram-se também problemas de certo peso: dificuldade de os Salesianos garantirem um acompanhamento sistemático; dificuldade de os leigos conciliarem os trabalhos solicitados por essas obras com as exigências da vida familiar; dificuldades relacionadas com a substituição dos leigos; ausência de critérios e instrumentos de controle; necessidade de ativar práticas de avaliação da gestão; necessidade de encontrar um quadro jurídico adequado; exigência de mudança da cultura formativa das duas partes em vista de preparar-se mais para administrar essas novas realidades. Há até mesmo situações em que não são claros nem bem definidos o papel, as competências e as funções dos Salesianos e dos leigos com responsabilidade nas casas.

A entrega de uma obra ou setor de uma obra inteiramente aos leigos continua no interior do projeto e da responsabilidade da Inspetoria. Existem situações em que a Inspetoria confia a uma entidade jurídica (fundação, associação, cooperativa, sociedade) uma atividade, uma obra ou setores dela e a utilização de imóveis de sua propriedade. Neste caso, nem sempre é estipulado um convênio que regule as relações jurídicas e econômicas.





INTERPRETAR



  1. Dom Bosco, Pai e Mestre no envolvimento e na corresponsabilidade

Os elementos fundamentais para aprofundar a teoria e a prática da comunhão e da participação no espírito e na missão de Dom Bosco são apresentados no texto do CG24, que permanece uma referência imprescindível neste campo.

Do ponto de vista inspirador alguns preciosos parágrafos demonstram que em todo o seu itinerário existencial o nosso Fundador preocupou-se em envolver o maior número possível de colaboradores no seu projeto operativo, dando origem a um «vasto movimento de pessoas que, de várias maneiras, trabalham para a salvação da juventude» (Constituições, art. 5): dos amigos mais próximos aos companheiros de estudo, de Mamãe Margarida aos empregadores, da gente simples do povo aos teólogos, dos nobres aos políticos da época (cf. CG24, 69-86).

Nascemos e crescemos historicamente em comunhão com os leigos e eles conosco. Em particular, devemos evidenciar a importância dos jovens no desenvolvimento do carisma e da missão salesiana: Dom Bosco teve nos jovens os seus primeiros colaboradores, que assim se tornarão, em certo sentido, cofundadores da Congregação!

Neste dinamismo constante orientado para a busca de comunhão, participação e corresponsabilidade encontramos ainda hoje um dos aspectos qualificadores do nosso chamado a trabalhar pelo advento do Reino de Deus no mundo.



IGREJA SINODAL PARA A MISSÃO E ESPECIFICIDADE DAS VOCAÇÕES



  1. À raiz das realizações e das resistências

Muitas das resistências para levar a sério a participação do espírito e da missão salesiana têm suas raízes na frágil recepção dos dois grandes pilares eclesiológicos do Concílio Vaticano II: a realidade da Igreja como Povo de Deus em caminho na história e a consequente eclesiologia de comunhão, que exalta a reciprocidade e complementaridade das diversas vocações na Igreja.

A partir dessa perspectiva é evidente que a participação dos leigos no carisma e na missão salesiana não é uma concessão generosa feita pelos Salesianos consagrados e nem sequer de uma estratégia de sobrevivência. São Paulo ensina com clareza que os carismas são dons distribuídos pelo Espírito para utilidade comum (1Cor 12); eles não são prerrogativa de um determinado estado de vida, mas enriquecem a vida da Igreja na diversidade e complementaridade das suas vocações.

Convencidos de que não existe dignidade mais elevada daquela que nos foi conferida com o batismo, de modo que «cada um dos batizados, independentemente da própria função na Igreja e do grau de instrução da sua fé, é um sujeito ativo de evangelização» e que «seria inapropriado pensar num esquema de evangelização realizado por agentes qualificados enquanto o resto do povo fiel seria apenas receptor das suas ações» (Evangelii gaudium, n. 120), sentimo-nos chamados – Salesianos, membros da Família Salesiana, leigos e jovens – a viver, cada um na sua especificidade, a própria vocação em vista da edificação recíproca. Onde esta abordagem eclesiológica é acolhida com alegria e aprofundada com convicção, os resultados são bem visíveis: a comunidade educativo-pastoral floresce e se torna uma experiência de Igreja que vive a comunhão e a missão de maneira atraente e fecunda.



  1. A “sinodalidade missionária” da Igreja

A redescoberta da forma sinodal da Igreja foi um dos pontos qualificantes do recente Sínodo sobre os jovens: «O fruto deste Sínodo, a opção que o Espírito nos inspirou através da escuta e do discernimento é caminhar com os jovens, indo ao encontro de todos para lhes testemunhar o amor de Deus. Podemos descrever este processo com a expressão sinodalidade para a missão, ou seja, sinodalidade missionária» (Documento final do Sínodo, n. 118.). Os jovens, mais do que nos pedir para fazer alguma coisa por eles, convidaram-nos a caminhar com eles!

O Papa Francisco é ainda mais radical quando declara que «o caminho da sinodalidade é precisamente o caminho que Deus espera da Igreja do terceiro milênio» (cf. Comemoração do 50º aniversário da instituição do Sínodo dos Bispos, Discurso do Santo Padre Francisco, 17 de outubro de 2015). Coerente com essas afirmações a XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos – ainda em fase de preparação e a ser realizada em outubro de 2022 – terá como tema a sinodalidade: “Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação, missão”.

Estas palavras não podem deixar indiferentes os nossos ambientes salesianos, e exigem conversão do coração e da mente, unidos a uma renovada disponibilidade à mudança das práticas. Realmente, a pastoral juvenil – que «só pode ser sinodal» (Christus Vivit, n. 206) – deveria avançar sem demora nessa direção, abrindo novos caminhos em benefício de todos. Fica sempre mais claro que só homens e mulheres de comunhão construirão o espírito de família e compartilharão a missão.



  1. Reciprocidade de relações, carisma dos leigos e papel da comunidade religiosa

A boa identificação com a própria vocação e o conhecimento adequado da vocação dos outros são fundamentais para não reduzir a missão compartilhada a colaboração executiva. Salesianos que vivem com alegria e frescor o seu chamado específico são capazes de uma presença animadora incisiva e fraterna e sabem oferecer aos leigos um apoio afetivo e efetivo nas dificuldades que encontram. Os leigos que assumem com convicção o próprio chamado batismal a testemunhar o Evangelho libertam-se do complexo de serem relegados a serviço pastorais de segundo grau. Juntos nos tornamos “laboratório eclesial” e sinal profético de comunhão para a Igreja e a sociedade.

Às vezes, os jovens recebem com maior consideração o testemunho dos leigos, por ser menos óbvio e porque supõem que eles não falem e ajam pela lógica da pertença. A sua vocação, colocando-se no coração do mundo, torna-os, às vezes, mais adequados para responder aos novos problemas culturais dos jovens. Assim, os leigos falam uma linguagem mais apropriada às situações ordinárias da vida e, frequentemente, possuem especificidades profissionais que os tornam preciosos na missão.

A mudança no papel da comunidade religiosa dependerá de diversos fatores, mas, entre eles, serão sempre mais relevantes: a disponibilidade de reler-se diante da opção carismática fundamental; a disposição de questionar o papel de gestor e responsável único da obra diante da corresponsabilidade com os leigos; a capacidade de reler o significado da própria presença no interior do contexto em que se encontra.



GESTÃO DA OBRA, VIDA DA COMUNIDADE E NÚCLEO ANIMADOR



  1. Duas modalidades operativas e centralidade do núcleo animador

A Congregação reconhece atualmente apenas duas modalidades de relação entre comunidade salesiana e obra. A primeira e mais importante, a ser considerada como norma de referência, é composta conjuntamente pela comunidade salesiana e pelos leigos; a segunda refere-se à «atividades e obras dirigidas por leigos dentro do projeto inspetorial salesiano» (cf. CG24, n. 180-182).

Acreditamos que não exista mais o modelo – que, antes do Concílio Vaticano II, podia ser tido como válido – que prevê a animação de uma obra somente pelos Salesianos. Reafirmamos com força que a missão salesiana é estruturalmente comunitária e é confiada a uma comunidade educativo-pastoral e ao seu núcleo animador, composto por Salesianos e leigos em modalidade e proporção diferentes e complementares: a missão que Dom Bosco nos confiou nunca é uma ação individual e autorreferencial!

Em cada um destes dois modelos é central o “núcleo animador” ou o “Conselho da comunidade educativo-pastoral”, a ser considerado como motor e coração de toda a comunidade educativo-pastoral, porque da sua qualificação e do seu correto funcionamento depende o bom andamento da obra. Ele é um precioso órgão de animação e a chave para a vida da obra: trata-se de «um grupo de pessoas que se identifica com a missão, com o sistema educativo e com a espiritualidade salesiana, e assume solidariamente a missão de convocar, motivar, envolver todos os que se interessam por uma obra, para formar com eles a comunidade educativa e realizar o projeto de evangelização e educação dos jovens» (cf. J. E. Vecchi in ACG 363, p. 4; Quadro referencial da pastoral juvenil salesiana, V,1,3; Animação e governo da comunidade, n. 121-122).



  1. Obras confiadas a Salesianos e leigos

A comunidade, nas obras confiadas à comunidade religiosa e aos leigos, é parte significativa do núcleo animador e ponto de referência carismático: «Este nível de participação do espírito e da missão de Dom Bosco com os leigos marca uma nova fase no desenvolvimento do nosso carisma. De aí deriva a necessidade de a comunidade religiosa salesiana reconsiderar e assumir plenamente o seu papel, relativamente novo, no interior da comunidade educativo-pastora. [...] Isso comporta a mudança radical da estrutura piramidal da autoridade ao estilo mais participativo, no qual as relações e os processos pessoais são da máxima importância» (Animação e governo da comunidade, n. 124).

A forma concreta da relação da comunidade religiosa com a obra no seu conjunto não pode ser reduzida a um modelo único (cf. CG26, n. 120). Por isso, é necessário levar em consideração alguns fatores determinantes: os diversos níveis de pertença e participação do espírito e da missão salesiana; os diversos graus em que se realiza a corresponsabilidade; o tipo de obra; a natureza voluntária ou contratual da presença dos leigos. Deve-se recordar, enfim que a «relação adequada entre comunidade salesiana e obra, como também a modalidade com que a autoridade do diretor é exercida, deve ser codificada no projeto educativo-pastoral inspetorial e local» (Animação e governo da comunidade, n. 125).



  1. Atividades e obras administradas por leigos no interior do projeto inspetorial salesiano

O CG24, há 24 anos, colocava este segundo tipo de obra entre as “Situações particulares de novidade” (cf. CG24, capítulo III, 180-186)). Hoje, podemos afirmar que aquelas novidades passaram a fazer parte do patrimônio ordinário da Congregação em nível mundial, embora com proporções, formas e modalidades muito diversas entre as regiões e inspetorias.

É importante reafirmar as duas condições essenciais para confiar uma obra aos leigos: em primeiro lugar, devem ser averiguados os critérios de identidade, comunhão e significatividade salesiana; em segundo lugar, deve ser garantido o acompanhamento constante e qualificado do Inspetor e seu Conselho (cf. CG24, 180-182; Quadro referencial da pastoral juvenil salesiana, VIII, 2,2); Animação e governo da comunidade, 126).

Estas condições devem ser examinadas com atenção no contexto do discernimento e da entrega da obra aos leigos. São necessárias a opção carismática e a formação adequada, sobretudo para os que ocupam cargos diretivos, bem como a remuneração e condições de trabalho équas e justas. Enfim, não se deve esquecer que o caminho feito com os leigos, além de ser acompanhado, deve ser constantemente verificado.



FORMAÇÃO CONJUNTA PARA A MISSÃO



  1. Uma prioridade absoluta que envolve diversos níveis de governo e animação

A participação do estilo salesiano e o crescimento na corresponsabilidade exigem a participação em alguns itinerário e experiências formativas orientadas à espiritualidade e à missão, obviamente sem descuidar dos itinerários formativos específicos para consagrados Salesianos e leigos. A formação conjunta na missão compartilhada é uma prioridade absoluta e deve ter em vista sobretudo os membros do núcleo animador (cf. Animação e governo da comunidade, n. 106.122). Nossos colaboradores leigos precisam conhecer Dom Bosco de perto e refletir sobre o que se vive nas nossas obras.

É tarefa da Inspetoria e da Região oferecer itinerários formativos adequados para Salesianos e leigos. A Inspetoria é chamada a elaborar um plano de formação conjunta em nível inspetorial e de acompanhamento dos processos em nível local, garantindo recursos adequados de pessoas e meios. Em nível local, um dos primeiros objetivos que o Diretor salesiano busca com o Conselho da comunidade salesiana e o núcleo animador da comunidade educativo-pastoral é a elaboração de um projeto formativo que dê atenção especial ao tema.

A experiência confirma ser muito positivo confiar a equipes mistas, compostas por Salesianos e leigos, a organização das diversas iniciativas de formação: os Salesianos oferecem o conhecimento adquirido na formação, na assistência e na espiritualidade; os leigos por sua vez oferecem, além das suas competências específicas, os frutos do contato com o mundo das profissões, a maior atenção à vida familiar, o estilo de simplicidade e amizade na relação com as mulheres e o sentido evangélico da vida quotidiana.

É bom recordar, enfim, que a formação não acontece apenas através de cursos acadêmicos, mas sobretudo a partir da experiência de viver e trabalhar juntos, porque «o primeiro e melhor modo de formar-se e formar para a participação e a corresponsabilidade é o funcionamento correto da comunidade educativo-pastoral» (CG24, n. 43).



  1. Formação inicial e permanente dos Salesianos

«É importante dizer que não somos formados para a missão, mas que somos formados na missão, a partir da qual se articula toda a nossa vida, com as suas escolhas e as suas prioridades. A formação inicial e a permanente não podem ser uma instância prévia, paralela ou separada da identidade e da sensibilidade do discípulo. A missão inter gentes é a nossa melhor escola: a partir dela rezamos, refletimos, estudamos, repousamos. Quando nos isolamos ou nos afastamos do povo que somos chamados a servir, a nossa identidade como consagrados começa a desfigurar-se e a tornar-se uma caricatura». Estas intensas afirmações do Papa Francisco em sua Mensagem ao CG28 falam-nos da importância de uma mudança radical de perspectiva na formação de todos os irmãos e em especial daqueles que vivem a formação inicial: devemos aprender sempre mais a refletir criticamente sobre a experiência pastoral que realizamos entre os jovens!

A formação na e para a missão compartilhada deve tocar também a formação inicial dos Salesianos, não só como tema de estudo, mas também através das experiências pastorais semanais e de férias. A experiência de trabalhar com e sob a direção de leigos durante o tirocínio, como também a participação no Conselho da comunidade educativo-pastoral são momentos preciosos de formação, especialmente se bem acompanhados pelos membros do núcleo animador, tanto leigos como Salesianos.



  1. Colaboradores de outras religiões e convicções

O nosso trabalho educativo é compartilhado, nos contextos secularizados e plurirreligiosos, por pessoas de diversas religiões e convicções. Muitas delas também são inseridas no núcleo animador da comunidade educativo-pastoral. A sua formação é um delicado desafio que requer sabedoria, coragem e criatividade. A doutrina da Igreja ensina que a revelação de Deus em Cristo, embora supere surpreendentemente a sabedoria humana e a experiência de outras tradições religiosas, traz à tona as sementes da verdade que elas contêm e convida de muitas maneiras ao diálogo inter-religioso. Por isso, é possível individualizar alguns valores comuns que ponham as bases para uma formação diferenciada, inculturada e contextualizada sem comprometer a originalidade da fé cristã.

O CG24 já dedicara uma rica reflexão sobre esse tema (cf. CG24, n. 113,183-186), individualizando dois elementos fundamentais que constituem a base para colaborar com pessoas de outras tradições e convicções: primeiramente, o compartilhamento do Sistema Preventivo (em seus valores humanos e laicais com quem não crê em Deus; nos valores religiosos com os que aceitam Deus ou o Transcendente; no Evangelho de Cristo com cristãos de outras Igrejas e comunidades eclesiais); depois, a abertura à busca de Deus, da parte dos que não professam uma fé (cf. CG24, n. 185.100). Uma vez que «a missão juvenil nos leva a uma educação que é ao mesmo tempo evangelização», o CG24, também reconhecera que posições hostis à Igreja católica como se encontram em algumas ideologias, seitas ou movimentos, porém, são incompatíveis com a nossa missão (cf. CG24, n. 185).

Após a experiência destes decênios, seria útil verificar a aplicação desses critérios e os resultados concretos que deles decorrem em termos de educação e evangelização, para evidenciar as boas práticas a fortalecer e os riscos a evitar. A condição fundamental é, certamente, a presença consistente de Salesianos e, onde possível, de leigos cristãos que vivem a própria identidade vocacional com alegria e autenticidade (CG24, n. 183-185; Animação e governo da comunidade, n. 135), sem ocultar o que constitui o coração e a motivação de fundo da vida deles. É igualmente importante o clima de respeito, paciência, acolhida e amizade, que evita tanto a imposição de valores e convicções quanto o receio de abordar temas que qualificam a nossa identidade.

Estamos convencidos de que podemos compartilhar com todos os homens de boa vontade que desejam participar da missão salesiana a bondade paterna (amorevolezza) de Dom Bosco, a razoabilidade inerente ao seu sistema educativo e a confiança nos recursos dos jovens, a opção privilegiada dos mais pobres e o empenho pela cultura do acolhimento que não conhece limites de raça, cor, nação, cultura e religião.



ESCOLHER



  1. Igreja sinodal, missão compartilhada e comunidade educativo-pastoral



Assumamos decididamente a missão compartilhada entre Salesianos e leigos, valorizando a reciprocidade das vocações.



Atitudes e mentalidades a converter

  1. De uma missão confiada aos “papéis pessoais” dos consagrados à consciência da eclesiologia de comunhão e à redescoberta do papel dos leigos.

  2. De ver os leigos como simples “colaboradores” em vista da melhor realização do trabalho apostólico a considerar a corresponsabilidade laical como critério carismático fundante.

  3. De contemplar os jovens como meros destinatários das nossas intervenções educativas ao senti-los corresponsáveis da única missão.

Processos a ativar

  1. Os Setores para a formação e para a pastoral juvenil favorecem a redação de algumas diretrizes para a animação e acompanhamento da comunidade educativo-pastoral, segundo as “boas práticas” da Congregação.

  2. As Inspetorias dão uma atenção especial em reforçar a compreensão da comunidade educativo-pastoral, cuidam da formação dos seus membros e da preparação do projeto educativo-pastoral salesiano, verificando periodicamente o caminho feito.

  3. As Inspetorias confiam gradualmente papéis de responsabilidade institucional aos leigos carismaticamente fundamentados e profissionalmente preparados, em nível local e inspetorial, envolvendo-os na programação pastoral e na gestão econômica.

Condições estruturais a garantir

  1. As Inspetorias estudam e definem os modelos de gestão para os vários tipos de tarefas confiadas aos leigos no interior do projeto inspetorial (Plano Orgânico Inspetorial, Projeto Educativo-Pastoral Salesiano Inspetorial, Diretório inspetorial), com referência particular aos encargos, à justa remuneração econômica, à duração dos cargos e aos órgãos de decisão.

  2. As Inspetorias fazem um sério acompanhamento das obras de gestão laical mediante a presença do Inspetor e da equipe de animação inspetorial e, para tanto, redigem um estatuto.

  3. As Inspetorias envolvem os grupos da Família Salesiana no plano de redesenho das presenças salesianas, predispondo experiências de colaboração em favor dos mais pobres.



  1. Formação conjunta para a missão



Asseguremos espaços e tempos de formação conjunta e compartilhamento de vida entre Salesianos e leigos para um mais adequado serviço educativo-pastoral aos jovens.



Atitudes e mentalidades a converter

  1. Da formação conjunta esporádica e ocasional a uma formação mais sistemática, que tenha em vista integrar todos os aspectos da missão salesiana (espiritual, pedagógica, pastoral e profissional)

  2. Da formação dada apenas pelos consagrados a uma formação programada e realizada com os leigos.

  3. De uma mentalidade autossuficiente à real experiência da necessidade da formação conjunta.

Processos a ativar

  1. Os Setores para a formação e para a pastoral juvenil promovem uma reflexão em nível regional em vista da renovada compreensão e valorização da formação conjunta no horizonte da missão compartilhada.

  2. O Setor das missões coordena a reflexão para o aprofundamento das condições necessárias para a participação de leigos colaboradores de outras religiões e convicções na missão salesiana, propondo itinerários de formação idôneos e diferenciados, centrados nas colunas do Sistema Preventivo.

  3. As Inspetorias investem na formação conjunta – também durante a formação inicial – com o auxílio de estruturas regionais de formação permanente e garantindo o apoio econômico para favorecer a participação dos leigos.

Condições estruturais a garantir

  1. As Inspetorias elaboram o projeto de formação conjunta distinguindo os níveis de formação, conteúdos, destinatários e sujeitos através de itinerários diversificados de formação (humana, espiritual, salesiana e profissional).

  2. A comunidade local oferece processos de formação para Salesianos e leigos capazes de compartilhar a vida espiritual e fraterna além da ação educativo-pastoral.

  3. A comunidade local dá início a itinerários de construção da comunidade educativo-pastoral e dos Conselhos da comunidade educativo-pastoral como núcleo de animação e espaço eficaz para iniciar experiências sistemáticas de espiritualidade, comunhão e serviço com os leigos e com os jovens.



























DELIBERAÇÕES DO CG28




MODIFICAÇÕES DAS CONSTITUIÇÕES54



1. Eleição do Reitor-Mor (Const. 128)


O Reitor-Mor é eleito pelo Capítulo-Geral por um período de seis anos e pode ser eleito somente para um segundo sexênio. Não pode demitir-se do cargo sem o consentimento da Sé Apostólica



2. Eleição do Vigário do Reitor-Mor e Conselheiros-Gerais (Const. 142 §1)


O vigário do Reitor-Mor permanece no cargo seis anos e pode ser eleito no mesmo cargo somente para um segundo sexênio.

Ao término do segundo sexênio, ele só pode ser eleito Reitor-Mor.

Os Conselheiros-Gerais permanecem no cargo seis anos. Podem ser eleitos no mesmo cargo ou em outro cargo, como Conselheiros-Gerais, somente para um segundo sexênio.

Ao término do primeiro ou do segundo sexênio, os Conselheiros-Gerais podem ser eleitos Vigário do Reitor-Mor ou Reitor-Mor.



MODIFICAÇÕES DOS REGULAMENTOS-GERAIS



3. Tarefas do Conselheiro-Regional (Reg. 135)


Os Conselheiro-Regionais mantêm-se em contato com casa uma das Inspetorias: devem visitá-las periodicamente, reunindo os Conselhos-Inspetoriais. De acordo com os inspetores, podem reunir os diretores e outros grupos de irmãos e leigos para sugerir o que creem de mais oportuno para o bem da Congregação e para o melhor serviço da inspetoria e da Igreja particular.

Tenham ao menos um encontro anual com todos os inspetores da Região e mantenham as ligações com os organismos da Região, as comunidades formadoras e as Conferências inspetoriais.



4. Uso do sistema informático nas votações eletivas (Reg. 131)


O procedimento de eleição é realizado mediante o sistema informático (intranet). Para ela fica à disposição de todos os capitulares o acesso à ficha de dados pessoais de todos os sócios que podem ser eleitos. Os capitulares exprimem o voto selecionando o sobrenome do sócio pelo qual entendem exprimir a preferência.

Caso se percebesse o mal funcionamento técnico do sistema, recorre-se ao procedimento de eleição mediante cédula cartácea.

Os escrutinadores as contarão para verificar se o número de votos corresponde ao dos eleitores.

Se o número de votos superar o dos eleitores, a votação é nula; se corresponder ou for inferior, far-se-á o escrutínio. Os secretários anotarão os nomes que um escrutinador irá lendo.




DELIBERAÇÃO



5. Modalidades de realização da visita extraordinária (Reg. 104)


O Reitor-Mor e o Conselho-Geral, no início do sexênio, prevejam os tempos e as modalidades de realização das visitas extraordinárias em cada Região, valorizando as possibilidades oferecidas pelo art. 104 dos Regulamentos-Gerais, de modo a garantir, em todo caso,

  • a possibilidade do colóquio pessoal de cada irmão com o delegado do Reitor-Mor;

  • o conhecimento das situações locais, em que se realiza a nossa missão;

  • o efetivo exercício dos poderes de jurisdição requeridos pela natureza da visita;

  • a presença do Regional, ao menos em alguns momentos durante a visita, se feita por outro visitador;

  • a comunicação entre o visitador e o Regional para garantir após a visita o ulterior acompanhamento pelo Regional;

  • tempos adequados para que o Conselheiro-Regional possa realizar as tarefas próprias do seu ofício a serviço da Região e de cada inspetoria (Const. 140 e 154; Reg. 135-137).
















































ANEXOS




ANEXO 1



DISCURSO DO REITOR-MOR

PADRE ÁNGEL FERNÁNDEZ ARTIME

NA ABERTURA DO CG28



Saudação aos convidados

Eminência Reverendíssima,

Card. João Braz de Aviz,

Prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica


Eminências Reverendíssimas

Card. Tarcisio Bertone

Card. Riccardo Ezzati

Card. Raffaele Farina

Card. Óscar Andrés Rodríguez Maradiaga


Excelentíssimos Arcebispos e Bispos salesianos


Caríssima Madre Yvonne Reungoat, Superiora-Geral das Filhas de Maria Auxiliadora

Gentilíssimos Responsáveis dos vários Grupos da Família Salesiana


Estimadíssimas Autoridades Civis da Cidade de Turim e da Região Piemonte,



em nome dos membros do Capítulo-Geral agradeço-vos pela vossa presença e disponibilidade com que quisestes acompanhar significativamente o dia do início oficial do Capítulo-Geral 28 da Sociedade de São Francisco de Sales (Salesianos de Dom Bosco).

Sentir-nos acompanhados pela presença de cada um de vós nos honra e nos fala, ao mesmo tempo, da responsabilidade que temos diante da Igreja e de toda a Família Salesiana de Dom Bosco, e, de modo particular, diante da Congregação Salesiana. Isso tudo nos encoraja a iniciar este trabalho com um olhar profético e cheio de esperança.

Ao mesmo tempo estendo as boas-vindas, de modo oficial, a todos os irmãos Salesianos aqui presentes, provenientes das noventa circunscrições jurídicas da Congregação: inspetores e superiores canônicos de Visitadorias, delegados inspetoriais, Salesianos observadores e convidados. A vossa presença é importante. Realmente, reconhecemos e estamos cientes de um fato, à luz da visão de fé que cada um de nós tem no profundo do próprio coração: foi o Senhor que nos reuniu aqui através dos “misteriosos” caminhos da sua Providência.

No primeiro Capítulo-Geral da nossa Congregação, ao qual farei referência a seguir, Dom Bosco começa dizendo: “Nós iniciamos algo da máxima importância para a nossa Congregação”...55 Pois bem, também nós somos chamados a uma tarefa muito especial e importante para a nossa Congregação. Hoje, como ontem, o que resultar como fruto do nosso CG28 será de grande importância. Sem dúvida, a boa disposição de cada um será decisiva para os frutos desta Assembleia capitular.





1. O CG28 da Sociedade de São Francisco de Sales



Nosso Pai Dom Bosco convocou o primeiro Capítulo-Geral em 5 de setembro de 1877 em Lanzo Torinese. Os participantes eram vinte e três e o Capítulo durou três dias inteiros. Seguiram-se outros Capítulos-Gerais, como bem sabemos. Alguns aqui em Valdocco. Hoje, sessenta e dois anos depois do último Capítulo-Geral celebrado em Valdocco, berço do nosso carisma, retornamos, com grande fé no Senhor e no seu Santo Espírito que continua a assistir a nossa Congregação e a Família Salesiana. Levados pela mão por nossa Mãe Auxiliadora, que “continua a fazer tudo”, Dom Bosco dirige-nos um apelo que aqui, neste santo lugar salesiano, ressoa de modo significativo e com um forte conteúdo emotivo.

Na abertura daquele primeiro Capítulo-Geral Dom Bosco disse aos nossos irmãos: “O Divino Salvador diz no santo Evangelho que onde dois ou três estão reunidos em seu nome, Ele mesmo está ali entre eles. Nós não temos outra finalidade nestas reuniões a não ser a maior glória de Deus e a salvação das almas redimidas pelo precioso Sangue de Jesus Cristo. Podemos, portanto, estar certos de que o Senhor estará entre nós e Ele conduzirá as coisas de modo que todas redundem à sua maior glória”.56

Com a mesma convicção e a mesma visão de fé com que quis evidenciar a última expressão de Dom Bosco, escrevendo-a em cursivo, queremos e devemos enfrentar a importante tarefa que a Congregação inteira nos confia neste CG28.

Lemos nas nossas Constituições: “O Capítulo-Geral é o sinal principal da unidade na diversidade da Congregação. É o encontro fraterno no qual os Salesianos fazem uma reflexão comunitária, para se manterem fiéis ao Evangelho e ao carisma do Fundador, e sensíveis às necessidades dos tempos e lugares. Mediante o Capítulo-Geral, toda a Sociedade, deixando-se guiar pelo Espírito do Senhor, procura conhecer, em determinado momento da história, a vontade de Deus para melhor servir à Igreja”.57

Estou profundamente convencido de que será um tempo em que o Espírito do Senhor nos guiará e fará sentir a Sua presença, como só Deus sabe fazer, para sustentar-nos neste nosso desejo de ser sempre mais fiéis a Jesus Cristo no caminho traçado por Dom Bosco.



1.1. Com a responsabilidade de guiar e animar um carisma da Igreja, para a Igreja e para o mundo, suscitado pelo Espírito.

Antes de fazer referência ao Capítulo-Geral, permito-me indicar alguns elementos que poderiam ser dados como óbvios, mas que, sem dúvida, são essenciais e de grande importância. O primeiro deles foi há pouco enunciado.

Temos uma grande responsabilidade: o carisma de dar atenção aos jovens com todos os meios a nossa disposição, não é nossa propriedade exclusiva, não nos pertence, porque é dom do Espírito Santo para a Igreja e para o mundo. Entretanto, como Salesianos de Dom Bosco, é-nos pedida a máxima atenção e a máxima fidelidade. Recordei há pouco o artigo das nossas Constituições em que se diz que o Capítulo-Geral deve levar-nos a descobrir e reconhecer a vontade de Deus neste momento histórico e, assim, servir mais plenamente à Igreja. O nosso trabalho de reflexão, estudo e diálogo, em clima de busca e discernimento, não tem outra finalidade que tentar discernir a vontade de Deus para nós hoje, diante da grande questão de como podemos ser autênticos consagrados hoje e como podemos ser os Salesianos que o próprio Dom Bosco gostaria que fôssemos para os jovens de hoje e aqueles que virão amanhã.

Não há dúvidas sobre o fato de trazermos em nossos corações o profundo desejo de continuar a dar os passos necessários para que o carisma salesiano seja rico da força do Evangelho. Não tenho dúvidas de que temos no coração o desejo de ser corajosos e muito livres para buscar o que nos conduz através do caminho da fidelidade. Não tenho nenhuma dúvida de que a prudência com que enfrentamos tantas coisas esteja muito longe – e deve continuar a ser assim – dos temores que paralisam e das amarras que nada têm a ver com o anúncio do Evangelho e a educação à fé dos jovens, nem com a sua preparação para a vida e a sua felicidade. Não esqueçamos que os temores e as amarras pessoais e institucionais matam a fidelidade e impedem que o carisma seja sempre o mesmo e sempre vivo, mesmo com o passar dos decênios e dos séculos.



1.2. Com a responsabilidade de guiar a comunhão e a unidade de vida em nossa Congregação

Uma das graças que o Senhor nos concedeu abundantemente neste sexênio foi – como veremos na relação sobre o estado da Congregação – a de uma grande comunhão e unidade, para além das naturais dificuldades características de cada grupo humano e ainda mais para uma Congregação numerosa como a nossa. Estamos crescendo na unidade – não na uniformidade – e na comunhão. Trata-se de um dom e de um grande valor a conservar hoje e sempre.

Por essa razão, o Capítulo-Geral deve testemunhar plena comunhão de espírito e missão. A diversidade de culturas e contextos, de nacionalidades e linguagens são uma riqueza e uma oportunidade para o carisma que, hoje, estende suas raízes a cento e trinta e quatro nações.

É realmente iluminante ver como o nosso Pai queria que esta unidade fosse solidíssima. Celebrando o primeiro Capítulo-Geral, Dom Bosco disse aos capitulares: “Ainda estamos em nossos inícios; o nosso número ainda não é extraordinariamente grande e até agora o Oratório foi o centro para todos [...], mas indo adiante, se não se estudarem todos os modos de reencontrar essa união, em breve entrará algum projeto heterogêneo e não haverá mais uma unidade absoluta entre nós”.58

Felizmente e por graça de Deus isso não aconteceu, antes, a busca de unidade e comunhão continua a crescer e consolidar-se, pois um só é o carisma, um só o nosso santo Fundador e um só o nosso estado de vida, uma só a nossa regra de vida: as Constituições e os Regulamentos dos Salesianos de Dom Bosco.



1.3. Para ocupar-se dos interesses de Deus

Permito-me tomar literalmente a expressão do P. Luís Ricceri, Reitor-Mor, no discurso de abertura do Capítulo-Geral Especial 20, porque reflete de modo esplêndido a consciência clara e profunda que devemos ter da natureza do nosso trabalho. Todos os Capítulos-Gerais são importantes. Todos ajudam a percorrer o caminho de fidelidade ao longo do tempo. Todos nos estimulam com coragem. Todos abrem um caminho ou consolidam o já existente. E, ao mesmo tempo, em todos eles o olhar de fé deve ser o mais importante.

Proponho e peço-o de modo todo especial para o nosso CG28, especialmente pela temática que nos ocupará e pelo fruto das nossas decisões. Estou convencido de que o trabalho que nos é confiado como homens de fé amantes da Igreja e da Congregação nos ajudará a concentrar-nos ao redor do perfil do Salesiano de que, na fidelidade às Constituições, o mundo de hoje e os jovens de hoje continuam a precisar. E estou convencido de que isso será de grande importância na formação permanente de todos os Salesianos e em especial na formação inicial dos jovens Salesianos que hoje querem ser como Dom Bosco.

Por isso, devemos ser muito livres, corajosos, ter uma visão de fé e o coração atento para perceber com a máxima delicadeza a voz do Espírito Santo.

A nossa não é uma assembleia de acionistas de uma indústria, não é uma assembleia política com facções de interesses econômicos contrastantes, de prestígio e ambições. Aqui, somos Igreja, antes, assembleia de homens consagrados, reunidos em nome do Senhor, totalmente devotados a um ideal sobrenatural: sentimos que somos homens de fé, cujas preocupações têm suas raízes na fé e cuja atividade, também a que estamos a viver, é toda iluminada, reavivada e motivada pela fé. De fato, não estamos aqui por interesses humanos, mas pelos interesses de Deus, do seu Reino, da sua Igreja”.59

Pensando no fruto do nosso Capítulo-Geral, é decisivo o que citei: aquilo que não leva ao encontro com Deus na pessoa do seu Filho Jesus Cristo não vem de Deus e de nada nos servirá. Aquilo que não nos torna fiéis ao carisma e ao próprio Dom Bosco, nosso Fundador, destina-se ao fracasso, mesmo se as miragens do momento pareçam anunciar alguma outra coisa. Não somos uma Congregação com muitos séculos de vida, mas também não somos os últimos a chegar, e os 160 anos de história nos ensinaram muito. Só se deixando guiar pelo Espírito de Deus a Congregação encontra a maneira de dar a melhor resposta, aqui e agora. Só um olhar livre e lúcido diante de mentalidades fortemente secularizadas e hedonistas permite um caminho seguro. Outras tentativas, antes ou depois, fracassam, desgastam-se e fazem definhar aquele ideal de vida que levou à decisão fundamental do jovem Cagliero: “Frade ou não frade, eu fico com Dom Bosco”.



2. Tema e objetivo do CG28



Todos os presentes, inclusive os nossos convidados que muito nos honram com a sua presença, conhecem o tema do Capítulo-Geral que hoje declaramos oficialmente aberto: “Quais Salesianos para os jovens de hoje?”

O tema responde à urgência que temos neste momento da nossa história de concentrar a nossa atenção na pessoa do Salesiano que, como homem de Deus, consagrado e apóstolo, deve ser capaz de sintonizar-se o mais possível com os adolescentes e jovens de hoje e o seu mundo. E isso, para caminhar com eles, na educação e formação à fé, ajudando-os a ser bons crentes – considerando que muitas vezes professam outras religiões – e preparando-os para a vida, acompanhando-os na busca de sentido e para encontro com Deus.

Estamos cientes de que não somos somente nós, Salesianos de Dom Bosco, a ter a responsabilidade dessa missão. De fato, nós a realizamos contando com outras numerosas forças de educadores e educadoras, dos muitos leigos de todas as presenças do mundo salesiano.

O tema que nos ocupará nestas sete semanas é único e articulado em três núcleos:

A prioridade da missão salesiana entre os jovens de hoje

O perfil do Salesiano para os jovens de hoje

Com os leigos na missão e na formação



O mundo em que vivemos neste século XXI, marcado pela diversidade de culturas e contextos, precisa encontrar – e podemos dizer que espera encontrá-los – Salesianos consagrados-apóstolos preparados e dispostos a viver a própria vida com a mente e o coração de Dom Bosco. Salesianos capazes de continuar a dar a vida pelos jovens do mundo de hoje, com a sua linguagem, com o seu modo de ver e os seus interesses. Sem dúvida, muitos desses adolescentes e jovens vivem nas casas salesianas, enquanto muito outros frequentam “outros pátios”: somos Salesianos também para eles.

Acredito que continua a ressoar com grande intensidade, e é um apelo muito atual, aquilo que o Papa Francisco no disse em 21 de junho de 2015, ano do bicentenário do nascimento de Dom Bosco, neste mesmo santo lugar salesiano que é Valdocco. Pediu-nos para não frustrar as profundas aspirações dos jovens, não frustrar as profundas aspirações dos jovens: a necessidade de vida, abertura, alegria, liberdade, futuro; o desejo de colaborar na construção de um mundo mais justo e fraterno, no desenvolvimento de todos os povos, na tutela da natureza e dos ambientes de vida... O Papa pede-nos para ajudar os jovens a experimentar que só na vida da graça, isto é, na amizade com Cristo, os ideais mais autênticos são realizados plenamente.60

Esperamos alcançar o que é proposto ao Capítulo-Geral como desafio para toda a Congregação, como já disse e evidencio novamente, da única maneira possível e válida: no caminho de fidelidade ao Senhor e a Dom Bosco e de fidelidade aos jovens. Muitos desses jovens, com maior ou menor consciência, pedem para não serem abandonados ao próprio destino, um destino incerto, de náufragos, devido à nossa incapacidade de ser educadores, amigos, irmãos e pais – como, ao contrário, Dom Bosco o foi para os jovens do seu tempo –, capaz de perceber as suas necessidades ou escutar o seu apelo.

Por essa razão, a reflexão capitular deve concentrar-se nos seguintes elementos:



2.1. Dar o primado absoluto à missão salesiana com os jovens de hoje e, entre eles, dando prioridade aos mais necessitados, aos mais pobres e abandonados. Com predileção pelos adolescentes e os jovens de hoje que, em certo sentido são, sem dúvida, diferentes daqueles de dez anos atrás, como diferentes são os contextos sociais e educativos em que vivem e, por isso, condicionam objetivamente a nossa missão. Bem sabemos que ao falar da predileção pelos jovens referimo-nos a algo de essencial e constitutivo da nossa identidade carismática.

Citando o texto da carta de convocação ao CG28 recordo à Assembleia capitular esta prioridade: “O novo Capítulo-Geral será uma oportunidade para discernir atentamente e, com coragem, examinar se as nossas presenças, as nossas obras e as nossas atividades estão a serviço dos jovens mais pobres; se eles ocupam o nosso coração e estão no centro das nossas preocupações e dos nossos interesses; se concentramos as nossas energias e esforços por eles”.61



2.2. Atentos com a mesma prioridade ao perfil do Salesiano de hoje

O que nos é pedido e que se espera de nós Salesianos só será possível se formos capazes, como disse no meu comentário à Estreia que ofereci à Família Salesiana, de ser “como Dom Bosco, com os jovens e para os jovens”. Por isso, uma parte decisiva da nossa reflexão e das nossas deliberações capitulares deverá dar atenção especial à pessoa do Salesiano e à nossa formação, tanto inicial como permanente. Tendo Dom Bosco como modelo,

  • dizer Salesiano hoje deveria ser o mesmo que dizer homem consagrado de fé profunda,

  • dizer Salesiano hoje deveria ser o mesmo que dizer paixão apostólica pelos jovens,

  • dizer Salesiano hoje deveria ser o mesmo que dizer filho de Deus, que sabe ser e se sente pai dos jovens,

  • dizer Salesiano hoje deveria ser o mesmo que dizer identidade carismática de cada um, que enriquece a Igreja do carisma de Dom Bosco e cria comunhão eclesial,

  • dizer Salesiano hoje deveria ser o mesmo que dizer apóstolo dos jovens, sempre fiel, flexível e criativo,

  • dizer Salesiano hoje deveria ser o mesmo que dizer sempre educador, sempre amigo dos jovens.



2.2.1. Um perfil de Salesiano que não se improvisa, mas se forma

Este é um dos motivos que nos levou a ver a importância deste tema capitular. A vocação de cada um de nós é resposta a um chamado. Chamado de amor e de graça que recebemos com gratidão e admiração, não como direito ou merecimento. Chamado pessoal num momento concreto da história de cada um, na trama do tempo e frequentemente com múltiplas mediações, ou mesmo com apenas uma. Chamado num determinado contexto familiar, social, religioso, cultural. Chamado que chega ao mundo de cada um, com a sua diversidade e, talvez, complexidade.

Em contextos e condições muito diferentes, cada um de nós deve trilhar um caminho que nos levará, na sequela do Senhor Jesus, a plasmar o nosso coração e a nossa personalidade de tal modo que possamos ter em nós o mesmo coração pastoral de Dom Bosco, à imitação de Jesus Bom Pastor, e com o desejo de entregar-nos generosamente aos outros, em especial aos jovens. Sem viver num genericismo, que seria preocupante e perigoso, mas como consagrados, Salesianos de Dom Bosco, na Igreja para os jovens.

Eis porque afirmo com profunda convicção que o perfil do Salesiano não pode ser fruto de improvisação, mas deve passar pelas mediações das diversas etapas formativas, com as suas experiências, os tempos e as pessoas



2.2.2. Com a ajuda de equipes formativas de qualidade e processos personalizados

Bem sabemos que esse caminho não pode ser percorrido sem a ajuda de mediações. Frequentemente as mediações são muitas e diversificadas. Imagino que a nossa reflexão capitular tomará ciência do modo com que, tendo presente o perfil do Salesiano de hoje, torna-se mais importante do que nunca contar com um autêntico discernimento e acompanhamento. E, por isso, será de importância fundamental o papel da comunidade ou das comunidades salesianas locais, dos leigos das comunidades educativo-pastorais e dos irmãos da Inspetoria.

A reflexão e compreensão da nossa realidade formativa no mundo atual haverão de levar, durante os trabalhos do nosso Capítulo, a questionar-nos sobre a renovação formativa de que precisamos, desde que os jovens Salesianos de hoje são todos “nativos digitais”, vindos de contextos culturais talvez muito diferentes do contexto formativo em que viveu quem vos está falando. Professamos as mesmas Constituições Salesianas, mas em nações, culturas, linguagens e contextos muito diferentes. Isso tudo deve levar-nos a pensar em processos formativos personalizados que, talvez, sejam a única garantia de um bom itinerário vocacional com perspectiva de futuro.

Relaciona-se com isso, evidentemente, a necessidade de continuar a ter as melhores equipes formativas; equipes consolidadas e estáveis, não improvisadas, mas formadas por pessoas preparadas para esse serviço específico.



2.3. Com os leigos na missão e na formação

Todos nós temos presente o tema do CG24, de 1996: “Salesianos e Leigos. Comunhão e participação do espírito e da missão de Dom Bosco”. Depois de muitos anos desse caminho na missão compartilhada nas comunidades educativo-pastorais sentimos, como Congregação, a necessidade de fazer um exame do caminho percorrido, dos resultados e das resistências que se encontraram.

Acreditamos certamente que a missão compartilhada com os leigos é um caminho para a descoberta da identidade carismática, particularmente esclarecida pelo CG24, e que hoje se manifesta como único modo possível de realizar a missão salesiana na complexidade do nosso mundo, na diversidade e complexidade de muitas situações nacionais e culturais, e na multiplicidade dos contextos.

Intuo que sobre esta parte tão importante da reflexão que nos espera, e que caminha pari passo com a reflexão sobre o perfil do Salesiano necessário hoje e que os jovens esperam – com os leigos que participam conosco da missão – o Capítulo levará talvez em consideração alguns destes pontos aos quais voltar o nosso discernimento:

  1. realizações e resistências na missão compartilhada com os leigos;

  2. reciprocidade necessária nas relações entre Salesianos e leigos;

  3. formação conjunta de Salesianos e leigos;

  4. as novas situações nas realidades atuais, vinte e quatro anos depois do CG24, e as orientações e os critérios que devemos considerar.



3. A “HORA” DO CAPÍTULO-GERAL 28



Irmãos Capitulares, não escondi nestes meses a esperança com que aguardo a celebração deste nosso Capítulo-Geral, pois creio que será muito significativo e de grande relevância. Os anteriores, todos, também o foram. Penso o mesmo para o CG28. Como afirmei também na carta de convocação: “seremos chamados a discernir com realismo, coragem e determinação a orientação do caminho a percorrer no século XXI, num momento eclesial muito especial de renovação e purificação”.62

  • Somos chamados a dar o primado e a centralidade nas nossas decisões e deliberações ao que se refere à missão salesiana em favor das crianças, adolescentes e jovens mais pobres e necessitados, os últimos, aqueles que frequentemente são ignorados ou descartados.

  • Somos chamados a viver numa atitude permanente de formação, de abertura às realidades que sempre mudam, e fazer todo o possível, em qualquer idade que seja, para não deixar de viver para e com os jovens.

  • Somos chamados a acompanhar a formação dos jovens Salesianos de hoje e de amanhã para serem autênticos consagrados, apaixonados por Cristo e pela humanidade que frequentemente sofre, desejando ser hoje “outros Dom Bosco” com a simplicidade e a generosidade da sua entrega.

  • Somos chamados a ter uma visão e um coração grandes para valorizar todo o potencial apostólico que temos, como Salesianos e leigos juntos.

  • Somos chamados a analisar e diagnosticar e ser corajosos nas decisões que devemos tomar para desenvolver plenamente a visão profética que a Congregação teve por anos, pedindo-nos a percorrer juntos um caminho em favor da missão, do serviço voltado àqueles para quem nascemos carismaticamente.



CONCLUSÃO



Concluo a apresentação destes desafios que nos ocuparão neste tempo com uma última referência a Dom Bosco e a nossa Mãe Auxiliadora.

O nosso Fundador, ciente de que nem tudo acabaria com ele, mas que certamente seria apenas o início de um longo caminho a percorrer, disse certo dia de 1875 ao Padre Júlio Barberis, um dos seus estreitos colaboradores: “Vós completareis a obra que eu estou iniciando; eu faço o esboço, vós poreis as cores [...]. Eu faço o rascunho da Congregação e deixarei àqueles que virão depois de mim fazer a cópia definitiva”.63

Penso que com o CG28 que hoje iniciamos melhoraremos outras partes do esboço que Dom Bosco nos deixou, porque o Espírito Santo continua a iluminar-nos ainda hoje para sermos fiéis ao Senhor Jesus na fidelidade ao carisma das origens, com as fisionomias, a melodia e as cores de hoje.

Não estamos sozinhos nesta missão e sabemos e sentimos que Maria, a Mãe Auxiliadora, a “Auxiliadora de Dom Bosco”, nos guia. No dia da solenidade da Imaculada de 1877, dois meses antes de morrer, voltando-se para contemplar o longo e não fácil caminho da própria vida, dizia aos Salesianos que, comovidos, o rodeavam: “Até agora caminhamos pelo caminho certo. Não podemos errar; é Maria quem nos guia”.64

Ela é a Mãe de todos nós, a Mãe dos jovens e de suas famílias (se as têm!). É a mais sensível para com os pobres e necessitados. É Ela que nos diz, também nesta hora do CG28: “Fazei tudo o que Ele vos disser”,65 como aconteceu em Caná da Galileia.

Que nossa Mãe Auxiliadora nos ilumine e guie como fez com Dom Bosco para sermos fiéis ao Senhor e jamais frustrarmos os jovens, sobretudo os mais necessitados.



Turim, 22 de fevereiro de 2020



ANEXO 2


ALOCUÇÃO DO CARD. JOÃO BRAZ DE AVIZ,

PREFEITO DA CONGREGAÇÃO

PARA OS INSTITUTOS DE VIDA CONSAGRADA

E AS SOCIEDADES DE VIDA APOSTÓLICA




A identidade da Vida Consagrada

e sua contribuição para a vida da Igreja e do mundo



A Congregação para os Institutos de vida consagrada e as Sociedades de vida apostólica (CIVCSVA) recolheu num pequeno volume66 as orientações emersas na Assembleia Plenária do dicastério de novembro de 2014 e na reflexão sucessiva. Partindo do logion de Jesus “Ninguém põe vinho novo em odres velhos; se o fizer, o vinho romperá os odres, e perde-se o vinho, e também os odres. Mas vinho novo, em odres novos” (Mc 2,22), procuramos recolher os grandes horizontes abertos pelo Concílio Vaticano II, e tomar ciência dos desafios ainda em aberto, que identificamos ao aprofundar a vocação e a identidade da vida consagrada, nas novas ofertas formativas, olhando para as relações no humanum, isto é, da reciprocidade entre homem e mulher, no serviço da autoridade e na obediência, nos modelos relacionais e no testemunho relativo à posse, uso e administração dos bens.

Após ver os desafios, perguntamos como preparar odres novos, buscando a fidelidade no Espírito, identificando modelos formativos e dando atenção à formação dos formadores, em vista da capacidade de uma relação evangélica que se manifesta na reciprocidade e nos processos multiculturais, no serviço da autoridade em relação aos modelos relacionais, com as estruturas dos Conselhos e Capítulos.



1. A renovação pós-conciliar



Passaram-se mais de cinquenta anos desde o Vaticano II. O Papa Francisco, religioso como nós, tem-nos lançado palavras e gestos de intenso estímulo para continuar a renovação proposta pelo Vaticano II para a vida consagrada, levando em consideração as atuais exigências.67 As bases teológicas e eclesiológicas da renovação foram apresentadas pelos Padres conciliares no capítulo VI (n. 43-47) da Constituição dogmática Lumen gentium. Trata-se de uma atualização espiritual, eclesial, carismática e institucional da vida consagrada na Igreja.

Hoje, podemos dizer que o Concílio Vaticano II gerou impulsos e métodos de grande eficácia para o aggiornamento. Surgiu uma nova compreensão da vida consagrada. De fato, antes do Concílio, suas manifestações e estruturas eram de uma “força compacta e operacional” para a vida e a missão de uma igreja militante que se via em contínua oposição ao mundo.

Na nova estação de abertura e diálogo com o mundo, a vida consagrada foi levada, em benefício de todo o corpo eclesial, à vanguarda na exploração das coordenadas de uma nova relação Igreja-mundo... Nesta linha de diálogo e acolhida, a vida consagrada, normalmente, embora nem sempre, abraçou generosamente os riscos dessa nova aventura de abertura, escuta e serviço.68

Os carismas e o patrimônio espiritual da vida consagrada, neste novo clima, foram postos com confiança à disposição dessa nova relação, mas ao mesmo tempo, pediu para correr o risco desses novos percursos.69 Neste período pós-conciliar foram reelaborados os textos normativos e as formas institucionais para conformar-se ao novo Código de direito canônico (1983). «Um grande trabalho foi feito em cada família religiosa na releitura e interpretação da “inspiração primitiva dos institutos” (PC 2). Esse trabalho tinha principalmente duas finalidades: conservar fielmente ‘o entendimento e os projetos dos fundadores” (CIC c. 578) e “repropor corajosamente o espírito de iniciativa, a criatividade e a santidade dos fundadores e fundadoras, como resposta aos sinais dos tempos visíveis no mundo de hoje” (VC 37)».70

Novos itinerários formativos e a adequação de estruturas de governo e gestão do patrimônio econômico e das atividades foram ativados com muita responsabilidade e fé. Os Papas deste período apoiaram generosamente com o seu Magistério o caminho da vida consagrada, ajudando “a consolidar as novas convicções, discernir os novos caminhos, orientar com sabedoria e senso eclesial as novas opções de presença e serviço, ouvindo constantemente os apelos do Espírito”.71 De maneira muito especial, a Exortação Apostólica Pós-Sinodal Vita consecrata (1996) com a contemplação e a referência fontal ao mistério da Santíssima Trindade, ilumina o sentido da consagração, entendendo-a como confessio trinitatis, “também com o desafio da vida fraterna em virtude da qual as pessoas consagradas se esforçam por viver em Cristo com «um só coração e uma só alma» (At 4,32) (n. 21)”.72

Neste momento, o Papa Francisco pediu à Congregação para os Institutos de vida consagrada e as Sociedades de vida apostólica (CIVCSVA) e à Congregação para os Bispos que preparem a revisão do documento “Mutuae relationes”.73 Ao mesmo tempo, a Congregação para a Doutrina da Fé publicou o documento “Iuvenescit ecclesia”.74 Essa carta faz um aprofundamento lúcido das relações entre bispos e consagrados, à luz da eclesiologia e espiritualidade de comunhão e à luz dos dois princípios coessenciais da Igreja, hierarquia e carismas. Assim, o novo texto de “Mutuae relationes”, que já está em sua redação final para ser apresentada ao Santo Padre, foi providencialmente enriquecido.

A experiência do Ano da Vida Consagrada e do Jubileu da Misericórdia levam-nos, agora, a abrir novos percursos. Somos interpelados pela evolução social, econômica, política, científica e tecnológica. Setores que antes eram assumidos pelo zelo da vida consagrada, hoje são realizados pelo Estado. As novas e inéditas urgências, as novas pobrezas, a multiplicação do voluntariado, a abertura às novas fronteiras da missão, sobretudo na fundação de novas Igrejas, tudo isso cria um novo contexto para a vida consagrada. Passamos de situações monoculturais ao desafio da pluralidade de culturas, com comunidades internacionais presentes em contextos desconhecidos ou plurirreligiosos, inseridos em contextos difíceis e em situação de risco de várias formas de violência. Em muitos casos, entraram em crise os esquemas formativos tradicionais. Essas novidades percebidas como riqueza levam também a tensões e geram uma sensação difusa de cansaço, com a consequente tentação de contentar-se com estratégias de sobrevivência. Entendemos sempre mais que sozinhos não seremos capazes de fazer essa passagem necessária.75



2. Desafios ainda em aberto



Falamos a partir de uma constatação bastante evidente: “Todo sistema estável tende a resistir à mudança e esforça-se por manter sua posição, às vezes ocultando as inconsistências, outras vezes aceitando tornar opaco o antigo e o novo, ou negando a realidade e os atritos em nome de uma concórdia fictícia, ou mesmo dissimulando as próprias finalidades com ajustes superficiais. Infelizmente, não faltam exemplos de adesão puramente formal sem a necessária conversão do coração”.76

Num momento, o atual, em que se verifica um elevado número de abandonos da vida consagrada, quer logo após o caminho formativo, quer também em idade avançada, em todos os contextos geográficos e culturais, é importante buscar as causas desse fenômeno. Não se trata apenas de crises afetivas, mas também de frustração por uma vida de comunidade sem autenticidade. Às vezes, os valores propostos não correspondem à vivência concreta, ou a quantidade de atividades é excessiva e não permite uma sólida vida espiritual. Acontece também o isolamento dos jovens em comunidades com a prevalência de idosos. Mesmo havendo em muitos jovens uma disponibilidade à transcendência, uma capacidade de apaixonar-se pelos valores do evangelho, a vida consagrada demasiadamente uniformizada os bloqueia. Então, muitas vezes, não se chega a tocar o coração e transformá-lo.

A integração entre culturas diferentes em alguns Institutos tornou-se um problema: de um lado poucos membros idosos e de outro um grande grupo de jovens provenientes de várias culturas que se sentem marginalizados, com papéis apenas subalternos. “Torna-se sempre mais claro que o mais importante não é a conservação das formas, mas a disponibilidade para repensar em continuidade criativa a vida consagrada como memória evangélica de um estado permanente de conversão da qual brotam intuições e opções concretas”.77

No contexto de renovação da experiência de autoridade e de obediência, em meio à crise atual em vários Institutos, podemos dizer: “Não por acaso entre os motivos principais dos abandonos evidenciam-se, segundo a experiência desta Congregação, o enfraquecimento da visão de fé, os conflitos na vida fraterna e a vida de fraternidade frágil em humanidade”.78

Um campo no qual os desafios atuais estão particularmente em aberto é o das opções formativas. É notável o esforço concreto dos Institutos e das Conferências de Superiores Maiores (nacionais e internacionais). Uma das dificuldades significativas é ainda “a escassa integração entre a visão teológica e antropológica na concepção da formação, do modelo formativo e da pedagogia educativa (...) que não permite fazer interagir e dialogar entre si os dois componentes essenciais e indispensáveis de um caminho de crescimento: as dimensões espiritual e humana”.79

É necessária nos formadores e formadoras uma sensibilidade para os valores das várias culturas, das novas gerações, dos vários contextos de vida. E, aqui, a atenção ao discernimento das motivações vocacionais presentes nas várias áreas culturais e continentais.

As urgências das obras, em muitos institutos, sobretudo femininos, prevalecem sobre o itinerário formativo sistemático e orgânico. Além disso, cria-se muitas vezes, um desequilíbrio entre a formação teológica e a profissional e, assim, descuida-se da formação ao discipulado e à vida consagrada.

Se fixarmos o olhar nos formadores vemos que não raramente há uma insuficiente preparação, mas também um número insuficiente de pessoas. A formação dos formadores torna-se então um dos desafios atuais mais importantes. Como garantir uma pedagogia pessoal, isto é, a personalização da formação, em que, no período inicial, o formador caminha todos os dias ao lado do discípulo na confiança e na esperança, sobretudo como especialista no caminho da busca de Deus?

A comunidade tem um papel importante: “É na fraternidade que se aprende a acolher os outros como dom de Deus, aceitando as suas características positivas e também as diversidades e limitações. É na fraternidade que se aprende a compartilhar os dons recebidos para a edificação de todos. É na fraternidade que se aprende a dimensão missionária da consagração (cf. VC 67)”.80

No que diz respeito à formação permanente ou contínua, ela ainda precisa se tornar uma verdadeira cultura, em que caminham juntas a enunciação de conceitos teóricos e a capacidade de revisar e verificar a experiência concreta na comunidade. Aqui também há uma iniciação séria ao governo, para superar a improvisação e o seu exercício inadequado e incompleto.

Estando ainda na dimensão humana dos desafios à vida consagrada, um campo particularmente importante é o da reciprocidade homem-mulher. “Somo herdeiros nos modelos de vida, nas estruturas de organização e de governo, na linguagem e no imaginário coletivo, de uma mentalidade que realçava diferenças profundas entre homem e mulher em detrimento da sua igual dignidade. Também na Igreja, e não só na sociedade, muitos preconceitos unilaterais impediam de reconhecer os dotes do verdadeiro gênio feminino (cf. VC, 58) e a contribuição original das mulheres. Esse tipo de subestima tocou particularmente as mulheres consagradas mantidas à margem da vida, da pastoral e da missão da Igreja (cf. VC, 57)”.81

Esse cenário começou a mudar a partir do Concílio Vaticano II, mas “ainda não se chegou a uma síntese equilibrada e uma purificação dos esquemas e dos modelos herdados do passado. Persistem ainda obstáculos nas estruturas e permanece não pouca desconfiança quando acontece a ocasião de dar às mulheres «espaços de participação em vários setores e em todos os níveis, também nos processos de elaboração das decisões, sobretudo no que lhes diz respeito» (VC 58) na Igreja e na gestão concreta da vida consagrada”.82

Em nossos ambientes de vida consagrada ainda falta uma maturidade na reciprocidade entre homem e mulher, o que é particularmente necessário em nosso tempo. A distância provocada até mesmo com motivações ascético-espirituais causou um empobrecimento recíproco e a perda de sensibilidade para as diferentes visões do outro. Há um reflexo disso na vida consagrada também nas diferentes sensibilidades de jovens e idosos: “Podemos falar de uma dissonância cognitiva que ocorre entre religiosos idosos e jovens. Para uns, as relações com o feminino e o masculino são marcadas por muita reserva e até fobia, para os outros por abertura, espontaneidade e naturalidade”.83

Por fim, ainda precisamos assinalar “a fragilidade encontrada ad intra nos Institutos em relação a esse processo antropológico-cultural de verdadeira integração e complementaridade mútua com o elemento e a sensibilidade feminina e masculina. São João Paulo II reconheceu como legítimo o desejo de as consagradas terem “espaços de participação em vários setores e em todos os níveis” (VC 58). Corre-se, também o risco de empobrecer gravemente a mesma Igreja, como disse o Papa Francisco: “Não reduzamos o empenho das mulheres na Igreja; antes, pelo contrário, promovamos o seu papel ativo na comunidade eclesial. Se a Igreja perde as mulheres, na sua dimensão global e real, ela corre o risco da esterilidade” (Discurso ao episcopado brasileiro, Rio, 27.07.2013)”.84

Outro desafio em aberto refere-se ao serviço da autoridade. Ainda hoje se encontra em várias comunidades de vida consagrada “a tendência à centralização vertical no exercício da autoridade, tanto em nível local como mais ao alto, passando por cima da necessária subsidiariedade. Poderia ser suspeita, em alguns casos, a insistência de alguns superiores sobre o caráter pessoal da própria autoridade quase a esvaziar a colaboração dos Conselhos, convictos de responder (automaticamente) à própria consciência. De aqui, uma frágil ou ineficaz corresponsabilidade na prática de governo ou, no caso, a ausência de delegações convenientes. O governo não pode certamente centralizar-se nas mãos de apenas uma pessoa, evitando assim as proibições canônicas (cf. CIC, c. 636). Em diversos Institutos ainda existem superiores e superioras que não levam na devida consideração as decisões capitulares”.85 Maiorias pré-concebidas, uso da lógica dos alinhamentos para resolver questões graves são comportamentos de governo fora de qualquer lógica evangélica. Superiores que se fossilizam no poder a ponto de, em alguns casos, alterar também as Constituições, produzem grande mal aos seus carismas e neutralizam o crescimento de muitos outros irmãos e irmãs que poderiam ajudar mais a comunidade. Hoje, é indispensável a conversão de muitos superiores e superioras para realmente poderem ajudar a discernir a vontade de Deus. Em alguns casos mais extremos, há superiores que queimam a maturidade de toda uma geração de pessoas consagradas, construindo relações doentias de dependência e escravidão. No Dicastério, precisamos intervir com frequência para sanar essas situações.86

Falando ainda do serviço da autoridade “deve-se ter presente que a verdadeira obediência não pode deixar de colocar em primeiro lugar a obediência a Deus, tanto da autoridade como de quem obedece, como não pode deixar de referir-se à obediência de Jesus: obediência que inclui o seu grito de amor Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste? (Mt 27,36) e o silêncio do amor do Pai”.87

Por último, entre os desafios da vida consagrada de hoje devemos dizer uma palavra sobre a gestão dos bens eclesiásticos dos Institutos de vida consagrada e Sociedades de vida apostólica na Igreja.

Foi o Papa Francisco a chamar a atenção da vida consagrada sobre a administração dos bens eclesiásticos. Nos últimos anos a CIVCSVA realizou em Roma dois Simpósios sobre o tema com a finalidade de aperfeiçoar e atualizar sobre o cuidado dos bens vindos à posse da vida consagrada no mundo. Pelo número de participantes pudemos medir o interesse verificado. Do primeiro simpósio (2014) foi publicado parte do conteúdo.88

No decorrer da sua longa história a vida consagrada tem sido capaz de se opor profeticamente, cada vez que o poder econômico corria o risco de humilhar as pessoas, sobretudo as mais pobres. Na atual situação global de crise financeira, para a qual o Papa Francisco nos chama a ser verdadeiramente fiéis e criativos para não faltarem a profecia da vida comum internamente e da solidariedade para com o exterior, sobretudo em relação aos mais pobres e mais frágeis.

Passamos de uma economia doméstica para processos administrativos e de gestão que quase escapam ao nosso controle, evidenciando a nossa precariedade e, antes disso, a nossa falta de preparação. Não podemos adiar a nossa renovada centralização na transparência em matéria econômica e financeira, com um primeiro passo para recuperar o autêntico sentido evangélico da comunhão real de bens no interior das comunidades e da sua partilha concreta com quem vive ao nosso lado”.89



Conclusão



Três indicações do Vaticano II, em particular, estão no centro da reforma da vida consagrada neste nosso momento da história: a sequela Christi vivida à luz das palavras de Jesus com transparência de testemunho; o retorno ao núcleo central do carisma dos nossos fundadores e fundadoras, descartando as coisas que não são essenciais; o diálogo contínuo com o homem e a mulher de hoje para nos atualizarmos continuamente sobre as questões do nosso tempo.

Um papel central, nessa passagem necessária, cabe à espiritualidade de comunhão vivida com intensa generosidade e convicção em todas as direções dos nossos relacionamentos.

Este Capítulo que começa hoje para vós Salesianos pode ser verdadeiramente um momento de graça para impulsionar a renovação da Sociedade de São Francisco de Sales. Saudações.









ANEXO 3



Carta dos Jovens aos Capitulares90


Caros Salesianos, que sois nossos pais, mestres e amigos,

escrevemos esta carta com o coração. Passamos esta semana do Capítulo Geral 28 escutando, discernindo, participando do diálogo em curso sobre “Qual Salesiano para os jovens de hoje”. Sabemos bem que não somos perfeitos, portanto, não é nossa intenção pedir-vos para sê-lo. Pedimos que acolhais esta carta como a de um filho ou uma filha que escreve ao próprio pai, para lhe manifestar e dizer como se sente. Como grupo, voltamos a nossa atenção a estas duas questões em particular. Em seguida, encontrareis o fruto do esforço comum.



Qual é a condição atual dos jovens em nossas respectivas regiões?

O mundo em que vivemos é complexo e apresenta desafios notáveis. É difícil ser coerentemente autênticos e, por isso, temos medo, vivemos confusos, frustrados, e temos grande necessidade de ser amados. Viver a vida de fé pede-nos para percorrer os caminhos do Evangelho, mas a cultura secular desafia-nos a viver principalmente de outra maneira. Essa duplicidade torna difícil permanecer enraizados na fé.

Um resultado do nosso temor é a dificuldade que sentimos diante do comprometimento. Uma das perguntas mais frequentes que nos colocamos é: “O que fazer da minha vida?”. Isso é sentido quando refletimos sobre a vocação. O desejo intenso de ter sucesso leva à incerteza e não nos deixa alcançar a verdadeira felicidade. A realidade com que nos defrontamos é feita de falta de emprego, abandono dos itinerários acadêmicos, falta de motivação para os estudos.

Acreditamos que a nossa sociedade é individualista e que, muitas vezes, também nós somos individualistas. Como não nos sentimos amados pela sociedade, refugiamo-nos diante dos monitores e fugimos do contato humano. Não penseis que não nos importe o mundo que nos rodeia, mas é difícil em nossa sociedade líquida, e às vezes desumanizada, empenhar-se de maneira altruísta nas necessidades do outro. Vós, porém, ainda tendes a capacidade de despertar em nós jovens a vocação cristã pelo nosso próximo, e isso pode transformar a nossa vida e o mundo que nos rodeia, justamente como fez Dom Bosco com Miguel Magone.

Somos críticos e desejamos que a Igreja se posicione ao nosso lado sobre as questões que mais de perto nos dizem respeito. Sentimo-nos desanimados e, com frequência, não entendemos o que a Igreja diz e faz sobre as questões de gênero, da mulher, da diversidade sexual e da ecologia sustentável. Além disso, é normal para nós conversar sobre o bem-estar cognitivo, social e emotivo e sobre as mudanças climáticas, realidades sobre as quais a Igreja ainda é hesitante no seu discurso. Não se trata apenas de uma exigência dos jovens: é o que o Evangelho nos pede.

Mesmo com nossos desafios, estamos mais dinâmicos do que nunca, sintonizados com as novas tendências, entre as quais, sem mais, o mundo digital, criativos e prontos a explorar; mas queremos ser acompanhados em tudo o que faz parte de nós (mente, corpo, alma).

Para nós, ser jovens é um estado do coração, não definido pela nossa idade. Como afirma o Papa na Christus Vivit, n. 34, queremos ser capazes de retornar ao primeiro amor que é Cristo, àquele ser companheiro e amigo dos jovens que é próprio dele. Temos um desejo intenso de realização espiritual e pessoal. Queremos caminhar no crescimento espiritual e pessoal e queremos fazê-lo convosco, Salesianos.



Como queremos que os Salesianos de hoje estejam presentes e sejam participantes nas diversas realidades dos jovens?

Fomos capazes de sintonizar os nossos corações e os nossos sonhos. Destes-nos a oportunidade de entrar em contato, de conectar-nos convosco, Salesianos, e vos queremos ao nosso lado. Já o fizestes com o vosso estilo salesiano. Viver conosco, lado a lado, permitindo-nos ser protagonistas.

Entendemos que os Salesianos são pais que nos acompanham. Gostaríamos que fosseis aqueles que nos orientam, no interior da nossa realidade, com amor. Um amor que não diz o que devemos dizer, um amor que não diz o que devemos fazer, um amor que nos oferece oportunidades que nos ajudam a crescer em espiritualidade e transformar as nossas vidas. Queremos que vivais no nosso mundo, do mesmo modo que queremos a nossa família participando de todos os aspectos da nossa vida quotidiana, ou seja, tanto a realidade física como a digital.

Nós vos pedimos que nos deis capacidade e energia para liderarmos juntos a transformação da Igreja. Acreditamos na necessidade de dar plena expressão ao papel da mulher na Igreja. Acreditamos ser impossível crescer como Salesianos sem o papel da mulher em nossas vidas. Tomamos como exemplo a contribuição extraordinária de Margarida Occhiena como mãe do Oratório. Acreditamos que as mulheres podem colaborar em igualdade com os Salesianos para aprenderem juntos a acompanhar os jovens de modo adequado e eficaz. Acreditamos que os Salesianos devem caminhar na aprendizagem da cultura da inclusão. Acreditamos que os Salesianos devem ser os primeiros a aprender a trabalhar eficazmente por todos os jovens independentemente de suas preferências (LGBTQ +, raça, migrantes, indígenas, etnia, religião). Desejamos o acompanhamento integral de todas as pessoas, qualquer que seja o contexto em que vivam.

Acreditamos que para poder acompanhar os outros é preciso uma contínua e genuína experiência de ser pessoalmente acompanhado por outros. Acreditamos que os próprios Salesianos precisam de acompanhamento e estamos aqui para caminhar convosco. Acreditamos que esse tipo de experiência e encontro é benéfico para toda a Família Salesiana. Estamos em plena sintonia com o Papa Francisco no que escreve na Christus Vivit, n. 242-245, quando se refere de modo direto e explícito à importância do acompanhamento.

É muito importante para nós que os Salesianos retornem às suas raízes, estando presentes fora dos papéis administrativos para estar com os jovens em todos os contextos. Queremos recordar-vos que não podeis ser definidos e limitados apenas pelo papel ou posição que ocupais na vossa comunidade.

Sem dúvida, também acreditamos que é de vital importância para os Salesianos serem muito claros quanto ao respeito aos justos limites e espaços. Como jovens, estivemos e continuamos a estar preocupados com os escândalos dos abusos na Igreja. Salesianos, sede líderes positivos nesse campo e tomai iniciativas para proteger os vossos jovens.

É vital para o nosso desenvolvimento que continue o nosso crescimento espiritual. Enquanto continuamos a avançar no nosso caminho de vida, queremos dar voz ao nosso desejo de estar a serviço de Deus com o Carisma salesiano. Pedimos aos Salesianos que nos envolvam nos processos de decisões que tocam o que é essencial e importante. Somos complementares na missão, não uma parte separada da missão.

Salesianos, não vos esqueçais de nós jovens porque nós não nos esquecemos de vós e do Carisma que nos ensinastes! Queremos vos dizer com força, de todo o coração: estar aqui foi para nós um sonho que se tornou realidade, neste lugar especial que é Valdocco, onde a missão salesiana começou, com Salesianos e jovens para a missão salesiana, com a nossa vontade comum de juntos sermos santos. Tendes os nossos corações em vossas mãos. Cuidai desse vosso tesouro precioso. Por favor, jamais vos esqueçais de nós e continuai a escutar-nos.



Turim, 7 de março de 2020.






ANEXO 4


DISCURSO DO REITOR-MOR,

P. Ángel Fernández Artime,

No encerramento do CG28




Caríssimos Irmãos,

não vos parece que Deus nos tenha realmente falado, e com abundância, nestas quatro semanas, mesmo não tendo chegado a um documento capitular votado e aprovado, devido ao encerramento antecipado dos nossos trabalhos, causado pela pandemia do coronavírus?

Repensando sobre o nosso Capítulo-Geral, não acreditais que Deus nos tenha falado fazendo-nos sentir intensa a presença de Dom Bosco, nosso amado Pai? Não acreditais que Deus nos tenha falado através da belíssima experiência de fraternidade que vivemos?

A resposta a essas perguntas, que fiz a mim antes que a vós, é um sim convicto!



Os dons do Capítulo



Caros Irmãos, creio que estamos todos concordes ao reconhecer a beleza da nossa fraternidade, da alegria do encontro com o irmão como ele é. Essa realidade não resulta de uma estratégia. É fruto do Espírito, expressão madura da Congregação e do trabalho de quem tem agora a responsabilidade do governo e da animação das Inspetorias.

Pergunto-vos ainda: não acreditais que Deus nos tenha falado muito neste clima de fé e honestidade com que fizemos o discernimento e as votações? Eu acredito que sim. Não acreditais que o Senhor nos tenha falado com a proteção extraordinária de Maria Auxiliadora? Eu acredito que sim. Deus falou-nos muitíssimo neste Capítulo-Geral, mesmo se não completamos o caminho necessário para chegar a um documento capitular a submeter à aprovação final da Assembleia.

Caros Irmãos, não permitais que prevaleça em vossos corações a desilusão pelo fato de retornar às Inspetorias sem concluir os trabalhos capitulares. Eu acredito que o mais essencial não é o “horizonte não alcançado”. Não vamos embora de mãos vazias: levamos conosco as reflexões que compartilhamos nestas semanas e sintetizamos num primeiro rascunho, confiado ao Reitor-Mor e ao Conselho-Geral. Temos, também, o magistério da Congregação até hoje, em especial o do CG24, sobretudo em relação à missão compartilhada entre Salesianos e leigos. Recebemos, enfim a belíssima e programática Mensagem do Santo Padre ao CG28. Esses elementos permitem-nos alargar o olhar, com serenidade e grande confiança, à realidade que nos espera.



Um olhar para o futuro: objetivos e desafios



A segunda parte da minha reflexão, muito breve, quer ser um olhar para o futuro.

Começo dizendo-vos que me impressionou muitíssimo um agradecimento recebido ontem à noite, antes de entrar na Basílica para a oração. Um dos presentes, um irmão capitular de uma nação do Leste Europeu, aproximou-se e disse-me: “Caro Reitor-Mor, quero agradecer-te por ter tornado possível a recuperação destes santos Lugares Salesianos. E quero dizer-te que precisamos de ajuda para a nossa identidade: não nos deixeis sozinhos”. Respondi: “Eu também te agradeço, mas muito dessa recuperação é fruto do Capítulo-Geral precedente, com a sua deliberação que, por muitos motivos, tenho como profética, de renovar, potencializar, os Lugares Santos Salesianos, coração do nosso carisma. Depois, alguns de nós puderam fazer alguma coisa para concretizar essa deliberação”.

Sobre os lugares salesianos, caros Irmãos, no meu modo de ver, a coisa mais bela que podeis fazer é esta: retornai às vossas Inspetorias dizendo a todos os irmãos que aqui está a Casa de todos. Estes lugares são os lugares do nosso sonho carismático, são o berço onde nasceram todos os Salesianos do mundo, porque o carisma nasceu aqui. São lugares para onde todos podem dirigir-se, porque todos os Salesianos têm o direito de sentir, ao menos uma vez na vida, a emoção de estar aqui em Valdocco. Agradeço vivamente o Inspetor do Piemonte, que provê à guarda destes lugares. Prometi e continuo a prometer-lhe e à ICP que não os deixaremos sozinhos na atenção dada a este extraordinário patrimônio, que é de toda a Congregação.

Voltando ao diálogo de ontem à noite, disse depois ao irmão: “Prometo-te que não vos deixaremos sozinhos a trilhar o vosso caminho de identidade”.

  1. Esse é o primeiro objetivo, o primeiro desafio que temos à frente: crescermos todos, em todas as Inspetorias, em todas as Regiões na identidade carismática, na identidade e na espiritualidade salesiana. Disso, todos precisamos, em algumas Inspetorias ou em algumas Regiões de maneira particular. Fiquemos atentos: ter novas profissões salesianas não é garantia de uma identidade forte. Não é a mesma coisa. Deve-se garantir a identidade, mediante uma atenção específica e um cuidado maior. Vimos, com clareza nestes anos que, em alguns casos, pequenas ou grandes dificuldades dos irmãos dependem em grande medida da falta de identidade, como eu disse na relação inicial. Estou certo que no programa de animação e governo do próximo sexênio esta será uma prioridade: garantir a identidade carismática em todos os Salesianos. Como dizia, não basta fazer a primeira profissão para dizer “tenho a plena identidade salesiana”. Ela é um caminho, às vezes, muito trabalhoso; mas se trata de um desafio fascinante, que dá tanta beleza e força à nossa Congregação.

  2. O segundo desafio para o nosso programa é retornar a Dom Bosco, como já nos exortava o P. Pascual Chávez durante o seu reitorado. Devemos retornar sempre mais a Dom Bosco, e isso significa: amar os jovens. Eles mesmos nos pediram para serem amados. Consequentemente, como salesianos, todos nós somos chamados à presença entre os jovens. A isso, eu chamo, com uma expressão que creio intuitiva, “sacramento salesiano” da presença. É um “sacramento” indispensável para caminhar com os adolescentes e os jovens, para fazê-los descobrir que são amados por Deus, que realmente “Deus é amor” (1Jo 4,8). Para nós e para eles. Só assim seremos realmente “evangelizadores dos jovens. É esse, eu creio, o significado de “retornar sempre mais a Dom Bosco”. Trata-se hoje de uma tarefa e um desafio, mesmo se não partimos do zero.

  3. O terceiro desafio é formar Salesianos como Dom Bosco faria hoje. Caros Irmãos capitulares, estou convencido de que a formação, não qualquer formação clerical, mas a boa formação salesiana é uma prioridade. Por isso, o empenho em continuar a formar formadores é, por sua vez, prioritário. Devemos preocupar-nos, sobretudo, com as equipes das nossas casas de formação, para que sejam verdadeiramente salesianas e não elitistas: essa atenção é a garantia de um futuro autenticamente salesiano. Nenhum genericismo: todo o trabalho formativo deve ser marcado pelo verdadeiro espírito salesiano. Este terceiro desafio envolve toda a formação dos Salesianos, tanto a permanente como, de modo especial, a inicial.

  4. Quarto desafio: eu sonho que dizer hoje “Salesianos de Dom Bosco” signifique consagrados “loucos”, isto é, Salesianos que amam com verdadeiro coração salesiano, quem sabe também “um pouco louco”, orientado para os mais pobres. Caríssimos, se nos afastarmos dos mais pobres será a morte da Congregação. Disse-o Dom Bosco ao falar da pobreza e da riqueza. Permito-me especificar mais: se nós um dia abandonarmos os jovens, e entre eles os mais pobres, começará o declínio da Congregação. Uma Congregação que, graças a Deus, goza hoje de boa saúde, para além das nossas fragilidades! Prestemos atenção então àquela que considero uma autêntica “deliberação” capitular, embora não em sentido próprio, pois o seu conteúdo já está nas nossas Constituições: opção radical, preferencial, pessoal, institucional e estrutural – enfim, de todos os pontos de vista – pelos jovens mais necessitados, pobres e excluídos. É uma opção que se manifesta de modo especial na defesa dos adolescentes e jovens explorados e vítimas de toda forma de abuso: do abuso sexual à violência, da injustiça ao abuso de poder. Este quarto ponto é um belíssimo compromisso que devemos trazer no coração. Um sexênio guiado por essa luz produzirá muita vida.

  5. Quinto desafio. Acredito que esta é a hora da generosidade no interior da Congregação, não só com o dinheiro, mas sobretudo com a generosidade e disponibilidade de irmãos, para podermos abrir novas presenças. Ao menos por três motivos: primeiro, a nossa obra é solicitada em todas as latitudes, especialmente nos contextos mais pobres; segundo, podemos criar presenças e trabalhar entre os refugiados, uma pobreza terrível e nova; terceiro, podemos estabelecer-nos em novos lugares de missão. Caros Irmãos, todos nós pertencemos a Deus e a uma única Congregação, somos todos Salesianos de Dom Bosco para o mundo. Creio que no próximo sexênio essa abertura de horizonte se tornará ainda mais realidade: com a disponibilidade dos irmãos, com a resposta generosa das Inspetorias que têm maiores possibilidades de oferecer recursos a outras Inspetorias, todavia com a orientação do Reitor-Mor e seu Conselho, mirando sempre a universalidade. Vivemos um tempo a ser enfrentado com mentalidade renovada, que saiba ultrapassar as fronteiras. Num mundo em que as fronteiras correm o risco de se fecharem sempre mais, a profecia da nossa vida consiste também nisto: demonstrar que não existem fronteiras para nós. A única realidade que temos é Deus, o Evangelho e a missão.

  6. O último desafio refere-se à Família Salesiana. Nestes anos, trabalhamos bem, para além do cansaço de alguns delegados, visando cada um dos Grupos. Durante o Capítulo vimos que os tempos ainda não parecem maduros para dar novos passos. Contudo, a Família Salesiana, juntamente com a realidade da missão compartilhada com os leigos, será o ponto de chegada e a garantia da missão salesiana. Não pode ser apenas um campo de ação para ocupar a vida de algum irmão ou criar um pouco de amizade. É um elemento carismático essencial, hoje muito mais forte do que nos tempos de Dom Bosco, porque em 160 anos teve grande desenvolvimento. Por isso, convido-vos a continuar a acreditar com convicção na Família Salesiana. Ela não é igual em todos os lugares em que a Congregação está presente. Em algumas partes, é uma belíssima realidade, em outras, ainda está começando. Também nesse âmbito, espera-se um grande empenho.



Algumas brevíssimas conclusões:



  1. Obrigado a todos vós pelo dom do novo Conselho Geral. É uma renovação a ser acolhida com visão de fé. Creio que um dos belíssimos frutos deste Capítulo, como sempre o foi, é o dom do Conselho-Geral. Estou convencido de que, como Conselho, assumimos com profunda visão de fé, o desejo de uma intensa fidelidade ao Senhor e a Dom Bosco, com grande capacidade de planejamento. Tudo o mais poderíamos fazê-lo com as nossas competências, as nossas relações e os talentos de cada um. Com grande serenidade digo-vos obrigado pelo novo Conselho.

  2. Refleti nestes dias e acredito, como Reitor-Mor, que a minha primeira ação para a animação das Inspetorias será animar os Exercícios Espirituais por Regiões, ou por Conferências nas Regiões, para Inspetores e membros dos Conselhos Inspetoriais, a fim de transmitir o fruto do CG28, um Capítulo-Geral muito especial, e assumir os grandes desafios que estamos individualizando e que nos esperam.

  3. Agradeço-vos, ainda, pela grande comunhão que há entre nós.

  4. Esta é a grande esperança que levamos, e da qual estamos profundamente convencidos: procuremos enriquecer a Igreja com o dom do carisma salesiano para a salvação dos jovens.

Caros Irmãos, de todo o coração, obrigado!



Turim, 13 de março de 2020.





ANEXO 5


CRÔNICA DOS TRABALHOS DO CG28



Sábado 15 de fevereiro, chegada a Valdocco, onde há uma grande organização logística e informática para a acolhida e a acomodação.

Domingo 16, à tarde, início do Capítulo-Geral com a saudação de boas-vindas do Reitor-Mor, algumas informações e procedimentos técnicos, a concelebração eucarística de abertura do Capítulo presidida pelo Reitor-Mor, com a homilia ao redor de três palavras-chave: docilidade – fidelidade – esperança.



Primeira semana: 17-22 de fevereiro

Segunda-feira 17, apresentação da relação dos Conselheiros de Setor e dos Conselheiros-Regionais (primeira parte), com boa-noite do Card. Cristóbal López S.D.B., Arcebispo de Rabat (Marrocos).

Terça-feira 18, continuação da apresentação da relação concluída com a do Reitor-Mor que, além de prestar constas do sexênio e examinar o estado de saúde da Congregação, recorda os desafios que a Congregação precisou enfrentar, oferecendo, ao mesmo tempo, um olhar de esperança pelo futuro, a fim de exorcizar a tentação de desânimo.

Quarta-feira 19, primeiro dia de espiritualidade com uma reflexão do P. Rossano Sala sobre o tema do primeiro núcleo “Centralidade da missão entre os jovens”. A manhã termina com a Eucaristia presidida pelo P. Sala. À tarde, tem início o estudo da relação do Reitor-Mor com referência aos Setores. Após o jantar, concerto na Basílica por ocasião dos 250 anos do nascimento de Ludwig van Beethoven.

Quinta-feira 20, segundo dia de espiritualidade, com uma reflexão do P. Eunan Mc Donnel sobre o tema do segundo núcleo “Perfil do Salesiano para os jovens de hoje”. Segue a Eucaristia no final da manhã, presidida pelo P. Eunan. Como no dia anterior, à tarde, há o estudo da relação, desta vez por Regiões.

Sexta-feira 21, terceiro dia de espiritualidade, com uma reflexão do P. Koldo Gutiérrez sobre o tema do terceiro núcleo “Com os leigos na missão e na formação”; a Eucaristia no final da manhã é presidida pelo Card. Oscar Andrés Rodríguez Maradiaga. À tarde, conclui-se o estudo por Regiões da Relação do Reitor-Mor sobre o estado da Congregação.

Sábado 22, dia de abertura oficial do CG28, que começa com a Eucaristia na Basílica, presidida pelo Card. João Braz de Aviz, Prefeito para a Congregação dos Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, e continua depois do café da manhã com a cerimônia na aula magna: saudações, mensagem do Card. Braz de Aviz e discurso de abertura do Reitor-Mor.

A manhã é concluída com o almoço, ao qual segue tempo livre para reuniões até segunda-feira 24 de fevereiro.



Segunda semana: 24-29 de fevereiro

Segunda-feira 24, a primeira parte do dia começa com a Assembleia para escolha do lugar na aula, eleição dos secretários e moderadores, funcionamento das traduções e votações, apresentação do Regulamento do Capítulo e escolha das comissões. À tarde, comentários às propostas de alteração do Regulamento e, em seguida, primeiro encontro das comissões para a eleição do presidente, porta-voz e secretário. À tarde, antes das Vésperas e do boa-noite, o Reitor-Mor faz saber que, devido à emergência do coronavírus, somos chamados a ser muito responsáveis para não expor a nós ou outros, e a obedecer às ordens do Estado que proibiu entre outras coisas os movimentos de grupos em ônibus. Por essa razão, cancela-se a ida ao Colle Don Bosco e Chieri para o dia de retiro previsto na “quarta-feira de cinzas”.

Terça-feira 25, Festa dos protomártires salesianos da China, S. Luís Versiglia e S. Calisto Caravario. Na primeira parte do dia, apresentação do instrumento de trabalho sobre o tema capitular feita pelo P. Andrea Bozzolo, seguindo-se a segunda síntese dos desafios individuados pelas Regiões depois do estudo da relação sobre o estado da Congregação e, em seguida, a do instrumento de trabalho sobre elementos jurídicos, seguindo-se a votação do Regulamento. Na segunda parte, respostas do Reitor-Mor e dos membros do Conselho-Geral às perguntas feitas pelas Regiões e por irmãos como fruto do estudo da relação sobre o estado da Congregação.

Quarta-feira 26, início da Quaresma, com a “quarta-feira de cinzas”. Pela manhã, celebração da Palavra presidida pelo P. Pascual Chávez, que oferece uma meditação sobre a “Carta de Roma” de 1884 – O Evangelho de Dom Bosco – seguindo-se um tempo para oração pessoal, adoração eucarística e confissões. À tarde, encontro nas comissões para eleição do representante na comissão de redação e organização em grupos de trabalho. O dia é concluído com a celebração eucarística presidida pelo P. Pascual Chávez.

Quinta-feira 27, primeiramente, encontro em Assembleia para aprovação das atas dos dias anteriores e informação do procedimento para o trabalho em comissões; depois, nas comissões, ao longo de todo o dia, estudo da primeira parte (‘reconhecer’) do primeiro núcleo “A prioridade da missão salesiana entre os jovens de hoje”.

Sexta-feira 28, dia inteiro nas comissões para o estudo da segunda parte (‘interpretar) do primeiro núcleo “A prioridade da missão salesiana entre os jovens de hoje”; o dia termina com a Via-Sacra organizada pela Região Ásia Este – Oceania.

Sábado 29, no primeiro tempo em Assembleia, oração das Laudes e lectio divina feita pelo P. Andrea Bozzolo, sobre “O discípulo amado na Última Ceia”, e, mais tarde, trabalho nas comissões para a terceira parte (‘escolher’) do primeiro núcleo; a manhã termina ao meio-dia com a Eucaristia presidida pelo Arcebispo de Turim, Dom Cesare Nosiglia. Tempo livre até segunda-feira 2 de março.



Terceira semana: 2-7 de março

Segunda-feira 2, manhã de trabalho em comissão para concluir o primeiro núcleo, com a participação dos jovens vindos para esta semana. À tarde, Assembleia para a leitura e aprovação das atas, apresentação do subsídio do Dicastério para a Formação “Jovens Salesianos e acompanhamento. Orientações e diretrizes”, e apresentação das propostas da Comissão Jurídica, retornando-se em seguida às comissões.

Terça-feira 3, manhã em Assembleia para aprovação da ata, apresentação da síntese de cada uma das 4 comissões sobre o primeiro núcleo do tema, seguindo-se um tempo de debate. À tarde, trabalho em comissão para a primeira parte do segundo tema “Qual formação do Salesiano para os jovens de hoje?”.

Quarta-feira 4, manhã em assembleia para a aprovação da ata, prova técnica de votação eletrônica, que, depois de muitas intervenções e insatisfação decide-se adiá-la, e primeiro debate sobre os temas jurídicos, com a intervenção de muitos capitulares. À tarde, trabalho em comissão ainda sobre a primeira parte do segundo tema.

Quinta-feira 5, manhã de trabalho em comissão, novamente sobre a segunda parte do segundo núcleo. À tarde, no primeiro tempo, encontro em Assembleia para comunicações importantes do Reitor-Mor sobre a situação de emergência na Itália devido à epidemia do coronavírus (levar a sério as medidas predispostas pelo Estado italiano, pede-se para apresentar um perfil baixo como grupo de capitulares, não se pode dar nenhuma informação a ninguém do que acontece no Capítulo, anulam-se todas as visitas e os encontros, também aquele com a presença dos leigos que tinham sido convidados para o Capítulo); em seguida, faz ouvir a saudação do Papa Francisco, que desejara vir encontrar-nos, mas não o podendo fazer enviou uma mensagem; e, enfim, apresenta-nos a eventualidade de antecipar as eleições do Reitor-Mor e do Conselho-Geral, devido à incerteza da evolução da epidemia que poderia levar à conclusão intempestiva do Capítulo-Geral sem ter eleito o governo da Congregação. Após estas informações, passa-se a duas votações-sondagem propostas pela comissão jurídica. No último tempo de trabalho, tem início o estudo da terceira parte (‘escolher’) do secundo núcleo.

Sexta-feira 6, primeiro tempo de trabalho em aula para leitura e aprovação da ata, votação sobre a antecipação das eleições, com resultado positivo, e, no segundo tempo, votação dos elementos jurídicos. À tarde, trabalho nas comissões sobre a terceira parte do segundo núcleo.

Sábado 7, pela manhã, em Assembleia, oração das Laudes e lectio divina oferecida pelo P. Andrea Bozzolo sobre “O discípulo amado aos pés da cruz”. No primeiro tempo de trabalho, leitura e aprovação da ata, seguindo-se a votação definitiva dos elementos jurídicos apresentados no dia anterior. No segundo tempo de trabalho, escuta dos jovens. Eles pedem a nossa presença entre eles, escuta, acompanhamento, confiança, participação caminhando juntos e, sobretudo, amor. Ao final da intervenção dos jovens, o Reitor-Mor benze a estátua de Mamãe Margarida colocada diante da Casa “Pinardi”; em seguida, na Basílica, celebração eucarística presidida pelo P. Fabio Attard.



Quarta semana: 9-14 de março

Segunda-feira 9, primeiro tempo em Assembleia para a leitura e aprovação da ata, seguindo-se a apresentação da primeira versão do primeiro núcleo “Prioridade da missão salesiana entre os jovens de hoje”. No segundo tempo, estudo em comissão para a primeira reação sobre o tema e algumas sugestões. À tarde, em Assembleia, P. Pierluigi Nava, SMM, Subsecretário da CIVCSVA, convidado para orientar o discernimento para as eleições, introduz esta faze do Capítulo-Geral com uma reflexão sobre “O discernimento em perspectiva eclesial”, seguido de um tempo de oração e reflexão pessoal, com as Vésperas na Basílica e tempo de adoração eucarística depois do jantar.

Terça-feira 10, pela manhã, Eucaristia na Basílica, presidida pelo P. Nava que, no primeiro tempo de trabalho em aula, apresenta a segunda reflexão “Eleição, discernimento e formação do consenso”, seguida de um momento de oração e reflexão pessoal. No segundo tempo, em comissões, procede-se ao discernimento em vista da eleição do Reitor-Mor. À tarde, no primeiro tempo, continua-se o processo, que termina com a entrega das perspectivas ao orientador que, no quarto tempo, apresenta em aula o resultado do discernimento nas comissões com dois nomes que receberam o maior número de preferências: P. Ángel Fernández Artime e P. Fabio Attard. Depois do jantar, hora de adoração eucarística.

Quarta-feira 11, pela manhã, Eucaristia na Basílica e, no primeiro tempo de trabalho em aula, eleição dos secretários e escrutinadores para as votações; em seguida votação e eleição do Reitor-Mor: P. Ángel Fernández Artime é reeleito para o segundo sexênio. Nos dois tempos seguintes de trabalho, volta-se às comissões para o discernimento em vista da eleição do Vigário do Reitor-Mor. Depois das Vésperas o Reitor-Mor dá o boa-noite. Após o jantar, uma hora de adoração eucarística.

Quinta-feira 12, pela manhã, Eucaristia na Basílica, presidida pelo Reitor-Mor com a homilia centrada na figura do “bom pastor”. No primeiro tempo de trabalho em aula, votação-sondagem entre os candidatos e eleição do Vigário do Reitor-Mor, P. Stefano Martoglio. Em seguida, passa-se às comissões por Regiões para individuar os candidatos a Conselheiros dos diversos setores (Formação – Pastoral Juvenil – Comunicação Social – Missões e Economia). Ao mesmo tempo, acontece uma reunião com um pequeno grupo de capitulares (P. Stefano Martoglio, P. Enrico Stasi, P. Pier Fausto Frisoli, P. Rossano Sala, P. Pascual Chávez) convocados pelo Reitor-Mor para pensar no que fazer diante das medidas obrigatórias do governo na emergência do coronavírus, levando à decisão de concluir o CG28 na manhã de sábado com a Santa Missa, depois do que os Irmãos poderão partir. Isso significa que as eleições dos Conselheiros deverão ser concluídas até a noite de sexta-feira e, num ato da Assembleia, confiar ao Reitor-Mor e seu Conselho o trabalho feito sobre o instrumento de trabalho em vista do documento capitular. Antes do almoço, volta-se, então, à aula para a comunicação oficial do Reitor-Mor sobre a decisão tomada em relação à conclusão do Capítulo.

Na primeira parte da tarde, continua-se o trabalho em comissões por Regiões, que entregam os nomes dos candidatos a Conselheiros. Na segunda parte, em Assembleia, passa-se à votação-sondagem e à eleição dos Conselheiros: Formação, P. Ivo Coelho; Pastoral Juvenil, P. Miguel Ángel García Morcuende, que não era capitular; Comunicação Social, P. Gildásio dos Santos; Missões, P. Alfred Maravilla; Economia, Sr. Jean Paul Muller. Após as Vésperas, o P. Stefano Martoglio dá o boa-noite.

Sexta-feira 13, pela manhã, Eucaristia na Basílica, presidida pelo P. Stefano Martoglio e, no primeiro tempo, trabalho em comissões por Regiões em vista da eleição dos candidatos a Conselheiro-Regional e, no segundo tempo de trabalho, eleições. Os resultados são estes: África e Madagascar, P. Alphonse Owoudou (AFO); América Cone Sul, P. Gabriel Romero (ARN); Ásia Este – Oceania, P. Joseph Phuoc Nguyen (VIE); Ásia Sul, P. Michael Biju Pulianmackal; Europa Centro Norte, P. Roman Jachimowicz (PLN); Interamérica, P. Hugo Orozco (MEG); Mediterrânea, P. Juan Carlos Pérez Godoy.

À tarde, foto-recordação do CG28 diante do monumento de Dom Bosco, seguindo-se, em aula, o filme sobre Artêmides Zatti e, no último tempo de trabalho, Discurso de Encerramento do Reitor-Mor e Declaração de Encerramento do CG28. O dia é concluído na Basílica, com as Vésperas, o canto do Te Deum e a entrega da Cruz do Bom Pastor. Depois do jantar, festa pelo Reitor-Mor e o novo Conselho-Geral.

Sábado 14, pela manhã, na Basílica, Eucaristia final presidida pelo Reitor-Mor.

Após o café da manhã, começam as partidas para os diversos lugares de proveniência dos capitulares.

Ao almoço, faz-se de maneira muito simples memória do 80º aniversário da Universidade Pontifícia Salesiana de Roma (UPS). E, ao final, o P. Ángel convida um grupo de capitulares para visitar o canteiro de obras da Casa-Museu Dom Bosco, que se apresenta muito bonita e será um grande presente à Congregação e a toda a Família Salesiana porque reconstrói as diversas fases da “casa mãe”, do seu desenvolvimento e da atual presença no mundo.





ELENCO DOS PARTICIPANTES

DO CAPÍTULO-GERAL 28


Conselho-Geral


01PFERNÁNDEZ ARTIME ÁngelReitor-Mor - Presidente

02PCEREDA FrancescoVigário do Reitor-Mor

03P COELHO IvoConselheiro para a Formação

04P ATTARD FabioConselheiro para a Pastorale Giovanile

05PBASAÑES GuillermoConselheiro para as Missões

06PGONZÁLEZ Plascencia FilibertoConselheiro para a Comunicação Social

07LMULLER Jean PaulEcônomo-Geral

08PCHAQUISSE AméricoConselheiro Regional

09PKANAGA Maria ArokiamConselheiro Regional

10PKLEMENT Václav Conselheiro Regional

11PMARTOGLIO StefanoConselheiro Regional

12PPLOCH TimothyConselheiro Regional

13PROZMUS TadeuszConselheiro Regional

14PVITALI NataleConselheiro Regional

15PVANOLI StefanoSecretário-Geral - Regulador

16PFRISOLI Pier FaustoProcurador-Geral


17 PCHÁVEZ VILLANUEVA Pascual Reitor-Mor Emérito


Região salesiana: ÁFRICA E MADAGASCAR


18PJIMÉNEZ CASTRO ManuelSup. Visit.África Congo Congo

19PITSIEKI MANZANZA AlfredDelegadoÁfrica Congo Congo


20PTESFAY Hailemariam MedhinSup. Visit.África Etiópia

21PLAVENTURE Ignacio DelegadoÁfrica Etiópia


22PKITUNGWA AlbertInspetorÁfrica Central

23PKALUMBU BESA Dieudonné DelegadoÁfrica Central

24PCABALA UMBI Didier DelegadoÁfrica Central


25PLIPUKA Simon AsiraInspetorÁfrica Este

26PSELLAM Augustine DelegadoÁfrica Este

27LNJUGUNA NgigiDelegadoÁfrica Este


28PTHEKUMCHERIKUNNEL Joy SebastianSup. Visit.África Meridional

29PTLAILE LingoanDelegadoÁfrica Meridional


30PELÉGBÉDÉ JoséInspetorÁfrica Ocidental Francófona

31PBADJI Jésus Benoît DelegadoÁfrica Ocidental Francófona


32PKARIKUNNEL MichaelInspetorÁfrica Ocidental Anglófona

33PKPEN-ANA PeterDelegadoÁfrica Ocidental Anglófona


34PNGOBOKA Pierre CélestinSup. Visit.África Grandes Lagos

35PTURABANYE Jean-PierreDelegadoÁfrica Grandes Lagos

36PSEQUEIRA GUTIERREZ Victor LuisSup. Visit.Angola

37PLUCAS Manuel CambanjeDelegadoAngola


38POWOUDOU AlphonseSup. Visit.África Tropical Equatorial

39PELA ENAM André Young DelegadoÁfrica Tropical Equatorial


40PRANDIMBISOA Charles ArmandSup. Visit.Madagascar

41PBIZIMANA InnocentDelegadoMadagascar


42PSARMENTO Adolfo de JesusSup. Visit.Moçambique

43PMATAVELE Arlindo AlbertoDelegadoMoçambique


44PRYCHCIK KrzysztofSup. Visit.Zâmbia-Malauí-Namíbia-Zimbábue

45PKUNDA ChristopherDelegadoZâmbia-Malauí-Namíbia-Zimbábue


Região salesiana: AMÉRICA CONE SUL


46PROMERO Hector GabrielInspetorArgentina Norte

47LSAADE Osvaldo FernandoDelegadoArgentina Norte


48P PERERA Darío RamónInspetorArgentina Sul

49LCAMILETTI AgustínDelegadoArgentina Sul


50PSANTOS GildásioInspetorBrasil Belo Horizonte

51PSACRAMENTO Ricardo Sávio doDelegadoBrasil Belo Horizonte


52PCARLOS RicardoInspetorBrasil Campo Grande

53POLIVEIRA AdemirDelegadoBrasil Campo Grande


54P SANTOS Jefferson LuisInspetorBrasil Manaus

55PDA CUNHA Daniel OliveiraDelegadoBrasil Manaus


56PDA SILVA Gilson MarcosInspetorBrasil Porto Alegre

57PSANTOS Renato dosDelegadoBrasil Porto Alegre


58P PESSINATTI Nivaldo LuizInspetorBrasil Recife

59PVIEIRA Francisco InácioDelegadoBrasil Recife


60PPICCININI Justo ErnestoInspetorBrasil São Paulo

61LOLIVEIRA Marcelo dos SantosDelegadoBrasil São Paulo


62PLIRA CarloInspetorChile

63PALBORNOZ DavidDelegadoChile


64PVILLALBA MarioInspetorParaguai

65LCÁCERES CristóbalDelegadoParaguai


66PBAUER AlfonsoInspetorUruguai

67PPÉREZ JorgeDelegadoUruguai


Região salesiana: ÁSIA ESTE E OCEANIA


68PMATTHEWS WilliamInspetorAustrália

69PGRAHAM BernardDelegadoAustrália


70PNG JosephInspetorChina

71PLEONG DomingosDelegadoChina


72PMARTIN GerardoInspetorFilipinas Norte

73PCAMAYA JoelDelegadoFilipinas Norte


74PATIENZA GodofredoInspetorFilipinas Sul

75LVILLORDON EdwardDelegadoFilipinas Sul


76PHAMAGUCHI JacoboInspetorJapão

77PLAP MichaelDelegadoJapão


78PWONG AndrewSup. Visit.Indonésia

79PBELO LinoDelegadoIndonésia


80PCHOI TimothyInspetorCoreia

81PBAEK MarcelloDelegadoCoreia


82PSAW CharlesSup. Visit.Mianmar

83PZEY AUNG BoscoDelegadoMianmar


84PMARAVILLA AlfredSup.Visit.Papua Nova Guiné e Ilhas Salomão

85PPARAPPILLY RobinsonDelegadoPapua Nova Guiné e Ilhas Salomão


86PTHEPHARAT PITISANT John BoscoInspetorTailândia

87PNIPHON SARACHIT PeterDelegadoTailândia


88PNETO ApolinárioSup.Visit.Timor Leste

89PDe SOUSA MarioDelegadoTimor Leste


90P NGUYEN VAN QUANG GiuseppeInspetorVietnã

91PLÊ AN PHONG BarnabaDelegadoVietnã

92LNGUYEN DUC NAM DomenicoDelegadoVietnã


Região salesiana: ÁSIA SUL


93PSILVEIRA SavioInspetorÍndia Mumbai

94PPINTO AnthonyDelegadoÍndia Mumbai

95PFURTADO AdolphDelegadoÍndia Mumbai


96P GOMES NirmolInspetorÍndia Kolkata

97PCHUNKAPURA JoseDelegadoÍndia Kolkata

98PPAURIA JosephDelegadoÍndia Kolkata


99P KURUVACHIRA JoseInspetorÍndia Dimapur

100PTHOTTATHIMYALIL FrancisDelegadoÍndia Dimapur

101PPATHIKULANGARA Jerry ThomasDelegadoÍndia Dimapur


102PSANGMA JanuariusInspetorÍndia Guwahati

103LKARAKOMBIL Joby Mani (Louis)DelegadoÍndia Guwahati

104PPULIANMACKAL Biju MichaelDelegadoÍndia Guwahati


105PTHATHIREDDY Vijaya BhaskarInspetorÍndia Hyderabad

106PTHUMMA Vijaya PratapDelegadoÍndia Hyderabad


107PTHONIKUZHIYIL Joyce MathewInspetorÍndia Bangalore

108PKOROTH SivyDelegadoÍndia Bangalore

109PKUTTIANIMATTATHIL Jose DelegadoÍndia Bangalore


110PKOCHAMKUNNEL JoseInspetorÍndia Chennai

111PLOURDUSAMY Don Bosco DelegadoÍndia Chennai

112PJOSEPH AndrewDelegadoÍndia Chennai


113PKOORAPPALLIL Jose MathewInspetorÍndia Nova Délhi

114PMANIPARAMBEN DavisDelegadoÍndia Nova Délhi

115PKERKETTA ShilanandDelegadoÍndia Nova Délhi


116PFERNANDES FélixInspetorÍndia Pangim

117PTELLES CliveDelegadoÍndia Pangim


118PLYNGKOT Paul OlphindroInspetorÍndia Shillong

119PZOSIAMA JohnDelegadoÍndia Shillong

120PCHURULIYIL ManojDelegadoÍndia Shillong


121PSARPRASADAM AgilanInspetorÍndia Tiruchy

122PROYAN RicoparDelegadoÍndia Tiruchy

123P JEYARAYAN AmalaDelegadoÍndia Tiruchy


124P ALMEIDA JosephSup. Visit.Sri Lanka

125PATHTHIDIYAGE ChalanaDelegadoSri Lanka


Região salesiana: EUROPA CENTRO-NORTE


126POBERMÜLLER PetrusInspetorÁustria

127LMAYER GünterDelegadoÁustria


128PWAMBEKE WilfriedInspetorBélgica Norte

129PHAELVOET EricDelegadoBélgica Norte


130PVACULÍK PetrInspetorRepública Checa

131PŽENÍŠEK PavelDelegadoRepública Checa


132PŠUTALO TihomirInspetorCroácia

133LBEŠLIĆ DomagojDelegadoCroácia


134PFEDERSPIEL DanielInspetorFrança e Bélgica Sul

135PERNST XavierDelegadoFrança e Bélgica Sul


136PBRIODY JamesInspetorGrã-Bretanha

137PANDERSON KieranDelegadoGrã-Bretanha


138P GESING ReinhardInspetorAlemanha

139PVON HATZFELD HattoDelegadoAlemanha

140LGOLDSMITS MikeDelegadoAlemanha


141PMcDONNELL EunanInspetorIrlanda

142PHENNESSY PatrickDelegadoIrlanda


143P FORMOSA PaulSup. Visit.Malta

144PFALZON RobertDelegadoMalta


145PJARECKI TadeuszInspetorPolônia Varsóvia

146PZDZIEBORSKI JacekDelegadoPolônia Varsóvia

147PSOLARSKI PrzemysławDelegadoPolônia Varsóvia


148PJACHIMOWICZ RomanInspetorPolônia Piła

149PPOPŁAWSKI AdamDelegadoPolônia Piła

150PSZULCZYŃSKI WitoldDelegadoPolônia Piła


151PPIZOŃ JarosławInspetorPolônia Wrocław

152PMAZUR RomanDelegadoPolônia Wrocław


153PKAZNOWSKI MarcinInspetorPolônia Cracóvia

154PWOCIAL MichałDelegadoPolônia Cracóvia


155pBUČÁNY PeterVig. Inspet.Eslováquia

156PKAČMÁRY MartínDelegadoEslováquia


157PKOŠNIK MarkoInspetorEslovênia

158PKOLAR BogdanDelegadoEslovênia


159PMANÍK KarolSup. Visit.Ucrânia

160PPLATOSH AndriiDelegadoUcrânia


161PANDRÁSFALVY JánosInspetorHungria

162PVITÁLIS GáborDelegadoHungria


Região salesiana: INTERAMÉRICA


163PBATISTA FranciscoInspetorAntilhas

164PMARRERO Adán LuisDelegadoAntilhas


165PORTIZ JavierInspetorBolívia

166PROCABADO AlvaroDelegadoBolívia


167PPRADO José ÁngelInspetorAmérica Central

168PGUZMÁN RodolfoDelegadoAmérica Central


169PGÓMEZ RÚA John JairoInspetorColômbia Bogotá

170PJARAMILLO RubénDelegadoColômbia Bogotá


171PVALENCIA Luis FernandoInspetorColômbia Medellín

172PGUERRERO José ArielDelegadoColômbia Medellín


173PSÁNCHEZ FranciscoInspetorEquador

174PCÁRDENAS JuanDelegadoEquador


175PMÉSIDOR Jean-PaulInspetorHaiti

176PBONHOMME MorachelDelegadoHaiti


177POROZCO SÁNCHEZ HugoInspetorMéxico Guadalajara

178PLARA PÉREZ EduardoDelegadoMéxico Guadalajara


179POCAMPO URIBE IgnacioInspetorMéxico México

180PMORALES Paulo ArmandoDelegadoMéxico México


181PCAYO ManuelInspetorPeru

182PMEDINA PabloDelegadoPeru


183PZAK TimothyInspetorEstados Unidos Este

184PCONWAY MichaelDelegadoEstados Unidos Este


185PMONTEMAYOR TedInspetorEstados Unidos Oeste

186LVU AlphonseDelegadoEstados Unidos Oeste


187PMONTENEGRO RafaelInspetorVenezuela

188POLIVEROS Ramón AlfredoDelegadoVenezuela


Região salesiana: MEDITERRÂNEA


189PASPETTATI StefanoInspetorItália Central

190PMERLINI DanieleDelegadoItália Central

191P VERLEZZA MaurizioDelegadoItália Central

192PCOLAMEO RobertoDelegadoItália Central


193PSTASI EnricoInspetorItália Piemonte e Val d’Aosta

194PBARONE LucaDelegadoItália Piemonte e Val d’Aosta

195PDEGIORGI GiorgioDelegadoItália Piemonte e Val d’Aosta

196LTOSO GianlucaDelegadoItália Piemonte e Val d’Aosta


197PGIACOMAZZI GiulianoInspetorItália Lombardo Emiliana

198P PICCINOTTI GiordanoDelegadoItália Lombardo Emiliana

199PLEONI ErinoDelegadoItália Lombardo Emiliana


200PSANTORSOLA AngeloInspetorItália Meridional

201PROMA GianpaoloDelegadoItália Meridional


202PBIFFI IginoInspetorItália Nordeste

203PGAETAN EnricoDelegadoItália Nordeste

204PZANCHETTA SilvioDelegadoItália Nordeste


205PD’ANDREA GiovanniInspetorItália Sicília

206PCOSTA GiuseppeDelegadoItália Sicília

207PVIVIANO MicheleDelegadoItália Sicília


208PLEÓN MENDOZA Alejandro JoséInspetorOriente Médio

209PZAKERIAN SimonDelegadoOriente Médio


210PMENDONÇA José AníbalInspetorPortugal

211PFREITAS De SOUSA Juan EduardoDelegadoPortugal


212PASURMENDI MARTÍNEZ ÁngelInspetorEspanha Sevilha

213PNÚÑEZ José MiguelDelegadoEspanha Sevilha

214PMIRANDA FernandoDelegadoEspanha Sevilha

215PCANINO MiguelDelegadoEspanha Sevilha


216PPÉREZ Juan CarlosInspetorEspanha Madri

217PGARCÍA SÁNCHEZ FernandoDelegadoEspanha Madri

218PGUTIÉRREZ Luis FernandoDelegadoEspanha Madri

219PSEGURA SamuelDelegadoEspanha Madri


Universidade Pontifícia Salesiana


220PRIVA EugenioSup. Visit.UPS

221PMANTOVANI MauroDelegadoUPS


RMG – Comunidade Dependente do Reitor-Mor


222PCAMERONI PierluigiDelegadoRMG


Observadores – Convidados


223P MUÑOZ RUIZ EusebioConvidadoRMG

224P BOZZOLO AndreaConvidadoItália Piemonte e Val d’Aosta

225PSALA RossanoConvidadoItália Central

226LMETOULE DavidConvidadoÁfrica Tropical Equatorial

227LVADAKKEVETTUVAZHIYIL Sunny JosephConvidadoÍndia Dimapur

228LCHINAPPAN FrancisConvidadoÍndia Chennai

229LBECERRA ChristianConvidadoPeru

230LPÉREZ GÓMEZ MarceloConvidadoEspanha Madri

231LLOPES MarçalConvidadoTimor Leste

232PPULIKKAL JosephConvidadoÁfrica Leste

233PSORO DenisConvidadoÁfrica Ocidental Francófona

234POCHE AnthonyConvidadoÁfrica Ocidental Anglófona

235PVITO PAU PeteloConvidadoAustrália

236PSCHWEIZER ThomasConvidadoAlemanha

237PHAIDUKEVICH ViktarConvidadoPolônia Varsóvia

238PSOTO RoelConvidadoTailândia

239PLASARTE MartínConvidadoAngola

240P KETTNER SiegfriedConvidadoÁustria

241PHOBZA MartinConvidadoRepública Checa

242PTIMKO PeterConvidado Eslováquia




1 Francisco, Mensagem aos membros do CG28, Roma 4 de março de 2020. Sirvo-me desta primeira nota para dizer-vos que a minha carta será enriquecida com citações textuais da mensagem que o Papa Francisco pensou para nós como Congregação e como Assembleia capitular e que nos enviou no momento mais oportuno das nossas reflexões e dos nossos trabalhos. Dada a importância das palavras do Santo Padre, decidi não as apresentar nas notas de pé de página, mas no corpo da carta. Bastará ver o texto entre aspas para reconhecer nele a palavra do Papa.

2 Vita Consecrata, 22.

3 Francisco, Exortação apostólica Gaudete et exsultate, Roma 19 de março de 2018, 1.

4 MB XVIII, 258, citado também em nossas Constituições, art.1.

5 Cf. Francisco, Exortação apostólica pós-sinodal Christus Vivit, Roma, 25 de março de 2019, 98. A Exortação traz esta citação: «O clericalismo é uma tentação permanente dos sacerdotes, que interpretam “o ministério recebido mais como um poder a ser exercido do que como um serviço gratuito e generoso a oferecer; e isto leva a julgar que se pertence a um grupo que possui todas as respostas e já não precisa escutar e aprender mais nada”», Francisco, Discurso à primeira Congregação Geral da XV Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, Roma, 3 de outubro de 2018.

6 J. Bosco, Vida do jovem Domingos Savio, aluno do Oratório de São Francisco de Sales, in Fontes Salesianas: I. Dom Bosco e a sua obra, Brasília, EDB, 2015, 1126.

7 J. E. Vecchi, Orientações para um caminho de espiritualidade salesiana, ACG 354, 1995, pp. 24-25.

8 CG28, Prioridade da missão salesiana entre os jovens de hoje. Primeiro núcleo, n. 4.

9 Documento final do Sínodo dos jovens, a partir de agora citado com DF.

10 O Papa Francisco disse-nos: «A “opção Valdocco” do vosso 28º Capítulo-Geral é uma boa ocasião para se confrontar com as fontes e pedir ao Senhor: “Da mihi animas, coetera tolle”. Tolle, sobretudo aquilo que durante o caminho se foi incorporando e perpetuando e que, ainda que noutro tempo tivesse sido uma resposta adequada, hoje vos impede de configurar e plasmar a presença salesiana de maneira evangelicamente significativa nas diversas situações da missão. Isto pede, da nossa parte, superar os medos e as apreensões que podem surgir por ter acreditado que o carisma se reduzisse ou identificasse com determinadas obras ou estruturas. Viver fielmente o carisma é qualquer coisa mais rica e estimulante que o simples abandono, remedeio ou readaptação das casas ou das atividades; comporta uma mudança de mentalidade diante da missão a realizar».

11 Carta dos jovens ao CG28.

12 CG28, Prioridade da missão salesiana entres os jovens de hoje. Primeiro núcleo, n. 5.

13 Carta dos jovens ao CG28.

14 «A revolução digital pede-nos para compreender as profundas transformações que estão acontecendo não só no campo da comunicação, mas sobretudo no modo da organização e administração das nossas relações humanas» (Núcleo 1 elaborado pelo CG28).

15 CG26, “Da mihi animas, coetera tolle”, n. 14.

16 CG28, Perfil do Salesiano hoje. Segundo núcleo, n. 1.

17 Idem, n. 3.

18 Idem, n. 5.

19 Idem, n. 5.

20 CG24, n. 166.

21 CG XX, n. 580.

22 MB XVII, 272; Cf. MB XVII, 207.

23 CG XIX, ACS 244, p. 94.

24 CG XX, n. 45.

25 CG28, Prioridades da missão salesiana entre os jovens de hoje. Primeiro núcleo, n. 8.

26 Francisco, Mensagem ao CG28.

27 ChV, 98.

28 CG28, Com os leigos na missão e na formação, Núcleo 3, reconhecer, n. 1.

29 CG24, n. 71.

30 CG24, n. 39.

31 Idem, nn. 12-17.

32 Animação e governo da comunidade, 106 e 122.

33 CG24, 43.

34 CG28, Terceiro núcleo. Com os leigos na missão e na formação, n. 43.

35 CG27, Testemunhas da radicalidade evangélica. Documentos capitulares, Discurso do Reitor-Mor no encerramento do CG27, n. 3.7, Roma 2014.

36 Francisco, Mensagem ao CG28.

37 Francisco, Discurso aos participantes do encontro promovido pelo Dicastério para o serviço do desenvolvimento humano integral sobre o tema: Transição energética e cuidado da nossa cada comum, Roma 14 de junho de 2019.

38 Cf. Francisco, Carta encíclica Laudato si’, Roma 24 de maio de 2015, nn. 137-162. A seguir citada com LS.

39 LS 13.

40 CG28, Proposta de deliberação sobre a ecologia.

41 LS, 217.

42 Francisco, Mensagem ao CG28, citando a sua Homilia na Festa da Apresentação do Senhor para o 21º Dia Mundial da Vida Consagrada, 2 de fevereiro de 2017.

43 A frase é do Patriarca Atenágoras I, embora alguns atribuam a citação ao Patriarca Inácio IV Hazim, em 1968.

44 Lema gravado a fogo nos primeiros missionários. Lembro-me da carta do P. Tiago Costamagna a Dom Bosco em que, depois de lhe contar as dificuldades da viagem e os vários fracassos que tiveram que enfrentar, concluiu dizendo: “Pedimos unânimes apenas uma coisa: poder ir logo para a Patagônia para salvar incontáveis almas”. A consciência de ser enviado para procurar almas nos subúrbios e de permanecer superando qualquer aparente fracasso, é uma nota de identidade com base na qual se pode comparar e medir o carisma: “Da mihi animas, coetera tolle”.

45 Recordamos a advertência do Senhor: “Desprezando o mandamento de Deus, guardais a tradição dos homens” (Mc 7,8).

46 Graças à ajuda do sábio Cafasso, Dom Bosco descobriu quem era aos olhos dos jovens presos; e aqueles jovens presos descobriram um novo rosto no olhar de Dom Bosco. Então, juntos descobriram o sonho de Deus, que precisa destes encontros para se manifestar. Dom Bosco não descobriu a sua missão diante de um espelho, mas na dor de ver jovens que não tinham futuro. O salesiano do século XXI não descobrirá a sua própria identidade, se não for capaz de sofrer com “a quantidade de jovens saudáveis e fortes, de espírito vivo, que estavam na prisão atormentados e completamente despojados de alimento espiritual e material... Neles estava representada a odiosidade da pátria, a desonra da família” (Memorie dell’Oratorio di san Francesco di Sales, 48); e nós poderíamos acrescentar: da nossa própria Igreja.

47 Hoje vemos como em muitas regiões os jovens são os primeiros a levantar-se, a organizar-se e a promover causas justas. As vossas casas salesianas, longe de impedir este despertar, são chamadas a tornar-se espaços que possam estimular esta consciência de cristãos e cidadãos. Recordemos o título da Estreia do Reitor-Mor deste ano: “Bons cristãos e honestos cidadãos”.

48 Convido-vos a ter sempre em mente todos aqueles que não participam nestas instâncias, mas que não podemos ignorar se não quisermos ser um grupo fechado.

49 Super II Cor., cap. 2, lect. 2 (in fine). A passagem comentada por Santo Tomás é 2Cor 2,6-7 onde, a respeito de quem o entristeceu, São Paulo escreve: “Deves usar da tua bondade e consolá-lo, para que não sucumba sob demasiada dor”.

50 J. M. BERGOGLIO, Meditazioni per religiosi, 105.

51 Uma vocação eclesial, antes de ser um ato que diferencia ou torna complementar, é um convite a oferecer um dom particular em função do crescimento dos outros.

52 Cf. Exortação apostólica Evangelii gaudium, 116: “como podemos ver na história da Igreja, o cristianismo não dispõe de um único modelo cultural, mas permanecendo o que é, na fidelidade total ao anúncio evangélico e à tradição da Igreja, o cristianismo assumirá também o rosto das diversas culturas e dos vários povos onde for acolhido e se radicar”.

53 Hoje, de fato, “torna-se necessária uma evangelização que ilumine os novos modos de se relacionar com Deus, com os outros e com o ambiente, e que suscite os valores fundamentais. É necessário chegar aonde são concebidas as novas histórias e paradigmas” (Exortação apostólica Evangelii gaudium, 74).

54 As modificações a seguir de artigos das Constituições foram apresentadas ao Santo Padre para a aprovação através da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica. Elas foram aprovadas pelo Santo Padre em 7 de março de 2020 (Prot. n. T. 9-1/2002).

55 MB XIII, 250.

56 MB XIII, 251.

57 Cost. 146.

58 MB XIII, 286.

59 CGS20, Discorso del Rettor Maggiore in apertura del Capitolo Generale Speciale, Roma 1971, 554.

60 Cf. Francisco, Come Don Bosco con i giovani e per i giovani. Lettera di Papa Francesco al Rettor Maggiore dei Salesiani, LEV, Città del Vaticano, 2015, 9; cf. ACG 421, p. 115, EDEBÊ Brasília, 2015.

61 ACG 427 (2018), 12.

62 ACG 427 (2018), 31.

63 MB XI, 309.

64 MB XVIII, 439.

65 Jo 2,5.

66 CIVCSVA, Para vinho novo, odres novos. A vida consagrada desde o Concílio Vaticano II e os desafios ainda em aberto. Orientações, Cidade do Vaticano, LEV 2017.

67 Cf. Decreto Perfectae caritatis, 1.

68 Para vinho novo, odres novos, cit., pp. 18s.

69 Cf. idem, p. 19s.

70 Para vinho novo, odres novos, cit., p. 20.

71 Ibidem.

72 Idem p. 22.

73 SCIVCSVA, Critérios diretivos para as relações mútuas entre os bispos e os religiosos na Igreja, Cidade do Vaticano 1978.

74 CDF, Iuvenescit ecclesia, carta sobre a relação entre dons hierárquicos e carismáticos para a vida e missão da Igreja, LEV, Cidade do Vaticano 2016.

75 Cf. Para vinho novo, odres novos, cit. pp.23-31.

76 Idem, pp.33s.

77 Idem, p.37.

78 Idem, p.56.

79 Idem, pp.37s.

80 Idem, p. 41.

81 Idem, p. 43.

82 Idem, p. 45.

83 Idem, p. 46.

84 Idem, p. 47.

85 Idem, p. 47s.

86 Cf. idem, pp. 50-52.

87 Idem, p.55.

88 Sequela Christi, La gestione dei beni ecclesiastici degli Istituti di vita consacrata nella Chiesa, 2014/01, Studi e commenti, pp. 89-148.

89 Para vinho novo, odres novos, cit. pp.58s.

90 Na semana de 28 de fevereiro a 7 de março de 2020, alguns jovens das Regiões da Congregação compartilharam os dias de trabalho com os capitulares. Ao final dessa experiência eles deixaram esta carta.