251-300|pt|290 Projeto Educativo Salesiano

Egídio Viganò


O Projeto educativo salesiano


Atos do Conselho Superior


Ano LIX – JULHO-DEZEMBRO, 1978


N. 290



Introdução – 1. Em busca da práxis adequada. – 2. O sistema preventivo de Dom Bosco. 2.1. Expressão da genialidade do Fundador. 2.2. Um dado de tradição vivida. 2.3. Elemento constitutivo do nosso “carisma”. 2.4. O caminho mais apropriado para uma verdadeira conversão. – 3. A sequela de Cristo amigo dos jovens. 3.1. “O dom da predileção pelos jovens”. 3.2. Amizade concreta. 3.3. Conhecimento de cada um e da “condição juvenil”. 3.4. Uma penetrante valorização da razão humana. – 4. A caridade pastoral e a inteligência pedagógica. 4.1. Compenetração e não dissociação. 4.2. Evangelizar “educando”. 4.3. Educar “evangelizando”. – 5. O estilo salesiano. 5.1. Modalidades típicas. 5.2. Urgência de inventiva. 5.3. Praticidade do trabalho. – Conclusão.



Roma, 15 de agosto de 1978.

Solenidade da Assunção





Caríssimos,

estamos ainda vivamente impressionados com a morte inesperada do Papa Paulo VI, que sempre distinguiu a nossa humilde Família com particulares expressões de afeto e esclarecedoras orientações de vida. Admiramos nele um dos mais evidentes testemunhos de magnanimidade no ministério e de santidade de vida.

Estou a escrever-vos nos dias que precedem imediata­mente a Solenidade da Assunção de Maria. É uma coinci­dência iluminante. A proximidade dos dois acontecimentos ajuda-nos paradoxalmente a unir o luto à alegria: a triste constatação do decesso de um amigo com a magnífica reali­dade das primícias da ressurreição em Maria, qual profecia da vitória final de todos.

Assunta ao céu, Maria está mais próxima e é mais atual para a Igreja peregrina, porque se torna Auxiliadora, que com solerte maternidade difunde nos séculos as suas iniciativas.

Podemos hoje considerar os quinze anos de pontificado de Paulo VI como um presente de Maria para toda a huma­nidade; a proteção especial da Auxiliadora tornou-o guia e mestre numa das mais delicadas épocas da história da Igreja.

A festa da Assunção e a sua maternal intervenção em favor do Povo de Deus faz-nos pensar também no nosso Fundador, nascido justamente no clima desta solenidade mariana. A vocação de Dom Bosco aparece-nos como um presente mariano para todo o Povo cristão.

Relembrando uma das últimas sugestões de Paulo VI feita ao nosso Capítulo, segundo a qual “as necessidades sociais e eclesiásticas dos tempos modernos parecem corresponder mais do que nunca à índole do apostolado dos Filhos de S. João Bosco”1 e lembrando, outrossim, que a inter­venção de Maria no primeiro sonho de Joãozinho Bosco configurou de início a “índole apostólica” que nos caracteriza na Igreja, convido-vos a juntos concentrarmos a nossa reflexão sobre o projeto que caracteriza a nossa peculiar feição pastoral: o Sistema Preventivo.

Há meses estamos todos empenhados em aprofundar e aplicar o CG21. Houve nas Inspetorias iniciativas, reuniões, jornadas de estudo e oração para conhecer bem os documentos capitulares. Em muitas casas, a Comunidade local constituiu-se em escola de formação permanente em torno dos grandes temas do Capítulo. Toda essa atividade é sinal de uma atitude genuinamente religiosa da Congre­gação na fidelidade ao Espírito do Senhor.

Também o Conselho Superior realizou colegialmente um aprofundamento desses temas para poder servir os Irmãos segundo as linhas diretivas do Capítulo.

Exprimo-vos um sentimento pessoal, bastante corro­borado por esta Solenidade mariana: lamentamos todos o peso das dificuldades atuais e, mais ainda, de não poucos defeitos e até de desvios. Pois bem: sinto-me levado a privilegiar no meu íntimo a sensibilidade pelo bem que cresce. A figura de Paulo VI na Igreja católica comprova-o de maneira vigorosa.

Também na Congregação vai aumentando o entusiasmo por Jesus Cristo e pelo seu mistério, por Maria e pela Igreja; crescem o conhecimento e o amor a Dom Bosco, esclarece-se e aprofunda-se o significado totalizador do compromisso religioso, achegamo-nos à história em caminho sem demasiadas ilusões decepcionantes.

Parece-me que estamos vendo mais claro, que caminha­mos mais bem orientados, que amadurece uma nova era de graça.

Queira Maria assunta aos céus alcançar-nos, também por intercessão de Paulo VI, luz e coragem para caminharmos juntos, sem nos cansarmos, pelo caminho tão qualificado do Concílio e dos dois últimos Capítulos Gerais.



1. EM BUSCA DA PRÁXIS ADEQUADA



O problema mais delicado dos anos “pós-capitulares” é o de encontrar a maneira prática de traduzir na vida os grandes conteúdos dos documentos.

O objetivo capitular é precisamente a “conversão” do nosso modo prático de ser e de agir.

Ora o Sistema Preventivo de Dom Bosco foi, de fato, a maneira correta de viver e agir (a “ortopráxis”, diria hoje alguém) das primeiras gerações salesianas.

O CG21 oferece-nos orientações sugestivas com vista ao nosso processo de identificação, exigido pelas atuais mu­danças.

Queremos, pois, repensar com fidelidade no “Sistema Preventivo”; ao fazê-lo propomo-nos um objetivo bem defi­nido de conversão na nossa vida quotidiana.

Convido-vos, para tal fim, a reler com atenção o primeiro documento capitular “Os Salesianos evangelizadores dos jovens”.

O documento nos assegura que a práxis salesiana tem como quadro de referência e como medida de autenticidade a realização do projeto pedagógico pastoral de Dom Bosco. Temos aí uma indicação muito positiva e orientadora para os nossos empenhos de renovação. Devemos considerá-la seriamente também porque representa não apenas um aprofundamento, mas, “em certo sentido, uma novidade com relação ao CGE”.2

Quanto mais nos familiarizarmos com o texto tanto mais havemos de descobrir que o ponto-chave para o qual conver­gem as suas linhas doutrinais e operativas é a parte terceira sobre o “Projeto educativo e pastoral salesiano”.

Adverte explicitamente a introdução: “a ideia que une as diversas partes, que é a fonte de sua unidade, é a nossa vocação de evangelizadores, que se torna real quando é vivida no projeto educativo e pastoral salesiano, reestudado e atualizado”.3

Todo o exigente problema do primeiro lugar a dar entre nós ao espírito religioso que deve integrar em unidade vivida os valores que mutuamente se interpenetram da consagração e da missão,4 encontramo-lo vitalmente resolvido na aplicação do Sistema Preventivo. Com efeito, na mente de Dom Bosco e na nossa tradição viva, ele “tende sempre mais a identificar-se com o ‘espírito salesiano’: é ao mesmo tempo pedagogia, pastoral, espiritualidade”.5

Assim a presença e a atividade salesiana entre os jovens não é tão-somente metodologia educativa, mas também, e fundamentalmente, testemunho religioso: “professamos publicamente que o amor ao Pai nos chama e reúne em comunidade para fazer-nos evangelizadores dos jovens na responsabilidade compartilhada de um “projeto educativo que se inspira no carisma de Dom Bosco”.6

O compromisso religioso de toda comunidade em crescer espiritualmente na sua vocação mede-se, de fato, pela acei­tação de uma conversão que a faça viver “em si mesma a alma do Sistema Preventivo”.7

Somente com essa “alma” é que se pode realizar a “nova presença salesiana”, que é um relançamento do espí­rito de iniciativa e missionário das primeiras gerações. Dela já afirmava o CGE: “Nas situações dos jovens de hoje o Sistema Preventivo exige que se procure uma presença nova”.8

Por conseguinte, falamos de um tema fortemente trabalhoso para nós, que diz respeito à nossa renovação e à nossa unidade num momento de transição no qual o plura­lismo ideológico e a diversificação cultural poderiam desviar-nos: o “apelo ao Sistema Preventivo é hoje tanto mais urgente quando os membros da Congregação, espalha­dos por todo o mundo, se põem a testemunhar e a anunciar o Evangelho em situações culturais muito diversas, e contudo, querem conservar, em vista da eficácia comunitária da sua vocação, o liame vital com o Fundador e a unidade do espírito”.9

Essa grave colocação capitular lembra-nos a afirmação do P. Albera que “o Sistema Preventivo é a nossa Magna Charta”,10 e ecoa quanto costumava repetir o P. Rinaldi aos jovens Irmãos: “O Salesiano é salesiano ou não é nada, é de Dom Bosco ou de ninguém. Se estudarmos Dom Bosco, se seguirmos o seu sistema, seremos deveras seus filhos, de outra sorte não seremos nada e trabalharemos sem base e fora do caminho”.11



2. O SISTEMA PREVENTIVO DE DOM BOSCO



As poucas expressões que acabamos de citar e outras do CG2112 e da nossa abundante tradição que se poderiam acrescentar, nos dizem que o Sistema Preventivo é um componente, ou se quisermos, uma síntese vital da “índole própria”13 que nos distingue no Povo de Deus como Sale­sianos de Dom Bosco.



Expressão da genialidade do Fundador



O pranteado Papa Paulo VI, ao falar da ação dos Reli­giosos para uma evangelização eficaz, sublinhava a sua capacidade de iniciativa e afirmava que “o seu apostolado é muitas vezes marcado por uma originalidade e por uma feição própria, que lhes granjeiam forçosamente admiração”.14

Para nós Salesianos, a nossa “feição própria” está ligada à aplicação do Sistema Preventivo. Ele, com efeito, constitui a criação mais original de Dom Bosco. Apraz-me citar a propósito algumas passagens de uma conferência do P. Alberto Caviglia, pensador arguto e testemunha inteligente da peda­gogia do nosso Pai. Numa assembleia de professores cató­licos em Roma, em 1934, ano da canonização, dizia:

A grandeza histórica e conceituai de Dom Bosco na vida da Igreja está em haver ele dado a formulação definitiva da pedagogia cristã...: assim a pedagogia cristã, ainda que substancialmente vivida sempre na vida cristã de todos os tempos, encontrou por meio dele a sua formulação, que é expressão da fé de todos e da sua própria santidade”.15

As linhas mestras do seu Sistema Preventivo podem-se considerar uma espécie de “lição profética” (Deus fala por intermédio dos seus Santos) para os tempos novos, a ponto de indicar Dom Bosco como “doutor” da Igreja (“Pai e Mestre”) na arte cristã da educação. A própria bula da canonização define-o como “o protótipo do educador da juventude moderna; ele abriu, com um método verdadeira­mente original, o melhor e mais seguro caminho na práxis pedagógica”.16

A originalidade do Sistema Preventivo denota em Dom Bosco uma forte capacidade criativa; a sua, porém, “não é criação de elementos, porque criar do nada é obra exclusiva de Deus; é síntese criativa, que é a marca das obras do gênio. Digo síntese criativa, porque a originalidade, a beleza, a grandeza da criação não reside tanto na novidade dos parti­culares, quanto na descoberta da ideia que os soma e funde na vida nova e própria do todo”.17

O elemento catalizador de tal síntese criativa foi deno­minado pelo CGE “caridade pastoral”, centro do espírito salesiano;18 o P. Caviglia considerava-o mais metodologicamente sob o aspecto de “bondade”: ou seja, um amor visível e familiar que sabe suscitar uma resposta de amor e cria um clima e um ambiente de carinho visando o fim último da vida.

Alguns de nós ouviram o P. Caviglia afirmar com sim­pática persuasão, quando pregava os Exercícios Espirituais, que esse amor deveria constituir o objeto do quarto voto dos Salesianos: o voto de bondade ou da prática do Sistema Preventivo!

Penso que é particularmente urgente, na Congregação hoje, recuperar a consciência dessa originalidade e feição própria de Dom Bosco.

Talvez o próprio entusiasmo com que os seus discípulos diretos falaram delas com uma linguagem anterior ao desenvolvimento atual das ciências da educação, e o peso inevitável de alguns aspectos culturais e institucionais já ultrapassados, facilitaram uma atitude de descuido, uma diminuição na seriedade de estudo que podem incidir de maneira muito negativa em nossa identidade.

Dom Bosco, ao invés, encarnou neste “sistema” a sua mais genuína santidade, concebendo a pedagogia “acima das teorias e além das angústias da metódica”, ao nível de uma sabedoria que se apoia em carismas e dons especiais do Espírito Santo. E assim a “originalidade” do seu sistema adquiriu um espaço para o futuro.

Diz ainda o P. Alberto Caviglia: “Sobre o pedestal da história o título antonomástico, e sem dúvida o mais próprio e simpático de sua grandeza, será a descoberta do Sistema Preventivo. A verdadeira originalidade, a marca da mente e do coração desse verdadeiro gênio do bem, está nesta poderosa síntese criativa: está na ideia pela qual viveu e que foi por ele vivida. Essa ideia – a síntese – veio do coração e reside na bondade. (...) O sistema (...) de Dom Bosco é, pois, o sistema da bondade ou, melhor dizendo, a bondade erigida em sistema. Naturalmente, é bondade sentida por um coração de santo, e, portanto, inspirada em concepções e senti­mentos não apenas humanos. Aqui o homem de coração dá a forma sensível e prática ao que é ditado pelo ideal supremo da caridade, que é a salvação e o cultivo das almas”.19

Parece-me que essas citações atingem o alvo; descrevem-nos com penetrante agudeza a nota mais original da nossa “índole própria” na Igreja e mostram-nos qual o significado vital da “caridade pastoral” que é a fonte perene da nossa identidade.20



2.2.Um dado de tradição vivida



É evidente para todos que quando o CG21 fala do Sistema Preventivo não se refere simplesmente às clássicas páginas escritas por Dom Bosco em 1877 e depois incorporadas, até ao CGE, nos Regulamentos; mas antes a “um sistema orgânico de convicções, atitudes, ações, intervenções, meios, métodos e estruturas que constituiu progressivamente um modo geral e característico de ser e de agir, pessoal e comunitário (de Dom Bosco, de cada Salesiano e da famí­lia) (...)”.21

O opúsculo de Dom Bosco é sem dúvida um dos mais preciosos documentos sobre o tema. Mas a criteriologia pastoral e o método pedagógico de Dom Bosco não se podem compreender adequadamente apenas mediante aquelas pági­nas e nem sequer mediante as outras muito mais numerosas de todos os seus escritos. Basta pensar que a realização mais clara e mais eficaz do Sistema Preventivo é a que viu o crescimento de Domingos Savio até a santidade, quando não existia grande parte desses escritos e quando o Oratório de Valdocco não tinha ainda uma estrutura de internato.

Trata-se, pois, de uma práxis pastoral e pedagógica que devemos saber individuar e reconstruir também com a ajuda daquele opúsculo e dos outros escritos, mas sobretudo me­diante a permanente atividade de Dom Bosco e a tradição viva posterior.

A análise de tal práxis comporta hoje um trabalho especial de repensamento em sintonia de espírito. Com efeito, sendo tal “Sistema” um conjunto orgânico de convicções, atitudes e intervenções metodológicas, criado e vivido no ambiente sociocultural do século passado, deveremos saber fazer, com coração fiel, algumas distinções delicadas, mas indispensáveis: a herança viva e permanente do Sistema Preventivo, os seus valores “permanentes” e a sua mensagem para o futuro, não se podem identificar com uma visão cultu­ral e com uma mentalidade eclesiológica já superadas.

Mas, se pode ter sido um erro lamentável reduzir o Sis­tema Preventivo a uma fórmula definitivamente estabelecida a ser aplicada quase com observância legal, seria erro ainda mais pernicioso crer que ele não é mais portador para nós da vitalidade original de que havemos mister para nos renovar­mos.

O CG21 exorta-nos a descobrir com seriedade e amor o seu “núcleo carismático” a fim de conservar-lhe e potencializar o seu dinamismo originário. É isso que urge fazer em toda a Família Salesiana, porque sem a práxis do Sistema Preventivo não poderemos permanecer fiéis a Dom Bos­co.22



2.3. Elemento constitutivo do nosso “carisma”



Já o CGE havia inserido o tema do Sistema Preventivo no próprio texto constitucional, definindo-o uma “preciosa herança”23 ligada à “caridade pastoral” que constitui “o Centro do espírito salesiano”24

Com razão, pois, o benemérito P. Luís Ricceri, na sua importante circular sobre “Descentralização e unidade na Congregação hoje” (de outubro de 1973), ao apresentar os componentes originais do nosso carisma havia explicitamente enumerado entre eles o Sistema Preventivo como peculiar “estilo de presença apostólica”.25

Está ele intimamente ligado aos outros componentes do carisma salesiano, particularmente ao “espírito” de Dom Bosco e à sua “missão” juvenil e popular.

Com efeito, no Sistema Preventivo podem-se distinguir dois níveis ou aspectos diversos profundamente ligados entre si: o princípio inspirador que cria uma determinada atitude espiritual da pessoa (o “impulso pastoral”) e o critério metodológico que orienta as modalidades concretas da sua ação (o “método pedagógico”).

Entre “impulso pastoral” e “método pedagógico” pode-se perceber uma delicada distinção útil para a reflexão e para o aprofundamento de aspectos setoriais, mas seria ilusório e perigoso chegar a esquecer o liame íntimo que os une entre si de maneira tão radical que torna impossível a separação. Querer dissociar o método pedagógico de Dom Bosco da sua alma pastoral seria destruir a ambos.

Assim, o Sistema Preventivo acha-se de tal modo ligado ao “espírito salesiano” (pelo seu aspecto de “impulso pasto­ral”) que constitui a sua mais característica e expressiva encarnação; com razão pode-se também definir como uma autêntica espiritualidade da nossa ação apostólica “e a nossa maneira prática de tender à plenitude da caridade e da vida cristã”. Com efeito, atinge a pessoa do educador com uma modalidade própria de pensar e sentir, de vida e atividade, que inspira e caracteriza toda a sua existência.

Por outra parte, o Sistema Preventivo está tão diretamente ligado à “missão” salesiana (pelo seu aspecto de “mé­todo pedagógico”) que a traduz na prática. O CGE havia-nos recordado que entre “missão” salesiana (única e idêntica para todos e em toda a parte) e “pastoral” concreta (multiforme e variada conforme as situações) há uma dife­rença importante de nível, que devemos saber harmonizar:26 o Sistema Preventivo deve situar-se entre estes dois momentos como uma criteriologia pedagógico-pastoral que ilumina e guia os projetos a elaborar e aplicar metodologicamente nas diversas situações de tempo e de espaço.

Numa palavra, “impulso pastoral” e “método de ação” no Sistema Preventivo impregnam-se mutuamente de forma tão íntima e indissolúvel que fazem dele o quadro prático de referência para a identidade e a unidade da Família Salesiana na Igreja.









2.4. O caminho mais apropriado para uma verdadeira conversão



A originalidade e a feição própria do Fundador não são para nós objetos de museu, mas sim um apelo e um desafio. Apontam-nos o caminho justo a escolher para a conversão concreta a que nos convida o CG21.

A caridade pastoral traduzida em bondade acha-se nas raízes do nosso espírito e da nossa missão. O próprio nome de “Salesianos” nasceu justamente em vista da prática dessa caridade-bondade, olhando para um santo que havia encar­nado a “benignitas et humanitas” do Salvador. É, pois, um nome qualificador que caracteriza a nossa vocação e nos aponta a tarefa de que nos devemos sentir responsáveis na Igreja. Toda a vida de Dom Bosco é como um comentário aos conteúdos desse nome.

Desde os 9 anos ele sentiu-se conduzido pelo Alto e con­siderou Nossa Senhora como a “inspiradora” e a “mestra” do Sistema Preventivo.

Com razão o P. Rinaldi, no ano centenário do primeiro sonho (1925), “mandara fosse comemorado em todas as casas e ele próprio fez conferências aos Salesianos e às Irmãs sobre esse argumento, com o fito especial de mostrar como desde então fora indicado a Dom Bosco o seu Sistema educativo, fundado sobre o espírito de bondade e de mansidão”.27

Por isso é que Dom Bosco fazia consistir a formação dos primeiros sócios salesianos em aprenderem a viver e praticar o Sistema Preventivo: e foi também essa a tradição forma­tiva das primeiras gerações.

Entre as últimas cartas de Dom Bosco há uma muito significativa endereçada ao P. Tiago Costamagna então na Argentina; escreve: “(...)ao ver minha idade decadente queria ter comigo todos os meus filhos e as nossas Irmãs da América. (...) queria fazer a todos (...) uma conferência sobre o espírito salesiano que deve animar e guiar as nossas ações e todas a nossas conversas. O sistema preventivo seja mesmo nosso: (...) soe nas aulas a palavra doçura, caridade e paciência. (...) cada Salesiano faça-se amigo de todos, não procure nunca se vingar; perdoe com facilidade, mas não re­lembre nunca o que já foi perdoado. A doçura em falar, agir, avisar conquista tudo e todos”.28

Sabemos que “a essa carta atribuiu-se a prosperidade espiritual e temporal da Inspetoria argentina. Não só o Inspetor, mas também outros, após haverem-na copiado, agra­deceram ao Santo. Alguns, sentindo-se mais faltosos ou expe­rimentando maior dificuldade em serem caridosos e pacien­tes, obrigaram-se com voto, renovado todos os meses no exercício da boa morte”.29

Lembra-nos com penetrante visão o pranteado Papa Paulo VI, que sempre demonstrou especial cuidado e grande interesse pela nossa vocação, no Motu Próprio Magisterium vitae de 24 de maio de 1973 (com o qual elevou a Univer­sidade o nosso Ateneu Pontifício): “Os membros da Socie­dade Salesiana receberam, com veneração, de seu Pai e fundador o maravilhoso carisma da arte de educar que lhes foi confiado não somente como um sagrado depósito a guardar zelosamente, mas também como um germe muito fecundo a cultivar fielmente”. E por isso (tanto na Univer­sidade Pontifícia Salesiana como nos nossos Centros de estudo) dever-se-á desenvolver a sua frutuosa atividade “segundo o espírito peculiar do Santo Fundador, comumente chamado ‘Sistema Preventivo’, e que, por particular dispo­sição divina, haure a sua natureza e a sua força no Evan­gelho”.30 Trata-se, pois, de um elemento “substancial” para nós”!31

Ouçamos com prazer e admiração quanto de maneira tão bela escreveu o P. Duvallet, um sacerdote francês que por vinte anos acompanhou o Abbé Pierre no apostolado da re­educação dos jovens de hoje; dirige-nos um como apelo bastante significativo: “Tendes obras, colégios, oratórios para jovens, mas não tendes senão um tesouro: a pedagogia de Dom Bosco. Num mundo em que os meninos são traídos, dissecados, triturados, instrumentalizados, o Senhor vos confiou uma pedagogia na qual se destaca o respeito ao me­nino, à sua grandeza e fragilidade, à sua dignidade de filho de Deus. Conservai-a, renovai-a, rejuvenescei-a, enriquecei-a com todas as descobertas modernas, adaptai-a a essas criatu­ras do século XX e aos seus dramas que Dom Bosco não pôde conhecer. Mas, por caridade, conservai-a! Mudai tudo, perdei, se for o caso, as vossas casas, mas conservai esse tesouro, construindo em milhares de corações a maneira de amar e salvar os meninos que é a herança de Dom Bosco”.32



3. A SEQUELA DE CRISTO AMIGO DOS JOVENS



A Família Salesiana nasceu do amor de Dom Bosco à juventude. Amor de predileção que impregnou e desenvolveu as suas inclinações e os seus dotes naturais, mas que era radicalmente um dom especial de Deus para um desígnio de salvação nos tempos modernos. Essa predileção brotava nele da adesão entusiasta e total a Jesus Cristo e tendia, sob a guia de Maria, a tornar presente o mistério de Cristo “enquanto abençoa os meninos e faz o bem a todos” como diz o Concílio.33

O Evangelho manifesta de diversas maneiras o amor de Jesus Cristo aos jovens; ama-os (Mc 10,21: fixou nele o olhar, amou-o); quere-os junto de si (Mt 19, 14-15, Mc 10, 13-16, Lc 18, 15-17: Deixai que as crianças”...; Lc 9, 46-48. Quem acolhe esta criança...); convida-os a segui-lo (Mt 19, 16-26, Mc 10, 17-22: o jovem rico); cura-os (Jo 4, 46-54: Vai, teu filho vive); ressuscita-os (Lc 7, 11-15: Jovem, eu te digo: levanta-te!; Mc 5, 21-43, Lc 8, 40-55: filha de Jairo); livra-os do demônio (Mt 17, 14-18, Lc 9, 37-43; expulsa o demônio de um jovem; Mt 15, 21-28, Mc 7, 24-30: e da filhinha da mulher cananeia ou siro-fenícia); privilegia-os com o perdão (Lc 15, 11-32: parábola do filho pródigo); serve-se deles para fazer seus prodígios (Jo 6, 1-15: Há aqui um menino que tem cinco pães e dois peixes...).

Sem Jesus Cristo não se explica a predileção radical de Dom Bosco pelos jovens: na sequela de Cristo encontra-se a fonte borbulhante da sua origem e vitalidade. É, isto, um dom inicial do Alto, o “primeiro carisma” de Dom Bosco. Não nos colocamos aqui ao nível das inclinações ou prefe­rências naturais: estamos decididamente além. “Tal nível – podemos dizer com um teólogo moderno da vida religiosa – não é senão o definido por Jacques Maritain como ‘a esfera do espírito na fonte’, e descrito como o lugar da intuição poética, do gênio artístico, da experiência mística e, sobretudo, da morada da graça.

(...) Encontramo-nos além das fronteiras que chama­mos, com uma ponta de suficiência, ‘o normal’; abrange com efeito a existência no que ela tem de mais importante, quase como uma brasa debaixo da cinza que traz dentro de si um germe de fogo, (...) como a experiência do caminho de Damasco no espírito de Paulo”.34

É o lugar primeiro da vocação de Dom Bosco e, pois, da sua intuição artística de Educador e da sua originalidade espiritual de Santo.



3.1. “O dom da predileção pelos jovens”



O P. Albera, na sua importante circular de outubro de 1920 sobre “Dom Bosco nosso modelo na conquista da perfeição religiosa e educação e santificação da juventude”, foi quem talvez descreveu com maior atenção e riqueza psicoló­gica o amor de Dom Bosco como típico para a vocação salesiana; define-o “o dom da predileção pelos jovens”. “(...) não basta – escreve – sentir por eles certa atração natural, mas é preciso verdadeiramente querer-lhes com predileção. Tal predileção, no seu estado inicial, é um dom de Deus, é a própria vocação salesiana, mas cabe à nossa inteligência e ao nosso coração desenvolvê-la e aperfeiçoá-la”.35

A predileção pastoral pelos meninos e pelos jovens mostrava-se em Dom Bosco como uma espécie de “paixão”, ou melhor, era a sua “supervocação”, à qual se dedicou “evitan­do todo obstáculo e deixando qualquer coisa, boa embora, que de algum modo lhe embaraçasse a realização” (P. Luís Ricceri).36

Para Dom Bosco amar os jovens não significava apenas provocar-lhes o afeto, mas também sentir o seu atrativo, ser subjugado por eles, perceber o seu papel insubstituível na própria vida. Dom Bosco exprime-o em termos que superam o modo convencional do estilo epistolar, quando de S. Inácio de Lanzo, de Roma ou de Florença escreve aos seus jo­vens”.37

Numa página deveras notável de sua circular escreve o P. Albera: “Deve-se dizer que Dom Bosco nos amava de um modo único, todo seu: sentia-se o seu irresistível fascínio: sentia-me como prisioneiro de um poder afetivo que me alimentava os pensamentos, as palavras e as ações; sentia que era amado de uma maneira jamais experimentada antes, extremamente superior a qualquer outro afeto: envolvia-nos a todos e inteiramente como numa atmosfera de contenta­mento e felicidade. Tudo nele tinha para nós uma poderosa atração: agia sobre os nossos corações juvenis à maneira de um ímã ao qual não era possível escapar: e ainda que pudéssemos, não o faríamos por todo o ouro do mundo, de tal modo nos sentíamos felizes por esse extraordinário ascen­dente sobre nós, que nele era a coisa mais natural, sem nenhum estudo nem esforço. E não podia ser de outra sorte, porque de cada uma de suas palavras e ações emanava a santidade da união com Deus, que é caridade perfeita. Ele nos atraía a si pela plenitude do amor sobrenatural que lhe ardia no coração. Desta singular atração jorrava a ação con­quistadora dos nossos corações; nele os múltiplos dons na­turais tornavam-se sobrenaturais pela santidade de sua vida”.38

Dom Bosco alimentava este seu carisma de predileção pastoral com uma meditação constante sobre as iniciativas de salvação queridas pelo Senhor e sobre o porquê da sua vocação sacerdotal: “os meninos são a delícia de Deus”.39 “Maria Auxiliadora abençoa quem se ocupa da juventude”,40 e reforçava esta sua particular escuta da vontade de Deus com reflexões realistas sobre as responsabilidades históricas de uma sociedade em transição: a juventude é a “porção mais delicada e preciosa da Sociedade humana, sobre a qual se fundam as esperanças de um futuro feliz”.41

E a sua predileção pelos jovens tornou-se a grande opção de fundo da sua vida: “O Senhor mandou-me aos jovens, por isso devo poupar-me em outras coisas estranhas e conservar para eles a minha saúde”; e é a missão da Congregação: “Devemos ter por escopo primário o cuidado da juventude, e não é boa toda a ocupação que nos distraia desse cuidado”.42

Na base do Sistema Preventivo há, pois, esta escolha preferencial que implica dedicação fundamental à juventude, prescindindo de tantas outras possibilidades: “já temos muita coisa a fazer sem que se busquem outras ocupações; tanto mais que estas nos desviam e fazem com que o coração se apegue a certos [outros] empreendimentos”.43

Ainda hoje a Congregação deve viver e crescer em virtude de uma verdadeira predileção pastoral pelos meninos e pelos jovens. É esta uma condição indispensável para nós de saúde e crescimento.

O Sistema Preventivo não haverá de reatualizar-se sem essa clara escolha preferencial, marcada pelo carisma do Fun­dador, para além de qualquer interpretação ideológica em moda. Embora acertadamente falemos de uma nossa pastoral “juvenil e popular”, a palavra “popular”, mais do que mudar os seus destinatários absolutamente prioritários, quer indi­viduar melhor o setor humano mais apropriado e os seus contornos vitais a cuidar como objeto da nossa predileção. Sem dúvida “predileção” não significa “exclusão”, mas cer­tamente exige que os meninos e os jovens não passem a ocupar nas nossas intenções um lugar que não fosse mais o primeiro e o mais importante.44

O CG21 afirma que nós “reconhecemos nos jovens a outra fonte da nossa inspiração evangelizadora. Nós, Salesia­nos, somos enviados aos jovens, especialmente aos mais pobres, e colaboramos na criação de uma sociedade nova, promovendo a plenitude da sua vida na fé”.45 Não há, pois, maravilhar-nos de que as comunidades percam a sua inspiração salesiana quando, por qualquer pretexto ou motivo, se afastam da predileção pelos meninos e pelos jovens.

A primeira e mais urgente exigência do Sistema Preven­tivo é hoje para nós a de “não abandonar o campo difícil de nosso empenho juvenil”.46

As iniciativas comunitárias, os empenhos de cada um, as buscas para uma nova presença salesiana devem tender a colocar a Congregação no coração da atual problemática juvenil.



3.2. Amizade concreta



A presença educativa e quotidiana do Salesiano entre os meninos e os jovens é um aspecto fundamental do Sistema Preventivo. Dom Bosco dera-se por inteiro aos seus jovens e fazia de tudo para viver no meio deles. Podia garantir-lhes, sem perigo de ser desmentido, que vivia para eles: “sabei que tudo quanto sou, sou todo por vos, dia e noite, manhã e tarde, em qualquer momento. Não tenho outro objetivo senão o de promover o vosso progresso moral, intelectual e físico. Mas para consegui-lo, preciso da vossa ajuda. Não quero que me considereis tanto como vosso superior, quanto como vosso amigo. Tende muita confiança, que é o que vos desejo, vos peço e espero de verdadeiros amigos”.47 Dirá em outra ocasião: “Eu vos prometo e vos dou tudo. Para vós estudo, para vós trabalho, para vós vivo e para vós estou disposto a dar a vida”.48

O Salesiano não somente trabalha para os jovens, mas vive entre eles e com eles; o Sistema Preventivo é para ele uma práxis guiada pelo coração, mais que uma ideologia estruturada pela ciência. Tem necessidade, pois, de aprender a arte e o sacrifício de estar fisicamente presente. Imerge a tal ponto no trabalho educativo que se sente quotidianamente “sinal e portador do amor de Deus aos jovens”.49

Para reatualizar o Sistema Preventivo urge então rever e renovar a práxis salesiana da presença feita de amizade, na fidelidade ao amor de predileção e em consonância com o processo de personalização próprio da nova condição juvenil.

Eis um tema e uma tarefa a enfrentar com coragem e com a generosidade cristã do dom de si.

Lembrou-nos o CG21: “as grandes dificuldades que alguns salesianos encontram em acolher e compreender os jovens, em manter-se sintonizados com os problemas que apresen­tam”,50 para dizer-nos que tal incapacidade pode dar de fato em desvios na escolha dos nossos autênticos destinatários; procuram-se de preferência destinatários entre os quais nos sentimos mais ou menos bem, antes que aqueles aos quais o Senhor nos enviou! “Nota-se com certa preocupação em muitas de nossas obras um progressivo rarefazer-se dos des­tinatários que deveríamos privilegiar e a escolha de outros — por assim dizer — menos nossos”.51

Eis porque a reatualização do Sistema Preventivo requer de nós, entre as prioridades de empenho, um propósito de uma renovada presença entre os meninos e os jovens mais necessitados do povo.

A pedagogia de Dom Bosco é experiência pastoral que nasceu, cresceu e viveu neste setor, que constitui o lugar privilegiado para uma genuína experiência salesiana.



3.3. Conhecimento de cada um e da “condição juvenil”



O amor de predileção leva a um contínuo e aprofundado interesse de conhecimento tanto de cada um dos jovens com os quais se trabalha, como do fenômeno cultural que hoje se chama “condição juvenil”.



Para o conhecimento e o diálogo individual, além do exemplo insuperável de Dom Bosco anteriormente lembrado, temos toda uma tradição de diálogo e de amizade familiares que queremos conservar e atualizar.

Hoje o pedido de serviços educativos aumentou desme­suradamente, generalizando-se a exigência de instrução e cultura.

Tal fato pode levar a uma massificação não educativa. Não devemos esquecer que os nossos serviços educativos são para nós empenho de evangelização, e que por isso é preciso garantir as condições necessárias e até ideais para tal obje­tivo.52

O crescimento na fé tem necessidade de um cuidado pessoal que leve à maturação do sentido da própria vocação individual. Numa ação simplesmente de massa desaparecem as melhores oportunidades de intervenção e influência, tão características na atividade pastoral de Dom Bosco.



Quanto ao conhecimento da “condição juvenil”, tratando-se de um fenômeno recente, há urgência entre nós de maior diligência; é um elemento que condiciona o nosso diá­logo com cada indivíduo e toda a planificação pastoral. Há hoje uma espécie de “mundo dos jovens”, com caracterís­ticas próprias no bem e no mal. O CG21 no-lo descreve com algumas referências gerais dizendo que os jovens “vivem esta experiência como parte viva de um ambiente que é cha­mado ‘condição juvenil’”.53

Para nós é necessário “escutar com interesse esta voz do mundo juvenil e levá-la em conta no diálogo educativo e pastoral da evangelização”.54

Isso é particularmente importante porque a pedagogia de Dom Bosco considera positivamente a juventude como uma riqueza constitutiva da Sociedade e da Igreja, uma dimensão caracterizante da existência humana e um tempo ativo e responsável de fé, e não simplesmente um setor de passagem e uma idade de preparação.

O Salesiano não pretende ajudar o menino ou o jovem a “passar” ou a “superar” a sua juventude, mas antes a vivê-la em comunhão com os outros, construindo, mediante as suas aspirações típicas e as suas características, uma perso­nalidade evangélica susceptível de ser canonizada oficialmen­te entre os santos, mesmo aos 15 anos.

Ora o fenômeno cultural da “condição juvenil” exige um conhecimento especial dos seus aspectos: “a relação de sin­tonia, necessária para educar (os jovens), o amar o que eles amam, mesmo sem renunciar à nossa condição de adultos e de educadores salesianos, torna-se, então, difícil e comple­xa”.55

Para reatualizar o Sistema Preventivo será, pois, indis­pensável não só penetrar no coração de cada um, mas também na atual condição juvenil, feita de aspirações, juízos de valor, condicionamentos, situações de vida, modelos ambientais, tensões e reivindicações, propostas coletivas etc.

Com razão, pois, o Capítulo afirma que “como premissa de toda programação educativa e pastoral é necessário que os Salesianos sejam mais sensíveis à ‘condição juvenil’, vista nas suas expectativas que mais correspondem ao Evangelho, por meio de uma análise suficientemente séria e através do contato direto com os jovens”.56

3.4. Uma perspicaz valorização da razão humana



A reta consciência dos jovens é uma necessidade de concretitude pedagógica e de inteligente atualidade. Eles são na sociedade de hoje como o lugar privilegiado da sensibili­dade das mudanças, porque assimilam mais facilmente os valores e os desvalores da nova cultura e propõem com rea­lismo a problemática pastoral a enfrentar.

Para fazer com seriedade uma análise da condição juve­nil é necessário possuir certa preparação e competência nas assim chamadas ciências do homem, que são, afinal, objeto de estudo desde os primeiros anos da formação. Devem elas ocupar um lugar importante na atualização do Salesiano e na sua continuada leitura da realidade juvenil mundial e re­gional. Essas disciplinas antropológicas, porém, são ao mes­mo tempo um enriquecimento e um risco. Em vista da análise setorial que fazem, têm necessidade de integrar os seus dados no significado global e último da realidade huma­na. Tal significado é colhido e avaliado de acordo com critérios de sabedoria filosófica e teológica, e sobretudo numa visão viva e contemplativa de fé.

Para renovar o Sistema Preventivo temos urgente neces­sidade de uma colaboração intensa e de um continuado e objetivo diálogo entre as matérias do homem, iluminadas por uma reflexão filosófico-pedagógica, e as matérias da fé, centradas numa visão teológico-pastoral.

Sem esse intercâmbio indispensável dos esforços da razão na vertente antropológica e na teológica, não teremos o conhecimento necessário da condição juvenil e dos recursos da sua evangelização.

Quanto mal pode fazer e quanto atraso já provocou um conhecimento unilateral e inflado, limitado a uma só vertente ou setor!

De modo particular, constatando o fato que no conheci­mento hodierno da condição juvenil existem abundantes estudos de competência prevalentemente psicossociológica, é imprescindível sublinhar a urgência de um conhecimento correlativo e atualizado da história da salvação, no sentido do pecado e das riquezas originais do patrimônio da fé, para evitar desequilíbrios de perspectiva.

A palavra de Deus, com efeito, não é simplesmente certa coincidência de valores ou resposta a uma aspiração humana, mas principalmente uma mensagem, uma vocação e uma interpelação: “crer” significa receber e não simplesmente descobrir! Deus é verdadeiramente “Outro” em relação aos valores temporais, ainda que seja bonito e indispensável saber descobrir a novidade característica dos sinais dos tempos.

Nas atividades de evangelização interessa sem dúvida saber conhecer e cuidar hoje do novo estilo cultural de vida, de personalização, de participação etc., mas sem identificar os seus valores com os do Evangelho, o qual é portador de uma riqueza especial, superior e distinta que se não deve confun­dir com o nível cultural.

Os jovens obrigam-nos hoje a levar em conta com inte­resse e amor a virada antropológica, a estudar e promover os seus aspectos positivos. Mas também a conhecer-lhe os limites, aprofundar-lhe criticamente as ambivalências e individuar os seus os aspectos negativos, para não cair no perigo, que não é imaginário, do antropocentrismo. Pois “virada antropológica” e “antropocentrismo” não se identificam: a primeira no-la exige o Sistema Preventivo; o segundo, ao invés, seria uma adulteração dela. Como disse o inesquecível e grande Paulo VI no encerramento do Concílio Vaticano II: a Igreja “voltou-se”, mas não “se desviou”, para o homem!

A nossa compreensão e aceitação da “condição juvenil” não deve polarizar a nossa competência antropológica a tal ponto que venha a criar obstáculo ao outro compromisso radical de discípulos e profetas do Senhor com a sua competência teologal.



4.A CARIDADE PASTORAL E A INTELIGÊNCIA PEDAGÓGICA



A pedagogia de Dom Bosco apresenta-se historicamente como uma atividade claramente “pastoral”. Damos ao termo o seu significado mais específico, ligado ao ministério apos­tólico da Igreja.

O tipo de caridade que a originou e moveu no coração de Dom Bosco é o que se desenvolve no ministério da suces­são apostólica, em que os presbíteros, como colaboradores dos Bispos, cuidam de uma determinada porção do rebanho, tendo em vista a salvação humana e o advento do Reino de Cristo. Tal dado de fato não pode ser esquecido num esforço de genuína releitura do Sistema Preventivo. Mesmo os que empregam a pedagogia de Dom Bosco sem serem padres (e são maioria) devem compreender essa inspiração radical que dá o tom a muitos aspectos e explica as linhas caracterizantes de todo um estilo.

Isto significa, na nossa opinião – escreve o P. Braido – que Dom Bosco pôs no vértice das suas preocupações e, pois, do seu próprio interesse pelos jovens, pela sua inserção na sociedade, no mundo do trabalho e da profissão, pelo amadurecimento educativo, um só escopo: a sua redenção cristã nesta vida e a salvação religiosa final. Não que ele negue a validez intrínseca do trabalho para fazer do menino um homem reto e um bom cidadão, e, portanto, a do trabalho acessível também a pessoas não revestidas do caráter sacer­dotal. Dom Bosco quis mesmo associar à sua obra social e educativa numerosos leigos militantes dentro da sua Socie­dade religiosa (os “Coadjutores”) e fora dela (os “Coopera­dores”). Mas ele concretamente pensava que toda essa ação devia ser ‘funcionalizada’ e endereçada à redenção sobrena­tural cristã, com significado escatológico, com a exigência de recorrer aos meios da Graça, os Sacramentos, e aos que, consagrados, pudessem distribuí-la”.57

Hoje uma prática genuína do Sistema Preventivo nos interpela sobre o tema do “Sacerdócio” da Nova Aliança à luz da doutrina conciliar. O Vaticano II recuperou o signifi­cado central do sacerdócio real dos fiéis e assim esclareceu melhor a função de serviço e animação do sacerdócio minis­terial:58 o Bispo com os presbíteros são consagrados para a vida sacerdotal de toda a comunidade. O Sistema Preven­tivo está impregnado de um sopro sacerdotal.

Abre-se, então, vasto horizonte de releitura em profundi­dade, no qual, ante um convite explícito do lembrado Papa Paulo VI, também o CG21 nos incitou a entrar ao considerar de modo particular a figura sacerdotal do Diretor. Mas a problemática é muito mais ampla e fasci­nante: o seu estudo e aprofundamento dever-nos-ia explicar, afinal de contas, porque é que para todos os seus agentes a missão salesiana na Igreja é precisamente a de uma autên­tica “pastoral”.



4.1. Compenetração e não dissociação



O impulso “pastoral” do Sistema Preventivo leva a unir intimamente entre si evangelização e educação.

Dom Bosco exclui, na sua atividade pastoral-pedagógica, toda dissociação entre educação e evangelização.

Pretendeu-se descrever a sua práxis com uma espécie de slogan capitular, da seguinte maneira: “evangelizar educan­do e educar evangelizando”.

Afirma-se dessa maneira que a pastoral juvenil salesiana se caracteriza pela sua encarnação cultural na área da edu­cação, e que a pedagogia salesiana se distingue pela sua constante finalidade pastoral. Não se trata de um jogo de palavras, mas de evitar duas simplificações perniciosas: pretender que podemos deduzir a pedagogia simplesmente da Pastoral e exaltar os dados antropológicos como se foram já em si mesmos cristãos.

Estamos conscientes – diz-nos o CG21 – de que edu­cação e evangelização são atividades distintas em sua ordem. Estão, contudo, estreitamente unidas no plano prático da existência”.59

A sua mútua autonomia de natureza e de ordem não signi­fica estraneidade de práxis e arte.

A distinção de natureza, com os respectivos valores e as ciências correspondentes, não comporta, pois, como ne­cessidade e como tese de princípio a impossibilidade na prá­tica de “uma educação cristã”. Afirmá-lo em abstrato nos pareceria deveras uma espécie de nominalismo alheio à realidade histórica; ou seja, não se levariam em conta nem a práxis existente a respeito, nem os conteúdos materiais próprios das duas atividades, nem a unidade existencial da pessoa, nem o sentido cristão da história, que é única.



4.2.Evangelizar “educando”



Vamos examinar antes a primeira parte da asserção capitular.

A preocupação pastoral de Dom Bosco caracteriza-se, com coerente seriedade, por uma escolha da educação como área e modalidade da própria atividade pastoral.

Por isso, o Sistema Preventivo apoia-se no fato concreto da compenetração existencial que se dá entre “evangelização” e “educação”, precisamente na linha que nos foi indicada pela exortação apostólica “Evangelii nuntiandi”.60

O nosso CGE havia falado de “promoção integral cristã” e de “educação libertadora cristã”; Dom Bosco, no seu tempo, “gostava de resumir o programa de vida proposto aos jovens com fórmulas simples, mas densas. Ele fala de ‘bons cristãos e cidadãos honestos’; visa à ‘saúde, sabedoria e santidade’ de seus jovens, e propõe um estilo de vida que abrange ‘alegria, estudo, piedade’”.61

Desta sorte a sua pastoral não se reduz apenas a cate­quese ou liturgia, mas se estende a todos os compromissos concretos pedagógico-culturais da condição juvenil.

Situa-se dentro do processo de humanização, sem dúvida com sentido crítico das suas deficiências, mas também com uma visão globalmente otimista do amadurecimento humano, convencido de que é precisamente aí que o Evangelho deve ser semeado, para levar os jovens a empenhar-se generosa­mente na história.

Assim, a sua pastoral tende a ser útil justamente para a construção da nova Sociedade, tanto que Dom Bosco pôde apresentar o seu “Sistema” a um político, que não aceitava uma visão de fé, como um genuíno empenho de promoção humana.

Trata-se da caridade evangélica que se concretiza em dar um copo d’água e um pedaço de pão, em visitar doentes e presos, em libertar e promover o jovem abandonado e transviado.

Com razão Dom Bosco aparece diante do mundo e da Igreja como um “Santo Educador”, ou seja, como alguém que empenhou a sua santidade na educação. Por outra parte, se o Evangelho é um valor salvífico no crescimento humano e se os meninos e os jovens vivem uma idade de educação, a sua evangelização mais adequada consistirá em acompa­nhá-los num processo educativo pelo qual a fé se integra como elemento que lhes unifica e ilumina a personalidade integral.

A fórmula “evangelizar educando” comporta algumas opções precisas por parte do Salesiano.

Faço notar que sendo o Sistema Preventivo uma “práxis”, tais opções encontram-se na ordem existencial e aqui as referimos à pessoa do evangelizador-educador, às suas convicções, às suas mais íntimas motivações, às suas competências, à sua criteriologia e metodologia de presença educativa entre os jovens.

Enumero as opções mais significativas dessa primeira expressão da assertiva capitular:



A força de propulsão que estimula a ação educativa: a razão por que o Salesiano (como pessoa e como comu­nidade) se imerge na educação tem a sua origem fora da área cultural; procede da caridade pastoral, ou seja, de uma motivação vocacional de serviço ao Evangelho.

A opção fundamental de toda a sua vida é a sequela de Cristo em tempo integral e plena existência. Esta escolha basilar impregna de tal modo a consciência do Salesiano que todas as suas atividades, qualquer que seja a sua natureza própria, adquirem uma intencionalidade evangélica.

O Sistema Preventivo – dizia Dom Bosco – é a cari­dade, o santo temor de Deus infundido nos corações”.62

Esse impulso interior (pessoal e comunitário) deve ser cuidado e alimentado até o cume da santidade. Não poderia fazê-lo reduzir a fórmula “evangelizar educando” a um embuste que esvazia o empenho de evangelização, nivelando-o a um simples horizonte de promoção humana.

Com razão escolheu Dom Bosco como mote orientador da consciência salesiana e estímulo para a sua missão o “da mihi animas”.



A solicitude positiva pelos valores e pelas instituições culturais: a intencionalidade evangelizadora leva o Salesiano (como pessoa e como comunidade) a apreciar e a assumir o compromisso educativo nos seus valores humanos, aprofundando e desenvolvendo a sua natureza específica, que é dotada de consistência e finalidade próprias,63 mesmo sabendo que a justa autonomia que lhes corresponde na ordem da análise e do estudo não comporta independência de fato na ordem prática da arte educativa.

Há, realmente, uma importantíssima distinção a salvar entre as realidades naturais consideradas analítica e setorialmente na sua autonomia formal, e as mesmas realidades consideradas global e harmonicamente enquanto referidas ao homem que vive na história e recapituladas no Cristo.

De qualquer modo, o fato de os valores e as institui­ções culturais e as ciências antropológicas terem consistência e finalidade próprias implica que no Sistema Preventivo se dê amplo espaço às iniciativas e instituições culturais, em consonância com as exigências da condição juvenil atual, harmonizando-as oportunamente numa proposta de educa­ção integral.

Dom Bosco esteve muito atento aos valores das reali­dades humanas. Lembremos quanto fez no campo da escola, do trabalho, do tempo livre, da imprensa, da atualização cultural, da música, da organização etc. Só um espírito livre e humanista convicto (e sem suspeitas de pelagianismo) po­dia deixar aos seus discípulos palavras programáticas como estas: “Dê-se (aos jovens) ampla liberdade de pular, correr, gritar à vontade. A ginástica, a música, a declamação, o teatrinho, os passeios são meios eficacíssimos [...]”.64

Assim, de um lado, a competência cultural e pedagógica será no Salesiano um dado concreto para medir a sinceri­dade e a eficácia da sua intencionalidade evangelizadora; e, do outro, esta sua intencionalidade será a luz que o iluminará para formular um programa integral de arte educativa.



Unir profundamente o Evangelho com a cultura. Na práxis educativa do Sistema Preventivo o Evangelho é proposto de modo estritamente unido à existência concreta; não é isolado da vida, mas inserido harmonica­mente nos processos de crescimento da personalidade e da humanização. Não como algo que gera obrigações ou observâncias legais, mas como um dom e uma energia que incor­pora toda a existência, toda a história e toda a criação no Mistério de Cristo.

Dom Bosco sempre se preocupou em fazer ver aos jovens, a partir de dentro do processo de humanização da pessoa e da sociedade, “a beleza da religião”, procurando quotidianamente prevenir ou sanar o drama doloroso da fratura entre Evangelho e cultura: “só a religião – dizia – é capaz de começar e realizar a grande obra de uma verda­deira educação”.65



O sentido realista da gradualidade. “Imitando a paciência de Deus – dizem as Constituições da Congregação Salesiana — encontramos os jovens no ponto em que se encontra sua liberdade e sua fé. (...) Multiplica­mos os esforços para iluminá-los e estimulá-los, respeitando o delicado processo da fé. A nossa arte educativa tende a fazê-los progressivamente responsáveis pela própria forma­ção”.66

É um processo pedagógico que leva em conta todos os dinamismos humanos e cria nos meninos e nos jovens as condições de aceitação para uma resposta livre.

Por conseguinte, a primeira asserção “evangelizar edu­cando” comporta exigências particulares para a reatualização do Sistema Preventivo: sermos verdadeiros animadores-evangelizados como pessoas e como comunidade,67 e considerarmos a área da cultura com os seus valores, as suas instituições e as suas ciências como o ambiente ou a pátria de destinação da nossa missão pastoral.



4.3. Educar “evangelizando”



Vejamos brevemente também a segunda parte da assertiva.

Se é fato que a opção evangelizadora do Sistema Preventivo é a opção cultural da educação, é igualmente verdadeiro que o seu empenho educativo é fortemente orientado pela pastoral da evangelização. A nossa arte educativa é “pasto­ral”, não spo no sentido que no educador nasce e é alimentada explícita e quotidianamente pela caridade apos­tólica, mas também no sentido que todo o processo educa­tivo, com os seus conteúdos e com a sua metodologia, é orientado para o fim cristão da salvação e impregnado de sua luz e de sua graça.

Isso, porém, não significa que a pedagogia salesiana se preocupe simplesmente em incorporar de forma institucio­nal nos programas de educação alguns momentos reservados à instrução religiosa e à expressa cultural; comporta ainda na sua globalidade o empenho muito mais profundo de abrir-se aos valores absolutos de Deus e de interpretar a vida e a história segundo as riquezas do mistério de Cristo.

Leva ela em conta a força e as perspectivas da ressurrei­ção e considera seriamente a presença vivificadora do Espírito Santo na Igreja e no mundo. Ama objetivamente toda a realidade e concentra-se nos centros nervosos vitais da histó­ria do homem. O Sistema Preventivo entende propor uma educação situada de maneira realista dentro da vida concreta e integral do homem histórico, como uma arte prática para aprender a crescer em plenitude.

Também esta modalidade do “educar evangelizando” comporta opções concretas no processo educativo. Tais opções referem-se, aqui, à realidade da “pessoa” do educan­do, à meta real e histórica do seu crescimento, aos conteúdos e aos meios de que precisa e à metodologia que lhe seja mais benéfica no seu amadurecimento.

As opções mais incisivas desta segunda parte da assertiva são:



Presença clara do fim último: a pedagogia de Dom Bosco apresenta com explícita insistência a verdadeira fina­lidade religiosa da vida; o fim último é o grande atrativo do processo de educação, muito claro na sua formulação e constantemente ativo pela sua presença: “Escopo único do Oratório é salvar almas”.68 “Não é este o principal apenas, mas o único motivo por que vim aqui”.69

Conhecemos bem a firme convicção de Dom Bosco que sem “religião” (no sentido pleno em que a entendia) a promoção humana não será correta nem integral.

Ora, na ordem prática da arte (e o Sistema Preventivo é uma “arte”) os fins desempenham a mesma função dos princípios na ordem especulativa. Por isso, o esquecimento dos fins na educação (ou uma visão errônea ou incompleta dos mesmos) é causa de desvio, de unilateralidade, de incom­petência. E é justamente este um dos perigos mais graves e mais comuns do nosso tempo. A civilização atual, com efeito, tão progredida tecnologicamente, é acusada por pen­sadores, mesmo não crentes, como decadente, porque centrada mais nos meios do que nos fins e, pois, lamentável e perigosamente desviada em relação ao cresci­mento humano da pessoa e da sociedade.

Dom Bosco quis formular e apresentar com absoluta lealdade objetiva o fim supremo da existência, e quis intro­duzir positivamente no processo educativo a sua luz religiosa e os seus dinamismos.



Um processo educativo positivamente orientado para Cristo: se a práxis educativa salesiana nasce e é alimentada pela caridade pastoral e tende explícita e lealmente para a salvação oferecida pela redenção, encontrará todas as suas motivações e inspirações em Cristo e no seu Evangelho.

De aí a extraordinária importância e incidência que os valores e os dinamismos cristãos têm no Sistema Preventivo.

Vale a pena notar que essa orientação cristã do projeto educativo é uma exigência do “dado real”, ou seja, da objetividade da história humana (mesmo se tal “dado” não é conhecido ou reconhecido por todos), e não simples fruto de uma superestrutura cultural religiosa que hoje talvez poderia ser anacrônica.

Num processo educativo concebido de maneira realista, o Sistema Preventivo preocupa-se atentamente com a dimen­são “eclesial”. Não desenvolve apenas um sentimento reli­gioso individual, mas a experiência concreta e comunitária de Igreja com todos os elementos que a configuram como comunidade de amor, de fé e de culto, a serviço da salvação humana.

Lugar de todo privilegiado ocupa a vida sacramental e litúrgica com ênfase particular na pedagogia da “Penitência” e da “Eucaristia” num característico “clima mariano”. Aspectos estes que depois do Vaticano II e dadas as mudanças culturais exigem aprofundamento e renovação muito urgentes.

Empenho muito exigente neste campo é o da “Catequese”, considerada como iluminação evangélica de toda a existência e iniciação à vida eclesial. Tudo leva a uma decidida “orien­tação vocacional” que dê a cada um a consciência e o propó­sito de uma participação ativa e pessoal no mistério de Cristo.

E, assim, a “santidade” também aparece aqui como a expressão de plenitude do “Sistema”. Se a motivação da caridade pastoral fez de Dom Bosco o “Santo Educador”, de modo análogo a orientação positiva para Cristo do pro­jeto educativo salesiano fez de Domingos Sávio o “Educando Santo”.

Na Igreja e face ao mundo o Sistema Preventivo é a pedagogia realista da santidade: tanto do pastor que imerge na cultura para fazer educação, quanto do menino que emerge da promoção humana impregnado de Evangelho. A santidade é parte real e inevitável da nossa história!

Convém notar: Dom Bosco e Domingos Sávio não são santos que simplesmente operaram no campo educativo, mas são santos precisamente porque se empenharam nesse “sistema” educativo. A santidade de ambos pode considerar-se assim como uma espécie de lição de pedagogia integral ditada pelo Espírito Santo. O ambiente de Valdocco no tempo de Domingos Sávio conduz-nos de alguma maneira “não somente aos umbrais, mas plenamente ao campo da experiência mística; leva-nos a um clima pentecostal, à experimentação coletiva do Espírito Santo. O espírito de família que Dom Bosco instaura é consanguinidade espiritual. O educador transmite a vida haurida na união com Deus, por meio da vida em graça na Igreja”.70

A originalidade e audácia da proposta de “santidade juvenil” é intrínseca à arte educativa de Dom Bosco. Seu grande segredo foi não só não desiludir as profundas aspirações do espírito juvenil (necessidade de vida, expan­são, alegria, liberdade, futuro etc.), mas ter levado os jovens de maneira gradual e realista a experimentarem que somente na “vida em graça”, isto é, na amizade com Cristo, fonte de alegria perene, os seus ideais mais autênticos eram interpretados e exaltados: “aqui fazemos consistir a santi­dade em estar sempre alegres”.71

Por isso o Sistema Preventivo convida-nos também a repensar e renovar para nós hoje o próprio conceito de “san­tidade”, a sua presença na história do homem, a sua indis­pensabilidade no processo de humanização e a considerar Dom Bosco como o “Mestre da santidade juvenil”.72

Com relação a este aspecto explicitamente cristão, é útil fazer observar quanto afirma o Capítulo: “Tal projeto, nos conteúdos, nas metas, no estilo, pode ser proposto e oferecido também a quem não compartilha a nossa visão do mundo e não participa da nossa fé. (...) Aplicado com flexi­bilidade, com gradualidade e com respeito sincero para com os valores humanos e religiosos presentes nas culturas e religiões dos nossos destinatários, ele produz frutos fecundos no plano educativo, cria amizade e suscita simpatia em alunos e ex-alunos, libera grandes energias de bem, e em não poucos casos coloca as premissas de um caminho livre de conversão à fé cristã”.73



Consciência crítica e sentido do dever à luz do Evan­gelho: numa hora de pluralismo como o atual urge habilitar os jovens a uma consciência crítica que saiba perceber os valores autênticos e também desmascarar certas hegemonias culturais, que mediante os sofisticados meios de comunica­ção social acorrentam a opinião pública e forçam a maneira de pensar de tantos jovens.

A luz da fé é verdadeiramente a única sabedoria que pode tornar objetiva a inteligência face a sedutoras propos­tas ideológicas.

Educar evangelizando” significa “atingir e como que modificar pela força do Evangelho os critérios de julgar, os valores que contam, os centros de interesse, as linhas de pensamento, as fontes inspiradoras e os modelos de vida da humanidade, que se apresentam em contraste com a Palavra de Deus e com o desígnio da salvação”.74

O sentido próprio da educação e de uma verdadeira atividade cultural é o de libertar o jovem, torná-lo consciente dos próprios direitos e deveres, participante consciente dos acontecimentos da sua época, capaz de autodeterminação e colaboração.

Trabalhando dessa maneira em educação produz-se a cultura, que se abre e enriquece, não só introduzindo no circuito das ideias novos impulsos e nova linfa, mas sobre­tudo dando à sociedade uma contribuição de pessoas cora­josas, portadoras de reflexão crítica e correção de vida.

Tem (a) coragem da tua fé e das tuas convicções – dizia Dom Bosco –. Não temas: Deus está com a Igreja todos os dias até o fim dos séculos. Os maus é que devem tremer diante dos bons e não os bons diante dos maus!”.75

A conduta reta é muito importante na pedagogia de Dom Bosco que sempre insistiu com inteligente persuasão no “sentido do dever”, na “disciplina” de vida e no “espírito de sacrifício”.

A apresentação do significado da liberdade e dos pró­prios direitos só pode ser considerada concordante com o Evangelho se acompanhada com clareza e insistência pelo conhecimento e pela prática tanto do espírito de sacrifício como dos próprios deveres: no centro do Cristianismo está Jesus crucificado!

Um grande político moderno, Aldo Moro, que testemu­nhou com a vida a grandeza dos valores democráticos, disse que o País “não se salvará, efêmera será a era dos direitos e das liberdades, se (nele) não nascer um novo sentido do dever”.

Educar “evangelizando” implica, pois, opções concretas com empenhos sempre novos, que nos obrigam a uma revisão profunda da nossa ação educativa.



A Palavra de Deus, por sua natureza, revela e inter­pela. Enfim, uma opção indispensável que se deve garantir no processo educativo é a de respeitar a natureza específica do Evangelho e da fé.

A Palavra de Deus não é propriamente maturação huma­na ou resposta de explicitação a uma situação problemática; é, contudo, iniciativa de Deus, dom, interpelação, vocação, apelo. O Evangelho, antes ainda de responder, interroga.

O educador deve ser consciente e leal para com a natu­reza da Palavra de Deus; a sua preocupação pedagógica de adequação à condição juvenil não deve ignorar ou opor-se ao seu empenho pastoral de “profeta” do Evangelho.

A harmonia e a constante compenetração dos dois aspec­tos exige reflexão, revisão e lealdade.

Portanto, como a pedagogia do Sistema Preventivo se apoia sobre uma opção fundamental de empenho pastoral, o Salesiano deverá cuidar constantemente da autenticidade da apresentação dos conteúdos da fé. A sua particular inclinação e capacidade de considerar as condições dos destinatários será sempre iluminada e guiada pela figura de Cristo que interpela e chama como Senhor da história.



5. O ESTILO SALESIANO

Permiti-me ainda algumas observações conclusivas. A renovação do Sistema Preventivo está ligada, na nossa tradição viva, ao emprego de algumas modalidades de convivência e comunhão que parecem simples na sua formu­lação, mas são ricas de possibilidades educativas.

O seu conjunto constitui o característico “estilo sale­siano” que dá o clima e a fisionomia às nossas obras. Enumeramos aqui as principais para indicar alguns setores concretos da nossa práxis que têm particular necessidade de serem avaliados e reinventados.



5.1. Modalidades típicas



Entre os aspectos mais significativos da aplicação do Sistema Preventivo devem-se enumerar os seguintes:



A ASSISTÊNCIA: reinterpretada à luz da atual con­dição juvenil e segundo a modalidade pedagógica que esta condição exige. O essencial da assistência é estar entre os jovens, animando-lhes a atividade num clima de convivência e de familiaridade apostólica, oferecendo-lhes elementos de amadurecimento. Talvez seja necessário superar o hábito de conside­rá-la como recurso disciplinar e relançá-la segundo o modelo “oratoriano”.

Para favorecer tal assistência será preciso analisar melhor o delicado conceito de “preventividade”.

Dom Bosco teve a visão clara da diferença profunda de metodologia que comporta dedicar-se a reprimir e remediar os danos das experiências negativas, e esforçar-se ao invés, com a ‘inteligência do amor’, a fazer crescer de tal modo as sementes do bem que se previnam experiências deformantes. Ele escolheu decididamente o segundo caminho: o seu “Sis­tema”, que quis denominar precisamente “Preventivo”, visa todo ele a fazer amadurecer, com a graça de Cristo, as energias construtivas, fortalecendo os jovens de forma a preservá-los, nos limites do possível, de todo pecado que lhes domine a fragilidade.

Para alcançar esse objetivo entregou-se a uma generosa convivência que dava de maneira palpável e quotidiana, o testemunho aberto de uma vida de graça e procurava criar um clima ambiental que a fizesse respirar.

Eis um ponto sobre o qual devemos meditar, se quiser­mos reviver o genuíno estilo salesiano.



A criação de um AMBIENTE EDUCATIVO: o nosso estilo de ação com os jovens não se baseia somente nas relações individuais. Cremos na importância da estrutura como veículo de valores. A necessidade de um ambiente foi uma das primeiras conquistas pastorais de Dom Bosco. E se tornou definitiva a tal ponto que não conseguimos conceber a ação educativa salesiana sem considerarmos a qualidade do ambiente.



A formação da COMUNIDADE EDUCATIVA: nas instituições de educação urge saber interessar todos os res­ponsáveis e inspirá-los nos ideais de Dom Bosco. O número crescente de leigos oferece-nos a oportunidade de comunicar a riqueza de que somos portadores e, ao mesmo tempo, comporta o risco de uma perda de identidade se não assumirmos com seriedade, com método e entusiasmo o compromisso de animadores que nos cabe. A comunidade educativa é em primeiro lugar a comunidade dos jovens animada pelos educadores. Falar de comunidade de jovens significa ter criado entre eles e com eles relações de comunicação e amizade, ter posto diante dos seus olhos objetivos comuns, ter dado a eles participação, e considerá-los protagonistas do processo de educação, e não somente destinatários do nosso serviço profissional ou apostólico.



OS GRUPOS e OS MOVIMENTOS JUVENIS: a expe­riência comunitária abre um mundo inimaginável de possi­bilidades e valores. Não deve causar maravilha que o nosso Pai tenha chegado por agudeza de intuição e sabedoria de experiência a conclusões fundamentais e definitivas. O CG21 demonstrou sensibilidade neste ponto, especialmente diante de um duplo fenômeno: o declínio do associacionismo tradi­cional, a falta de uma experiência substitutiva conveniente­mente animada que assumisse as características da espiri­tualidade salesiana. Evidentemente, não se trata aqui de exortar à fundação de um movimento que seja manifestação da força de convocação em circunstâncias particulares. Mas de oferecer aos jovens uma experiência intensa de comunidade na fé e no empenho em favor dos outros, com suficiente apoio doutrinal e organizado que lhe assegure o amadurecimento e a continuidade.







5.2. Urgência de inventiva



O estilo salesiano não é algo realizado de uma vez para sempre; é antes uma tarefa de criatividade sadia, sobretudo neste momento de transição cultural.

É justamente em vista de uma colaboração nesse traba­lho, muito delicado e atribulado, que escolhemos o tema desta circular.

Uma orientação prática do CG21 que considero das mais exigentes é a seguinte: “Cada Inspetoria (ou grupo de Inspetorias) deverá elaborar um projeto educativo adaptado à realidade local, como base de programação e de verificação para suas diversas obras, na linha das opções fundamentais existentes na Congregação: Oratórios, Centros Juvenis, Escolas, Internatos, Pensionatos, Paróquias, Missões etc.”.76

Para elaborar um projeto de tamanha responsabilidade é indispensável refletir “salesianamente”; não bastam apenas as ciências da educação, nem apenas as da fé, e nem sequer a nossa experiência mais ou menos acrítica amparada durante anos por uma mentalidade chamada à conversão por um Concílio Ecumênico e por dois Capítulos Gerais.

O fato, pois, que o CG21 nos fale de ambientes tão diferentes (que vão do Oratório à Escola, à Paróquia ou às Missões), deve dizer-nos que é toda uma criteriologia ou um espirito que devemos saber reatualizar, mais que uma norma para esta ou aquela estrutura institucional, mesmo se a praticidade de um espírito deve depois encarnar também em diretrizes precisas e obrigatórias.

A elaboração do projeto pede-nos que nos concentremos sobre “um todo homogêneo” susceptível de várias aplicações.

Recompor a síntese do Sistema Preventivo em nível de ideias e de prática de tal modo que não se perca nem se ofusque nenhum dos seus recursos típicos, é um trabalho que requer sintonia com o carisma do Fundador e atenção aos sinais dos tempos. Que tal síntese venha a empenhar não apenas alguns mais competentes, ou os dirigentes, ou os que naturalmente se interessam pelo tema, mas cada Irmão e cada comunidade, é uma das obrigações programáticas do sexênio.77 Caberá a nós repassar o que já sabemos, mas que talvez devemos contemplar e admirar de novo, recuperar quanto temos descuidado, descobrir dimensões que surgi­ram com o progresso da reflexão, chegar a sínteses mais ricas e completas que nos sirvam de orientação no nosso empenho de evangelização e na busca de unidade para a nossa vida de religiosos-apóstolos.

Todos os níveis de responsabilidade são chamados e interessados nesse movimento. “Sob a responsabilidade do Inspetor – diz-nos o CG21 –, das Conferências Inspetoriais e do Regional, promovam-se reuniões, dias ou semanas de estudo, debates, trocas de experiências educativas e pasto­rais, abertas eventualmente também a educadores e profes­sores que não pertencem à Família Salesiana, com a finali­dade de favorecer o conhecimento, o aprofundamento e a reatualização do Sistema educativo de Dom Bosco, levando sabiamente em conta a condição juvenil e popular do próprio ambiente e as contribuições válidas das modernas ciências antropológicas e pedagógicas”.78

Para esse trabalho convirá aproveitar também a colabo­ração qualificada do dicastério para a Pastoral Juvenil que, nos próximos anos, propõe-se concentrar os seus serviços nesta área do projeto educativo e pastoral salesiano.



5.3. Praticidade do trabalho



Portanto: elaborar um projeto mediante uma dinâmica comunitária quer dizer convocar ao estudo e à reflexão, fixar a atenção sobre o contexto social e eclesial no qual trabalhamos, procurar com criatividade caminhos e solu­ções que correspondam às situações que enfrentamos, unir a comunidade em critérios comuns nos quais todos se inspi­ram e reconhecem, garantir a integralidade e livrar-nos da improvisação e do setorialismo.

O projeto resultará do nosso estudo sobre o Sistema Preventivo e do nosso esforço de aplicação à reali­dade atual.

Este trabalho de redescoberta deverá levar ao reforço dos programas operativos em três áreas:



A FORMAÇÃO DO NOSSO PESSOAL: que deve valorizar, aprofundar e assimilar o Projeto pedagógico e pastoral de Dom Bosco com uma reflexão e um prática proporcionada à atual virada cultural, em sintonia com o progresso das disciplinas pedagógicas, pastorais e espirituais. Isso deve levar a um verdadeiro relançamento do Sistema Preventivo nas comunidades formadoras dos jovens Irmãos, nos cursos de formação permanente e nos empenhos de amadurecimento e atualização de todas as casas e Inspetorias.



A ANIMAÇÃO SALESIANA DOS COLABORADORES LEIGOS: Experiências destes últimos anos demonstram que a apresentação simples embora, mas ordenada e densa dos princípios que inspiram a pedagogia salesiana impressiona os nossos colaboradores, porque eles tomam consciência da peculiaridade e riqueza do espírito de Dom Bosco, sentem-se empenhados mais profundamente no labor educativo e reforçam o sentido de pertença.



O ESTUDO E A DIFUSÃO DA PEDAGOGIA SALE­SIANA: por parte dos nossos estudiosos e da promoção de séria pesquisa e aprofundamento, sobretudo nos nossos Centros de Estudo. No seu tempo Dom Bosco recomendava que fossem amplamente difundidos os escritos que dão a conhecer o nosso espírito e nos apresentam como portadores de um estilo original de ação apostólica.



Caríssimos, abordamos um tema verdadeiramente central para a nossa identidade salesiana nos seus níveis mais chegados à vida prática e a práxis quotidiana.

Trata-se de uma modalidade que nos dá nada menos do que o nome na Igreja!

Dedicar-se à sua reatualização é questão de vida: já Dom Bosco em setembro de 1884 dizia no “Capítulo” Supe­rior: “Todo estudo e esforço vise a introduzir e praticar nas nossas casas o Sistema Preventivo. As vantagens que de aí virão são incalculáveis para a salvação das almas e para a glória de Deus”.79

Atravessamos hoje tempos particularmente difíceis para a juventude; a própria hierarquia (também no último Síno­do dos Bispos) constata a gravidade do problema, sente incerteza e pede ulteriores pesquisas e maior empenho em favor da juventude de hoje. O Senhor nos deu, por iniciativa de Maria, um peculiar carisma que devemos oferecer à Igreja neste setor. O pranteado Papa Paulo VI no-lo recordou com insistente afeto.

Ponhamo-nos de boa vontade, com todas as forças, a dinamizar na fidelidade o dom recebido. “Não se trata – como nos ensinava o P. Bartolomeu Fascie – de estudar uma nova teoria pedagógica, mas de conhecer e aprender um modelo de arte educativa”!

Devemos ser “artistas” capazes de refazer o ambiente de amizade e salvação que caracterizou o Oratório de Valdocco sobretudo nos tempos de Dom Bosco e de Domingos Savio.

É, substancialmente, o problema da santidade salesiana: se não crescermos na prática do Sistema Preventivo não sere­mos fiéis à nossa Vocação! Está em jogo também a índole própria da nossa Família: se não reatualizarmos o Sistema Preventivo cairemos no anonimato de um genericismo que jamais servirá para justificar a nossa existência entre os diversos grupos eclesiais.

Peçamos a Maria Auxiliadora dois grandes favores para a Congregação e para toda a nossa Família. Em primeiro lugar, a capacidade de manter em tensão harmoniosa e criadora os dois grandes polos do Sistema Preventivo: de um lado, o impulso e a finalidade “pastorais” da nossa ação e, de outro, a opção “pedagógica” e a competência “educativa”.

E, em segundo lugar, a bondade do coração que impreg­ne todo o nosso estilo de vida e de relações com os meninos e os jovens do carinho que fez Dom Bosco dizer: Não basta “amar”, é preciso ainda “fazer-nos amar” pelos jovens.80

O santo Pastor e Papa Paulo VI nos acompanhe do céu com a sua benévola amizade para que sejamos de fato apóstolos geniais e discípulos sagazes.

Desejo-vos todo o bem e vos asseguro da minha prece.

Busquemos juntos fazer frutificar esse tesouro de Dom Bosco: a tanto têm direito os meninos e os jovens; e sua benéfica contribuição é aguardada por todo o povo de Deus.

Vosso af.mo,

P. Egídio Viganò

Reitor-Mor



1 CG21 448. Com a sigla CG21 indicamos os Documentos Capitulares do Capí­tulo Geral 21 da Sociedade Salesiana (Roma 1978). O número que acompanha a sigla indica o número marginal do texto.

2 CG21 165.

3 CG21 4.

4 CG21 577-592.

5 CG21 96.

6 CG21 31.

7 CG21 17.

8 CG21 155.

9 CG21 80.

10 Lettere Circolari di Don Paolo Albera ai Salesiani (Turim, Direção das Obras Salesianas 1965), p. 375.

11 VALENTINI Eugenio, Don Rinaldi maestro di pedagogia e di spiritualità salesiana (Turim-Crocetta 1965), p. 32.

12 Cf. CG21 80. 96. 99.

13 Cf. o recente documento da Santa Sé Criteri direttivi sui rapporti tra i Vescovi e i Religiosi nella Chiesa (Cidade do Vaticano 1978), n. 14-15.

14 EN 69.

15 CAVIGLIA Alberto, La pedagogia di Don Bosco (Roma 1935), p. 6.

16 novae iuventutis educator princeps, nova prorsus, (...), methodo, quae quidem in paedagogica disciplina vere excellentissimum ac tutissimum signavit iter” (AAS 1935, 285)

17 CAVIGLIA Alberto, La pedagogia, p. 9.

18 Const. 40.

19 CAVIGLIA Alberto, La pedagogia, p. 14-15.

20 Cf. Const 40; CGE 26.127.

21 Cf. AA.VV., Il Sistema educativo di Don Bosco tra pedagogia antica e nuova – Atti del Convegno Europeo Salesiano sul Sistema educativo di Don Bosco (Turim, LDC 1974), p. 301.

Para Dom Bosco a expressão “Sistema Preventivo” não costumava indicar nenhum escrito, mas “o conjunto de meios e de procedimentos educativos, que supõem e implicam todo um organismo de convicções, de ideias, de razão e de fé, que constituíram o seu modo de tratar educativamente os jovens (...)”. (BRAIDO Pietro, Il sistema preventivo di Don Bosco, Zurique, PAS-Verlag 1964, p. 66).

22 Para uma compreensão histórico-doutrinal com fundamento mais profundo da práxis salesiana de Dom Bosco recomendamos sobretudo três autores mais significativos:

P. Alberto Caviglia, nos seus comentários às vidas de Magone, Besucco e, sobretudo, de Domingos Savio, é uma “testemunha” que penetrou com extraordinária agudeza o espírito de Dom Bosco.

P. Pedro Ricaldone, no seu documento “Don Bosco Educatore”, é o “Superior” que, em função da sua responsabilidade, apresentou autorizadamente os aspectos pedagógicos do carisma de Dom Bosco.

P. Pedro Braido, no seu “II Sistema Preventivo di Don Bosco”, é o “estudioso” que aprofundou de maneira mais orgânica e científica o tema do Sistema Preventivo. Merece especial atenção toda a 1ª parte da obra, “II tempo, l’opera e la personalità di Don Bosco”.

23 Const. 25. Cf. Reg. 3-4.

24 Cf. ACS 272, p. 10.

25 Ib.

26 Cf. CGE 30.

27 CERIA Eugenio, Vita del Servo di Dio Sac. Filippo Rinaldi (Torino, S.E.I. 1948) p. 443.

28 CERIA Eugenio, Epistolario di S. Giovanni Bosco 4 (Turim. S.E.I 1959, p. 332.

29 Ib. P. 333, em nota.

30 ACS 272, p. 72-77.

31 Cf. CG21 216.

32 Cf. AA.VV., Il Sistema educativo di Don Bosco tra pedagogia antica e nuova – Atti del Convegno Europeo Salesiano sul Sistema educativo di Don Bosco (Turim, LDC 1974), p. 314.

33 LG 46.

34 TILLARD Jean Marie Roger, Carisma e Sequela (Bologna, Edizioni Dehoniane 1978) 57-58.

35 Lettere Circolari di Don Paolo Albera, p. 372.

36 ACS n. 284, p. 31.

37 STELLA Pietro, Don Bosco nella storia della religiosità cattolica (Zurique, PAS-Verlag 1969, p. 473.

38 Lettere Circolari di Don Paolo Albera, p. 372-374.

39 MB XVI, 66.

40 MB XVI, 238.

41 MB II, 45.

42 MB XIV, 284.

43 Ib.

44 Cf. Const. 2, 14; CGE 45. 53. 54. 55.

45 CG21 12.

46 Ib. 13.

47 MB VII, 503.

48 RUFFINO Domenico, Cronache dell’Oratorio di S. Francesco di Sales (Roma, Archivio Salesiano 110) ms 5, 10.

49 Const. 2.

50 CG21 21.

51 Ib.

52 Cf. EM 46.

53 CG21 13; cf. também CGE 34-44.

54 CG21 20.

55 CG21 13.

56 CG21 30.

57 BRAIDO Pietro, Il sistema preventivo di Don Bosco, p. 88

58 Cf. LG 10.

59 CG21 14.

60 EM 31-36.

61 CG21 81.

62 MB VI, 381; cf. Lettere Circolari di don Paolo Albera, p. 374-375.

63 Cf. AA 7.

64 MB XIII, 92-921.

65 MB III, 605; cf. MB VII, 762 e MB X, 204.

66 Const. 25.

67 Cg. CG21 31-79.

68 MB IX, 295.

69 MB VII, 504.

70 STELLA Pietro, Don Bosco nella storia (2), p. 472.

71 MB V, 356.

72 STELLA Pietro, Valori spirituali nel “Giovane Provveduto” di San Giovanni Bosco (Roma 1960), p. 128.

73 CG21 91.

74 EN 19.

75 MB VI, 482.

76 CG21 105.

77 CG21 571.

78 CG21 105 bis.

79 MB XVII, 197.

80 Cf. MB XVII, 110-112.

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