Seminario_de_estudo_sobre_a_meditacao_salesiana.docx


SOCIETÀ DI SAN FRANCESCO DI SALES

sede centrale salesiana

Via Marsala 42 - 00185 Roma

Conselheiro Geral para a Formação

icoelho@sdb.org

 

 

Roma, 13 de maio de 2018

Festa da Ascensão do Senhor

Prot. 18/0202

 

Aos:

Inspetores

Delegados Inspetoriais para a Formação

 

 

Objeto: Seminário de estudo sobre a meditação salesiana

São Calisto – Roma, 10-12 de maio de 2018

 

 

Caros irmãos,


Saudações de Roma, onde concluímos há pouco um pequeno seminário de estudo sobre a meditação salesiana. Os participantes eram Jose Kuttianimattathil INK (coordenador), Xavier Blanco SSM, Giuseppe Buccellato ISI, Eunan McDonnell IRL, Giuseppe Roggia UPS, Gianni Rolandi do Departamento para as Missões, e Cleofas Murguia, Silvio Roggia, Francisco Santos Montero e eu, do Dicastério para a Formação. O objetivo era iluminar o lugar ocupado pela meditação na tradição e na vida salesiana, e oferecer linhas-guia para o crescimento neste campo. Envio-te esta carta, um tanto longa, como uma maneira de compartilhar os frutos do nosso seminário.

O seminário nasceu de uma sugestão de Xavier Blanco, diretor da casa salesiana de Santiago de Compostela, Espanha, onde nos encontramos na última “Consulta” sobre a Formação (fevereiro de 2016). Durante uma missa que presidia, Xavier surpreendeu-nos ao dizer: “Por que não nos ensinais a meditar?” À luz do fato de estarmos revendo o manual de oração salesiana a pedido do CG27, pensamos que um seminário dedicado ao tema seria mais do que oportuno. Os participantes, afinal, foram os membros do grupo de formação guiado por Jose Kuttianimattathil, Eunan McDonnell, Giuseppe Buccellato e Giuseppe M. Roggia, pela sua competência em matéria salesiana, e Xavier Blanco.

O seminário foi hospedado pela comunidade de São Calisto, no maravilhoso cenário, tão rico de paz, das catacumbas de São Calisto, de 10 a 12 de maio de 2018. Iniciamos com a partilha das nossas experiências pessoais de meditação: a nossa iniciação à meditação, como meditamos, qual o impacto da meditação na nossa vida e apostolado, quais dificuldades encontramos.

O passo sucessivo foi a iluminação da nossa experiência com a tradição salesiana. Haurindo da sua experiência de formador e guia de gerações de jovens salesianos, Giuseppe M. Roggia compartilhou aqueles que considerava elementos importantes na formação à meditação. Giuseppe Buccellato ofereceu-nos informações surpreendentes sobre o papel da oração mental no carisma de Dom Bosco como fundador e sobre como o P. Júlio Barberis, primeiro mestre dos noviços, dedicava os primeiros dois meses do noviciado à formação para a meditação.1 Eunan McDonnell, a partir de Francisco de Sales e da sua experiência pessoal, ajudou-nos a refletir sobre o motivo pelo qual deveríamos meditar, para oferecer, depois, alguns elementos de método, sobre como meditar. Xavier Blanco apresentou Jesus como o homem dos “três tempos”; n’Ele a ação, a oração e a comunidade fundem-se numa ‘esplêndida harmonia’; em seguida, apresentou a nova sede de silêncio, oração contemplativa e meditação que está sendo despertada na Espanha, por exemplo, através da obra de Pablo d’Ors.2

Após um período de silêncio para permitir que sedimentasse a riqueza da escuta, facilitado por uma visita meditada-guiada às catacumbas, seguiu-se um momento de diagnose e tempestade de ideias: Como é que muitos de nós perdem interesse pela meditação, mesmo quando ainda estão em formação inicial? Existe um método específico salesiano de meditação? Existem outros métodos que poderiam conviver em harmonia com a nossa espiritualidade? O que podemos aprender sobre a meditação desde o estudo da pesquisa sobre o acompanhamento pessoal salesiano feito pelos dicastérios para a Pastoral Juvenil e a Formação?3 O que se poderia fazer para despertar a estima e o amor pela meditação entre os Salesianos na formação inicial e permanente? Quais poderiam ser os passos para uma iniciação eficaz à meditação salesiana? De que modo a meditação pode ser relacionada com a lectio divina¸ a centering prayer e a ‘oração do coração’?

O passo final foi caracterizado pelo trabalho de recolher os frutos dos dois dias de estudo, oração e reflexão, vendo também como compartilhá-los com a Congregação. Ponho-os aqui enfileirados como partilha, esperando que encontrarão algo útil.



Preâmbulos:

  • Se estivermos convencidos do valor e do lugar da meditação em nossa vida, estaremos certamente mais inclinados a ser fiéis à própria meditação e a aprender como crescer sempre mais na maneira de vivê-la.

  • Rezar juntos liga-se ao trabalhar juntos, e é, portanto, um elemento de identidade carismática para nós.

  • Muitos, hoje, têm pouca ou nenhuma iniciação à meditação. O que faz parte da fragilidade geral da dimensão pedagógica da nossa formação.

  • Na iniciação à oração, não podemos dar nunca como certo que as pessoas tenham uma relação com Deus. Faltando esse pressuposto fundamental, corremos o risco de construir sem uma base.

  • Se houver “temor” nas fases da formação inicial, a meditação tenderá a ser formalidade mais do que convicção.



A meditação no carisma do Dom Bosco fundador:

  • Surpreendeu ver o quanto Dom Bosco e a primeira geração de Salesianos insistissem na meditação: ver os acréscimos que Dom Bosco faz inserir na edição italiana das Constituições, a atenção dada pelo P. Barberis ao ensinar aos noviços o porquê e o modo da meditação, e a insistência do P. Rinaldi sobre a meditação.4

  • Um bom conhecimento das nossas origens ajuda-nos a ver a importância e o lugar ocupado pela meditação no nosso carisma.

  • Tendo presente que as principais inspirações do Colégio Eclesiástico foram de marca inaciana e ligoriana, e dado que Dom Bosco continuou a fazer anualmente os Exercícios Espirituais em Sant’Ignazio sopra Lanzo, até 1874, poderíamos dizer que ele aprendeu o método inaciano de meditação. Dado que o próprio Francisco de Sales haure em Inácio, temos uma clara consonância de métodos.



Por que meditar:

  • Antes de tudo, como imitação d’Aquele que nos amou e a quem amamos: em Jesus vemos a unidade de ação, oração e comunidade.

  • Sem a oração mental, a nossa relação com Deus não pode aprofundar-se.



Como meditar:

  • É necessário um método, ao menos no início.

  • Não existe apenas um método de meditação salesiana, embora a meditação seja certamente algo distinto da leitura espiritual (como vemos claramente na vida e nos escritos de Dom Bosco). Contudo, algumas das coisas que dizemos a seguir oferecerão alguns parâmetros de referência e indicarão algumas preferências.

  • O método consiste, primeiramente, nas adequadas disposições do coração: fé, fidelidade, confiança e perseverança.

  • A perseverança é da máxima importância e é uma palavra que se encontra com frequência nos lábios de Jesus e no Novo Testamento. Aprendemos a rezar rezando, e é importante “estar ali”, dia a dia, para a meditação.

  • Momentos de oração intensa (como o retiro espiritual) e o acompanhamento espiritual pessoal podem criar uma boa base para a meditação.

  • A preparação, tanto remota como próxima, é da máxima importância: o hábito de ler a Palavra de Deus, as Constituições, boas leituras espirituais; a leitura na noite anterior da Palavra de Deus do dia seguinte e, talvez, também um comentário.

  • A Palavra de Deus e as Constituições são textos privilegiados para a nossa meditação.

  • Cristo está no centro da meditação cristã. Ele é, como insistem Teresa d’Ávila e Francisco de Sales, a porta pela qual entramos; é Ele que nos guiará, se e quando quiser, à oração sem palavras, afetiva, contemplativa.

  • A palavra meditação deriva de “cuidar de si”, “prestar atenção”. Iniciamos a meditação colocando-nos na presença de Deus, dando atenção Àquele que está sempre presente e deseja comunicar-se conosco.

  • No noviciado, seria oportuno concentrar-se num único método, como o da lectio divina.

  • A colatio, ou partilha comum, pressupõe que já se fez a lectio e a meditatio, que já se foi ‘tocado’ pela Palavra; caso contrário, o que há para compartilhar?

  • Manter um diário também é útil, para ver ao longo do tempo a direção em que Deus me guia.

  • Uma boa meditação ecoa ao longo do dia, superando gradualmente o “paralelismo” em nossa vida e levando-nos à unificação das nossas práticas de piedade, vida sacramental, tudo o mais da vida cotidiana e do trabalho.

  • Os frutos da meditação são vistos na transformação que se dá na vida.

  • Salesianos guias espirituais devem aprender a fazer a oração e a meditação entrarem no colóquio, fazendo também perguntas sobre esses campos; deveriam aprender a acompanhar os irmãos nesses aspectos tão importantes de suas vidas.



Gostaríamos de dar no imediato futuro, entre outros, estes passos:



  1. Um e-book do material do seminário, a compartilhar com todos os irmãos.

  2. Uma nota em www.sdb.org/ sobre alguns métodos de meditação salesiana a inserir com outro material no novo manual de oração.

  3. A animação dos delegados inspetoriais de formação, nas várias reuniões das Comissões regionais de formação 2018.

  4. Preparação de material didático sobre a meditação, com a ajuda de mestres de noviciado e encarregados de pré-noviços.

  5. Formação dos formadores na área da meditação.

  6. Envolver os vários Centros regionais de formação permanente através de cursos e outras iniciativas.

  7. Fazer da meditação e da oração um tema de trabalho do CG28, dado que a qualidade da evangelização está diretamente relacionada com a qualidade da nossa oração e meditação.



Aprendemos do próprio seminário que é muito profícuo, especialmente na área de temas como a meditação, começar da nossa experiência pessoal, compartilhando-a com simplicidade, antes de iluminá-la com a tradição. Percebemos que as dinâmicas de um pequeno grupo num seminário são muito diversas das que se verificam quando o grupo é maior. Esse mesmo método poderia ser algo precioso em nosso esforço de progredir na meditação, dado que é um modo eficaz de “fazer experiência dos valores da vocação salesiana” que está no centro de C 98: “Iluminado pela pessoa de Cristo e pelo seu Evangelho, vivido segundo o espírito de Dom Bosco, o salesiano... faz experiência dos valores da vocação salesiana...”.

Concluo compartilhando o sentimento de serena gratidão que trago no coração por este pequeno seminário, surgido do pedido espontâneo de um irmão. Gostaria de agradecer a todos os irmãos que participaram e deram a própria contribuição em espírito de grande simplicidade, a Jose Kuttianimattathil e Silvio Roggia pela coordenação e animação do seminário, a Gianni Rolandi que se uniu prontamente a nós para ajudar-nos nas traduções, à comunidade de São Calisto, que nos hospedou com tanta cordialidade e fraternidade.

Poderíamos perguntar-nos, que diferença fará um seminário? Fez ao menos uma diferença para nós que participamos; e, depois, como dizia Dom Bosco, se acompanharmos o nosso trabalho com a oração, de dois grãos nascerão quatro espigas.

Uma feliz festa da Ascensão de nosso Senhor, a festa de Jesus “sentado à direita de Deus” e, ao mesmo tempo, “atuante entre nós”, em nossa proclamação da Palavra e nos sinais que a acompanham (Mc 16,19-20), em especial os sinais das nossas vidas transformadas. Que Nossa Senhora de Fátima e Maria Mazzarello, com seu espírito de contemplação, intercedam por nós!

Afetuosamente,







Ivo Coelho, SDB



1 Ver “Carta de S. Vicente de Paulo endereçada aos seus religiosos sobre o levantar-se todos na mesma hora (15 de janeiro de 1650)” anexa às Constituições da Sociedade de S. Francisco de Sales, de 1877 a 1907; G. Barberis, Manoscritto Barberis del 1875 dal quaderno delle istruzioni ai novizi, Archivio Centrale Salesiano; G. Barberis, Il vademecum dei giovani salesiani, nuova edizione riveduta e corretta (Torino, 1931), cap. 12: Della meditazione; G. Buccellato, Alla presenza di Dio. Ruolo dell'Orazione mentale nel carisma di fondazione di San Giovanni Bosco , Tesi Gregoriana, Serie Spiritualità 9 (Roma: Editrice Pontificia Gregoriana, 2004); G. Buccellato, Don Bosco, Sant'Ignazio e la Compagnia di Gesù: storia di una relazione nascosta ... ma non troppo, in id., Alle radici della spiritualità di San Giovanni Bosco (Città del Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, 2013); G. Buccellato, Giovanni Bosco: il geloso custode della sua vita con Dio, Nuovo Dizionario di Mistica , ed. L. Borriello, E. Caruana, MR del Genio e R. Di Muro (Città del Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, 2016); G. Buccellato, Da due grani nasceranno quattro spighe. Piccola antologia di insegnamenti di San Giovanni Bosco sulla preghiera (Torino: ElleDiCi, 2017).

2 Ver Pablo d'Ors, Biografia del silenzio (Siruela, 2015).

3 Ver Marco Bay, Giovani salesiani e accompagnamento: Risultati di una ricerca internazionale (Roma: LAS, 2018).

4 Uma nota manuscrita do P. Rinaldi encontrada por Giuseppe Roggia na casa do noviciado de Pinerolo: “Os noviços aprendem a meditar? É a coisa mais importante”.