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BRASIL: OS SALESIANOS NA TEBAIDA.
UMA HISTÓRIA QUE DUROU 20 ANOS (1902 – 1922)
Antenor de Andrade Silva
SIGLAS
ASC
ACSA
ACSR
ACSB
SE
BA
Arquivo Salesiano Central
Arquivo do Colégio Salesiano de Aracaju
Arquivo do Colégio Salesiano do Recife
Arquivo do Colégio Salesiano da Bahia
Sergipe
Bahia
Introdução
Os Salesianos, oriundos da Itália, se instalaram em 1900, na cidade de
São Salvador, Capital do Estado da Bahia. Dois anos após, fundaram no Es-
tado de Sergipe, 355 km ao Norte, uma Escola Agrícola no local denominado
Tebaida, distante 18 km da Capital Aracaju.
O presente trabalho tem por objetivo oferecer ao leitor uma visão da
saga vivida pelos missionários de Turim, ao realizarem a primeira fundação
em terras sergipanas. Iniciaremos com as solicitações do padre Olímpio de
Souza Campos, mais conhecido por Monsenhor Olímpio Campos, Presidente
daquele Estado (1899 a 1902) e do Arcebispo Primaz do Brasil, Dom Jerô-
nimo Thomé da Silva. Abordaremos as tratativas iniciais exercidas pelo Di-
retor da Bahia, P. Luiz Della Valle e P. Lourenço Giordano, Provincial da Ins-
petoria São Luiz de Gonzaga do Norte do Brasil. Descreveremos a fundação
da Escola Agrícola São José da Tebaida, seus primeiros anos, declínio e as
lutas para não fechá-la. Falaremos das enfermidades, das fundações dos Ora-
tórios de Aracaju (Tebaidinha e Bebé) e do Colégio Nossa Senhora Auxilia-
dora. O presente estudo abrange o período de 1900 a 1922, quando se deu o
ocaso, da “Velha Escola Abandonada”.
As fontes pesquisadas se encontram no Arquivo Salesiano Central em
Roma; nos Arquivos do Liceu Salesiano de Salvador; da Inspetoria São Luiz
de Gonzaga em Recife; do Colégio Salesiano de Aracaju e do Colégio Sa-

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260 Antenor de Andrade Silva
gração Coração do Recife. Outrossim, foram consultadas obras de notórios
historiadores salesianos como Luiz de Oliveira, Carlos Leoncio da Silva e
Luiz Marcigaglia.1
Houve dificuldades em decifrar documentos antigos, verdadeiros alfar-
rábios da língua italiana, gastos pelo tempo. Muitas horas foram despendidas
em checar informações e números. Espero no entanto, que estas linhas, es-
critas ao tramontar deste século, mostrem um pouco da odisséia de um grupo
que teimou em realizar nos pântanos, tabuleiros 2 e carrascais 3 da Tebaida,
uma típica Escola Agrícola, como as existentes nas planuras ubertosas do
outro lado do Atlântico.
O Estado de Sergipe atualmente com 22.050,40 km2 tem por capital Ara-
caju, graciosa urbe emoldurada por belas praias do Atlântico, águas tranqüilas
e preguiçosas do rio Cotinguiba e lindas dunas de areias brancas apontando
para o céu. Sua área urbana é de cerca de 176 km2 com uma população apro-
ximando-se dos 450.000 hab. A altitude é de 2 m acima do nível do mar, dis-
tando 1.737 km de Brasília e 501 km do Recife.4
As riquezas do Estado se baseiam na agroindústria e no petróleo. Li-
mita-se com a Bahia, na época colonial, grande importador de trabalhadores
da África. Esta vizinhança fez com que parte da população sergipana apresen-
tasse características marcantes dos homens e mulheres do Continente Negro.
No época em que os religiosos de Dom Bosco fundaram a obra de Ser-
gipe, o Brasil contava três Províncias salesianas. A Inspetoria de Maria Auxi-
liadora (1883), cujo Provincial era o P. Carlos Peretto. A sede ficava em Lo-
rena, no vale do Paraíba, em S. Paulo. A Inspetoria S. Afonso Maria de Li-
gório (1896), abrangendo o Mato Grosso. P. Antônio Malan 5 era o Superior
provincial e a sede estava em Cuiabá. A terceira Inspetoria era a de S. Luiz de
Gonzaga do Norte do Brasil (1902). Tinha como Provincial o P. Lourenço
Giordano. Residia na Bahia e coordenava todo o território, atualmente com-
preendido pelas duas Províncias do Recife e Manaus, Nordeste e Norte do
1 A pesquisa faz parte de um trabalho mais amplo sobre a presença salesiana na Bahia, a
ser lançadoa no próximo ano 2.000, quando celebrar-se-á o Centenário de fundação do Liceu Sa-
lesiano do Salvador da Bahia. Ao longo deste estudo o termo Bahia é usado quer significando o
Estado da Federação (BA), quer a Capital Salvador, modalidade ainda hoje freqüente.
2 Planalto pouco elevado, em geral arenoso e de vegetação rasteira. No Nordeste do Bra-
sil é uma faixa de terra com poucas árvores e quase sem nenhum arbusto (Dicionário Aurélio).
3 Caminho pedregoso. Mata anã, de arbustos, de caule e ramos duros e esguios
(Dicionário Aurélio).
4 Mapa Polivisual do Brasil; ed. 1998.
5 Cf T. VALSECCHI, Origine e sviluppo delle ispettorie salesiane in RSS 3 (1983),
pp. 263 - 273 e 273.

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Brasil: os Salesianos na Tebaida. Uma história que durou 20 anos (1902-1922) 261
Brasil. A área em sua totalidade alcançava os 5.430.815,70 km2 ou seja
63,54% da extensão territorial do país que é de 8.547.403,50 km2.
A então Província do Norte do Brasil tinha 32 salesianos e 3 noviços. As
obras eram 5. O Colégio de Artes e Ofícios do Sagrado Coração em Recife
(1894). A Colônia S. Sebastião em Jaboatão (1900). O Colégio do Salvador
ou Liceu Salesiano do São Salvador na Bahia (1900). O Orfanotrófio S. Joa-
quim em Recife (1902) e a Escola Agrícola S. José no interior de Sergipe, pri-
meira fundação do Norte (19 de março de 1902), após a criação da Nova Ins-
petoria do Norte do Brasil, em 20 de janeiro de 1902.
I. Da Bahia à Tebaida
1. Intervenções de Monsenhor Olímpio de Souza Campos
e Dom. Jerônimo Thomé da Silva
A presença salesiana em Sergipe teve como alavanca principal o Presi-
dente do Estado, na época Monsenhor Olímpio de Souza Campos 6 um dos
clérigos e políticos mais famosos do seu Estado. Outra insistência de peso, foi
a de Dom Jerônimo Thomé da Silva (1849-1924) Arcebispo da Bahia e
Primaz do Brasil. Também ele trabalhava para ver os filhos de D. Bosco ao
Norte de sua Arquidiocese. Segundo Della Valle foram «reiterados os pedidos
do Presidente do Estado de Sergipe e de S. E.cia o Arcebispo» e os Salesianos
deveriam fazer qualquer sacrifício para aceitarem a obra. A solicitação do
Prelado baiano, escrita em um Cartão de visita, foi transmitida ao P. Miguel
Rua pelo P. Luiz Della Valle (1872-1914), Diretor do Liceu da Bahia.7
O Superior Geral dos Salesianos e o P. Julio Barberis estavam a par da
problemática desde fevereiro de 1901, quando Luiz Della Valle fora aconselha-
do a visitar o local. Della Valle após conhecer o terreno envia aos Superiores
um volumoso e detalhado relatório 8 sobre a propriedade. Entre outras afir-
mações está a de que o Senhor Bispo ficaria feliz se pudesse inaugurar a
Colônia Agrícola no fim do ano, durante a visita pastoral. Por sua parte, Mon-
senhor Olímpio, terminaria o mandato em 1902 e gostaria também de acertar
tudo antes de entregar o cargo de Governador. Sua intenção era doar aos edu-
cadores baianos uma Escola Agrícola para meninos pobres. O Inspetor, Pe.
L. Giordano, carecendo de pessoal, não teve condições de atender de ime-
6 Presidiu O Estado de Sergipe 1899 - 1902. Morto no Rio de Janeiro em 9 de outubro
de 1906.
7 ASC F 545 carta Della Valle-Rua, Bahia, 22 junho 1901.
8 ASC F 545 carta Della Valle-Rua, 22 de junho de 1901. Ib.

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262 Antenor de Andrade Silva
diato ao presidente sergipano, de modo que este resolveu apelar diretamente
para Turim. Olímpio Campos gostaria também que os Salesianos fundassem
um Colégio na capital, onde as casas de educação, tanto masculinas como fe-
mininas, eram todas dirigidas por protestantes.
O entusiasmo do missionário italiano era incontido e enorme a pressa
que lhe acometia na aquisição das terras sergipanas. Della Valle em 1901, ex-
pediu pelo menos quatro missivas a Turim, abordando o mesmo problema.
Três ao Pe. M. Rua 9 e uma ao Pe. Júlio Barberis, aquela em que este acon-
selha-o a visitar o terreno. O secretário P. Eugênio Calógeras na crônica,
sobre a visita do P. Álbera à Bahia, em 1901, afirma que o Reitor Mor, P. Rua,
já havia então prometido a abertura da casa em Sergipe, afirmando mesmo
que o pessoal já havia sido escolhido.
A descrição demasiadamente otimista que L. Della Valle faz das terras
que ele chama a Escola Agrícola abandonada é plena de arroubo, entusiasmo
e se reveste das esperanças de um pioneiro do Oeste Setentrional Americano.
O professor Luiz de Oliveira comentando-a, diz perspicaz e graciosamente
que «supera de muito em otimismo as informações dos enviados de Moisés
para explorar a Terra Prometida».
«Encontram-se ali mais de cem pequenas casas para colonos e dois
grandes depósitos para colheitas. Treze pequenas casas para os sale-
sianos e alunos que começariam a colônia. Além disso o (terreno) é irri-
gado por pequenos rios e por um rio navegável até pouca distância, que
dá ótima água para beber e para irrigação, deixando-nos a cavaleiro da
seca nestes lugares, onde tanto se teme a falta d’água. Há grandes áreas
para plantações e um grande terreno, onde se pode criar quinhentas ca-
beças de boi sem contar as ovelhas, cabras, porcos, etc. Trata-se do
melhor pasto de Sergipe para a criação de animais e, podemos dizer a
única parte presentemente usufruída na colônia. Do mesmo terreno se
pode extrair a cal e a terra para se construir no local tijolos e telhas. Há
também madeiras para construção».10
A Congregação apossar-se-ia da Colônia através de uma compra, cuja
importância seria estabelecida, correspondendo ao seu valor, sendo o imóvel
vendido, livre de qualquer ônus de arrendatários. O dinheiro necessário re-
ceber-se-ia do governo com uma mão e pagar-se-ia ao tesouro do Estado com
a outra. Além disso seria aprovada uma lei pela qual a colônia seria subsi-
diada com a verba oficial de 15 contos anuais, para sustentação dos alunos da
Escola. Previa-se ainda a construção de uma casa para abrigar religiosos e
9 ASC F 730 Tebaida, Ao Pe. Rua:
01 de fevereiro de 1901. 14 de março 1901. Maio 1901 (não aparece a data). Della Valle-
Barberis, Bahia, 22 de junho de 1901.
10 ASC Della Vale-Rua, 22 junho 1901.

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Brasil: os Salesianos na Tebaida. Uma história que durou 20 anos (1902-1922) 263
alunos, o que seria realizado antes do término de 1902. P. Rota, anos mais
tarde, dirá que a casa e o terreno foram doados pelo Governo para se fundar
uma Escola Agrícola, que o mesmo Presidente Olímpio Campos “já tinha de
qualquer modo iniciado”.
Della Valle está disposto a se desfazer de um salesiano de sua comuni-
dade. Se necessário mandaria o P. Pascoal a Sergipe e viria mensalmente
ajudá-lo. Arrumar-se-ia com o atual pessoal da Bahia. Uma insistência paulifi-
cante. A resposta à sua ansiedade, foi dada pelo P. Miguel Rua e Celestino Du-
rando,11 ainda em 1901, no mesmo documento por ele escrito, em junho da-
quele ano. Ao conhecer a resposta positiva, Della Valle se apressa em comu-
nicar ao Arcebispo da Bahia que a Colônia Agrícola de Sergipe será aberta em
outubro ou novembro. Os semáforos de Turim lançam luzes verdes e assim, o
Inspetor Lourenço Giordano e Pe. Luiz Pascoal, próximo encarregado da
obra, viajam a Sergipe para se encontrarem com Olímpio Campos e procu-
rarem um local próprio para a obra.12 A propósito das andanças em busca de
um terreno propício a uma Escola Agrícola temos um comentário de Carlos
Leoncio que conheceu e viveu naquelas brenhas
«P. Giordano várias vezes nos contava, já na Tebaida, peripécias desta
viagem e as incertezas e dificuldades para achar um terreno apto para
uma Escola Agrícola. Quem conhece o velho Sergipe d’El Rei, sabe
como a novel capital Aracaju e arredores, estão situados num terreno
arenoso, cheio de dunas, transportáveis pelos ventos, às margens do
Cotinguiba, que dá à capital seu porto fluvial. Pelo interior, muitos
terrenos secos e cobertos de uma mais ou menos profunda camada de
pedregulhos que torna o solo árido e só revestido de uma vegetação
rasteira de carrasco, marmelo brabo e samambaia de folhas ásperas
como lixa».13
11 Pe. Celestino Durando (Cuneo, 29 abril /04/1840 – Turim, 27- março 03/11907). Du-
rante 40 anos foi membro do Conselho Superior. No Oratório foi colega e amigo de Domingos
Sávio. De 1886 a 1903 foi Inspetor da Inspetoria Exterior de Todos os Santos. Era uma Inspeto-
ria “sui generis”. Englobava as casas da Suíça, França, Espanha, Inglaterra, Polônia, África e
Ásia. Pe. Durando foi era também o responsável pela abertura de novas casas. Os freqüentes pe-
didos que chegavam a D. Bosco e depois ao Pe. Rua, ordinariamente caiam em suas mãos . Foi
o caso, por exemplo, da solicitação para a obra de Sergipe. D. Bosco não tinha tempo de res-
ponder as centenas de pedidos de fundações que eram feitos continuamente, após o reconheci-
mento da Sociedade em 1869 e a aprovação das Constituições em 1874. Em 1878, o Capítulo
Superior encarregou o P. Celestino Durando dos assuntos referentes àqueles pedidos. Vide ASC
D 868 e Francesco CASELLA, Le richieste di fondazioni a Don Bosco…, in RSS 32 (1988) p. 67.
12 A viajem de seis dias, iniciada em dois de março, era então realizada em trem, canoas
a remo ou à vela (jangada), cavalo ou carro de boi. Cf BS, Boletim Salesiano, outubro de 1902,
pp. 300 a- 302.
13 Carlos LEONCIO, Sete Lustros da Inspetoria Salesiana do Norte do Brasil (1895-
1930). Lorena-S. Paulo 1967, p. 79. Ainda hoje ao se visitar as vizinhanças da capital de Ser-
gipe, constata-se que a descrição do antigo aluno continua geograficamente muito atual.

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264 Antenor de Andrade Silva
Desanimados, cansados e sem encontrarem nenhum terreno apto aos
seus objetivos, o Monsenhor teria convidado P. Giordano e P. Pascoal para
conhecerem um seu sítio no local denominado Tebaida. Finalmente os nossos
desbravadores, após examinarem o local, gostaram e resolveram ficar.
Tratava-se de uma fazenda-pousada-fim de semana do Presidente. Na área
passavam os rios Pitanga e o Poxim, descortinando-se não longe o verde das
matas tropicais de Água Fria. O terreno, escrevia P. Della Valle, era uma an-
tiga Escola Agrícola abandonada com alguns pântanos e colinas piçarrentas.
Era um lugar pedregoso e insalubre, observaria tempos depois o P. Rota.
2. Inauguração
Escolhido o local, realizou-se a inauguração no Dia de S. José, 19 de
março de 1902. Estavam presentes o Presidente do Estado, Monsenhor
Olímpio de Souza Campos, diversas autoridades da Capital sergipana, da ci-
dade de São Cristóvão e da Bahia, bem como o P. Luiz Pascoal, sob cuja di-
reção ficaram os trabalhos da nova obra. A Ata da Inauguração descreve o
momento, referindo-se às autoridades presentes e às pessoas que pela própria
posição e cooperação preenchiam por si sós o edifício.14
O nome escolhido para a fundação foi “Escola Agrícola Salesiana S. José”.
Tratava-se de uma homenagem ao Santo operário, no dia de sua festa «e para
colocá-la sob o patrocínio do grande Protetor do Divino Artífice Jesus». Trata-
va-se também de um reconhecimento àquele “que tanto trabalhou e trabalha pe-
las Casas do Norte do Brasil”, o Pe. José Lazzero 15 (1837 - 1910), Inspetor do
Norte do Brasil, até 1902, quando foi substituído pelo P. Lourenço Giordano.
Após a inauguração o Inspetor, também Diretor da nova Escola Agrícola, de-
mora-se ainda alguns dias em Sergipe, retornando à Bahia no dia 4 de abril. P.
Luiz Pascoal permanece como encarregado da obra, auxiliado pelo irmão coad-
jutor Henrique Valle. Dois meses após, o Vigário de S. Cristóvão, P. Giovanni
Florêncio Pereira benze a Capela da Escola. Assistiam à cerimônia Mons. Olím-
pio Campos, o Deputado Dr. Severiano Cardoso e o Diretor da Instrução Públi-
ca, Dr. Manoel dos Passos Teles. Naquele dia, 19 de março, cinco alunos eram
recebidos na Escola. O mês e o número dos meninos coincidiam com o que
acontecera na Bahia, dois anos antes, quando ali foram matriculados, em 11 de
março de 1900, os cinco primeiros órfãos da carnificina de Canudos.
14 ACSA. Termo de Inauguração da Escola Agrícola “S. José”, fundada no Sítio
Thebaida.
15 Alusão ao tempo (após 1885) em que P. José Lazzero foi encarregado por D. Bosco
da correspondência com os missionários das Américas e, vivendo em Turim, era Inspetor da
Inspetoria do Norte de Brasil Mexicana e Venezuelana, incluindo casas do México, Estados
Unidos, Venezuela e Norte do Brasil.

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Brasil: os Salesianos na Tebaida. Uma história que durou 20 anos (1902-1922) 265
3. Nova paisagem às margens do Pitanga
O Senhor Olavo, primeiro irmão leigo a professar na Inspetoria Sale-
siana S. Luiz de Gonzaga, observa em sua Crônica que sob a proteção do go-
verno do Estado a obra prosperava. Chegou-se mesmo a aumentar a área ge-
ográfica, às margens dos dois rios. A ajuda mensal prometida e legalizada não
faltava aos aprendizes. Um Impresso publicado posteriormente pelas Escolas
Salesianas da Bahia traz uma descrição simples e bucólica sobre a fazenda
ocupada pelos missionários ítalo-baianos. Observa-se que se trata de uma
propriedade agreste, sáfara e ao mesmo tempo insalubre, exigindo muito tra-
balho, investimento e dedicação, para que se tornasse realmente produtiva. O
esforço constante modificou a paisagem da Tebaida, tornando-a habitável e
querida, deixando, segundo o impresso acima citado, saudades em seus ex-
alunos. Nasceu mesmo, nas suas vizinhanças a Vila Dom Bosco.16 O Vilarejo
tornou-se local de freqüentes visitas para os meninos da Escola S. José. Pi-
queniques, festas de S. João e outras, sempre acompanhadas pela banda, ad-
mirada e aplaudida pelo povo da vizinhança e da Vila Dom Bosco, espécie de
satélite da Escola S. José.
Mecenas das ciências agrárias, P. Giordano parecia sentir-se satisfeito
com a sua Tebaida. Um dos acontecimentos que lhe favoreceu foi a unifi-
cação das Províncias Norte e Sul,17 dando-lhe, condições de maior facilidade
no referente à transferência de pessoal para o Norte. No mês de outubro de
1911, P. Atílio Cosci se encontrava em Turim. Voltando ao Brasil passa um
ano na Escola de Campinas. No início de 1913, P. Rota manda-o para a Te-
baida, em companhia do P. Giordano meu antigo diretor da casa de S. Paulo.
Mais tarde, chegam P. Samuel Galbusera e P. Pedro Ghislandi. É o ano em
que foi inaugurada a célebre ferrovia Salvador-Propriá, cujo traçado original
16 ASC. F 730730, Thebaida.
17 Em reunião do dia 26 de janeiro de 1912, na sede inspetorial da Inspetoria do Sul,
em Lorena, o P. Inspetor Pedro Rota lê uma carta do secretário do Capítulo Superior, onde está
a notícia da unificação pela qual as das duas Inspetoria do Sul e do Norte do Brasil, passariam
a formarem uma só. Assim o país passou a ter uma única Inspetoria, até o final do Inspetorado
P. Rota. O fato ocorreu em maio de 1925. Naquela época passou-se novamente a formar duas
Províncias: a do Sul com o Inspetor P. Domingos Cerrato e do Norte sob a responsabilidade do
P. Ambrósio Tirelli. Alguns motivos que levaram os Superiores a tomarem a decisão: a) Poucos
salesianos, muito trabalho, cansaço e doenças. A Inspetoria do Sul tinha 118 salesianos,
enquanto no Norte havia cerca de 60 com uma média mais ou menos de 5 noviços ao ano.
b) Uma certa crise de autoridade, dificultava as mudanças de pessoal. O número insuficiente
de irmãos fazia com que os diretores não cedessem facilmente seus súbditos para outras comu-
nidades. c) Com a união, o Norte recebeu novos salesianos vindos do Sul. A formação dos
futuros salesianos passou a ser bem melhor, mais acurada com a preparação dos e nos seminá-
rios e o envio de estudantes para as casas de S. Paulo e da Itália.

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266 Antenor de Andrade Silva
passando nos terrenos da Escola foi posteriormente modificado pelos Coro-
néis locais, de acordo com seus interesses. Inicialmente, Attilio Cosci sentiu
um pouco o calor excessivo e piorou dos incômodos que lhe abatiam. No en-
tanto, sentia-se bastante entusiasmado e otimista pela obra: «em futuro não
muito remoto, a Colônia poderá honrar a Congregação, não só nesta zona,
mas em todo o Brasil».18 P. Atílio confiava sobretudo no seu antigo diretor
que, à frente da casa poderia em breve melhorá-la e desenvolvê-la. O que fal-
tava era dinheiro para se aceitar mais alunos pobres.19
Aprendizes e estudantes
Na Tebaida como de resto em outras casas de formação profissional sob
a orientação dos Salesianos, os jovens educandos se apresentavam em duas
categorias: aprendizes e estudantes. Aceitavam-se gratuitamente como ar-
tistas, ou aprendizes os meninos pobres e órfãos em extrema indigência. O
número dependia dos meios que o patriótico Governo e a caridade pública
oferecessem. Os garotos aprendizes da Colônia S. José ocupavam o tempo,
segundo a profissão que seguiam. Parte na agricultura e parte nas demais ofi-
cinas: marcenaria, sapataria, alfaiataria, serralharia, carpintaria, padaria e na
arte de pedreiro. Havia aulas de português, aritmética, história do Brasil, geo-
grafia, agricultura teórica, escrituração mercantil, e instrução moral e cristã.
Os que tivessem aptidão podiam também assistir aulas de declamação, de-
senho, teatro, música vocal e instrumental (aulas de canto e banda). Embora
houvesse o problema da distância, festas como a de S. Luiz de Gonzaga e
onomástico do Diretor (22/6), S. João (24/6) e Assunção de Nossa Senhora
(15/8) eram momentos ansiosamente esperados pela comunidade para se
ouvir a banda e a Escola de Cantos dos alunos e aprendizes.20
Os alunos eram divididos em duas categorias aprendizes e estudantes ou
pensionistas. «Ella (a escola) aceita gratuitamente como artistas, os meninos
pobres e orphãos que estejam em extrema indigência». Para grupo de estu-
dantes o ensino dividia-se em Inferior e Superior. O Curso Inferior – compre-
endia as matérias das aulas primárias, seguidas pela instrução pública: portu-
18 ASC F 730 carta Cosci - Álbera, 10 junho 1913.
19 ASC F 730 carta Cosci - Álbera. Thebaida, 16 de março de 1913.
20 Em certa ocasião (1918), em que se celebrava a Festa do Sagrado Coração de Jesus,
o senhor Bispo Dom Thomás da Silva apareceu dois dias antes. Compareceram mais de
40 alunos do Colégio N. S. Auxiliadora de Aracaju, juntando-se aos 20 da Escola Agrícola.
O 42 BC, acampado às margens do Poxim, veio dar uma tonalidade especial ao momento.
O Comandante que convidara o Sr. Bispo para celebrar a Missa dominical para a soldadesca,
participou juntamente com “a oficialidade de toda a festa e do nosso modesto banquete,
além de muitos soldados e de toda a banda do Batalhão. Attilio Cosci termina, afirmando
que tudo o que aconteceu na festa do S. Coração, foi um novo triunfo da pobre e rabugenta
Thebaida.

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Brasil: os Salesianos na Tebaida. Uma história que durou 20 anos (1902-1922) 267
guês, história, geografia, aritmética (as quatro operações e o sistema métrico),
corografia do Brasil, botânica e escrituração mercantil. O Curso Superior
abrangia, além das matérias correspondentes ao primeiro ano de madureza, a
escrituração mercantil e a mecânica. As condições para o aluno ingressar na
Escola eram ter boa saúde e estar entre os onze e quatorze anos. Deviam
trazer um enxoval ao que tudo indicava bastante dispendioso.
Atividades religiosas e sociais
Ao tomar posse da Escola S. José, P. Luiz Pascoal tentou imprimir um
“modus vivendi” que se assemelhava à vida nos Seminários ou Aspirantados.
O Calendário religioso seguido à risca durante o ano, constava em 1908, de
35 celebrações, divididas liturgicamente em Festas de Primeira, Segunda e
Terceira Classes, cada uma com suas solenidades e celebrações específicas.
Uma das práticas mensais era o Retiro. Para alunos durava cinco dias, en-
quanto para os Salesianos era de uma semana. Dava-se muita importância aos
tríduos preparatórios no início do ano, concluindo-se, com as Confissões ge-
rais. O espírito em paz, a mente e o coração eram requisitos preciosos para se
iniciar um tranqüilo e proveitoso ano letivo. Os frades Franciscanos de S.
Cristóvão, Frei Joaquim (Guardião do Convento), Frei Leonardo, Frei Be-
nigno e Frei Peregrino (foi também Guardião) muito auxiliavam em todos os
momentos solicitados. Aqueles religiosos deram, sobretudo nos momentos
das doenças uma assistência realmente fraterna e cristã à comunidade sale-
siana da Tebaida. Deve-se muito a eles.
Não faltavam diversões como o Carnaval Salesiano (com desfile de Zé
Pereira, quebra-potes e músicas), as “Festas salesianas”, os passeios 21 nas ci-
dades e campos, os piqueniques às margens dos rios ou nos montes circun-
dantes (S. Antônio, S. Miguel) 22 compunham a rotina do Internato. A pri-
meira “pequena academia” teve lugar a 22 de junho de 1902. Durante o al-
21 Os passeios eram chamados gerais, quando duravam um dia inteiro ou simplesmente
passeios, se apenas de algumas horas. Em certas ocasiões passavam o dia em sítios de amigos e
benfeitores da obra, como no do Coronel José Victor, residente em S. Cristóvão e no sítio Can-
deal da Boa Vista do político Yvo do Prado. Esses momentos eram também proporcionadas aos
meninos que se distinguiam por comportamento e estudo. Em janeiro de 1910, o Diretor P.
Pedro Blangetti e o ecônomo P. Bartolomeu Dolce visitam o Cel. José Victor que estava do-
ente. Vê-se que o relacionamento dos padres tebaidenses alcançava também a raia dos homens
ditos poderosos, ou os Coronéis que ajudavam na manutenção das obras sociais. Quando eles
cortaram os auxílios, exigindo que também seus filhos fossem educados nas Instituições reli-
giosas ou leigas beneficentes, ou educadores tiveram que aceitar pensionistas que pagavam e
assim puderam continuar suas obras.
22 ACSA Crônica, 29 de setembro de 1902. Na festa de S. Miguel de 1902, os alunos
em um dos passeios pelos tabuleiros da região, perderam-se e não mais encontravam o caminho
de volta. A intercessão ao Santo, diz a Crônica, fez com que novamente se orientassem e
retornassem à casa.

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268 Antenor de Andrade Silva
moço os meninos declamaram algumas poesias muito aplaudidas pelos pre-
sentes. O dia terminou com uma loteria em benefício dos alunos. Essas lote-
rias ocorriam freqüentemente, após as festas constantes da Escola. Faziam
parte da estratégia dos padres para ajudar na educação dos jovens carentes. As
pessoas admiradas com o rápido progresso dos meninos, não só os aplaudiam,
mas também os ajudavam pecuniariamente.
À medida que os anos se sucediam o grupo de músicos e cantores tor-
nava-se mais conhecido, através do Estado, fenômeno aliás também ocorrido
na Bahia. Os convites eram constantes para apresentações nas festas reli-
giosas ou profanas das cidades do interior e na Capital. Peças teatrais como A
aposta do Guedes, A peça bem pregada, Falso amigo, O Distraído (cujo per-
sonagem principal era Carlos Leoncio) foram repetidas diversas vezes na Es-
cola e fora. Na ocasião em que os despojos do Mons. Olímpio Campos che-
garam a Aracaju, transportados pelo paquete Esperança, os meninos da Te-
baida tocaram “lúgubres melodias” e cantaram a Missa de Requiem.23
Os artistas participavam até mesmo das comemorações dos políticos,
como aconteceu em agosto e outubro de 1908, com o governo José Rodriguez
da Costa Dórea (1908-1911). Na segunda ocasião, em outubro, tratava-se da
inauguração dos trabalhos de abastecimento de água da cidade de Aracaju.
Nestes momentos crescia o interesse dos homens públicos pela Escola, em-
bora as eventuais ajudas não fossem tão significativas. Em novembro de
1911, decretou-se uma verba anual de 10$000,00 (dez contos de réis) para a
Escola Agrícola S. José.
Noviciado
No início de 1903, o Noviciado que apenas durara um ano em Jaboatão-
Colônia, foi transferido pelo P. L. Giordano para a Tebaida. A mudança foi
um tanto intempestiva, pois a casa não apresentava infra estrutura para fun-
cionamento de um Noviciado, nem este havia sido aprovado canonicamente.
Os Noviços daquele ano tiveram que recomeçá-lo por três vezes, dado que a
aprovação eclesiástica foi concluída só em novembro de 1904. Os percalços
do Noviciado não foram resolvidos com a aprovação. Em novembro de 1905,
não havia mestre, nem assistentes, o Noviciado estava destroçado e envolto
nas doenças. Todos os noviços enfermos foram no início de 1906, trasladados
para a Sede Inspetorial do Recife (1906) e em outubro para Jaboatão -
Colônia.24
23 Cf O Estado de Sergipe, 22 de novembro de 1906.
24 ASC F 730 Tebaida. Cf também Carlos LEONCIO, Sete Lustros…, pp. 50-54.

2 Pages 11-20

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2.1 Page 11

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Brasil: os Salesianos na Tebaida. Uma história que durou 20 anos (1902-1922) 269
4. Horário
Um dos problemas nas casas fundadas no Uruguay e Brasil era o horário,
a norma era a observância das planilhas de Turim. Este ponto constituiu, em
diversos momentos, motivo de aborrecimento, tanto por parte dos religiosos,
como dos alunos e funcionários. É um dos assuntos que mais aparecem
no rol das críticas apresentadas ao P. Rota quando de sua visita à Escola.25
Os sócios, que não se adaptavam às mudanças do horário, alegavam que era
contrário aos costumes locais e aos usos da maioria de outros religiosos do
lugar. As mesmas observações foram dirigidas também pelos Salesianos e
funcionários da casa da Bahia. Era a repetição dos problemas acontecidos
anos antes na Inspetoria Uruguaio-brasileira nos tempos de Lasanha e Costa-
manha, quando por determinação médica, tiveram que seguir os costumes
brasileiros-uruguaios, ao contrário do que se ditava em Turim e se observava
na Inspetoria argentina. P. Rota ao comentar a problemática dos horários não
sabe o que dizer e lamenta-se observando que é de se deplorar:
«A pouca ou quase nenhuma uniformidade no horário e nos intervalos
entre uma refeição e outra. …Esses horários não favorecem nem aos
trabalhadores, nem aos trabalhos».26
Estranhamente o almoço em Sergipe, era às 10h00 da manhã e a janta às
15h00. Deveria ser realmente insuportável para os locais.27 Observam apenas
dois banhos semanais, às quintas, domingos e dias santificados. Coisa inaudi-
ta na América tropical. Costumes europeus, de climas temperados, onde não se
transpira tanto, transplantados para regiões que oscilam facilmente de 25° a
35°, quanto não aos 40° centígrados. E no Brasil, onde três a quatro banhos por
dia são coisas comuns, o banho faz parte da cultura do povo, todos os dias, pe-
la manhã e à noite, antes de dormir. É de se notar ainda o fato de o banho nas
quintas-feiras, estar colocado, antes do trabalho e do recreio. Os garotos, iriam
pouco depois ao estudo, certamente transpirando odores não muito benignos,
mesmo que o “trabalho” não tivesse sido no campo. O horário para ser muda-
do tinha que ser previamente aprovado pelo Provincial. P. Attilio Cosci, ao es-
crever a P. Paulo Álbera, segundo sucessor de D. Bosco, deixou-nos uma des-
crição penosa e sorumbática sobre as horas enfadonhas e tristes dos Salesianos
e órfãos na Escola S. José. Ali, os dias passavam monótonos, silenciosos e
monacais, ouvia-se apenas o canto dos passarinhos ou o sibilo dos insetos.28
25 O Visitador chegou à Tebaida em 10 de maio de 1908.
26 ASC F 744 De um relatório de P. Rota, sem data.
27 Horário geral da Thebaida, (Ib. Há outro horário modificado com poucas diferenças
em ACSA.R R)
28 ASC F 744 carta Cosci - Álbera. Tebaida, 2 julho 1919.

2.2 Page 12

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270 Antenor de Andrade Silva
5. Um Calvário sem Tabor
Os anos da Tebaida foram duros, verdadeiramente tempos de pionei-
rismo e de desbravamento da terra para funcionamento da Escola. «Muitos
eram os trabalhos que exigiam uma pronta execução e não poucas as dificul-
dades que foram surgindo para embargar a empresa».29 Uma espécie de Me-
cenas das ciências agrárias, P. Giordano fundador em Pernambuco da Escola
Agrícola S. Sebastião de Jaboatão-Colônia, exerceu um papel preponderante
na sistematização da nova obra em Sergipe. Para melhorar e aumentar a área
cultivavel, implantou nos banhados e morros, um sistema de drenagem e dis-
tribuição de águas.30 De janeiro a março de 1908, foram realizadas diversas
obras no rio Pitanga. Entre elas a instalação de um Carneiro e a construção de
um muro para evitar as inundações na época das cheias. O Inspetor-diretor-
agrônomo incentivou a adubação da terra, o combate aos insetos, especial-
mente as formigas 31 que arruinavam os pastos. Realizou reformas e cons-
truções para melhorar as condições de vida dos salesianos e alunos. As casas
de taipa, cobertas de palha de coco e o comprido barracão foram melhorados.
Esses serviços, alguns deles, também realizados na Escola Agrícola da
Colônia de Jaboatão, envolveram grandes dificuldades e força de vontade do
P. Giordano. Não faltavam as críticas feitas ao Inspetor-diretor.32 Era vultoso
o investimento necessário para viabilizar as culturas na área num terreno em
parte colinoso e sáfaro, embora irrigado pelos dois rios.
P. L. Giordano gastou ali somas ingentes em trabalhos colossais, nem
sempre com retorno. No entanto o Provincial Pedro Rota defendia seu subal-
terno das críticas por vezes acerbas que se lhe faziam. O Inspetor, dizia, tem
uma visão que outros desconhecem, em se tratando de determinados pro-
blemas. Aliás, com o tempo percebeu-se que «trabalhos antes considerados
desnecessários e inviáveis, foram de grande utilidade e conveniência».33 Os
grandes trabalhos, dos quais se fala, foram executados principalmente em
Sergipe e Jaboatão, com o objetivo de recuperar lugares insalubres, onde
havia muita água, para em seguida distribuí-la em outras áreas.
29 Ib. Escola Agrícola S. José (Tebaida).
30 Monsenhor Olímpio teria presenteado a Escola com um Cata-vento. Constantemente
em conserto, gastava tanto que passou a ser chamado de Cata-dinheiro.
31 As saúvas mais encontradiças na Tebaida eram as anófeles faciatas, transmissoras da
malária. Eram as incontestáveis senhoras dos brejos circunvizinhos, dando cabo das plantações
agrícolas e de seus esforçados agricultores. Maiores informações em Dicionário Aurélio.
32 Em P. Rota lemos que alguns sócios se queixavam que, enquanto o Inspetor se encon-
trava na Thebaida, trabalhava-se muito. Por vezes dava contra ordens às suas próprias
e às do encarregado, que fazia praticamente a parte de diretor.
33 Cf ASC F 730 Tebaida.

2.3 Page 13

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Brasil: os Salesianos na Tebaida. Uma história que durou 20 anos (1902-1922) 271
«Aqui, extensos paús que infectavam a atmosfera com as exhalações de
aguas estagnadas: alli pelos tabuleiros, terrenos adustos de pedregulhos,
acolá, vastos planaltos onde as plantinhas apenas despontadas morriam à
mingua da agua vivificadora».34
Outro problema de difícil solução consistia no isolamento em relação às
Capitais sergipana e baiana. A situação da estrada era tal, que segundo P. José
Blangetti, às vezes era preciso três juntas de bois 35 (seis animais) para puxar
um carro, “coisa que entre nós (na Itália), até uma vaca magra conduziria”.36
O caminho de ferro que levaria à Bahia e ficaria a um quilômetro ou um
quilômetro e meio da escola, conforme as promessas dos políticos regionais,
demorou uma eternidade nas pranchetas dos homens 37 da Great West.
Quando chegou na área da Tebaida, inícios de 1913, passou a uma certa
distância das residências, ficando a estação a cerca de três quilômetros do te-
rreno dos padres. Os Coronéis, interessados em que a via cortasse seus te-
rrenos, haviam desviado o traçado. Os Salesianos tiveram que comprar uma
área de 30 metros de largura, que ia da Estação à Escola S. José. Naquele
corredor construiu-se a Avenida Mons. Olímpio. A estação foi chamada, ora
Tebaida, ora Dom Bosco. “Anos depois o mato tomou conta da estrada
e de tudo, na velha Tebaida,” conclui sorumbático Carlos Leoncio. O
trem, enquanto funcionou, era mais vagaroso do que um lesma, acrescenta
P. Attilio Cosci.
P. José Blangetti, encarregado da Colônia Agrícola em 1910, cujo pedido
de fechamento da casa fora bochado, deixou-nos um juízo impressionante
sobre o sítio onde Mons. Olímpio descansava de suas lides políticas.
«Aqui só existem duas coisas boas: ar e água. Nada mais presta. A casa
é de taipa (paus com barro) e de pouca duração. Aliás, uma parte está
para cair. Todos dizem que o terreno é ruim, agricultores e não agricul-
tores. Gasta-se muito mais do que aquilo que se recolhe. O lugar é longe
de tudo (cerca de 18 km da capital)».38
34 ASC F 730 Escola Agrícola S. José (Tebaida).
35 Seis animais.
36 Ib. carta Blangetti - Rinaldi, 26 fevereiro 1910. Cf Anexo II.
37 Em 18 de fevereiro de 1908, aparecem nos terrenos da Escola S. José os primeiros en-
genheiros, chefes e outros funcionários para medirem as diversas curvas de níveis do terreno
em relação ao mar. O mesmo fizeram em relação ao rio Pitanga. Naquela ocasião, informava-
se que a estrada Salvador-Propriá vinha cortando os morros da Boa Terra. Em 1905, P. L. Gior-
dano prestara uma homenagem à futurível ferrovia. Em um piquenique às margens do Pitanga,
fez um discurso entusiasmado, afirmando que os Salesianos e alunos das Casas da Bahia e Ser-
gipe deveriam juntos homenagearem “a primeira máquina que por aqui passar”. O velho bata-
lhador veria a locomotiva em 1913. (Cf ACSA, Crônica).
38 ASC F 730 Blangetti Giuseppe - D. Rinaldi. Carta de 31 de maio de 1910.

2.4 Page 14

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272 Antenor de Andrade Silva
6. Delenda Thebaida
Algumas das críticas à Escola S. José eram bastante violentas. Os mais
radicais pregavam mesmo o fechamento, a destruição da obra. Um de seus
conhecedores e defensores era o padre Pedro Rota. Ele achava que «as cosas
iam bastante bem», confessando que seu entusiasmo renascia, quando visi-
tava a Colônia. Suas prevenções desapareciam, observando o que se tinha
feito, à custa de tantos sacrifícios. Realmente as informações a respeito da
fundação do Pitanga mostram que os Salesianos foram verdadeiramente he-
róis e desbravadores. As dificuldades 39 de todos incluíam também a alimen-
tação. No entanto, diziam-se contentes, crendo mais ou menos no futuro.
Estas atitudes levavam Rota concluir que em sua opinião, a casa deveria con-
tinuar, mesmo porque em se fechando ganhar-se-ia pouco pessoal.40
O auxílio governamental inicialmente da ordem de 20:000$000 (vinte
contos de réis) anuais, passou para 15:000$000 e em 1909 reduziu-se a
10:000$000. Em setembro as autoridades governamentais suprimiram total-
mente a ajuda. Perante a situação criada iniciou-se então um internato para
estudantes. As mensalidades destes pensionistas amenizavam as necessidades
da Escola. No ano seguinte o internato foi transferido para a capital, onde
então teve início com os referidos alunos uma nova obra, O Colégio Sale-
siano N. Senhora Auxiliadora.
O chefe do Estado, Dr. José Rodriguez Costa Dórea, visita a Escola,
acompanhado de numerosa comitiva.41 O cronista anônimo diz que «a visita
foi rápida e deixou impressão pouco sofrível». Chocado com a imagem que
observou, ao despedir-se o político diz rápida e secamente, dirigindo-se ao
P. José Blangetti: é melhor fechar a escola e trocar de lugar.42 Cerca de três
meses depois,43 promete-se uma verba de 6:000$000, notícia depois confir-
mada por P. Rota.
Atordoado e em pânico, Blangetti faz ao P. Rinaldi uma relação, talvez
um tanto exagerada, sobre a situação da obra, implorando que o Superior diga
o que deve fazer. Suas lamúrias podem ser resumidas nos seguintes pontos: a
casa isolada a dezoito quilômetros da capital está para cair. As subvenções
foram cortadas e o governo acha que é melhor fechar a Escola ou mudar de
39 Os problemas se avolumaram a partir do violento assassinato de Mons. Olímpio de
Souza Campos, acontecido no Rio, aos 9 de novembro de 1906. O desaparecimento do grande
cooperador e primeiro benfeitor, fez a Escola Agrícola S. José entrar em contagem regressiva
para o seu declínio, embora seus sete fôlegos durassem ainda vários anos, enquanto apareciam
em cena outros agravantes.
40 ASC F 545 carta Rota – Gusmano, 10 agosto 1915.
41 Em 14 de fevereiro de 1910.
42 ASC F 358 carta Blangetti – P. Rinaldi, 26 fevereiro 1910.
43 Em Maio de 1910.

2.5 Page 15

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Brasil: os Salesianos na Tebaida. Uma história que durou 20 anos (1902-1922) 273
lugar. Assim pensam também os benfeitores. As dívidas são muitas com um
déficit de L. 19 por dia.44 Três meses são passados e Turim continua em
silêncio. José Blangetti escreve outra carta, já mais tranqüilo, pois “qualquer
coisa havia melhorado”. Falava-se que a estrada de ferro passaria a hum
quilômetro e meio da casa e não mais a três. Havia ainda a promessa de que o
governo voltaria a ajudar com uma verba anual de 6:000$000. O Diretor,
porém, termina sua missiva um tanto impaciente e fortemente crítico, ao
mesmo tempo que pede insistentemente que P. Rinaldi lhe responda,
«ou melhor ainda, que nomeie pessoas sérias para examinar tudo
seriamente e não acreditar nas belas palavras de quem não quer que
se conheçam as misérias desta casa».45
A impaciência e o desabafo deixam entrever que entre José Blangetti e o
Provincial havia pequenas rusgas. Seu estado de espírito era possivelmente
agravado pelas enfermidades que campeavam pela Escola. No final, diz que
para cuidar da saúde e para melhor conversar sobre as nossas críticas con-
dições, precisa ir a Itália. Já havia pedido ao Provincial, mas a resposta foi ne-
gativa e de modo absoluto. Naquele mês de maio, havia na Escola S. José 23
jovens pobres e 9 estudantes pensionistas. Dois anos antes de seu fechamento,
P. Rota resumia assim a história da fundação que tanto entusiasmou Luiz
Della Valle e Lourenço Giordano.
«A Escola Agrícola jamais conseguiu sustentar-se sozinha. O governo
dava um subsídio de 6 contos ao ano (10 mil liras naqueles tempos); mas
o penúltimo Governador não deu nada. A Inspetoria ajudou, fazendo que
outras casas mandassem regularmente qualquer coisa. O pobre P. Ghis-
landi andava daqui e dali, pregando para poder trazer para casa qualquer
coisa. No entanto, jamais se deixou de trabalhar e a Escola apresentava
uma bela vida, embora quase ninguém se dignasse visitá-la. E assim
vivia sua vida mesquinha, raquítica, sempre esperando tempos melhores,
que nunca chegavam. Mas, de qualquer modo, não se encontrava mo-
tivos suficientes para se fechar aquela casa. Em tais condições, que se
deve fazer? Propuz que fosse fechada e tive resposta negativa».46
7. O matadouro
Impressionam os acontecimentos negativos que se abatiam periodica-
mente sobre a Escola S. José. Alguns meses antes da tocaia ao veículo de
Mons. Olímpio Campos, as febres palustres desceram incontroláveis e impie-
dosas sobre habitantes daquela comunidade. No segundo semestre de 1905,
44 ASC F 385 carta Blangetti – Rinaldi, 31 maio 1910.
45 Ib.
46 ASC F 730 Tebaida, 30 maio 1920. Roma. S R, F 730.

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274 Antenor de Andrade Silva
adoeceram, o Diretor, P. L. Pascoal, o Mestre de Noviços L. Della Valle 47 o
assistente Cl. Lukaszéwski, os noviços. Doentes e praticamente abandonados,
dadas as circunstâncias.48 O Provincial estava a cerca de 3.000 km, visitando
a Amazônia nos confins da Província. O pessoal da Escola foi atendido pelos
frades do Convento dos Franciscanos de S. Cristóvão. O superior da comuni-
dade, Frei Eduardo «vinha confessar, celebrar missa aos domingos e… con-
solar».49 Quando os ataques do impaludismo faziam-se presentes, duas vezes
por dia, o caridoso Guardião do S. Cristóvão transportou e atendeu diversos
noviços em seu Convento. O diretor da Bahia, P. Clélio Sironi, ao saber do
que acontecia ao Norte de sua Comunidade, correu alarmado para assistir
seus irmãos. Não podendo ficar ali por mais tempo mandou o P. João Gaspa-
roli para junto dos enfermos.
Salvador Rosário Piccolo era um irmão leigo salesiano. Chegara ao
Brasil há apenas dois meses e já fora acometido por grave enfermidade. A
conselho do médico Dr. Costa Pinto, foi transportado do Colégio N. S. Auxi-
liadora de Aracaju para a Tebaidinha, onde se esperava que os ares mais sau-
dáveis facilitassem sua cura. Seu Salvador não resiste e expira,50 cantando irei
vê-La um dia, palavras de um motete mariano muito popular no Brasil. De
acordo com o atestado médico o óbito teria acontecido por complicações de
febre remitente biliosa com caracteres típicos. Um dos padres, escrevendo ao
P. Álbera afirma peremptoriamente que a morte do coadjutor foi mesmo de
febre amarela. O médico lhe havia segredado que o verdadeiro motivo fora
oculto para que não se causasse problemas no Colégio. As pessoas ficariam
alarmadas. Através de uma informação de Lourenço Gatti ao P. Gusmano
sabe-se que a infecção não teria sido uma indigestão, mas contraída em uma
latrina provisória da Tebaida, onde também um jovem teria adquirido o mal,
salvando-se por causa de sua robustíssima têmpera. P. Gatti ainda afirma que
a Inspetoria Higiênica já havia reclamado duas vezes contra as condições
daquele sanitário.
P. Pedro Ghisland não dava esperanças de ficar bom, embora em conva-
lescência, fora de casa. Um aluno do Colégio refugiara-se com a família,
também acometido pelas febres. Diante da situação o médico foi convidado a
fazer uma visita aos doentes da Tebaida. Ao retornar para Aracaju, o profis-
47 Havia-se retirado para o Convento dos Franciscanos na cidade de Esplanada (BA),
piorando retirou-se para Itália onde veio falecer, em 1914.
48 Cf P. Carlos LEONCIO, Sete Lustros…, Lorena, S. Paulo, 1967, pg. 53. Ver também
ainda Luiz de OLIVEIRA, Centenário da Presença Salesiana no Nordeste do Brasil, Vol. I. Recife,
Escola Dom Bosco de Artes e Ofícios 1994, pp. 76-77.
49 Cf Carlos LEONCIO, Sete Lustros…, pp. 53-54.
50 12 de abril de 1912.

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Brasil: os Salesianos na Tebaida. Uma história que durou 20 anos (1902-1922) 275
sional, horrorizado fez um juízo drástico e preocupante sobre o ambiente que
viu: aquele lugar é um matadouro.51 Os frades do S. Cristóvão não alimen-
tavam idéia muito diferente: não compreendiam como se poderia continuar
vivendo num ambiente daquele.
8. Reformas
Não obstante a desolação e a falta de recursos, muito se gastou para se
melhorar a vida dos aprendizes da Escola S. José. Quando havia condições
fazia-se alguma reforma. Dos anos 1905 a 1909, excluídos 1906 e 1908, a
Província carreou para a Thebaida 1.700$000 contos de réis.52 Um pouco
antes do onomástico de P. L. Giordano (1918) foram realizadas várias melho-
rias nos ambientes mais precários: refeitório, cozinha e dispensa, que ame-
açam ruir. Na ocasião inaugurou-se a Avenida, P. Giordano, traçada por ele.
Começava próxima à porta da Capela e alcançava a Estação. Outra luz no
fundo do túnel tebaidense foi a inauguração de uma nova casa de Farinha.
Mais moderna do que as encontradas na região. Era o progresso chegando às
mãos daqueles jovens camponeses que pouco a pouco iam aprendendo a
tratar os produtos do campo.
P. Attilio Cosci 53 retorna à Direção da Tebaida (1919). Em julho,
escreve ao P Paulo Álbera, para dar-lhe notícias sobre esta pobre casa. Fala
sobre as culturas dos campos e o Sistema de educação que já havia dado sufi-
cientes provas de eficiência. Attilio tentaria soerguer a Tebaida e uma de suas
atribuições era continuar a Capela dedicada a N. Senhora Auxiliadora, ini-
ciada pelo P. Lourenço Giordano em 1904. Cosci trata com P. Álbera sobre a
construção da Capela e comunica que está trabalhando para conseguir alguns
trocados, a fim de levantar as colunas da mesma. Certamente confiava na
Providência, pois a vida estava difícil. Na época, não havia nenhum pensio-
nista, nem entrada fixa. A nota afinada que ainda consola o intrépido missio-
nário são os seus órfãos “piedosos e bons”. Alguns deles poderiam ser com-
parados com Domingos Sávio.54
9. Um vizinho prepotente.
P. Giordano sustentou uma séria e incômoda questão fundiária com um
51 ASC, Roma. F 730 carta Carta do P. Lourenço Gatti ao - P. Gusmão. Aracaju, 14 de
julho de 1912.
52 ASC F 358. Rendicontos do Inspetor.
53 No fim de 1912, foi mandado para a Escola S. José, pelo “quase irmão” P. Rota.
Tentaria soerguer a Tebaida, no entanto logo depois no ano seguinte retorna ao Sul. Vamos
encontrá-lo trabalhando na formação em Luiz Alves, Estado de Santa Catarina.
54 ASC carta Attilio Cosci - Álbera, Tebaida, 2 julho 1919.

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276 Antenor de Andrade Silva
“vizinho prepotente”, Heitor Cisneiros de Albuquerque. O cidadão alegava
ser o verdadeiro proprietário da área adquirida para se construir o acesso
entre a Estação Tebaida e as Casas da Escola. Invadiu a gleba, cercou-a com
arame farpado, soltava seus animais e “roubava” a madeira. Criou-se um
grave problema, pois de nada serviram as tentativas de solução amigável. A
diatribe foi terminar nos tribunais, protelando-se por diversos anos, enquanto
os Salesianos gastavam somas que não podiam com advogados e procura-
dores 55 Heitor Cisneiros era homem de prestígio fazia parte da coronelança
local, das oligarquias da República Velha. Tinha entrada no Tribunal de Jus-
tiça de Aracaju. Podia e toparia a briga com os gringos da Tebaida, os filhos
da Calábria. Tanto mais que o partido dos padres estava em baixa. Após os
acontecimentos ligados ao assassinato do Monsenhor Olímpio de Souza
Campos, o clero não gozava de muita cotação na Praça. Os artigos dos jor-
nais, publicados por ambas as partes, acusavam os salesianos, alimentavam as
piadas e jogavam lenha na fogueira, acirrando cada vez mais os ânimos.
Dizia-se, entre outras afirmações, que na Tebaida nada se ensinava, que os pa-
dres “se locupletavam com os serviços dos menores”, “os alunos eram
poucos”. Os religiosos eram chamados de hordas de aventureiros, corja de
parasitas, filhos da Calábria (mafiosos), serpentes.
Finalmente aos 29 de setembro de 1918, o Juiz de Direito da 1a vara,
«sentenciou nos autos da acção ordinaria proposta pelo padre Lourenço
Giordano contra Heitor Cisneiros, mandando que este restitua aquelle os
terrenos de que se acha de posse indevidamente retirando a cerca e sus-
pendendo definitivamente a destruição das mattas e capoeiras existentes
nos mesmos terrenos (Thebaida), condemnando o réo Cisneiros a pagar,
pelo que for apurado, a importancia das mattas e capoeiras destruidas,
juros da mora e custas, ficando o autor padre Lourenço Giordano man-
tido na posse e goso dos terrenos por lhe pertencerem».56
Ao partir para o Rio Negro, L. Giordano, novo Prefeito Apostólico, no-
meado em 1916, viajou satisfeito pois era já conhecedor da resposta da Jus-
tiça. Todavia, os Salesianos só conseguiram alguma coisa, através de um
acerto amigável com o “vizinho prepotente”. Irreconciliável com o P. Gior-
dano, Cisneiros esperou sua viagem para a Amazônia para se aproximar
“quase espontaneamente” dos Salesianos que embora, lesados fizeram um
acordo, pelo qual,
«conseguimos que ele nos rehouvesse o terreno de que realmente pre-
cisávamos para termos nossa estrada livre e direta até à estação e nós
55 ASC F 730 carta de P. Rota - Calógero Gusmão, Bahia, 10 de agosto de 1915.
56 ASC F 730. Cosci - P. Álbera, 02 julho 1919.

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Brasil: os Salesianos na Tebaida. Uma história que durou 20 anos (1902-1922) 277
lhe cedemos um pasto muito útil para ele, mas para nós de nenhuma
utilidade».57
10. Mudança de governo
O novo governo de José Joaquim Lobo (1918-1922), parecia um pouco
mais favorável e de boas intenções. Naqueles dias P. Rota, escreve 58 da Bahia
ao padre Pedro Ghislandi, dando-lhe algumas instruções sobre a Tebaida.
Entre outras pedia que fosse até ao novo governador e lhe fizesse ver da im-
possibilidade de os Salesianos continuarem na Escola, sob as condições
atuais. O Inspetor então, parecia mesmo decidido a fechar a Colônia, vez que
autorizou P. Pedro Ghislandi a dar conhecimento ao primeiro mandatário do
Estado que se as coisas não melhorassem a Congregação ver-se-ia na dura
necessidade de fechar a Escola. Dias depois o Governador visita a Tebaida,
acompanhado por várias autoridades. Saiu satisfeito e prometeu ajudar a Es-
cola. Suas impressões ficaram exaradas no Livro dos visitantes. Um dos re-
sultados positivos da visita foi o início do cumprimento das promessas de
ajuda. Parte dos débitos atrasados do Estado para com a Escola foram pagos.
P. Cosci satisfeito escreve ao P. Álbera:
«o governo do Estado nos desprezou por longo tempo, mas o atual presi-
dente do Estado visitou a Escola e ficou tão satisfeito que logo nos deu
um subsídio. Se o governo continuar seu apoio creio que em pouco
tempo nos reergueremos».59
A casa na época estava em estado quase deplorável, quase em ruínas.
Com as esperanças das ajudas prometidas, pensou-se em se realizar alguma me-
lhoria nos ambientes. Fez-se um cálculo do montante a ser gasto. O resultado po-
rém, foi decepcionante, dada a desproporção entre o que se precisava fazer e o
que se esperava receber como auxílio. A conclusão a que chegou é que se estaria
diante de mais um peso para a comunidade. Assim, o assunto das reformas foi
encerrado. Ghislandi, em face à dura realidade, resolve escrever ao Governador
Joaquim Lobo. Trata de vários assuntos: da história da Tebaida, dos esforços da
Congregação em manter ali os mais competentes salesianos, das enormes somas
jogadas sem retorno, dos problemas de saúde. E conclui afirmando que:
«A Congregação Salesiana se encontrava na iminência de fechar a Es-
cola, destinando os poucos alunos (uns 20) a qualquer outra nossa casa
ou restituindo-os às famílias».60
57 ASC, Ib. A Tebaida, 30 maio 1920. Pasta sobre a Tebaida.
58 ASC F 545 Carta Rota - Ghislandi, Bahia, 9 fevereiro 1919.
59 ASC F 730 carta Cosci-Álbera, 2 jullho 1919.
60 Ib. A Tebaida. Não foi encontrado o original da correspondência de Ghislandi ao Go-

2.10 Page 20

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278 Antenor de Andrade Silva
A comunicação do Diretor foi interpretada no Palácio do Governo como
um ultimato dos Salesianos sobre a Escola S. José. P. Rota no início do mês
viajara para o Norte, onde colheria informações mais detalhadas sobre a
morte de Mons. L. Giordano. No entanto, em Manaus teve conhecimento do
conteúdo da missiva de Pedro Ghislandi e da reação do Governo. O Diário
Oficial de Sergipe veiculara a notícia sobre a situação da Escola, tendo o Go-
verno interpretado o documento como praticamente o encerramento dos tra-
balhos dos Salesianos no local. O Provincial ficou surpreso. Diante do fato
tenta explicar a atitude do P. Pedro Ghislandi.
«Passei pela Bahia no dia 09 de fevereiro, dali escrevi uma carta ao P.
Ghislandi que me pedia instruções. Escrevi rapidamente … e vejo que
ele interpretou a coisa de modo mais explícito e foi logo ao positivo.
Considero que ele não fez isto para ver-se livre daquele peso, porque P.
Ghislandi era bastante afeiçoado à Tebaida. Certamente ele era de
acordo, antes, acreditava ser encarregado de agir daquele modo. Eu não
posso dizer outra coisa, porque não sei como o Governador viu a coisa,
sendo que o Diário Oficial simplesmente apresenta o documento sem
fazer nenhum comentário».61
II. Transferência para Aracaju
1. O Oratório da “Tebaidinha”
As condições na Tebaida jamais foram propícias à organização e manu-
tenção de um Oratório Festivo. As residências eram escassas e distantes umas
das outras, dificultando as reuniões dos poucos jovens existentes.62 Por isso
mesmo, os salesianos sempre esperavam pela fundação de uma obra na Capi-
tal, onde se encontravam muitos meninos e jovens, carentes de assistência re-
ligiosa. P. Lourenço Giordano informa que em 1907, trabalhava-se para fundar
o Oratório festivo de Aracaju. Seu funcionamento teve início no ano seguinte
com poucos meninos. Chamava-se “Tebaidinha”ou “Recreio da Infância”. No
título “Oratório festivo”, das prestações de contas enviadas a Turim, P. Gior-
dano deixou-nos a partir de 1903, até 1909, a caminhada progressiva inicial da
Obra dos Oratórios em Sergipe.63 A última informação (1909), registra que foi
aberto o Oratório festivo de Maria Auxiliadora em Aracaju. Os jovens que se
vernador José Joaquim Lobo. O fato é descrito pelo P. Rota no relatório A Tebaida, de 30 de
maio de 1920.
61 ASC F 730. A Tebaida, 30 maio 1920.
62 Ainda em 1999, pode-se constatar como são raras as casas em torno da região,
havendo mais habitações nos arredores de S. Cristóvão.
63 ACSA F 744 Crônica.

3 Pages 21-30

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3.1 Page 21

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Brasil: os Salesianos na Tebaida. Uma história que durou 20 anos (1902-1922) 279
apresentavam eram mais de trezentos, a freqüência cerca de cem, enquanto que
muita gente do povo vinha assistir as funções da manhã e da tarde.
«Em 15 de agosto, abre-se solenemente em Aracaju, em terreno adqui-
rido à Rua da Aurora pelo P. Giordano, um Oratório festivo chamado Te-
baidinha, talvez por ser refúgio dos remanescentes da antiga Tebaida».64
A Crônica sergipana 65 registra que no dia 14 de agosto, os meninos e
cantores da Tebaida, acompanhados pelo Provincial e o Diretor foram para
Aracaju, a fim de inaugurarem o Oratório Festivo de N. Senhora Auxiliadora,
“a qual inauguração teve lugar no dia seguinte”. A expressão dia seguinte dá
a entender que o Oratório foi inaugurado no dia 15 de novembro e teria ini-
ciado na Rua da Aurora.
2. O Colégio da Rua da Aurora
As dificuldades de manutenção dos aprendizes da Escola Agrícola,
como também a insistência de vários pais de família, levaram o novo diretor,
P. José Blangetti a abrir na Tebaida uma sessão de alunos pensionistas. Esses
internos e externos pagantes, dos cursos primário e secundário colaborariam
no sustento dos aprendizes gratuitos. Em 1911, este grupo de alunos, foi
transferido, ainda a pedido das famílias, para a Capital, fundando-se então O
Colégio de Nossa Senhora Auxiliadora, inaugurado a 1° de março,66 à Rua da
Aurora, também chamada na época Rua da Frente ou Ivo do Prado.67 O
imóvel era uma casa alugada, às margens do rio Cotinguiba que separa Ara-
caju da Ilha da Barra dos Coqueiros. Bem próximo dali o Cotinguiba mer-
gulha no mar. Os ventos do Tenebroso Netuno, quem sabe, afugentariam os
miasmas deletérios das enfermidades tropicais.
A Capital não dispunha de Colégios, havendo outro estabelecimento
protestante, que não estava bem. Falava-se mesmo de seu próximo fecha-
mento. No primeiro ano de funcionamento foram matriculados 64 alunos dos
quais 17 internos. O Estabelecimento teve de imediato boa aceitação, pas-
sando a receber desde os filhos do Governador, àqueles de outras autoridades
64 Cf ASC F 385 Olavo ALMEIDA, Riassunto storico; cf também Carlos LEONCIO
65 ACSA Crônica de 1908, dias 14 - 18 de novembro.
66 Cf Carlos LEONCIO, Sete Lustros…, p. 82; Luíz OLIVEIRA, Centenário..., p. 107.
67 O primeiro Colégio Salesiano de Aracaju, situava-se onde atualmente (abril de 1999)
está o (velho) Mercado da Cidade. Está para ser inaugurado um novo Mercado (projeto arqui-
tetônico de uma ex-aluna do Colégio N. Senhora Auxiliadora de SE), a poucos metros do an-
tigo. A Rua da Aurora de antanho, compreende atualmente três trechos: a Otoniel Dórea, do
Mercado Velho ao antigo prédio da Receita Federal, na Praça Gal. Valadão; a Av. Rio Branco,
do prédio da Receita Federal à Praça Fausto Cardoso e o terceiro trecho a Av. Ivo do Prado, da
F. Cardoso a Av. Augusto Maynard.

3.2 Page 22

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280 Antenor de Andrade Silva
tais como magistrados, usineiros e comerciantes e do povo em geral. Os
filhos da elite social sergipana passariam a contribuir com suas mensalidades
para a instrução e formação dos sem elite e sem futuro. Diversos pedidos de
matrícula foram rejeitados e o P. Giordano chegou a desautorizar novos in-
gressos de alunos «para não aumentar o trabalho do escasso pessoal sale-
siano». Os ambientes apertados não comportavam mais de 50 externos, o que
totalizaria 67 alunos, diz o Vice-diretor e Conselheiro Escolar P. Solari.
«O presidente do Estado 68 nos estima muito. No ano passado, durante a
distribuição dos prêmios aos nossos alunos, como não tínhamos salão
para realizarmos a pequena academia, pedi a ele um salão e ele me deu
nada mais nada menos que o salão, onde se reúne a Assembléia Legisla-
tiva, após tê-lo enfeitado com bandeiras e flores. Não podendo assistir à
festa mandou seu secretário para representá-lo. Colocou à nossa dispo-
sição a banda de música do Batalhão».69
A sessão foi presidida pelo grande amigo dos salesianos, o senhor Bispo
Diocesano, Dom José Thomaz Gomes da Silva.70 A imprensa fez os maiores
elogios. Segundo P. Solari, «“todos os jornais a uma, escreveram que uma festa
como aquela, jamais aconteceria em Aracaju”, acrescentando que. “tudo aquilo
contribuiu para enaltecer o nome salesiano em Sergipe” ».
Não foi necessário muito tempo, para que se percebesse que o imóvel da
Rua da Aurora não suportava, como na velha mansão baiana de José do
Pinho, as mais comezinhas exigências de um estabelecimento de educação. O
Colégio aumentava, os pedidos de matrícula eram contínuos e não podiam ser
atendidos pela diretoria. P. Giordano, Inspetor e Diretor de ambas as obras
(Tebaida e Rua da Aurora) teve que procurar outro local para instalarem mais
uma vez o Colégio N. S. Auxiliadora.
3. O Colégio da Pacatuba/Maruim
O prédio de primeiro andar encontrava-se um pouco além do centro da ci-
dade. Não era o ideal, no entanto P. Giordano alugou-o, enquanto que os Sale-
sianos, adiantando-se no tempo, moravam em uma residência próxima. Brinca-
deiras da história. O novo Colégio era a casa onde havia falecido Fausto Car-
doso. Seu assassinato ocasionara tal celeuma política, que seus correligionários,
terminaram por eliminarem também o maior benfeitor dos Salesianos em Ser-
gipe, Mons. Olímpio Campos do partido contrário. O Colégio da Pacatuba 71
68 Cel. Pedro Freire de Carvalho (1911-1914).
69 ASC F 744. Aracaju, 10 maggio 1912.
70 Rio Grandense do Norte, nasceu em 1873. Foi o primeiro Bispo da Diocese de Ara-
caju, criada em 1910.
71 Comunidade salesiana: Inspetor, P. Pedro Rota (da Inspetoria Brasil Sul/Norte). Dire-

3.3 Page 23

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Brasil: os Salesianos na Tebaida. Uma história que durou 20 anos (1902-1922) 281
era mais central, embora deixasse a desejar no referente à higiene e ao asseio,
sobretudo por causa dos galinheiros que existiam nas vizinhanças. Mesmo as-
sim a matrícula aumentou e até maio de 1912, eram 38 os internos e 86 os ex-
ternos. Logo se percebeu que, com o andar da carruagem, o Estabelecimento
não poderia funcionar nem desenvolver-se. Não havia condições físicas para
tal. Todos olhavam o futuro e aquele local não tinha amanhã.
No ano seguinte (1913) P. Aníbal Lazzari é nomeado Diretor. Sua che-
gada em Aracaju deu-se aos 26 de janeiro. Aparecia, envolto em terrívies
apreensões …esperando compaixão e ajuda eficaz. Dias depois de se instalar
e observar o posto de sua missão, escreve ao P. Álbera uma carta lamuriosa, e
prenhe de revolta. Não se encontrava satisfeito com o modo pelo qual lhe foi
dada a notícia da transferência para Aracaju. No entanto, obedece cegamente
confiado na lealdade do Superior.
«Encontrei os vários edifícios alugados carentes das condições indispen-
sáveis, seja no que diz respeito ao seu desenvolvimento ulterior, seja no
concernente à higiene e à própria moralidade de uma casa de educação».72
O novo Diretor, descreve o calor sufocante dentro das exíguas e escuras
repartições do Colégio, da sua infelicíssima posição e sobretudo dos odores
nauseantes que exalam dos galinheiros etc, que o circundam por toda parte.
Lembrava filme de índio… Recorda a morte do coadjutor Salvador Piccolo,
atingido pelas febres e chama a atenção para outros cinco salesianos que se
encontram quase ineptos para o trabalho. Reforçando sua idéia aponta al-
guns motivos que, segundo ele urgiam a mudança do Estabelecimento: alu-
guel atrasado, débitos com fornecedores, isolamento com as demais casas sa-
lesianas, impossibilidade física do Colégio receber mais alunos. As razões
aduzidas podem ter apressado a transferência para a Tebaidinha. A cidade foi
novamente vasculhada em busca de um outro prédio. Não se encontrando
local apropriado, pensou-se em um retorno à Tebaida ou mesmo para a Rua
da Aurora. Aníbal achou melhor irem para a Tebaidinha, «lugar ameno e sa-
lubre que oferece vasto campo para o desenvolvimento posterior», onde havia
meninos e “onde funcionava desde 1908 o Oratório festivo.73
A resolução tomada pelos líderes da Inspetoria motivou um pedido de
tor, P. Lourenço Giordano. Prefeito, P. Lourenço Gatti .Conselheiro, P. José Solari ( como Vice-
diretor, exercia também a função de Diretor). Confessor, P. Pedro Ghislandi (pertencia à casa da
Tebaida). Coadjutor, Olavo Almeida e clérigo Luiz de Brito. Trienais, Clérigo Nestor Alencar e
coadjutores Júlio Cavalcanti e Rosário Piccolo (morto dois meses mais tarde na Tebaidinha).
72 ASC F 385 carta Lazzari - Álbera, s. d. (início de 1913). As últimas palavras da
citação P. Aníbal as copiou da Memória deixada pelo Inspetor Rota, na visita de 1912.
Cf também ASC. F 385, Riassunto Storico…
73 Carlos LEONCIO, Sete Lustros…, p. 83.

3.4 Page 24

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282 Antenor de Andrade Silva
L. Giordano ao P. Gusmano Calógeras. Deveriam conseguir licença para con-
tinuarem a construção de uma obra iniciada pelo P. José Blangetti na Tebai-
dinha. Assim, melhorariam os ambientes para receber a instalação do
Colégio.74 P. Gusmano Calógeras passou o pedido ao P. Clemente Bretto,75
a fim de que o mesmo o propusesse ao Capítulo Superior.76 Obtida a per-
missão, deu-se início em 8 de setembro de 1913, à continuação de prédio, fi-
cando os trabalhos concluídos em fins de novembro. O P. Inspetor enviou um
auxílio de 6:000,00; o Colégio do Recife emprestou 3:000,00; e o sr João
Cardoso Aires (padrinho de Missas do P.Aníbal Lazzari) enviou 1:000,00 do
qual dispensou o pagamento. Aos 30 de novembro efetuou-se a mudança para
o novo ambiente. A imagem da Virgem Auxiliadora foi acompanhada por
uma multidão de fiéis, devotos da Santa e admiradores de seus religiosos. Um
dos clérigos diocesanos, presente, à procissão, foi o Cônego Adalberto Vieira
Sobral, devoto de Nossa Senhora e amigo dos Salesianos.
4. O Colégio da Tebaidinha.
O isolamento do bairro periférico, a carência de meios de transportes
adequados influenciou negativamente no número de alunos dos primeiros
anos. Com efeito em 1914, foram apenas 10 internos e 15 externos. Os orato-
rianos ao invés, cresceram substancialmente. No Domingo da Páscoa estavam
presentes 150, todos pobres. Outro aspecto positivo foi que a distância do es-
tabelecimento, fora do barulho e das distrações próprias do centro da cidade,
favoreceu a aprendizagem. A mudança para Tebaidinha influenciou positiva-
mente também na Comunidade religiosa. Pode trabalhar mais tranqüila, sen-
tindo-se finalmente em um local definitivo. Os trabalhos pedagógico-pasto-
rais seguiram seus ritmos sem muitos problemas, pelo menos parece. Um dos
fatos que na ocasião mais empenharam a atividade salesiana, seus colabora-
dores e destinatários foi a celebração do Centenário da Instituição da Festa de
N. Senhora Auxiliadora, em 1915. O evento foi comemorado com uma bonita
festa no dia 23 de maio. Compareceram ao acontecimento pessoas de diversas
partes da capital e do interior do Estado.
A jovem instituição crescia em idade, fama e adequação aos tempos.
Duas grandes benfeitorias foram realizadas, em 1917. A instalação da água
74 ASC F 730 carta Giordano - Gusmano. Tebaida, 17 abril 1913.
75 Nasceu em Turim em 18 de junho de 1855, morreu na mesma cidade em 25 de feve-
reiro de 1919, enquanto era ecônomo geral. Na época era o Ecônomo Geral. Quando em 1910,
faleceu o ecônomo P. Bertello, o novo Reitor Maior P. Álbera chamou-o para sucedê-lo, até a
eleição quando da reunião do Capítulo. Explodindo a guerra, P. Clemente Bretto continuou no
Economato até à morte.
76 ASC F 744 carta Giordano - Gusmano, 17 abril 1913.

3.5 Page 25

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Brasil: os Salesianos na Tebaida. Uma história que durou 20 anos (1902-1922) 283
encanada e a luz elétrica o que facilitou em muito a vida de educadores e edu-
candos. Neste particular deve-se agradecer o auxílio dos Generais Manuel de
Oliveira Valadão, Governador de 1914 a 1918 e José Joaquim Lobo, Chefe do
Governo de 1918 a 1922, bem como ao Dr. Alfredo de Paiva Melo.
No entanto, os problemas de saúde não haviam desaparecido de todo.
Precisamente no ano do término da I Grande Guerra, uma epidemia geral de
febre, “a febre espanhola” assolou as cidades brasileiras. Aracaju não ficou
isenta. Em outubro, as autoridades sanitárias do Estado ordenaram o fecha-
mento sistemático de todos os educandários. Embora o Colégio não tivesse
sido atingido pela moléstia, não obstante, a Diretoria atendeu prontamente a
ordem emanada pela Inspetoria de Higiene. As repartições do Colégio foram
postas à disposição da soldadesca do Quadragésimo Primeiro Batalhão de In-
fantaria, também atingidos pela malária. O gesto dos Salesianos foi motivo de
um pronunciamento na Assembléia Legislativa por parte do Presidente do Es-
tado Gal. Oliveira Valadão. Os Padres Aníbal Lazzari, Antônio Vellar e
Epifânio Borges desdobraram-se nos atendimentos domiciliares, atendendo os
enfermos. Os cooperadores dos oratórios da Tebaidinha e do Oratório Vene-
rável Dom Bosco (Da. Bebé) desvelaram-se andando de casa em casa, enco-
rajando os doentes, levando-lhes remédios e alimentação fornecidos pelo
Colégio, além de uma palavra de esperança cristã.
P. Lazzari pede autorização (1918) para construir a Igreja do Oratório.
Sua carta inicia expondo ao P. Giordano, « o primeiro a anunciar a intenção
dos salesianos em construir o templo» o interesse da população de Aracaju
pela futura Casa de oração. A construção de um local mais adequado para as
Missas e funções do Oratório, freqüentado também pelo povo, era uma neces-
sidade urgente. Certa feira o senhor Bispo Diocesano, Dom José Thomás re-
ferira-se à capela existente com as seguintes palavras: «a pequena capela que
existe é de uma insuficiência desoladora».77 A adesão das pessoas em torno da
idéia girou não só em termos de campanhas oracionais, mas também quanto
ao aspecto financeiro do empreendimento. A imprensa se encarregou de di-
vulgar as quermesses realizadas em prol da obra. As famílias e autoridades te-
ciam comentários elogiosos ao trabalho dos Salesianos nos dois Oratórios.
A formação política ministrada aos meninos que se apresentavam garbosa-
mente nos desfiles do Sete de Setembro era altamente apreciada pelos ho-
mens públicos.
Aníbal Lazzari insiste em obter a permissão para iniciar os trabalhos e
argumenta que P. Giordano com sua influência converse a propósito com o
Inspetor P. Rota e com P. Álbera. Pelo menos concedam-lhe a autorização
para que possa recolher esmolas com aquela finalidade, assim procederia com
77 ASC, Roma. F 385 carta Aníbal Lazzari - Giordano, Aracaju, 10 setembro 1918.

3.6 Page 26

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284 Antenor de Andrade Silva
mais segurança. Parece que chegou o tempo oportuno, diz P. Aníbal. Não po-
demos continuar inermes diante «deste movimento, com efeito espontâneo,
seria escandaloso», até porque na época, apareciam os espertos que pediam
esmolas em nome do Oratório da Tebaidinha. «De vez em quando aparecem
vigaristas e recolhedores de esmolas em nosso nome e recebem sempre». P.
Giordano passou a missiva ao P. Álbera, que ao examiná-la acrescenta de pró-
prio punho no início da mesma: «pode-se conceder a licença que pede».
Mil novecentos e dezenove é o último ano do P. A. Lazzari na direção do
Colégio N. Senhora Auxiliadora de Aracaju. Quem diria que o chorão de
1913, passasse seis anos dirigindo aquela casa de educação. Parafraseando
Euclides da Cunha, direi que A. Lazzari era antes de tudo um homem forte,
corajoso, que gostava de enfrentar os problemas. Não fosse assim, não teria
deixado Aracaju, para assumir a direção do Sagrado Coração do Recife. Antes
porém de deixar Sergipe, continuou o aterro do pátio interno, invadido por
extensa lagoa, a demolição de grande parte do monte de areia que ocupava o
terreno e a construção quase completa do muro ao redor do Colégio. O inter-
nato em 1919, acolheu 50 internos e, dada a deficiência de transporte, matri-
culou somente 11 externos.
P. José Selva 78 é nomeado para a direção do Nossa Senhora Auxiliadora
de Aracaju. O Diretor, a partir de 1920 até o início de 1931, foi o padre José
Selva. Vinha do Orfanotrófio S. Joaquim, no interior de Pernambuco. Deu an-
damento e concluiu a terraplanagem dos pátios, aterrou a extensa lagoa das
vizinhanças do Colégio, construiu salas de aulas, cozinha, refeitório e a parte
onde atualmente se encontra a Matriz de Nossa Senhora Auxiliadora. A Leste
da quadra, erigiu um pórtico bastante amplo, onde nos últimos anos da dé-
cada de 1980, foi construída a parte mais moderna do Colégio. P. José Selva
realizou ainda a perfuração de um poço artesiano, cuja água potável era bom-
beada, através da força eólia que movimentava um cata-vento. Tentando atrair
antigos alunos do Colégio e do Oratório fundou o Círculo “Auxilium”. O
grupo funcionou durante quatro anos, promovendo reuniões domiciliares,
Missas, teatros e festas religiosas. Os alunos no entanto, continuavam em pe-
queno número. O grande empecilho para o deslanche das matrículas era a de-
ficiência das vias de acesso ao local. As matrículas alcançaram significativo
número, a partir de 1923, quando melhoraram as vias de comunicação,
implantando-se a linha de bondes que alcançou as vizinhanças do Colégio.79
Os internos passaram a 73 e os externos foram mais de uma centena.
78 Diretor de 1920 - 1931, quando é transferido para o Recife. Em 28 de agosto de 1932,
é nomeado Inspetor do Norte do Brasil, então denominada Inspetoria Salesiana S. Luiz de
Gonzaga do Norte do Brasil.
79 ASC F 744. Olavo de ALMEIDA, Riassunto Storico…

3.7 Page 27

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Brasil: os Salesianos na Tebaida. Uma história que durou 20 anos (1902-1922) 285
5. O Oratório Venerável Dom Bosco
Uma outra fundação de cunho sócio-pastoral, cuja origem e desenvolvi-
mento teve a presença direta dos salesianos de Aracaju, foi o denominado
Oratório de Da. Bebé. Fazia-se necessária uma obra que cuidasse das me-
ninas. O P. Aníbal Lazzari sentia e se preocupava com o problema. Enquanto
aguardava a presença das Salesianas, resolveu, juntamente com uma jovem
dinâmica e caridosa, chamada Genésia Fontes, iniciarem uma pequena obra
social destinada exclusivamente às meninas. Chamou-se Oratório Dom
Bosco,780 fundado em 16 de agosto de 1914.
O começo foi árduo e fadigoso, mas Genésia Fontes enfrentou as difi-
culdades e começou o trabalho. P. Aníbal, coordenador da obra, e a generosa
senhora montaram seu primeiro Oratório numa sala de uma casa particular,
pertencente a uma senhora chamada Ceciliana,81 humilde charuteira que vivia
no bairro do Quebrado, na área do atual S. José. Na saleta as meninas rece-
biam aulas de religião e no quintal da residência faziam recreação. Missas,
Benção do Santíssimo e Primeiras Comunhões eram feitas no Colégio N.
Senhora Auxiliadora, cujo diretor era P. Aníbal. Algum tempo depois o desen-
volvimento urbano invadiu o quintal de Da. Ceciliana e o grupo das meninas
teve que procurar outro local. Após uma série de dificuldades, a extraordi-
nária Bebé, conseguiu com seu trabalho e economias comprar uma humilde
casa de taipa no bairro da Cirurgia, esquina da Rua Dom Bosco com Desem-
bargador Maynard. O imóvel, coberto com folhas de coqueiro, foi adaptado
internamente, tornando-se um pouco mais funcional. Pela manhã, as meninas
tinham aulas do Curso Primário e à tarde, Catecismo e trabalhos manuais. Em
1919, teve início no Oratório D. Bosco, um pequeno orfanato. Os Salesianos
continuaram presentes, com sua assistência espiritual e material à obra. Em
1920, inaugura-se um novo prédio, cuja planta foi desenhada a pedido do P.
José Selva, substituto de P. Aníbal Lazzari.82
Não sendo possível até o momento, a presença das Irmãs Salesianas em
Sergipe, como também desejava Dona Bebé, o Oratório Dom Bosco foi en-
tregue às Camilianas. Assim, desde março de 1952, que as caridosas Irmãs de
S. Camilo vêm dirigindo o Oratório da Bebé.83
80 Conhecido também por Oratório Venerável Dom Bosco, Oratório da Bebé ou Dona Bebé.
81 Algumas destas informações foram colhidas em apontamentos feitos pelo Prof. Luiz
de Oliveira.
82 Cfr. Luiz de OLIVEIRA Centenário da Presença Salesiana no Norte e Nordeste do
Brasil. Vol. II. Recife, Escola Dom Bosco de Artes e Ofícios 1994, pp.78-81.
83 Genésia Fontes ou Dona Bebé faleceu aos 14 setembro 1960.

3.8 Page 28

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286 Antenor de Andrade Silva
Conclusão
No fecho do presente estudo podemos perguntar porque a Escola Agrí-
cola S. José da Tebaida não deu certo. Porque os seus técnicos agrários, capi-
taneados por Lourenço Giordano não conseguiram seu intento e hoje sua his-
tória é apenas lembrada, enquanto vão sumindo os alicerces de suas quase
centenárias construções e morrendo inexoravelmente as vetustas árvores que
engalanavam suas longas e históricas Alamedas?
Poderíamos assinalar alguns fatores como fundamentais no ocaso da-
quela fundação de 1902 no Norte do Brasil: a falta de recursos, um terreno sá-
faro, a mentalidade do povo. A Tebaida não podia vingar porque além do
mais era contra a nossa história, nossa tradição e nossa cultura. Trabalhar no
campo é um tanto quanto pejorativo, servil e humilhante. O ideário popular
excomunga o campo. Cultivar a terra é uma atividade própria de escravo, ou
quem não quis ou não teve condições de aprender a ler e escrever. As famílias
queriam e querem seus filhos, não armados de enxadas ou foices mas, dei-
xando as Faculdades, embora despreparados, ostentando anéis nos dedos
e canudos enrolados nas mãos, onde se encontra escrito o título de “Doutor”.
O lugar deles é o escritório, engravatados e de colarinho branco.
Os técnicos agrícolas da sofrida Tebaida tinham ideal e boa vontade.
Faltava-lhes porém o entendimento histórico e psicológico de um povo, ainda
chagado, revoltado e com certa carga de complexo com sua história, feita em
parte por uma raça seqüestrada além mar, para ser humilhada e martirizada do
outro lado do Atlântico. Por estas razões as Escolas Agrícolas entre nós
mesmo em outras áreas do país, não decolaram para grande vôos. As Escolas
Comerciais, ao contrário escreveram outra história.
O assunto Tebaida certamente não foi esgotado. Esperemos que outros
pesquisadores possam iluminar certas sombras que ainda existem. E res-
pondam satisfatoriamente à indagação surpresa do frade de S. Cristóvão que
não compreendia como se continuava a viver em um lugar como aquele.84
84 O Acesso às antigas terras da Tebaida e à estação de ferro em ruínas é feito hoje,
através de estrada de terra, deixando-se a via estadual asfaltada que liga Aracaju a S. Cristóvão,
parte da antiga trilha existente no início do século, segundo me foi informado. Um entronca-
mento na BR 101 (Aracaju - Salvador) conduz também à antiga Capital do Estado, que exibe
ainda seus edifícios coloniais e o velho Convento dos caridosos irmãos Franciscanos. Dali,
após atravessar a cidade continua-se pelo mesmo acesso mencionado anteriormente, ligado à
estrada local, Aracaju/S. Cristóvão. Este percurso deve ter cerca de quatro quilômetros. Passa
sobre o Pitanga e antes de se atravessar a linha, à esquerda, uma parte corre paralela aos trilhos,
até alcançar a Estação Tebaida, a mais ou menos duzentos metros. Ao se chegar aos alicerces
da pequena parada ferroviária, ao lado direito dos trilhos, na direção Leste, seguindo inicial-
mente por um suave declive, encontrava-se a Avenida que ia ter às casas da Escola do P. Gior-
dano. As colinas circunvizinhas, escalvas ou com alguns arbustos tristes e mirrados, mostram

3.9 Page 29

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ANEXOS
I
A Tebaida e seus nomes
A Escola Agrícola São José da Tebaida era motivo de comiseração por parte
dos que a conheciam ou dela ouviam falar. Parecia mais um objeto de bamboleio,
uma coisa enjeitada que se é obrigado a reter. Querida e odiada ela continuava sua
caminhada, pontilhada de tapas e beijos.
1 Lugar pedregoso e insalubre. P. Pedro Rota 1908.
2 Aqui de bom, só o ar e a água. O resto é tudo ruim. José Blangetti ao P. Rinaldi
em janeiro de 1910.
3 Aquilo é um matadouro. Do médico que a visitou a Tebaida, em setembro de
1912.
4 A Tebaida de P. Giordano. P. Rota ao P. Gusmano, agosto de 1915
5 Esta pobre e rabugenta Tebaida. Do padre Pedro Ghislandi ao P. L. Giordano em
26 de outubro de 1918.
6 Esta pobre casa. P. P. Ghislandi.
7 O meu Calvário. P.Attílio Cosci ao P. Álbera em julho de 1919.
8 Pobre Tebaida. Do P. Zanchetta.
9 A delenda Tebaida. (a Tebaida que deve ser destruída, que deve desaparecer).
Atribuída pelo P. Rota a alguns que não simpatizavam com a fundação.
10 A Velha Tebaida. Carlos Leôncio, noviço na Tebaida.
11 Aquele peso. P. Rota.
12 Esta pobre casa. P. Attiílio Cosci. Carta ao P. Álbera, Thebaida, 2/7/1919.
13 Escola Agrícola Abandonada. Della Valle após visita de reconhecimento ao local,
em 1902.
II
Carta de P. José Blangetti a Felipe Rinaldi
V. J. M. J.
(Tebaida), 26 de fevereiro de 1910
Rev. mo Sr. P. Rinaldi
mangueiras e jaqueiras que amenizam os ares escaldantes daquelas brenhas. Serpeando por
entre os morros, seminus e desanimadores no verão causticante, espalham-se algumas pe-
quenas planuras, povodas de pântanos e ou açudinhos artificiais, preciosos reservatórios das
águas pluviais caídas durante o inverno. Atravessando-se a velha linha férrea, ainda no rumo
Leste, após uma leve colina, prossegue-se em direção às antigas terras dos padres, hoje uma fa-
zenda particular. Ali, um carancudo caseiro pode impedir a entrada, caso não se tenha a licença
de ingresso, adquirido em Aracaju, onde vive o ex-aluno atualmente dono da gleba.

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288 Antenor de Andrade Silva
É a primeira vez que lhe escrevo, desta casa onde cheguei no dia 3 de fevereiro.
Dóe-me porém não poder dar-lhe boas notícias. Poderei confirmar com juramento, a
relação que lhe faço das tristes condições desta casa. Senhor P. Rinaldi, tenha a bon-
dade de ler esta minha.
Mandado como diretor, eu sabia que iria encontrar dificuldades, mas não previa
que fossem tantas. Aqui só existem duas coisas boas, ar e água, todo o resto é ruim.
1. A casa é de taipa (paus com barro) e de pouca duração, de modo que uma parte
está para cair.
2. Todos dizem que o terreno é ruim. Agricultores e não agricultores. Gasta-se
muito mais do que aquilo que se recolhe.
3. O lugar é afastado de tudo (cerca de 18 km da capital) e com estradas tão ruins
que são necessárias três parelhas de bois para puxar um carro, que entre nós aí,
até uma vaca magra o faria.
4. A estrada de ferro que era esperança desta escola agrícola passa longe. O ponto
mais próximo está a 3 quilômetros e a estação está a 6 quilômetros.
5. O governo que inicialmente dava a subvenção de 20:000$000 (20 contos de
réis ou 28.571 liras italianas no câmbio atual anuais, depois 15:000$000, no ano
passado de 1901, reduziu a 10:000$000 e em setembro do mesmo ano suprimiu
inteiramente a dita subvenção.
6. O Governador do Estado que nos visitou no dia 14 do corrente mês, disse-me que
é melhor “fechar a Escola ou mudar de lugar”.
7. Os benfeitores mostram-se cansados e nos aconselham também a ir para outro
lugar, sendo impossivel continuar com a escola agrícola em terreno tão ruim.
8. O Reverendo Guardião dos Franciscanos, ontem mesmo me dizia: “não posso
compreender como se possa e se queira continuar de tal modo”.
9. Chegaram 4 jovens estudantes, mas os pais se arrependeram ao verem o lugar e a
casa. Mas, por enquanto os meninos ficaram.
10. Brevemente os Rev.dos Maristas chegarão para fundar um Colégio para estu-
dantes e nós ficaremos sem alunos.
11. As dívidas, sem contar o que devemos às nossas casas, porque não consegui
ainda ter a conta corrente de todas as casas, vão além de 3:000$000 (cerca de
4.285 liras).
12. Recebi ordem de fazer propaganda e fiz, sem resultado. O senhor P. Solari andou
pelo interior, voltou depois de 8 dias, doente e só com 5 liras no bolso.
13. No momento temos 23 jovens pobres e apenas 5 ricos e pelos cálculos feitos de-
vemos ter um déficit de 19 liras por dia, sendo aqui tudo muito caro.
14. Geralmente não se encontram intenções de Missas, de modo que a única entrada
é a pensão de cinco estudantes, mais alguma esmola.
O Oratório festivo de Maria Auxiliadora de Aracaju depende da escola. É onde
se faz um pouco de bem. O Oratório é também de peso a esta casa. Em tais
condições, que se deve fazer? Propus que se fechasse a casa e tive resposta negativa.
Termino pedindo-lhe que me responda, indicando o que deve fazer.
Abençôe o seu aff.mo em J(esus) e M(aria). Irmão e filho aff.mo
P. José Blangetti