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O MUSEU DA MISSÃO SALESIANA DE MATO GROSSO,
EM CAMPO GRANDE.
A ciência a serviço da comunidade
Déa Terezinha Rímoli De Almeida
Ieda Marques De Carvalho
Marly Marinho Américo Dos Reis
«Certamente o senhor se lembra de que, no congresso de Geografia, reunido em Veneza
em 1880, sob a presidência do célebre Ferdinand Lesseps, foi aprovada unanimemente
uma moção que nos dizia respeito, isto è, de pedir a dom Bosco que encorajasse
seus filhos missionários a estudar as condições meteorógicas da América do Sul»
(ASC A 4410561, carta de dom Lasagna ao Padre Rua de 1° de julho de 1895).
Voltando à Itália em 1881, dom Lasagna recebeu de dom Bosco o encargo de colocar em
prática essa proposta. Nasceu daí o Observatório Meteorológico de Villa Colón (Uru-
guay), o qual, após décadas de relevantes serviços prestados à ciência, à navegação e à
agricultura, cedeu lugar ao Observatório Nacional. Patagones, Punta Arenas e outros
centros de missão criaram também seus observatórios; alguns duraram pouco tempo, ou-
tros chegaram até os nossos dias. Dom Lasagna encorajou também a criação do Museu
Salesiano das Missões, em Valsálice (Turim), do qual ja se falou nesta Revista (cf Giu-
seppe BROCARDO, Il «Museo di storia naturale don Bosco» a Valsalice, in RSS 28 (1996)
181-187). Outros museus semelhantes foram surgindo, dentre os quais lembramos o
Museu «Maggiorino Borgatello», de Punta Arenas (Chile). Na presente nota nos ocu-
pamos do «Museu Dom Bosco», mantido pela Missão Salesiana do Mato Grosso, em
Campo Grande (Mato Grosso do Sul).
Introdução
O Conselho Internacional de Museus – ICOM define como Museu, toda instituição
permanente, sem fins lucrativos, aberta ao público que adquire, conserva, pesquisa e
expõe coleções de objetos de caráter cultural ou científico para fins de estudo, educação
e entretenimento. Um museu é um espaço ativo, dinâmico, local de pesquisa e estudos.
Os museus têm sido responsáveis pela manutenção e transmissão de parcela
significativa da herança cultural. Esta responsabilidade tem exigido um repensar de
suas ações que, quase sempre, têm sido direcionadas na busca de que sejam assegu-
radas a preservação das coleções e a eficiência comunicativa das exposições e da
ação educativa. A superação desses diferentes níveis de atuação depende da visão
processual que se deve ter no momento de se “pensar um museu”.O redirecionamento
das suas ações exige que sejam estabelecidos dois momentos essenciais: um primeiro
que envolve um planejamento institucional e, um segundo, a sua organização interna.
O Museu Dom Bosco vem atuando, através dos tempos, nas áreas científica,
educativa e social:

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• Científica, enquanto pratica a coleta sistemática, a identificação, organização,
interpretação, catalogação, armazenamento, conservação e exposição de peças.
• Educativa, quando procura o despertar e/ou o aperfeiçoar da capacidade inte-
lectual, artística, ideológica, cultural, entre outras, conduzindo seus usuários à re-
flexão sobre a realidade.
• Social, enquanto promove o encontro das ações científica e educativa de
forma a promover a compreensão do patrimônio histórico-cultural de seu acervo.
Os responsáveis pelo Museu Dom Bosco, avaliando sistematicamente a dinâ-
mica que lhe tem sido impressa, entendem a necessidade de continuar as investi-
gações em sua área de competência.Isto implica na programação e execução de pro-
jetos que permitam completar, atualizar, interpretar e ampliar o horizonte de suas co-
leções próprias. Implica também no intercâmbio e colaboração com outras insti-
tuições e na divulgação de suas coleções que testemunham sua qualidade científica e
seu próprio prestígio.
1. Histórico
Era o ano de 1948, o Padre Félix Zavattaro persegue uma idéia para a educação:
vivenciar os conhecimentos. As aulas e os livros não são o suficiente, “é preciso um
lugar onde os meninos possam ver e comparar” – um museu de história natural.
A idéia foi crescendo e se espalhando e, tal qual uma semente, foi sendo levada
pelo vento e caiu, finalmente, em solo fértil: Campo Grande. Surge então, em 1951,
numa das salas do Colégio Dom Bosco, um pequenino museu, célula mater do que é
hoje o Museu Dom Bosco.
Simultaneamente, no mesmo ano, os padres Cezar Albisetti e Ângelo Jayme
Venturelli lançavam as bases de uma pesquisa sobre os Bororo que, se concretizaram
na maior obra etnográfica publicada no Brasil: “Enciclopédia Bororo” e “Os Bororo
Orientais”. Em suas pesquisas, foram recolhendo objetos dos índios a fim de estudos.
Foi então, que o Pe. Félix Zavattaro decidiu montar coleções que ilustrassem as cul-
turas indígenas, com as quais os Salesianos estavam em contato.
A partir daí, as coleções etnológicas alcançaram grande desenvolvimento, acu-
mulando, à época, um total de 8.000 peças. Em decorrência disso, o museu começa a
ser chamado de “Museu do Índio”.
Em 1976, o Museu foi transferido para o prédio onde se encontra até hoje.
Naquela época assumiu a direção do Museu o Pe. João Falco que desenvolveu a parte
de etnologia e, iniciando a coleção de vertebrados, buscou diversificar as coleções,
recebendo doações de conchas (malacologia), um tesouro vindo da Sicília, na Itália.
Em 1987 ocorre um acontecimento marcante: o Museu teve seu acervo enrique-
cido com dois mil e quinhentos animais empalhados, a maior parte de espécimes ex-
tintas, ou em extinção. É iniciada a coleção de borboletas que atualmente conta com
exemplares dos mais raros do mundo. Dentre as coleções de invertebrados, destaca-se
a coleção de insetos exóticos da Ásia e África.
Mesmo não contando, inicialmente, com o apoio de órgãos públicos, a Missão

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Salesiana de Mato Grosso – MSMT, ciente do benefício que presta à ciência, à edu-
cação e à cultura, vem procurando ampliar e diversificar o acervo do Museu Dom
Bosco. Ele tem sido repositório de parte do patrimônio sócio-cultural e humano e o
testemunho do trabalho de tantos heróis anônimos – os missionários Salesianos, que
dedicaram muito de suas vidas à disseminação do espírito científico e cultural.
Toda a fauna está instalada num cenário que reproduz a natureza selvagem, com
seus mamíferos, répteis, aves e peixes que despertam, de imediato, o observador para
os problemas ecológicos de nossos dias. Espécies raras de águias parecem estar em
pleno vôo. Urubus, patos do mato, seriemas, patão mergulhador, pica-pau, e muitas
outras espécies de pássaros estão ali com suas penas e plumagens originais. Jacarés
de todos os tamanhos, onças, lobos, veados, antas, tartarugas, moluscos, fósseis, in-
setos, conchas de todas as cores e formas e pedras proporcionam aos visitantes uma
oportunidade rara de conhecer a magia de toda esta riqueza histórica e cultural.
1.1 O acervo atual
O acervo do Museu Dom Bosco, rico e variado, merece seja detalhado para sua
maior compreensão e divulgação. Adentrando ao Museu, o visitante tem a oportuni-
dade de observar as coleções, assim dispostas:
I - Paleontologia – com testemunhos fósseis do período Pré-Cambiano ao Holo-
ceno, a Coleção Paleontológica abrange cerca de 2.519 exemplares das Eras Geoló-
gicas. Destaca-se o grupo de peixes fossilizados provenientes da Chapada do Araripe
em Pernambuco e a da Bacia do Paraná, assim como exemplares da Itália, Estados
Unidos, Inglaterra, entre outros.
II - Arqueologia – o Museu possui cerca de 458 peças arqueológicas produ-
zidas por algumas das populações que ocuparam parte dos atuais Estados de Mato
Grosso do Sul, Mato Grosso, Rondônia, São Paulo e Amazonas.Esse acervo pode ser
associado a dois contextos culturais:
– Grupos de caçadores, coletores e/ou pescadores, que eram nômades e produ-
ziram instrumentos de pedra lascada próprios para caça e/ou trabalhos com couro, e
outros tipos de matéria prima, caracterizando o estágio arcaico;
– Grupos de horticultores/agricultores, organizados em comunidades sedentá-
rias, marcando o estágio formativo. Confeccionavam recipientes de cerâmica para
uso doméstico, sepultamento e instrumentos líticos utilizados como armas, utensílios
ou ferramentas, além de adornos pessoais.
Tem-se como referência datas inferiores a 10.000 anos atrás para o estágio ar-
caico e 7.000 para o formativo.
III - Malacologia – cerca de 11.200 peças, representando 196 famílias de mo-
luscos estão espostas, a seguir, para o deleite dos visitantes.
IV - Etnologia – a primeira coleção etnológica é de procedência Bororo – estes
povos se autodenominam “BOE”, gente, ou “ORARI-MOGODOGE”, que quer dizer
“moradores da região do peixe pintado”. Não eram agricultores e retiravam o sus-
tento de seu próprio habitat. Nesta coleção encontram-se bonecas, furadores de lá-

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bios, cachimbos, utensílios de cerâmica, instrumentos ignígera, abanicos, cestos, ves-
timentas e alpercatas, arco e flecha, tacapes, punhais, anzóis, redes, adornos, instru-
mentos musicais e urnas funerárias.
A próxima coleção é pertinente ao povo Xavante que se autodenomina AÚWE,
isto é, pessoas de verdade, homens de verdade. Ela é composta de artesanato utilitário
(cestas, cerâmica, esteiras, peneiras, pilão, abanicos, cachimbos, cabaças, pentes, te-
celagem e enfeites); peças de atividades lúdicas, rituais e de subsistência e vestuário.
Explica-se a elevada quantidade de peças Xavante e Bororo, pelo fato da
Missão Salesiana de Mato Grosso estar atuando junto a estes povos desde que se ins-
talou, nesta região, há cem anos.Como a Missão Salesian se faz presente na Região
Norte, configurada em Missão Salesiana do Amazonas, o Museu Dom Bosco também
abriga uma coleção referente à civilização do rio Uaupés que encerra a exposição et-
nológica.
V - Circundada pela coleção etnológica, acham-se expostas aves, répteis,
peixes e anfíbios. Vertebrados taxidermizados configuram um acervo de 2.200 ani-
mais, predominantemente, brasileiros.
VI - Uma sala especial abriga a coleção de insetos oriundos dos vários conti-
nentes num total de 17000 peças da coleção entomológica, onde se sobressaem as
borboletas - lepidópteros, cerca de 8.000.
VII - Minerologia - com cerca de 783 amostras, a coleção mineralógica contém
peças de diversos países como Itália, Zaire, Espanha, Peru, Estados Unidos, Polônia,
Zâmbia, México, Marrocos, Escócia, Austrália, Inglaterra, Rússia e França.
VIII - Mamíferos - nos corredores que marcam o final da visita, estão expostos
exemplares da coleção de mamíferos que evidenciam formações diferentes, resul-
tantes de combinações de genes que fogem ao padrão dito “normal” de seres vivos.
Assim é o Museu Dom Bosco que, nos três últimos anos tem recebido um nú-
mero anual de visitas, em torno de 15.000 (quinze mil) pessoas. Foram 16.187 (de-
zesseis mil, cento e oitenta e sete) visitas em 1994, 14.226 (quatorze mil, duzentos e
vinte e seis) em 1995, e 14.430 (quatorze mil, quatrocentos e trinta) em 1996. Até o
mês de setembro de 1997, o número de visitantes foi de 15.143 (quinze mil, cento e
quarenta e três) pessoas, significando considerável aumento em relação à quantidade
de visitas efetivadas nos anos anteriores. Aproximadamente, 70% (setenta por cento)
deste total corresponde a estudantes da educação básica, do ensino médio e da edu-
cação superior (Dados estatísticos em anexo).
Necessário se faz citar a mais ilustre visita recebida pelo Museu Dom Bosco: o
Papa João Paulo II. Em peregrinação pelas terras brasileiras, Sua Santidade, no ano
de 1991, esteve aqui em Campo Grande e pôde conhecer o Museu cuja existência se
tributa ao trabalho e à dedicação dos Salesianos.
São muitos os estudiosos, pesquisadores e personalidades, nacionais e interna-
cionais, que deixam o registro de suas impressões quando em visita ao museu. Entre
eles destacam-se:
“Sem qualquer conotação de discriminação geográfica, eu não esperava mesmo encon-
trar em Campo Grande um museu com tanto material relevante e tão bem cuidado. A
parte antropológica, em especial, é impecável. Malacologia, entomologia e antropologia

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O museu da missão salesiana de Mato Grosso… 179
estão fascinantes, bem como os moluscos fósseis. Sei bem que tal se deve ao esfoço de
alguns abenegados que conhecem o valor de tocar um museu, mesmo com sacrifício.
O resultado final, notável, é a grande recompensa. Fiquei pasmo, mesmo. Parabéns!”
Renato Bernile
Herpetólogo - Mus. Hist. Nat. Capão da Imbuia (Curitiba-Paraná), 13/10/92
“La visite du Musée nous conforte davantage dans autre confiance em Dieu,
en l’Homme.”
Henri Thiasse
Consul Geral do Senegal em Brasília - DF, 26/05/93
“With many thanks for a fascinating and most educational town of your excellent
Museum. We will as a result need to read much more about the Indians of Brazil –
certainly you have givin us new insights – with our best wishes.”
Mary Juek Vanderhall
Consul Geral do Canadá, São Paulo
“É um trabalho genial pela sua grandiosidade cultural e científica. Senti, verdadeira-
mene, ter visto um pouco mais de minha pátria pela capacidade e pelas mãos dos padres
salesianos. Os meus cumprimentos.”
Alfredo B. Keas
Diretor do Museu Campos Gerais - Ponta Grossa
Paraná,14-04-93
“Conociamos el trabajo de Albisetti y de otros padres com los Bororos pero no imagina-
bámos la magnitud del material reedectado por ellos y la meticulosidade de
los apuntes.”
Luis y Blanca Fernandes
Lousanne - Suiça, 02.08.80
1.2 Núcleo de Pesquisas Arqueológicas do Museu Dom Bosco
Considerando que as áreas de atuação dos museus geralmente abrangem ensino,
pesquisa e extensão, a Universidade Católica Dom Bosco criou, em 05/05/97 o Nú-
cleo de Pesquisas Arqueológicas - NPA, enquanto unidade integrante do Museu Dom
Bosco, tendo como objetivos básicos:
• desenvolver pesquisas arqueológicas, constituindo para tal dependências la-
boratoriais e administrativas;
• promover a guarda e curadoria do material arqueológico coletado nas pesquisas;
• incrementar a divulgação científica e a extensão universitária, expondo os
resultados das pesquisas desenvolvidas e promovendo intercâmbio com museus e
instituições correlatas;
• colaborar na elaboração e execução de projetos gerais do Museu Dom Bosco.
Atualmente, estão sendo elaborados projetos e contratos para a dinamização das
pesquisas arqueológicas no Estado de Mato Grosso do Sul e, futuramente, em áreas
vizinhas.

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180 Do Almeida - De Carvalho - Dos Reis
Assim é o Museu Dom Bosco que possibilita uma viagem fantástica ao mundo
animal e mineral, e não apenas um retorno ao passado. Nele se pode conhecer e es-
tudar animais já extintos ou a vida e costumes dos indígenas que habitavam o Centro-
Oeste do Brasil antes da colonização ou que ainda o habitam.
2. Missão Social
Nestes quarenta e seis anos de funcionamento a história do Museu Dom Bosco
registra três fases distintas:
• Uma primeira, correspondente ao período de 1951 a 1976 quando esforços
foram concentrados na consolidação dos ideais dos Salesianos que resultaram na
criação do Museu Regional Dom Bosco – repertório de referências materiais da cul-
tura primitiva e do habitat do homem brasileiro, conforme consta na ata de sua fun-
dação aos quatro dias de agosto de 1951:
“Art. 1º O Museu Regional Dom Bosco, com sede na cidade de Campo Grande, Estado de
Mato Grosso, é uma sociedade civil de caráter cultural e beneficente que visa preservar
a cultura indígena, especialmente das tribos do Oeste e Norte do país, promover estudos
de etnografia e pesquisas de campo, zelar pela publicação de trabalhos científicos,
recolher, classificar e conservar todo material histórico-cultural das tribos indígenas,
angariar fundos para a assistência moral e social às citadas tribos, franquear suas co-
leções e instalações a especialistas e ao povo em geral e colaborar com instituições simi-
lares na defesa do patrimônio sócio-cultural e humano do estoque indígena americano”.
• Uma segunda de 1977 a 1993, sinalizada pelo movimento progressivo de suas
atividades, empenhando-se na coleta, análise e classificação de espécies e exemplares
nas áreas de arqueologia, malacologia, entomologia, ornitologia, mineralogia, entre
outros, tanto da Região Centro-Oeste como do Brasil e do mundo.
Esta fase caracterizou-se pela capacidade de acumular e executar funções, de
maximizar seu potencial pedagógico, de lazer coletivo e de reflexão científica. Aberto
à comunidade foi sendo, por ela descoberto. Tornou-se local obrigatório de visitas
para aqueles que passam pela cidade e, sobretudo, por grupos de estudos. Assim, o
Museu foi se consolidando como fonte de geração e repasse de conhecimentos, con-
tribuindo para o desenvolvimento social e cultural da região.
• Uma terceira etapa, iniciada em 1993, coincidiu com a fase de transição por
que passaram as Faculdades Unidas Católicas de Mato Grosso – FUCMT na imple-
mentação do seu projeto de Universidade. Esta fase de transição, ao mesmo tempo
em que preparou a infra-estrutura necessária para a futura universidade, fez conso-
lidar uma nova mentalidade acadêmica de pesquisa multidisciplinar relacionada ao
acervo do Museu, como efetivação do processo educativo, no que concerne à preser-
vação da cultura e do povo sul-mato-gossense.
Reconhecida como Universidade, em 27 de outubro de 1993, através da Por-
taria do Ministério da Educação e Desporto – MEC, surgiu a Universidade Católica
Dom Bosco – UCDB, centro de produção de conhecimento, de criatividade e de dis-
cussão onde se destaca a íntima relação entre o ensino, a pesquisa e a extensão como

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O museu da missão salesiana de Mato Grosso… 181
processo permanente e inacabado de criação e recriação do conhecimento onde se in-
sere o Museu Dom Bosco
Para a Universidade Católica Dom Bosco, as atividades desenvolvidas no
Museu Dom Bosco são concebidas como contribuição para o aumento da compre-
ensão da natureza; como atividade central de vida e finalmente como meio de estudar
a realidade brasileira e regional para preservar, no mundo, um ambiente favorável aos
seres humanos.
3. Diretrizes
Os serviços prestados pelo Museu aos vários segmentos da população eviden-
ciam o caráter comunitário e público da UCDB e tem como objetivo beneficiá-la
com o conhecimento produzido e, ao mesmo tempo, provocar a sua retroalimentação,
caracterizando esta relação em duas vias: da universidade para a sociedade e vice-
versa. Nesta linha de trabalho, o Museu tem adotado uma concepção de conheci-
mento e ciência de forma que o conhecimento não seja tratado como algo acabado,
datado no tempo e no espaço, mas como produto de investigação e realização de
novos estudos que podem rever e transformar as explicações sobre o mundo social e
material. Em suas funções acadêmicas interligadas às relações de complementari-
dade, o Museu Dom Bosco se orienta pelas seguintes diretrizes:
• promoção do desenvolvimento contínuo da atividade de pesquisa na área et-
nográfica, arqueológica, paleontológica, mineralógica, malacológica e faunística com
vistas à atualização, expansão e conservação do acervo;
• criação e implementação de núcleos integrados de pesquisa como apoio ao
ensino de graduação e pós-graduação, contribuindo para o avanço da ciência;
• realização de pesquisas dentro dos parâmetros éticos e científicos;
• esforço continuado de capacitação de pesquisadores, docentes ou não, e en-
volvimento do alunado;
• alocação continua de recursos para a pesquisa, aliada à procura sistemática de
fontes de financiamento;
• provisão de recursos materiais suficientes em termos de espaço físico e mo-
dernização administrativa e organizacional, com a utilização dos meios de informati-
zação que possibilitem um atendimento racional e dinâmico à comunidade;
• divulgação da produção científica como forma de estímulo à cooperação, in-
tercâmbio técnico e interdisciplinaridade, não só em atividades específicas do Museu,
mas com outros Museus e instituições de pesquisa.
4. Plano Diretor
Tendo como premissa a dinamicidade do processo permanente e inacabado de
criação e recriação do conhecimento, o desenvolvimento das atividades do Museu
ocorrem em nível conceitual e operacional.

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182 Do Almeida - De Carvalho - Dos Reis
Em nível conceitual este desenvolvimento dá-se através de mudanças de para-
digmas educacionais e advento de utilização de meios tecnológicos avançados e,
ainda, mediante a seleção de prioridades de ações sócio-culturais direcionadas para o
desenvolvimento regional.
Em nível operacional busca-se a intensificação de trabalhos multidisciplinares
envolvendo o ensino, a pesquisa e a extensão de forma vertical e horizontal, conco-
mitantemente. Vertical porque nascidos do projeto pedagógico da Instituição e hori-
zontal porque nascidos nos Departamentos, integrados por professores e alunos das
várias áreas do conhecimento.
4.1 Relação Pesquisa/Museu
Sem pesquisa, o ensino é mero repasse de informações e o Museu deixa de rea-
lizar sua função principal que é contribuir para a produção, a divulgação e sociali-
zação do saber. É através da pesquisa que há a integração entre o acadêmico e o uni-
verso social, entre o saber oficial e herdado e o conhecimento empírico e gerado a
partir da realidade.
Muitas atividades ligadas às pesquisas etnográficas e antropológicas, além das
que já foram realizados pelos missionários Salesianos, continuam o trabalho de am-
pliação e aprofundamento de estudos nestas e em outras áreas. A existência efetiva de
estudiosos e grupos de pesquisa, ao longo dos anos, em torno de temas nucleadores,
têm permitido um intercâmbio contínuo entre o Museu/Universidade/Comunidade
resultando não só na possibilidade de reelaboração do saber mas também na geração
de novos conhecimentos.
O conhecimento do Museu pela comunidade científica e, em geral, como uma
instituição com um acervo de relevância qualitativa e quantitativa é um objetivo que
se concretiza e se vivencia no dia-a-dia do povo sul-mato-grossense.
4.2 Relação Extensão/Museu
Museu Dom Bosco faz da extensão uma característica determinante, procu-
rando integrar e consolidar toda a sua atividade, de modo que ela esteja permanente-
mente em conexão com a comunidade regional, numa relação de intercâmbio, no qual
ele enriquece a si próprio, ao mesmo tempo em que incentiva o desenvolvimento da
comunidade. Assim, procura interrelacionar com a sociedade as suas linhas de pes-
quisa, de forma que o conhecimento produzido lhe seja devolvido, tornando-se ponto
de circulação de professores, estudantes e comunidade.
Considerando o Museu como bem cultural, a UCDB vem adotando a atitude de
“criação de uma cultura” de sua utilização como um centro de difusão cultural.
4.3 Relação Ensino/Museu
O Museu Dom Bosco consciente de seu papel de gerador e disseminador do
conhecimento, redefine sua missão e estabelece seu ideal de instituição voltada para o
desenvolvimento. Sob esta ótica, vem trabalhando de forma a garantir qualidade ao

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O museu da missão salesiana de Mato Grosso… 183
ensino, incrementando a pesquisa e agilizando a extensão1. O essencial é fortalecer a
qualidade do ensino numa ação orgânica entre professores, alunos e comunidade,
dando-se ênfase ao estudo da realidade apresentada em sua múltiplas dimensões,
como meio de intervir, se necessário. O debate entre professores e alunos deve pro-
porcionar ocasião para se verificar os conhecimentos teóricos, submetendo-os à prova
dos critérios e dos valores culturais.
5. Uma nova concepção do Museu Dom Bosco
Para atender seus objetivos ligados ao desenvolvimento do ensino, da pesquisa
e da extensão e levando-se em conta o avanço dos meios e instrumentos tecnológicos,
o Museu estabelece novos paradigmas de atuação.
Em sua concepção inicial, o Museu Dom Bosco destinou-se a ser o repositório
de peças de história natural. Simultaneamente, os salesianos desenvolviam trabalhos
com os indígenas Bororo e Xavante, recolhendo seus objetos para estudos e, assim o
Museu tornou-se também repositório de coleções etnológicas, daí ser conhecido
como Museu do Índio. Até então, por sua forma de atuação destinou-se ao atendi-
mento e discreta divulgação de seu acervo.
Hoje, a divulgação de seu acervo e, em conseqüência, do conhecimento, co-
meça a ser feita por meios mais dinâmicos. Como decorrência, o próprio conceito ori-
ginal de museu, como “estoque” de conhecimentos, está sendo questionado por força
dos movimentos de globalização e dos avanços da informática. Nesta nova con-
cepção, o Museu Dom Bosco pretende que o acesso a seu acervo seja expandido, para
possibilitar o intercâmbio de informações e permitir, aos interessados, o alcance ao
conhecimento de forma ágil e eficiente.
Dentro desta perspectiva o planejamento para uma nova concepção do Museu
Dom Bosco considera duas realidades:
• primeiro, procurar a manutenção, conservação, catalogação e classificação de
espécimes e peças. A coleção de mamíferos, insetos, répteis, anfíbios, peixes e aves
necessitam de estudos e de revisão dos objetos, para sua identificação e classificação
de forma correta para melhor informação aos visitantes sobre possíveis alterações em
sua classificação. É necessário a ampliação das peças oriundas das nações do Alto
Xingu – Bororo e Xavante, para continuidade dos estudos etnológicos.
• Segundo, dotar o prédio, onde está instalado o Museu, de uma infra-estrutura
física e eletrônica moderna, com vistas à melhoria das condições de atendimento aos
usuários e a prestação de serviços com qualidade.
5.1 O Museu Dom Bosco como memória
Com 46 anos de existência, o Museu Dom Bosco, possui um lastro considerável
de serviços prestados ao ensino, à pesquisa e extensão, à UCDB e à comunidade sul-
matogrossense.
Tal como a “Arca de Noé”, o Museu Dom Bosco foi coletando novos animais, con-

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184 Do Almeida - De Carvalho - Dos Reis
servando os antigos, recebendo doações as mais diversas. As coleções de peças indíge-
nas, coletadas pelos Salesianos e conservadas pelo Museu, representam a parte material
da cultura desses povos. Este acervo passa a ser importante tanto para toda a nação co-
mo para a cultura indígena mundial e não apenas para os remanescentes das tribos – por-
que desde que contatadas essas civilizações são destinadas a desaparecer como tais. E as-
sim foi crescendo e hoje ele representa a memória dos povos indígenas e a lembrança de
animais que, na certa, estarão extintos muito em breve se não se formar, nas novas ge-
rações, a mentalidade de preservação ambiental e, como conseqüência, da própria vida.
5.2 Um museu para o próximo milênio
Às vésperas de se entrar em um novo milênio, necessário se faz replanejar um
Museu, para que ele continue deixando de ser mero repositório passivo de acervos e
se torne um agente ativo nas ações educativo-culturais.
Pretende-se que o Museu Dom Bosco desenvolva um trabalho sistemático de
preparação para receber “visitas”, ou seja, a maximização qualitativa dos recursos e
da sua utilização, para a oferta de serviços personalizados aos usuários, quer indivi-
dualmente quer em grupos, com vistas a atender a seus interesses específicos. Entre
estes serviços destacam-se:
• assessoria na localização do acervo;
• orientações sobre o acervo;
• disponibilidade de dados.
A partir destes serviços o Museu poderá propiciar ao público: exposições de
longa duração com temática, voltada para a realidade regional e utilizando peças ex-
traídas do acervo; e, exposições temporárias sobre temas ligados às pesquisas.
Como local que se pretende estabeleça a incorporação do acervo à cultura, cui-
dados especiais deverão ser tomados para a criação de um ambiente propício ao es-
tudo, além de lazer. Tais condições se iniciam pela própria dimensão do espaço físico,
seu isolamento, conforto, iluminação e acesso.
A instalação de um Núcleo Arqueológico, parte integrante do Museu Dom
Bosco, está sendo precedida pela organização de espaços para estudo e guarda do
acervo proveniente dos salvamentos arqueológicos e dos projetos sistemáticos de do-
cumentação e conservação que representam a salvaguarda do patrimônio.
É necessário que seja intensificada a vinculação acadêmica do Museu com a
UCDB e com outras escolas, mediante desenvolvimento, não só de visitas orientadas,
mas de planos de estágios nas diversas áreas museológicas que proporcionem apri-
moramento profissional para os universitários.
Constitui-se uma das principais metas da Missão Salesiana de Mato Grosso –
MSMT, a ser atingida dentro do seu projeto de modernização, vivenciado pela
UCDB, a informatização do Museu Dom Bosco. Sendo ele um centro de apoio às ati-
vidades de ensino, pesquisa e extensão, carece de agilidade na busca das informações
e deve oferecer meios adequados para que os usuários sintam-se realmente motivados
a utilizá-lo e vê-lo como um instrumento na busca de melhor qualidade no trabalho
acadêmico e administrativo.

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O museu da missão salesiana de Mato Grosso… 185
Para o perfeito atendimento do Museu Dom Bosco às atividades acadêmicas,
torna-se necessário a incorporação de sistemas complementares, desenvolvidos por
terceiros e administrados pela Instituição, para consolidar o processo de automação.
Além desses, outros sistemas e aplicativos deverão ser incorporados para alcançar as
metas estabelecidas no Plano Diretor do Museu Dom Bosco.
O processo dinâmico de uso dos recursos e meios tecnológicos está requerendo
atualização de todo o corpo administrativo e acadêmico para que se familiarizem com
o uso dessas tecnologias, extraíndo o máximo desses recursos. Este é o fator funda-
mental do processo de incorporação da cultura de informática que este Plano Diretor
visa implementar.
Conclusão
Os Museus, hoje em dia, estão sofrendo contínuos desafios não só pela moder-
nização tecnológica como pelas exigências da sociedade sobre o comprometimento
com seus problemas. A evolução histórica das instituições museológicas aliada à
compreensão atual de que eles, os museus, são responsáveis pela transmissão da he-
rança cultural, têm sido o grande desafio por eles enfrentado. Em decorrência deste
fato, os museus têm procurado modernizar-se, redefinindo suas funções e replane-
jando sua organização.
O mais novo desafio é fazer com que o Museu Dom Bosco incorpore as novas
tecnologias de forma a explorar ao máximo suas potencialidades, ao mesmo tempo
que não perca sua identidade primeira – centro de produção de conhecimento onde se
destaca a íntima relação entre o ensino, pesquisa e a extensão como processo con-
tínuo de criação e recriação.

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